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1
Juiz de Fora
Editora UFJF
2019
© Editora UFJF, 2019
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O conteúdo desta obra, além de autorizações relacionadas à permissão de uso de imagens ou textos
de outro(s) autor(es), são de inteira responsabilidade do(s) autor(es) e/ou organizador(es).
Gráficos e Tabelas
Hsu Ya Ya e Vinícius Guida
Ao Vitor Reia,
Determinado, irreverente e visionário. Companheiro
de muitas jornadas. Seu espírito irrequieto e seu
olhar atento sempre nos inspirava com outras formas
de ver e entender o mundo. Nos deixou muito cedo,
mas continuaremos o seu legado.
Agradecimentos
13 Apresentação
Gabriela Borges e Márcia Barbosa da Silva
PARTE 1:
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS: DIMENSÕES, CONTRASTES E
APROXIMAÇÕES EM DIFERENTES CONTEXTOS BRASILEIROS
PARTE 3
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
392 Autores
PREFÁCIO
Competências Midiáticas no Brasil: um estudo
dos novos cenários comunicativos
Jose Ignacio Aguaded Gomez
10
e consumir com critérios críticos e de modo proveitoso o conteúdo
digital e midiático. Não se trata apenas de consumir de forma reflexiva
as mensagens da mídia e do ambiente digital, mas também de produzir
e disseminar de forma satisfatória conteúdos de qualidade, criativos
e úteis, ao interagir, debater e compartilhar conteúdos criados por
outros usuários.
Em suma, educadores, famílias, organizações públicas (e
inclusive privadas) enfrentam um fenômeno que está subjacente
no núcleo social internacional, seja em ambientes enriquecidos ou
em desenvolvimento, com impacto no saber-fazer cotidiano sob a
perspectiva da alfabetização básica, cultural e tecnológica.
A convergência de mídias combina plataformas tradicionais
e digitais, exigindo que cidadãos de todo o mundo desenvolvam
uma série de habilidades inatas e essenciais para se estabelecerem
funcionalmente na sociedade.
Nesse contexto social e cultural, surge o prólogo para o
livro “Competências midiáticas em cenários brasileiros: interfaces entre
comunicação, educação e artes”, coordenado pelas Profa. Dra. Gabriela
Borges (Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais - Brasil) e
Profa. Dra. Márcia Barbosa da Silva (Universidade Estadual de Ponta
Grossa), que converge a abordagem de pesquisa, teórica e prática.
Uma pesquisa básica para a cidadania, que levanta uma revisão da
literatura sobre as dimensões da competência midiática, bem como
um panorama da situação atual em questões educomunicativas em
diferentes contextos brasileiros.
A primeira parte apresenta um estudo, endossado pela Rede
Alfamed no Brasil, no qual são descritos os resultados obtidos em
torno das competências de crianças, jovens, estudantes e professores
universitários e profissionais de comunicação, nas novas formas de
participação cultural e midiática. Uma análise de notável interesse para
a comunidade científica brasileira e latino-americana, que avalia os
desafios e as possibilidades para o conhecimento humano oferecidos
PREFÁCIO
11
práticas”, destacando a importância do desenvolvimento de
experiências que permitam a formação permanente de professores
em questões educomunicativas e o uso de conteúdo audiovisual de
qualidade que favoreça o desenvolvimento da competência midiática
de crianças e jovens através de meios como, por exemplo, o cinema.
Também existem estudos que contribuem para a leitura crítica do
mundo a partir de espaços formais do ensino superior, um espaço
privilegiado para a educação para a mídia.
A última e terceira parte concentra-se na análise crítica de
conteúdos midiáticos e criativos, incluindo estudos e reflexões sobre
fenômenos como as ‘fanfics’, o YouTube ou as redes sociais. Neste caso,
se ressalta o uso frutífero do conhecimento adquirido em ambientes
informais dentro da sala de aula, para que as plataformas digitais e as
narrativas culturais dos jovens sejam integradas e controladas a partir
de uma perspectiva singular, profissional e especializada.
Em resumo, é apresentado um estudo que combina pesquisa
rigorosa e sistemática com propostas práticas, gerando uma proposta
valiosa para a comunidade educacional, as famílias e os orgãos do
governo. Não há dúvida de que conhecer (e reconhecer) o grau de
competência midiática dos alunos pode ajudar os professores a
desenvolverem experiências educacionais inovadoras com base nas
necessidades, interesses e habilidades de seus alunos a fim de que
promovam a aquisição de habilidades, conhecimentos e atitudes
necessárias para se desenvolverem satisfatoriamente na era digital e
na sociedade da informação.
Este livro, surgido por iniciativa da Alfamed-Brasil, portanto,
fornece uma visão enriquecedora que, a partir das bases e conceitos
fundamentais da competência midiática e os novos e incansavelmente
renovados ambientes digitais, contribui de forma inequívoca para o
aprofundamento de práticas educacionais que têm sido desenvolvidas
no contexto brasileiro.
PREFÁCIO
12
APRESENTAÇÃO
APRESENTACÃO
Gabriela Borges e Márcia Barbosa da Silva
14
midiática (media literacy) envolve competências relacionadas ao
contexto das novas literacias (ou das literacias emergentes). A
literacia midiática é definida como a capacidade de acessar, analisar
e avaliar o poder de imagens, sons e mensagens que confrontam o
sujeito contemporâneo, assim como comunicar de forma competente
através das mídias disponíveis. O objetivo da literacia midiática é
aumentar o conhecimento sobre as diversas formas de mensagens
midiáticas presentes na vida contemporânea e ajudar os cidadãos a
compreenderem a forma como as mídias filtram percepções e crenças,
formatam a cultura popular e influenciam as escolhas individuais.
A literacia midiática deve habilitar os cidadãos para o pensamento
crítico e a resolução criativa de problemas a fim de que possam ser
consumidores sensatos e produtores de informação (BORGES, 2014).
O estudo sistematizado da literacia midiática tem início a partir
de iniciativas da Unesco relacionadas com a educação para as mídias
e tem sido impulsionado também pelos estudos financiados pela
Comissão Europeia. A primeira iniciativa da Unesco foi a Declaração
de Grünwald em 1982, que impulsionou o desenvolvimento de ações
no campo da educação para as mídias. A segunda iniciativa foi a
Conferência New Directions in Media Education em Toulose em 1990,
que sistematizou e propôs uma definição mais precisa do campo. Em
1999 foi organizada a Conferência Educating for the Media and the
Digital Age em Viena, que apresentou um novo olhar sobre a educação
para as mídias no contexto do desenvolvimento tecnológico e da nova
era da comunicação. Em 2002 o Seminário Youth Media Education em
Sevilha ressaltou a necessidade de agir por meio de políticas ativas
de promoção nas seguintes áreas: 1) Investigação; 2) Formação; 3)
Cooperação entre escolas, mídia, ONGs, setor privado e instituições
públicas; 4) Consolidação e promoção da esfera pública da sociedade e
do seu relacionamento com as mídias.
APRESENTAÇÃO
15
Information Literacy (MIL). Em 2003 foi assinada a Declaração de Praga:
Towards Information Literate Societies, em 2005 a Proclamação de
Alexandria: Information Literacy and Lifelong Learning; em 2007 foi
assinada a Agenda de Paris: 12 Recommendations on MIL (2007) e
em 2011 a Declaração de Fez sobre MIL.
Mesmo participando de órgãos internacionais que incentivam
a adoção de políticas de fomento à literacia midiática como a Unesco
e a Aliança das Civilizações, as iniciativas políticas relacionadas aos
estudos sobre literacia midiática ainda necessitam ser reconhecidas
como uma área estratégica de investimento público no Brasil. Isso
pôde ser notado quando da realização da reunião da Aliança das
Civilizações no Rio de Janeiro em 2010, na qual a literacia midiática
não teve destaque no documento final.
Com o objetivo de promover a literacia midiática em âmbito
português e latino-americano, foi divulgada a Declaração de Braga no
Congresso Nacional sobre Literacia, Media e Cidadania realizado na
Universidade do Minho, em Portugal, em 2011. O documento enfatiza
que “a educação para um uso esclarecido e crítico da mídia é uma
dimensão autónoma da educação para a cidadania”.
Em 2011, a Unesco lançou o livro Media and Information
Literacy: curriculum for teachers. Uma versão em português foi
publicada em 2013, em parceria com a Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM). Desde 2010, esta universidade começou
a testar o modelo na disciplina Comunicação, Educação e Tecnologia,
ofertada aos licenciandos de História e Geografia. Os primeiros
resultados dessa experiência sugerem que a proposta da UNESCO
é viável para a realidade brasileira, mas há carência de recursos
educacionais apropriados, a exemplo do que ocorre em outras áreas
do ensino.
Reconhecendo que para alcançar níveis adequados de literacia
APRESENTAÇÃO
16
Guidelines. O documento está sendo testado na UFTM e vem sendo
discutido em diferentes foros de pesquisa. Em maio de 2013, o
Ministério da Justiça reuniu professores de diversas universidades
do Brasil para discutir ações que promovam o conhecimento sobre
a classificação indicativa, tendo como suporte a mídia-educação e os
documentos da UNESCO.
Outra declaração que podemos destacar no âmbito latino-
americano foi assinada em Havana em 2012, durante o Seminário
"Lições Aprendidas em Programas de Literacia da Informação na Ibero-
america" que retoma aspectos importantes em termos conceituais,
filosóficos e propositivos de declarações anteriores (PRAGA, 2003;
ALEXANDRIA, 2005; TOLEDO, 2006; LIMA, 2009; PARAMILLO, 2010;
MURCIA, 2010; MACEIÓ, 2011; FEZ, 2011) para “propor ações práticas e
concretas segundo a perspectiva do trabalho colaborativo e da geração
de redes para o crescimento da literacia da informação em diferentes
contextos”.
Neste mesmo ano foi assinada a Declaração de Moscou sobre
MIL (2012) no âmbito da Unesco e nos anos seguintes destacam-se os
documentos Framework and Action Plan of the Global Alliance for
Partnerships on MIL (2013), Declaração de Paris MIL in the Digital
Age (2014) e as Recomendações de Riga Media and Information
Literacy in a Shifting Media and Information Landscape (2016).
Ressaltamos também a tradução para o português do
documento Marco de Avaliação Global da Alfabetização Midiática
e Informacional (UNESCO, 2016) que fornece ferramentas para os
gestores de políticas públicas desenvolverem estratégias e ações
concretas para garantir a aquisição de competências midiáticas
e informacionais a todos os cidadãos. A Unesco defende que a
Alfabetização Midiática e Informacional é uma das “pré-condições
do desenvolvimento sustentável e ajudará a garantir que todos
APRESENTAÇÃO
17
Os levantamentos feitos pelos grupos de pesquisa indicaram
que a produção nesse campo, no contexto internacional, teve um
crescimento em relação à constituição do conceito de competências
midiáticas inclusive com elaboração de referenciais curriculares
específicos para essa área (PEREIRA et al, 2014; WILSON et al, 2013). No
contexto nacional essa produção não cresceu no mesmo ritmo (SILVA;
DIAS, 2016).
Em levantamento de 2018, estão registrados no diretório de
Grupos de Pesquisa do CNPQ 10 grupos de estudos com a palavra-chave
<mídia-educação>, 10 grupos com a palavra-chave <comunicação
e educação>, 4 com a palavra-chave <competências midiáticas> e
apenas 2 com a palavra <literacia midiática>, o que comparado a outras
palavras-chave como, por exemplo, didática (409 grupos) e consumo
(629 grupos) demonstram o quanto ainda é preciso ampliar o número
de pesquisadores estudando e produzindo conhecimento sobre essa
temática.
No contexto brasileiro, a discussão sobre o papel das
mídias e a consequente necessidade de estudos e pesquisas sobre o
desenvolvimento de competências midiáticas tem se dado de maneira
um tanto dispersa e não conta com o apoio de políticas públicas
específicas como é o caso, por exemplo, das iniciativas adotadas no
âmbito da União Europeia. A área da comunicação no Brasil começa
a despertar para a importância dos estudos da media literacy sob o
ponto de vista da comunicação, em decorrência, principalmente, do
desenvolvimento de pesquisa por autores como Jenkins (2006, 2013)
e Scolari (2017). Porém, as pesquisas ainda são escassas e acreditamos
que esta pesquisa contribui para colmatar esta lacuna.
Neste sentido, destacamos a nossa contribuição realizada
em 2017 durante o II Congresso Internacional sobre Competências
Midiáticas, organizado pelo grupo de pesquisa Comunicação, Arte e
APRESENTAÇÃO
18
desenvolvimento da literacia midiática nas ações das equipes dos
países que integram a rede.
Para Fantin (2012, p. 81-2) embora haja experiências
desenvolvidas na área da mídia-educação em diferentes segmentos
como escolas, ONGs e grupos de pesquisa, “ainda temos um longo
caminho a percorrer”. Dentro desta perspectiva, a nossa pesquisa aponta
para a necessidade de consolidar o campo através do fortalecimento
de grupos de pesquisa que atuem de forma colaborativa num esforço
conjunto para atualizar conceitos, “registrar e documentar boas
práticas, analisar seus métodos e formas de avaliação”, bem como
propor estratégias e ações de formação.
Tendo como referência o contexto apresentado, a pesquisa
realizada pela equipe brasileira da Alfamed tomou como base conceitual
os estudos do professor Joan Ferrés, da Universidade Pompeu Fabra
de Barcelona, a respeito da competência midiática. Em 2007, Ferrés
elabora o estudo La competência em comunicación audiovisual que
define as dimensões e os indicadores para se mensurar a competência
audiovisual a partir de uma consulta a cinquenta especialistas
reconhecidos no âmbito ibero-americano. A reflexão leva em conta
dois critérios: o pessoal (interação entre emotividade e racionalidade)
e o operativo (interação entre a leitura crítica e a expressão criativa).
As dimensões apontadas são as seguintes: linguagem, tecnologia,
processos de produção e programação, ideologia e valores, recepção
e audiência, estética, cujos indicadores são mensurados a partir da
análise e da expressão (2007, p. 102-3).
Tendo em conta os avanços das comunicações midiáticas
e as novas produções sobre o tema (The High Council for Media
Education, 2008; Comissão Europeia, 2010) este documento demandou
atualizações conceituais. Neste sentido, novo estudo coordenado por
Joán Ferrés e Alejandro Piscitelli (2012), também com a colaboração do
APRESENTAÇÃO
19
Esta nova proposta articulada de dimensões e indicadores
aborda seis dimensões a partir dos âmbitos da análise e da expressão:
linguagem, tecnologia, processos de interação, processos de produção
e difusão, ideologia e valores e estética. As alterações em relação às
dimensões da competência audiovisual (FERRÉS, 2007) verificam-se
na inclusão de processos de interação em substituição a recepção e
audiência, e difusão substituindo programação.
O estudo sobre competência audiovisual (FERRÉS, 2007) gerou
o projeto de investigação La competencia en comunicación audiovisual
en un entorno digital. Diagnóstico de necesidades en tres ámbitos sociales:
los profesionales de la comunicación, la universidad y la educación
obligatoria, coordenado pelos pesquisadores José Ignácio Aguaded
Gómez, Joan Ferrés e Agustín Garcia Matilla financiado pelo Estado
Espanhol e desenvolvido pelas universidades de Huelva, Pompeu
Fabra e Valladolid de 2011 a 2014.
Por sua vez, desse projeto de investigação sobre competência
audiovisual realizado na Espanha, originou-se o presente projeto de
pesquisa sobre competências midiáticas numa perspectiva comparada
e intercultural, que foi desenvolvido e adaptado ao contexto brasileiro
e aos avanços comunicacionais midiáticos e teóricos. Neste sentido, o
eixo conceitual foi ampliado do conceito de competência audiovisual
para competência midiática como proposto por Ferrés e Piscitelli
(2015) na atualização do conceito.
O conceito de competência midiática que norteia este trabalho
é assim definido a partir da articulação de seis dimensões entendidas
tanto no âmbito da análise (a forma como se analisa e se avalia uma
mensagem midiática) quanto da expressão (a forma como se expressa
por meio das mídias), conforme quadro esquemático abaixo.
APRESENTAÇÃO
20
Quadro 1: Dimensões da Competência Midiática
21
Esta proposta coordenada se fundou na impossibilidade
de abordar múltiplos objetivos se não for por meio de uma equipe
diferenciada, interdisciplinar e multiprofissional com enfoques de
pesquisa diferentes, mas ao mesmo tempo coordenados a fim de
poder abranger diferentes regiões do Brasil e atender aos setores
estratégicos determinados pela pesquisa internacional: universidades
(cursos de Comunicação e de Educação), ensino obrigatório e meios de
comunicação.
Neste cenário, esta pesquisa teve como objetivo identificar
os níveis de competência midiática de estudantes, professores
e comunicadores de diversos contextos socioculturais a fim de
contribuir para a definição de estratégias de formação em diálogo
com outras experiências brasileiras e euroamericanas. Sendo assim,
reforçamos que a pesquisa se origina e se efetiva na experiência local
para se expandir nacional e internacionalmente.
A primeira parte deste livro intitulada Competências midiáticas:
dimensões, contrastes e aproximações em diferentes contextos brasileiros
se dedica a apresentar os resultados dos questionários aplicados
aos grupos de 9 a 12 anos, 14 a 16 anos, estudantes e professores
universitários e profissionais de comunicação. Foram aplicados
um total de 1831 questionários. A aplicação foi realizada em escolas
públicas e privadas nas cidades de Juiz de Fora, Uberaba, Ponta Grossa,
Brasília, Florianópolis, Sorocaba, São Roque e São Paulo. A pesquisa
com os universitários e docentes foi realizada em várias cidades de
três regiões brasileiras: Sudeste, Sul e Centro-Oeste. E a pesquisa com
os profissionais de comunicação foi realizada apenas na cidade de Juiz
de Fora.
Os questionários foram elaborados de maneira a não indicar
respostas corretas ou incorretas, mas os níveis básico, básico/
intermediário e avançado de competência midiática e contemplavam
APRESENTAÇÃO
22
e posteriormente disponibilizados para cada país. No caso do Brasil
contamos com dois estatísticos, que juntamente com uma equipe de
apoio da UFJF, trataram os dados que foram disponibilizados para as
equipes das outras universidades.
O capítulo Crianças de 9 a 12 anos e sua relação com a mídia,
escrito por Márcia Barbosa da Silva, Vânia Lúcia Quintão Carneiro e
Mariana Meyer busca analisar os desafios e as possibilidades que o
desenvolvimento da competência midiática apresenta tanto para
as famílias quanto os professores e para a sociedade em geral no
sentido de oferecer subsídios para a elaboração de práticas culturais,
educativas, coletivas e individuais para infância.
Monica Fantin e Gabriela Borges tratam dos resultados
do questionário de 14 a 16 anos e das ações de formação em mídia-
educação desenvolvidas por meio de oficinas de audiovisual em
escolas de Florianópolis e Juiz de Fora, visando trabalhar competências
culturais e habilidades sociais para aprimorar a participação de jovens
na sociedade midiatizada.
Márcia Barbosa da Silva, Soraya Ferreira Vieira e Marcus
Venícius Branco de Souza analisam os dados do questionário que
avaliam a competência midiática dos universitários e mostram que
há um desafio na educação superior em termos da formação para a
cidadania. É possível perceber que os jovens utilizam a tecnologia de
forma apropriada, têm consciência da importância da cultura digital
e da sua utilização para questões como discriminação social, mas não
têm necessariamente uma participação crítica e interventiva.
O capítulo escrito por Maria Alzira Pimenta, Martha Prata-
Linhares e Tágides Renata de Melo apresenta uma análise quanti-
qualitativa sobre a pesquisa com docentes universitários. As autoras
apontam a importância da formação de docentes, que muitas vezes
encontram um afastamento entre a formação recebida e o que
APRESENTAÇÃO
23
tecnologia, linguagem, ideologia e valores e processos de interação, mas
têm algumas dificuldades em relação às dimensões processos de
produção e difusão e estética. A pesquisa qualitativa trabalhou com
os relatos dos docentes sobre o uso de recursos audiovisuais como
prática pedagógica e discute como se pode desenvolver a competência
midiática dos alunos. Ao final, propõe o uso da metodologia de
pesquisa e de formação denominada autoscopia forma de estimular
o desenvolvimento da competência midiática de docentes e,
consequentemente, ter impacto na formação dos discentes.
