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O Plano Diretor de Curitiba

Centro Universitário Christus


Curso de Arquitetura e Urbanismo
Teoria do Urbanismo
Profª Julia Miyasaki
teoria do urbanismo
Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Antecendentes

Intenso crescimento populacional de


Curitiba de 1940 a 1960.

Crescimento desordenado da cidade.

População concentrada na Capital,


com ocupação heterogênea do
interior do estado.

Economia baseada no setor primário


(agricultura), com industrialização
pouco desenvolvida.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Antecendentes

1953 – criação do Código de Posturas e Obras do Município de Curitiba e, na


sequência, na gestão do prefeito Ney Braga, como uma tentativa de ordenar as
ações, foram criados o Conselho de Urbanismo e o Departamento Municipal de
Planejamento e Urbanismo.

Curitiba – cultura de planejamento que remonta à atuação de diversos prefeitos


ao longo de sua história, de modo que as posições que surgiram na década de
60, e que culminaram na criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano de Curitiba (IPPUC) em 1965, encontram sustentação em um ambiente
propício à prática do planejamento.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Antecendentes

Década de 1960 - grande crescimento urbano, verifica-se o processo de


expansão da cidade em duas frentes simultâneas:

(a) com a transformação da escala das construções pela verticalização

(b) com a expansão horizontal da mancha urbana em direção centrífuga e


desordenada, ocupando novas áreas dentro dos limites do município.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Origem
Necessidade de se iniciar um processo de industrialização na cidade de
Curitiba, fruto de uma política desenvolvimentista do Governo do Estado, que
visava reverter a dependência econômica estruturada apenas no setor primário.

Financiamento
Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR), órgão de fomento do
Estado.

Esta foi uma exigência do Governo do Estado, que condicionou o repasse de


recursos para a criação de uma zona industrial em Curitiba a um projeto
vinculado a um plano global de desenvolvimento da cidade.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Concorrência pública lançada pela Prefeitura de Curitiba

Lançada em outubro de 1964.

Em 30 de novembro do mesmo ano foi julgada a concorrência e decretada


como vencedora a Sociedade Serete de Estudos e Projetos Ltda. & Jorge
Wilheim Arquitetos Associados.

Equipe: arquitetos Paulo de Mello Zimbres e Rosa Kliass, além do designer


Alexandre Wollner, cuja logomarca criada para o plano acabaria por se
transformar no símbolo do IPPUC.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba (1965) – Capa e Mapa com zoneamento proposto
Fonte: VIANNA, Fabiano, 2010
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

O Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba foi entregue pelos vencedores da


concorrência em julho de 1965.

Trata-se de um volume dividido em quatro capítulos:

I – Análise da Situação;

II – Proposta do Plano Preliminar;

III – Estrutura Proposta para a elaboração do Plano Diretor;

IV – Programa de ação.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Destaca-se a criação de um grupo local para evoluir, detalhar e monitorar a


implantação do plano, fato que está na origem do IPPUC.

Diferentemente de uma proposta autoral de arquitetura e urbanismo, ou seja, de


um desenho claramente definido de cidade, Wilheim propõe um desenho
aberto, diretrizes a serem desenvolvidas coletivamente.

Soma-se a isto a estratégia de “identificar tendências históricas espontâneas”.

Assim, o desenho proposto por Wilheim é vinculado a duas premissas:

a) desenvolvimento coletivo;
b) identificação de estruturas preexistentes.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Em 1965 foi realizado o Seminário Curitiba de Amanhã, que reuniu arquitetos,


engenheiros, empresários e membros da sociedade, na discussão das
propostas do novo plano para a cidade.

Wilheim propunha também um plano aberto de diretrizes de planejamento, ao


contrário do detalhado Plano Agache.

