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Rev Bras Anestesiol.

2020;70(4):364---387

ARTIGO DE REVISÃO

SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional


em uso de anticoagulantes
Neuber Martins Fonseca a,b,c,h,∗ , João Paulo Jordão Pontes d,h,i ,
Marcelo Vaz Perez e,f,h , Rodrigo Rodrigues Alves d,h e Gabriel Gondim Fonseca g

a
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Faculdade de Medicina, Disciplina de Anestesiologia, Uberlândia, MG, Brasil
b
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Faculdade de Medicina, Centro de Ensino e Treinamento (CET), Uberlândia, MG,
Brasil
c
Comissão de Normas Técnicas da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
d
Hospital Santa Genoveva de Uberlândia, CET/SBA, Uberlândia, MG, Brasil
e
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
f
Conselho Editorial da Revista Brasileira de Anestesiologia, São Paulo, SP, Brasil
g
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Anesthesiology Specialization, São Paulo, SP, Brasil
h
Título Superior em Anestesiologia (TSA), Sociedade Brasileira de Anestesiologia, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
i
European Diploma in Anaesthesiology and Intensive Care, European Society of Anaesthesiology, Bruxelas, Bélgica

Recebido em 22 de novembro de 2019; aceito em 21 de fevereiro de 2020


Disponível na Internet em 12 de maio de 2020

PALAVRAS-CHAVE Resumo Os padrões evolutivos para a prevenção do tromboembolismo venoso periopera-


Anestesia regional; tório e a introdução de medicações antitrombóticas cada vez mais potentes resultaram em
Anestesia, condução; preocupações com o aumento do risco de sangramento neuroaxial. Após o consenso da Soci-
Anestesia de edade Brasileira de Anestesiologia em 2014, novos medicamentos anticoagulantes orais foram
condução; aprovados pelas instituições reguladoras internacionais, assim como pela ANVISA. As socieda-
Antitrombóticos; des que buscam abordar o manejo perioperatório desses fármacos apresentam recomendações
Tromboembolismo conflitantes. Em resposta a essas questões e à necessidade de uma abordagem mais racio-
nal, as condutas foram atualizadas nesta revisão narrativa e feitas declarações de consenso.
Elas foram projetadas para encorajar a assistência ao paciente de forma segura e de qua-
lidade, mas não podem garantir um resultado específico. Tal como acontece com qualquer
recomendação de orientação clínica, estas estão sujeitas a revisão com o conhecimento de
avanços específicos de complicações. O objetivo foi avaliar aspectos da segurança em anes-
tesia e analgesia regional em pacientes em uso de medicações antitrombóticas, tais como:
possíveis complicações decorrentes da técnica; fatores de risco associados ao hematoma espi-
nhal, estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento; intervalo seguro para suspensão e
reinício da medicação após o bloqueio regional.
© 2020 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este é um
artigo Open Access sob uma licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-
nc-nd/4.0/).

∗ Autor para correspondência.


E-mail: neubermf@gmail.com (N.M. Fonseca).

https://doi.org/10.1016/j.bjan.2020.02.006
© 2020 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este é um artigo Open Access sob uma licença CC
BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 365

KEYWORDS SBA 2020: Regional anesthesia guideline for using anticoagulants update
Regional anesthesia;
Abstract The development of protocols to prevent perioperative Venous Thromboembolism
Anesthesia,
(VTE) and the introduction of increasingly potent antithrombotic drugs have resulted in con-
conduction;
cerns of increased risk of neuraxial bleeding. Since the Brazilian Society of Anesthesiology
Conduction
(SBA) 2014 guideline, new oral anticoagulant drugs were approved by international regulating
anesthesia;
agencies, and by ANVISA. Societies and organizations that try to approach concerns through gui-
Antithrombotimbolism
delines have presented conflicting perioperative management recommendations. As a response
to these issues and to the need for a more rational approach, managements were updated in
the present narrative revision, and guideline statements made. They were projected to encou-
rage safe and quality patient care, but cannot assure specific results. Like any clinical guide
recommendation, they are subject to review as knowledge grows, on specific complications,
for example. The objective was to assess safety aspects of regional analgesia and anesthesia
in patients using antithrombotic drugs, such as: possible technique-associated complications;
spinal hematoma-associated risk factors, prevention strategies, diagnosis and treatment; safe
interval for discontinuing and reinitiating medication after regional blockade.
© 2020 Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Published by Elsevier Editora Ltda. This is an
open access article under the CC BY-NC-ND license (http://creativecommons.org/licenses/by-
nc-nd/4.0/).

Objetivo Esta seção também aborda extensivamente o risco


de sangramento em pacientes submetidos a bloqueio de
Avaliar aspectos da segurança em anestesia e analgesia regi- plexo ou bloqueio regional periférico. Essas recomendações
onal em pacientes em uso de medicações antitrombóticas, destinam-se ao uso por anestesiologistas e outros médicos
tais como: possíveis complicações decorrentes da técnica; e prestadores de serviços de saúde que realizam bloqueio
fatores de risco associados ao hematoma espinhal, estra- anestésico/analgésico regional neuroaxial e periférico. No
tégias de prevenção, diagnóstico e tratamento; intervalo entanto, podem servir como um recurso para outros pro-
seguro para suspensão e reinício da medicação após o blo- fissionais de saúde envolvidos no manejo de pacientes
queio regional. submetidos a procedimentos semelhantes (p. ex., mielogra-
Os nomes comerciais aqui apresentados são apenas exem- fia e punção lombar).
plos ilustrativos, de forma que os autores não apresentam
conflitos de interesses.

Atualização da diretriz segurança na anestesia Método


regional e uso de anticoagulantes
Foi realizada revisão narrativa para atualização na dire-
Padrões evolutivos para a prevenção do Tromboembolismo triz da anestesia regional em uso de anticoagulantes da
Venoso Perioperatório (TEV) e a introdução de medicações Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA). Consideraram-
antitrombóticas cada vez mais potentes resultaram em -se os artigos publicados entre 1◦ de Janeiro de 2012 e
preocupações com o aumento do risco de sangramento 31 de Agosto de 2019, além dos já qualificados na revi-
neuroaxial. Desde o último documento de consenso da são anterior.1 Foi aplicado protocolo de revisão para a
Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA),1 novos medi- identificação, recuperação e avaliação das evidências bus-
camentos anticoagulantes orais foram aprovados pelas cadas nos bancos de dados da MEDLINE, Cochrane, Library e
instituições reguladoras internacionais, assim como pela LILACS. A busca foi limitada para seres humanos e nas línguas
ANVISA. Além disso, as sociedades e organizações que bus- portuguesa, espanhola, inglesa, francesa ou alemã.
cam abordar essas preocupações por meio de diretrizes Foram selecionados estudos que abordam condutas para
no manejo perioperatório apresentam recomendações con- a realização dos diferentes tipos de anestesia regional em
flitantes. Em resposta a essas questões de segurança do indivíduos em uso de medicamentos que modificam o estado
paciente e à necessidade de uma abordagem mais racio- da coagulação sanguínea, enfocando fatores de risco, eti-
nal à gestão, a SBA convocou a atualização deste consenso. ologia, prevenção, diagnóstico e tratamento. Também se
As informações foram atualizadas para incorporar os dados incluíram relatórios publicados sobre farmacocinética e far-
disponíveis desde o momento da sua publicação. macodinâmica de medicações antitrombóticas, séries de
As declarações de consenso revistas são projetadas para pacientes que receberam esses medicamentos durante o
encorajar a assistência ao paciente de forma segura e de bloqueio neuroaxial e periférico e relatos de casos de san-
qualidade, mas não podem garantir um resultado especí- gramento neuroaxial e perineural (associados à anestesia
fico. Tal como acontece com qualquer recomendação de regional e/ou espontânea).
orientação clínica, estas estão sujeitas a revisão com o As estratégias de pesquisa utilizadas foram as mesmas do
conhecimento de avanços específicos de complicações. artigo original:
366 N.M. Fonseca et al.

1. ‘‘regional anesthesia’’ OR ‘‘anesthesia, conduction’’ forem apresentadas informações adicionais sobre os níveis
OR ‘‘anesthesia’’ AND ‘‘conduction’’ OR ‘‘conduction sanguíneos e efeito anticoagulante, bem como a introdução
anesthesia’’ OR ‘‘regional’’ AND ‘‘anesthesia’’ OR de agentes de reversão.
‘‘regional anesthesia’’ AND ‘‘antithrombotic’’; Finalmente, embora existam várias seções novas repre-
2. ‘‘regional anesthesia’’ OR ‘‘anesthesia, conduc- sentando os medicamentos antiplaquetários e anticoagulan-
tion’’ [MeSH Terms] AND ‘‘infection’’ [MeSH tes recentemente introduzidos, bem como recomendações
Terms] AND ‘‘thromboembolism’’ [MeSH Terms] OR revisadas de agentes previamente incluídos, em alguns
‘‘thromboembolism’’ [All Fields]; casos, o manejo permaneceu inalterado. Para facilitar a
3. ‘‘thromboembolism’’ [MeSH Terms] OR revisão, o status das recomendações atuais é anotado em
‘‘thromboembolism’’ [All Fields] AND ‘‘regional cada seção.
anaesthesia’’ [All Fields] OR ‘‘anesthesia, conduc-
tion’’ [MeSH Terms] OR ‘‘anesthesia’’ [All Fields] AND
‘‘conduction’’ [All Fields]) OR ‘‘conduction anesthesia’’ Incidência, fatores de risco e evolução neurológica
[All Fields] OR ‘‘regional’’ [All Fields] AND ‘‘anesthesia’’ do hematoma espinhal
[All Fields] OR ‘‘regional anesthesia’’ [All Fields].
Hematoma Espinhal/Peridural (HEP), definido como sangra-
Os participantes desta força-tarefa representaram mem- mento sintomático no interior do canal vertebral, é uma
bros da SBA e especialistas em anestesia regional, dor aguda complicação rara e potencialmente catastrófica da aneste-
e dor intervencionista. sia no neuroeixo.2 O HEP ocorre mais espontaneamente do
que como resultado de anestesia do neuroeixo. A maioria
dos hematomas espontâneos é idiopática, mas casos relaci-
Força e grau de recomendações onados a terapia anticoagulante e malformações vasculares
representam a segunda e terceira causas mais comuns, res-
As recomendações adotadas utilizaram o sistema de pectivamente.
classificação com base no nível de evidência e força de Quando associado a anestesia no neuroeixo, o uso con-
recomendação conforme a descrição GRADE (Grading of comitante de anticoagulantes representa o principal fator
Recommendations, Assessment, Development and Evalua- de risco associado ao HEP.3 A hemorragia no canal medular
tion). ocorre mais comumente no espaço peridural, provavelmente
O nível de classificação de evidências GRADE combina devido ao plexo venoso peridural proeminente, embora
uma descrição objetiva dos tipos de estudos/consenso de variáveis anestésicas, como o tamanho da agulha e a
especialistas que apoiam a recomendação. O hematoma colocação do cateter, também possam afetar o local do san-
espinal é uma complicação rara e a impossibilidade de fazer gramento clinicamente significativo.4,5
ensaios clínicos randomizados, assim como meta-análises, A incidência real de disfunção neurológica resultante de
não permite disponibilizar nível mais alto (A) de evidência. complicações hemorrágicas associadas ao bloqueio neural
Numerosas séries observacionais e epidemiológicas (tipica- central é desconhecida. As primeiras revisões de litera-
mente, nível de evidência B) documentaram as condições tura estimaram a ocorrência de 1 caso em 150.000 punções
para desempenho seguro de anestesia no neuroeixo e anal- peridurais e 1 caso em 220.000 punções subaracnóideas.6
gesia no paciente anticoagulado. Entretanto, evidências Entretanto, as séries envolvidas nesses cálculos envolveram
de alta qualidade podem vir de grandes séries observa- pacientes que não estavam recebendo tromboprofilaxia.
cionais/epidemiológicas, resultando em redução de risco Outras séries de casos e levantamentos epidemiológicos rea-
muito grande. Assim, dependendo da redução de risco, as lizados sugerem risco maior.7,8
recomendações dessas fontes podem ser categorizadas como Além disso, como não existe um sistema obrigatório de
nível de evidência A ou B. Frequentemente, recomendações notificação e/ou registro centralizado, é provável que mui-
envolvendo o manuseio anestésico de novos agentes anti- tos HEP não sejam relatados e a frequência seja maior do
trombóticos, para os quais os dados que envolvem segurança que a calculada. Apesar de a incidência do HEP ser pequena,
e/ou risco são esparsos, baseiam-se na farmacologia dos a gravidade clínica de suas consequências, juntamente com
fármacos alteradores da hemostasia, risco de sangramento os custos de litígio subsequente ao evento adverso, torna
cirúrgico e opinião de especialistas (nível C de evidência). crucial o desenvolvimento de estratégias sólidas para o
O grau de recomendação indica a força da diretriz e o manejo de pacientes anticoagulados durante anestesia no
grau de consenso. O Grau 1 representa concordância geral neuroeixo.9
na eficácia, o Grau 2 emite evidências conflitantes ou opi- Com a introdução, na América do Norte, de 30 mg de
nião sobre a utilidade e o Grau 3 sugere que o procedimento enoxaparina administradas duas vezes ao dia para trom-
pode não ser útil (e é possivelmente prejudicial). Esta boprofilaxia, um número alarmante de casos de hematoma
diretriz não contém recomendações de Grau 3. A palavra peridural, alguns com paraplegia permanente, foram repor-
‘‘recomendamos’’ é usada para recomendações fortes tados. A incidência de HEP calculada em duas doses diárias
(notas 1 A, 1 B e 1 C), e ‘‘sugerimos’’ para recomendações de enoxaparina foi de 1:40.800 após anestesia subaracnói-
mais fracas (notas 2 A, 2 B e 2 C). Nos casos em que a dea, 1:6.600 após punção peridural simples e 1:3.100 após
evidência é escassa (como com os novos anticoagulantes punção peridural com inserção de cateter peridural.10 Na
orais), os autores valorizaram muito a segurança do paci- Europa, o uso de dose única de 40 mg de enoxaprina, mostrou
ente e propuseram tempos conservadores (ou seja, mais incidência menor de HEP. Em estudo retrospectivo realizado
longos) para a interrupção da terapia antes do bloqueio na Suécia,7 foi encontrado risco de 1:156.000 após aneste-
neural. Estes provavelmente serão revistos à medida que sia subaracnóidea e 1:18.000 em anestesia peridural, sendo
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 367

