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MARCELO BORDONAL SCORSATO

PROPOSTA DE UM CHECKLIST PARA A ATIVIDADE DE ACESSO POR CORDA


EM PLATAFORMAS OFFSHORE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Universidade Federal de São Paulo como
requisito parcial à obtenção do título de
bacharel em Engenharia de Petróleo
Orientação: Prof. Dr. Magno José Alves

Santos / SP
2023
Ficha catalográfica elaborada por sistema automatizado
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Bordonal Scorsato, Marcelo.


B729pp PROPOSTA DE UM CHECKLIST PARA A ATIVIDADE DE
ACESSO POR CORDA EM PLATAFORMAS OFFSHORE. / Marcelo
Bordonal Scorsato; Orientador Magno José Alves. --
Santos, 2023.
39 p. ; 30cm

TCC (Graduação - Engenharia de Petróleo) --


Instituto do Mar, Universidade Federal de São Paulo,
2023.

1. Fatores humanos. 2. Atividade de acesso por


corda. 3. FPSO. I. José Alves, Magno, Orient. II.
Título.

CDD 665.5
RESUMO

A produção de petróleo vem sendo cada vez mais desafiadora, uma vez que
tecnologias estão surgindo acarretando o aumento da complexidade de processos e
equipamentos de automação, aumentando drasticamente os riscos da operação, o
que vem resultando em uma preocupação cada vez maior com a saúde e
integridade física dos funcionários. Neste contexto, diferentes conceitos como
fatores humanos, que abordam diversos âmbitos de um colaborador que direta ou
indiretamente influenciam no seu desempenho de suas atividades, vem ganhando
espaço nos últimos anos. Estudos destacam que acidentes envolvendo trabalho em
altura são uma das principais atividades que geram fatalidade em uma plataforma,
além disso, cerca de 80% dos eventos ocorridos em indústrias químicas e
petroquímicas são devido à falha de fatores humanos. Devido a esses fatores, o
presente estudo tem como objetivo desenvolver um checklist abrangente e eficaz
para a atividade de acesso por corda em plataformas offshore, priorizando a
integração de fatores humanos, visando aprimorar a segurança, eficiência e
desempenho operacional das equipes envolvidas. A metodologia adotada é aplicada
e exploratória, focando na elaboração de um checklist para aprimorar atividades de
acesso por corda em plataformas offshore. Sem pesquisa in loco, baseia-se em
revisão bibliográfica, análise de relatórios e consulta a artigos científicos. O checklist,
composto por 22 itens, reflete uma abordagem holística, alinhando-se a diretrizes
reconhecidas do setor para garantir confiabilidade e validade. Além disso, o checklist
não serve como justificativa em contradições, focando na prevenção de riscos e no
aprimoramento contínuo. Deve ser aplicado por responsável técnico e de saúde,
complementando, não substituindo, normas regulamentadoras. Por fim, a
abordagem proativa, usando um checklist de fatores humanos, é crucial para
prevenir acidentes, promovendo uma cultura de segurança. No entanto, a pesquisa
contínua sobre fatores humanos é essencial para uma gestão mais eficiente e
humanizada.

Palavras-chave: Fatores humanos, atividade de acesso por corda, FPSO.


ABSTRACT

The production of oil has become increasingly challenging as new technologies


emerge, leading to greater complexity in processes and automation equipment. This
escalation in operational complexity significantly raises the risks involved, prompting
a growing concern for the health and physical well-being of employees. In this
context, various concepts such as human factors, which encompass various aspects
of an employee directly or indirectly influencing their performance, have gained
prominence in recent years. Studies highlight that accidents involving work at heights
are among the leading causes of fatalities on platforms. Furthermore, approximately
80% of incidents in chemical and petrochemical industries result from human factors
failures. Due to these considerations, this study aims to develop a comprehensive
and effective checklist for rope access activities on offshore platforms, prioritizing the
integration of human factors to enhance the safety, efficiency, and operational
performance of the involved teams. The adopted methodology is applied and
exploratory, focusing on developing a checklist to improve rope access activities on
offshore platforms. Without on-site research, it relies on literature reviews, analysis of
reports, and consultation of scientific articles. The checklist, comprising 22 items,
reflects a holistic approach, aligning with recognized industry guidelines to ensure
reliability and validity. Additionally, the checklist is not intended as justification for
contradictions but rather emphasizes risk prevention and continuous improvement. It
should be implemented by a technical and health professional, complementing, not
replacing, regulatory standards. Lastly, the proactive approach, using a human
factors checklist, is crucial for accident prevention and fostering a safety culture.
However, continuous research on human factors is essential for more efficient and
human-centered management.

Key-words: Human factor, Rope access activity, FPSO.


AGRADECIMENTO

Agradeço ao Prof. Dr. Magno José Alves, meu orientador, pela ajuda durante todo o
processo de elaboração do trabalho.

À minha família por todo o apoio prestado durante essa fase da minha vida, sem
vocês jamais seria possível eu realizar este sonho que hoje compartilho com vocês
com muita felicidade.

Aos meus amigos, em especial a Beatriz Militelo e a Rafaela Paterli que tiveram
muita paciência comigo durante toda esta caminhada, me ajudando de todas as
formas acadêmicas e pessoais possíveis.