Sugeria também a criação de um órgão que acompanhasse continuamente o


processo de planejamento, o que decorreu na criação do IPPUC em 1965.
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Jaime Lerner apresentando o Plano no Seminário Curitiba de Amanhã
Fonte: VIANNA, Fabiano, 2010
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Como integrantes da equipe local (IPPUC), passaram também a trabalhar no


desenvolvimento do plano, estabelecidos no escritório de Luiz Forte Netto
(1935-): Dulcia Aurichio, Francisca Rischbieter (1929-1989), Jaime Lerner
(1937–), José Maria Gandolfi (1933–) e Onaldo Pinto de Oliveira (1928-2001),
pelo Departamento de Urbanismo da Prefeitura, e ainda: Alfred Willer (1930-),
Almir Fernandes (1934–), Cyro Correa Lyra (1938–), Domingos Bongestabs
(1941–) e Saul Raiz, entre outros.

O Plano Preliminar de Urbanismo teve sua versão final transformada em lei, no


ano de 1966.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

A principal discussão do Plano Preliminar era qual proposta de crescimento


deveria ser a mais adequada para o futuro de Curitiba.

Cidade delimitada por um cinturão verde – parecia inviável diante da


possibilidade de um crescimento indeterminado.

A orientação de desenvolvimento a partir de eixos lineares, em contraposição à


cidade concêntrica do Plano Agache, parecia a mais adequada.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Passado o momento de implantação dos boulevards do século XIX, e sem a


possibilidade de criarem autopistas urbanas, como em Brasília, os urbanistas de
Curitiba voltaram sua atenção para a transformação das ruas existentes da
cidade.

A síntese do planejamento urbano desenvolvida pelo IPPUC, a partir das


diretrizes de Wilheim, se baseou no tripé:

Uso do solo
Transporte coletivo
Circulação
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

O Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba, coordenado por Jorge Wilheim e


entregue em 1965 se estrutura em quatro pontos principais:

1) definição da situação econômica e social com as tendências de


desenvolvimento urbanístico da cidade;

2) fixação de um cronograma de ação, elencando as obras necessárias e


passíveis de imediata execução;

3) proposta de medidas jurídicas e legislativas que permitam a adequada


execução do planejamento previsto;

4) definição dos estudos complementares necessários ao prosseguimento do


trabalho, o Plano Diretor propriamente dito.
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Diretrizes do Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba

1. Crescimento linear de um centro servido por vias tangenciais de circulação


rápida

2. Hierarquia de vias

3. Desenvolvimento nordeste-sudoeste conforme tendências históricas


espontâneas

4. Policentrismo

5. Adensamento

6. Extensão e adequação de áreas verdes

7. Caracterização de áreas de domínio de pedestres

8. Criação de uma paisagem urbana própria


teoria do urbanismo

Publicação do Plano Diretor de Curitiba (1966)


Fonte: VIANNA, Fabiano, 2010

Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba


Fonte: VIANNA, Fabiano, 2010
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

A partir de uma leitura da condição existente da cidade, a estrutura urbana


criada surge da identificação e ligação de traçados preexistentes, que passam a
conectar polos de bairros, subcentros da cidade.

Para o centro de Curitiba foi mantida a permissão de verticalização, mas o


futuro crescimento deveria acontecer em novos “centros lineares”, chamados de
Eixos Estruturais.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Ênfase na mobilidade urbana (transporte público)

O desenvolvimento do sistema trinário dos Eixos Estruturais, elaborado por


Rafael Dely, tem como principal artéria uma Via Central de tráfego lento, onde
deveria se concentrar o comércio, e por onde circularia os ônibus expressos.

As vias das outras quadras se transformariam em Vias Rápidas, uma no sentido


centro-bairro e outra em sentido inverso.

Depois de implantados, os Eixos Estruturais, onde se localizam os edifícios de


maior altura, se apresentam como uma megaestrutura para Curitiba, definindo
seu desenho urbano.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Ênfase na mobilidade urbana (transporte público)

Inspirado na proposta de Agache para a Rua XV, passou a ser obrigatório a


execução de um outro Plano Massa para estas Vias Centrais.

Embora essas galerias apresentem descontinuidade e falta de composição


arquitetônica no conjunto, o Plano Massa das Estruturais cumpriu seu papel de
espaços destinados a comércio e prestação de serviços.

A primeira linha do ônibus expresso foi inaugurada em 1974, e em 2000, o


sistema atendia milhares de pessoas, incluindo cidades da Região
Metropolitana.