Tabela 1 Fatores de risco associados ao HEP anticoagulante devido à redução não detectada da excreção
1. Relacionados com o paciente renal.
a) Idade (idosos); Entre os tipos de bloqueio de neuroeixo, o risco de HEP é
b) Sexo --- Feminino; maior com o uso de cateteres peridurais, seguido de punção
c) Coagulopatias congênitas; peridural simples e menos frequentemente após punção
d) Coagulopatias adquiridas (insuficiência renal/hepática, subaracnóidea única, esta última provavelmente devido ao
doenças malignas, Síndrome HELLP, CIVD); uso de agulhas mais finas para a realização da técnica.16---18
e) Trombocitopenia; Há indícios de que o hematoma peridural seja mais comum
f) Anormalidades espinhais (espinhal bífida/estenose de na punção lombar, quando comparada a punção torácica.19
canal espinhal, osteoporose, espondilite anquilosante. A remoção do cateter peridural é tão crítica quanto sua
2. Relacionados com o procedimento inserção, de forma que a lesão vascular pode ocorrer na
a) Inserção ou remoção do cateter; mesma incidência, ou seja, metade dos casos de HEP ocorre
b) Procedimento traumático (múltiplas tentativas); durante a remoção do cateter peridural.8
c) Presença de sangue no cateter durante inserção ou Atualmente, considera-se impossível determinar, de
remoção; forma conclusiva, os fatores de risco para o desenvolvimento
d) Inserção de cateter peridural > Punção peridural de HEP em pacientes submetidos a bloqueio do neuroeixo
simples > Punção subaracnóidea simples. exclusivamente por meio de revisão da série de casos, que
3. Relacionado a fármacos representam pacientes com complicações e não considera
a) Drogas anticoagulantes, antiplaquetárias ou os submetidos à analgesia pelo neuroeixo que não tive-
fibrinolíticas; ram intercorrências. No entanto, pesquisas que avaliam as
b) Administração da droga imediatamente antes/após a frequências de complicações (incluindo HEP), bem como
técnica neuroaxial; as que identificaram subgrupos de pacientes com maior ou
c) Uso de terapia antiplaquetária/anticoagulante dupla. menor risco, aumentam a estratificação de risco.2
A manifestação clínica do HEP é caracterizada por
regressão lenta ou ausente do bloqueio motor ou sensi-
tivo, dor nas costas, retenção urinária ou o retorno de
déficit motor ou sensitivo após regressão completa prévia
raro o sangramento na população obstétrica (1:200.000) se do bloqueio, separados ou em combinação, sugerindo o
comparado a mulheres submetidas a artroplastia de joelho desenvolvimento do HEP.8
(1:3.600). Estudos subsequentes mostraram incidências tão Caso haja suspeita de HEP, uma estratégia agressiva
altas quanto 1:2.700 a 1:19.505.11 Entretanto, Cook e col. diagnóstica e terapêutica é mandatória. Isso inclui Res-
Apresentaram, no Third National Audit Project of the Royal sonância Nuclear Magnética (RNM) de emergência ou, na
College of Anaesthetists, resultados atualizados nos quais ausência desta, Tomografia Computadorizada (TC). O HEP é
apenas oito casos de HEP foram observados em 707.405 uma emergência neurocirúrgica, e protocolos devem estar
bloqueios do neuroeixo, sendo que destes, somente cinco estabelecidos para evitar qualquer atraso no diagnóstico.
preenchiam os critérios de inclusão, com incidência calcu- Confirmado o diagnóstico, laminectomia de descompressão
lada de 1:88.000 a 1:140.000.12 deve ser realizada em até 6---12 horas após o aparecimento
Em virtude da raridade do evento, as recomendações dos primeiros sintomas, possibilitando melhores chances da
de anestesia regional e uso concomitante de trombopro- recuperação neurológica completa.8,20
filaxia ou terapia antitrombótica têm como base relatos Dessa forma, os pacientes devem ser cuidadosamente
de casos e recomendações de especialistas.13---15 Devido à avaliados investigando possíveis sinais que indiquem HEP
gravidade da ocorrência de HEP, estudos prospectivos ran- tanto após bloqueio do neuroeixo como da remoção de cate-
domizados são eticamente proibitivos. Vandermeulen e cols. ter peridural. Recomenda-se a monitorização em intervalos
mostraram uma estreita relação de casos de hematomas regulares até o bloqueio sensitivo regredir ao menos dois
espinhais associados ao bloqueio subaracnóideo ou peridural dermátomos ou até o retorno completo da função motora,
em pacientes com evidência de anormalidade hemostática, observada por ao menos 24 horas após retirada do cateter
como coagulopatia ou trombocitopenia, ou tratados com peridural.8,16,20
medicamentos antiagregantes plaquetários (aspirina, indo- Diretrizes têm sido publicadas pelas sociedades de
metacina, ticlopidina), anticoagulantes orais (fondaparinux) anestesia com o objetivo de aumentar a segurança
ou trombolíticos (uroquinase).8 na realização do bloqueio do neuroeixo em pacientes
Os fatores de risco para o HEP foram descritos por vários anticoagulados.1,2,13,21---24 Essas recomendações incluem: (I)
autores1,2,7,8,13,14 e são apresentados na tabela 1. O uso de tempo de intervalo a ser respeitado entre a última dose do
anticoagulantes e anestesia no neuroeixo é o fator de maior anticoagulante e a inserção neuroaxial de agulha/cateter
risco para o desenvolvimento de HEP.3 A incidência do HEP ou a remoção do cateter; (II) intervalo a ser respeitado
varia de acordo com tipo de cirurgia, idade e gênero dos entre inserção neuroaxial da agulha/cateter ou a remoção
pacientes. Por exemplo, a incidência em pacientes gestan- do cateter e a próxima dose do anticoagulante; e (III)
tes submetidas à anestesia de neuroeixo é estimada em valores mínimos de tempo de coagulação necessários para a
1:200.000, enquanto em artroplastia de joelho de mulheres realização da técnica neuroaxial (se disponível para a droga
na faixa geriátrica, é estimada em 1:3.600.7 Provavelmente, em uso).
pode ser justificado pela maior incidência, nesta idade, de Em virtude do desenvolvimento constante de medicações
anormalidades espinhais associadas a osteoporose, uso de anticoagulantes pela indústria farmacêutica e sua crescente
terapia dupla antiplaquetária/anticoagulante e acúmulo de utilização na prática clínica, faltam experimentos clínicos
368 N.M. Fonseca et al.

conducentes, o que torna difícil fazer qualquer afirmação além de mudar sua conformação de esferoide para discoide,
quanto ao uso da anestesia no neuroeixo em pacientes altera a conformação glicoproteínas IIb/IIIa e aumenta o
usando novos anticoagulantes. número dessas GP na membrana plaquetária. A GP IIb/IIIa
Rosencher e col. propuseram que, no manejo dos paci- intermedeia a ligação a outras plaquetas por meio de molé-
entes em uso dos novos anticoagulantes, quando houver culas de fibrinogênio e FvW em um processo chamado de
necessidade da inserção da agulha/cateter no neuroeixo e a agregação plaquetária. O processo de sinalização celular
retirada subsequente do cateter, elas devem ser feitas com pode ser interrompido pelo aumento de AMPc intracelular
tempo superior a duas meias-vidas de eliminação da droga gerado pela Prostaciclina (PGI-2) ou pela Inibição da Enzima
após a última dose utilizada. Esse dado tem como base o Fosfodiesterase (PDE), que degrada o AMPc27 (fig. 1).
fato de 30% a 40% da função dos fatores de coagulação Os fármacos antiplaquetários, assim, são representados
serem necessários para a hemostasia, de forma que após por Anti-Inflamatórios Não-Esteroides (AINEs), tienopiridí-
duas meias-vidas a concentração do fármaco na corrente nicos ou inibidores indiretos da ADP (P2Y12) (ticlodipina,
sanguínea esteja próxima de 25% da inicial.25 Essa conduta clopidogrel, prasugrel), inibidores diretos ADP (P2Y12)
foi posteriormente modificada ao se observar que o inter- (ticagrelor, cangrelor), inibidores da fosfodiesterase (PDE)
valo de duas meias-vidas da descontinuação assegura que (dipiridamol, cilostazol) e inibidores da glicoproteína IIb/IIIa
cerca de 75% da medicação seja eliminada, porém, o efeito (abciximab, eptifibatide e tirofiban).
residual da droga ainda poderia ser catastrófico em algumas
situações, especialmente pacientes idosos com estenose do
Anestesia do neuroeixo e o uso de agentes
canal espinhal. A partir deste estudo, recomenda-se que o
intervalo seja de cinco meias-vidas.26 antiplaquetários

Ácido acetilsalicílico (AAS) e AINEs


Anestesia no neuroeixo e o uso de agentes
antiplaquetários Os AINEs inibem a produção de prostaglandina H2 neces-
sária para a síntese do tromboxano A2 (TXA2 ), um potente
O processo fisiológico da coagulação é complexo e comparti- ativador plaquetário, por meio da inibição da enzima Ciclo-
lhado com diversos componentes teciduais e plasmáticos. É -Oxigenase (COX). Essa enzima existe em duas formas, sendo
fundamental conhecer o sistema de formação do coágulo de que a Ciclo-Oxigenase tipo 1 (COX-1) é responsável pela
fibrina no sítio de lesão endotelial e os mecanismos envolvi- regulação de mecanismos constitutivos, enquanto a Ciclo-
dos nesse processo para entender o mecanismo de ação dos -Oxigenase tipo 2 (COX-2) é induzível e faz parte do processo
agentes antiplaquetários. inflamatório.2 Existem várias classes de AINES, como os sali-
Os componentes do sistema hemostático incluem as pla- cilatos (ácido acetilsalicílico), os derivados do ácido acético
quetas, os vasos, as proteínas da coagulação do sangue, os (diclofenaco, cetorolaco), os derivados do ácido enólico
anticoagulantes naturais e o sistema de fibrinólise. O equilí- (piroxicam, tenoxicam), ácido propiônico (cetoprofeno, ibu-
brio funcional da hemostasia é garantido por uma variedade profeno) e os inibidores seletivos da COX-2 (parecoxibe,
de mecanismos, que envolvem interações entre proteínas, celecoxibe).
respostas celulares complexas e regulação de fluxo sanguí- O AAS inibe de forma irreversível a COX-1, bloqueando a
neo. produção de TXA2 por toda a vida média da plaqueta (7 a
O entendimento da hemostasia permite um melhor 10 dias); dessa forma, inibe todo o processo de ativação e
entendimento da ação dos anticoagulantes utilizados. A agregação plaquetária.1,15 Os outros AINEs também inibem a
hemostasia consiste na inter-relação de processos bioquí- COX-1, mas de forma reversível e proporcional à meia-vida
micos, físicos e celulares quando o endotélio vascular é do agente usado.1 Na maioria dos AINEs, esse processo se
lesionado, com exposição da matriz subendotelial subja- normaliza entre 12 a 24 horas após sua suspensão.28 Já os
cente rica em colágeno. As plaquetas se aderem ao colágeno inibidores seletivos da COX-2 são drogas anti-inflamatórias
via Glicoproteínas (GP) Ia/IIa e GP-VI presentes em sua mem- que não causam disfunção plaquetária, uma vez que a COX-2
brana. A adesão também é feita em situações de alto fluxo, não é expressa nas plaquetas.29
como no leito arterial, via fator de Von Willebrand (FvW), Um estudo de Vandemeulen et al. identificou somente
que se adere à plaqueta via GP-Ib e a fixa ao colágeno. A um caso de HEP associado ao uso isolado de AAS como
adesão da plaqueta por meio dessas glicoproteínas de mem- fator de risco.8 Entretanto, nesse caso, além da alta dose
brana leva a uma sinalização intracelular via fosfolipase C, de AAS (650 mg 12/12 horas iniciado 4 horas após a cirur-
com subsequente aumento do cálcio intracelular e início da gia), houve múltiplas tentativas da técnica peridural, com
ativação plaquetária.27 perfuração acidental da dura-máter e colocação de cate-
Uma vez ativada, a plaqueta libera grânulos densos (ADP, ter subaracnóideo.30 Contrariamente a esse relato isolado,
serotonina e cálcio) e grânulos alfa (fibrinogênio, fator V). em estudo prospectivo multicêntrico com 4603 pacientes
O aumento do cálcio intracelular também ativa a enzima submetidos a tratamento cirúrgico para fratura de quadril
fosfolipase A-2 (PLA-2), que degrada os fosfolipídios de recebendo 160 mg.dia---1 de AAS ou placebo não foi observado
membrana em Ácido Araquidônico (AA); este é transformado nenhum caso de HEP após anestesia no neuroeixo.31
em Tromboxano-A2 (TxA2 ) pela enzima Ciclooxigenase tipo-1 Dois grandes estudos prospectivos realizados na
(COX-1). O TxA2 formado, o ADP e a serotonina liberados dos população obstétrica mostraram segurança da aneste-
grânulos densos, a adrenalina e vasopressina circulantes e a sia no neuroeixo com uso de baixas doses de AAS. Um
trombina gerada ativam, via receptores ligados à proteína estudo avaliou o efeito do AAS na prevenção da pré-
G, quantidades maiores de plaquetas. A plaqueta ativada, -eclâmpsia, no qual 9634 gestantes foram randomizadas
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 369

ADP TxA2

P2Y1/12
G4/1 G4
TPα
Serotonina
5-HT2A 1 Ca2+

Thrombina GPIIb/IIIa
Fibrinogênio
PAR-1 Adrenalina
G2 PAR-4 GPIb PAF
G4
α2AR
Ca2+ G2
GPIb-V-IX GPIIb/IIIa Ca2+
GPIa
GPIc/IIb GPVI
FvW
Fibronectina

