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PROCEDIMENTO TÉCNICO – ADMINISTRAÇÃO DE TERAPÊUTICA INALATÓRIA COM

RECURSO A CÂMARA EXPANSORA

A via inalatória é a via de eleição para a administração de fármacos no tratamento das doenças
respiratórias.
A idade pediátrica tem particularidades, como frequência respiratória elevada, débitos inspiratórios
baixos, estreitamento das vias aéreas, inspiração por via nasal e choro, que podem reduzir a fração
de fármaco depositada a nível pulmonar a valores sub-terapêuticos.
Quando a criança inspira inconscientemente pode-se optar por um inaladores pressurizados
doseáveis (pMDI – pressurized metered dose inhaler); estes são utilizados associados a câmara
expansora ou nebulizador, em combinação com máscara facial (Fontes, 2015).
A utilização de câmara expansora associada a um pMDI aumenta a eficácia do inalador
pressurizado doseável, melhorando as características do aerossol, permitindo uma maior
deposição do fármaco nas vias aéreas inferiores e menor deposição na orofaringe. As câmaras
expansoras podem ser de grande e pequeno volume, com bucal ou com máscara facial (DGS,
2013).
O pMDI com câmara é preferido pelas crianças e pais, pela maior rapidez de administração,
portabilidade e ausência de necessidade de fonte externa de energia. Além disso o uso das
câmaras expansoras associadas aos pMDI, em contexto de internamento e no serviço de urgência,
são os dispositivos mais simples, de primeira opção, para administração da terapêutica inalatória,
atingindo efeitos terapêuticos muito mais rápidos (Aguiar, et al., 2017).
Conforme é referido pela DGS (2014) no “Manual para abordagem da sibilância e asma em idade
pediátrica” a monitorização da adesão à terapêutica e a adequada técnica inalatória são
fundamentais para assegurar a eficácia do tratamento (DGS, 2014).
A prescrição de terapêutica por via inalatória é um ato que deve obedecer a normas de utilização:
1. As indicações de uso dos dispositivos ao doente/família devem ser dadas verbalmente e por
escrito, com demonstração prática de utilização, idealmente com placebo;
2. A reavaliação da técnica inalatória deve ser feita frequentemente com reforço do ensino ao
doente/ família;
3. Tem que haver adequação do dispositivo às capacidades cognitivas e físicas do doente assim
como à situação clínica;
4. Nas crianças com idade superior a 6-7 anos a técnica de inalação e os dispositivos de inalação
são semelhantes aos indicados para o adulto;
5. Nas crianças com idade inferior a 6-7 anos deve-se sempre utilizar o pMDI associado a câmara
expansora;
6. Em situação de crise de asma e independentemente da idade recomenda-se o uso do pMDI
associado a câmara expansora;
7. A câmara expansora com máscara deve ser utilizada nas crianças abaixo do 4 anos e sempre
que se verifique dificuldade no uso do bucal;
8. Nas crianças com idade superior a 6-7 anos, os inaladores de pó seco são os preferencialmente
indicados (verifica-se menos erros na técnica de inalação). É no entanto obrigatório confirmar que
a criança tem capacidades cognitivas para o seu uso e débito inspiratório necessário à ativação
do inalador (variável entre os DPI por diferentes resistências intrínsecas de cada um);
9. Para permitir uma maior expansão torácica a inalação deve ser realizada na posição de pé,
sentado ou semi-sentado;
10. Deve-se optar por prescrever, para os diferentes fármacos, o mesmo tipo de dispositivos
(diminuição dos erros nas técnicas de inalação);
11. Quando indicados múltiplos fármacos, a sequência da inalação deve ser os broncodilatadores
5 a 10 minutos antes dos corticosteroides (DGS, 2013).
TÉCNICA COM INALADOR PRESSURIZADO DOSEÁVEL + CÂMARA EXPANSORA
Previamente ao procedimento, se necessário, deve ser permeabilizada a via aérea
Preparar material: Luva de proteção, soro fisiológico, seringa, recipiente para sujos e tabuleiro.
Realização da limpeza das vias aéreas: Calçar luva de proteção; Instilar soro fisiológico nas
fossas nasais com a seringa; Limpar narinas com compressa limpa /lenço de papel.
Preparar material para a administração de terapêutica inalatória com auxílio da câmara
expansora

• Inalador pressurizado prescrito (pode ter mais que um)


• Câmara expansora com/sem máscara
TÉCNICA:

• Explicar à criança/ família o procedimento


• Lavar as mãos

1. Antes da utilização retirar o contentor


cilíndrico da embalagem, aquecer entre as
mãos e adaptar novamente
Deve ativar-se o pMDI para o ar ambiente na
1ª utilização e sempre que haja intervalo de
vários dias entre o seu uso.