O capítulo que trata da experiência dos profissionais de
comunicação de Juiz de Fora – MG, escrito por Vinícius Guida, Mariana
Meyer e Leticia Torres Americano, relata a pesquisa que foi realizada
em 2018 com o objetivo de compreender o uso dos smartphones em
contexto profissional e de lazer e suas interrelações com a discussão
sobre a competência midiática e o exercício da cidadania. Apresenta
também uma reflexão sobre a experiência do Colóquio Mediar:
Comunicação e Gênero desenvolvido em 2016 com nove profissionais
das áreas do jornalismo, audiovisual e publicidade atuantes em
Juiz de Fora, e as entrevistas realizadas para a websérie audiovisual
#Observatório Espelhos.
A segunda parte deste livro Boas práticas na formação de
professores e profissionais de comunicação apresenta as experiências
formativas desenvolvidas a partir das discussões empreendidas pelos
grupos de pesquisa e dos resultados da pesquisa.
Paralelamente à aplicação da pesquisa, cada universidade
participante do grupo de pesquisadores brasileiros investiu no estudo,
reflexão e elaboração de boas práticas na área da competência midiática
tendo em vista a escassez de publicações de apoio aos educadores, bem
as dúvidas em relação à compreensão de certas questões apresentadas
pelos respondentes no momento de aplicação dos questionários,
APRESENTAÇÃO
24
de licenciatura e de cursos de comunicação; a realização de eventos; a
participação em congressos e a produção de artigos para a divulgação
tanto dos resultados quanto da produção de conhecimento sobre as
competências midiáticas e a produção de boas práticas.
As experiências formativas haviam sido previstas nos
subprojetos institucionais e estavam vinculadas aos projetos internos
nas universidades de origem. Com isso, foi proposta uma variedade de
atividades formativas que, no nosso entendimento, se complementam
e nos ajudam a pensar de forma colaborativa e interdisciplinar sobre o
desenvolvimento das competências midiáticas.
O capítulo seguinte apresenta o Lume – Laboratório e Núcleo
de Estudos e Pesquisas em Mídias e Educação da Universidade Estadual
de Ponta Grossa e relata as experiências realizadas na elaboração de
materiais e na produção de cursos de formação baseado na pesquisa
do material Look Again elaborado pelo British Film Institute e visa
proporcionar um apoio para a introdução do estudo da mídia na
escola, em especial nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
O capítulo Cinema na Escola: práticas de formação docente com
o audiovisual apresenta experiências do curso de formação continuada
denominado Cinema na escola: construindo espaços de cidadania
ministrado pelo NICA (Núcleo Infância, Comunicação, Cultura e Arte)
do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Santa Catarina, para professoras(es) de escolas públicas da Grande
Florianópolis/SC. O curso explorou, juntamente com as professoras,
aspectos da linguagem cinematográfica e da produção audiovisual
nos contextos escolares e extraescolares para serem trabalhados
com crianças e jovens. Procurou assim ampliar repertórios culturais
dos docentes e estimular a construção de uma postura mais crítica e
criativa de produção e reflexão sobre cinema e cidadania.
O capítulo Qualidade audiovisual no desenvolvimento
APRESENTAÇÃO
25
da discussão sobre a produção de qualidade que foi desenvolvida em
várias escolas de Juiz de Fora e região.
Experiência social do ver e do fazer-se ver: uma possibilidade
do documentário ferramenta pedagógica, de Gabriela Spagnuolo
Cavicchioli e Lyana Thédiga de Miranda, reflete sobre a possibilidade
de inserção do gênero documentário em práticas pedagógicas na
escola. A partir de uma pesquisa qualitativa de cunho mídia-educativo
(RIVOLTELLA, 2009; FANTIN, 2006) com aproximações à pesquisa
etnográfica, apresenta as etapas para a criação de um documentário
sobre a pesca e os pescadores com os alunos da Escola Municipal de
Ensino Básico, em Florianópolis/SC.
Mário Luiz da Costa Assunção Júnior e Martha Prata-
Linhares problematizam a criação audiovisual associada ao ensino e
aprendizagem como um saber da experiência que perpetua significados
duradouros associados à memória afetiva de professores e estudantes.
A terceira parte deste livro Análise crítica e produção criativa de
mídia se dedica a apresentar pesquisas na área da comunicação que se
desdobraram a partir das discussões propostas por Ferrés e Piscitelli
(2015) no que diz respeito à reflexão sobre o papel do espectador no
audiovisual e as novas relações que têm se estabelecido entre os
produtos culturais e o público na cultura participativa, principalmente
nas redes sociais digitais.
A proposta metodológica de Ferrés e Piscitelli (2015) para se
analisar o desenvolvimento da competência midiática a partir das seis
dimensões gerou desdobramentos de análise de conteúdos midiáticos
produzidos no âmbito da cultura participativa que contribuíram para
o aprofundamento dos estudos na área da comunicação, como podem
ser verificados nos textos desta parte do livro.
Além disso, procuramos aproximar este debate de outros
estudos na área do audiovisual, principalmente do documentário, a partir
APRESENTAÇÃO
26
Daiana Sigiliano, apresenta o projeto de ensino, pesquisa e extensão
desenvolvido na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de
Juiz de Fora. Este observatório aglutina, de certa forma, as pesquisas
apresentadas nesta parte do livro. Esta é uma proposta de formação
crítica e autônoma de comunicadores que tem como foco a aproximação
da discussão da qualidade no audiovisual e da literacia midiática.
Daiana Sigiliano discute as intercessões entre a competência
midiática e a produção de fanfics pelos fãs de telenovela no Brasil,
especificamente de Malhação - Viva a Diferença (Rede Globo, 2017-
2018). Este trabalho apresenta um dos desdobramentos gerados
pela pesquisa Competências midiáticas em cenários brasileiros e
euroamericanos que está relacionado com o entendimento das
habilidades que estão em operação na criação de conteúdos por parte
dos jovens fãs de telenovela, permitindo compreender diferentes
apropriações que estão presentes na cultura participativa.
Letícia Torres Americano e Mirian Tavares apresentam
alguns resultados do doutoramento em Comunicação, Cultura e
Arte desenvolvido na Universidade do Algarve, em Portugal, sobre
comunicação mercadológica e literacia midiática a partir da análise
da página do Facebook da marca de cerveja Skol. Este trabalho aponta
para uma área de estudo muito pouco explorada no Brasil, discutindo
a forma como as marcas se relacionam com seus consumidores na
cultura digital e a necessidade de se discutir a formação para uma
postura crítica em relação ao que se consome diariamente nas redes
sociais digitais.
Hyrlla Thomé apresenta os primeiros resultados da pesquisa
de mestrado que está desenvolvendo no Programa de Pós-Graduação
em Comunicação da UFJF sobre a produção infantojuvenil produzida e
veiculada no Youtube. A partir da dissertação de Oliveira (2018), Thomé
propõe uma categorização para se analisar esta produção audiovisual,
APRESENTAÇÃO
27
lugar do espectador na sua relação com o documentário. Apresenta
um panorama do documentário brasileiro, focando nas formas de
encontro entre o cineasta, o sujeito filmado e o espectador que foram
privilegiadas em cada época. Procura assim entender as operações
que privilegiam a inserção do espectador na dúvida e a ampliação
de sentidos que podem levá-lo ao que Rancière (2012) denomina
emancipação, termo criado por para indicar um estágio de maior
participação e reflexão crítica.
Portanto, este livro apresenta a pesquisa desenvolvida
pelas universidades UFJF, UEPG, UNB, UFSC, UFTM e UNISO e seus
desdobramentos tanto na prática docente, de formação e orientação
de alunos, quanto na prática investigativa, abrindo caminhos para
novas ações de formação e novos projetos de pesquisa. Consolidamos
assim a rede Alfamed Brasil, um dos nossos principais objetivos e
estabelecemos parcerias para a realização de pesquisas em nível
internacional, principalmente na América Latina, que também era
nosso objetivo. Acreditamos que precisamos amplificar este campo
no nosso continente, uma vez que várias ações têm sido realizadas
ao longo dos anos, mas muitas vezes se encontram dispersas e não
temos conhecimento de excelentes trabalhos que estão sendo feitos
muito próximos de nós. Com isso, esperamos contribuir para o
desenvolvimento do campo de estudos da literacia midiática nas suas
diferentes vertentes, tendo mostrado a pertinência e a importância de
sua inserção tanto no currículo escolar obrigatório quanto na formação
de pedagogos e profissionais de comunicação.
APRESENTAÇÃO
28
1
COMPETÊNCIAS
MIDIÁTICAS
Dimensões, contrastes
e aproximações em
diferentes contextos
brasileiros
1
A realização da pesquisa quantitativa
pela Rede Alfamed Brasil
Gabriela Borges
31
participantes. Nesta reformulação, Portugal ficou responsável
pela elaboração do questionário 9 a 12 anos, Brasil e Espanha pelo
questionário 14 a 16 anos, Colômbia e Equador pelo questionário dos
universitários e México, Venezuela e Espanha pelo questionário dos
docentes. O questionário para os profissionais da comunicação foi
elaborado posteriormente pela equipe espanhola e adaptado para o
contexto brasileiro pela UFJF.
Os questionários foram, assim, aplicados em escolas públicas
e privadas nas cidades de Juiz de Fora, Uberaba, Ponta Grossa, Brasília,
Florianópolis, Sorocaba, São Roque e São Paulo respectivamente pelas
universidades UFJF, UFTM, UEPG, UNB, UFSC e UNISO (que aplicou
em Sorocaba, São Roque e São Paulo). A UNISO se integrou ao grupo
uma vez que a UFF não recebeu autorização do Conselho de Ética para
participar da pesquisa por motivos técnicos.
O terceiro momento foi o de aplicação dos questionários e de
tratamento dos dados e avaliação dos dados parciais obtidos até ali.
Essa fase iniciou com a realização do II Simpósio de Literacia Midiática
na UFJF que reuniu os pesquisadores nacionais para a discussão
sobre o processo de aplicação dos questionários em cada região e de
sistematização dos dados.
Os questionários foram disponibilizados numa plataforma online
elaborada pela equipe espanhola nos idiomas português e espanhol, sendo
que para os segmentos de 9 a 12 anos e 14 a 16 anos, os questionários em
português traziam a opção Portugal e Brasil, devido às diferenças de
expressões e usos da língua existentes entre os dois países.
De uma maneira geral, os questionários para esses segmentos
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
32
da pesquisa e após concordarem com a participação esclarecida,
iniciavam o preenchimento dos questionários.
As seguintes escolas de ensino fundamental e médio e
universidades compõem a amostra:
33
Gráfico 2: Respondentes nas escolas de ensino médio
34
na Universidade Federal de Juiz de Fora de 23 a 25 de outubro de 2017,
no qual participaram representantes de toda a rede. Este encontro
proporcionou o estabelecimento de parcerias para a execução de
comparações entre países. No momento estamos encaminhando
estudos conjuntos com Portugal, Espanha, Colômbia, Chile e México.
No sexto momento foi feita a avaliação para a finalização da
pesquisa, em articulação com o estudo internacional e a reflexão
sobre as iniciativas de desenvolvimento de boas práticas em mídia e
educação a partir dos dados obtidos pela pesquisa.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
35
2
Crianças de 9 a 12 anos e sua relação com a mídia
Márcia Barbosa da Silva, Vânia Lúcia Quintão Carneiro e Mariana Meyer
construir mensagens.
A dimensão processos de interação trata da interação com outras
pessoas por meio da mídia, do conhecimento e utilização de medidas
de proteção e formas de denunciar abusos cometidos contra si ou
contra outras pessoas. Os processos de produção e difusão se referem
aos conhecimentos sobre as formas de produção e de disseminação de
informação, considerando também o respeito aos direitos autorais.
37
A dimensão ideologia e valores abrange a identificação das
ideologias e valores presentes nas mensagens midiáticas e, ao mesmo
tempo, a capacidade de expressar valores sociais e democráticos que
promovam a humanização. Finalmente, a dimensão estética trata tanto
da identificação de padrões estéticos, quanto da expressão por meio
de formas estéticas próprias ou inovadoras.
A PESQUISA
QUESTIONÁRIO
38
Processo de Interação (3), Processos de Produção e Difusão (2), Ideologia
e Valores (3), Estética (3). Estas eram de múltipla escolha, podendo ter
respostas únicas ou possibilitar mais de uma escolha [1]. As questões
foram organizadas em uma planilha e posteriormente sistematizadas
conforme o quadro abaixo:
CATEGORIA PERGUNTAS
Perfil P1, P2, P3, P3.1, P4, P4.1, P5
Dimensão
P14, P15, P22
Tecnologia
Dimensão
P8, P11, P12
Linguagem
Dimensão
P13, P17, P20
Interação
Dimensão
P19, P23
Produção e difusão
Dimensão
P7, P16, P18
Ideologia e valores
Dimensão P6, P9, P10
Estética
39
APLICAÇÃO
REGIÃO PARTICIPANTES
Distrito Federal 121
Minas Gerais 104
Paraná 101
Santa Catarina 124
São Paulo 52
Total 502
40
software Crosstab e teste quiquadrado [3] para um refinamento dos
dados, o que possibilitou a leitura dos níveis de competência bem
como o cruzamento desses níveis conforme as variáveis de perfil dos
participantes.
41
Gráfico 2: Sexo dos respondentes
42
Gráfico 4: Formação em Comunicação Audiovisual
Dimensão Tecnologia
43
As respostas indicaram que a maioria reconhece equipamentos
e redes sociais, mas demonstra menor familiaridade com dispositivos
como, por exemplo, o SMS para o qual existem correspondentes mais
populares entre o público mais jovem. Como não utiliza o aplicativo
desconhece a sua função, o que não significa que não saiba como lidar
com ele, caso seja necessário.
44
Gráfico 6: Usos da Internet
uma câmera especial, 10% assinalou que a imagem poderia ser obtida
dobrando o papel e 7,98% não soube responder. Apesar de terem mais
intimidade com a dimensão tecnologia, as respostas demonstram que,
em relação ao conhecimento da função e utilização de aplicativos, há
necessidade de ampliação da compreensão técnica de produção digital
da imagem e do funcionamento da tecnologia na alteração dos temas
representados por essas imagens.
45
Dimensão Linguagem
46
poderia ser ampliada e aprimorada para possibilitar às crianças uma
melhor leitura dos produtos audiovisuais, bem como uma utilização
intencional em suas próprias produções midiáticas.
47
O questionário trazia ainda perguntas referentes à percepção
e denúncia de imagens, vídeos, informação ou conteúdos ilegais,
ofensivos ou desagradáveis na internet. Uma boa parte (45,71%) dos
participantes indicou nunca ter se deparado com essa situação. Outros
não tomaram nenhuma atitude, pois não acreditavam que haveria
uma providência eficaz (9,58%); não estavam envolvidos na situação
(10,58%) ou não sabiam o que fazer (9,58%). Já aqueles que perceberam
essa situação e decidiram agir (24,55%) indicaram as seguintes ações:
“bloquear o site” com 93 menções e “bloquear o autor” com 82 menções.
“Entrar em contato com autoridades” teve 21 menções e “contar a um
adulto” 62 menções.
Considerando a faixa etária dos participantes, é possível
compreender que se sentem temerosos de tomar atitudes diretas
contra agressores. Mas as respostas indicam a necessidade de
formação para que possam reconhecer melhor as agressões e também
possam encontrar meios de se defender com o auxílio de adultos.
Nesse sentido, a escola pode ser um ponto importante de apoio ao
abordar essas questões, ensinando a lidar com elas.
48
28,54% disseram “Nunca”, ou seja, mais de 60% dos participantes estão
mais expostos aos perigos e transtornos causados por um ataque
virtual. Medidas como “apagar Spam” e “não clicar em links indevidos”
(34,73), “bloquear propaganda indesejada” (42,12%) e “definir opções de
privacidade” (44,71%) demonstram que precauções importantes na rede
são tomadas por menos de 50% dos participantes. Esses cuidados são
fundamentais para que possam navegar com segurança e autonomia
na rede.
Em relação ao conhecimento sobre a produção midiática,
os participantes tiveram maior facilidade em identificar as funções
de edição (53,29%) e roteirista (58,48%). Já a produção, maquiagem e
cenografia não foram reconhecidas por mais de 65% dos participantes.
Na questão acerca da ordem de atividades em um processo de
produção, houve um relativo acerto: escrever o roteiro (44,91%),
contratar atores (42,71%), gravar as cenas (27,54%) e fazer a montagem
(32,14%). Curiosamente, muitas crianças assinalaram a gravação
da cena como sendo a primeira coisa a ser feita (21,36%), talvez pela
imediatez proporcionada pelas experiências de realização de vídeos
curtos por meio de telefones móveis. As respostas indicam que o
conhecimento das crianças sobre a produção se encontra mais próximo
da experimentação. Embora essa característica seja importante no
processo criativo, existem estudos, como os propostos neste livro,
que ensinam a criança a refletir sobre seu processo de produção
audiovisual sem que isso signifique engessar a sua criatividade.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
49
para o produto (46,91%). Apenas uma pequena parcela (7,78%) não
reconheceu a estratégia do anúncio. Levando-se em consideração a
constante exposição das crianças à publicidade, é relevante que mais
de 50% das crianças necessitam de avançar os seus conhecimentos
nessa área. Por outro lado, as respostas apontam para a importância
de mecanismos legais de proteção contra possíveis abusos por parte
de anunciantes.
Os critérios de escolha de sites têm a ver com o tipo de
exposição que as crianças se submetem, mesmo que seja em atividades
corriqueiras, como as tarefas escolares. Em relação aos critérios de
escolha de sites para a elaboração de trabalhos, por exemplo, foi possível
perceber que a confiabilidade da forma de acesso à informação está
ligada à “indicação de terceiros” (131 menções), geralmente de adultos
de seu círculo mais próximo, atentando menos para outros itens
igualmente importantes como a “fonte da informação” (58 menções)
ou a “data da postagem” (54 menções).
Outro aspecto levantado dentro desta dimensão diz respeito
às iniciativas de intervenção para auxiliar alguém por meio da rede.
As respostas mostram que as ações das crianças se restringem a
“curtir” ou “compartilhar” informações. Houve poucas menções para
ações concretas e participativas como “ajudar a organizar uma ação de
solidariedade nos meios de comunicação” (50 menções), por exemplo.
Estes dados permitem observar que há pouco engajamento
em relação às causas que necessitam de uma atitude mais concreta,
como uma denúncia ou a manifestação de solidariedade. Talvez
isso se explique pelo viés etário, uma vez que as crianças são menos
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
50
Dimensão Estética
competência midiática.
Se as crianças estão imersas no ambiente digital desde cedo
e adquirem experiência por meio de ensaio e erro, a escola oferece
a oportunidade de entrarem em contato com o conhecimento
sistematizado e o pensamento científico com base na constatação e
na ética. Dessa forma, a educação midiática, quando oferecida pela
escola, pode auxiliar as crianças a ampliarem e aprofundarem seus
conhecimentos sobre a mídia. Trata-se de incentivar a compreensão
51
do entorno cultural e a aquisição das ferramentas cognitivas para a
análise da produção alheia e expressão midiática própria, favorecendo
o desenvolvimento de todas as dimensões da competência midiática.
A pesquisa mostrou que as crianças participantes, embora
tenham bastante habilidade em lidar com os aspectos técnicos
das mídias, precisam ainda ampliar o conhecimento em relação à
dimensão tecnologia no que diz respeito, por exemplo, a realizar uma
videoconferência para a elaboração de um trabalho em grupo. Apesar
de conhecerem o dispositivo de videoconferência, por entenderem
sua relação com as mídias como eminentemente lúdica, talvez não
percebam outras formas de utilização possíveis em atividades mais
formais como, por exemplo, a realização de um trabalho escolar.
Existem aspectos das dimensões tecnologia e linguagem, por
exemplo, que vão além do contato com as tecnologias ou da aquisição
de conhecimentos sobre a gramática audiovisual. Para que sejam
compreendidos é necessário proporcionar experiências educacionais
para as crianças, nas quais elas possam refletir sobre as mudanças
ocasionadas pela introdução de um novo produto tecnológico,
observando, por exemplo, as transformações ocorridas nas noções
de corpo, tempo, espaço, consumo e formas de representação da
realidade proporcionadas pelas mídias.
