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PALHOÇA
2018
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ÁLAMO GOMES
PALHOÇA
2018
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ÁLAMO GOMES
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Prof. MSc. Cleo Marcus Garcia
Universidade do Sul de Santa Catarina
__________________________________________
Prof. Esp. Hélio Luis Camões de Abreu
Universidade do Sul de Santa Catarina
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
Os acidentes no setor da aviação são muito sérios na maioria de suas ocorrências são fatais,
infelizmente é um setor que quando tem o acontecimento dessas eventualidades demonstra
um grande número de fatalidades. Desta forma, se mostra necessário realizar um estudo e uma
análise referente aos fatores que influenciam nesta ocorrência, pois através destes fatores que
é possível determinar práticas e procedimentos possíveis de mitigar ou diminuir a ocorrência
de acidentes na indústria da aviação, definindo desta forma medidas preventivas que auxiliam
na segurança de voo. Para tanto, determinou-se os seguintes objetivos: apresentar, através de
uma pesquisa bibliográfica, dados relacionados a acidentes na aviação geral no Brasil,
realizando uma descrição dos mesmos; apresentar informações referentes as diversas áreas da
aviação, como a comercial e a agrícola, mas não somente estas, e a influência da segurança de
voo em cada uma das áreas; descrever para cada especificidade os fatores que justificam a
existência de medidas segurança ou falta destas; analisar a relação das informações obtidas
com os fatores relacionados as áreas específicas da aviação, demonstrando a correlação entre
ambos. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, com predomínio do método
qualitativo de análise, mas contando com auxílio de ferramentas próprias da metodologia
qualitativa. Os resultados indicam a importância dos fatores humanos, materiais e
operacionais (incluso o clima) na atuação quanto a prevenção de acidentes, bem como a
importância da educação, do treinamento e de investigações que busquem as causas dos
acidentes quando estes vierem a acontecer.
ABSTRACT
Accidents in the aviation sector are very serious in most of their occurrences are fatal,
unfortunately it is a sector that when the event of these eventualities shows a large number of
fatalities. In this way, it is necessary to carry out a study and an analysis regarding the factors
that influence this occurrence, because through these factors it is possible to determine
possible practices and procedures to mitigate or reduce the occurrence of accidents in the
aviation industry, thus defining preventive measures which aid in flight safety. For this
purpose, the following objectives were determined: to present, through a bibliographical
research, data related to accidents in general aviation in Brazil, making a description of them;
present information related to the various areas of aviation, such as commercial and
agricultural, but not only these, and the influence of flight safety in each area; to describe for
each specificity the factors that justify the existence of safety measures or lack thereof; to
analyze the relation of the information obtained with the factors related to the specific areas of
the aviation, demonstrating the correlation between both. The methodology used was the
bibliographic research, with predominance of the qualitative method of analysis, but with the
aid of tools of the qualitative methodology. The results indicate the importance of human,
material and operational factors (including the climate) in the prevention of accidents, as well
as the importance of education, training and investigations that seek the causes of accidents
when they occur.
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................ 14
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 14
1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................................. 14
1.2.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 14
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 15
1.4 METODOLOGIA ............................................................................................................... 16
1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................................................................. 18
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 18
2.1 SEGURANÇA DE VOO .................................................................................................... 18
2.1.1 Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (CENIPA) ........................................ 20
2.1.2 Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) ................. 21
2.1.3 Vistoria de Segurança de Voo ......................................................................................... 23
2.1.4 Relatórios de Prevenção .................................................................................................. 23
2.1.5 Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) ....................................................................... 23
2.2 ACIDENTES E INCIDENTES AERONÁUTICOS .......................................................... 24
2.2.1 Dados Sobre Acidentes e Incidentes na Aviação Brasileira ............................................ 24
2.3 FATORES INFLUENCIADORES .................................................................................... 29
2.3.1 Fatores Humanos ............................................................................................................. 29
2.3.2 Fatores Materiais ............................................................................................................. 29
2.3.3 Fatores operacionais ........................................................................................................ 30
2.4 MÉTODO E PREVENÇÃO DE ACIDENTES ................................................................. 30
2.4.1 Educação da Prevenção ................................................................................................... 31
2.4.2 Investigação de Acidentes ............................................................................................... 32
2.4.3 Programas Específicos para a Prevenção de Acidentes................................................... 33
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 36
4 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 41
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 43
18
1 INTRODUÇÃO
Por séculos voar tem sido um sonho impossível de se realizar e muitos foram aqueles
que tentaram atingir este objetivo, o qual se manteve distante da ambição e conquista do
homem por muito tempo, até que alguém fosse capaz de alcançá-lo. Este sonho de ganhar os
céus finalmente pode ser conquistado graças a Santos Dumont, o qual conseguiu realizar um
voo mecânico com um avião por ele construído. Como relatado pelo próprio Dumont foi em
23 de outubro, perante a Comissão Científica do Aero Clube e de grande multidão, foi
realizado o célebre voo de 250 metros, que confirmou inteiramente a possibilidade de um
homem voar (DUMONT, 1918).