Todos os professores e funcionários do Instituto do Mar que de alguma forma


contribuíram para minha formação.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 11
2.1 OBJETIVO GERAL ..............................................................................................11
2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO .................................................................................... 11
3 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................12
3.1 FPSO ...................................................................................................................13
3.2 FATORES HUMANOS .........................................................................................14
3.3 ATIVIDADES DE ACESSO POR CORDA ...........................................................16
3.3.1 Histórico mundial ........................................................................................... 17
3.3.2 Histórico nacional .......................................................................................... 17
3.3.3 Execução de atividade de acesso por corda ............................................... 18
3.3.4 Atividade de acesso por corda em um FPSO .............................................. 20
3.3.5 Acidente em atividade de acesso por corda ................................................23
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 26
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 28
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................35
APÊNDICE A – CHECKLIST DE FATORES HUMANOS ........................................ 38
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Plataformas de petróleo fixa, autoelevatória, semissubmersível e navio de
produção e estocagem (FPSO) .................................................................................12
Figura 2 – FPSO Cidade de Angra dos Reis (MV22) ................................................14
Figura 3 – Partes do FPSO que podem ocorrer atividades de acesso por corda ..... 21
Figura 4 – Balcão de risers de um FPSO ..................................................................22
Figura 5 – Atividade de acesso por corda em um tanque ......................................... 23
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Categoria de fatores humanos em acidentes de acesso por cordas ....... 16
Tabela 2 - Histórico do Brasil em atividades de acesso por cordas .......................... 18
Tabela 3 - Atribuição dos profissionais de acesso por cordas N1, N2 e N3 ..............19
Tabela 4 - Acidentes graves e fatais reportados em atividades de acesso por cordas..
....................................................................................................................................24
Tabela 5 - Lesões leves e quase acidentes reportados em atividades de acesso por
cordas ........................................................................................................................24
Tabela 6 - Número de acidentes reportados por localização .................................... 25
Tabela 7 - Número de acidentes por milhões de horas ............................................. 25
Tabela 8 - Informações do avaliador do checklist de fatores humanos .....................29
Tabela 9 - Análise da avaliação de condições psicológicas ...................................... 29
Tabela 10 - Análise da avaliação do comportamento seguro ....................................30
Tabela 11 - Análise da avaliação da comunicação e trabalho em equipe ................. 30
Tabela 12 - Análise da avaliação de gerenciamento de stress e fadiga ................... 31
Tabela 13 - Observação final sobre a análise de fatores humanos .......................... 31
9

1. INTRODUÇÃO

As atividades de exploração de petróleo offshore se dão por meio de


plataformas, onde é possível encontrar modelos que variam conforme sua
aplicabilidade, como o desenvolvimento da fase de produção e completação do
poço, além de processos industriais requeridos para estabelecer a produção de
petróleo, transporte e armazenamento. Fatores como profundidade, condições
marítimas, linha de processamento adequado, assim como os tipos de fluidos
produzidos e estocagem também são fundamentais na hora de definir o tipo de
plataforma (MARTINS, 2018).

Segundo Morais (2013), atualmente contamos com as seguintes plataformas:


Plataforma fixa; Plataforma Semissubmersível (Semi-submersible Floating
Production Unit - SS-FPU); Plataforma FPSO (Floating, Production, Storage and
Offloading); Plataforma SPAR; Plataforma Jack-up; Plataforma TLP (Tension Leg
Platform).

Em todos os modelos de plataformas offshore, podem ocorrer atividades de


acesso por cordas. Segundo Magalhães (2011), o sistema de descida controlada por
cordas, visa realizar o posicionamento de um técnico em situações de exposição à
altura com o auxílio de sistemas de segurança com o intuito de facilitar o acesso de
forma ágil em locais complexos de uma estrutura, podendo ser confinados ou
perigosos.

Diante da diversa quantidade de atividades oriunda da cadeia produtiva do


óleo e gás, Guida (2020) realizou um estudo para mapear os acidentes fatais da
indústria de petróleo entre 2001 e 2016. Cerca de 55% dos acidentes com fatalidade
ocorrem na área de exploração e produção. Agora, quando comparado com o tipo
de local ou instalação, a plataforma de petróleo corresponde com a maior parcela de
acidentes fatais, sendo 19,4%. Fato importante também é que cerca de 9,5% dos
acidentes fatais em empresas de petróleo foram oriundos de quedas de altura.

Desta forma, a atividade de acesso por corda foi escolhida como objetivo
deste trabalho, devido à predominância dos acidentes de trabalho com fatalidades
offshore ocorrerem em razão de queda em altura. Além disso, foram introduzidos os
fatores humanos, uma vez que segundo Kariuki e Lowe (2007), mais de 80% dos
10

eventos ocorridos em indústrias químicas e petroquímicas são oriundos de falhas


humanas.
11

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Desenvolver um checklist abrangente e eficaz para a atividade de acesso por


corda em plataformas offshore, priorizando a integração de fatores humanos,
visando aprimorar a segurança, eficiência e desempenho operacional das equipes
envolvidas.

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

Desenvolver um checklist abrangente e de fácil aplicação para a atividade de


acesso por corda em plataformas offshore, integrando considerações fundamentais
de fatores humanos. Este checklist será resultado da análise aprofundada de riscos,
revisão de normativas. Busca-se, assim, otimizar a segurança, eficiência e
desempenho operacional, propondo diretrizes claras para a implementação e
disseminação eficaz nas equipes envolvidas nessa atividade.
12

3. REFERENCIAL TEÓRICO

As plataformas de petróleo disponíveis hoje no mercado podem ter diversos


objetivos diferentes umas das outras, como por exemplo perfuração (drilling),
produção (production) e armazenamento do hidrocarboneto (storage). Além disso,
as plataformas também podem servir de suporte para atividades de produção de
petróleo offshore. Diversas modalidades principais de plataformas foram oriundas da
evolução tecnológica das plataformas que ocorreu no século XX, conforme
observado na figura 1 (MORAIS, 2013).

Figura 1 – Plataformas de petróleo fixa, autoelevatória, semissubmersível e navio de


produção e estocagem (FPSO).

Fonte: Morais, 2013.

As plataformas fixas são estruturas imóveis ancoradas ao leito do mar, ideais


para águas rasas. Já as plataformas semissubmersíveis possuem parte de sua
estrutura submersa, proporcionando estabilidade em águas mais profundas e
condições adversas. As plataformas SPAR, de formato cilíndrico e flutuante,
oferecem estabilidade por meio de lastro e são utilizadas em águas profundas. Por
sua vez, as plataformas Jack-up são autoeleváveis, sendo ideais para águas rasas,
enquanto as plataformas Tension Leg Platform (TLP) são ancoradas ao fundo do
mar por tendões verticais, adequadas para águas intermediárias (MORAIS, 2013).
Cada tipo de plataforma apresenta vantagens e desafios específicos, sendo a
escolha determinada pelas características do campo petrolífero e das condições
13

ambientais.