Colágeno IV Colágeno III Colágeno

Figura 1 Mecanismos envolvidos na ativação e na adesão plaquetária à camada subendotelial. Fator de Von Willebrand (FvW),
colágeno e proteínas se ligam aos receptores de glicoproteínas (GP) de membrana, que garante estabilidade com a matriz subendo-
telial pela interação com o colágeno. A ativação e agregação plaquetária são desencadeadas por trombina, mediadores endógenos
liberados de grânulos de armazenamento, fator de ativação de plaquetas (PAF) e tromboxano A2 (TxA2 ). Aar, Receptor ␣2 Adrenér-
gico; ADP, Difosfato de Adenosina; 5-HT2A, Serotonina (5-Hidroxitriptamina)-2A; PAR-1, Receptor Ativado por Protease do tipo 1;
PAR-4, Receptor Ativado por Protease do tipo 4; P2Y12, Receptor p2y Purinérgicos; TP␣, Receptor ␣ Tromboxano.
Fonte: Adaptado de Anfossi e cols. Nascimento JCR, Reis NMGT. Coagulação do sangue e coagulopatias. Em: James Manica. Aneste-
siologia, 4 a ed. Porto Alegre (RGS): Artmed Editora, 2018;547.

para receber 60 mg de AAS ou placebo. Das 1422 pacientes 2. No uso isolado dos outros AINEs, parece não haver risco
do grupo do AAS e que receberam anestesia peridural, não adicional de HEP em pacientes submetidos à anestesia
houve relato de HEP.32 No outro estudo, foram avaliadas subaracnóidea ou peridural.11 Nos pacientes em uso des-
3531 gestantes; 451 pacientes receberam AAS e foram ses fármacos não há preocupação específica quanto ao
submetidas a anestesia peridural, e também não houve intervalo entre punção espinhal/peridural ou inserção
caso de HEP.33 Os resultados corroboram com as evidências de cateter e a última dose administrada do fármaco. Da
de que o uso do AAS na população obstétrica e ortopédica mesma forma, não há necessidade de aguardar intervalo
é seguro.31-33 de suspensão do fármaco para a retirada do cateter ou
Em relação ao uso dos outros AINEs, dos 1035 pacientes para a administração pós-operatória do fármaco após a
submetidos à injeção peridural de corticosteroides para tra- retirada do cateter (1 B).34
tamento de dor crônica, 249 receberam injeção peridural na 3. Em pacientes que recebem AAS ou outros AINES, suge-
vigência de tratamento com esses fármacos e não foi obser- rimos cautela na realização de técnicas de bloqueio no
vado HEP,34 sugerindo segurança da anestesia no neuroeixo neuroeixo, caso haja uso simultâneo de outros medica-
em pacientes recebendo AINEs. mentos que afetam os mecanismos de coagulação --- como
Dessa forma, o uso isolado do AAS e outros AINEs não anticoagulantes orais, HNF e HBPM --- devido ao aumento
aumenta de forma significativa o risco de HEP. Entretanto, a do risco de complicações hemorrágicas (2 C).1,2
combinação desses fármacos com outros que interferem na 4. Devido à ausência de efeito na função plaquetária
coagulação normal, como heparina não fracionada, heparina com inibidores seletivos da COX-2 e risco menor de
de baixo peso molecular, anticoagulantes orais e outros anti- sangramento perioperatório, esses medicamentos não
plaquetários, demonstram aumento do risco de HEP.8,35,36 precisam ser interrompidos (1 B).29,37 Além disso, por
terem mínimo efeito na função plaquetária, os inibido-
Recomendações
res de COX-2 devem ser preferidos em pacientes que
necessitam de terapia anti-inflamatória na presença de
1. O uso isolado do AAS parece não representar risco adi- anticoagulação (2 C).1,2
cional para o desenvolvimento de HEP em pacientes 5. O uso de analgésicos, como dipirona e paracetamol,
submetidos a anestesia peridural ou subaracnóidea. Nos parece não contraindicar a anestesia no neuroeixo, pois
pacientes em uso desse fármaco, não há preocupação não há, até o momento, casos de HEP relacionado ao uso
específica quanto ao intervalo entre punção espi- dessas medicações (2 C).1,13
nhal/peridural ou inserção de cateter e a última dose
administrada do fármaco. Da mesma forma, não há
necessidade de aguardar intervalo de suspensão do fár- Tienopiridínicos
maco para a retirada do cateter ou para a administração
pós-operatória do fármaco após retirada do cateter Ticlopidina (Ticlid® ), Clopidogrel (Plavix® ) e Prasugrel
(1 B).2,31-33 (Efient® ) são inibidores plaquetários pertencentes à classe
370 N.M. Fonseca et al.

dos tienopiridínicos. São pró-drogas clivadas in vivo no 3. Não há estudo disponível que avalie a combinação do pra-
fígado pelo CYP450 em metabólitos ativos que antagonizam sugrel com a anestesia do neuroeixo. Entretanto, parece
o receptor plaquetário de adenosina dinucleotídeo fosfato razoável, por estudos farmacológicos, que o tratamento
(ADP --- receptor P2Y12) e interferem na ativação e na com prasugrel seja interrompido pelo menos 7 dias43
agregação plaquetárias; esse efeito não pode ser antago- antes do bloqueio do neuroeixo ou da retirada de cateter
nizado e é irreversível.1,2 peridural (1 C).1,2,15
A ticlopidina tem sido cada vez menos usada devido ao 4. Segundo recomendações do American College of Chest
seu efeito antiplaquetário lento e duradouro (a função pla- Physicians, a terapia farmacológica com os tienopiri-
quetária se normaliza após 10---14 dias de suspensão). Além dínicos deve ser reiniciada após 24 horas de período
disso, pode gerar hipercolesterolemia, trombocitopenia, pós-operatório (2 C).44
anemia aplásica e púrpura trombocitopênica trombótica.15
O Clopidogrel também é uma pró-droga que passa por
biotransformação hepática em duas etapas e é a mais comu- Inibidores diretos do receptor de ADP
mente utilizada.38 Entretanto, tem algumas limitações, que
incluem falha de resposta em 4%---30% dos usuários, sus- Os inibidores diretos do receptor de ADP são fármacos
ceptibilidade a interações com vários fármacos, uma vez não-tienopiridínicos que antagonizam de forma não compe-
que sua ação depende da conversão hepática pelo CYP 3A4 titiva e reversível o receptor P2Y12, não necessitando de
(isoforma que participa de 40%---80% da metabolização de biotransformação hepática. O ticagrelor é a mais impor-
todos os fármacos no organismo), e alterações enzimáticas tante e vem se tornando a droga de escolha dessa classe
por polimorfismos genéticos. Seu pico de ação é lento, em de medicações devido ao seu maior perfil de segurança. O
torno de 24 horas, entretanto, após uma dose de ataque de cangrelor é um fármaco aprovado recentemente pelas agên-
300---600 mg, esse pico de ação cai para 4---6 horas. O efeito cias reguladoras, destinado ao uso intravenoso e com início
máximo de inibição plaquetária atingido pelo Clopidogrel é e término rápidos de ação.
de 50%---60%, que desaparece após 7 dias de suspensão.15 O ticagrelor é antagonista não competitivo direto e rever-
O Prasugrel causa inibição irreversível do receptor P2Y12. sível do receptor P2Y12, não necessitando metabolização
Entretanto, diferentemente do Clopidogrel, requer somente hepática para sua ativação. Apresenta início de ação rápido,
uma etapa para ser bitransformado em seu composto com pico de inibição plaquetária após 2 a 4 horas de
ativo.38 Apresenta efeito de 90% de inibição da função pla- sua administração. Apresenta efeito de 90% de inibição
quetária, comparado com 60% do Clopidogrel, e rápido início da atividade plaquetária.45 Após sua suspensão, a função
de ação (pico de efeito em 30 minutos). A função plaque- plaquetária recupera-se em 5 dias.46 Ao contrário das pró-
tária retorna ao normal após 7 a 10 dias.15 Apresenta maior -drogas, seu efeito não depende de polimorfismos genéticos
risco de sangramento e ocasionalmente é fatal. enzimáticos, o que o torna menos propenso a variabilidade
Um estudo avaliou 306 pacientes em uso de clopidogrel individual e com melhor perfil de segurança comparado aos
submetidos a procedimentos de cirurgia vascular, nos quais tienopiridínicos. Essas duas considerações, incluindo sua efi-
foi realizada a anestesia peridural com cateter mantida por 3 cácia, tem tornado essa medicação a preferida entre os
dias, não ocorrendo qualquer caso de HEP.39 Entretanto, três antagonistas dos receptores de ADP em pacientes com sín-
casos na literatura descrevem HEP após técnicas neuroaxiais drome coronariana aguda.
em pacientes usando ticlopidina ou clopidogrel.35,40,41 Não O cangrelor é o primeiro inibidor direto intravenoso
há casos com o prasugrel. Faltam estudos prospectivos que do receptor de ADP (P2Y12), além de ser não competi-
avaliem a segurança da realização de bloqueios do neuroeixo tivo e reversível. É administrado em dose inicial em bolus
na presença de tratamento com fármacos tienopiridínicos. seguido por infusão contínua, tendo início de ação de
A recomendação da indústria produtora de tienopiridíni- 2 minutos e meia-vida plasmática de 3,6 minutos. Apre-
cos é pela interrupção do uso da ticlopidina 10 dias antes senta efeito de inibição da agregação plaquetária de 95%
do procedimento cirúrgico, 5 dias para o clopidogrel e 7 a 100%.47 Após sua suspensão, o retorno da atividade pla-
dias para o prasugrel. Estudos com testes de função pla- quetária é rápido, ocorrendo dentro de 90 minutos em 90%
quetária mostraram segurança para realizar bloqueios no dos pacientes.48 Essas características farmacodinâmicas tor-
neuroeixo após 5 dias de interrupção do uso de clopidogrel, nam esse fármaco atrativo em cenários que necessitam de
uma vez que acima de 70% de função plaquetária estará antiagregação plaquetária imediata, para pacientes incapa-
restabelecida.42 Já com o prasugrel, estudos mostram que zes de ingerir comprimidos via oral e como terapia ponte
a função plaquetária se normaliza somente após 7 dias de para procedimentos cirúrgicos quando a suspensão do trata-
suspensão do fármaco.43 mento antiplaquetário oral pode gerar risco aumentado de
trombose.38
Recomendações
Até o momento não há estudos prospectivos envolvendo
anestesia no neuroeixo e o uso dessa classe de fármacos.
1. Deve-se fazer o bloqueio do neuroeixo ou a retirada do Além disso, não há casos na literatura que envolvam hema-
cateter após 10 dias de suspensão da ticlopidina (1 C).2 toma espinal e o uso desses fármacos. De acordo com o
2. O bloqueio do neuroeixo ou a retirada de cateter peridu- fabricante do ticagrelor, quando possível, o mesmo deve
ral em pacientes em uso de clopidogrel poderá ser feito ser suspenso ao menos 5 dias antes de qualquer proce-
após 5 a 7 dias de suspensão da medicação (1 C).2,42 Ape- dimento cirúrgico, o que corrobora com os achados de
sar de estudo mostrando segurança para procedimentos Gurbel et al., que mostraram recuperação completa da
no neuroeixo em uso desse fármaco,39 não recomenda- função plaquetária após 5 dias de suspensão do fármaco.46
mos esta prática. Apesar da curta meia-vida plasmática de 3---6 minutos do
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 371

cangrelor,48 a recomendação é que ele seja suspenso 3 horas retirada de cateter. Ou seja, descontinuação de 8 horas
antes dos procedimentos cirúrgicos, com base em um ensaio para Tirofiban/Eptifibatide e 48 horas para o Abciximab,
clínico randomizado que mostrou complicações hemorrági- e excluída qualquer trombocitopenia por contagem pla-
cas semelhantes ao placebo com mediana de 3 horas de quetária recente (2 C).2,15
suspensão.49 2. Os inibidores da GP IIb/IIIa são usados na síndrome coro-
nariana aguda, em combinação com anticoagulantes e
Recomendações AAS. Nesse cenário, nos procedimentos de emergên-
cia que geralmente envolvem cirurgia cardíaca com
1. Não há estudo disponível que avalie a combinação anticoagulação continuada, qualquer bloqueio neuroa-
do ticagrelor com a anestesia do neuroeixo, entre- xial é contraindicado (2 C).1
tanto, parece razoável, de acordo com estudos 3. Os inibidores da GP IIb/IIIa têm rápido início de ação, por-
farmacológicos,24 que o tratamento com ticagrelor seja tanto, caso seja necessário administrar esses fármacos no
interrompido ao menos 5 dias antes do bloqueio do neu- pós-operatório, deve-se aguardar o intervalo necessário
roeixo ou da retirada de cateter peridural (1 C).1,2,15 para formação de coágulo estável; assim, um intervalo
2. De acordo com recomendações do American College of de 8---12 horas é provavelmente adequado (2 C).15 Entre-
Chest Physicians, a terapia farmacológica com o tica- tanto, esses fármacos são contraindicados dentro de 4---6
grelor deve ser reinstituída após 24 horas de período semanas após procedimentos cirúrgicos (1 C).2
pós-operatório (2 C).44
3. Não é recomendada a manutenção de cateter peridural
na vigência de tratamento com ticagrelor devido ao seu Inibidores da fosfodiesterase (PDE)
rápido início de ação (2 C).2
4. Em relação ao cangrelor, apesar de sua curta meia-vida, Inibidores da fosfodiesterase também são utilizados como
a recomendação é que seja suspenso pelo menos 3 horas fármacos antiplaquetários. As plaquetas expressam três
antes da punção de neuroeixo (2 C).2,15,49 isoformas dessa enzima: PDE-2, PDE-3 e PDE-5. Os fár-
5. Com base no tempo para a formação do coágulo está- macos representantes dessa classe incluem o dipiridamol
vel de 8 horas e o imediato início de ação do cangrelor, (Persantin® ) e o cilostazol (Vasogard® , Pletal® , Cebralat® ).
deve-se aguardar no mínimo 8 horas após a punção de Os inibidores da PDE levam a aumento do AMP-c e GMP-c
neuroeixo para iniciar a medicação (2 C).2 intracelular o que prejudica a formação de segundos mensa-
geiros no interior das plaquetas fundamentais na atividade
Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa plaquetária. Os inibidores da PDE-3 (Cilostazol) levam ao
aumento do AMP-c, enquanto os inibidores da PDE-5 levam
Os inibidores da glicoproteína IIb/IIIa incluem abciximab, o aumento do GMP-c.15 Esses fármacos também são respon-
eptifibatide e tirofiban. São, atualmente, os fármacos sáveis por dilatação arterial pelo mesmo mecanismo.
disponíveis mais efetivos para a inibição da agregação O dipiridamol age bloqueando tanto a PDE-3 quanto a
plaquetária, e normalmente utilizados no cenário das PDE-5, e normalmente é utilizado em associação com o AAS
intervenções coronarianas percutâneas.1 Bloqueiam a glico- para prevenção primária ou secundária de doença vascu-
proteína IIb/IIIa plaquetária, local de ligação do fibrinogênio lar cerebral. Possui meia-vida de eliminação de 10 horas.3
entre as plaquetas e, portanto, a via final comum da Já o cilostazol inibe somente a PDE-3 e é indicado para o
agregação plaquetária. Disponíveis exclusivamente para uso uso em doença arterial periférica e claudicação intermi-
intravenoso. tente naqueles que não respondem a terapia com exercícios,
O Abciximab (Reopro® ) inibe de forma não competitiva e com baixa possibilidade de intervenção cirúrgica.1 O pico de
irreversível a GP IIb/IIIa. Apresenta um rápido início de ação, concentração plasmática do cilostazol após administração
com inibição completa da agregação plaquetária em 2 horas. oral é de 2 horas, sua meia-vida de eliminação é de aproxi-
Apresenta meia-vida curta (10---30 minutos) e a recuperação madamente 10 horas e, após 50 horas (aproximadamente
da função plaquetária é lenta, ocorrendo 24---48 horas após 5 meias-vidas), menos de 5% do fármaco é encontrado
sua suspensão. O Eptifabatide (Integrilin ® ) e o Tirofiban no plasma, sendo observada recuperação da agregação
(Aggrastat® ) possuem rápido início de ação e recuperação plaquetária.15,51
da função plaquetária em um tempo mais curto, sendo de 4 Há somente um caso descrito de HEP em paciente utili-
horas para o Epifabatide e 4---8 horas para o Tirofiban.15,50 zando Cilostazol; este era idoso e, além do uso de cilostazol,
Os efeitos colaterais mais comuns são trombocitopenia e possuía contagem plaquetária inferior a 100.000 mm3 e foi
sangramento.50 submetido a múltiplas punções peridurais com implante de
Não há, até o momento, estudos avaliando a segurança cateter e a punção subaracnoidea.52 Não há casos de HEP
da anestesia regional em pacientes usando essa classe de após anestesia regional em pacientes usuários de dipirida-
medicações; assim, os intervalos para suspensão dessas mol, entretanto, a combinação deste fármaco com o AAS
medicações devem obedecer às características farmacoci- aumenta o risco de sangramento.53
néticas. Recomendações
Recomendações
1. Parece razoável, de acordo com dados de estudos far-
1. De acordo com as propriedades farmacológicas, deve-se macológicos, que o tratamento com cilostazol deva ser
aguardar a completa recuperação da agregação plaque- interrompido 2 dias antes do bloqueio do neuroeixo ou
tária para a realização de anestesia em neuroeixo ou da retirada de cateter peridural (2 C).2,15,51,53
372 N.M. Fonseca et al.