E assim deu-se início as atividades aéreas, as quais eram vistas em seu início como
uma atração a ser realizada em festivais com propósito de promover competições e desafios,
mas não demorou muito para que o seu potencial fosse identificado por governos e militares,
de forma que em pouco tempo tornou-se o principal meio de armamento bélico na Europa e
América do Norte, nesta última sua expansão ocorreu através dos mesmos mecanismos
europeus, porém mais lentamente em função de brigas por patentes (CROUCH, 2008).
Então, em decorrência da Primeira Guerra Mundial esse contexto festivo da aviação se
alterou drasticamente com o uso dos aviões durante as batalhas, houve grande evolução por
parte da indústria aeronáutica demonstrando a sua importância de forma que ao final da
guerra estavam estabelecidos os fundamentos da atividade aérea, e novos desafios deveriam
ser determinados por esta atividade, bem como novos marcos estabelecidos, com a
delimitação de que os voos transatlânticos e de longa distância seriam novas metas a serem
atingidas, a indústria aeronáutica acompanhava esta evolução (CROUCH, 2008).
No Brasil a aviação iniciou quando Edmond Plauchut, o aviador que era mecânico de
Santos-Dumont, voou a uma altura de 80m sobre a Avenida Central e caiu no mar em 22 de
outubro de 1911, desde este acontecimento a aviação brasileira evoluiu lentamente, iniciando
suas atividades comerciais 1927 (CROUCH, 2008). Em 1929 ocorre a crise econômica dos
Estados Unidos, hoje conhecida como A Grande Depressão, e esta se estendeu até os
fabricantes de aeronaves, levando a indústria a refletir sobre sua produção e passando a
apontar seu foco em direção à competição na disputa pelo mercado, mudando seus objetivos,
antes tecnológicos, para metas comerciais (NEWHOUSE, 2008).
Tendo o homem alcançado o sonho de voar uma grande euforia se espalhou por todos
aqueles que conheciam esta novidade, no entanto, não foi possível deixar de indagar quais os
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Deve-se ressaltar, todavia, que este aumento do número de acidentes também se deve
ao crescimento de atividades de aviação geral no país na última década. Para ter-se dados
mais assertivos quanto a elevação deste número, normalmente utiliza-se a taxa de acidentes
que é um índice que considera o total de acidentes ponderado pelo número de decolagens em
um determinado período (ANAC; CENIPA, 2015).
Figura 02 - Decolagens registradas no sistema DCERTA e taxa de acidentes com e sem fatalidades nos
últimos cinco anos.
Figura 03: Taxa de acidentes totais em voos regulares comerciais (por milhões de decolagens) em 2015 e
taxa média entre 2011 e 2015 para diferentes regiões do globo.
Para promover uma melhor segurança área é necessário conhecer os riscos envolvidos
com a atividade de voar, pois medidas de segurança adequadas e até específicas a
determinadas situações somente podem ser propostas tendo conhecimento dos aspectos que
influenciam a aviação em seu cotidiano de voo. Neste sentido, o entendimento dos principais
fatores que podem intervir sobre a aviação é um conhecimento necessário para promover a
segurança área, uma vez que existem inúmeros aspectos próprios deste meio de transporte que
devem ser considerados.