O Floating Production Storage and Offloading (FPSO) são unidades


flutuantes, sendo caracterizado por sua considerável capacidade de
armazenamento, produção e transferência de petróleo, permitindo a navegação por
longas distâncias entre o estaleiro e o local de instalação no mar, bem como entre
diferentes campos de petróleo. Embora não seja amplamente empregado em mares
propensos a tempestades, como no Golfo do México, sua adoção é difundida nos
campos petrolíferos do Brasil (MORAIS, 2013).

3.1 FPSO

As perspectivas para os dias atuais é que a produção e consumo de petróleo


continue crescendo nos próximos anos. Para que isso seja possível, tecnologias
vêm sendo desenvolvidas para o alcance de lâminas de água mais profundas
(MIELNIK, 2014).

O FPSO (Floating Production Storage and Offloading) foi desenvolvido com o


intuito de possibilitar a exploração e beneficiamento de petróleo em águas profundas
(MIELNIK, 2014). Esse tipo de plataforma, são unidades flutuantes, sendo
caracterizado por sua considerável capacidade de armazenamento, produção e
transferência de petróleo, permitindo a navegação por longas distâncias entre o
estaleiro e o local de instalação no mar, bem como entre diferentes campos de
petróleo. Embora não seja amplamente empregado em mares propensos a
tempestades, como no Golfo do México, sua adoção é difundida nos campos
petrolíferos do Brasil (MORAIS, 2013).

Existem também dois tipos de variação de FPSO, sendo o FPDSO, que conta
com equipamentos de perfuração (drilling) e o FPWSO, que é composto por
equipamentos de intervenção de poços. (MORAIS, 2013).

Um exemplo de FPSO é a plataforma Cidade de Angra dos Reis – MV22


representada na figura 2, na qual foi a primeira unidade a explorar o pré-sal
Brasileiro, localizado em uma lâmina de água de 2.149 m no Campo de Lula na
Bacia de Santos.
14

Figura 2 – FPSO Cidade de Angra dos Reis (MV22).

Fonte: FPSO Cidade de Angra dos Reis MV22, Projects, MODEC. Disponível em: FPSO Cidade de
Angra dos Reis MV22 | Projects | MODEC. Acesso em: 24 de outubro de 2023.

A MODEC realizou a conversão do VLCC "M/V Sunrise IV" em um FPSO


altamente eficiente, com capacidade para processar até 100.000 barris de petróleo
diariamente, além de 5 milhões de m3 de gás. Essa instalação avançada foi
projetada para remover H2S e CO2, oferecendo a capacidade adicional de reinjetar
CO2 no poço a uma pressão de 550 bar, ao mesmo tempo que exporta gás de
venda para a costa (MODEC, 2023).

3.2 FATORES HUMANOS

A produção de petróleo vem sendo cada vez mais desafiadora, acarretando o


desenvolvimento de tecnologias devido ao aumento da complexidade de processos
e equipamentos de automação. Outro fator agravante é que estamos operando em
águas mais profundas, que são mais longe da costa e ocasionando processos de
perfuração cada vez maiores. Esses fatores aumentam direta e drasticamente os
riscos da operação (FRANÇA, 2016).

Segundo França (2016), grandes acidentes tiveram como fatores causadores


a falha humana, que foi o caso da plataforma Piper Alpha, no Mar do Norte, em
1988, onde essa fatalidade custou a vida de 167 trabalhadores e ocasionou a perda
total da unidade. Já Chandrasegaran (2020), usou como exemplo o acidente de
2010 que ocorreu com a plataforma Deepwater Horizon, que durante a investigação
15

do acidente, foi comprovado o impacto dos fatores humanos no desastre.

Apesar de eventos significativos e da comprovada relação com os fatores


humanos, a indústria persiste em desafiar continuamente os limites técnicos. Isso
ocorre devido a diversos fatores, como campos tecnicamente mais desafiadores, a
busca por maior eficiência, a transferência das operações para unidades remotas e
a crescente complexidade na gestão de projetos e na integração de novas
tecnologias nas instalações (Johnsen et al., 2017). Assim, torna-se essencial a
avaliação contínua do papel da engenharia de fatores humanos desde a etapa de
projeto e construção até a fase de operação de uma instalação de petróleo e gás,
bem como ao longo de todo o ciclo de vida de um ativo (Chandrasegaran et al.,
2020). Essa abordagem integral é fundamental para garantir a segurança, eficiência
e desempenho sustentável da instalação.

Segundo Theobald (2007), fatores humanos é um termo de difícil definição,


uma vez que vários autores empregam um vasto número de definições e
interpretações para o mesmo, de forma a até sofrer correlação com termos como
“engenharia de fatores humanos” e “ergonomia”. Porém com base no conceito de
Health na Safety Executive (HSE), podemos adotar a seguinte definição para o
termo:

[...] fatores humanos se referem aos fatores ambientais, organizacionais e


do trabalho, e as características individuais e humanas as quais influenciam
no comportamento no trabalho de forma a poder afetar a segurança e a
saúde. (HSE, 2023, p. 1)

Porém o termo que vem ganhando espaço nos últimos anos e aborda
diversos âmbitos de um colaborador que direta ou indiretamente influencia no seu
desempenho da atividade, percepção de risco, postura ou até mesmo o
cumprimento de boas práticas. As principais características de um funcionário que
envolve fatores humanos são cognitivas, sociais, emocionais, físicas e/ou biológicas
(Kiani, 2017).