Há que se proporcionar a reflexão sobre as relações entre as
empresas de tecnologia e os produtos por elas ofertados, suas reais
contribuições para a melhoria da qualidade de vida da população. Que
consequências as novas tecnologias acarretam para o meio ambiente
em seu processo de produção; que exclusões/inclusões estão implícitas
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
52
importantes, enfim, como os aspectos tecnológicos e de linguagem
atuam na elaboração da nossa visão de mundo.
A pesquisa apontou que os parâmetros de confiabilidade de
informação estão muito respaldados na confiança em adultos do seu
convívio. Isso aumenta a responsabilidade dos adultos como exemplos
a serem seguidos. Pais, professores e outros adultos são referências
de postagens confiáveis na rede e portanto de parâmetro de verdade.
Daí a importância da vigilância do adulto em relação aos seus próprios
hábitos midiáticos e também a necessidade de formação desse adulto
para que esses hábitos possam ser seguros e críticos. Para que as
crianças possam desenvolver parâmetros de autocuidado e o consumo
responsável, é preciso ensiná-las a cuidarem de sua atividade nos
meios digitais e redes sociais, mas também é preciso questionar a
coleta de dados pelas empresas de mídia, tanto pessoais quanto de
perfis de consumo, no que se refere ao direito à privacidade.
Os resultados indicaram a necessidade de ampliar o
repertório para o reconhecimento de agressões, não identificando-as
como brincadeira. Nesse sentido, é preciso incentivar os estudantes a
interrogar as mensagens midiáticas questionando de modo consciente
as emoções que geram, as consequências dessas emoções na sua vida,
na vida dos outros, no entorno próximo e nas relações mais distantes.
O desenvolvimento das competências midiáticas requer a educação
das emoções, o respeito com o outro e consigo mesmo. Só com respeito
pelo outro é que se pode pensar no combate ao bullying, pois sem se
solidarizar com o sofrimento do outro não há o entendimento do que
a ofensa, o preconceito e a violência simbólica podem causar na vida
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
alheia.
Sem o respeito por si mesmo fica-se mais vulnerável ao assédio,
aos apelos do consumo e de jogos autodestrutivos. O respeito por si é
essencial para o cultivo dos bons sentimentos, para a superação das
desigualdades e dos preconceitos e para o aumento da auto-aceitação
e da autoestima.
A educação midiática também tem a ver com a imaginação,
com a capacidade de inventar o que ainda não existe, mas que ao ser
53
criado na mente pode vir a existir no mundo real, prevendo o futuro
por meio das experimentações estéticas, da compreensão da gramática
audiovisual e da possibilidade de criar outras formas de representação
do mundo que valorizem a diversidade, as identidades, os saberes e as
culturas.
Nesse sentido, é importante proporcionar aos alunos
experiências estéticas que ultrapassem os interesses comerciais
como, por exemplo, apresentar às crianças produções participantes
de festivais de audiovisual voltados para a infância e juventude. Essas
produções, além de serem mais curtas, tratam de temas relevantes
com propostas estéticas inovadoras e abordagens inéditas sobre temas
cotidianos, permitindo às crianças compreender e representar a sua
realidade de diferentes matizes, também do ponto de vista estético e
criativo.
Para isso, é preciso pensar sobre o repertório de imagens que
compõem ou direcionam uma forma de ver o mundo, e interrogar
sobre os valores e juízos associados a essas imagens. Nessa direção,
a educação midiática estimula as crianças a questionarem sobre os
grupos sociais afetados, as relações culturais, sociais e econômicas que
sustentam as visões de mundo suscitadas pelas imagens; e a criarem
imagens de superação dos modelos não solidários, das relações
abusivas de toda espécie: cultural, econômica, pessoal.
Tudo isso implica na formação de profissionais em educação
midiática que atuem dentro das escolas, bibliotecas públicas, centros
culturais, associações comunitárias, bem como em organizações não
governamentais e empresas de mídia. Essa questão será abordada em
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
54
NOTAS
[2] Os dados foram tratados com o auxílio dos estatísticos Daniel Gustavo Moreira
(Tratamento inicial) e José Ricardo Favoretto (Tratamento pormenorizado) e do bolsista
de iniciação científica Vinicius Guida.
55
REFERÊNCIAS
56
3
Competências midiáticas e a produção
audiovisual entre jovens: experiências
investigativas e formativas
Monica Fantin e Gabriela Borges
58
a concepção tradicional de literacia relacionando diferentes linguagens
e metalinguagens na complexidade dos processos de produção de
sentidos que se articulam entre os signos linguístico, visual, sonoro,
gestual, espacial e multimodal, como diz Hobbs (2006, p. 7).
O entendimento de tais conceitos e suas interpretações
sugerem que as mudanças no processo de ensino-aprendizagem
ultrapassam o uso instrumental da tecnologia e implicam diálogo,
negociação, polifonia, abertura, flexibilidade, crítica e colaboração
numa perspectiva transformadora, que requer o desenvolvimento e a
construção de certas competências (FANTIN, 2015).
Ao refletir sobre as formas com que crianças, jovens e adultos
se relacionam com os meios, Aguaded (2014) enfatiza o caráter
afirmativo dos meios, dos usos e dos consumos de mensagens e
informação, lembrando que com a expansão das mídias no século XX,
a preocupação inicial foi com os processos de alfabetização da leitura-
escrita, seguidos da alfabetização ou competência audiovisual e que,
mais recentemente, a competência digital foi ganhando destaque.
Nesse quadro, as competências audiovisuais que fazem parte das
competências midiáticas, também se relacionam com as multiliteracies.
E quando falamos em competência audiovisual, entendemos todas e
quaisquer produções que se expressam a partir de imagem e/ou som,
“[...] em qualquer classe de suporte e de meios, desde os tradicionais
(fotografia, cinema, rádio, televisão, vídeo) até os mais recentes
(videogames, multimídia, Internet)” (FERRÉS; PISCITELLI, 2012, p.
102). Ser competente audiovisualmente é ser “capaz de realizar análises
críticas dos produtos audiovisuais que consome, e ao mesmo tempo, de
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
59
com tal entendimento, Ferrés e Piscitelli (2012, p. 78) enfatizam a
importância de conceber a educação midiática de maneira ativa,
participativa e lúdica.
Ferrés e Piscitelli (2015) propuseram uma metodologia para
avaliar e promover o desenvolvimento da competência midiática na
cultura participativa. Segundo os autores, as revoluções tecnológica
e neurobiológica apontam a necessidade de potencializar a dimensão
participativa dos processos de comunicação. Neste sentido, a
participação não se refere apenas aos modos como um indivíduo se
expressa criativamente, uma vez que a análise das mensagens também
influi no modo como elas são criadas.
Desta forma, a competência midiática é formada a partir de uma
abordagem ativa e dialógica, levando em consideração a participação
do interlocutor nos processos de seleção, interpretação, aceitação ou
rejeição, análise crítica e transmissão, entre outros, que estimulam e
sustentam a sua produção criativa. A competência midiática envolve
o domínio de conhecimentos, habilidades e atitudes dos indivíduos
em relação às mensagens midiáticas. Sendo assim, Ferrés e Piscitelli
(2015, p. 8-14) definiram seis dimensões a partir das quais elaboraram
indicadores de análise. Por sua vez, estes se relacionam tanto ao âmbito
de análise, isto é, a forma como as pessoas recebem e interagem com
as mensagens, quanto ao âmbito de expressão, que se refere ao modo
como as mensagens são produzidas pelas pessoas.
Na dimensão linguagem, o âmbito da análise refere-se
à capacidade de compreender a forma como as mensagens são
construídas em diferentes mídias gerando diferentes produções de
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
60
com a capacidade de manusear e transitar pelos ambientes
hipermidiáticos, transmidiáticos e multimodais e de compreender o
papel que a tecnologia desempenha na sociedade. O âmbito da expressão
relaciona-se à capacidade de adaptar as ferramentas tecnológicas aos
objetivos comunicativos na elaboração de textos, imagens e sons a
partir do entendimento da construção de representações da realidade
por parte dos meios de comunicação.
Na dimensão processos de interação, o âmbito da análise está
relacionado com a capacidade de seleção, revisão e autoavaliação
do consumo midiático, entendendo a importância do contexto e de
acordo com critérios conscientes e racionais.
Também se relaciona com a capacidade de avaliar os efeitos
cognitivos das emoções, isto é, perceber como as ideias e os valores são
associados às personagens, às ações e às situações gerando emoções
positivas e/ou negativas. O âmbito da expressão está relacionado com
a capacidade de atuar colaborativamente e de interagir com pessoas e
coletivos diversos em ambientes cada vez mais plurais e multiculturais.
Uma atitude ativa na interação com as telas pode contribuir para o
exercício pleno da cidadania, bem como transformar o indivíduo e o
meio em que vive.
Na dimensão processos de produção e difusão, o âmbito da
análise relaciona-se com o conhecimento das diferenças básicas
entre as produções individuais e coletivas, populares e corporativas,
de titularidade pública ou privada. Do mesmo modo, relaciona-se
com os conhecimentos básicos sobre os sistemas de produção, as
técnicas de programação, os mecanismos de difusão, os códigos de
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
61
Na dimensão ideologia e valores, o âmbito da análise relaciona-
se com a capacidade de entender como as representações midiáticas
estruturam nossa percepção da realidade; avaliar a fiabilidade das
fontes de informação; habilidade de buscar, organizar, contrastar,
priorizar e sintetizar informações de distintos sistemas e contextos.
Detectar as intenções ou interesses subjacentes, tanto nas produções
corporativas quanto populares. Analisar as identidades virtuais
individuais e coletivas e detectar os estereótipos, analisando suas causas
e consequências. Reconhecer os processos de identificação emocional
com os personagens e as situações das histórias como potencial
mecanismo de manipulação. Gerir as próprias emoções na interação
com as telas, em função da ideologia e dos valores que transmitem.
Noâmbito da expressão refere-se à capacidade de usar as ferramentas
comunicativas para transmitir valores e contribuir para a melhoria
do ambiente social e cultural, atuando de forma comprometida. E
também de elaborar e modificar produtos para questionar valores ou
estereótipos presentes nas produções midiáticas.
Na dimensão estética, o âmbito da análise relaciona-se com a
capacidade de compreender os aspectos formais que compõem uma
mensagem midiática, reconhecer a qualidade estética. Relacionar as
produções midiáticas com outras manifestações artísticas, detectando
influências mútuas. Além da capacidade de identificar as categorias
estéticas básicas como a inovação formal e temática, a originalidade,
o estilo, as escolas e tendências. O âmbito da expressão relaciona-se
com a capacidade de produzir mensagens compreensíveis, criativas e
originais, bem como se apropriar e transformar produções artísticas,
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
62
comunidade escolar em geral e para tal, propõe novas metodologias
de pesquisa e intervenção em interação.
A partir da ideia de um currículo baseado em competências
(RUIZ; PEREZ; GOMES, 2014), diversas pesquisas têm sido feitas a
respeito da formação para as competências midiáticas. Em diversos
países, cujas políticas públicas ainda não adotaram tal perspectiva,
como é o caso do Brasil, estudos como este refletem sobre esta
tendência e buscam identificar, por meio de um levantamento/
mapeamento inicial, as competências midiáticas de estudantes de
diferentes níveis de ensino a fim de desenvolver propostas educativas
neste sentido.
Cenários de Pesquisa
63
Gráfico 1: Locais em que os questionários foram aplicados.
64
exemplo, sexo, idade, cidade, escola, etc. Em um segundo momento,
as questões eram direcionadas para as dimensões da competência
midiática. Nesse sentido, cada uma das seis dimensões (linguagem,
tecnologia, processos de interação, processos de produção e difusão,
ideologia e valores e estética) abarcou três perguntas, totalizando 18
questões.
No recorte desta reflexão, destacaremos alguns aspectos
relacionados às práticas midiáticas de produção audiovisual e suas
articulações entre as dimensões tecnologia, linguagem, produção e
difusão e ideologia e valores.
65
Em relação aos equipamentos e serviços que tinham acesso e/
ou à disposição, 96,99% dos alunos possuem televisão, 93,59% possuem
smartphone e 80, 76% possuem computador/notebook. Os itens
filmadora e máquina fotográfica digital foram respectivamente 46,69%
e 61,32%, e provavelmente estão contemplados nos demais aparelhos
que possuem tal função. O mp3 [7]/mp4 [8] foi o menos assinalado, com
apenas 31,46%.
“nenhuma”.
Em resposta à pergunta sobre como adquiriram tal formação
18,44% foi com ajuda de colegas, 18,24% com ajuda de familiares e 7, 01%
com ajuda de professores. Esse dado revela aspectos da dimensão do
trabalho colaborativo e o papel da escola nessas aprendizagens que
demonstram seu caráter informal. Interessante destacar que 39,28%
afirmaram que aprenderam sobre o processo de produção audiovisual
sozinhos (autodidatas). E 15,63% não receberam formação.
66
Gráfico 5: Como os participantes adquiriram formação audiovisual
67
Gráfico 6: Respostas sobre a produção de vídeos.
68
Sobre os motivos que os levam a compartilhar um vídeo (na
dimensão ideologia e valores), 56,51% dos jovens responderam que
depende da “A importância do tema”, e para 33,07% seria a possibilidade
de fazer algo a partir do vídeo, sendo que apenas 10,42% seria para
ser mais popular entre os amigos. Embora possamos questionar o que
pode ser ou não importante para os jovens, essa resposta pode ser um
indício de certa preocupação social.
69
Tais questões nos levam a pensar nas mediações necessárias
no sentido de um uso crítico-reflexivo, que é a perspectiva da mídia-
educação. Ou seja, para assegurar uma cidadania de pertencimento
instrumental e cultural, enfatizamos a necessidade de que os
programas e as políticas públicas educacionais avancem no sentido de
contemplar uma abordagem culturalista e ecológica da mídia-educação
(SILVERSTONE, 2005, PINTO, 2005, RIVOLTELLA, 2006, JACQUINOT,
2007), que implica a possibilidade de trabalhar pedagogicamente
com todos os meios e tecnologias disponíveis de forma a articular a
perspectiva crítica-reflexiva, metodológica-instrumental e produtiva-
expressiva. Buckingham (2010, p. 294), faz uma provocação a respeito
de tais aprendizagens:
70
Diferente de um trabalho que enfatize apenas as múltiplas
linguagens e a convergência das tecnologias, vimos que a perspectiva
das multiliteracies destaca o sentido da reflexão crítica sobre tais
práticas. E isso ainda parece estar longe do sentido das práticas
investigadas nessa pesquisa, pois se os dados acima sugerem que
certas habilidades e competências em relação às práticas midiáticas de
produções audiovisuais estão presentes na vida de jovens estudantes
que participaram desta investigação, ainda parecem estar longe
de evidenciar uma cultura participativa na perspectiva da mídia-
educação e da cidadania. Tal consideração também está presente em
diversos estudos (BUCKINGHAM, 2010; TUFTE; CHRISTENSEN, 2009;
PEREIRA; PINTO; MOURA, 2015; FANTIN, 2015; GEE, 2013).
Tais práticas culturais que revelam ou não as competências
midiáticas também dizem respeito às questões da democracia,
cidadania e participação no sentido de conhecer as formas de uso e
funcionamento não apenas dos artefatos ligados à produção audiovisual,
mas também aos usos da internet e seus códigos. É necessário saber se
aos usos da Internet e seus códigos, saber acessar, selecionar e certificar
informações produzidas, veiculadas e consumidas em rede também
considerando a confiabilidade dos websites e a competência para uso
e criação de conteúdos digitais visando a promoção de outras formas
de participação na cultura digital e na sociedade. Por isso enfatizamos a
inseparabilidade das dimensões presentes nas práticas midiáticas.
A esse respeito, é oportuno problematizar os dados sobre
o compartilhamento das produções audiovisuais mencionadas
pelos estudantes, visto que mais da metade diz compartilhar vídeos
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
71
de mercado, Hitwise, sugerindo que entre os usuários do YouTube –
um dos sites de compartilhamento de vídeo online mais conhecidos,
apenas 0,16% realmente faz upload de material, porém não esclarece
o percentual deste material que é original e de clips reproduzidos de
meios de comunicação comerciais. Buckingham (2010, p. 299) destaca
que o mesmo estudo constatou que “0,2% dos que acessam o site
Flickr fazem upload, enquanto apenas 4,6% dos usuários editaram ou
escreveram para Wikipedia (um número que eu suspeito ser alto)”.
Para ele, uma das dificuldades nesse sentido é definir o que
entendemos por “criar conteúdo”, e lembra que ainda na década de
1990, quando investigava com Sefton-Green sobre a “criatividade
digital”, descobriram de forma surpreendente um número alto de
jovens que se diziam engajados em atividades criativas de multimídia,
mas quando aprofundaram tal aspecto por meio de entrevistas e visitas
em domicílio, constataram que isso acontecia bem pouco na realidade.
Por isso, é oportuno discutir também o significado do termo
“nativos digitais”, que além de fazer parte de muitas falas de professores,
de enunciados da literatura especializada e de discursos pedagógicos,
também diz respeito a outras neuromitologias discutidas por Rivoltella
(2012). Embora Prensky (2001) defina os nativos digitais como “as
crianças que já nascem num mundo caracterizado pela presença das
tecnologias e da mídia digital e que isso produziria mudanças em seu
perfil cognitivo, que seriam mais rápidas, multitarefas e autorais”
(2001, p.1), não parece ter sido essa “geração” ou esse perfil de jovens
que encontramos em nossa pesquisa.
Embora muitos outros autores falem em geração digital, X, Y e
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
72
fato os alunos e os professores sabem e não sabem em relação à cultura
digital? Para Buckingham (2008a, p.9) “devemos ter cautela com a
retórica fácil da chamada ‘geração digital’, ou seja, a idéia de que os jovens
estão ativamente se comunicando e criando online, já que possuem uma
espontânea afinidade com a tecnologia que os mais velhos não têm”.
Diversos pesquisadores problematizam essa ideia a partir dos
estudos da cultura, da neurociência, da educação e da antropologia,
como Buckingham (2008, 2010), Rivoltella (2013), Pinto (2017) e Fantin
(2016). Para eles, não é possível isolar a tecnologia e sua capacidade de
“produzir efeitos sobre as pessoas” de outros elementos do contexto
sociocultural, que também interferem nessa relação. Afinal, como
salienta Buckingham (2008, p. 15), mencionando fatores como a
economia, a política da cultura juvenil e as políticas sociais e culturais,
73
EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS
74
Como a metodologia EAS está organizada em três momentos
(preparatório, produtivo e reestruturador), em cada oficina havia a
exibição de um curta-metragem como estímulo, a produção de um
ou mais planos e um momento de compartilhar e discutir as imagens
e estabelecer relações com o tema do encontro. Ao final do processo,
as produções foram compiladas e compartilhadas com a escola e
comunidade.
O envolvimento dos jovens estudantes foi evidente. Entre
diferentes gestos, falas e atitudes, Martins percebeu que ao longo da
pesquisa foi possível despertar um
75
conteúdos audiovisuais, como animações, stop-motion e vídeos para
o YouTube a partir da discussão do desenvolvimento das dimensões
tecnologia, linguagem, interação, ideologia e valores, estética e processos
de produção e difusão da competência midiática (FERRÉS; PISCITELLI,
2015). As oficinas foram conduzidas pela mestranda do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da UFJF, Daniela Santana de Oliveira
[11], com a monitoria de graduandos [12] em Jornalismo participantes
do projeto. Os encontros tiveram duração de duas horas semanais e
foram realizados com 15 alunos de 9 a 12 anos.
Na primeira oficina, Brinquedos ópticos, os alunos aprenderam
como se cria uma animação, por meio de brinquedos ópticos feitos
com papel e lápis, como um flipbook, que consiste em um conjunto
de imagens feitas em páginas diferentes que variam em pequenos
detalhes de uma para outra, criando a ilusão de movimento quando
passadas rapidamente. Assim tiveram contato, de uma forma lúdica,
com conceitos como, por exemplo, a ilusão de ótica usada nas
animações. Também tiveram contato com produtos audiovisuais de
animação através dos vídeos apresentados e criaram os seus próprios
brinquedos ópticos. Com isso, as crianças desenvolveram habilidades
para produzir conteúdo e mensagens que fossem compreensíveis,
fazendo uso de sua própria criatividade.