2. Devido ao seu pico plasmático precoce (2 horas), sangramento do procedimento cirúrgico ser baixo, o TDAP
recomenda-se que a primeira dose pós-operatória do pode ser mantida.55,58 Já nos casos de moderado a alto risco
cilostazol seja feita 6 horas após a punção do neuroeixo de sangramento, em pacientes com alto risco trombótico,
ou retirada do cateter peridural (2 C).2 o AAS deve ser mantido, os inibidores do receptor de
3. Em virtude do risco aumentado de sangramento em ADP devem ser suspensos pelo período necessário de cada
pacientes utilizando combinação de AAS e dipiridamol, fármaco e é necessário considerar a terapia ponte com
recomenda-se a suspensão prévia do dipiridamol por 48 inibidores de GP IIb/IIIa.32,33,36 Em casos de emergência
horas (aproximadamente 5 meias-vidas), quando combi- em pacientes com alto risco de trombose, a cirurgia deve
nado com o AAS. O uso isolado do dipiridamol não parece proceder na presença da TDAP, e concentrados de plaquetas
aumentar o risco de HEP (2 C).15 devem ser administrados na presença de sangramento que
ponha o paciente em risco de morte.45
Nos pacientes de risco moderado para trombose, o ideal
Conduta no período perioperatório em
é que se postergue a cirurgia até que esse se torne de baixo
paciente com terapia dupla de antiagregação risco. Nos casos em que não se pode aguardar esse período,
plaquetária (TDAP) a recomendação é que se continue o AAS e sejam suspensos
os fármacos inibidores do ADP pelo período necessário de
A TDAP, prescrita após intervenções coronarianas percutâ- cada um, reiniciando os mesmo após 24---72 horas com dose
neas, é essencial durante o período de re-endotelização de ataque.55-58
devido à lesão endotelial pelo balonamento ou revesti- Nos casos de baixo risco de trombose e em uso de TDAP (p.
mento do stent, diminuindo o risco de eventos isquêmicos ex., paciente submetido a colocação de stent farmacológico
e aterotrombóticos futuros. Consiste na associação de anti- há menos de 12 meses) e submetidos a cirurgias de baixo a
plaquetários, normalmente o AAS, e um inibidor do receptor moderado risco de sangramento, o AAS pode ser mantido,
de ADP (P2Y12). enquanto o inibidor de ADP deve ser suspenso. Nessa mesma
O uso da TDAP no período perioperatório em cirurgias população de baixo risco, quando submetidos a cirurgia com
não cardíacas levanta preocupações clínicas importantes. alto risco de sangramento, devem ter suspensos o AAS e o
De um lado, a suspensão desses fármacos antiplaquetários inibidor do receptor de ADP.45,55,58
está associada a maior risco de infarto do miocárdio, trom- A suspensão da aspirina em pacientes com stents no
bose de stent e morte, atribuídos pelo aumento da adesão período perioperatório está associada a aumento significa-
plaquetária causada pelo estresse inflamatório do proce- tivo de eventos cardíacos adversos maiores.37 Em estudo
dimento cirúrgico.54 Por outro lado, a continuação desses descritivo destacando os resultados catastróficos de paci-
fármacos está associada ao aumento no risco de sangra- entes submetidos a cirurgia não cardíaca após implante de
mento e transfusão de hemocomponentes.54 stent e interrupção da aspirina, o tempo entre o implante de
Dessa forma, devem ser balanceados, no período pré- stent e a cirurgia também foi um dos principais determinan-
-operatório, o risco de eventos tromboembólicos e o risco tes do desfecho.59 As evidências do estudo POISE-2 (Aspirin
de sangramento do procedimento cirúrgico. O retorno pós- in Patients Undergoing Noncardiac Surgery) demonstrando
-operatório da terapia antiplaquetária depende do perfil de a falta de benefício do uso de aspirina antes da cirur-
risco cardiovascular de cada paciente, dos riscos de sangra- gia e durante o período pós-operatório precoce são menos
mento associados ao procedimento cirúrgico específico e da relevantes para essa discussão no cenário da TDAP, tendo
farmacocinética de cada fármaco. O objetivo deve ser res- em vista que do total de pacientes do estudo, menos de
tabelecer o regime antiplaquetário o mais cedo possível.54 5% tinham história de intervenção coronariana percutânea
O risco trombótico do paciente submetido a proce- prévia.60
dimento coronariano por via percutânea foi classificado
recentemente por Rossini et al.55 de acordo com o tempo
e tipo de intervenção (tabela 2). No mesmo consenso, os
autores classificam os procedimentos de acordo com o risco Anestesia do neuroeixo e o uso de agentes
de sangramento como baixo, intermediário e moderado risco anticoagulantes
(tabela 3).
A tomada de decisão sobre o uso de fármacos da TDAP A etapa final do processo de coagulação culmina com a
deve ser feita em conjunto com o cardiologista assistente do produção de fibrina após as fases de iniciação, amplificação
paciente. Nos pacientes com alto risco de trombose escala- e propagação, de acordo com o novo modelo celular da
dos para cirurgias eletivas, o procedimento deve ser adiado coagulação. Sendo assim, existe o constante equilíbrio entre
por um tempo acima de: 2 semanas após angioplastia percu- fenômenos antitrombóticos e pró-trombóticos. Dependendo
tânea com balão; 30 dias após implante de stent metálico; da intensidade da intervenção ocorrida, seja lesão vascular,
de 3---6 meses após implante de stent farmacológico (novos trauma extenso ou uso de agentes anticoagulantes, pode
stents revestidos de zotarolimus ou everolimus), sendo con- haver predominância de um processo sobre o outro. Os
siderado aceitável um período de 3 meses, apesar de 6 agentes anticoagulantes são drogas de ação indireta (anta-
meses ser considerado o ideal; e 12 meses após implante de gonistas da vitamina K) ou drogas de ação direta.
stent farmacológico (stents de primeira geração revestidos Dentro desse escopo, vêm surgindo novos fármacos
de sirolimus ou paclitaxel.45,47 orais que interferem no processo de coagulação atuando
Nos casos de urgência, em pacientes de alto risco de maneira mais segura e previsível se comparados, por
de eventos trombóticos que não podem ser adiados exemplo com a clássica warfarina. A presente seção tem o
pelo período recomendado acima, no caso de o risco de objetivo de abordar os aspectos consolidados e atualizados
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 373

Tabela 2 Risco trombótico em relação ao tempo e tipo de intervenção55

Baixo risco (< 1%)a Risco intermediário (1%---5%)a Alto risco (> 5%)a
≤ 2 semanas após angioplastia por balão
> 4 semanas após angioplastia > 2 semanas e ≤ 4 semanas após angioplastia por
por balão balão
≤ 1 mês após implante de stent metálico
> 6 meses após implante de > 1 mês e ≤ 6 meses após implante de stent
stent metálico metálico
≤ 6 meses após implante de stent
> 12 meses após implante de > 6 meses e ≤ 12 meses após stent farmacológico farmacológico
stent farmacológico
≤ 12 meses após intervenção complexa
> 6 meses após SCA ou RM > 12 meses após intervenção complexa com stent stent farmacológico
farmacológico (stents longos, múltiplos,
bifurcações, stent sobreposto, TCE etc.)
< 1 mês após SCA ou RM

SCA, Síndrome Coronariana Aguda; RM, Revascularização do Miocárdio; TCE, Tronco de Coronária Esquerda.
a Taxa de eventos isquêmicos em 30 dias.56

Tabela 3 Classificação dos procedimentos cirúrgicos quanto ao potencial de sangramento

Baixo Médio Alto


Hernioplastia, hérnia incisional, Hemorroidectomia, esplenectomia, Neurocirurgia, câmara posterior do olho,
colecistectomia, cirurgia de mama, gastrectomia, gastroplastia, prótese cardíaca complexa, aneurisma de aorta
cirurgias de mão, artroscopia, cistoscopia, de joelho e ombro, biópsia de toracoabdominal,
ureteroscopia, extração dentária, biópsia próstata, retossigmoidectomia, duodenopancreatectomia, hepatectomia,
de próstata, endoscopia digestiva, otorrinolaringologia, orquiectomia. prostatectomia radical, nefrectomia,
colonoscopia. ressecção transuretral de próstata, revisão
de prótese de quadril.

Adaptado de Rossini et al.55

das clássicas terapias instituídas, bem como o fluxograma molecular inibirão apenas o fator Xa. Além disso, o tempo
de recomendações desses novos fármacos (tabela 4). ótimo de ação anticoagulante da heparina depende da sua
administração, sendo que na administração subcutânea do
fármaco o efeito anticoagulante só é observado após cerca
Heparina
de 40---60 minutos, sendo eliminado dentro de 4---6 horas.61,62
A administração intravenosa de HNF resulta em
Heparina não fracionada (HNF) anticoagulação imediata, enquanto a administração sub-
cutânea, em início de ação de 1 a 2 horas. O efeito
O principal efeito anticoagulante da heparina não fracio- anticoagulante é dependente do peso molecular e da dose
nada é devido ao pentassacarídeo presente em um terço das administrada de forma não linear, aumentando desproporci-
moléculas de heparina, que liga à Antitrombina III (ATIII).2 onalmente com a elevação da dose.2 A meia-vida biológica
Após essa ligação, a HNF catalisa a inativação dos fatores da heparina aumenta com a dose administrada,62 sendo de
IIa (trombina), Xa e IXa e, em menor extensão, os fatores 30 minutos com 25 UI.kg---1 IV, de 60 minutos com 100 UI.kg---1
XIa e XIIa.9 Na ausência da heparina, a antitrombina III tem e de 150 minutos com 400 UI.kg---1 .
baixa afinidade pela trombina; entretanto, quando a HNF se Quando administrada em doses terapêuticas, a
liga à ATIII, a taxa de ligação à trombina é acelerada de 100 anticoagulação da HNF é monitorizada com o TTPa (Tempo
a 1000 vezes, semelhante aos outros fatores de coagulação de Tromboplastina Parcial Ativado). Durante a circulação
por ela inibidos. A HNF também se liga fortemente a várias extracorpórea, a inibição da coagulação por altas doses de
proteínas plasmáticas e a células endoteliais, macrófagos e heparina é monitorizada pelo TCA (tempo de coagulação
ao Fator Plaquetário 4 (FP4), o que resulta em baixa biodis- ativado). A administração de pequenas doses subcutâneas
ponibilidade, farmacocinética imprecisa e trombocitopenia (5000 UI) para profilaxia de Trombose Venosa Profunda
Induzida por Heparina (TIH).61 (TVP) geralmente não altera o TTPa. Uma das vantagens da
A atividade anticoagulante da HNF depende tanto do anticoagulação pela heparina é a reversão pela protamina.
número de moléculas de heparina com a cadeia de pentassa- Cada miligrama de protamina pode neutralizar 100 UI de
carídeo em sua composição como do tamanho das moléculas heparina.61
contendo o pentassacarídeo. As moléculas de heparina com A anticoagulação terapêutica é definitivamente asso-
alto peso molecular irão catalisar a inibição dos fatores ciada a risco aumentado de HEP9 . Estudo comparando a
IIa e Xa. Já as moléculas de heparina com baixo peso incidência de HEP em pacientes usando ou não HNF em doses
374 N.M. Fonseca et al.