O risco de acidentes aéreos é um problema que preocupa tanto a usuários deste
transporte quanto a profissionais que trabalham com a aviação, sendo do interesse de todos
diminuir a ocorrência dos mesmos e propiciar uma experiência de voo tranquila e satisfatória
ao passageiro. Deste modo, considerando que a atividade de voar é sempre uma experiência
em que profissionais, como pilotos e comissários de bordo, operam aeronaves cada vez mais
tecnológicas e precisas, realizando para tanto diversos protocolos que devem seguidos
ritualisticamente para que tudo funcione como deve, a pergunta basilar que motivou a
realização deste estudo foi: quais são os principais aspectos inerentes a atividade de voar que
influenciam a aviação aumentando o risco de acidentes aéreos?
1.2 OBJETIVOS
1.3 JUSTIFICATIVA
A razão primordial para a escolha desse tema encontra-se no interesse pela melhor
compreensão quanto a ocorrência dos acidentes relacionados a aviação brasileira, encontrando
esclarecimento quanto aos fatores que justificam tais acontecimentos fatídicos, bem como
conhecer em maiores detalhes as providências tomadas para buscar evitar a ocorrência dos
mesmos. A identificação e análise de tais fatores se justifica ainda mais quando se
compreende que “a aviação é uma atividade de transporte que envolve distintos níveis de
operação e tarefas interligadas, algumas de elevada complexidade e sujeitas a numerosos
estressores ocupacionais” (FAJER; ALMEIDA; FISHER, 2010, p.02).
No levantamento, que avalia as 60 maiores companhias de aviação do mundo, a TAM
e a Gol subiram três posições e aparecem agora, respectivamente, nas 56ª e 54ª colocações. O
principal motivo da má colocação são os acidentes registrados com aviões das empresas nos
últimos 30 anos (JACDEC, 2014). Nossas principais empresas de aviação, portanto, possuem
um baixo nível baixo de segurança de voo, fator que demonstra uma precariedade da área e a
consequente necessidade de uma atualização e informações para evitar desastres na aviação e
melhoria em seus serviços aéreos.
No dia 19 de janeiro de 2018, publicou-se a 8ª Edição da Carta de Segurança
Operacional. A publicação tem periodicidade quadrimestral e busca promover e disseminar a
cultura de boas práticas relativas à segurança operacional. Esta edição da Carta traz a
cobertura do segundo encontro internacional Safety Management Summit (SMS - Brazil
2017), realizado pela ANAC e pelo DECEA nos dias 7 e 8 de dezembro no Rio de Janeiro,
(ANAC, 2018), ocasião em que se destacou a importância de identificar os fatores
relacionados a segurança aérea, ressaltando assim a relevância deste tema.
24
1.4 METODOLOGIA
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para fins de facilitar a compreensão do leitor a respeito dos diversos tópicos tratados nesta
pesquisa, optou-se por dividir o referencial teórico em diferentes subseções como o disposto a
seguir.
A segurança de voo é uma área que integra a eficiência da operação aérea como um
todo. Para que ocorra a sua correta aplicação, as medidas de segurança precisam ser
corretamente elaboradas, planejadas, implantadas e cumpridas por todos os envolvidos. A
segurança de voo funciona em continuidade com os demais procedimentos e não é deve ser
aplicada apenas quando a necessidade surgir, pois pode ser tarde demais.
Desde o início a aviação tem feito um grande número de vítimas em acidentes. Em
1936, a taxa de mortes de passageiros nos Estados Unidos era de 10,1 mortos por 160 milhões
de quilômetros voados, permanecendo até hoje entre os principais desafios do setor naquela
país solucionar corretamente os aspectos relacionados à segurança. (CROUCH, 2008).
27
Na década de 30, a causa dos acidentes era analisada com uma visão uni causal, o
homem era considerado com seu causador e a concepção de que havia uma predisposição ao
risco conduziu ao desenvolvimento da análise das atitudes humanas, os métodos se
restringiam a levantamentos estatísticos que favoreceram o desenvolvimento dos modelos de
risco (DE LA GARZA; FADLER, 2007)
O início da sistematização das investigações dos acidentes ocorreu em 1931, com
Heinrich, que lançou a ideia de acidentes com danos à propriedade, ou seja, a ideia de
acidentes sem lesão, definindo o acidente como todo evento não planejado, não controlado e
não desejado, que interrompe uma atividade ou função, considerando que os acidentes de
trabalho com ou sem lesões são devidos à personalidade do trabalhador, à prática de atos
inseguros e à existência de condições inseguras nos locais de trabalho, formulando a Teoria
dos Dominós (ALMEIDA, 2006).
