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Weber and the critical theorists began their investigation from disparate, if not actually
opposing premises: Weber argued for value-neutrality and casual logic, opposed
socialism, and supported the German Machtstatt. The critical theorists opposed the
bifurcation of fact and value, were neo-Marxists dialecticians, and regarded
nationalism as a cruel and unfortunate ideology. (...) Yet, these polar varieties of
sociological thought arrived at quite similar conclusions about a world of total
administration (GREISMAN; RITZER, 1968, p . 49).
Weber partia da neutralidade axiológica nas ciências, ancorando o seu método em uma
premissa de neutralidade diante do fato dado. Adorno, por outro lado, tece as mais variadas
críticas a essa posição, cujos exemplos mais ferrenhos podemos ver na primeira seção da
Dialética do Esclarecimento, em suas aulas de sociologia, com tradução em português1, ou
no texto Der Positivismus in der deutschen Soziologie2, e para quem aceitar a primazia do
dado é deixar de
compreender o dado enquanto tal, [de] descobrir nos dados não apenas suas
relações espaço-temporais abstratas, com as quais se possa então
agarrá-las, mas ao contrário pensá-las como a superfície, como aspectos
mediatizados do conceito, que só se realizam no desdobramento do seu
sentido social, histórico, humano (ADORNO, 1985, p. 34).
1
ADORNO, Theodor. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Unesp, 2007.
2
Darmstadt e Neuwied: Luchterhand, 1989. Em inglês Positivist Disput in German Sociology.
Ashgate, 1981.
histórico. É necessário considerar, primeiro, essa diferença fundamental entre Weber e
Adorno para que não se corra o risco de aproximar pontos de partida distintos, que acabam
por diagnosticar cenários semelhantes.
3
Dirá Greisman: Weber’s work is studded with his affirmations of a theory of ‘pluralist causality’ that
throws out the Marxian position that social and cultural forms issue from the production based
substructure of human organization. In an essay on method, Weber stated his case succinctly, “...the
historian’s problem of causality also is oriented towards the correlation of concrete effects with
concrete causes, and not towards the establishment of abstract uniformities”. Tal afirmação evidencia
a contraposição de Weber, a nível metodológico, a Adorno, com sua dialética de cunho marxiano e,
mais do que isso, evidencia a neutralidade axiológica enquanto pressuposto do diagnóstico
weberiano da sociedade, ao encarar os acontecimentos enquanto relações de causa e efeito tão
somente.
4
Dirão Greisman e Ritzer (1981, p. 36): Weber’s conservative sympathies led him to applaud the
efficiency of the bureaucracy, he recoiled at its dehumanizing effects.
5
WEBER, Max. Economy and Society. New York: Bedminster Press, vol. 1, 1968, p. 223 apud
GREISMAN; RITZER, 1981. pp. 34-55.
sobretudo após a Dialética do Esclarecimento. É em Die Verwaltete Welt: die Krise des
Individuums que a figura de cada indivíduo enquanto preso a um todo que não mais o
permite viver é mencionada por Adorno e Horkheimer6, em um tom muito semelhante ao
empregado por Weber em Economia e sociedade, no trecho supracitado.
Isso não dispensa considerações sobre o que se quer dizer com “administração”:
não se trata mais apenas de instituições estatais ou comunais imaculadamente
isoladas do livre jogo de forças sociais. Em coerência com o método de definição
formal de sua obra tardia, Max Weber designou como imanente, em Wirtschaft und
Gesellschaft, a tendência do funcionamento burocrático à expansão quantitativa e
qualitativa. Burocracias devem, segundo sua própria lei, expandir-se. (...) Em
essência, Weber fundamenta essa tese pela superioridade técnica da administração
de tipo organizacional à de tipo tradicional (ADORNO, 2020, p. 244).
6
No texto citado, Adorno e Horkheimer trazem uma concepção de mundo em que - citando
Ferdinand Kürnberger, das Leben lebt nicht (a vida não vive); os indivíduos estão cada vez mais
presos a um todo administrado “de cima” (1989, p. 123), um controle que, ultrapassando as esferas
da administração departamental, conforme podemos observar com maiores detalhes em Cultura e
administração (São Paulo: Editora Unesp, 2020), é exercido na própria vida dos indivíduos, que
precisam se adequar às normas daquilo que de antemão já é estabelecido - e podemos nos referir,
para citar alguns exemplos, a comportamentos, funções desempenhadas na sociedade, visões de
mundo e os mais diversos aspectos da subjetividade que se perdem em prol de um arranjo
administrado objetivo. Os trabalhadores são reduzidos às funções que desempenham; os indivíduos,
ao que consomem e ao papel social que a eles é atrelado. Todos são instrumentos de manutenção
do todo social.