Tabela 4 Recomendação para manejo clínico em pacientes usando anticoagulantes em relação ao bloqueio no neuroeixo
Classe do Medicamento Intervalo entre Intervalo entre Intervalo entre Intervalo entre
agente última dose e última dose e punção e próxima retirada do
bloqueio retirada de cateter dose cateter e
próxima dose
Trombolíticos Estreptokinase Evitar bloqueio
Urokinase
Fibrinolíticos T-Pa (Alteplase,
tecneteplase)
Heparina de Enoxaparina (profilática)
Baixo Peso > 12 horas > 12 horas >12 horas > 4 horas
Molecular Enoxaparina (terapêutica)
(HBPM) > 24 horas > 24 horas > 24 horas se cirurgia > 4 horas
com baixo risco de
sangramento
pós-operatório e > 48
horas se alto risco
Deltaparina 5000 U.dia---1
(profilática) > 12 horas > 12 horas > 12 horas > 4 horas
Deltaparina
200 U.kg---1 .dia---1 ou 120 mg > 24 horas > 24 horas > 24 horas se cirurgia > 4 horas
2 × /dia (terapêutica) com baixo risco de
sangramento
pós-operatório e
> 48 horas se alto risco
Tinzarapina (profilática)
> 12 horas > 12 horas > 12 horas > 4 horas
Tinzarapina
175 U.kg---1 .dia---1 > 24 horas > 24 horas > 24 horas se cirurgia > 4 horas
(terapêutica) com baixo risco de
sangramento
pós-operatório e
> 48 horas se alto risco
Nadroparina (profilática)
> 12 horas > 12 horas > 12 horas > 4 horas
Nadroparina
86 U.kg---1 2 × /dia > 24 horas > 24 horas > 24 horas se cirurgia > 4 horas
ou 171 U.kg---1 .dia---1 com baixo risco de
(terapêutica) sangramento
pós-operatório
e > 48 horas se alto
risco
Heparina Não- HNF EV 4---6 horas (verificar 4---6 horas (verificar 1 hora 1 hora
Fracionada se coagulação está se coagulação está
(HNF) normal) normal)
HNF 15.000 U.dia---1 SC 4---6 horas SC 4---6 horas 1 hora 1 hora
(profilática --- baixa dose)
HNF 7500---10000 U 2 × /dia SC 12 horas SC 12 horas 1 hora 1 hora
ou dose diária < 20000 U
(profilática --- alta dose)
HNF > 10000 U por dose ou SC 24 horas SC 24 horas 1 hora 1 hora
dose diária > 20000 U
(terapêutica)
Agentes anti- Fondaparinux (Arixtra® ) --- 36---42 horas Não instalar cateter 12 horas 12 horas
fator Xa EV Dose inadvertida: 2
meias-vidas
Rivaroxabana (Xarelto® ) 72 horas Não instalar cateter 6 horas 6 horas
Dose inadvertida: 2
meias-vidas
Apixabana (Eliquis® ) 72 horas Não instalar cateter 6 horas 6 horas
Dose inadvertida: 2
meias-vidas
Edoxabana (Lixiana® , 72 horas Não instalar cateter 6 horas 6 horas
Savaysa® ) Dose inadvertida: 2
meias-vidas
Betrixabana (Bevyxxa® ) --- 72 horas Não instalar cateter 5 horas 5 horas
VO Dose inadvertida: 2
meias-vidas
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 375

Tabela 4 (Continuação)
Classe do agente Medicamento Intervalo entre Intervalo entre Intervalo entre Intervalo entre
última dose e última dose e punção e próxima retirada do
bloqueio retirada de cateter dose cateter e
próxima dose
Inibidores diretos Desirudin (Revasc® ) --- IV Evitar bloqueio
da trombina Bivalirudin (Angiomax® ) ? Evitar bloqueio
(agentes anti- fator IV
IIa) Argatrobana (Acova® ) --- IV Evitar bloqueio
Dabigatrana (Pradaxa® ) --- ClCr < Não instalar cateter 6 horas 6 horas
VO 30 mL.min---1 , não Dose inadvertida: 2
fazer; meias-vidas
ClCr
30---49 mL.min---1 ,
5 dias;
ClCr
50---79 mL.min---1 ,
4 dias;
ClCr > 80 mL.min---1 ,
3 dias;
ClCr desconhecido
--- 5 dias
Antagonistas da Warfarin 5 dias com RNI Retirar se RNI < 1,5 Logo após punção Logo após
vitamina K ≤ 1,5 (se foi reintroduzido retirada do
pode ser retirado cateter
entre 12 e 24 horas
após --- Risco
desconhecido se 48
horas após
reintrodução)
Antiplaquetárias Aspirina, ibuprofen, Sem restrições. Sem restrições.
--- anti- diclofenaco e Cautela com uso Cautela com uso
inflamatórios não indometacina concomitante de concomitante de
esteroidais (AINES) outros outros medicamentos
medicamentos que que afetam
afetam coagulação coagulação
Antiplaquetárias Ticlopidina (Ticlid® ) 10 dias Cateter pode ser 24 horas 24 horas
Tienopiridinas mantido por no
(Inibidores P2Y12) máximo 48 horas
desde que não seja
feita dose de ataque
Clopidogrel (Plavix® ) 5---7 dias Cateter pode ser 24 horas 24 horas
mantido por no
máximo 48 horas
desde que não seja
feita dose de ataque
Prasugrel (Effient® ) 7---10 dias Não instalar cateter 24 horas 24 horas

Antiplaquetárias Ticagrelor (Brilinta® ) 5---7 dias Não instalar cateter 24 horas 24 horas
(Inibidores
ADP) Cangrelor (kengreal® ) 3 horas Retirar cateter antes 8 horas 8 horas
meia-vida curta; da reintrodução do
uso como terapia cangrelor
de ponte
Antiplaquetárias Abciximab (Reopro® ) 24---48 horas 24---48 horas Contraindicado Contraindicado
--- antagonistas por 4 semanas por 4 semanas
GP IIa/IIIa após após
(IGP) procedimento procedimento
cirúrgico. cirúrgico.
Dose inadvertida: Dose
8?12 horas inadvertida:
8---12 horas
Eptifibatide (Integrilin® ) 4---8 horas 4---8 horas
Tirofiban (Aggrastat® ) 4---8 horas 4---8 horas
376 N.M. Fonseca et al.

Tabela 4 (Continuação)
Classe do agente Medicamento Intervalo entre última Intervalo entre Intervalo entre Intervalo entre
dose e bloqueio última dose e punção e retirada do
retirada de cateter próxima dose cateter e
próxima dose
Outras drogas Cilostazol (Pletal® ) 2 dias Retirar cateter antes 6 horas 6 horas
antiplaquetárias da reintrodução
(Inibidores da do cilostazol
fosfodiasterase) Dipiridamol 24 horas. Retirar cateter antes 6 horas 6 horas
(Persantin® ) Maior risco de da reintrodução do
sangramento se dipiridamol
associado à aspirina.
Terapia herbal Ginkgo biloba, ginseng Não há risco adicional
e alho em uso isolado

terapêuticas e submetidos a punção lombar apresentou inci- de coagulação, medidos pelo nível de aPTT, antifator Xa
dência de 2% no grupo em uso de HNF terapêutica. Os fatores ou heparina. O amplo uso da heparina sc e a escassez de
de risco associados foram: (i) Intervalo inferior a 1 hora entre complicações sugerem que há pouco risco de HEP associado
o início da heparinização e a punção lombar; (ii) uso con- a essa terapia.
comitante de AAS no momento da punção lombar; e (iii) Existem nove séries publicadas, totalizando mais de
procedimento traumático.63 Dois casos de hematoma peri- 9000 pacientes submetidos a bloqueio no neuroeixo na
dural foram descritos em associação a HNF terapêutica e presença de doses profiláticas para TVP com heparina sem
bloqueio neuroaxial.64,65 complicações com HEP.66 Entretanto, casos isolados foram
A heparinização intraoperatória envolve o uso de 5 a descritos posteriormente a este estudo.8,11,71 Em pacien-
10.000 UI de heparina intravenosa durante o procedimento tes recebendo o esquema de duas doses diárias de HNF
cirúrgico, particularmente em cirurgias vasculares, a fim sc de 5000 U não há contraindicação para o uso de téc-
de prevenir trombose durante o clampeamento de vasos nicas neuroaxiais.2 No entanto, não há dados suficientes
arteriais.62 A maioria das séries de casos publicadas usa as demonstrando segurança para realizar técnicas neuroaxiais
mesmas diretrizes para o manejo da anestesia no neuroeixo no esquema TID, apesar de ser a mais eficiente na prevenção
desses pacientes, com base na exclusão de pacientes de alto de TVP.72
risco (coagulopatia preexistente) e realização do procedi- A segurança da HNF subcutânea em alta dose (doses
mento neuroaxial pelo menos 1 hora antes da administração acima de 5000 UI ou dose diária total maior que 15.000 UI)
da heparina.66 Stafford-Smith mostrou aumento na incidên- permanece controversa devido à variabilidade acentuada na
cia de sangramento nos pacientes em uso de AAS associado resposta do paciente a esses esquemas de dosagem. Espe-
com heparina intravenosa intraoperatória. O risco de hema- cificamente, como o efeito anticoagulante da heparina não
toma espinha/peridural aumentou para 1:8.500 após punção é linear e aumenta desproporcionalmente com o aumento
peridural e para 1:12.000 após anestesia subaracnóidea, de doses, a administração de mais de 5.000 UI aumentará a
mesmo quando a heparinização ocorreu após intervalo de intensidade e a duração do efeito anticoagulante.62
1 hora da punção do neuroeixo.5 As diretrizes da ESA, bem como as diretrizes britânicas
Em cirurgias cardíacas, os benefícios da anestesia peri- e alemãs,13,24,73 permitem 5000 UI 3 × /dia, mas também
dural na função pulmonar e analgesia são evidentes, com sugerem que o momento da colocação da agulha e remoção
menor intensidade no controle das arritmias e sem efeitos do cateter --- independentemente da dose de 2 × /dia ou
no tempo de internação, UTI e mortalidade.66,67 Entretanto, 3 × /dia --- coincide com os níveis mais baixos de atividade
os benefícios devem ser avaliados em relação ao alto risco anticoagulante. Essas recomendações são baseadas na far-
de HEP. A probabilidade de HEP em pacientes submetidos a macologia da dose de HNF SC 5000 UI, que mostra efeito
cirurgia cardíaca com heparinização completa é de 1:1.528 anticoagulante 1 hora após a administração e que persiste
com técnicas peridurais e 1:3.610 para subaracnoideas.68 por 4---6 horas. Dessa forma, justifica-se o atraso de 4---6
Recomenda-se que o bloqueio do neuroeixo seja feito no horas após a administração da última dose para colocação
dia anterior à cirurgia devido a heparinização cirúrgica da agulha. Já para uma dose individual de heparina de 7.500
completa.13,69,70 Pelo fato de o bloqueio neuroaxial em a 10.000 UI duas vezes ao dia ou uma dose diária menor
cirurgia cardíaca mostrar riscos significantes sem melhora que 20.000 UI, sugere-se bloqueio neuroaxial 12 horas após
da morbidade e mortalidade, é discutido se anestesias a administração de heparina SC e avaliação do status da
subaracnóidea ou peridural são justificadas, provavelmente coagulação. Da mesma forma, para HNF terapêutica (p. ex.,
recomendando o abandono das técnicas nesse grupo.69 dose individual > 10.000 UI SC por dose ou > 20.000 UI dose
A baixa dose de HNF Subcutânea (SC) é comumente usada diária total), sugere-se que o bloqueio neuroaxial ocorra 24
para profilaxia contra o desenvolvimento de TEV em cirurgia horas após a administração de heparina SC e avaliação do
geral e urológica. A administração de 5000 UI de heparina status da coagulação.2
por via subcutânea duas vezes ao dia (BID) ou três vezes
Recomendações
ao dia (TID) tem sido usada extensivamente e eficazmente
para profilaxia contra trombose venosa profunda. Frequen- 1. Avaliar diariamente as medicações em uso pelo paci-
temente, não há alterações detectáveis ??nos parâmetros ente e que concorrem para interferência na atividade de
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 377