A segunda oficina, Eu Youtuber, ensinou os passos básicos para
a produção de vídeos. Antes de começar a oficina, o grupo gravou as
crianças chegando na sala e exibiu no telão para descontrair um pouco
as crianças. Em seguida, foram exibidos vídeos de crianças youtubers
na mesma faixa etária dos alunos (9 a 12 anos) e que produzem
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
76
pelos monitores, que ensinaram os conceitos básicos de cinegrafia de
uma forma prática. A edição dos vídeos foi feita pelos monitores.
Na oficina Contando uma história foi ensinada a técnica do stop
motion. Na primeira parte foram apresentados e analisados os vídeos
produzidos na aula anterior. A seguir foram apresentados vídeos
que utilizavam a técnica e que mostravam como alguns filmes eram
produzidos. Assim como na oficina anterior, a turma foi dividida em três
grupos e cada grupo produziu uma história com a técnica apresentada.
No início, alguns alunos não acreditaram que um conjunto de fotos
poderia produzir uma sequência de movimentos. Porém, foi possível
perceber o interesse dos alunos no modo como a animação era feita,
fato que mostra o valor dado não apenas para o que é comunicado,
mas como é comunicado.
Na última oficina, Que som é esse?, foram exibidas vinhetas
de filmes e trilhas sonoras de desenhos e filmes conhecidos pelas
crianças, visando despertar os sentimentos e as emoções. Dessa
maneira os alunos identificaram os sons apresentados e foram levados
a refletir sobre a ligação do efeito sonoro com o gênero do filme
(suspense, terror, comédia e etc.). Os mesmos três grupos da oficina
anterior criaram os sons para os vídeos produzidos na oficina anterior,
que foram editados pelos monitores.
Ao analisarmos as oficinas ministradas, foi possível perceber
o desenvolvimento das dimensões da competência midiática por meio
do “comportamento inicial e final das crianças: suas relações entre
si, com a equipe e com os equipamentos utilizados” (SANTANA et al,
2017). Para muitas, a câmera deixou de ser apenas um captador de
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
77
A realização de tais propostas evidenciou a sensível ampliação
dos repertórios culturais das crianças e adolescentes envolvidos,
desencadeando outras percepções sobre suas produções audiovisuais
a partir dos laboratórios desenvolvidos, pois estavam de acordo com
os dados mapeados anteriormente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
78
dispositivos móveis na didática fundamentada em quatro ideias-
chave: o ensino como design, o aprender fazendo, a flipped teaching, e
a interseção entre neurociências e didática (FANTIN, 2015).
Em ambas propostas formativas observamos que conhecer
as possibilidades de uso pedagógico das tecnologias móveis é
fundamental para uma educação que pretende educar com, sobre e
através das mídias e numa perspectiva ecológica de mídia-educação.
Nas duas oficinas, as dimensões crítica, instrumental e produtiva da
mídia-educação articulavam-se com a construção de competências
midiáticas a respeito da produção de audiovisual, fotografia, cinema,
pesquisa em rede, uso e produção de blogs, interação nas redes sociais
e etc. Assim, as oficinas promoveram situações de circulação de
saberes, construção de autorias colaborativas a partir de princípios
educativos de aprendizagem, uso, apropriação, expressão e reflexão
sobre as produções midiáticas.
Em tais experiências formativas foi possível construir
competências no âmbito das múltiplas linguagens e mútliplas
literacias e suas aprendizagens práticas, científicas, literárias,
artísticas, audiovisuais e multimídias de forma individual, coletiva
e colaborativa. Afinal, os “impactos” que as mídias e as tecnologias
digitais estão produzindo não se referem apenas às informações e seus
processos de produção, armazenamento e distribuição, mas também
às relações entre as pessoas, organizações e contextos, e as novas
literacias repercutem nas relações entre as pessoas, as organizações e
os diferentes contextos culturais, para além dos deslocamentos da era
eletrônica para a digital.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
79
NOTAS
[3] Escolas onde foram aplicados os questionários: CED do Lago, CEF 306 Norte, CEM
Setor Leste, CEM Setor Oeste, Centro de Ensino Médio Asa Norte, Centro Educacional
Marista Lúcia Mayvorne, Colégio Aplicação, Colégio Equipe, Colégio Estadual Manuel
Antônio Gomes, Colégio Estância de São Roque, Colégio SESI, Escola Municipal Doutor
Achilles de Almeida, Escola Municipal Doutor Antonino Lessa, Escola Municipal Santos
Dumont, Sistema Degraus de Ensino.
[6] Esta pesquisa foi sistematizada pelo estatístico Daniel Gustavo Moreira e os dados
compilados para análise por Daiana Sigiliano.
[8] Formato de compressão de áudio e vídeo digital e dispositivo que reproduz o mesmo.
[10] A referida pesquisa de mestrado de Karine Joulie Martins contou com apoio e
financiamento do CNPq.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
[11] A referida pesquisa de mestrado de Daniela Santana contou com apoio e financiamento
da UFJF.
[12] Alunos bolsistas e voluntários: Matheus Soares, Camilla Marangon, Amanda Padilha,
Anna Leão, Henrique Perissinoto, Juliana Dias, Madalena Cosa, Maria Tereza Guedes.
80
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83
4
A competência midiática na
formação de universitários
Márcia Barbosa da Silva, Soraya Vieira Ferreira
e Marcus Venicius Branco de Souza
85
desafios sociais que se lhes impõem.(SACCOL; SCHLEMMER; BARBOSA,
2011). Por outro lado, os estudantes universitários se constituem
como um grupo de vital importância para o estudo das competências
midiáticas, uma vez que estão se formando na cultura universitária
e se preparando para serem formadores de outros estudantes ou
de funcionários ou ainda como produtores de informação e bens de
consumo. Ao mesmo tempo em que travam um intenso contato com
a mídia e as novas tecnologias, estão também entrando em contato
com teorias sociológicas, históricas, psicológicas e tecnológicas que
fundamentam a compreensão do papel social da mídia. Nesse sentido,
as análises que pautam o estudo das competências midiáticas entre
estudantes universitários podem trazer uma importante contribuição
para o cenário educacional brasileiro.
A PESQUISA
86
acadêmico. Já a segunda parte foi constituída de questões sobre as
dimensões da competência midiática.
Neste contexto foram direcionadas três perguntas para as
dimensões tecnologia, linguagem, ideologia e valores e processos de
interação; e duas perguntas para as dimensões processos de produção e
difusão e estética, conforme o quadro a seguir.
DIMENSÃO PERGUNTAS
Tecnologia P1, P3, P4
Linguagem P6, P7, P15
Ideologia e valores P5, P10
Processos de
P2, P15, P14
produção e difusão
Estética P8, P9
Processos de interação P11, P12, P13
87
Gráfico 1: Sexo
Gráfico 2: Idade
88
Gráfico 4: Distribuição por ano do curso.
89
Gráfico 6: Como aprendeu a lidar com as mídias.
90
Dimensão Tecnologia
conhecimento.
91
Gráfico 7: Grau de conhecimento de plataformas
92
Dimensão Linguagem
93
Para as questões seguintes desta dimensão foram utilizados
trechos do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001, França).
94
Gráfico 11: Grau de compreensão de elementos de linguagem
95
Gráfico 12: Passos para realização de pesquisa na internet
96
Gráfico 13: Grau de conhecimento de ferramentas
de denúncia em diferentes meios.
97
Gráfico 14: Capacidade de atuação com diferentes meios
98
A terceira pergunta pedia aos universitários que ordenassem
as cenas apresentadas na figura abaixo a fim de elaborar uma história
visualmente bem contada.
99
Dimensão Estética
100
Gráfico 17: Identificação de elementos estéticos na peça publicitária.
101
Gráfico 18: Identificação de elementos estéticos por videoclipe
102
Gráfico 19: Motivação para denunciar abusos na internet.
103
Gráfico 20: Motivação para denunciar abusos na internet.
104
CONSIDERAÇÕES FINAIS
105
Isso se aplica também às dimensões processos de interação
e de produção e difusão, em que os participantes demonstraram
conhecer como se faz. Porém, em sua prática, estão mais adaptados
às plataformas que oferecem a oportunidade de compartilhamento de
conteúdo pronto, ou seja, são plataformas que circulam informação.
Quando as plataformas requerem um trabalho de elaboração maior,
são pouco acessadas. Quando isto se une a um comportamento pouco
crítico facilita a circulação de notícias falsas que, por sua vez, orientam
decisões equivocadas. Conseguem relacionar os elementos estéticos
à construção de sentido das mensagens midiáticas, mas também
confundem elementos como, por exemplo, o fato de uma música ser
conhecida por ter qualidade do ponto de vista estético.
Um fator importante a ser considerado é a questão de gênero.
A maioria dos participantes da pesquisa assinalou pertencer ao sexo
feminino. Seria importante verificar até que ponto essa diferença pode
influenciar a conquista das dimensões da competência midiática.
Finalizando, podemos destacar que a pesquisa aponta para a
necessidade de estudos mais sofisticados e aprofundados em relação
ao desenvolvimento da competência midiática dos universitários,
especialmente no que diz respeito à ampliação da participação social
crítica e criativa.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
106
NOTAS
[1] Trata-se de personagens do livro ‘Manu a menina que sabia ouvir’, no qual o autor des-
creve a luta da protagonista contra os homens cinzentos que roubam o tempo das pessoas.
A história foi transformada em vídeo com o nome Momo e o Senhor do Tempo. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=xuuXnKfzTjc. Acesso: 24 set. 2019.
107
REFERÊNCIAS
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SCHAWB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Editora Edipro, 2016.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
108
5
Professores universitários,
competência midiática e autoscopia
Maria Alzira Pimenta, Martha Prata-Linhares
e Tágides Renata de Melo
110
Nas considerações finais, o compromisso de associar pesquisa
e proposição nos faz discorrer sobre como a autoscopia pode auxiliar
no desenvolvimento profissional docente associado ao aprimoramento
das competências midiáticas.
111
exaustivamente, lembrou a importância da consciência crítica na
educação. Suas ideias, com mais de meio século, ainda merecem ser
apreendidas pelos educadores:
112
criativo, político, dialógico e libertador, que amplie a visão acerca da
cidadania. Ainda sobre esse tema, Kellner e Share (2008, p.709) fizeram
uma síntese relevante para os educadores: “a alfabetização crítica da
mídia deve ser um fio comum que passe por todas as áreas curriculares,
uma vez que se refere à comunicação e à sociedade”
113
Referente ao uso da mídia e das TIC na Educação, é importante
que os professores formadores, além de estabelecerem o uso crítico
delas, acolham o fato que a aprendizagem e a atualização profissional
precisam ser constantes.
A relação entre o uso instrumental e a leitura crítica da mídia
precisa ser desvelada e compreendida pelos cidadãos. Para tanto,
parece adequado começar nos cursos de formação de professores e,
principalmente, do profissional pedagogo, uma vez que ele contribui
para formar os sujeitos nas várias etapas e modalidades da Educação.
A leitura crítica da mídia é um aspecto central à cidadania na
sociedade da informação e somente a Educação pode proporcionar
esse entendimento aos indivíduos.
114
É nesse contexto que se insere a investigação que foi realizada
com 149 professores de 16 Instituições de Ensino Superior localizadas
em 10 cidades pertencentes à três regiões geográficas brasileiras:
região Centro Oeste, região Sudeste e região Sul. O objetivo foi conhecer
as dimensões da competência midiática (FERRÉS; PISCITELLI, 2015)
de docentes universitários em diversas áreas de conhecimento. A
pesquisa coletou dados com aplicação de questionário disponibilizado
em plataforma construída para esse fim.
O questionário foi organizado em 30 questões contemplando
as dimensões da competência midiática: tecnologia, linguagem,
ideologia e valores, processos de produção e difusão, estética e
processo de interação. Além das dimensões, foi traçado o perfil dos
docentes respondentes bem como o uso que faziam da mídia.
Para analisar os dados, as informações extraídas do
questionário foram inseridas em uma planilha eletrônica. Cada
questão representou uma variável que foi associada à Análise de
Frequências que norteou os padrões das dimensões de interesse, como
os aspectos gerais dos respondentes, possibilitando assim a avaliação
da competência midiática. Para a realização das análises foi usado o
software estatístico R de livre distribuição e código aberto.
Perfil
115
Gráfico 1: Idade dos docentes participantes da pesquisa.
Menos de 5 22 14,77%
De 6 a 15 69 46,31%
Mais de 16 58 38,93%
116
De acordo com esses ciclos, nos primeiros cinco anos de
docência os professores têm que lidar com questões de sobrevivência
no local de trabalho e somente depois de superar essas dificuldades é
que conseguem avançar no crescimento profissional (STROOT et al,
1999). A maioria dos docentes que respondeu ao questionário já saiu
dessa fase. Eles têm mais de seis anos de docência e estão no ciclo de
vida profissional em que a preocupação com a sobrevivência diminui e
eles se sentem mais confiantes, abertos a novos desafios, em uma fase
da experimentação e de crescimento profissional. É nessa fase que
acontece o fortalecimento da identidade profissional e da competência
pedagógica (HUBERMAN, 2013).
Com relação a área de conhecimento, os professores
pesquisados estão distribuídos por todas as áreas. A área de
conhecimento correspondente a “Artes e Humanidades /Ciências
Humanas e Linguísticas, Letras e Artes”, foi a maior contribuinte para
a pesquisa, correspondendo a 42,95% dos participantes. Por outro lado,
a “Engenharia, Arquitetura e Ciências Agrárias”, com 8,05%, foi a que
teve menor participação. Nas demais áreas, a participação ficou assim:
“Ciências Sociais e Jurídicas/ Ciências Sociais Aplicadas”: 20,81% ,
“Ciências da Saúde / Ciências das Saúde e Ciências Biológicas”: 15,44%
e “Ciências Exatas / Ciências Exatas e da Terra”: 12,75%, como é possível
observar no Gráfico 2.
Menos de 40% dos professores pesquisados declararam ter
algum tipo de conhecimento em literacia midiática e a internet foi
mencionada como o dispositivo de comunicação mais usado além de
ser descrito como o mais conhecido.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
117
midiática, entretanto, é necessário refletir sobre as implicações
desse desconhecimento considerando a abrangência e relevância do
conceito.
118
Dimensão tecnológica
Dimensão linguagem
119
Dimensão Processos de interação
120
Grande parte declarou usar os meios de comunicação para
se comunicar tanto com estudantes quanto colegas (opção Ambos),
representando mais de 73% para redes sociais, e 65% para Whatsapp,
na escolha dos docentes. Já em relação a e-mails, blogs e sites
próprios, a maioria afirmou não usar com essa função. O que nos faz
refletir sobre qual função efetivamente a tecnologia tem na prática dos
professores, uma vez que blogs e sites funcionam como repositórios
que registram e contêm o que for trabalhado na disciplina ou curso.
Chamamos a atenção para o item “Não utilizo” por 94%, quando o meio
de comunicação é e-mail, o que parece demonstrar sua substituição
por um recurso mais imediato, o Whatsapp.
Ao serem perguntados se selecionavam informações dos meios
de comunicação para a atividade docente pensando nos estudantes, a
maioria respondeu que sim e somente 4% respondeu que nunca.
121
Dimensão Ideologia e valores
Dimensão Estética
122
consideração o sentido estético ou artístico, os itens “Habitualmente”
e “Sempre” responderam juntos por mais 82% das escolhas.
Assim, percebemos que o sentido e a qualidade estética e
artística são critérios para escolher uma informação que servirá de
base para a realização de suas atividades. O mesmo acontece quando
os docentes elaboram um conteúdo midiático.
Pela pesquisa realizada, os docentes participantes transitam
entre as dimensões da competência midiática, com conhecimento
tecnológico e utilizando diferentes aplicativos e programas. Há
uma preocupação com a linguagem audiovisual e com a seleção de
informações, pois estão pensando nos estudantes. A grande maioria
disse saber que a mídia mostra estereótipos e preconceitos. Assinalou
também que identifica valores e ideologia presentes nas mídia e que
se preocupa com os valores que desejam transmitir aos estudantes.
Chamou a atenção a mudança em relação ao recurso de comunicação
mais usado (de e-mail para Whatsapp), na dimensão processos de
interação, e o fato de grande parte dos docentes conhecerem pouco os
códigos deontológicos e a licença do Creative Commons relacionada ao
uso legal de imagens e conteúdos gratuitos disponibilizados na internet.
Isso nos remete a questões sobre direito autoral e acesso universal à
pesquisa, educação e cultura, disponibilizados pela internet. Para o
professor, profissional que lida com a gestão do conhecimento em
sala de aula, pensamos que são aspectos relevantes e que precisam ser
melhor trabalhados e disseminados no meio acadêmico.
A seguir, apresentamos os resultados da pesquisa com
professores dos cursos de formação de professores, com abordagem
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
qualitativa.
123
entrevista semiestruturada, realizada com 13 docentes responsáveis
pelas disciplinas que envolvem a temática Mídia e relacionada às
Metodologias de Ensino de três Instituições de Ensino Superior. Dos
13, somente dois não são da área de Humanas, sendo uma da Biologia
e o outro da Ciências da computação. Os demais cursaram Pedagogia
(cinco), Letras (quatro), História ou Geografia (dois).
Os dados coletados, a partir das entrevistas realizadas,
totalizaram 304 minutos de áudio, o que corresponde a 5 horas e 4
minutos de gravação, com média de 25 a 30 minutos de duração
para cada entrevista, com algumas com quase 50 minutos. Após a
transcrição, para codificar as informações, o texto foi recortado e
classificado dentro de categorias temáticas. O material foi analisado
por meio da leitura flutuante, uma das fases do processo de análise do
material empírico na pesquisa qualitativa (BARDIN, 2016).
Desse modo, os relatos dos docentes entrevistados foram
lidos diversas vezes até que pudéssemos extrair a categorização dos
dados em temas principais, resultantes do agrupamento gradativo de
elementos.
Relacionando os discursos dos professores e efetivando as
reduções em nossa análise, surgiram cinco categorias que demonstram
como a competência midiática está sendo trabalhada na formação de
professores. Selecionamos a categoria “produto audiovisual” para
apresentar, analisar e interpretar neste trabalho.
Usar um produto audiovisual garante o desenvolvimento das
competências midiáticas?
Nessa categoria, agrupamos os relatos dos docentes que
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
124
Professor 3: “Trabalho com documentários e também com muitos
vídeos de propaganda”.
Professor 4: “Uso documentário”.
125
De acordo com Moran (2000), na sociedade da informação
na qual vivemos, as pessoas estão em busca de conhecimento,
comunicação, ensino e aprendizagem. A integração do humano com
o tecnológico faz com que, rapidamente, se passe do livro para a
televisão e para o vídeo e destes para o computador e a Internet. É
necessário conhecer as possibilidades que cada meio pode oferecer
para se tirar o máximo proveito dele como instrumento pedagógico.
Muitos docentes compreendem o uso dos recursos audiovisuais
como instrumentos pedagógicos, quando relatam: “Utilizo diversos
recursos, documentários, vídeos do Youtube, enfim, recursos que
complementarão os conteúdos que pretendo trabalhar em sala”
(Professor C1). O uso de recursos audiovisuais nos processos de ensino
pode somar, ampliar e possibilitar aos estudantes novas oportunidades
de construção de conhecimento.
Padilha, Sutil e Miquelin (2013) apresentam uma pesquisa que
tentou relacionar o uso dos recursos audiovisuais para aprendizagem
significativa em aulas de Ciências. Apesar de não lograr êxito em sua
proposta inicial, o trabalho trouxe avanços ao sistematizar as funções
desses recursos, propostas de utilizações e como estas se relacionam com
os pressupostos da Teoria da Aprendizagem Significativa (Tabela 2).
126
Ferrés e Piscitelli (2015), quando propõem que a competência
midiática desenvolva a recepção e a dimensão processos de interação,
também englobam o emprego de recursos audiovisuais, uma vez que
essa dimensão inclui o desenvolvimento da capacidade de avaliar as
mensagens midiáticas, reconhecer e valorizar suas emoções e valores
e interpretar criticamente seus conteúdos. Ou seja, se os filmes,
documentários, animações ou vídeos forem aplicados tendo em vista
esses objetivos, estaremos desenvolvendo uma das dimensões da
competência midiática.