7
Cf. COHN, Gabriel. Adorno, Weber e o curso do mundo, 2020.
8
Em Adorno in America (2007), Jenemann mostra como Adorno contrapunha a questão do
inconsciente (fundamental para analisar a manipulação sociopsicológica praticada pelo rádio) ao
mero dado factual: se as pessoas eram levadas a agir por motivos que também eram inconscientes,
seria necessário mais do que a análise das aparências para constatar o que, de fato, elas pareciam
preferir. Assim, o dado é mera aparência - e é preciso que um diagnóstico preciso tenha uma análise
mais profunda.
9
Conforme atestado por Weber em Economia e sociedade (2004, p. 212): a razão decisiva do
avanço da organização burocrática sempre foi sua superioridade puramente técnica sobre qualquer
outra forma.
As citações de Adorno a Weber se estendem por todo o texto, salientando características
comuns à burocracia, tais como: precisão, celeridade, clareza, habilidade documental,
continuidade, discrição, uniformidade, estrita subordinação, redução de despesas com atrito
material e pessoal (ibidem). Adorno então salienta o cerne da compreensão weberiana
acerca da burocracia: a correlação entre meios e fins que, para ele, impede a racionalidade
dos fins (ibidem)10. Essa compreensão de racionalidade meio-finalística é o fundamento da
dominação legal (legale Herrschaft) de tipo burocrática. A crítica de Adorno fundamenta-se
diante de uma posição que questiona esse mesmo tipo de razão - que recebe a alcunha de
razão instrumental.
Além da importante citação a Weber feita por Adorno e supracitada, é imprescindível citar a
declaração que o frankfurtiano fez a respeito das jaulas de ferro oriundas da burocratização
weberiana: “levou mais de quarenta anos desde a morte de Weber para que pudéssemos
observar a mais mortal e mais sufocante implicação da autoridade burocrática: o mundo
administrado”11. Assim, embora seja verdade que os discursos weberianos a favor da
neutralidade axiológica12 e a facticidade presente em seu método o tenham impedido de
adentrar uma teoria dialética tal como a de Adorno e Horkheimer, o sociólogo estava atento
às implicações que a organização social traria. É justamente a essa divergência de método
(Weber, neutro e causal; Adorno, um dialético que se recusava a separar teoria e valoração)
que Cohn (2020) se refere ao trazer a imagem de Adorno enquanto promessa,
contrapondo-a ao destino (inexorável) presente na teoria weberiana. Afinal, a filosofia
dialética de Adorno, embora também compreenda que a administração total impede que os
indivíduos vivam as suas próprias vidas (1989, p. 129), é negativa o suficiente para
compreender que há brechas no todo nas quais a esperança reside, sejam elas a distância
que insiste em permanecer entre o conteúdo que é apresentado pela televisão e o que os
indivíduos dele levam13, seja diante daqueles que insistem em exercer a crítica14,
10
Afinal, para Adorno (2020, p. 244), na própria teoria da racionalidade de Weber pode-se suspeitar a
presença latente da racionalidade administrativa.
11
STAMMER, Otto (ed.). Max Weber und die Soziologie heute. Tübigen: J.C.B Mohr. apud
GREISMAN; RITZER, 1981. p 53. Tradução nossa.
12
Cf. WEBER, Max. O sentido da ‘neutralidade axiológica’ nas ciências sociais e econômicas. In.:
Metodologia das ciências sociais (parte 2), tradução de Agustin Wernet (3ª ed.), São Paulo, Cortez,
Campinas, Editora Unicamp, 2001.
13
Cf. Tempo Livre (Paz e Terra, 2009), Theodor W. Adorno: Indústria cultural e crítica da cultura
(Papirus, 2008), Transparências do filme (Editora Unesp, 2021).
14
Cf. ADORNO, T. W. Resignação. In.: Indústria Cultural. São Paulo: Editora Unesp, 2020.
distanciando-se daquilo que é reforçado mesmo pelos mais extensos coros. É a
sobreposição da teoria ao fato dado que permite a Adorno compreender a sociedade como
uma falsa totalidade na qual os acontecimentos não se seguem de maneira unívoca, linear
ou causal, mas antes enquanto tendências múltiplas, divergentes e opostas que, mesmo
sendo cada vez mais suprimidas, não foram completamente acorrentadas - tal como as
jaulas de ferro weberianas teriam constatado. (INSERIR TRECHOS DA DIALÉTICA
NEGATIVA DE MARCOS NOBRE). A esse respeito, diz Cohn: pode-se dizer que há algo
de resignado no destino weberiano e algo de subversivo na promessa adorniana, por mais
pessimistas que ambos sejam com relação ao mundo e seu futuro caso suas tendências
não viessem a se modificar radicalmente.15 (2020, p. 411).