coagulação, tais como: agentes antiplaquetários, hepa- O uso da HBPM em pacientes submetidos a bloqueio de
rina de baixo peso molecular (1 B).2 neuroeixo foi adotado na Europa em 1987. Utilizava-se 20
2. Recomenda-se a contagem diária de plaquetas nos paci- a 40 mg em dose única 12 horas antes do procedimento
entes em regime de terapia com heparina por mais de cirúrgico. Para evitar a ocorrência de HEP, recomendações
4 dias devido ao risco de trombocitopenia induzida pela orientavam a inserção/remoção do cateter peridural
heparina (1 C).2 com intervalo mínimo de 10?12 horas após a última dose
3. Recomenda-se suspender a infusão de heparina entre 4---6 de HBPM. A dose subsequente era reiniciada após 8?12
horas para procedimentos a serem realizados no neuro- horas.8,10 Dessa forma, revisões envolvendo dados de
eixo, incluindo remoção de cateteres peridurais (1 A).2 milhões de pacientes mostraram que o bloqueio neuroaxial
4. Recomenda-se evitar técnicas invasivas em neuroeixo em uso de HBPM sob o regime Europeu era seguro, com
nos pacientes que apresentem outros distúrbios de apenas um caso de HEP descrito.78
coagulação (1 A).2 Por outro lado, na América do Norte, a enoxaparina,
5. Recomenda-se um atraso de 1 hora na dose de hepa- introduzida em 1993, não teve recomendação em relação ao
rina após procedimentos no neuroeixo, bem como após tempo entre sua administração e a realização do bloqueio
a remoção de cateter inserido no espaço peridural neuroaxial ou remoção de cateter. A enoxaparina era roti-
(1 A).1,2,15 neiramente administrada imediatamente no pós-operatório,
6. Nos pacientes em regime de HNF sc em doses profiláticas na dose de 30 mg duas vezes ao dia. Após 5 anos de uso,
(5.000 UI 2 ou 3 vezes ao dia), sugerem-se procedimentos o FDA (Food and Drug Administration) acumulava relatos
no neuroeixo 4?6 horas após a última administração do de 43 pacientes submetidos a bloqueios neuroaxiais que
fármaco, de preferência após a avaliação do status de desenvolveram HEP.79 Em 1998, 13 casos de HEP associa-
coagulação (2 C).2 dos a HBPM tinham sido descritos na Europa, enquanto na
7. 7, Nos pacientes utilizando HNF sc em altas doses América do Norte atingia 60 casos.80 As razões para as ele-
(7.500?10.000 UI 2 vezes ao dia ou abaixo de 20.000 UI por vadas taxas foram atribuídas a: (i) prescrição de maior dose
dia em dose única), sugere-se procedimentos no neuro- diária de HBPM; (ii) doses mais frequentes, possivelmente
eixo 12 horas após a administração do fármaco ou depois levando a níveis mínimo sanguíneos mais elevados durante
da avaliação do status de coagulação (2 C).2,15 a inserção/remoção do cateter; (iii) falta de diretrizes prá-
8. Nos pacientes em regime de doses maiores de 10.000 ticas no bloqueio do neuroeixo.17,80
UI por dose ou doses diárias maiores que 20.000 UI Após a resolução de 2003 do segundo consenso da Ame-
sugerem-se procedimentos no neuroeixo 24 horas após rican Society of Regional Anesthesia (ASRA), 10 casos foram
a administração do fármaco (2 C).2 relatados na literatura de língua inglesa relacionados à
combinação de HEP e HBPM. Cinco casos adicionais foram
reportados pelo consenso do Royal College of Anaesthetists
Heparina de baixo peso molecular (HBPM) no Reino Unido, em 97.925 bloqueios peridurais; porém,
sem comprovada evidência com associação medicação
A HBPM vem se tornando o tratamento de escolha tanto para anticoagulante.12
a prevenção como para o tratamento de TVP devido a sua Com base no exame dos casos publicados e na expe-
maior biodisponibilidade (quase 100%) após administração riência clínica do uso de HBPM na Europa e na América
subcutânea, resultando em efeito anticoagulante superior do Norte, fatores de risco específicos associados à HEP
sem aumentar a tendência ao sangramento, e ao uso faci- foram propostos, como idade acima de 65 anos, sexo femi-
litado, sem necessidade de monitorização da coagulação nino, administração 2 vezes por dia e o efeito aditivo, se
sanguínea.3 não sinérgico, de múltiplos medicamentos que alteram a
A farmacologia da HBPM difere da HNF. As principais hemostasia7,80 (tabela 1).
diferenças consistem na maior atividade inibitória contra
Recomendações
fator Xa comparado com a trombina (IIa), dificuldade de
monitorização do efeito anticoagulante (níveis do fator Xa),
meia-vida de eliminação prolongada e ausência de rever- 1. Drogas antiplaquetárias e anticoagulantes orais adminis-
sibilidade completa com protamina.61 Com administração tradas concomitantemente a HBPM aumentam o risco
subcutânea, os níveis plasmáticos máximos são atingidos em de HEP, sendo proscrito o bloqueio, nessas condições,
aproximadamente 3?4 horas, e a meia-vida de eliminação, ou a interrupção dessas drogas coadjuvantes caso haja
com função renal normal, é de 4?6 horas.74,75 Entretanto, programação de procedimentos em neuroeixo (1 A).2
mantém atividade antifator Xa considerável (50%) após 2. A ocorrência de sangramento durante a introdução de
10?12 horas da administração. Se o clearance de creati- agulha ou cateter não justifica o cancelamento da cirur-
nina cair abaixo de 30 mL.min---1 , a meia-vida de eliminação gia. Sugere-se que o início da terapia com HBPM, nessa
dobra.74 Comparada com a HNF, há risco 10 vezes menor da circunstância, ocorra 24 horas após o fim da cirurgia
ocorrência de Trombocitopenia (TIH); entretanto, são con- (2 C).2
traindicadas na TIH pelo alto risco, de aproximadamente 3. Em pacientes em tromboprofilaxia pré-operatória com
90%, de reação cruzada.76 HBPM, é recomendado bloqueio neuroaxial após 12 horas
Se a tromboprofilaxia com HBPM for prescrita em duas da última dose de HBPM (1 C).2,15
doses diárias (30 mg duas vezes ao dia), quando comparada 4. Pacientes com doses terapêuticas de HBPM --- como
ao regime de dose única diária, o risco de HEP pode ser enoxaparina 1 mg.kg---1 a cada 12 horas, enoxaparina
aumentado, pois os níveis mínimos de atividade anti-Xa são 1.5 mg.kg---1 por dia, dalteparina 120 UI.kg---1 a cada 12
maiores.77 horas, dalteparina 200 UI.kg---1 por dia ou tinzaparina 175
378 N.M. Fonseca et al.

UI.kg---1 por dia, é sugerido intervalo maior que 24 horas eram retirados até 48 horas de pós-operatório. A média de
entre a última dose e o bloqueio neuroaxial para assegu- RNI no momento da retirada foi de 1,5 (0,9?4,3). O RNI foi
rar hemostasia normal (2 C).2 menor que 1,5 em aproximadamente 40% dos casos. Essas
5. Para uso pós-operatório de HBPM, a primeira dose de séries sugerem que não apenas o valor do RNI, mas também
HBPM deve ser administrada 12 horas após a cirurgia. A a duração da terapia com warfarina deve ser considerada
segunda dose de HBPM não deve ser administrada antes no manejo do cateter peridural, e que o prolongamento por
de 24 horas da primeira dose para que o cateter peridural mais de 48 horas pode representar significativo aumento do
possa ser mantido com segurança. Entretanto, a retirada risco de hematoma.85
do cateter peridural deve ser feita somente 12 horas após O controle dos pacientes em uso de warfarina no peri-
a última dose. A dose subsequente de HBPM, após a reti- operatório continua controverso. As recomendações são
rada do cateter, deve ser após 4 horas. Nenhuma droga baseadas na farmacologia da droga, na relevância clínica
que altere a hemostasia deve ser administrada devido ao dos níveis e na deficiência dos fatores de coagulação depen-
risco de efeitos aditivos (1 C).2 dentes da vitamina K, e em séries de casos e relatos de HEP.2
6. No esquema de posologia com duas doses diárias há maior Diretrizes com base em evidências para o tratamento peri-
risco de HEP, recomendando vigilância contínua. A pri- operatório da terapia antitrombótica foram estabelecidas
meira dose de HBPM deve ser administrada após 24 horas pelo ACCP (American College of Chest Physicians). Instrui
do fim da cirurgia, se não houver risco de sangramento. que no pré-operatório, a warfarina deve ser interrompida
Havendo risco de sangramento, a primeira dose deve ao menos 5 dias antes do procedimento eletivo, avaliando o
ser postergada para 48?72 horas após o fim da cirurgia RNI 1 a 2 dias antes da cirurgia, e se > 1,5; administrar 1 a
(1 C).2,15 2 mg de vitamina K por via oral. Caso a reversão para cirur-
gia/procedimento seja urgente, considere 2,5?5 mg por via
oral ou IV de vitamina K; e para reversão imediata, adminis-
Antagonistas da vitamina K (Cumarínicos) trar plasma congelado fresco. Os pacientes com alto risco de
tromboembolismo deverão fazer ponte com HBPM SC tera-
Incluem acenocumarol, femprocumona e warfarinas. Essas pêutica (preferencial) ou HNF intravenosa.44
drogas inibem a síntese e gama-carboxilação dos fatores
Recomendações
dependentes da vitamina K: II, VII, IX, X, proteína C e S,
o que os torna incapazes de se ligarem a membranas fos-
folipídicas plaquetárias durante a coagulação. O Tempo de 1. Recomenda-se a realização de procedimentos no neu-
Protrombina (TP) ou RNI (Razão Normalizada Internacional) roeixo 5 dias após a suspensão dos cumarinícos e
são os testes mais usados para monitorar essas drogas, e normalização do RNI (1 B).1,2
refletem a atividade plasmática de três dos quatro fatores 2. Recomenda-se a suspensão de drogas que modifiquem
de coagulação (II, VII e X). Experiências clínicas sugerem a atividade normal da coagulação, tais como anti-
que o nível de atividade de 40% de cada fator é adequado -inflamatórias, tienopiridínicos, HNF, HBPM (1 A).1,2
para hemostasia normal ou próxima ao normal.81 RNI de 1,5 3. Sugere-se que pacientes que tenham recebido uma dose
está associado à atividade do fator VII de 40%. Como o fator de warfarina mais de 24 horas antes da cirurgia ou
VII tem meia-vida mais curta (aproximadamente 6 horas), o tenham recebido uma segunda dose tenham o RNI che-
aumento inicial do RNI, quando os cumarínicos são usados, cado (2 C).2
reflete a perda da atividade do fator VII. 4. Se o paciente estiver usando baixas doses de warfarina
Entretanto, o efeito terapêutico dessas drogas é mais durante analgesia peridural, monitorizar RNI diariamente
dependente da redução dos fatores II ou X, que tem meias- (2 C).2
-vidas relativamente mais longas; 60?72 horas e 24?36 horas, 5. Sugere-se que pacientes recebendo analgesia peridural
respectivamente. Após a interrupção do uso da warfarina, sejam avaliados neurologicamente como rotina, sendo
o fator II é o último a normalizar82 e o RNI pode retornar a recomendada para isso a utilização de soluções anesté-
valores próximos aos normais devido à restauração da ativi- sicas tituladas para não prejudicar a avaliação (2 C).2
dade do fator VII; entretanto, os fatores II e X podem não 6. Sugere-se que após o início da tromboprofilaxia com war-
ter sido restaurados a níveis hemostáticos normais.83 Seu farina, os cateteres epidurais sejam retirados quando o
efeito anticoagulante pode ser efetivamente revertido com RNI for menor que 1,5. A retirada de cateter peridu-
a administração de vitamina K, plasma fresco congelado ou ral após 12?24 horas da dose de warfarina parece não
complexo protrombínico total (fatores II, VII, IX e X).3 aumentar o risco de sangramento (2 C).1,2,85,86
Embora a ASRA tenha recomendado remoção do cate- 7. Sugere-se que pacientes que apresentem RNI maior que
ter peridural com RNI menor que 1,5; esse valor tem sido 1,5 e menor que 3,0 sejam cuidadosamente monitorados
considerado conservador. Relatos mostram remoção de cate- com relação ao cateter. Nessa situação, o cateter deve
teres peridurais com RNI mais alto e sem intercorrências.84-86 ser mantido com base no RNI e na duração da terapia
Se ocorrer nas primeiras 48 horas do uso da medicação, é com warfarina (2 C).1,2
provável que haja níveis adequados de atividade de fato- 8. Pacientes com RNI maior que 3,0 devem ter a
res de coagulação, particularmente dos fatores II e X. Além dose da medicação mantida ou diminuída (1 A). Não
desse período, todos os fatores dependentes da vitamina K há recomendação para a condução dos pacientes
serão afetados. Não há relato de caso de HEP em 11.235 que possuem cateteres epidurais com esse nível de
pacientes recebendo analgesia peridural após artroplastia anticoagulação (2 C).1,2
total de joelho, tratados com warfarina (5?10 mg) iniciada 9. Sugere-se a avaliação neurológica a cada 2 horas durante
na noite anterior ao procedimento. Os cateteres peridurais 24 horas após a retirada do cateter (2 C).2
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 379

Inibidores do fator Xa O tratamento é iniciado 6?8 horas após a cirurgia e com


dose única de 10 mg, e os níveis plasmáticos máximos são
Fondaparinux (Arixtra® ) atingidos em 2?4 horas.89 Estudos mostram melhor eficácia
em relação à enoxaparina para a tromboprofilaxia,90 e da
mesma forma, quando comparada com as heparinas e os
O Fondaparinux é um pentassacarídeo sintético que inibe
antagonistas da vitamina K no tratamento da TVP.91
indiretamente o fator Xa de forma seletiva por meio da anti-
A rivaroxabana tem meia-vida de eliminação de 5 a
trombina III. Ao contrário das HBPM, não tem efeito sobre
9 horas, pouco influenciada pela função renal (33% da
o fator IIa (trombina) e, portanto, a agregação plaquetá-
eliminação ocorre por via renal), uma vez que também tem
ria não é afetada.13 Esse composto tem biodisponibilidade
eliminação hepática. Em idosos, entretanto, a meia-vida
de aproximadamente 100% após administração subcutânea e
pode ser prolongada para 11 a 13 horas.13,89 Em indiví-
meia-vida de eliminação de 18 a 21 horas, sendo eliminado
duos com insuficiência renal leve, moderada e grave, a
principalmente pelos rins. A meia-vida de eliminação é pro-
exposição à rivaroxabana aumenta 1,4, 1,5 e 1,6 vezes,
longada para 36 a 42 horas quando o clearance de creatinina
respectivamente.92
é menor que 50 mL.min---1 , sendo contraindicado nos pacien-
A rivaroxabana promove prolongamento do TTPa e do
tes com clearance menor que 30 mL.min---1 . A dose profilática
Heptest, porém esses testes não são recomendados para
é de 2,5 mg por via subcutânea uma vez ao dia.3
avaliar o efeito anticoagulante dessa droga. O Tempo
Habitualmente, é administrado de 6 a 12 horas após a
de Protrombina (TP) é influenciado pela rivaroxabana em
cirurgia, uma vez que, quando usado no pré-operatório,
dose dependente, com estreita correlação em relação às
pode aumentar o risco do sangramento cirúrgico sem
concentrações plasmáticas, e deve ser medido em segun-
melhorar a eficácia antitrombótica.87 Em virtude do uso pós-
dos, e não pelo IRN.93 Entretanto, a monitorização rotineira
-operatório, não há problemas com anestesia no neuroeixo
não é considerada necessária. Recentemente, foi lançado no
de punção única; entretanto, se o cateter for inserido, deve
mercado um reversor para os inibidores diretos do fator Xa
ser removido apenas na ausência de níveis plasmáticos do
com resultados promissores chamado Andexanet alfa.2
agente. As recomendações para o manejo do cateter peri-
Os estudos clínicos com uso da anestesia neuraxial em
dural em pacientes em uso de fondaparinux obedecem às
pacientes tratados com rivaroxabana são escassos. A lite-
condições usadas no estudo de Singelyn e cols.26 Esse estudo
ratura descreve sete hematomas neuroaxiais associados
avaliou 5387 pacientes, sendo 1428 submetidos a proce-
à rivaroxabana.2 Três casos foram submetidos a bloqueio
dimentos anestésicos regionais nos quais a dose única do
neuraxial, no entanto, em 2 casos, um agente alterna-
fondaparinux era omitida na noite anterior à retirada do
tivo de tromboprofilaxia foi utilizado imediatamente no
cateter. Dessa forma, foi assegurado intervalo de 36 horas
pós-operatório e os hematomas ocorreram após a alta
entre a última dose da droga e a remoção do cateter, e 12
hospitalar.94,95 No caso restante, o cateter peridural foi
horas entre o tempo de remoção do cateter e a próxima dose
removido 18 horas após a primeira dose de rivaroxabana,
do fondaparinux. Nenhum caso de HEP foi descrito.26
ou seja, em intervalo de tempo inferior às 26 horas reco-
Pelo American College of Chest Physicians (ACCP), mesmo
mendadas pelo fabricante.96
com 2 casos descritos de TIH com uso do fondaparinux,
sugere-se HBPM ou HNF como droga alternativa nos paci- Recomendações
entes com história de TIH.88
1. Sugere-se a descontinuação de rivaroxabana cerca de 72
Recomendações horas antes do procedimento no neuroeixo. Se não for
possível aguardar esse período, considerar a dosagem
1. Com posologia profilática (2,5 mg) no pós-operatório, a laboratorial de rivaroxabana ou do nível de fator anti-Xa
anestesia no neuroeixo pode ser utilizada se atraumá- (2 C).2
tica. Se isso não for possível, deve-se escolher outra 2. Sugere-se a remoção do cateter 6 horas antes da
estratégia farmacológica (1 C).2 primeira dose pós-operatória (2 C).2
2. Sugere-se que cateteres peridurais sejam removidos no 3. Se na presença do cateter peridural houver
mínimo 6 horas antes da primeira dose pós-operatória administração de uma dose imprevista de rivaroxabana,
(2 C).2 deve-se aguardar a dosagem de rivaroxabana ou fator
3. Caso seja usado, o cateter peridural deve ser retirado anti-Xa por no mínimo 22?26 horas após a dose (2 C).2
apenas 36 horas após a última dose profilática do fon-
daparinux, e a dose subsequente deve ser administrada
somente após 12 horas da retirada (2 C).13,26 Apixaban (Eliquis® )
Inibidor direto seletivo do fator Xa e administrado por
Rivaroxabana (Xarelto® ) via oral. Tem biodisponibilidade de 60% e não requer
biotransformação para sua ativação.97 Em contraste com os
Rivaroxabana é um inibidor seletivo e direto do fator Xa. antagonistas da vitamina K, o apixaban não tem interação
Administrado por via oral é utilizado na prevenção de TVP com alimentos. Níveis plasmáticos máximos são obtidos em
após cirurgia de prótese total de joelho, assim como na 3 horas, com meia-vida aproximada de 12 horas (10 a 15
prevenção primária de TEV após cirurgia eletiva, prevenção horas), sendo necessário posologia em 2 doses diárias.97,98
de acidente vascular cerebral e embolia sistêmica em paci- Não requer monitorização rotineira da coagulação. Apenas
entes adultos com fibrilação atrial não valvar, e prevenção 25% é eliminada via renal e 75% por metabolismo hepático
e tratamento de TEV (recorrente) e embolia pulmonar.2 e biliar, sendo excretado por via intestinal.
380 N.M. Fonseca et al.