No Brasil os padrões e recomendações sobre o transporte aéreo foram estabelecidos
pelo decreto 21.713, de 27/08/1946, tendo sido assinada a Convenção de Chicago em 7 de
dezembro de 1944. Para que fosse possível padronizar os fatores regulatórios nas
recomendações, foi desenvolvido um artigo na convenção com esse fim. Pelo artigo 37 da
Convenção de Chicago, os estados contratantes se obrigaram a colaborar a fim de atingir a
maior uniformidade possível
em seus regulamentos, sempre que isto trouxer vantagens para a atividade (ANAC, 2007).
Para este fim, a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) emitiu
documentos, hoje chamados "anexos", estabelecendo práticas e padrões sobre os diversos
assuntos que compõem a aviação civil, a maior parte deles com o objetivo de estabelecer
níveis mínimos de segurança (ANAC, 2007).
Na aviação brasileira esses padrões são estabelecidos, pelo Código Brasileiro de
Aeronáutica (CBA) e a ANAC. O CBA determinou a Lei 7.565, de 19 de dezembro de 1986,
em seu artigo 25, estabelece que a infraestrutura aeronáutica é também destinada a promover
a segurança, a regularidade e a eficiência da aviação civil (ANAC, 2017). Pela Lei 11.182, de
27 de setembro de 2005, a ANAC ficou responsável por promover a segurança, a regularidade
e a eficiência em todos os aspectos da aviação civil, exceto o sistema de controle do espaço
aéreo e do sistema de investigação de acidentes (ANAC, 2007).
A ausência de uma investigação independente tem o potencial de criação de pôr um
conflito de interesses dentro da organização, podendo ser gerador de relutância por parte dos
legisladores no sentido de investigar questões relacionadas ao seu próprio papel. (ICAO,
1991)
28
capacidade operacional; c) Todos os acidentes podem ser evitados, para tanto, efetivas ações
precisam ser
adotadas antes que seja atingido o ponto de irreversibilidade do acidente aeronáutico; d) Para
que a prevenção de acidentes produza benefícios almejados, faz-se necessário uma
mobilização geral em torno do mesmo objetivo (CENIPA, 2011).
As atividades para prevenção e investigação de acidentes no Brasil tem um foco maior
em investigar do que prevenir, isso se dá devido a aviação militar no país, que busca através
de uma investigação sobre os acidentes ou incidentes aeronáuticos determinar a
responsabilidade de tal ato, imputando-a a quem for de direito (ANAC, 2007).
A Marinha e o Exército formaram sua própria frota de aviação e ambos os órgãos
investigavam seus acidentes de forma autônoma, mas com única finalidade de “apurar
responsabilidades”. A Marinha realizava Inquérito Policial Militar (IPM) e o Exército levava
a cabo Inquérito de Acidente Aeronáutico (IAA). Nos dois casos realizavam-se “inquéritos”
sempre de forma empírica e sem que a principal preocupação seja prevenção de ocorrências
semelhantes (CENIPA, 2011).
Após a criação do Ministério da Aeronáutica, em 1941, os procedimentos foram
reformulados e unificados sob a jurisdição da então Inspetoria Geral da Aeronáutica, sendo
criado o Inquérito Técnico Sumário para investigação de acidentes aeronáuticos, eliminando
definitivamente o uso de IPM para tal fim (CENIPA, 2011).
Com os novos procedimentos da Inspetoria Geral da Aeronáutica, nasce o Serviço de
Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) em 1951, é o órgão
responsável pela estrutura da Inspetoria Geral, o primeiro programa de prevenção de acidentes
aeronáuticos para a aviação brasileira.