Os fatores humanos podem ser divididos em três grandes grupos, sendo eles,
organizacional, de grupo ou individual. Quando analisado organizacionalmente,
alguns fatores podem ser contribuintes para gerar o acidente ou incidente, como, por
exemplo, cortes de custo ou o nível de comunicação entre os locais de trabalho. Ao
nível de grupo, fatores como o relacionamento entre os membros de uma equipe e
16

os colaboradores com o supervisor têm potencial direto de influência nas atividades.


E por fim, de forma individual, a tentativa de optimização da interface
homem-máquina, fatores emocionais, sobrecarga de trabalho dentre outros pode
levar a contribuição de um acidente de trabalho (GORDON, 1996).

Segundo o “Work & Safety Analysis 2022” da IRATA (Industrial Rope Access
Trade Association) em 2022 foram relatados 256 acidentes de acesso por corda,
onde, dentre 106 acidentes foram observados 167 itens de fatores humanos, sendo
então apontado mais de um item de fator humano por acidente. É possível observar
na tabela 1 quais são as principais categorias identificadas para fatores humanos em
2021, assim como a mesma avaliação para os anos de 2019 e 2020. Dentre os itens
avaliados, os que mais apresentaram falhas foram “falta de concentração”, “falta de
experiência” e “falha em seguir regras”, representando 90 dos 167 fatores
observados.

Tabela 1 - Categoria de fatores humanos em acidentes de acesso por cordas.


Falha de Falta de Falha em seguir as
Ano
concentração experiência regras
2021 35 30 25
2020 67 46 35
2019 58 32 33
Total 160 108 93
Fonte: Adaptado da Análise de Trabalho e Segurança do (Industrial Rope Access Trade
Association) internacional. (IRATA, 2021).

3.3 ATIVIDADES DE ACESSO POR CORDA

Segundo a Norma Reguladora 35 – Trabalho em altura, aborda no item 1.1 a


seguinte definição para acesso por corda:

[...] a técnica de progressão utilizando cordas, com outros equipamentos


para ascender, descender ou se deslocar horizontalmente, assim como para
posicionamento no local de trabalho, normalmente incorporando dois
sistemas de segurança fixados de forma independente, um como forma de
acesso e o outro como corda de segurança utilizado com cinturão de
segurança tipo paraquedista (BRASIL, 2019, p.11).

A atividade de acesso por cordas também é definida por Magalhães (2011)


como um sistema que provê o posicionamento e acesso de um técnico, em uma
condição de exposição à altura através da utilização de cordas e de outros
equipamentos. Essa técnica, permite que o técnico acesse locais de difícil acesso ou
17

até mesmo locais inacessíveis utilizando outras técnicas, como espaços confinados
ou estruturas verticais. Esse tipo de acesso também tem o objetivo de ser realizado
de forma flexível, leve e ágil, sem a necessidade de outras estruturas mais
complexas, como andaimes.

É possível observar diversas vantagens na escolha do método de acesso por


cordas, sendo a rapidez e segurança que os trabalhadores podem acessar o local
da atividade, a principal delas, além do baixo risco e custo, quando comparado com
outros métodos de acesso. O acesso por cordas então pode ser realizado de forma
segura e não invasiva em diferentes meios, como: construção, manutenção,
inspeção, reparo, instalações diversas, limpeza e pintura de edifícios e demais
estruturas. IRATA (Industrial Rope Access Trade Association) (2023).

3.3.1 Histórico mundial

A França com o intuito de estabilizar encostas, utilizou a técnica de escalada


e alpinismo no final da década de 70. Em contrapartida, o Reino Unido utilizava a
mesma técnica para realizar inspeção externa em prédios que apresentavam
anomalias de desprendimento de partes das fachadas. Nos anos 80 essa técnica foi
se desenvolvendo até ser o que conhecemos hoje, graças ao sistema desenvolvido
pela espeleologia no final da década de 60. Para que essa técnica se enquadrasse
aos requisitos de segurança em altura, foi necessário adicionar mais uma corda de
segurança, totalizando duas, para que o sistema ficasse redundante. Em 1987, seis
empresas do Reino Unido com o apoio do Governo Britânico através do Health and
Safety Executive – HSE, criaram a IRATA (Rope Access Trade Association). Em
seguida foi criada em 1994, a Norma Britânica BS 7985 – Métodos de acesso por
corda para a indústria (BRASIL, 2014).

3.3.2 Histórico nacional

Na Tabela 2 abaixo, segundo Souza (2022) é possível observar um breve


histórico do Brasil em atividades de acesso por cordas.
18

Tabela 2 - Histórico do Brasil em atividades de acesso por cordas.


Ano Descrição
Trabalhos industriais em altura começam a ser executados por escaladores
1999 esportivos.
A indústria petroquímica começa a utilizar os serviços em altura.
1996
Empresas do setor de óleo e gás offshore começam a realizar treinamentos
1997 de profissionais de acesso por cordas.
PETROBRAS utiliza o método IRATA devido à ausência de uma
2001 padronização nacional.
ABNT criou a ABNT/CEET 00:001.70, que é a Comissão de Estudos
2006 Especiais Temporária de Qualificação e Certificação do Profissional de
Acesso por Corda.
A primeira norma de acesso por corda no Brasil foi aprovada, ABNT NBR
2007 15.475 Acesso por Corda - Qualificação e Certificação de pessoas.
No mesmo ano foi fundada a ANEAC - Associação Nacional das Empresas
de Acesso por corda.
Foi aprovada a norma ABNT NBR 15.595 Acesso por Corda -
2008 Procedimento para aplicação do método.
O Sistema Nacional de Certificação de Pessoas em Acesso por Corda foi
2009 iniciado pela ABENDI.
É iniciado os exames de certificação para os profissionais conforme a
2011 ABNT NBR 15.475.
Fonte: Adaptado do Manual de Auxílio na Interpretação e Aplicação do Anexo “Acesso por Corda” da
Norma Regulamentadora 35 Trabalho em Altura (MTE, 2014).