Tanto o PT quanto o aPTT não são adequados para ava- edoxaban durante as 20 a 28 horas seguintes ou fator
liar qualitativa e quantitativamente os efeitos do apixaban. anti-Xa para proceder a retirada do cateter (2 C).2
Esses testes não são confiáveis ??devido à baixa sensibilidade
e a uma grande variabilidade entre ensaios, dependendo dos
reagentes utilizados.99
Betrixaban (Bevyxxa® )
Estudos randomizados têm mostrado a eficácia e
segurança do apixaban após cirurgias de prótese de joe- Esse é o mais recente dos fármacos conhecidos com NOACs
lho e quadril.100,101 A avaliação de 18.201 indivíduos com (novos anticoagulantes orais), e seu papel vem sendo res-
fibrilação atrial, comparando o apixaban com a warfarina, saltado após a fase III do estudo APEX,104 com superioridade
mostrou que o apixaban foi superior na tromboprofila- na prevenção de tromboembolismo venoso em comparação
xia, com baixo risco de sangramento e menor índice de com a enoxaparina, o que não foi conseguido de maneira
mortalidade.102 Com base nesses estudos, o apixaban conse- contundente pelo apixaban e a rivaroxabana. É também um
guiu aprovação para anticoagulação na fibrilação atrial não inibidor seletivo e reversível do fator Xa, que apresenta pico
valvular e tem sido indicado para tromboprofilaxia nas cirur- plasmático em 3?4 horas, biodisponibilidade de 34% e ligação
gias de quadril e joelho. Nesse último cenário, uma dose de a proteínas plasmáticas de 60%.105
2,5 mg duas vezes por dia é usada e iniciada 12?24 horas após O betrixaban exibe um perfil farmacocinético menos
a cirurgia.2 dependente da função renal, sendo que essa corresponde
a somente 5% a 11% da excreção da droga, sendo que a
Recomendações imensa maioria é eliminada de forma primária, ou seja,
sem metabólitos ativos pelo sistema hepatobiliar. Possui uma
1. Sugere-se a suspensão do apixaban cerca de 72 horas meia-vida de eliminação de 37 horas, enquanto os efei-
antes de procedimentos no neuroeixo. Considerar a che- tos farmacodinâmicos apresentam-se evidentes em 19 a 27
cagem dos níveis de apixaban ou fator anti-Xa caso a horas.105,106 O betrixaban é indicado para pacientes hospita-
suspensão seja em menos que 72 horas (2 C).2 lizados submetidos a protocolos de profilaxia para TEV, com
2. Sugere-se a retirada de cateter peridural 6 horas antes a ressalva da necessidade de verificação do perfil hepático
da primeira dose pós-operatória (2 C).2 e renal desses pacientes para posterior ajuste da dose.
3. Se, na presença de cateter peridural, houver a Recomendações
administração de uma dose imprevista de apixaban,
deve-se aguardar a dosagem de apixaban ou fator anti-Xa
1. Sugere-se a suspensão de betrixaban 72 horas antes de
por no mínimo 26?30 horas após a dose (2 C).2
procedimentos no neuroeixo. Se houver necessidade de
procedimentos no neuroeixo antes desse período, deve-
Edoxaban (Lixiana® ) -se checar os níveis de betrixaban ou fator anti-Xa (2 C).2
2. Sugere-se a suspensão de bloqueios de neuroeixo em
Um dos grandes expoentes da nova geração de anticoagu- pacientes com ClCr menor que 30 mL.min---1 (2 C).2
lantes orais é o edoxaban, que impactou essa nova classe 3. Sugere-se que cateteres no neuroeixo sejam removidos
de fármacos principalmente após o ENGAGE AF-TIMI 48.103 5 horas antes da próxima dose de betrixaban (2 C).2
Sua notoriedade advém não da superioridade apresentada 4. Após doses imprevistas de betrixaban, sugerem-se dosa-
em relação à warfarina, o que já era esperado, mas pelo gens seriadas do fármaco durante as 72 horas seguintes,
fato de permitir um ajuste posológico efetivo. Isso se deve antes da retirada do cateter (2 C).2
ao perfil farmacológico do edoxaban, com níveis plasmáticos
alcançados dentro de 1 a 2 horas, apresentando biodisponi-
bilidade de 62% e ligação em proteínas plasmáticas de 55%.2
Inibidores da trombina
A excreção renal é responsável por cerca de 50% da
eliminação da droga, sendo o restante metabolizado e Dabigatrana (Pradaxa® )
excretado pelo fígado e intestino. Dessa maneira, é pru-
Dabigatrana é um pró-fármaco que, após conversão no prin-
dente realizar o ajuste terapêutica do edoxaban em casos
cípio ativo, torna-se um inibidor reversível da trombina,
de insuficiência renal, visto que a meia-vida de eliminação
administrado por via oral e aprovado para profilaxia de TVP
pode variar, nesses casos, de 8,75 a 14 horas.2,15 O TP e o
em pacientes submetidos a cirurgia de prótese de quadril ou
TTPa não são efetivos na avaliação da atividade do edoxa-
joelho.75 Lançado no Brasil em 2011 após os resultados obti-
ban, sendo que para isso é necessária a utilização de ensaios
dos no estudo RE-LY,107 este composto tem meia-vida de 12
cromatogênicos.
a 17 horas e é eliminado principalmente, majoritariamente,
Recomendações por via renal. Após sua administração, os níveis plasmáticos
máximos são atingidos em 2 a 4 horas.108,109
1. Sugere-se a suspensão do edoxaban 72 horas antes O tratamento é iniciado 1 a 4 horas após a cirurgia, com
da realização de procedimentos no neuroeixo. Níveis doses que variam de 75 mg (clearance de creatinina entre
residuais aceitáveis de edoxaban ainda não foram deter- 30 a 50 mL.min---1 ) a 110 mg (função renal normal). A dose
minados (2 C).2 é aumentada para 150 mg a 220 mg nos dias subsequentes.
2. Sugere-se que cateteres de neuroeixo sejam retirados 6 O dabigatran prolonga o TTPa, sem efeito linear. O Tempo
horas antes da primeira dose pós-operatória (2 C).2 de Trombina (TT) é particularmente sensível, sendo referên-
3. Em casos de administração do fármaco antes da retirada cia para controle da anticoagulação, com linearidade entre
do cateter, recomenda-se realizar a dosagem seriada de dose-resposta nas concentrações terapêuticas.108,109
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 381

A eficácia da dabigatrana (220 mg) na prevenção da TVP é 3 do valor normal. Em pacientes com boa função hepática,
comparável com a enoxaparina (40 mg.dia---1 ) e sem aumento a normalização do TTPa ocorre com 2 a 4 horas do fim da
do sangramento.110 Estudos preliminares com a dabigatrana infusão em virtude da meia-vida curta, de 35 a 45 minutos.117
e bloqueio no neuroexeixo foram realizados respeitando a
Recomendações
remoção do cateter peridural com 4 a 6 horas antes da
Se o paciente estiver usando o argatroban terapêutico
primeira dose. Não há estudo com pacientes em uso de dabi-
devido ao diagnóstico de TIH aguda, o tratamento não deve
gatrana e utilização de cateter peridural, pois os estudos são
ser descontinuado em virtude do risco de tromboembolismo;
limitados e nenhum com uso contínuo de cateter peridural,
portanto, o bloqueio está contraindicado (2 C).2
pois em todos os casos foram retirados com até 2 horas após
término da cirurgia, e de 4 a 6 horas antes da primeira dose
de dabigatrana.110,111 A dabigatrana não foi utilizada se um Desirudina (Iprivask ® ), bivalirudina (Angiomax® ) e
cateter peridural permaneceu no local para alívio da dor no lepirudina (Refludan® )
pós-operatório.110,112
O efeito da dabigatran pode ser revertido pelo idaruci- As hirudinas recombinantes, desirudina, bivalirudina e lepi-
zumabe, um fragmento de anticorpo monoclonal que se liga rudina, são da primeira geração dos inibidores diretos da
à dabigatrana e reverte seus efeitos anticoagulantes. Um trombina e administradas por via parenteral. Não apresen-
ensaio clínico em pacientes com sangramento ou necessi- tam interação com o Fator Plaquetário 4 (FP4) e, portanto,
tando de cirurgia urgente demonstrou que o idarucizumabe não desencadeiam trombocitopenia Induzida por Heparina
reverteu completamente o efeito anticoagulante da dabiga- (TIH). A desirudina é indicada para a profilaxia de TVP e a
trana em poucos minutos.113,114 lepirudina para tratamento de TVP em pacientes com histó-
ria de TIH.13
Recomendações
Tanto a lepirudina como a desirudina têm meia-vida de
1,3 a 2 horas, que aumenta significantemente na insuficiên-
1. Sugere-se a suspensão de dabigatrana 120 horas antes
cia renal. Devido ao risco potencial para sangramentos, o
de um bloqueio no neuroeixo. Entretanto, se existe
efeito anticoagulante das hirudinas deve ser rotineiramente
uma função renal confiável e não há fatores de risco
monitorizado com TTPa ou ECT (Ecarin Clotting Time).118
para sangramento (idade maior que 65 anos, hiperten-
são e medicações antiplaquetárias concomitantes), esse Recomendação
período deve ser reavaliado (2 C).2 Para pacientes recebendo inibidores de trombina endo-
2. Sugere-se a suspensão de dabigatrana cerca de 72 horas venosa, recomenda-se a suspensão de bloqueio do neuroeixo
antes para pacientes que possuem CrCl maior ou igual a (2 C).2
80 mL.min---1 (2 C).2
3. Sugere-se a suspensão de dabigatrana cerca de 96 Bloqueio do neuroeixo e exames laboratoriais
horas antes para pacientes que possuem CrCl entre
50?79 mL.min---1 (2 C).2
Consensos atuais determinam que o bloqueio no neuroeixo
4. Sugere-se a suspensão de dabigatrana cerca de 120
não deve ser realizado em pacientes com trombocitope-
horas antes para pacientes que possuem CrCl entre
nia, entretanto, nenhum deles determina o limite mínimo
30?49 mL.min---1 (2 C).2
do número de plaquetas para a realização do bloqueio no
5. Sugere-se não realizar bloqueios de neuroeixo em paci-
neuroeixo.9 A função plaquetária parece ser mais impor-
entes em uso de dabigatrana que possuem CrCl menor
tante do que o número isolado de plaquetas,119 e pesquisas
que 30 mL.min---1 (2 C).2
na área de anestesia obstétrica sugerem ser aceitável a
6. Sugere-se que cateteres de neuroeixo sejam removidos
contagem > 50.000 mm3 com função preservada, enquanto
6 horas antes da primeira dose de dabigatrana pós-
contagem > 100.000 mm3 é aceitável sem considerar o teste
-operatória (2 C).2
de avaliação da função plaquetária.120,121
7. Se ocorrer uma administração imprevista de dabigatrana
Estudo122 avaliando 573 parturientes submetidas a anes-
e houver um cateter em neuroeixo, considerar dosagem
tesia do neuroeixo (peridural e subaracnóidea) e contagem
do fármaco cerca 34?36 horas após (2 C).2
< 100.000 mm3 não mostrou caso de HEP nem mesmo nas 15
pacientes com contagem plaquetária abaixo de 50.000 mm3 .
Argatroban (Acova® ) Nesse mesmo estudo foi realizada revisão sistemática uti-
lizando outros relatos da literatura para o cálculo do
Derivado do ácido carboxílico, que se liga de forma não risco de HEP em parturientes com trombocitopenia, e foi
covalente à trombina, o argatroban é um inibidor direto encontrado que o risco de hematoma em pacientes com
reversível da trombina, administrado de forma intravenosa, contagem >70.000 mm3 é extremamente baixo (< 0,2%).
que se liga às diferentes formas de trombina (livre ou ligada Entretanto, o risco exato de HEP com contagem de plaque-
ao coágulo).115,116 O argatroban é indicado em pacientes tas < 70.000 mm3 permanece incerto, com limite superior
com trombose associada a trombocitopenia, Induzida por de 3% para contagens de 50.000 a 69.000 mm3 e 11% para
Heparina (TIH) pela ausência de interação com o Fator Pla- contagens < 49.000 mm3 . Essa incerteza deve ser conside-
quetário 4 (FP4).3 rada pelos profissionais ao se fazer a difícil avaliação de risco
O argatroban é administrado intravenoso de forma con- e benefício da anestesia no neuroeixo em parturientes com
tínua e é eliminado exclusivamente pelo fígado, podendo uma contagem de plaquetas abaixo de 70.000 mm3 .
ser utilizado em caso de insuficiência renal. A dose de 0,5 Na ausência de fatores de risco, contagem de plaque-
a 2 ␮g.kg.min---1 é ajustada para manter o TTPa entre 1,5 e tas > 80.000 mm3 é considerada segura para a realização
382 N.M. Fonseca et al.