De acordo com o Instituo da Aviação Civil (2002) acidente aéreo pode ser considerado
toda a ocorrência relacionada a prática de uma aeronave, havida entre o período em que uma
pessoa embarca com intenção de realizar voo, até o momento em que todas as pessoas tenham
nela desembarcado e, durante o qual, pelo menos uma das situações abaixo ocorra:
Qualquer pessoa sofra lesão grave ou morra como resultado de estar na aeronave ou
estar em contato direto com qualquer parte da aeronave, incluindo aquelas que dela
tenham se desprendido, ou ainda exposição direta ao sopro de hélice, motor ou
escapamento de jato, ou às suas consequências;
A aeronave sofra dano ou falha estrutural que afete adversamente a resistência
estrutural, o desempenho ou características de voo e exija substituição ou a realização
de grandes reparos no componente afetado;
A aeronave seja considerada desaparecida ou o local onde se encontre seja
absolutamente inacessível.
Por sua vez, segundo o IAC (2002), incidente aeronáutico é a ocorrência anormal, que
não um acidente, associada à operação de uma aeronave, havendo intenção de voo, e que afete
ou possa afetar a segurança. Existem vários tipos de incidentes que podem ocorrer o solo ou
durante o voo e destacam-se:
Colisão com pássaros;
Colisão no solo;
Descompressão não intencional ou explosiva;
Estouro do pneu, etc.
O que caracteriza a ocorrência de um incidente é, portanto, a intenção de voo da
aeronave. A diferença entre incidente grave e acidente está apenas nas consequências. Tem-se
também fatores que podem ocasionar e justificar os incidentes ou acidentes.
Figura 04 - Relação entre acidentes (incluindo aviação agrícola e regular) e o consumo de combustível de
aviação, de 2011 a 2015.
Figura 05 - Histórico de participação dos diferentes tipos de operação no total de acidentes registrados
ano
a ano, de 2011 a 2015.
Figura 06 - Taxa de acidentes (acidentes para cada milhão de decolagens registradas) por tipo de
operação, de 2011 a 2015.
O tipo de ocorrência é uma outra dimensão dos acidentes aeronáuticos que é divulgada
pelo CENIPA e que possibilita um melhor entendimento acerca dos fatores que culminaram
com o evento. A figura abaixo ilustra os principais tipos de ocorrência verificados para o total
de acidentes ocorridos entre 2011 e 2015.
Figura 07 - Principais tipos de ocorrências para o acumulado de acidentes entre 2011 e 2015.
Como é possível inferir do gráfico, a falha de motor em voo seguida das perdas de
controle em voo e em solo e a colisão em voo com obstáculo são os tipos de ocorrência de
maior incidência na aviação civil brasileira e concentram mais de 60% do total de acidentes
no período considerado. Um outro aspecto relacionado a ocorrências dessa natureza é que não
há a subjetividade intrínseca à classificação das demais ocorrências aeronáuticas, já que
sempre que houver uma fatalidade associada necessariamente trata-se de um acidente
(ANAC; CENIPA, 2015). Nesse cenário, foi elaborado o gráfico da Figura 7 que exibe o total
de acidentes com e sem fatalidades ocorridos nos últimos cinco anos.
Os fatores podem ser considerados, as condições, ato, fato, omissão, ou até junção
destes que junto a outras e mais outras, tem como consequência a ocorrência de um incidente
ou acidente aeronáutico.
Groeneweg afirma que as falhas operacionais podem ser vistas como uma falha em se
atingir uma meta da forma que a mesma foi planejada, tanto do ponto de vista local como
geral, devido a comportamento intencional e não intencional. As ações planejadas podem
falhar na busca dos objetivos (GROENEWEG, 1998).
O IAC (2002), divide os fatores operacionais em relação aos fatores humanos e
materiais:
a) Condições meteorológicas adversas;
b) Deficiente infraestrutura;
c) Deficiência na instrução dos profissionais;
d) Deficiência na manutenção;
e) Deficiente aplicação dos comandos;
f) Deficiente coordenação de cabine.
Portanto, cursos, palestras, simpósios, etc., são ferramentas essenciais para a educação,
qualificação e conscientização em relação a segurança de voo, a profissionalização dos
responsáveis pela área de aviação demonstra a aplicação e disseminação da informação por
parte dos órgãos em tentar diminuir os índices de acidentes.
Durante a investigação do SIPAER, não há litígio, nem acusação, nem partes, porque a
intenção é compilar exemplos de situações inseguras – e não buscar a causa dos acidentes.