3.3.3 Execução de atividade de acesso por corda

As atividades de acesso por corda devem ser executadas conforme a ABNT


NBR 15.595 Acesso por Corda – Procedimento para Aplicação do Método. Já os
profissionais de acesso por corda devem ser certificados segundo a ABNT NBR
15.475 – Acesso por Corda – Qualificação e Certificação de Pessoas, e segundo a
NBR, existem 3 níveis de qualificação de profissional de acesso por corda, sendo
eles (BRASIL, 2014):

A. Profissional de Acesso por Corda Nível 1 – N1 – É o nível de


qualificação mais básico que não exige experiência do profissional, apenas
o 5° ano do ensino fundamental. Todas as atividades realizadas pelo
mesmo devem ser sob supervisão de um profissional nível 2 ou nível 3
(BRASIL, 2014).

B. Profissional de Acesso por Corda Nível 2 – N2 – Esse profissional


possui nível de qualificação intermediário, sendo necessário ter 12 meses
19

de qualificação profissional N1, 1000 horas de experiência e ensino médio


completo. Caso o profissional possua apenas o ensino médio, será
necessário obter pelo menos 24 meses de experiência.

C. Profissional de Acesso por Corda Nível 3 – N3 – Por fim, o profissional


nível 3 tem a capacidade de assumir total responsabilidade sobre projetos
de acesso por corda. Além de ter as qualificações dos profissionais N1 e
N2, o N3 precisa ter ao menos 36 meses de experiência como N2, 3000
horas de experiência e ao menos o ensino médio completo.

Na tabela 3 abaixo, é possível observar um compilado a título de comparação


das atribuições dos profissionais de acesso por cordas N1, N2 e N3.

Tabela 3 - Atribuição dos profissionais de acesso por cordas N1, N2 e N3.


(continua)

Atribuições Nível Nível Nível


1 2 3
Trabalhos realizados sob supervisão X

Responsável pela inspeção do seu equipamento X


pessoal
Capaz de executar auto resgate e resgate sob X
supervisão
Conhecer sistemas de redução mecânica X

Trabalho sobre a água, deve ser exigida a supervisão X


in locu do profissional nível 3
Ser capaz de realizar todas as atribuições de nível 1 X X X

Capaz de planejar os trabalhos X

Realizar montagem de sistema de acesso X

Realizar resgate sob supervisão X

Possuir treinamentos de primeiros socorros X

Supervisionar trabalhos verticais simples em ambientes X


urbanos
Trabalhos complexos devem ser executados sob a X
supervisão remota ou direta de um profissional nível 3
Ser capaz de realizar todas as atribuições de nível 2 X X

Supervisão de equipes X
20

(conclusão)

Atribuições Nível Nível Nível


1 2 3
Capacidade de assumir responsabilidade por projetos X
de acesso por corda
Planejar as ações de acesso por corda X

Possuir experiência em técnicas de trabalho por acesso


por corda e conhecimentos sobre análise de risco e X
legislação
Possuir conhecimento avançado em primeiros socorros X

Possuir conhecimento avançado de técnicas de resgate X


Fonte: Adaptado do Manual de Auxílio na Interpretação e Aplicação do Anexo “Acesso por Corda” da
Norma Regulamentadora 35 Trabalho em Altura. MTE, 2014.

3.3.4 Atividade de acesso por corda em um FPSO

Em um FPSO, existem diversas situações que requerem o uso de acesso por


corda, com variados propósitos, incluindo a manutenção, inspeção e reparo das
instalações. Kneipp (2018) aborda os principais locais de uma unidade onde
ocorrem atividades de acesso por corda, porém com uma abordagem de substituir
essa demanda por drones. Porém, atualmente, a grande maioria dos serviços são
realizados por IRATAs, sendo assim, ainda utilizando o levantamento do KNEIPP
(2018) foi possível destacar as principais regiões de um FPSO onde ocorrem essas
atividades (figura 3).
22

(2018).

Balcão de risers: Normalmente, os risers (figura 4) são instalados em uma


plataforma localizada junto ao casco da unidade, próxima ao convés principal. A
operação de inspeção de integridade leva em torno de 5 dias Kneipp (2018).
Figura 4: Balcão de risers de um FPSO.

Fonte: Araujo, 2015.

Tanques: Nos tanques (figura 5), pode ocorrer inspeção visual para conferir
integridade, danos e certificação de classe. As inspeções são realizadas por
técnicos de acesso por corda, seguindo um cronograma determinado. Eles
conduzem essas inspeções suspensas por cordas, com ênfase em áreas de alta
tensão, como borboletas, tanques de asa, reforçadores primários e secundários
Kneipp (2018).
23

Figura 5: Atividade de acesso por corda em um tanque.

Fonte: Kneip, 2018.

3.3.5 Acidente em atividade de acesso por corda

Segundo a Análise de Trabalho e Segurança do IRATA internacional, em 2021


foi recebido um total de 256 relatórios envolvendo acidentes de atividades de acesso
por cordas. Dentre esse montante, conforme representado na tabela 4, é possível
observar 15 acidentes em 2021 e 10 acidentes em 2019 e 2020 cada, distribuídos
entre as seguintes classificações:

● Fatalidade: Óbito do trabalhador dentro de um ano, oriundo de um acidente


ou doença relacionada ao trabalho.

● Lesão Grave: Foi definido os critérios baseados na maioria das agências


europeias e internacionais, considerando, por exemplo, fratura de ossos
importantes, amputações, luxações graves, perda de visão e necessidade de
ressuscitação.

● Lesão grave (mais de 7 dias): É considerado lesão que demande mais de


sete dias de afastamento das atividades normais de trabalho,
independentemente de sua causa.
24

Tabela 4 - Acidentes graves e fatais reportados em atividades de acesso por cordas.