Ao unir cultura e administração sob um mesmo escopo, Adorno torna evidente que a
indústria cultural, ao assumir os pressupostos burocráticos já antecipados por
Weber na produção de bens de consumo pretensamente culturais, radicaliza o
movimento de integração já promovido pela administração burocrática também em
um âmbito sociopsicológico. É, afinal, como o próprio frankfurtiano diz, de uma
dominação sociopsicológica que se trata, conforme atestado em Cultura e
administração (checar). Tal é o movimento que torna interessante a análise das
proximidades e dos distanciamentos entre Adorno e Weber.
15
Lembrando, porém que, conforme o próprio autor diz, pouco antes: cabe lembrar, neste ponto, que
a ideia de promessa não se confunde com a de esperança. Esta é basicamente uma atitude passiva
e pouco afeita ao ato efetivo. Já a ideia de promessa, em especial no modo como aqui se sugere que
podemos ler Adorno, é performativa, envolve compromisso com a ação, sem, no entanto, oferecer
segurança de êxito (2020, p. 411).
Administração, burocracia e indústria cultural
16
É na Dialética do Esclarecimento que o termo indústria cultural é usado pela primeira vez por
Adorno e Horkheimer (cf. ADORNO, 2020, p. 109).
argumentação de Adorno, que visa mostrar como a sociedade tem deixado cada vez menos
espaço para manifestações subjetivas em prol de um arranjo administrado. Entretanto, é na
Dialética do Esclarecimento que compreendemos a posição de Adorno, que, conforme
supracitado, mantém a sua investigação dialética, tratando a racionalidade na qual a
indústria cultural se ancora para manter-se como um fenômeno que, embora tenha
tendência à expansão, coloca-se menos como algo inexorável do que na teoria de Weber.
Isso porque, para Adorno, um fenômeno não pode ser resumido ao dado, a como ele
aparece - e o frankfurtiano busca na história possíveis explicações para acontecimentos
presentes à sua época. Escrita durante a Segunda Guerra, a Dialética do Esclarecimento
busca atingir o conceito na negação determinada de cada dado imediato (Adorno, 1985, p.
34), visando atingir efetivamente o objeto (Adorno, 1985, p. 25). Aqui, o que prevalece é a
dialética, contra o pensamento positivista. Se abrirmos mão da investigação positivista para
adotarmos um método que pensa a negação do que está aparentemente dado, o resultado
é a busca pela negação determinada do todo administrado e, por isso, por mais que a
indústria cultural atinja o seu ápice no mundo administrado (tendo papel fundamental para a
sua perpetuação) e as possibilidades de negação dessa totalidade se tornem cada vez mais
escassas, colocá-las como um destino inexorável não está em conformidade com a postura
adorniana - que ganha novos contornos com a publicação da Dialética Negativa, rompendo
com a noção de totalidade.
Para evidenciar com maior propriedade o papel da indústria cultural no mundo administrado,
torna-se necessário perpassar as diferentes fases do pensamento adorniano. Afinal, é em
Tempo Livre (1969), texto oriundo da época tardia do pensamento de Adorno - que inclui
outros ensaios da mesma década -, que o frankfurtiano traz um novo cenário diante da
atuação da indústria cultural sobre as massas:
17
O mesmo diagnóstico pode ser encontrado em Résumé sobre Indústria Cultural (1962), onde
Adorno se refere a uma consciência cindida dos espectadores, que se divide entre o divertimento que
a indústria cultural lhes ministra planejadamente e uma dúvida a respeito de suas benesses. Na
mesma página, Adorno conclui, com pesar: o ditado segundo o qual o mundo quer ser enganado
tornou-se mais verdadeiro do que nunca. (2021, p. 116). Tal aceitação gravita em torno do que
Sob a ótica interdisciplinar adotada por Adorno, percebemos que o diagnóstico do
mundo administrado que traz em si a influência da “jaula de ferro” weberiana analisa
não somente a sua relação com o capitalismo (embora ela também seja um fator
fundamental), mas também o seu impacto psicológico sobre os indivíduos, o que
complexifica a questão e torna o problema mais grave, ao mesmo tempo em que
traz novas possibilidades de mudança, que se ancoram no resquício do senso
crítico restante em cada indivíduo. Se é bem verdade que o cenário é diferente
daquele traçado por Marx, conforme Adorno dirá em Capitalismo tardio ou
sociedade industrial? (1986) [inserir citação], os desafios frente à dominação
ganham, agora, novas nuances.
Adorno define como uma espécie de satisfação substitutiva, mas que jamais chega a ser satisfação
de fato (ibid.).