Após a elaboração dos Relatórios Finais, o SIPAER delimita condições inseguras e, a partir
delas, emite novas recomendações de segurança (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2015).
Um estudo publicado pela Revista Saúde Pública em 2010, ilustrou os fatores
contribuinte aos acidentes aeronáuticos, através de um relatório publicado pelo CENIPA em
2008, onde foram analisados acidentes com aeronaves da aviação geral ocorridos no estado de
São Paulo, entre 2000 e 2005, o estado escolhido se deve ao possuir o maior número de
aeronaves no Brasil com cerca de 28%.28 A realização deste estudo só foi possível através da
emissão dos relatórios finais publicados pelo CENIPA, onde são determinados: dados dos
acidentes, histórico, danos causados, pessoal envolvido, aeronave, condições meteorológicas,
navegação, comunicação, aeródromo, impacto, destroços, fogo, sobrevivência, gravadores de
voo, aspectos operacionais, fatores humanos e o que foi investigado.
E então foi possível realizar a análise dos acidentes ocorridos para o estudo, esta
publicação demonstra a influência das investigações de acidentes em relação ao fornecimento
de dados em relação aos acidentes aéreos e como o mesmo contribui para análise e
determinação de futuras medidas preventivas.
As investigações são importantes ferramentas para a prevenção porque somente
através dos dados disponibilizados através da mesma que é possível determinar ações que irão
mitigar a ocorrência dos acidentes estudados e registrados, é possível perceber então sua
importância para a segurança da aviação.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No inicio da presente pesquisa alguns objetivos foram estabelecidos, o primeiro deles visava
apresentar, através de uma pesquisa bibliográfica, dados relacionados a acidentes na aviação
geral no Brasil, realizando uma descrição dos mesmos. Concernente a este objetivo, percebe-
se pela exposição de dados e discussão realizada com os autores, que desde seu princípio a
aviação causou muitos acidentes, no Brasil e no mundo. Quanto a isto, De La Garza; Fadler,
(2007) salientam que durante o início do século XX, aproximadamente até 1940, a principal
causa atribuída aos acidentes era o fator humano. Quando alguma fatalidade ocorria na
aviação, a culpa era assim atribuída quase que exclusivamente aos pilotos, que haveriam
falhado na condução da aeronave, sem considerar possíveis fatores técnicos e climáticos.
45
influir sobre um voo, afetando a aeronave ou as pessoas em seu interior. Assim, são muitos os
componentes a serem considerados quando se trata de segurança aérea.
Diversos tipos de acidentes são constatados e catalogados, muitos deles, como indicam
a ANAC, o CENIPA e a OACI, tem algum tipo de falha humana envolvida, as vezes por
negligência dos profissionais da aviação, as vezes por motivos difíceis de prever, como um
mal súbito do piloto. Mas, grande parte e até mesmo a maioria dos acidentes, especialmente
na aviação comercial, tem como causa falhas técnicas nas aeronaves, pelo mal funcionamento
de um equipamento, falta de manutenção ou ausência de determinado dispositivo pelo
desconhecimento do risco envolvido. Fatores climáticos também são causadores de acidentes,
como chuvas fortes e tempestades com ventos e relâmpagos, além do gelo, que em certas
circunstâncias pode ser causa da queda de uma aeronave, afetando especialmente o
funcionamento do motor.
O segundo objetivo proposto neste estudo visava apresentar informações referentes as
diversas áreas da aviação, como a comercial e a agrícola, mas não somente estas, e a
influência da segurança de voo em cada uma das áreas. Concernente a isto, o primeiro aspecto
a ser destacado é que existem diversos órgãos responsáveis pela segurança e fiscalização dos
voos no Brasil, sendo o principal destes o SIPAER, o qual é constituído por diversos outros
órgãos sob sua supervisão, entre eles o próprio CENIPA. Ademais, historicamente segundo a
ANAC (2007; 2017), o CENIPA e o ICAO (1991) as investigações sobre acidentes aéreos no
Brasil por muitas décadas, e até mesmo em ocorrências atuais, giram muito em torno de
procurar responsáveis pelos fatos ocorridos, determinando assim a responsabilidade de
pilotos, empresas e outros envolvidos, do que em apurar as causas do acidente, para tomar
medidas de segurança a partir delas.