Classificação 2021 2020 2019
Fatalidade 3 0 1
Lesão Grave 4 3 2
Lesão grave
8 7 7
(mais de 7 dias)
Total 15 10 10
Fonte: Adaptado da Análise de Trabalho e Segurança do (Industrial Rope Access Trade Association)
internacional. (IRATA, 2021).

A mesma análise também é possível ser feita para os acidentes de menor


gravidade, conforme observado na tabela 5, totalizando em 241 acidentes no ano de
2021, 250 no ano de 2020 e 236 no ano de 2019, distribuídos entre as seguintes
classificações:

● Lesões leves (inferiores a 7 dias): Representa as lesões, por mais trivial que
seja, que demandam menos de 7 dias de afastamento, incluindo problemas
de saúde e torções/distensões, a menos que resultem em “lesão superior a 7
dias”.

● Quase acidente: Representa qualquer evento ou situação que não ocorreu


dano pessoal, porém poderia ter gerado uma lesão ou até mesmo uma
fatalidade.

Tabela 5 - Lesões leves e quase acidentes reportados em atividades de acesso por


cordas.
Classificação 2021 2020 2019
Lesões leves
59 62 63
(inferiores a 7 dias)
Quase acidente 182 188 173
Total 241 250 236
Fonte: Adaptado da Análise de Trabalho e Segurança do (Industrial Rope Access Trade Association)
internacional. (IRATA, 2021).

Na tabela 6, é possível observar uma relação entre o local onde ocorreu o


acidente, sendo distribuído entre onshore, offshore e treinamento no ano de 2021.
Segundo ainda a Análise de Trabalho e Segurança do IRATA internacional,
25

treinamento é definido como uma atividade realizada em instalações e


estabelecimentos de treinamento em acesso por cordas por estagiários, incluindo
avaliação.

Tabela 6 - Número de acidentes reportados por localização.


Lesão Lesão grave Lesões Quase
Localização Fatal
grave (mais de 7 dias) leves acidente
Onshore 1 1 4 30 152
Offshore 2 1 3 9 17
Treinamento 0 2 1 20 13
Total 3 4 8 59 182
Fonte: Adaptado da Análise de Trabalho e Segurança do (Industrial Rope Access Trade Association)
internacional. (IRATA, 2021).

Por fim, na tabela 7, é possível observar uma relação do local do acidente


levando em consideração as horas relatadas, sendo Onshore com 13,1 milhões de
horas, Offshore com 7,5 milhões de horas e Treinamento com 0,65 milhões de
horas.

Tabela 7 - Número de acidentes por milhões de horas.

Lesão Lesão grave Lesões Quase


Localização Fatal
grave (mais de 7 dias) leves acidente
Onshore 0.08 0.08 0.31 2.29 11.6
Offshore 0.27 0.13 0.4 1.2 2.27
Treinamento 0 3.1 1.54 30.8 20
Fonte: Adaptado da Análise de Trabalho e Segurança do (Industrial Rope Access Trade Association)
internacional. (IRATA, 2021).
26

4. METODOLOGIA

A metodologia adotada neste trabalho enfoca uma abordagem de pesquisa


aplicada e exploratória, com ênfase na elaboração de um instrumento prático, o
checklist, destinado a aprimorar processos específicos relacionados às atividades de
acesso por corda em plataformas offshore. Vale ressaltar que, embora não tenha
sido realizada pesquisa in locu, a fundamentação teórica e a construção do
instrumento basearam-se em uma extensa revisão bibliográfica, análise de relatórios
e consulta a artigos científicos.

A escolha da natureza exploratória da pesquisa é estratégica, uma vez que


permite uma compreensão mais aprofundada dos elementos essenciais que
influenciam as atividades de acesso por corda, bem como a concepção de um
checklist robusto. A população-alvo, composta por trabalhadores envolvidos nessas
atividades em plataformas offshore, é claramente definida, proporcionando foco e
relevância aos resultados obtidos.

O checklist, composto por 22 itens criteriosamente selecionados, reflete uma


abordagem holística que considera os cinco elementos definidos pela IOGP e as
diretrizes do relatório "Work & Safety Analysis 2022" da IRATA. Essa estratégia visa
garantir uma cobertura abrangente dos fatores humanos envolvidos nas atividades
de acesso por corda, proporcionando uma visão integrada e eficaz para a avaliação
de processos específicos.

A metodologia destaca a importância da confiabilidade e validade do checklist


desenvolvido. A base teórica sólida, derivada da revisão bibliográfica detalhada,
aliada às diretrizes de organizações reconhecidas do setor, contribui para a robustez
do instrumento. A ênfase na confiabilidade visa assegurar a consistência dos
resultados ao longo do tempo e em diferentes contextos, enquanto a validade busca
garantir que o checklist realmente avalie os fatores humanos relevantes nas
atividades de acesso por corda.

Portanto, esta metodologia fornece uma estrutura sólida para a aplicação


prática do checklist desenvolvido, visando uma análise abrangente e interpretação
confiável dos resultados. Apesar da ausência de pesquisa in locu, a abordagem
adotada se baseia em fontes confiáveis e reconhecidas, reforçando a robustez do
27

trabalho realizado.
28

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A IOGP (International Association of Oil & Gas Procedures) delineia cinco


elementos essenciais que contribuem de maneira prática para apoiar a engenharia
de fatores humanos, que foi utilizado como base para o desenvolvimento do
checklist de fatores humanos. Esses elementos incluem:

● Pessoas: Engloba todos os traços, aptidões, expectativas, restrições e


vivências das pessoas que estarão envolvidas nas atividades
desempenhadas na operação;

● Trabalho: Descreve a origem do trabalho que será realizado na operação;

● Organização: Aborda a organização da equipe como a estrutura, escala de


turno, horários de trabalho, responsabilidades e outros aspectos;

● Equipamento: Evolve os equipamentos e tecnologias que o trabalhador


precisará operar de forma física e mental durante a atividade, levando em
consideração também seu layout;

● Ambiente: Refere-se ao local onde será realizada a atividade, envolvendo


fatores como clima, iluminação, vibração, ruído e outros fatores.