A Estação Tubo e o ônibus Bi-Articulado passaram a ser os símbolos do


sistema.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Ênfase na mobilidade urbana (transporte público)

- Criação de binários

- Criação de vias coletoras nos caminhos de acesso à cidade, com circulação


de ônibus e comércio de bairro com características específicas.

- Um Anel Central circundando o centro da cidade, isolou a área do tráfego de


veículos, de modo a otimizar a circulação exclusiva para pedestres nas
principais vias do centro.

- O calçadão da Rua XV, com mobiliário urbano desenhado por Abrão Assad
(1940–), passou a ser um dos símbolos do planejamento urbano de Curitiba.
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Calçadão Rua XV de novembro, Curitiba
Plano Preliminar de Urbanismo de
Curitiba
(Consórcio SERETE)

Ênfase na mobilidade urbana (vias


pedonais)

- Extensão do calçadão para outras


quadras do Setor Histórico;

- Criação das Unidades de Interesse


de Preservação – UIP, recompondo a
memória da ocupação histórica da
cidade.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
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O plano diretor de Curitiba foi o primeiro a integrar o planejamento da paisagem


no seu escopo, elaborado pela arquiteta Rosa Grena Kliass.

A metodologia adotada identificou as necessidades de áreas verdes,


confrontando a oferta existente com a demanda a ser criada pelo
desenvolvimento urbano, de acordo com as diretrizes do plano.

A proposta consistiu no estabelecimento de critérios de hierarquização para a


constituição do sistema de espaços livres.
Parque Barigui, Curitiba
Parque São Lourenço, Curitiba
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Com a posse do arquiteto Jaime Lerner como prefeito de Curitiba, em 1971,


tiveram início as transformações urbanas na cidade.

Fatores que contribuíram para a implantação do plano (década de 1970):

▪ “milagre econômico”

▪ Forte intervenção estatal


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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Uma nova lei de zoneamento, aprovada em 1975, durante a gestão do prefeito


Saul Raiz, passou a ser ferrenhamente defendida e mantida pelos urbanistas da
prefeitura.

Nesta lei, o uso do solo, seus desdobramentos de coeficiente de


aproveitamento e de altura dos edifícios, estava atrelado às concepções dos
Eixos Estruturais e do Sistema de Transporte Coletivo.

As três gestões consecutivas na Prefeitura, com a mesma equipe de urbanistas,


garantiu o sucesso da implementação do urbanismo de Curitiba.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
(Consórcio SERETE)

Posterior a Brasília, a experiência de Curitiba foi das mais importantes ocorridas


no Brasil, na segunda metade do século XX.

Uma de suas características foi adoção de conceitos desenvolvidos pelos


últimos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna – CIAMs, de
intervenção em cidades existentes a partir de suas vocações locais.

Curitiba se estruturou como cidade, devido ao seu processo de planejamento,


que teve início em 1965, e a presença do Estado, como indutor de
desenvolvimento.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
Desdobramentos

O IPPUC desenvolveu uma arquitetura destinada aos inúmeros parques


implantados, com forte inspiração em uma estética da contra-cultura dos anos
1960, como se observa no uso de antigos postes de madeira, tendo como
melhor exemplo a edificação projetada em 1992, por Domingos Bongestabs,
para a Universidade Livre do Meio Ambiente – Unilivre.

Em seu terceiro mandato como prefeito, eleito por voto direto, Jaime Lerner
equipou a cidade com projetos emblemáticos.
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Plano Preliminar de Urbanismo de Curitiba
Desdobramentos

O enfraquecimento da ação do Estado e o surgimento de uma economia de


mercado, fizeram com que diminuísse consideravelmente a possibilidade de
grandes intervenções nas cidades.

Contrastando com as administrações anteriores de caráter técnico, foram


implantados diversos parques temáticos, de grande interesse popular, como o
Jardim Botânico e o Teatro Ópera de Arame, característicos de uma visão pós-
moderna, segundo Jencks, em relação aos Centros Funcionais de Alfred
Agache.
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