2. Retirar a tampa e agitar bem a embalagem

3. Adaptar a embalagem à Câmara Expansora

4. Colocar a criança em pé, sentado ou semi-sentado


5. Pedir à criança para efetuar uma expiração lenta (idealmente até à capacidade de reserva
funcional)
6. Pedir para colocar o bucal da câmara entre
os dentes, cerrar os lábios
Se máscara adaptar bem à face para obstruir
as narinas e não haver fuga

7. Confirmar que a criança está a respirar


lentamente e pressionar o contentor cilíndrico
(só uma ativação) mantendo a Câmara
Expansora na posição horizontal (não agitar a
Câmara expansora; intervalo entre a ativação
e inspiração inferior a 10 segundos.)

8. Se utilizar a máscara, verificar que respira lentamente, para realizar pelo menos 5 ciclos
respiratórios (entre 10 a 15 segundos, alguma literatura 20 segundos)
9. Desadaptar o bucal ou afastar da face a máscara. Antes de repetir nova inalação esperar
entre 30 a 60 segundos)
10. Repetir os passos anteriores (3 a 9) se realizar nova inalação.
11. Lavar / bochechar a boca com água se corticoide (NÃO ENGOLIR)
12. Fazer registos Salientar a aprendizagem e habilidades dos
pais e a criança demonstrada na realização o
procedimento; reação da criança à
terapêutica. Incluir no plano de educação da
criança/família a manutenção adequada do
dispositivo (A) e todos os cuidados a ter com a
terapêutica (B) (C). Sempre que possível deve
ser fornecido aos pais a instrução por escrito
do procedimento(D).
A) No final de cada tratamento limpeza do bucal dos pMDI e DPI com lenço de papel. Após cada
utilização de máscara, lavagem com água quente e detergente suave e secar.
Deve ser lavada a câmara expansora no mínimo 2/3 vezes por mês, desmontando todas as peças
possíveis e colocá-las em recipiente com água quente e detergente suave, durante 15minutos.
Passá-las por água limpa, sacudir e deixar secar ao ar ambiente.
B) Verificação do número de doses existentes através de contador de doses. Para o pMDI, sem
contador não há forma exata de o fazer. O cálculo das doses existentes baseado no número de
inalações é sempre aproximado, mas deve ser avaliado.Confirmação dos prazos de validade.
C)Guardar os dispositivos em lugar limpo, não os expor a temperaturas elevadas. Os DPI sem
proteção da dose em blister não devem ficar em ambientes com grande humidade (casas de
banho).
D) Para ensino e avaliação das técnicas de inalação, devem ser seguidas listas de procedimentos
que identifiquem os erros e que ajudem a corrigi-los.

Referências Bibliográficas:
Aguiar, Rita , et al. 2017. Terapêutica inalatória: Técnicas de inalação e dispositivos inalatórios.
REVISTA PORTUGUESA DE IMUNOALERGOLOGIA. 25, 2017, Vol. 1, pp. 9-26.

DGS. 2017. Ensino e Avaliação da Técnica Inalatória na Asma. Orientação Técnica 010/2017.
2017.

—. 2014. MANUAL PARA ABORDAGEM DA SIBILÂNCIA E ASMA EM IDADE PEDIÁTRICA. s.l. :


PNDR, 2014.

—. 2013. Programa Nacional para as Doenças respiratórias. Programa Nacional para as


Doenças respiratórias 2012-2016. 2013.

—. 2013. Utilização de Dispositivos Simples em Aerossolterapia. Orientação Técnica 010/2013.


2013.

Fontes, Ana Patrícia Boiça. 2015. Dispositivos Inalatórios: a Escolha e a Otimização da


Terapêutica Inalatória. Coimbra : Universidade de Coimbra, junho 2015.

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