Em nosso tempo, diariamente ocorrem inovações em
metodologias de ensino e sabendo que os estudantes possuem
diferentes formas de aprendizado, urge que o processo de ensino
impulsione a leitura, a crítica, a indagação, a investigação e as
ideias próprias. Certamente, os recursos audiovisuais podem ser
instrumentos significativos para a formação de sujeitos criativos e
críticos, capazes de interagir de forma ativa na sociedade.
As categorias levantadas após a análise dos dados respondem
ao nosso questionamento, constatamos que a competência midiática
está sendo desenvolvida nos cursos investigados através de: análise
crítica de documentos e produtos midiáticos; instrumentalização de
aparelhos e recursos midiáticos e através do emprego de produtos
audiovisuais como filmes, documentários e vídeos. Desta forma,
percebemos que algumas dimensões propostas por Férres; Piscitelli
(2015) estão sendo contempladas pelos docentes. Dentre elas estão, a
dimensão da recepção e os processos de interação, a dimensão tecnológica
e a dimensão de análise de ideologia e valores. Porém, as dimensões
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
127
Após apresentar os resultados e análises das duas pesquisas,
entendemos que é imprescindível propor encaminhamentos e
inovações para lidar com as questões apontadas nos estudos. A
experiência em lidar com o desenvolvimento profissional docente nos
faz sugerir que a autoscopia, metodologia de pesquisa e de formação,
poderia contribuir para o aprimoramento das competências midiáticas
dos professores universitários. Primeiramente, justificamos o porquê
dessa proposta e depois, a partir de uma experiência já realizada,
apresentamos como ela pode contribuir.
128
Acontece que, para o professor, a comunicação é inerente à sua
prática. Seu corpo, sua voz, sua expressão são seus instrumentos de
trabalho. De forma semelhante a um artista, um locutor, um bailarino
- talvez, mais que todos estes juntos - seus recursos de expressão
precisam ser apurados. Como imaginar um marceneiro sem lixadeira
ou um cirurgião sem bisturi? E um professor que estranha sua voz e/
ou imagem, que “não suporta” se ver e ouvir? A questão remete, em
um primeiro momento, aos padrões estéticos, mas o aspecto mais
importante é a aceitação e convivência consigo mesmo [4], com seu
trabalho e com seu papel social.
A autoscopia tem origem na França, em 1967, no Centro de
Audiovisuais da Escola Normal de Saint Cloud. Sadalla e Larocca (2004)
registraram que vários autores - Linard (1974, 1980), Prax e Linard (1975),
Nautre (1989), Rosado (1990, 1993) - trataram da técnica, inclusive Joan
Ferrés (1996). Esses autores observaram que a videogravação permite a
avaliação de si mesmo a partir do confronto com sua própria imagem
e voz na tela, ou seja, sua representação e aparência.
Isso em um primeiro momento. Além dessa percepção física
imediata, é possível analisar a condução da prática pedagógica: as
estratégias, os recursos utilizados, a interação com os estudantes (suas
emoções e raciocínios), as relações de causa e efeito entre as ações
do professor e as reações dos estudantes. Essas características nos
mobiliza a perguntar: há algo mais pedagógico para desenvolver as
competências midiáticas do que analisar o real representado em som
e imagem começando por sua própria representação?
É possível vislumbrar o potencial revolucionário e
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
129
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE COM AUTOSCOPIA
130
As ideias dos autores e a experiência já realizada revelam o
potencial da autoscopia para provocar análises relevantes sobre a
prática pedagógica, logo, sobre a formação de professores, enquanto
propicia desenvolver as competências midiáticas porque trata das
dimensões sistematizadas por Ferrés e Piscitelli (2015).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
131
mais que uma necessidade, é uma condição de pertencimento e de
cidadania. Considerar o trabalho com as competências midiáticas nas
práticas pedagógicas pode constituir a inclusão tecnológica, social e
cultural dos docentes e estudantes que necessita ser consolidada.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
132
NOTAS
[1] O termo analfanauta diz respeito “aos indivíduos que dominam as habilidades
digitais necessárias para interagir com as TIC, mas não possuem habilidades
suficientes de mídia e informação para evitar sua infoxificação e desinformação
estrutural presentes nas redes” (RODRIGUEZ, 2016, p.1).
[2] Organização sem fins lucrativos que permite o compartilhamento e uso da criatividade
e do conhecimento através de instrumentos jurídicos gratuitos. Disponível em https://
br.creativecommons.org/sobre. Disponível em: 24 set. 2019.
[3] Essa parte do texto é baseada na pesquisa realizada por Tágides Mello, orientada
pela professora Maria Alzira Pimenta, para a obtenção do título de mestre em
educação no Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade de
Sorocaba e recebeu apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).
[4] Neste aspecto cumpre observar que as mulheres, em geral, por questões
relacionadas à identidade feminina e aos padrões estéticos, têm mais dificuldade
para aceitarem sua imagem.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
133
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xixendipe.ufba.br/. Acesso em: 02 dez. 2019.
135
PIMENTA, Selma Garrido. Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. 3. ed. São
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Acesso em: 24 set. 2019.
136
6
A competência midiática e o exercício da
cidadania a partir da experiência dos profissionais
de comunicação de Juiz de Fora (MG)
Vinícius Guida, Mariana Meyer e Leticia Torres Americano
138
A partir desse contexto, este capítulo tem como objetivo relatar
a pesquisa que foi realizada em 2018 com profissionais de comunicação
da cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, além das experiências
envolvendo o Colóquio Mediar: Comunicação e Gênero [3] e a websérie
#Observatório Espelhos [4].
139
questionário foi composto por quatro etapas. Inicialmente perguntou-
se sobre as atividades, responsabilidade do cargo e a dimensão
da empresa empregadora. Em seguida, as questões objetivaram
traçar o perfil do profissional perguntando, por exemplo, seu
sexo, posse de dispositivos, quantidade de horas de uso e etc. A
terceira fase buscou compreender quais os usos e funções eram
utilizadas por esses profissionais e com que frequência. Na última
etapa, o comunicador foi convidado a definir a importância de
seus dispositivos no exercício de tarefas rotineiras. Continha ao
final, também, uma aba disponível para comentários e sugestões.
A partir da sistematização e análise dos questionários
constatou-se que 60,7% da base respondente são mulheres. Quanto
à faixa etária, 57,1% dos profissionais têm entre 25-34 anos e não
houve respondentes acima dos 55 anos. A maioria dos entrevistados
atua em agências de comunicação e publicidade (33,9%) e em veículos
de comunicação (32,1%), sendo 48,2% no âmbito do jornalismo.
Metade das empregadoras contam com menos de 25 funcionários,
enquanto 28,6% possuem um quadro de funcionários superior
a 250 pessoas. Segundo a pesquisa, a maioria usa de dois (39,3%)
a três (32,1%) aparelhos por nove ou mais horas diárias (41,1%).
A respeito dos dispositivos mais utilizados, constatou-se serem
o smartphone (98,2%) e o computador portátil, notebook (73,2%).
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
140
Gráfico 1: Equipamentos e/ou dispositivos
que os respondentes mais utilizam.
141
Gráfico 2: Nível de importância de formação
em competência digitais
142
primeira e terceira redes sociais mais utilizadas no mundo, enquanto o
Twitter encontra-se da 12ª posição. Isso corrobora que os profissionais
de comunicação também utilizam as plataformas mais populares em
detrimento de outras.
A respeito dos usos dos dispositivos com fins criativos, 48,2%
afirmaram utilizar com muita frequência para atualizar as redes
sociais e 39,2% para fotografar, enquanto 32,1% afirmaram nunca
utilizar aplicativos para criar composições visuais.
A sistematização dos dados também indica que 57,1% dos
respondentes afirmaram que estes dispositivos são ferramentas
valiosas para agilizar processos e 53,6% para reduzir custos. Ainda que
grande parte dos profissionais apontem que os dispositivos móveis
facilitaram a flexibilidade (64,3%) e melhorias nas possibilidades
profissionais (42,8%), metade aponta dispersar-se com estes e 42,8%
acreditam ter colaborado com o aumento do tempo de trabalho.
Quando questionados em que medida o uso habitual de
dispositivos favorece determinadas mudanças na sociedade, 37,5%
acreditam contribuir para a formação de uma cultura individualista com
alguma frequência. Por outro lado, 41,1% acreditam que os aparelhos
móveis podem promover o respeito a outras identidades e culturas
e 39,9% a igualdade de gênero. Mas também podem, eventualmente,
gerar problemas de saúde (32,1%) e consumo e exploração excessivos
(28,6%).
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
143
Gráfico 3: Níveis em que dispositivos móveis
favorecem mudanças na sociedade.
144
COLÓQUIO MEDIAR: COMUNICAÇÃO E GÊNERO
145
NO AUDIOVISUAL, 2017a, Online). Para Antônio Bakúnin, publicitário
formado pela ESPM/RJ, “[...] a população pode revelar uma coisa com
a câmera do celular que a mídia ainda não conseguiu”. Maristela
Meireles, jornalista formada pela Faculdade de Comunicação da UFJF,
ressalta a importância da aproximação entre a academia e o mercado,
enfatizando que “Hoje o enorme volume de informação dificulta
a produção de conteúdo, as pessoas têm acesso aos meios, mas
também não sabem como produzir. Tudo fica cada vez mais complexo”
(OBSERVATÓRIO DA QUALIDADE NO AUDIOVISUAL, 2017b, Online).
O jornalista Guilherme Areas aponta para a “importância de
aproximar a academia do mercado para os alunos verem a realidade do
mercado e as pessoas do mercado verem o que está sendo discutido na
academia” (OBSERVATÓRIO DA QUALIDADE NO AUDIOVISUAL, 2017c,
Online). A jornalista Camila Saenz, ressalta a união entre academia e
mercado, afirmando que “[..] o mercado tem a vivência da prática, o
que é também importante. Fala que hoje o consumidor da informação
está virando também o produtor da informação” (OBSERVATÓRIO DA
QUALIDADE NO AUDIOVISUAL, 2017d, Online). Telma Elisa destaca a
importância da pesquisa no sentido da “interação com outros colegas
de trabalho e com os alunos, repensar todo dia o seu fazer jornalístico”
(OBSERVATÓRIO DA QUALIDADE NO AUDIOVISUAL, 2017e, Online).
Daniel Couto, jornalista pela UFJF e Mestre em Cinema e
Audiovisual, destaca a importância da discussão sobre a competência
midiática no sentido de contribuir para o entendimento crítico
de conteúdos, “[...] a importância dos futuros profissionais se
questionarem. O que eu quero transmitir com tal enquadramento”
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
146
tão democratizado que o profissional tem que acompanhar isso
também. A profissão está num momento de virada” (OBSERVATÓRIO
DA QUALIDADE NO AUDIOVISUAL, 2017g, Online).
A partir da realização do Colóquio Mediar: Comunicação e
Gênero foi possível perceber que alguns profissionais demonstram
o conhecimento defendido por Ferrés e Piscitelli (2012), “porém
absorvidos pela prática, o que se mostra um pouco diferente do que
esperado no âmbito apenas teórico” (PADILHA et al, 2015, p. 69). Dessa
forma, não identificamos a opinião do convidado nos indicadores
usados como referência, mas podemos inferir que esse conhecimento
existe de forma alargada ao ouvirmos a experiência enriquecedora dos
profissionais.
#OBSERVATÓRIO ESPELHOS
147
específica. A partir disso, propôs-se também discutir a função das
universidades e escolas de comunicação nesse cenário, formando
profissionais que compreendam sua influência e potência de atuação
enquanto formadores de opinião.
No jornalismo impresso, foram realizadas entrevistas com
Júlia Pessoa e Carime Elmor. Pessoa cobre principalmente as editorias
de cultura e gastronomia e concatena sua atuação no mercado com
formação acadêmica continuada. Mestre em Comunicação pela
Universidade Federal de Juiz de Fora e doutoranda em Ciências Sociais
também na UFJF, em seu depoimento relata a preocupação quanto a
inter-relação entre esses dois âmbitos. Elmor também centraliza
suas produções em torno da área cultural, sendo especializada
em jornalismo musical. No relato, ela explicita que a realidade do
mercado atual implica em jornadas de trabalho em múltiplos espaços
e, geralmente, entre áreas da comunicação que não estão diretamente
relacionadas com a formação original.
Em relação à comunicação audiovisual, coletamos entrevistas
com a diretora Mia Mozart e o produtor Daniel Couto. Mozart, que
também é diretora e atriz, ressalta sua preocupação com a qualidade do
discurso comunicativo que produz. Nesse sentido, entende o cinema
como uma forma de retratar a realidade, mas de forma clara e de fácil
compreensão para que haja maior alcance do argumento trabalhado.
Couto iniciou a carreira como produtor de telejornalismo e expandiu
o campo de trabalho para outros âmbitos da produção audiovisual. Em
sua percepção, a redução das equipes e a atuação em muitas frentes
acarreta em uma nova organização do trabalho que pode sobrecarregar
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
148
principalmente em relação a temáticas sociorraciais. De formação
divergente dos demais dos entrevistados, a comunicadora ressalta
a importância do espaço dado a voz periférica e da construção de
uma comunicação não-hegemônica a partir desse tipo de iniciativa.
Cerqueira, por outro lado, faz uso das novas mídias para também
incentivar a democratização da comunicação. A produtora do
podcast de divulgação científica da UFJF também estudou o formato
em mestrado, concluído também na instituição, na tentativa de
compreender a transposição do storytelling via áudio entre a difusão
radiofônica e os formatos digitais.
Evidenciando a convergência entre assessoria de impressa
e social media, foram entrevistados o assessor de imprensa Gustavo
Carvalho e a gestora de marketing Gihana Fava. Carvalho iniciou a
carreira como jornalista em um jornal diário, migrou para assessoria
de imprensa no âmbito cultural e hoje atua gerenciando a imagem
de um hospital e de um espaço cultural. O gestor relata que uma de
suas preocupações principais é que a sensação de imediatismo de
divulgação e difusão de informações colabora para a falta de devida
atenção na preparação dos produtos comunicacionais. Fava, por
exemplo, optou por empreender e criar sua própria empresa de gestão
de redes sociais. Em sua percepção, a formação ampla em comunicação
social, em contraponto com as novas diretrizes aplicadas pelo MEC
em relação aos currículos, permitiu que ela explorasse múltiplas
camadas de possibilidades até que, por fim, se encontrasse no ramo
da publicidade.
Os pontos centrais notados entre os depoimentos coletados
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
149
A IMPORTÂNCIA DA COMPREENSÃO DA COMPETÊNCIA MIDIÁTICA
150
em que um mesmo profissional condensa funções como, por exemplo,
produção, edição, apresentação e distribuição.
Por fim, é importante destacar que apesar de reconhecerem a
importância da competência midiática e de reforçarem, em diversos
momentos, que é fundamental a compreensão crítica dos profissionais
e a leitura atenta do público na curadoria e reflexão dos conteúdos,
os entrevistados ainda não compreendem plenamente a amplitude
deste conceito e o seu papel na área da comunicação. Nesse sentido,
ao estabelecerem uma correlação entre a competência midiática e
a atuação do profissional e do público, podemos observar que uma
nítida lacuna reverbera em constatações, por vezes, genéricas sobre o
campo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
151
sobre o que se produz. Nesse sentido, entende-se que é demandado
dos profissionais de comunicação, no contexto atual, atuar em
múltiplas frentes de forma concomitante, resultando em rotinas
atribuladas e baseadas no imediatismo. Esse pressuposto indica a
urgência de pensar, também, em novos modelos produtivos, assim
como em estatutos e regulamentações mais contundentes e melhor
estruturados.
Outro ponto que demanda urgência diz respeito à integração
entre a academia e mercado. Diversos entrevistados e respondentes
incluídos no desenvolvimento desta pesquisa relatam considerável
distância entre os dois ambientes resultando em consequências tanto
na formação de futuros profissionais quanto na atualização e reflexão
– que deveria ser contínua – daqueles que já estão integrados na
cadeia produtiva. Nesse sentido, os últimos - imersos no cotidiano
mercadológico - têm poucas oportunidades de desenvolver suas
capacidades analíticas, pensar e refletir sobre suas produções e, por
fim, intervir no modus operandi de seus ambientes de trabalho.
A partir dessa análise, percebe-se que a discussão em torno do
desenvolvimento de habilidades de reflexão crítica e produção criativa
devem ser expandidas para incluir, também, os profissionais de
comunicação. Além de aspectos formativos (englobando a formatação
de currículos de escolas de comunicação, formação continuada e
atualização frequente), compreende-se também a necessidade de
repensar os modelos produtivos e as legislações.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
152
NOTAS
[2] Not only is it essential to be able to recognize and distinguish speculations, opinions,
and beliefs from facts, but one must also know the diferences between nature and
socially constructed beliefs about the world.
[6] Termo utilizado para descrever os grandes volumes de dados gerados pela navegação
mundial, hospedados em diversos servidores e interligados entre si através da
computação em nuvem.
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS
153
REFERÊNCIAS
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skills. Spot.Us: Community funded journalism. Online, 2011. Disponível em: http://spot.us/
pitches/545-learning-about-flash-mobs-helps-children-develop-news-literacy-skills/
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and vídeo production contribute to adolescente civic engagement. Educational Media
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abs/10.1080/09523987.2013.862364. Acesso em: 15 set. 2019.
HOBBS, R. The State of Media Literacy: A Response to Potter. Journal of Broadcasting &
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em: 15 set. 2019.
MIHAILIDIS, P (Ed.). Global Perspectives for the Newsroom and the Classroom. Nova
York: Peter Lang, 2012.
154
OBSERVATÓRIO DA QUALIDADE NO AUDIOVISUAL. Colóquios Mediar: comunicação
e gênero – Daniel Couto, 2017f, Online. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=Seuip4rjcYY. Acesso em: 16 set. 2019
155
2
BOAS PRÁTICAS
NA FORMAÇÃO
DE PROFESSORES E
PROFISSIONAIS DE
COMUNICAÇÃO
7
Lume – uma experiência de extensão
em literacia midiática
Márcia Barbosa da Silva, Alisson Thiago do Nascimento,
Beatriz Jaqueline Roscosz e Valdir Heitkoeter de Melo Junior
O INÍCIO
158
com o Projeto Primeiro Plano desenvolvido no Centro de Investigação
em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, de Portugal e
coordenado pela professora Raquel Pacheco.
Na rede Alfamed o Lume se engajou na pesquisa Competências
midiáticas em cenários brasileiros e euroamericanos, sendo
desenvolvida na UEPG por meio do projeto Competências midiáticas
no contexto educacional dos Campos Gerais contemplado com verbas
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
159
O desenvolvimento dessas atividades, contou com a realização
de reuniões semanais nas quais ocorrem momentos de estudos sobre
conceitos, (novas) abordagens, experiências e elementos oriundos
das áreas de formação de cada integrante. Essa experiência associada
à participação na pesquisa forneceu elementos para a produção
de material educacional de apoio aos estudos de mídia e educação
disponibilizando a sua distribuição de maneira gratuita via o site do
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
programa [2].
OFICINAS DE FORMAÇÃO
160
Figura 1: Cartaz de divulgação das Oficinas
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
161
Uma das professoras participantes comentou: “Antes, nós
pais, professores procurávamos proteger as crianças, mas hoje, com
todo esse acesso, nós precisamos educar porque não temos mais
como controlar”. Essa fala sumariza a preocupação dos professores
participantes da oficina a respeito da relação juventude e mídia: apesar
de os jovens terem grande facilidade de apropriação da tecnologia,
precisam ainda desenvolver competências que as auxiliem utilizá-las
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
de maneira crítica.
Na continuidade, apresentamos um vídeo curto sobre o
aliciamento de jovens franceses pelo grupo terrorista estado islâmico,
no qual uma jovem relatava como foi abordada através de uma rede
social, induzida a se isolar da família e dos amigos, tornando-se
vulnerável e psicologicamente dependente do aliciador.
A discussão entre os participantes foi bastante rica e intensa,
os professores se envolveram relatando situações que acompanharam
de casos de uso indevido das redes pelos seus alunos. De acordo com
Spadaro (2013, p.100) “[...] o Facebook permite aos seus usuários se
sentirem e se verem como parte de uma rede de relacionamentos, com
uma fisionomia e história cotidiana da qual se pode participar com
um clique”. Isso faz com que adolescentes sintam-se à vontade nesse
ambiente, o que ocasiona uma frouxidão nas medidas de segurança.