Com base nos dados fornecidos pela IOGP e o “Work & Safety Analysis 2022”
da IRATA, foi desenvolvido uma ferramenta pré-trabalho para identificar se o
colaborador está apto a realizar a atividade de acesso por corda de forma segura.

● Informações do avaliador: Tendo como base o modelo do “Boletim da


Segurança IRATA”, foi realizada uma adaptação do cabeçalho para coletar
informações iniciais sobre a empresa e os responsáveis pela aplicação do
formulário final conforme representado na tabela 8.
29

Tabela 8 - Informações do avaliador do checklist de fatores humanos.


Checklist de Fatores Humanos
Informações do avaliador
Empresa:
Data da avaliação:
Atividade:
Local da atividade:
Responsável social pela avaliação:
Responsável técnico pela avaliação:
Fonte: Elaboração própria adaptado do Boletim de segurança IRATA.

● Avaliações de condições psicológicas: Glina et. al (2001) realizou um estudo


sobre saúde mental no trabalho, onde denomina como “condições de vida”
um dos fatores que pode impactar a saúde mental dos trabalhadores, que
seria ciclo social, condições de moradia, alimentação, trajeto, dentre outros.
Esses fatores serviram de referência para adaptar a anamnese no checklist
observado na tabela 9.

Tabela 9 - Análise da avaliação de condições psicológicas.


Avaliação de condições psicológicas SIM | NÃO
1 Você se sente fisicamente e mentalmente preparado para
realizar trabalhos em altura hoje?
2 Você está bem descansado e alerta?
3 Você se alimentou adequadamente?
4 Você está fazendo uso de medicação?
5 Algo fora do seu ambiente de trabalho te causa preocupação?
6 Você se sente confiante em suas habilidades de trabalho em
altura?
7 Você está ciente dos riscos e perigos associados ao trabalho
em altura?
8 Você consegue lidar com situações de estresse e pressão de
forma eficaz?
9 Queixa livre:

Fonte: Elaboração própria. Adaptado de Glina et al., 2001.

● Avaliação do comportamento seguro: De acordo com o relatório “Work &


Safety Analysis 2022”, "comportamento inseguro” conforme nomeado pelo
mesmo, é uma das principais causas de acidentes. Dessa forma, com base
também nas informações do IOGP, foi possível mapear os seguintes pontos
30

importantes a serem observados na tabela 10 abaixo:

Tabela 10 - Análise da avaliação do comportamento seguro.


Avaliação do comportamento seguro SIM | NÃO
10 Você compreende de forma clara os procedimentos de
segurança ao trabalhar em altura?
11 Você relata prontamente riscos ou problemas de segurança
que observa?
12 Você mantém o foco nas tarefas e evita distrações enquanto
está em altura?
13 Você utiliza corretamente seu equipamento de proteção
individual (EPI)?
14 Você segue as orientações do supervisor de forma
consistente?
Fonte: Autor próprio, 2023.

● Avaliação da comunicação e trabalho em equipe: Segundo Rocha (2013), é


necessário a existência de um sistema de comunicação em amplo sentido
entre os trabalhadores que estão executando a tarefa e os demais envolvidos
direta ou indiretamente, incluindo em situações de emergência. Com base
nessa informação foi feito o seguinte levantamento representado na tabela 11.

Tabela 11 - Análise da avaliação da comunicação e trabalho em equipe.


Avaliação da comunicação e trabalho em equipe SIM | NÃO
15 Você se comunica de forma eficaz com sua equipe e com a
equipe de superfície?
16 Você está ciente das responsabilidades de cada membro da
equipe durante um trabalho em altura?
17 Você participa ativamente dos procedimentos de resgate e
primeiros socorros?
18 Você está disposto a parar um trabalho se perceber riscos não
gerenciados?
Fonte: Autor próprio, 2023.

● Avaliação de gerenciamento de stress e fadiga: Nas atividades de trabalho


em altura, é possível observar uma permanente exposição a diversos agentes
e riscos, como por exemplo stress e fadiga. Esses fatores podem resultar em
acidentes, agravando a saúde e integridade do trabalhador. Assim, foi criado
a tabela 12 para representar esses pontos observados.
31

Tabela 12 - Análise da avaliação de gerenciamento de stress e fadiga.


Avaliação de gerenciamento de stress e fadiga SIM | NÃO
19 Você se sente afetado com o estresse no ambiente offshore?
20 Você segue uma dieta equilibrada e mantém-se hidratado
durante os turnos de trabalho?
21 Você costuma fazer longas jornadas de trabalho?
22 Você procura ajuda ou suporte quando está sob pressão
emocional?
Fonte: Autor próprio, 2023.

● Observações: De acordo com França (2014), os fatores humanos é um


sistema extremamente complexo de se entender, sendo um desafio para as
ciências humanas e tecnológicas. Dessa forma, este formulário pode não
contemplar todos os fatores humanos envolvidos na atividade, o que pode ser
pontuado neste momento na tabela 13.

● Parada da atividade: Como os itens foram mapeados através de um histórico


de acidente, é cabível aconselhar que a atividade não ocorra caso algum dos
itens sejam observados previamente de forma a impactar a execução da
mesma.
Tabela 13 - Observação final sobre a análise de fatores humanos.
Observações:

Parada da atividade: Se alguma das perguntas anteriores provocou


divergências, aconselha-se não prosseguir com a atividade.
Fonte: Autor próprio, 2023.

O checklist elaborado neste trabalho não se destina a funcionar como uma


justificativa ou álibi em caso de contradições nas respostas fornecidas pelo
trabalhador durante a execução de suas atividades laborais. Em vez disso, visa ser
uma ferramenta proativa e preventiva, focada na identificação antecipada de riscos,
na promoção da segurança e no aprimoramento contínuo dos procedimentos,
garantindo um ambiente de trabalho mais seguro e eficiente.