Percebe-se, no que tange ao segundo objetivo desta pesquisa, que a incidência maior
de acidentes dá-se na aviação regular, conforme dados da ANAC e CENIPA (2015). Em
segundo lugar se encontra a aviação agrícola, seguida pela aviação de instrução e pelo táxi
aéreo. São setores distintos, com finalidades distintas, e que, portanto, precisam de regras
diferentes, conforme as especificidades de cada um. O entendimento do presente estudo
quanto a isso destaca a questão como digna de atenção especial, uma vez que a aviação
regular abrange milhares de pessoas no mundo todo, transportando dezenas e centenas de
passageiros por vez, de forma que um acidente apenas pode causar grande número de
fatalidades.
Prosseguindo o terceiro objetivo estipulava descrever os fatores que justificam a
existência de medidas de segurança ou falta destas. Concernente a isto, a presente pesquisa
47
constatou, segundo a ANAC; CENIPA (2015) que as principais causas para acidentes com
aeronaves são a falha de motor, perda de controle do voo (no ar e em solo) e as colisões (no ar
e em solo), fatores estes que justificam a necessidade de rígido controle do tráfego aéreo, com
os todos os protocolos de segurança para identificação e rota de voos, bem como a
necessidade de realizar manutenções e vistorias periódicas em todo o equipamento das
aeronaves, para evitar a ocorrência destas causas principais.
Além disso, verifica-se que no Brasil um em cada cinco acidentes registrados tem pelo
menos uma vítima fatal, sendo o setor de táxi aéreo o campeão de acidentes com morte,
seguido pela aviação privada e pelo setor agrícola. A aviação regular aparece em quarto lugar.
Estes dados são fortes indicativos de que medidas específicas concernentes ao setor de táxi
aéreo precisam ser tomadas, mas antes é necessário pesquisar e identificar quais são os fatores
por colocar o setor no topo do rank de acidentes aéreos no Brasil. Para tanto, não basta apenas
investigar para apurar responsabilidades, é preciso identificar corretamente as causas dos
acidentes nesta área.
Por fim, o ultimo objetivo estipulado visava analisar a relação das informações obtidas
com os fatores relacionados as diferentes áreas da aviação, como aviação comercial,
demonstrando a correlação entre ambos. Concernente a este objetivo pode-se dizer que alguns
fatores são comuns a todas as áreas da aviação, como a questão influência do elemento
humano e a questão dos componentes materiais e operacionais. De fato, como recordam
Albuquerque (1991) e Benson (1998), a partir do momento em que toda aeronave é pilotada
por um ser humano, com fatores fisiológicos e psicológicos envolvidos, sempre devemos
considerar a possibilidade da falha humana. Não obstante, é preciso conhecer quais elementos
influenciam a atividade dos pilotos em seu cotidiano, haja vista que realizar um voo comercial
é uma atividade distinta de praticar aviação agrícola, por exemplo, e as diferenças são várias,
desde a atividade fim até o tipo de aeronave utilizada. É nítido que as preocupações dos
pilotos são diversas quando os fins são diferentes.
Os fatores materiais também precisam ser considerados. Projeto mal planejado ou mal
fabricado, afirma o IAC (2002) pode levar ao consequente mal funcionamentos de algum
componente ou até mesmo mais de um, e tendo em vista que as aeronaves estão
tecnologicamente mais complexas a cada dia, é preciso considerar que a falha crítica em um
componente ou sistema essencial por má elaboração ou construção deste pode não ser
reversível e acabar ocasionando um grave acidente. Soma-se a isso a possibilidade do
manuseio correto dos materiais. Esse fator une a falha humana com a falha material, podendo
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agravar ainda mais a situação, uma vez que se o componente já está defeituoso de fábrica seu
mal manuseio pode piorar ainda mais o dano causado ao mesmo.
Por fim, entra no rol dos elementos que influenciam a ocorrência de acidentes na
aviação os fatores operacionais, segundo recorda Groeneweg (1998). Estes elementos são uma
verdadeira união do fator humano ao fator material, entram aqui também condições climáticas
adversas, que tanto podem provocar o mal funcionamento da aeronave quanto efeitos
psicológicos negativos sobre uma tripulação despreparada. Falha na instrução dos
profissionais e má coordenação dos procedimentos da cabina, também são citados. Em suma,
a aviação dispõe de uma série de protocolos e medidas que devem ser seguidas, e existe uma
razão real para cada procedimento feito, de forma que nada pode ser negligenciado em uma
aeronave sem incorrer no risco de provocar um acidente.