Uma professora relatou: “antigamente nossos pais nos alertavam para
não aceitar presentes, doces ou qualquer coisa de desconhecidos na
rua [...] Hoje os meios mudaram essa situação, a sedução vem pelas
redes sociais.”. A fala da professora revela uma mudança em relação ao
tipo de alerta para a segurança dos adolescentes, hoje em dia isso deve
incluir também as relações virtuais.
Diante desse cenário, destacamos alguns cuidados importantes
ao navegar nas redes sociais, dentre eles: jamais compartilhar que está
sozinho em casa; evitar expor a imagem e nome de seus filhos/alunos;
indicar a sua localização; inserir informações da empresa (escola) em
que trabalha; não compartilhar imagens ou mesmo conteúdos que
atinjam negativamente alguma pessoa.
162
Conversamos com os professores (Figura 2) sobre a preservação
da nossa privacidade, não deixando nossa vida ser um “livro aberto”
em qualquer rede social.
163
E, por fim, apresentamos e discutimos a possibilidade de como
denunciar se sofrermos alguma discriminação ou constrangimento na
internet por meio do site Safernet [5], um canal seguro com conteúdo
direcionado aos jovens que oferecem orientação gratuita de como
lidar e se proteger de crimes virtuais.
Para complementar a formação dos professores, deixamos na
escola três cartilhas (em extensão .pdf) como material de apoio para
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
164
Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não
separadas. Daí a sua força. Nos atingem por todos os sentidos e de todas
as maneiras. O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta em outras
realidades (no imaginário) em outros tempos e espaços. O vídeo combina
a comunicação sensorial cinestésica, com a audiovisual, a intuição com
a lógica, a emoção com a razão. Combina, mas começa pelo sensorial,
pelo emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional.
165
produções ao grupo, explicando as ideias sobre como utilizaram os
recursos para a edição e produção do vídeo.
Durante as discussões, notamos uma preocupação dos
participantes em como utilizar esses vídeos da melhor maneira e
sentiam necessidade de adquirir maior competência para utilizar as
mídias em suas aulas.
Nesse sentido, os participantes avaliaram que a oficina os
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
166
JOGOS EDUCACIONAIS
CONSTRUINDO NARRATIVAS
167
Figura 4: Jogo Educacional: Construindo Narrativas
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
168
devolver aos grupos as mesmas criações e notar a diferença entre a
história construídas - escrita e visual. Com isso é possível verificar não
somente as diferenças entre os roteiros, mas também como as imagens
e as palavras influenciam o processo de criação e de compreensão de
uma história.
Possibilidades de jogos:
169
Os jogos proporcionam aos participantes noções a respeito
da caracterização dos personagens, cenário e enredo articulada
aos elementos da gramática audiovisual como os planos e ângulos.
Quando integrados com as oficinas de vídeo, por exemplo, podem
proporcionar uma reflexão sobre o processo de criação midiática,
favorecendo o desenvolvimento de competências relacionadas à às
dimensões estética e processos de produção e difusão.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
170
Fora. Na primeira exposição três desenhos foram contemplados com
o prêmio Celestin Freinet de Mídia e Educação. Essa atividade tem
previsão de continuidade através de exposição itinerante na cidade
para que pais e colegas possam ver o resultado e assim participar de
uma etapa importante da metodologia de estudos da mídia proposta
por Silva (2011).
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
171
O encerramento das ações junto à escola ocorreu com a
inauguração de uma grande exposição que incluiu a participação de
autoridades da cidade. Isso favoreceu a extrapolação do projeto para
as ruas da cidade, por meio de painéis colocados junto às placas de
identificação de ruas. Também elaboramos produções teóricas relativas
aos resultados das ações extensionistas. Para isso os resultados foram
discutidos à luz dos estudos teóricos que deram origem a artigos,
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
172
CINECLUBE COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DE
COMPETÊNCIAS MIDIÁTICAS NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
INFANTIL E ANOS INICIAIS
173
LEITURA DE MUNDO E LEITURA DA PALAVRA: CAMINHOS
FREIRIANOS PARA TRABALHOS EDUCATIVOS EMANCIPADORES
174
NOTAS
[3] Todas as imagens e figuras deste artigo são de autoria de Alisson Thiago do
Nascimento e Valdir Heitkoeter de Melo Junior.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
[4] O rosto dos participantes da oficina foi borrado para preservar a sua identidade.
175
REFERÊNCIAS
MORAN, J. M. Leituras dos Meios de Comunicação. São Paulo: Ed. Pancast, 1993.
176
8
Cinema na Escola: práticas de
formação docente com o audiovisual [1]
Karine Joulie Martins, Juliana Costa Müller,
Lídia Miranda Coutinho e Silviane de Luca Avila
178
O curso foi oferecido entre 2016 e 2017 na cidade de
Florianópolis. Participaram dos encontros 34 professoras(es) atuantes
na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, além de gestoras
escolares e auxiliares pedagógicas de 28 instituições educativas,
municipais, estaduais, federais e uma ONG de 4 municípios da
Grande Florianópolis. O fato de cada instituição localizar-se em
uma comunidade com características culturais, geográficas e com
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
179
há registro de muitos projetos, eventos e formações que se propõem
a discutir e fomentar uma educação com, para e através das mídias,
visando a uma mudança significativa dos cenários educativos, como
defende Rivoltella (2012, p. 23):
180
lugar no mundo. Sempre tendo em mente que o cinema é construído a
partir da subjetividade de seus autores e representa um ponto de vista
dentre vários possíveis. A sensibilização que a conjunção da música e
dos enquadramentos do audiovisual nos provoca, por exemplo, está
relacionada à intenção de suscitar tristeza, alegria e medo. Nesse
sentido, é importante ler as imagens do cinema - e da mídia em
geral - com a compreensão de que partem de escolhas, não são algo
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
181
se pauta em processos de recepção, produção e compartilhamento,
para produzir significados de maneira consciente. Prezamos por uma
educação que privilegie o envolvimento prático e lúdico de crianças e
jovens, em sua inteireza, para que possam se expressar pela linguagem
corporea, plástica, escrita, musical, dramatizada, e produzir
audiovisuais que valorizem o processo de construção, criações e
recriações que são tão ou mais importantes que o produto final.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
182
e mesmo entre as crianças e jovens, permitiram uma produção autoral
e uma mediação facilitada [10]. O uso dos celulares atraiu e, ao mesmo
tempo, democratizou a produção audiovisual na escola.
Os planejamentos pedagógicos foram realizados de acordo com
as especificidades de atuação do grupo de professoras(es) (interesses,
faixa etária, contexto cultural, tecnológico), buscando a sensibilização
às propostas e o estímulo ao fazer cinema na escola. Ouvimos as
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
Figura 1: Estrutura
Figura 1: dos encontros
Despertar
Praticar Compartilhar
Experimentar Analisar
Fonte:Fonte:
Elaborado pelas autoras (2017)
183
1. Despertar: Começamos com uma brincadeira ou exercício
físico de atenção e/ou de aproximação entre os colegas. Exemplo:
Para despertar mente e corpo fizemos uma brincadeira de memorização
dos nomes dos participantes. Cada um teve que repetir o próprio nome
estalando os dedos próximo aos ouvidos e, em seguida, escolher um dos
colegas, bater palmas em sua direção e repetir seu nome. Muitas risadas,
alguns esquecimentos e nomes soprados depois, conseguimos nos
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
lembrar de um, dois, três, até mesmo vários nomes dos colegas.
184
o autor deseja mostrar, que ideia espera transmitir e, ao fazer suas
escolhas, o que é excluído, o que fica de fora? Há todo um contexto, há
outras versões, há um universo de intenções mais ou menos explícitas
que devemos considerar.
185
bebês e crianças menores de 3-4 anos, sugerimos não o estímulo
direto ao uso das câmeras, mas focar as atividades na formação das(os)
professoras(es), em sua qualificação para o uso dos dispositivos e
linguagens audiovisuais e na sensibilização do olhar para lidar com
essas crianças.
Com as crianças maiores e jovens temos muitas possibilidades
criativas, pois grande parte deles domina o uso das tecnologias
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
186
na cidade, acessíveis às(os) professoras(es) e alunos, pensando na
ampliação do repertório cultural e na valorização da produção local.
A maioria das oficinas foram realizadas na Universidade Federal
de Santa Catarina, buscando a aproximação dessas(es) professoras(es)
com este espaço de formação, além de alguns encontros na Fundação
Cultural BADESC e no Museu da Imagem e do Som (MIS), estimulando-
os a frequentarem os espaços de cultura da cidade.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
187
No Ensino Fundamental tivemos uma maior variedade de
aproximações e envolvimento nos projetos, de acordo com o contexto
e atuação de cada professora. Por exemplo, uma das professoras de
uma escola básica é auxiliar de sala e, por estar sempre atuando em
várias turmas substituindo outros professores, resolveu experimentar
os dispositivos com alunos de turmas diferentes, inserindo-se na
narrativa e compartilhando a autoria com as muitas crianças e jovens
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
188
Nosso trabalho com o audiovisual é pautado na mídia-
educação, que reforça a atuação dos envolvidos para além do papel de
consumidores das mídias. À medida que trabalhamos com a dimensão
estética para a experimentação das atividades pelas(os) professoras(es)
e transposição para as crianças e jovens, percebemos as possibilidades
e limites que os recursos apresentam e, assim, construímos sentidos
de pertencimento e autoria. O audiovisual é encarado como um
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
Essa formação já vem contribuindo com minha prática docente, pois vem
discutindo a inserção dos recursos audiovisuais, de forma alternativa, no que
se refere ao uso de equipamentos, por exemplo, na construção do processo
de ensino aprendizagem. Além disso, vem ampliando e direcionando meu
olhar no sentido de possibilitar aos meus estudantes, verdadeiro espaço de
cidadania, de reflexão e construção coletiva (Professora C.). As propostas,
técnicas e discussões realizadas durante a formação vem contribuindo
para a inovação e reflexão de como fazer da escola/creche um espaço de
cidadania através do cinema, onde as crianças podem ser protagonistas
nessa construção de conhecimento e não apenas meras coadjuvantes neste
processo de ensino e aprendizagem (Professora K.).
189
Vale ainda mencionar o empenho e dedicação dessas
profissionais em busca de uma prática mais lúdica e participativa com
crianças e jovens, para além dos discursos da falta de tempo e/ou de
recursos financeiros. Queremos registrar a satisfação proporcionada
à nós, formadoras e pesquisadoras, por essa experiência de troca e
colaboração. Provindas de diferentes áreas, buscamos estabelecer
relações democráticas de criação e execução coletiva, para potencializar
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
190
NOTAS
[7] cercate di tenerlo lontano da lui come si fa con molti altri oggetti in casa.
191
[10] Em 2008 Santa Catarina foi publicada a Lei 14.636/2008 que proibia o uso de
celulares nas escolas. No entanto, atualmente o projeto de Lei 0198.8/2016 propõe
seu uso para fins pedagógicos.
192
REFERÊNCIAS
BELLONI, M. L. Educação para a mídia: missão urgente da escola. Comunicação
& Sociedade, v. 10, n. 17, p. 36-46, 1991. Disponível em: https://www.metodista.br/
revistas/revistas-ims/in. Acesso em: 21 set. 2019.
MIGLIORIN C., et. al. Cadernos do Inventar: Cinema, Educação e Direitos Humanos.
Niterói: EDG, 2016.
193
9
Qualidade audiovisual no desenvolvimento
da competência midiática de crianças e
adolescentes
Daniela Santana de Oliveira
195
Em 2015 e 2016 o ESPM Media LAB [5], desenvolveu o estudo
Geração Youtube (CORRÊA, 2016), identificando que o número de
visualizações dos canais infantojuvenis mapeados subiu de 20 para
50 bilhões em apenas um ano. O estudo teve como objetivo analisar
os impactos e efeitos dos canais infantojuvenis sobre a comunicação,
consumo e relações familiares no cenário brasileiro, a fim de identificar
os hábitos da nova geração e refletir sobre as transformações nas culturas
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
196
em conta o gênero, a faixa etária, seu desenvolvimento cognitivo, as
condições socioambientais e os níveis socioculturais das famílias,
também como a oferta midiática e o acesso à tecnologia que estão
disponíveis para cada uma.
Para melhor entendimento de como as crianças se relacionam
com as mídias, é necessário entender como se dá a sua socialização.
De acordo com Pinto (1997, p. 45) a socialização das crianças é um
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
197
É importante observar o lugar de fala da criança como sujeito, que
embora ainda em formação, tem não somente a capacidade de dialogar
e participar do universo midiático, mas também de produzir e consumir
conteúdo, e assim construir seus significados dentro do seu contexto
sociocultural midiatizado.
198
pelos elementos visuais (câmera, iluminação, cenário, atuação do
elenco, maquiagem e figurino e qualidade técnica da imagem),
sonoros (diferentes tipos e qualidade técnica do áudio), sintáticos
(edição, e ritmo do programa) e gráficos (videografismo e vinhetas
inicial e final); 2) o uso de recursos técnicos expressivos como áudio,
vídeo e videografismo e 3) a atuação dos personagens, apresentadores,
entrevistados e demais protagonistas dos produtos audiovisuais.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
199
Quando se discute a qualidade nas produções audiovisuais
para internet é essencial considerar o contexto inerente ao ambiente da
cultura participativa. Este ambiente trouxe novas dinâmicas relativas
à produção e difusão de conteúdo e contribuiu para a reconfiguração
dos formatos, linguagens e processos de comercialização e consumo.
De acordo com Burgess e Green (2009, p. 28), a cultura participativa
seria “[...] ligação entre tecnologias digitais mais acessíveis, conteúdo
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
200
participativo, mas não possuem as competências necessárias para
agir de forma significativa, “[...] negligenciando padrões de qualidade
artesanal, estética e ética”. Neste contexto surge a necessidade do “[...]
treinamento dos novos participantes, a fim de garantir o estado da
arte [...] e prevenir que os usuários inexperientes sejam explorados,
abusados ou ridicularizados.” Segundo o autor:
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
201
Em função desta facilidade, muitos usuários apenas transferem
seus vídeos diretamente de seus dispositivos para a plataforma,
sobretudo quando gravados de smartphones, sem se preocupar com a
pré ou pós-produção. A suposta falta de qualidade estética da grande
maioria dos vídeos enviados para a plataforma, entretanto, não é
empecilho para que um vídeo possa atingir milhões de visualizações,
uma vez que o Youtube é sobre compartilhamento de experiências.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
202
de qualidade, ainda que não o seja: “[...] trata-se do principal agente da
cultura participativa e da emergência de uma comunidade que produz
valor, mas não se enquadra dentro de um esquema profissional de
trabalho”. O acesso às tecnologias digitais e a emergência das redes
digitais permite que pessoas se conectem e exerçam um impacto na
política, cultura e na economia, impacto antes gerado apenas por
grandes organizações.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
203
Müller (2009) também chama atenção para o grande número
de vídeos tutoriais criados por usuários amadores ensinando algumas
estratégias para criar vídeos de sucesso no Youtube. A existência dessa
categoria de vídeos no Youtube pode ser entendida como um discurso
sensível à qualidade na produção de vídeo para a plataforma. Os vídeos
que tratam de tutoriais abordam questões técnicas, estratégias de
divulgação/publicidade e focam em conteúdo original, considerando
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
204
a criação de uma comunidade engajada, aumentando a possibilidade
de atingir sucesso na plataforma.
Sobre a qualidade dos vídeos, é importante refletir sobre
o público a quem eles se destinam. Considerando que o Youtube é
utilizado pelas crianças sobretudo como fonte de entretenimento,
aprendizado e ocupação de um lugar no ciberespaço, é importante
oferecer a este público um entendimento mais amplo sobre consumo
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
205
pesquise pelo conteúdo que quer consumir. Estas características
favorecem a autonomia do usuário e permitem que a criança, enquanto
agente, esteja mais empoderada para consumir conteúdos de acordo
com o que julga mais atraente. O consumo de vídeos de qualidade,
neste caso, não estará somente relacionado à oferta, mas à demanda
por parte do público.
Com base na proposta criada por Borges (2014) para avaliar
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
206
eficácia na transmissão da proposta comunicativa do vídeo. Dentre
os diferentes indicadores para análise da mensagem audiovisual
de conteúdos infantojuvenis, Oliveira (2018) destaca os seguintes:
originalidade e criatividade do formato audiovisual; utilização eficiente
dos elementos sonoros, visuais, sintáticos e gráficos que compõem
a linguagem audiovisual; eficácia na transmissão das mensagens,
incluindo propostas com clareza objetiva, roteiro bem elaborado
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
207
tudo, antecedendo a técnica. O audiovisual se destaca pela dualidade:
o papel do receptor é tão importante quanto o do emissor. É necessária
uma coparticipação dos mesmos para uma comunicação efetiva.
O desenvolvimento da competência midiática através da
proposta das dimensões de Ferrés e Piscitelli (2015), sendo elas a
linguagem, tecnologia, processos de produção e difusão, processos de
interação, ideologia e valores e estética, tem como principal característica
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
208
De acordo com Vieira e Volquind (2002), oficina é uma
modalidade de ação que promove a investigação, ação e reflexão,
além de combinar o trabalho individual com a tarefa socializada
e garantir uma articulação entre teoria e prática. Para as autoras,
esta articulação ocorre no equilíbrio entre três instâncias: o pensar,
o sentir e o agir. Para Paviani e Fontana (2009, p.78): A oficina
pedagógica atende, basicamente, a duas finalidades: (a) articulação de
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
209
construção da linguagem audiovisual. São elas: Brinquedos Ópticos, Eu,
Youtuber, Contando Histórias e Que som é esse?. Estas foram pensadas
de forma a se complementarem, ao mesmo tempo em que pudessem
ser aplicadas individualmente, não exigindo que os alunos tivessem
conhecimento da oficina anterior para desenvolver as atividades da
oficina atual.
Todas elas apresentam os seguintes movimentos: ver, refletir,
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
210
A presença dos dispositivos móveis com acesso à internet
é uma realidade na vida dos indivíduos desde as idades iniciais.
Tendo isto em consideração, é necessário que se entenda a dinâmica
do consumo e produção de conteúdos midiáticos, sobretudo o
audiovisual, pelo público infanto juvenil, a fim de definir estratégias
para o desenvolvimento da competência midiática na sensibilização do
olhar no referido público. O consumo midiático atualmente acontece
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
211
competência midiática audiovisual, trabalhada através de atividades
de percepção, observação, imaginação e sensibilização estética,
pode contribuir para que os alunos tenham consciência do seu lugar
no mundo e maior compreensão de conteúdos das outras áreas do
currículo.
Assim como os artistas, que subvertem a lógica do meio que
utilizam para se expressar livremente e transgredir a lógica imposta
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
212
NOTAS
[4] Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.br. (2016). Pesquisa Sobre o Uso da
Internet por Crianças e Adolescentes no Brasil: TIC Kids Online Brasil 2016.
Disponível em: http://www.cetic.br/media/docs/publicacoes/2/TIC_KIDS_
ONLINE_2016_LivroEletronico.pdf. Acesso em: 18 jun. 2018.
[6] [...] cultural practices are defined according to the types of discourses that provide
the ‘constitutional infrastructure’ that allows actors to build models of knowledge on
which action is based.
[7] YouTube is [...] all about sharing moments online with a potentially worldwide
audience, but actually a limited number of viewers.
213
REFERÊNCIAS
BORGES, Gabriela. Qualidade na TV pública portuguesa: análise dos programas do
canal 2. Editora da UFJF, 2014.
BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube e a revolução digital. São Paulo: Aleph, p.
24, 2009.
214
MEILI, Angela Maria. O Audiovisual na era YouTube: pró-amadores e o
mercado. Sessões do Imaginário. v. 15, n. 25, p. 52-59, 2011. Disponível em http://
revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/view/9258. Acesso em:
02 de set. 2017
MÜLLER, Eggo. Where Quality Matters: Discourses on the Art of Video Making for
YouTube. In: The YouTube Reader, p. 126-139, Stockholm: National Library of Sweden,
2009.
______. A relação das crianças e dos jovens com a televisão e a internet. CADERNOS
bad, n. 1/2, 2011.
VIEIRA, Elaine; VOLQUIND, Lea. Oficinas de ensino: O quê? Por quê? Como? 4. ed.