de bloqueios subaracnóideos/peridurais, e contagem > peridural mais complacente, com capacidade de acomodar
40.000 mm3 , para punção lombar simples.123 Revisão siste- um volume maior de sangue antes do início dos sintomas.129
mática mostrou não haver evidências suficientes para se O bloqueio no neuroeixo é essencial para o cuidado da
recomendar transfusão profilática de plaquetas em pacien- paciente obstétrica, em comparação com modos alterna-
tes trombocitopênicos com o intuito de reduzir o risco de tivos de tratamento da dor. Para o trabalho de parto, a
HEP em pacientes submetidos a anestesia do neuroeixo.124 analgesia neuraxial proporciona alívio superior da dor a
Quanto à hemostasia secundária, o nível de atividade de outras modalidades analgésicas e diminui os níveis circu-
40% de cada fator é adequado para hemostasia normal ou lantes de catecolaminas, o que pode ser particularmente
próxima ao normal.81 IRN de 1,5 está associado a atividade benéfico para pacientes com distúrbios hipertensivos da gra-
do fator VII de 40%. O sangramento pode ocorrer se o nível videz ou comorbidades preexistentes. Da mesma forma, no
de qualquer fator de coagulação estiver reduzido a 20%?40% parto cesáreo, a anestesia no neuroeixo tem muitos benefí-
do seu valor habitual.83 cios maternos e fetal em comparação com a anestesia geral,
incluindo diminuição do risco de complicações pulmonares,
Recomendações
além de possibilitar a melhor relação mãe-bebê imediata-
mente após o parto.130-132
1. Bloqueios subaracnóideos ou peridurais, na ausência de Alterações fisiológicas durante a gravidez resultam em
fatores de risco para sangramento, poderão ser realiza- aumento no volume de distribuição, depuração, biodis-
dos com contagem plaquetária > 80.000 mm3 (2 C).123 ponibilidade e metabolismo de muitos medicamentos, e
2. Deve-se considerar IRN menor que 1,5 para a realização, podem levar à diminuição do efeito de pico e à diminuição
com segurança, de bloqueios do neuroeixo (2 C).2 das concentrações plasmáticas ao longo do tempo após a
administração de anticoagulantes. Assim, há recomendação
de profilaxia com heparina não fracionada com dosagem
Considerações durante a gravidez maior que a habitual.128,133,134
Quando se utiliza HNF, as doses recomendadas são de
Embora haja risco aumentado de trombose durante gravi- 7500 a 10.000 UI de 12/12 horas ou até 20.000 UI diárias
dez normal, os eventos tromboembólicos apresentam baixa por via subcutânea. Quando em terapia profilática, nessas
incidência nos períodos perigestacionais. O tromboembo- doses, o bloqueio neuraxial deve ser realizado após 12 horas
lismo venoso, porém, é uma das causas mais comuns da administração da última dose. Quando em uso de doses
de morbimortalidade materna, especialmente em países terapêuticas, ultrapassando 10.000 UI por dose ou 20000
desenvolvidos.125 Fatores de risco comuns que aumentam a UI diárias, o bloqueio deve ser realizado 24 horas após a
incidência de trombose em mulheres grávidas inclui a idade administração da última dose.2
acima de 35 anos, imobilização prolongada, obesidade, A preferência de profilaxia ou terapia em nosso meio é
trombofilia, tromboembolismo prévio e parto cesáreo.126,127 a HBPM. As doses recomendadas são semelhantes às dos
Na maioria das mulheres saudáveis ??com gravidez e parto pacientes não obstétricos. A enoxaparina profilática utili-
vaginal sem complicações, os benefícios da tromboprofilaxia zada é de 40 mg diários para pacientes entre 50 e 90 kg,
não superam os riscos maternos e fetais. No entanto, para 60 mg, entre 91 e 130 kg, e 80 mg para aquelas acima de
condições maternas como trombofilia adquirida ou heredi- 130 kg. As doses terapêuticas são de 1 mg.kg---1 de 12/12
tária, e para mulheres em repouso prolongado, os benefícios horas. Mantendo-se as recomendações quanto ao tempo de
da tromboprofilaxia podem superar os riscos. Assim, o uso uso da medicação e o tempo de bloqueio igual para pacientes
de anticoagulação para prevenção de tromboembolismo em obstétricas e não obstétricas.2,135
pacientes está se tornando mais frequente.128
Recomendações
A incidência de HEP após bloqueio neuroaxial (com ou
sem hemostasia alterada) no paciente obstétrico é muito
difícil de determinar. Bateman e cols. avaliaram 142.287 1. Dados farmacológicos são limitados com relação aos
pacientes submetidos a anestesia peridural/analgesia e agentes antitrombóticos na gravidez. Na ausência de
encontraram sete casos de hematomas peridurais com uma grande série de casos com bloqueio do neuroeixo
necessidade de laminectomia de descompressão, resultando na população gestante em uso de profilaxia ou trata-
em uma incidência de HEP de 1:22.189. No entanto, nenhum mento para TEV, sugerimos que as mesmas diretrizes
dos casos se referia a pacientes obstétricos, o que sugere gerais sejam aplicadas às parturientes (2 C).2
que pacientes obstétricas submetidas a implante de cateter 2. Em circunstâncias que envolvem parturientes de alto
peridural apresentam risco significativamente menor de HEP risco que recebem profilaxia para TEV e requerem
em comparação com pacientes cirúrgicos não obstétricos.129 intervenções urgentes para indicações maternas ou
O estado relativamente hipercoagulável da gravidez fetais, e havendo risco maior de anestesia geral do que
pode ser protetor e oferece possível motivo para a menor a anestesia no neuroeixo sugeriu modificações nas dire-
taxa de hematomas neuroaxiais nessa população. As trizes, com seguimento por avaliação neurológica a cada
alterações anatômicas normais que ocorrem na coluna 2 horas após recuperação da anestesia (2 C).2
vertebral com o envelhecimento podem fornecer outra 3. Gestantes em uso de HNF profilática na dose de
explicação para a diferença na incidência. A prevalência de 7.500?10.000 UI de 12/12 horas ou abaixo de 20.000
doença vascular, osteoporose e alterações degenerativas UI.dia---1 , sugerimos intervalo de 12 horas entre a última
da coluna aumenta com a idade, resultando, por fim, em dose e a punção do neuroeixo. Nas parturientes em uso
uma diminuição do volume do espaço peridural. Por outro de doses terapêuticas, ou seja, acima de 10.000 UI por
lado, a paciente obstétrica mais jovem possui um espaço dose ou dose total diária maior que 20.000 UI, sugerimos
SBA 2020: Atualização na diretriz da anestesia regional em uso de anticoagulantes 383

um intervalo de 24 horas entre a última dose e o bloqueio em nenhum caso de hemorragia quando utilizada por mãos
de neuroeixo (2 C).2 experientes.146
4. Para parturientes em tromboprofilaxia pré-operatória
Recomendações
com HBPM, é recomendado bloqueio do neuroeixo após
12 horas da última dose de HBPM (1 C).2,15
5. Para parturientes com doses terapêuticas de HBPM, como 1. Para pacientes submetidos a bloqueio profundos (blo-
enoxaparina 1 mg.kg---1 a cada 12 horas, enoxaparina queios paravertebrais, plexo lombar, simpático lombar
1.5 mg.kg---1 por dia, dalteparina 120 UI.kg---1 a cada 12 etc.) ou ao redor do neuroeixo, recomendamos adotar
horas, dalteparina 200 UI.kg---1 por dia, ou tinzaparina as mesmas recomendações referentes às técnicas para
175 UI.kg---1 por dia, é recomendado um intervalo de pelo bloqueio do neuroeixo (1 C).1,2
menos 24 horas entre a última dose e o bloqueio no neu- 2. Para pacientes submetidos a bloqueios superficiais ou
roeixo para assegurar hemostasia normal (2 C).2 técnicas periféricas, o anestesiologista deve considerar
a realização do bloqueio em uso de medicação anti-
trombótica de acordo com compressibilidade do local,
Bloqueio do plexo e periférico no paciente vascularização e consequências do sangramento, caso
anticoagulado ocorra (2 C).1,2
3. Até a realização de estudos maiores, essa força tarefa
Embora o HEP seja a maior complicação hemorrágica da sugere o uso da ultrassonografia para realização de blo-
anestesia regional, devido à natureza catastrófica de san- queios periféricos superficiais e profundos com o intuito
gramento em espaço restrito e não compressível, o risco de reduzir o risco de punção vascular inadvertida (2 C).146
associado após bloqueios de plexo e nervos periféricos
permanece indefinido.1 Os casos publicados de sangra- Conflitos de interesse
mento/hematomas clinicamente significativos após técnicas
de plexo ou periféricos, tanto em pacientes com hemostasia
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
normal como naqueles em uso de terapia antitrombótica e
que apresentaram algum grau de déficit neurológico, apre-
sentaram recuperação satisfatória da função nervosa entre Referências
6 a 12 meses. Assim, enquanto o sangramento em uma bai-
nha neurovascular pode resultar em reduções significativas 1. Fonseca NM, Alves RR, Pontes JPJ. Sociedade Brasileira de
no hematócrito, a natureza expansível do local periférico Anestesiologia. SBA recommendations for regional anesthesia
pode diminuir a chance de isquemia neural irreversível.2 safety in patients taking anticoagulants. Rev Bras Anestesiol.
Observa-se, na literatura, casos de complicações hemor- 2014;64:1---15.
rágicas em pacientes submetidos a bloqueios de nervos 2. Horlocker TT, Vandermeuelen E, Kopp SL, et al. Regional
periféricos tanto com hemostasia normal136-138 como Anesthesia in the Patient Receiving Antithrombotic or Throm-
em pacientes em uso de terapia antitrombótica ou bolytic Therapy: American Society of Regional Anesthesia and
coagulopatias.139-142 Embora a maioria dos casos evoluiu sem Pain Medicine Evidence-Based Guidelines (Fourth Edition). Reg
Anesth Pain Med. 2018;43:263---309.
dano neurológico, houve prolongamento da estadia hospi-
3. Vandermeulen E. Regional anaesthesia and anticoagulation.
talar, com prejuízo e insatisfação do paciente, assim como Best Pract Res Clin Anaesthesiol. 2010;24:121---31.
necessidade de transfusão de concentrados de hemácias. Em 4. Horlocker TT, Wedel DJ, Schroeder DR, et al. Preoperative
um caso houve morte por sangramento maciço.143 antiplatelet therapy does not increase the risk of spinal
A diretriz de 2018 da American Society of Regional hematoma associated with regional anesthesia. Anesth Analg.
Anesthesia revisou todos os casos de complicações hemor- 1995;80:303---9.
rágicas relacionadas a bloqueios de plexos profundos ou 5. Stafford-Smith M. Impaired haemostasis and regional ana-
nervo periférico.2 Foi encontrada uma série de 32 casos, esthesia. Can J Anaesth. 1996;43 5 Pt 2:R129---41.
sendo 14 casos em pacientes com hemostasia normal e 18 6. Horlocker TT, Wedel DJ. Anticoagulation and neuraxial block:
historical perspective, anesthetic implications, and risk mana-
casos em pacientes em uso de medicação antitrombótica ou
gement. Reg Anesth Pain Med. 1998;23 6 Suppl 2:129---34.
história de coagulopatia. A maioria das complicações hemor-
7. Moen V, Dahlgren N, Irestedt L. Severe neurological
rágicas graves ocorreu durante a realização de bloqueios de complications after central neuraxial blockades in Sweden
plexos profundos. Uma interessante observação é que em 1990-1999. Anesthesiology. 2004;101:950---9.
nenhum caso a ultrassonografia foi utilizada como método 8. Vandermeulen EP, Van Aken H, Vermylen J. Anticoagulants and
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Com o uso cada vez maior da ultrassonografia para 9. Green L, Machin SJ. Managing anticoagulated patients during
auxiliar bloqueios periféricos e de plexo, o número de neuraxial anaesthesia. Br J Haematol. 2010;149:195---208.
complicações, como punção vascular, diminuiu devido à 10. Tryba M. Epidural regional anesthesia and low molecular
visualização dinâmica das estruturas adjacentes ao nervo heparin: Pro Anasthesiol Intensivmed Notfallmed Schmerzther.
a ser bloqueado.144 Isso aumenta a segurança em pacien- 1993;28:179---81.
11. Cameron CM, Scott DA, McDonald WM, et al. A review
tes em uso de fármacos que afetam a coagulação ou com
of neuraxial epidural morbidity: experience of more than
alterações inatas da hemostasia em que a anestesia regi- 8,000 cases at a single teaching hospital. Anesthesiology.
onal é um desafio.145 Apesar de pequena, uma série de 9 2007;106:997---1002.
casos recentes mostrou que o uso da ultrassonografia para 12. Cook TM, Counsell D, Wildsmith JA. Royal College of Ana-
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