Esta ferramenta deve ser aplicada por um responsável técnico em conjunto


com um profissional da área da saúde. Essa abordagem visa garantir a
interdisciplinaridade necessária para uma análise abrangente, promovendo um
aproveitamento mais eficaz do checklist. A colaboração entre esses dois
responsáveis busca assegurar uma compreensão completa dos aspectos técnicos e
32

de saúde, otimizando, assim, a eficácia da ferramenta e contribuindo para a


promoção da segurança e bem-estar no ambiente de trabalho.

A Norma Regulamentadora NR 1 no Brasil, em seu item 1.7, trata da


obrigatoriedade de realizar a Análise de Risco e emitir a Permissão de Trabalho em
situações de trabalho que envolvam riscos significativos. A NR 1 estabelece os
preceitos de ordem técnica e administrativa que empresas e empregadores devem
seguir para garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores. Dessa forma, o
checklist de fatores humanos desenvolvido neste trabalho não substitui a
necessidade de emissão desses documentos quando aplicável.
33

6. CONCLUSÃO

Em síntese, a prática de atribuir a responsabilidade dos acidentes de trabalho


exclusivamente às ações dos trabalhadores, especialmente quando relacionados a
fatores humanos, revela uma abordagem simplista e muitas vezes injusta na gestão
da segurança laboral. Culpar individualmente os trabalhadores pode obscurecer
questões sistêmicas mais amplas, como treinamento inadequado, falta de
supervisão ou condições de trabalho precárias. É crucial que as empresas adotem
uma perspectiva mais abrangente, reconhecendo a interação complexa entre fatores
humanos e ambientais. Ao invés de atribuir culpas, um enfoque proativo na análise
dos processos, na implementação de treinamentos apropriados e na criação de
ambientes seguros pode contribuir significativamente para a prevenção de acidentes
e a promoção de uma cultura de segurança robusta nas organizações.

A implementação de um checklist de fatores humanos revela-se crucial para


fortalecer a segurança no ambiente de trabalho. Reconhecer e abordar elementos
relacionados ao comportamento humano, comunicação e tomada de decisões é
fundamental para prevenir acidentes e promover um ambiente de trabalho seguro. O
checklist oferece uma ferramenta prática e sistemática para avaliar e mitigar riscos
associados aos fatores humanos, permitindo a identificação precoce de potenciais
problemas. Além disso, ao incorporar a perspectiva dos trabalhadores nas
verificações de segurança, esse instrumento não apenas fortalece a conscientização
coletiva, mas também fomenta uma cultura organizacional que valoriza a
participação ativa na promoção da segurança. A adoção de um checklist de fatores
humanos não apenas reduz o risco de acidentes, mas também contribui para um
ambiente laboral mais saudável, onde a segurança é prioridade máxima.

Por fim, a urgência de aprofundar as pesquisas no âmbito dos fatores


humanos se faz evidente. Embora seja possível observar um aumento na atenção
dedicada a esse tema nos últimos anos, lamentavelmente, sua aplicação efetiva nas
práticas empresariais permanece uma meta distante. O entendimento aprofundado
dos fatores humanos é essencial para otimizar a eficácia organizacional e promover
um ambiente de trabalho que valorize e promova o bem-estar dos colaboradores.
Portanto, é imperativo que se intensifiquem os esforços na condução de estudos
mais abrangentes, de modo a embasar estratégias empresariais voltadas para uma
34

gestão mais humanizada e eficiente.


35

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interpretação e aplicação do anexo “ACESSO POR CORDAS” da norma
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36

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37

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uma abordagem orientada para os fatores humanos. Sistemas & Gestão, v. 2, n. 1,
p. 50-64, 2007.
38

APÊNDICE A – CHECKLIST DE FATORES HUMANOS

Checklist de Fatores Humanos


Informações do avaliador
Empresa:
Data da avaliação:
Atividade:
Local da atividade:
Responsável social pela avaliação:
Responsável técnico pela avaliação:

Avaliação de condições psicológicas SIM | NÃO


1 Você se sente fisicamente e mentalmente preparado para
realizar trabalhos em altura hoje?
2 Você está bem descansado e alerta?
3 Você se alimentou adequadamente?
4 Você está fazendo uso de medicação?
5 Algo fora do seu ambiente de trabalho te causa preocupação?
6 Você se sente confiante em suas habilidades de trabalho em
altura?
7 Você está ciente dos riscos e perigos associados ao trabalho
em altura?
8 Você consegue lidar com situações de estresse e pressão de
forma eficaz?
9 Queixa livre:

Avaliação do comportamento seguro SIM | NÃO


10 Você sempre segue os procedimentos de segurança ao
trabalhar em altura?
11 Você relata prontamente riscos ou problemas de segurança
que observa?
12 Você mantém o foco nas tarefas e evita distrações enquanto
está em altura?
13 Você utiliza corretamente seu equipamento de proteção
individual (EPI)?
14 Você segue as orientações do supervisor de forma
consistente?
39

Avaliação da comunicação e trabalho em equipe SIM | NÃO


15 Você se comunica de forma eficaz com sua equipe e com a
equipe de superfície?
16 Você está ciente das responsabilidades de cada membro da
equipe durante um trabalho em altura?
17 Você participa ativamente dos procedimentos de resgate e
primeiros socorros?
18 Você está disposto a parar um trabalho se perceber riscos não
gerenciados?

Avaliação de gerenciamento de stress e fadiga SIM | NÃO


19 Você lida de maneira saudável com o estresse no ambiente
offshore?
20 Você segue uma dieta equilibrada e mantém-se hidratado
durante os turnos de trabalho?
21 Você consegue manter a concentração durante longas
jornadas de trabalho?
22 Você procura ajuda ou suporte quando está sob pressão
emocional?

Observações:

Parada da atividade: Se alguma das perguntas anteriores provocou divergências,


aconselha-se não prosseguir com a atividade.

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