Porto Alegre: Edipucrs, 2002.
215
10
A experiência social do Ver e do Fazer-Se Ver:
uma possibilidade do documentário como
ferramenta pedagógica [1]
Gabriela Spagnuolo Cavicchioli e Lyana Thédiga de Miranda
217
sobre as possibilidades pedagógicas do gênero documentário e sua
inserção em uma escola que buscou trabalhar com a inserção das
tecnologias móveis. O enquadramento é o processo de elaboração e
construção da apresentação do gênero documentário como ferramenta
pedagógica e possibilidade de participação e criação por parte dos sujeitos
envolvidos (e vinculados), de modo a compreender a realidade concreta.
Fruto de um vínculo, este relato se insere em um âmbito mais
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
218
documentário – sob um viés crítico, autônomo e como agente de
socialização e cidadania.
219
oportuno retomar a ideia de vínculo, de criação e criticidade – a
representação do real que compartilhamos, assim como a formulação
da conduta que agrega em tal realidade as dinâmicas da cultura
digital, da cultura escolar e da cultura visual. Ao percebermos ambos,
o documentário e o contexto que retrata, bem como seus retratantes
em uma relação de vínculo, ou como ponderou Pichon-Rivière (2007,
p. 17), em seu “sentido concreto”, tal produção audiovisual nos dará
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
220
da realidade social e seu lugar na construção desta mesma realidade. “O
vínculo entre o documentário e o mundo histórico é forte e profundo.
O documentário acrescenta uma nova dimensão à memória popular e
à história social” (NICHOLS, 2005, p. 27).
Assim, tomando a simbiose que também caracteriza e
atravessa a própria concepção de documentário, foi preciso observar,
adentrar e, como propõe Geertz (2008), interpretar as culturas,
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
221
identidades e subjetividades” (TOURINHO, 2011, p. 5). Com esse
entendimento, e levando-se em consideração o contexto em que as
tecnologias digitais estão inseridas, onde também se insere o Prouca
e consequentemente a escola, adornados pelos dispositivos e conteúdos
imagéticos, pensar a participação passa, necessariamente, pela concepção
de uma cultura digital.
Contudo, é preciso alargar a concepção que atrela, e mesmo
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
Quando nós entendemos política como livre agir, como agir com livre
iniciativa, a partir de interesses dos grupos particulares, aí nós vemos
que a educação e que a cultura têm que estar ligadas ao livre agir político
(MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO, 2002).
222
OFICINA DE VÍDEO: DIALOGANDO E INTERVINDO NA
PRODUÇÃO DE UM DOCUMENTÁRIO COM A TURMA 81
223
compostas por oficinas de audiovisual e processos de filmagem (pré-
produção, produção e pós-produção). Contudo, outras disciplinas
como matemática, português [4] e ciências também fizeram parte do
cotidiano do observar e do sentir junto todo dia.
Naquele contexto participante de uma política pública pautada
na inclusão digital era visível um número menor de laptops do que
de sujeitos, e a pergunta “Onde estão as máquinas?” foi amplamente
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
224
sejam mais ativas e interativas, permitindo além de comunicar, pensar
e criar, “[...] produzindo cultura de modo reflexivo” (FANTIN, 2008, p.
71). Afinal, como diz Freire (1982, p. 16) “[...] a primeira condição para
que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de
agir e refletir”.
A turma 81, em tal contexto, era composta por 36 estudantes
matriculados - um deles com necessidades especiais [6] - e foi receptiva
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
225
determinado momento trocavam-se os papéis. Estavam presentes,
além dos estudantes, o docente da disciplina de geografia, o técnico
da sala informatizada, a docente de inglês e a supervisora escolar.
Foram eles que fizeram um primeiro movimento de demonstração da
atividade, “quebrando o gelo” com os alunos e com as pesquisadoras.
Os alunos pareceram se divertir e se motivar ao verem os professores
participando. Após, foi feita uma conversa sobre a vivência, as
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
226
criador. O ímpeto de criar nasce da inconclusão do homem. A educação
é mais autêntica quanto mais se desenvolve este ímpeto ontológico de
criar [...]”.
Continuaram os acompanhamentos dos processos de estudos
e reflexões sobre o tema da pesca e, então, a partir da discussão
macro chegamos a uma questão micro: e a pesca em Florianópolis? E
a pesca da tainha? Reflexões abordando globalização, conseqüências
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
227
Desde as 8h da manhã estive na PRAIA DO CAMPECHE, aguardando os
estudantes para o dia de filmagem e estudos sobre a pesca da Tainha.
Conversei bastante com Seo Getúlio, expliquei a proposta do encontro,
o ajudei na organização do espaço, varremos todo o local, tomamos café
quente até a chegada do grupo. O oitavo ano chegou acompanhado dos
professores de geografia, ciências e inglês. Todos animados, com as
filmadoras e máquinas digitais nas mãos, bem como o roteiro. Fiquei
encantada com a animação! Meus olhos brilharam junto com os deles.
Em uma grande roda de conversas, os alunos fizeram as perguntas
formuladas para o próprio pescador, que respondeu e refletiu conosco
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
228
o combinado foi que o docente exibiria o material captado em sala e a
partir disso encaminharia as propostas dos grupos para encontro com
representantes não se concretizou [12], e tendo em vista o pouco tempo
para a chegada das férias, a edição – realizada pelas pesquisadoras –
foi feita com base nas ideias já levantadas nos encontros anteriores
supracitados pelas pesquisadoras.
Por fim, um último encontro para exibição do vídeo. Na
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
ALGUMAS CONCLUSÕES
229
que, para que se alcance o objetivo almejado, é preciso participação
conjunta dos integrantes (alunos, professores, gestores), a imersão nas
especificidades da linguagem audiovisual no contexto das tecnologias
digitais móveis e, sobretudo, a necessidade de a escola, seus
métodos, técnicas e estratégias pedagógicas, se inserir no panorama
comunicacional do nosso tempo.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
230
NOTAS
[1] Este texto é uma adaptação do artigo de (CAVICCHIOLI, G.; MIRANDA, L., 2013)
[3] O Prouca fez parte de uma política pública governamental (2007-2015) com a
finalidade de promover a inclusão digital. Disponível em: www.uca.gov.br. Acesso
em: 2 out. 2019.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
[4] Em atividade dirigida realizada durante uma aula observada, a docente propôs uma
atividade chamada Feira do Consumo, cujo objetivo se dava em realizar um debate
sobre os temas abordados em aulas ministradas nas próximas semanas. Algumas
folhas específicas (papel sulfite dividido em quatro partes) foram distribuídas para
registro das respostas de perguntas feitas em voz alta com algumas questões sobre
hábito alimentar, gosto musical, cor preferida, salgado ou doce, hábito de leitura,
filme, esporte, internet, programa de TV favorito, entre outros. Tendo acesso às
respostas dos alunos, foi possível realizar breve tabulação dos apontamentos quando
questionados sobre o site mais frequentado na internet. Levando em consideração
que foram 30 alunos participantes da atividade, e que muitos citaram mais de um
site por pergunta, ficou evidente que naquele momento o site mais usado era a rede
social do Facebook.
[5] Relato: " Professora retira fone de ouvido de um aluno que diz: cadê meu fone
de ouvido? Responde: sabe, profe, ouvindo música a aula passa mais rápido. A
professora questiona: mas você se concentra e aprende ouvindo música? E o aluno
responde sorrindo: sim, profe, perfeitamente" (DIÁRIO DE CAMPO, 2012, p. 15).
[8] Por conta do tempo, a edição seria trabalhada mais tarde, em um próximo
encontro extraordinário.
231
[11] We all must learn how to read one source of information against another; to
understand the contexts within which information is produced and circulated; to
identify the mechanisms that ensure the accuracy of information as well as realizing
under which circumstances those mechanisms work best.
[13] Um comentário de um dos sujeitos participantes: “nossa, profe, como minha voz
está diferente” (DIÁRIO DE CAMPO, 2012, p. 20).
232
REFERÊNCIAS
233
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Ofício de cartógrafo. Travessias latino-americanas da
comunicação na cultura. São Paulo: Edições Loyola, 2004
POL, Milan et al. Em busca do conceito de cultura escolar: Uma contribuição para
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
234
11
Cinema e experiência: criação audiovisual
e construção de significados [1]
Mário Luiz da Costa Assunção Júnior e Martha Prata-Linhares
236
A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL COMO UM ESPAÇO DE SABER
237
experiência de criação integra múltiplos conhecimentos ao mesmo
tempo em que direciona a ação dos envolvidos do processo criativo. A
perpetuação da criação na memória evidencia seu caráter duradouro
e a relevância da experiência na construção do sujeito crítico, pois
238
relevância dessa metodologia quando associada ao ensino da História,
na medida em que as lembranças da experiência vivenciada no
processo de criação ainda fundamentam a construção de significado
para eles. Tal condição vai ao encontro das indicações do Parâmetros
Curriculares Nacionais no que concerne ao ensino de História e suas
potencialidades:
239
O que é preciso compreender é que, precisamente por transcender
cada disciplina, o exercício dessas competências e dessas habilidades
está presente em todas elas, ainda que com diferentes ênfases e
abrangências. Por isso, o caráter interdisciplinar de um currículo
escolar não reside nas possíveis associações temáticas entre diferentes
disciplinas, que em verdade, para sermos rigorosos, costumam gerar
apenas integrações e/ou ações multidisciplinares. O interdisciplinar
se obtém por outra via, qual seja, por uma prática docente comum
na qual diferentes disciplinas mobilizam, por meio da associação
ensino-pesquisa, múltiplos conhecimentos e competências, gerais e
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
240
METODOLOGIA
241
Imagem 1: Personagens do filme Sete Guerreiros, uma lembrança
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
242
Já o curta-metragem Sete Guerreiros, uma lembrança (2010),
apresenta uma adaptação da História da Guerra de Canudos, conflito
que evidenciou as contradições sociais no início da república brasileira
e que envolvia moradores de um povoado do nordeste brasileiro
sendo dizimados pelas atitudes de um governo autoritário. No intuito
de adaptar a história de maneira verossimilhante, foi desenvolvido
um enredo em que os personagens centrais não são os grandes
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
243
• Como a experiência de criação e produção de um curta-metragem é
percebida nas memórias dos sujeitos da pesquisa?
• Quais as semelhanças entre os relatos dos indivíduos?
• Como a experiência se revela nas memórias de cada um dos
indivíduos?
• Qual a leitura que os indivíduos fazem da experiência de produção
como uma experiência de aprendizagem?
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
244
Quando foram estabelecidas as três categorias, passamos a uma
análise dos argumentos e das possíveis subcategorias que derivavam
do conceito chave em cada uma delas. Para isso, consideramos os
relatos dos dois curtas-metragens divididos por eixos temáticos
associados a cada categoria e subcategoria. Dessa forma, optamos
por não segregar as análises em duas categorias, a de alunos e a de
professores. A integração pelos temas, e não pela condição de cada
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
RESULTADOS
245
significaram projetos resultantes da crença de diversas pessoas na
capacidade que um filme tem de sensibilizar, motivar o outro a partilhar
a experiência, ou mesmo compreender com um outro olhar a temática
abordada no roteiro.
Na experiência de criação e produção dos curtas-metragens,
os sujeitos vivenciaram a dinâmica artística proposta como parte de
um todo na construção do enredo e da produção. A noção coletiva da
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
246
Se todos nós assistimos a um acontecimento ou, dito de outro modo,
se a todos nós acontece algo, por exemplo, a morte de alguém, o fato é
para todos o mesmo, o que nos passa é o mesmo, porém a experiência
da morte, a maneira como cada um sente ou vive, ou pensa, ou diz, ou
conta, ou dá sentido a essa morte, é, em cada caso diferente, singular
para cada um, por isso poderíamos dizer que todos vivemos e não
vivemos a mesma morte. A morte é a mesma desde o ponto de vista do
acontecimento, porém singular desde o ponto de vista da vivência, da
experiência (LARROSA, 2011, p. 16).
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
247
Se você me perguntar de algum outro tema, alguma outra guerra, assim,
eu não sei...mas a guerra de Canudos eu sei porque eu fiz o filme, a gente
estudou a história direitinho pra poder apresentar no filme, foi muito
bom. (sujeito da pesquisa, 2016)
248
Quadro 3: Categorias, argumentos e
subcategorias sistematizados na pesquisa
249
Quadro 4: Categorias, argumentos e
subcategorias sistematizados na pesquisa
250
Nos relatos dos professores, por exemplo, ficou evidente em
cada fala que a experiência representou muito mais do que podiam
perceber naquele momento. A intenção de motivar os estudantes a
realizarem um curta-metragem pelo poder do exemplo, da realização
de um filme por professores, transformou-se em uma motivação
para os próprios professores, que passaram a repensar suas práticas
e as formas de interação que desenvolveram durante suas vidas
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
profissionais:
Eu acho que na época foi um projeto bem legal porque a turma estava
dividida, foi um momento de união da turma também, é...e tipo foi bem
legal porque foi um dia inteiro, e todo mundo ficou junto o dia inteiro,
propôs ideias para melhorar a filmagem, porque deu problemas,
algumas...é...em algum momento que...e isso serviu para ativar também
a criatividade, porque a gente estava sempre propondo ideias legais
para melhorar o vídeo. Eu fazia parte da produção (Sujeito da pesquisa
3, 2016).
Nossa, achei super legal, uma ideia super diferente, porque a gente
estava aprendendo um conteúdo que estava relacionado com que
a gente estava aprendendo lá na época, e foi um negócio bacana pra
caramba. O tanto que a gente reuniu e pesquisou e correu atrás das
coisas é pra montar o filme. Muito motivada (Sujeito da pesquisa 2, 2016).
251
Nos trechos, percebemos que a motivação para a atividade de
criação audiovisual se relacionou a diversos conceitos importantes
e inerentes ao processo de ensino aprendizagem, como união,
criatividade, superação de problemas e debate, dentre outros. A sala
de aula se ampliou no processo criativo da produção audiovisual e marcou
um momento da formação desses diversos jovens e adultos que viveram
a experiência artística integrada em seus cotidianos. Evidenciamos então,
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
que a
252
A IMPORTÂNCIA EDUCACIONAL DESSE ESTUDO
253
NOTA
[1] Adaptação do artigo Audiovisual Creation Experience as a Learning Experience,
de Mário Luiz da Costa Assunção Júnior e Martha Maria Prata-Linhares, apresentado
na Conferência Annual de 2017 do International Council on Education for Teachers
(ICET) e publicado no Yearbookof Teacher Education. Re-Thinking Teacher
Professional Education: Using Research Findings for Better Learning. Brno: Masaryk
University, 2018, v. 1, p. 1-358.
BOAS PRÁTICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO
254
REFERÊNCIAS
A MARGEM. Direção de Mário Luiz da Costa Assunção Júnior. Uberaba/Água
Comprida: Iniciativa Filmes, 2009. 1 DVD (21 min.).
GRIZZLE, A.;WILSON, C.. Media and Information Literacy Curriculum for Teachers.
Paris, France: UNESCO, 2011.
______. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ. n. 19,
2002, p. 20-28.
255
______.Experiência e alteridade em educação. Revista Reflexão e Ação, v.19, n.2,
p.04-27, 2011.
PINO, Ivany; ZUIN, Antônio Álvaro.. A cultura digital e a formação dos professores:
uma questão em debate. Educação & Sociedade, v. 33, n. 121, p. 967-972, 2012.
______; BOSSLER, Ana Paula; CALDEIRA, Pedro Zany. Learning, Arts and
Technology: creating animations in teacher education. In: ORLAND-BARAK,Lily;
CRAIG,Cheryl J.. (Org.). International Teacher Education: Promising Pedagogies
(Part B) Advances in Research on Teaching. 1ed.Bingley, Reino Unido: Emerald Group
Publishing Limited, v. 22B, p. 359-378, 2015.
SETE GUERREIROS, uma lembrança. Direção Mário Luiz da Costa Assunção Júnior.
Uberaba: Iniciativa Filmes, 2010. 1 DVD (20 min.).
256
3
ANÁLISE
CRÍTICA E
PRODUÇÃO
CRIATIVA
DE MÍDIA
12
Observatório da Qualidade no Audiovisual:
curadoria, produção experimental de
conteúdo e divulgação científica
Gabriela Borges e Daiana Sigiliano
259
Diagrama 1: Conceitos trabalhados no Observatório
260
A qualidade no audiovisual é debatida e faz parte da agenda
cultural e acadêmica desde os anos 1980. Apesar da controvérsia que
o conceito gera e da argumentação corrente de que a qualidade está
relacionada com critérios de gosto, que são muito subjetivos e que,
portanto, desqualificam a discussão no âmbito acadêmico e científico,
além de ser entendido algumas vezes a fim de atender interesses
específicos, o foco da discussão sobre a qualidade ganhou um novo
espaço de atuação com o desenvolvimento da tecnologia digital e a
consequente convergência dos meios. Adquire especial relevância
porque estamos expostos a uma infinidade de conteúdos audiovisuais
produzidos por qualquer indivíduo em qualquer parte do mundo, sendo
que, muitas vezes, estes conteúdos propagam ideias discriminatórias,
xenófobas, racistas, entre outros atributos perniciosos.
Temos desenvolvido vários estudos que discutem a questão
da qualidade na televisão e no audiovisual e uma das conclusões a
que chegamos é que pode ser bastante produtivo pensar na definição
de parâmetros de qualidade que possam ser discutidos em relação à
produção, análise e consumo de conteúdos produzidos e veiculados
pela televisão e outras plataformas de convergência (BORGES, 2007a,
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
261
de seu repertório e de diferentes entendimentos, centrando-se nas
atuações da cultura participativa.
No contexto de convergência, presenciamos a complexificação
da produção televisiva, em que novos produtos híbridos e
transmidiáticos têm sido produzidos para formatos multiplataformas
e o crescimento dos estudos sobre o consumo midiático. Percebemos
que, para compreender os fenômenos da cultura participativa, não
é suficiente analisarmos apenas a produção audiovisual, pois esta
está intrinsecamente ligada ao consumo e à produção por parte de
consumidores e, principalmente, pelos fãs de conteúdos midiáticos.
Diversos relatórios publicados recentemente sobre os
hábitos de consumo dos jovens nos mostram a premência de estudos
nesta área. Segundo pesquisa da Kantar Ibope Media (2016), 37% dos
entrevistados afirmaram assistir TV e utilizar a internet ao mesmo
tempo. Na pesquisa Geek Power (GRUPO OMELETE-IBOPE CONECTA,
2017), 71% dos entrevistados usam celular enquanto veem TV e 97% do
público pesquisado tem o hábito de usar algum serviço de streaming
de vídeo, tais como Netflix (91%), YouTube (80%) e HBO Go (13%).
Considerando diferenças geracionais, a pesquisa Ipsos Connect (2016)
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
262
consideramos importante compreender as formas de engajamento
e os modos de expressão dos telespectadores, que se tornaram
interagentes, a fim de discutir aspectos como o direito à comunicação
e à informação constitucionalmente garantidos, entre outros.
Neste sentido, torna-se indispensável o entendimento das
competências midiáticas que são acionadas pelo público para se
engajar e produzir sentido a partir das narrativas. Não podemos
mais analisar os processos de produção midiática e, principalmente,
audiovisual, sem levar em conta os processos de interação do público,
que não apenas assiste, mas também produz conteúdo midiático
concomitantemente ao processo de visionamento. É neste sentido
que a literacia midiática contribui para este debate, porque promove
a autonomia e o desenvolvimento da capacidade crítica dos cidadãos,
estando presente nos três momentos do processo comunicativo:
produção, circulação e consumo.
Os projetos de pesquisa, extensão e produção experimental
desenvolvidos no Observatório da Qualidade do Audiovisual partem
das discussões aqui apresentadas e se desdobram metodologicamente
a partir da análise audiovisual da qualidade que foi proposta
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
263
final). O plano do conteúdo analisa a narrativa e a abordagem dos
temas, sendo definidos indicadores de qualidade a partir de cada um
dos gêneros estudados. “A análise da mensagem audiovisual leva em
conta o modo de endereçamento do programa, ou seja, a forma como
este é construído para comunicar-se com o público” (BORGES, 2014,
p. 69). Os indicadores de qualidade da Mensagem Audiovisual atuam
no intuito de refletir sobre os dados obtidos na análise do plano da
expressão em conjunto com o plano do conteúdo.