Por isso que, dentre as formas de prevenir acidentes destacadas por este estudo, a
educação em prevenção está entre os mais importantes. É preciso que os profissionais da
aviação saibam o que fazer em caso de emergência, mas acima de tudo que conheçam a razão
das existência das inúmeras etapas e tarefas que devem desempenhar em sua profissão, desde
o momento que adentram o avião até a hora que desembarcam dele. É especialmente
importante que os pilotos conheçam esses aspectos em detalhes e que os demais tripulantes
conheçam de forma razoável, sabendo ainda como orientar os passageiros em caso de uma
situação inesperada. Para tanto, existem no Brasil diversos cursos, tendo sido mencionados
vários durante este estudo. Ressalta-se ainda que os cursos não apenas para o setor da aviação
regular, mas existem diferentes módulos voltados as diferentes áreas da aviação.
A investigação dos acidentes é outra importante fonte que visa contribuir com a
prevenção dos mesmos, pois quando está feita visando não apenas atribuir responsabilidades,
mas identificar as causas que levaram a ocorrência, pode-se entender melhor os fatores que
influem de forma perigosa sobre a atividade de voar e então adotar medidas que visam a
preveni-los e evitá-los. Determinou-se que entre 2011 e 2015, foram notificadas 8.229
colisões com a fauna no Brasil, mas esse valor corresponde apenas a 430% das ocorrências e
o CENIPA estima que 70% das colisões não são notificadas, o que agrava ainda mais a
situação referente a acidentes com colisões. Todo acidente não investigado é uma perda de
oportunidade de relacionar novos fatores que influem sobre a atividade de voo e com isso
novas ocorrências pelas mesmas razões vão continuar acontecendo e colocando em risco a
vida das pessoas.
Existem ainda os programas de prevenção de riscos específicos, havendo inclusive um
destinado a prevenção de acidentes com fauna e flora. São diversos os módulos ofertados por
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organismos oficiais, como A SIPAER, de forma que para cumprir todos é necessário um
investimento de tempo e recursos por parte dos profissionais. Não obstante, para aqueles que
tem o voo como sua profissão o investimento vale a pena sendo recompensando, muitas
vezes, com a própria sobrevivência dos envolvidos graças ao conhecimento específico que
possuíam. Ademais, para usuários que trabalham sob certas condições determinadas, como a
aviação agrícola no interior do território, em regiões de fauna e flora densas, o aprendizado de
um programa específico como esse é essencial.
Em suma, os elementos que influenciam a atividade de voar são muitos e provém de
diferentes fontes, desde fatores humanos, a questões técnicas, materiais e operacionais,
considerando também aspectos climáticos que não podem ser controlados pelo homem, mas
apenas amenizada ou neutralizada sua influência sobre o voo. Tendo isso em vista, as
melhores formas de prevenir são investir em treinamento de prevenção de acidentes, na
melhoria tecnológica e de construção das aeronaves, diminuindo as ocorrências de erros de
fábrica e melhorando a qualidade dos materiais, bem como a realização de investigações
profundas que busquem as verdadeiras causas dos acidentes quando estes ocorrem.
4. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BENSON, A.J. Spatial Disorientation – common illusions. In: Ernsting, J.; King, P.
Aviation Medicine. 2nd. ed. London: Butterworth-Heinemann, 1998. p. 297-317.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2008.
International Civil Aviation Organization. ICAO Doc. 9859, Safety management manual. 2
ed. 2009.Disponível em:
<http://www.icao.int/anb/safetymanagement/DOC_9859_FULL_EN.pdf>. Acessado em:
20/04/2018.
JACDEC, 2014 - Ranking de segurança aérea mantém Gol e TAM entre as últimas.
Disponível em: <https://www.terra.com.br/economia/ranking-de-seguranca-aerea-mantemgol-
e-tam-entre-as-ultimas,ce6aa18a8fc83410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html>. Acessado
em: 17/02/2018.