A literacia midiática tem sido trabalhada a partir da
metodologia proposta por Ferrés e Piscitelli (2015) pelo conceito de
competência midiática, em que são definidas seis dimensões (estética,
tecnologia, linguagem, ideologia e valores, processos de interação e
processos de produção e difusão) articuladas a partir de indicadores dos
âmbitos da análise (o modo como as pessoas percebem as mensagens
midiáticas) e da expressão (como elas produzem conteúdo a partir de
seus entendimentos).
264
quais se pode discutir a qualidade nos produtos ficcionais e também
contribuir para a criação de um repertório fundamental de programas
de qualidade.
Com o intuito de pensar o contexto brasileiro, este projeto
realizou o levantamento das narrativas ficcionais seriadas brasileiras
produzidas entre 2000 e 2016 a fim de analisá-las sobre o prisma da
qualidade. Os seguintes bolsistas de iniciação científica desenvolveram
o projeto: Leony Lima e Pedro Martins, e pelas alunas Daiana
Sigiliano, Mariana Meyer e Júlia Garcia. Considerando a amplitude
do levantamento e os aspectos gerais de cada produção, o corpus
de análise foi dividido em quatro categorias. São elas: minisséries,
séries episódicas, séries com ação transmídia e séries infantis.
Posteriormente, as produções foram selecionadas a partir de dois
requisitos: a disponibilidade dos conteúdos e o tempo de execução
do projeto. Dessa forma, chegamos ao recorte para a análise de 16
minisséries; 14 séries episódicas, 20 séries com ação transmídia e 14
séries infantis e infantojuvenis.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
265
Os parâmetros de qualidade foram elaborados a partir dos
estudos realizados por Borges (2014), do Observatório da Qualidade no
Audiovisual e das características de cada categoria definida na seleção
de amostra. Nesse sentido, a análise dos programas que compõem as
categorias (minisséries, séries episódicas, séries com ação transmídia
e séries infantis) é norteada por parâmetros de qualidade que dialogam
com os aspectos específicos das produções.
As análises das minisséries, das séries episódicas e das séries
com ação transmídia foram realizadas a partir do Plano na Expressão
e do Plano do Conteúdo. Os indicadores do Plano na Expressão
levavam em conta a produção de sentido a partir dos elementos
estéticos: ambientação, caracterização dos personagens, trilha sonora,
fotografia e edição. Os indicadores do Plano do Conteúdo foram
pautados pelos estudos de Mittell (2015) e Johnson (2005). Neste plano
são considerados a intertextualidade, a escassez de setas chamativas,
os efeitos especiais narrativos e os recursos de storytelling. Na análise
das séries com ação transmídia, consideramos também o indicador
transmedia literacy, com base nas reflexões de Scolari (2016).
As análises das séries infantis e infantojuvenis foram
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
266
HUMOR DE QUALIDADE NO AUDIOVISUAL BRASILEIRO
267
Foram criados parâmetros de qualidade para a análise dos
programas humorísticos da televisão aberta e por assinatura e dos
canais de humor do YouTube. Estes estão articulados a partir de dois
conceitos: modos de representação e experimentação. Os modos de
representação estão relacionados à criação e desenvolvimento dos
personagens, na medida em que estes podem ser tanto caricatos,
grotescos ou satíricos, independentemente das duas categorias
estudadas. Há uma reflexão sobre o papel desempenhado pelos
personagens humorísticos na nossa sociedade, isto é, indagamos se
reafirmam estereótipos e lugares-comuns; se criam bordões que se
perpetuam; se criticam os costumes e/ou fazem algum tipo de crítica
social; em resumo, se contribuem para quebrar tabus e promover a
diversidade em suas diversas acepções. Nosso interesse é perceber se
a criação dos personagens humorísticos contribui de alguma forma
para pautar temas relevantes socialmente e para deslocar a atenção da
banalização social que a televisão reitera incessantemente na maioria
dos seus programas.
A experimentação está relacionada com a utilização dos
recursos técnico-expressivos, característicos da linguagem audiovisual,
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
268
qualidade, entretanto a análise foi feita com ênfase em apenas quatro:
estereótipo, oportunidade, diversidade de sujeitos representados e
ampliação do horizonte do público.
Na TV, o levantamento foi realizado de 1960 a 2014 e a
amostra dos episódios dos programas para a análise se deu de forma
aleatória de acordo com a disponibilidade do material audiovisual. No
Youtube foi feito um levantamento de 48 canais e a amostra analisada
é de 19 canais, num total de cinco vídeos mais visualizados por canal.
A seleção foi feita dos canais que tinham mais de 100.000 inscritos,
estavam ativos em setembro de 2015 e tinham periodicidade de
publicação, o que demonstra uma proposta comunicativa do canal.
Os vídeos selecionados foram analisados numa escala gradativa entre
fraco, razoável, bom e muito bom.
269
Ao estabelecer uma relação simbiótica entre a televisão e o
ciberespaço, a social TV potencializa e reconfigura a conversação em
torno do conteúdo televisivo e a experiência coletiva. A partir deste
contexto, este projeto tem o objetivo de discutir as novas formas de
participação, interação e produção de conteúdo estabelecidas pelo
fenômeno.
270
PROJETOS DE SOCIAL TV NO OBITEL BRASIL
271
exibição da novela Liberdade, Liberdade (Rede Globo, 2016). Com isso,
aprofundamos a discussão que temos estabelecido no âmbito do Obitel
sobre a social TV. A análise teve o intuito de compreender como os fãs
analisam e produzem conteúdos midiáticos críticos e interventivos no
Twitter, a partir da perspectiva proposta por Ferrés e Piscitelli (2015)
sobre as habilidades compreendidas pelas dimensões da competência
midiática. Procuramos assim estudar como os fãs mobilizam as
dimensões tecnologia, linguagem, ideologia e valores, estética, processos de
interação e processos de produção e difusão nas interações, que ocorrem
de forma síncrona à exibição da novela, no Twitter (BORGES et al., 2017).
A proposta de pesquisa para o biênio 2018-2019 explorou pistas
de investigação encontradas nos trabalhos anteriores, principalmente
no que se refere ao diálogo entre a narrativa, a produção crítica e
criativa dos fãs e a literacia midiática. A pesquisa analisou o mundo
ficcional construído de Malhação - Viva a Diferença (Rede Globo,
2017-2018) em torno do arco narrativo do casal Lica (Manoela Aliperti)
e Samantha (Giovanna Grigio) e discutiu o modo como o fandom das
personagens ampliou e ressignificou este mundo ficcional no Twitter.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
272
Ao envolver o domínio de conhecimentos, habilidades e o
engajamento do público em relação aos conteúdos, a cultura de fãs
estabelece uma relação direta com a competência midiática ( JENKINS,
2012; BORGES et al., 2017; HERRERO-DIZ,2017; SIGILIANO; BORGES,
2018). Na primeira fase do projeto analisamos as histórias produzidas
pelos fãs do casal Limantha da vigésima quinta temporada de
Malhação, intitulada Viva a Diferença (2017 -2018, Rede Globo). Ao todo
foram analisadas 14 fanfics das plataformas Nyah! Fanfiction e Spirit
Fanfics e Histórias. As discussões foram amparadas pelas metodologias
propostas por Jenkins (2012) e Ferrés e Piscitelli (2015), e as análises
foram realizadas pelos alunos Daiana Sigiliano, Leony Lima, Matheus
Soares, Lucas Vieira e Pedro Martins.
Na segunda fase do projeto analisamos a arquitetura
operacional das principais plataformas de publicação e
compartilhamento de fanfics no Brasil e no mundo, refletindo como
estas estimulam a literacia midiática. As discussões englobam toda a
arquitetura operacional dos sites, tais como a forma de funcionamento
(sistema operacional, interface e configuração) e de acessibilidade
(modo de interação intuitiva, desenvolvimento e disponibilidade de
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
DOCUMENTÁRIO E VISIBILIDADE
273
Foram organizados três dossiês de análise fílmica. O primeiro,
em 2016, a partir das pesquisas desenvolvidas no Mestrado em
Comunicação do PPGCOM/UFJF, pelos alunos Iago Rezende e Tatiana
Vieira Lucinda, com a participação da bolsista de iniciação científica,
Luma Perobelli, se intitulou Olhares possíveis: a diversidade de
visões no cinema documentário. Com o intuito de pensar se o olhar
era essencialmente neutro, capaz de escapar dos estereótipos e dos
clichês e se guardava em si uma potência exclusiva, foram analisados
documentários que tratam de públicos marginalizados, como pessoas
em situação de rua, portadores de transtornos mentais, pessoas em
situação de pobreza, moradores de favelas, travestis, imigrantes,
dependentes químicos, dentre outros grupos.
A análise foi realizada a partir de “três olhares que podem dar
dimensões e interpretações distintas para as narrativas apresentadas:
274
Para a análise, foram utilizadas categorias como referências
centrais, tais como contexto, a voz do documentário, som e imagem –
enquadramentos e planos, montagem, posição hegemonia versus contra
hegemonia, personagens, e identificação e projeção. Além disso,
o conceito de risco do real proposto por Comolli (2008) como “a
produção aberta ao real, sem roteiro, plano ou ideias prévias, onde
a questão passa do ‘como filmar’ para o ‘como fazer para que haja
filme’” norteou toda a discussão a partir do seguinte questionamento:
“será que esses filmes correm o risco para revelar a sua inscrição
verdadeira?” (COLUCCI et al, 2018, online)
Mais recentemente, como parte das atividades do pós-
doutorado da professora e bolsista PNPD/Capes Júlia Fagioli foi
organizado um terceiro dossiê, O cinema documentário e as mises-
en-scène dos corpos invisibilizados, preparado e discutido juntamente
com os alunos Vinícius Guida, Renata Dorea, Gabriel Telles, Lucas Caetano,
Rebeca Telles e Felipe Gasparete.
Tendo como base os estudos de Comolli (2008) sobre o uso
político do cinema como “arte do corpo, do grupo e do movimento”, o
dossiê se dedicou a pensar de que modo o cinema constrói as mises-en-
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
275
da literacia midiática e discutir se os conteúdos que produzem são
capazes de fomentar e ampliar a participação cidadã. Nesse sentido,
observamos os recursos utilizados nos processos de produção,
avaliando o incentivo ao pensamento crítico e à promoção de boas
práticas midiáticas. Foi desenvolvido pelos alunos Vinícius Guida e
Luma Perobelli.
Como base, utilizamos o levantamento Mapa do Jornalismo
Independente, realizado pela Agência Pública, em que se encontram
reunidos 81 coletivos de mídia independente brasileiros. Utilizando
as redes sociais como parâmetro, identificamos que o Facebook é a
plataforma mais utilizada e que obtém maior engajamento dentro
do recorte. Como critério de relevância e circulação, consideramos
as páginas que apresentaram, em maio de 2018, número de curtidas
superior a 200 mil, obtendo uma amostra de 11 coletivos. Por fim,
analisamos a frequência de atualizações, considerando somente aqueles
que possuíam ao menos uma publicação em vídeo nos últimos 30 dias.
Dessa maneira, a amostra final abrange seis coletivos, dos
quais selecionamos os cinco vídeos mais populares no YouTube
para a análise. É importante ressaltar que consideramos somente
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
276
a conhecer novas problemáticas, apresentando outros pontos de vista,
e estimulando o pensamento e o debate de ideias.
Quanto à diversidade de sujeitos representados, procuramos
avaliar a capacidade de interação em ambientes plurais e multiculturais.
Tentamos identificar se os conteúdos publicados prezam por pautas que
incluem a diversidade temática, geográfica, política, socioeconômica,
cultural, étnica, religiosa, de gênero e de pontos de vista. Procuramos,
também, avaliar a composição da equipe produtiva e a designação de
pautas que respeitem as idiossincrasias dos sujeitos e permitam a
autorrepresentação, isto é, se mulheres, negros e LGBT+, por exemplo,
falam por si mesmos ou se são retratados por outras classes.
Ao analisar a desconstrução de estereótipos, observamos se os
conteúdos são capazes de promover a discussão sobre concepções pré-
formuladas, arraigadas na sociedade, muitas vezes perpetuadas pelos
veículos tradicionais. Neste caso, objetivamos avaliar se a produção
audiovisual instiga a desconstrução de estereótipos ao possibilitar a
reflexão sobre as generalizações que se consolidaram ao longo dos anos.
O indicador estímulo à participação do público se torna
muito importante no âmbito da cultura da convergência e da
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
277
ambiente da convergência e sobre a contribuição desses meios para o
desenvolvimento das capacidades crítico-cognitivas dos cidadãos.
278
da FACOM/UFJF. Compreendendo o audiovisual como instrumento
de suma importância para o fomento da educação e da cidadania na
sociedade atual, foram desenvolvidas oficinas temáticas para trabalhar
as habilidades de leitura crítica e produção criativa dos alunos em
escolas de Juiz de Fora e Zona da Mata.
Cada encontro foi dedicado à realização de uma oficina, sendo
que elas possuem um caráter complementar entre si. Em um primeiro
momento, é exposto o assunto da oficina através de conversas e vídeos
apresentados aos alunos. Posteriormente, há uma reflexão conjunta
sobre as impressões e as experiências com relação ao tema da aula,
além de possíveis modos de produção. Em um último momento, os
alunos produzem conteúdos e trocam experiências com os colegas
sobre suas criações.
A primeira oficina, Brinquedos Ópticos, aborda os princípios da
animação, desde seus primórdios até a era da animação digital. Os alunos
produziram brinquedos ópticos como a “dobradinha” e o “flipbook”,
compartilhando suas produções com os colegas. Aproveitando a
popularidade do YouTube entre os jovens, a oficina Eu, Youtuber
trabalhou a produção audiovisual para a internet. Os alunos aprenderam
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
279
do som, da montagem e, por consequência, das escolhas do produtor
de conteúdo ao lidar com fatos.
A reflexão tem por objetivo ampliar a compreensão sobre
as múltiplas perspectivas que podem ser acionadas ao transportar a
realidade para o campo da representação. Nesse sentido, discutimos
a linguagem como aspecto centralizante de qualquer produto
cinematográfico e/ou midiático. São incluídos aspectos relacionados à
tecnologia e estética ao investigar junto aos participantes a produção de
sentido a partir da escolha de planos, enquadramentos e personagens.
Além do contexto teórico reflexivo, a oficina se expande para
o âmbito da expressão ao convidar os jovens a construir sua própria
narrativa e representar suas próprias histórias. Busca-se adequar a
proposta do exercício prático ao contexto em que os participantes estão
envolvidos como, por exemplo, a produção de documentários sobre
o bairro de Igrejinha ( Juiz de Fora, MG) realizado por adolescentes
moradores da região. Esta oficina foi ministrada na Escola Estadual
Francisco Bernardino (2018) [5], Instituto Federal Santos Dumont
(2018) [6] e na Escola Municipal Padre Wilson [7] juntamente com o
Instituto Crescer sob a coordenação de Raphaella Souza dos Santos
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
(2019) .
Dessa forma, os alunos tiveram contato com todas as etapas
de elaboração de um conteúdo audiovisual, desde a pré-produção,
passando pela produção em si e a pós-produção. Eles puderam
apreender algumas técnicas e estratégias de criação e a importância
dos elementos que compõem os produtos audiovisuais. Porém,
mais relevante do que métodos de produção, os alunos puderam
compartilhar suas criações com os colegas e refletir conjuntamente
sobre os conteúdos que eles consomem. Toda a criação das oficinas
foi baseada nas dimensões da competência midiática propostas por
Ferrés e Piscitelli (2015): linguagem, tecnologia, processos de interação,
processos de produção e difusão, ideologia e valores, e estética.
Através da realização das oficinas e das análises feitas a partir
delas, notou-se que os jovens possuem conhecimentos sobre as
tecnologias de comunicação e suas linguagens no campo audiovisual.
280
No entanto, é necessário que se trabalhe mais sobre as questões
ligadas ao consumo reflexivo e à produção criativa. Desse modo,
concluímos que o acesso apenas às tecnologias de comunicação não
garante a promoção das competências dos jovens e é preciso que essas
habilidades sejam desenvolvidas tanto no ambiente formal das escolas,
como em seus lares, já que os dispositivos tecnológicos fazem parte de
seu cotidiano.
281
cada um deles. O Facebook conta com postagens diárias em horários
previamente selecionados de acordo com o engajamento esperado;
o Instagram repercute o que é postado no Facebook e também tem
o IGTV, que reformata vídeos publicados previamente no Youtube.
Trabalhamos também com os stories, com vídeos mostrando os bastidores
dos projetos e teasers criados especificamente para o recurso.
O Youtube serve como repositório das séries audiovisuais que
foram criadas a partir de objetivos de comunicação bem delineados. No
Twitter são espelhadas as publicações do Facebook e, pontualmente,
são criadas ações e threads aproveitando memes e discussões do
momento. E o Spotify é a mais nova rede utilizada, para a qual têm
sido produzidas as séries de podcasts, que se encontram na segunda
temporada.
Sendo assim, o trabalho com a internet e as redes sociais
digitais é realizado a partir de uma dupla perspectiva: divulgação
científica de resultados de projetos e formação para a produção
experimental de conteúdo.
A rubrica #Observatório apresenta um conjunto de séries
audiovisuais exclusivas para a web e produzidas pelos alunos que
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
282
9.180 visualizações totais através da página oficial do Observatório
no Facebook. Foram discutidos temas ligados à convergência,
competências midiáticas, qualidade do audiovisual, consumo e
produção de conteúdo, cultura de fãs, cidadania e ética.
#Observatório Espelhos busca ouvir histórias e a trajetória
de profissionais da comunicação da Zona da Mata, em Minas Gerais, a
fim de entender como as mudanças trazidas pela contemporaneidade
se traduzem na prática diária. A primeira temporada (2019) contou com
oito episódios sobre o perfil de profissionais de Juiz de Fora. Foram
selecionados a partir de quatro blocos temáticos na área de comunicação:
jornalismo impresso, mídia audiovisual, mídia sonora e redes sociais.
O #Observatório MiniDocs busca ouvir as trajetórias pessoais
de artistas locais e refletir sobre determinado tema. Na primeira
temporada (2019), centrada na relação entre arte e mídia, foram
produzidos cinco episódios em torno da prática de artistas de Juiz de Fora.
Assuntos como o processo criativo, influências, interseccionalidade de
linguagens e a relação entre produto e sociedade foram recorrentes. A
segunda temporada é pautada pela cultura hip hop. Foram entrevistados
artistas da cidade envolvidos com a música, a poesia, a dança, o grafite e
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
a moda.
A partir da produção criativa, o #Observatório Remix
pretende discutir uma habilidade relacionada à literacia midiática
denominada remix literacy. Segundo Stedman (2012), a recombinação
e a justaposição de distintos elementos pré-existentes para a criação
de um novo conteúdo exige do interagente tal competência e abrange
todo o processo de remixagem, desde a compreensão da arquitetura
operacional das plataformas digitais até a efetivação da circulação dos
conteúdos ressignificados.
Na tentativa de desconstruir e reconstruir conceitos
socialmente constituídos, a série audiovisual faz uso da ressignificação
de imagens como metáfora desse intuito. A partir da estética
do videoclipe, recorremos ao arquivo para produzir narrativas
desafiadoras que desejam desencadear o empoderamento, discutir
pontos de convergência que unem diversos grupos sociais e ressaltar
283
múltiplas formas identitárias. Na primeira temporada (2019) o tema foi
empoderamento e foram produzidos três episódios sobre feminismo,
LGBT e negritude e para a segunda (outubro 2019) estão sendo
produzidos episódios a partir do tema da identidade.
A produção do #Observatório Podcasts tem como objetivo
dialogar com pesquisadores do Brasil e do exterior sobre temas
relevantes no campo da Comunicação. Disponibilizado para veiculação
em rádios, serviços de streaming e redes sociais, procura repercutir
reflexões críticas e atuais do panorama midiático latinoamericano
e suas especificidades como, por exemplo, a relação entre mídia,
consumo e educação.
Na primeira temporada (2018) os temas abordados foram
games, social TV, documentário e fakenews. Já a segunda temporada
(2019) foi pautada pelos temas discutidos nas exibições O Clube
das Séries, conduzido pela professora Gabriela Borges com tutoria
da doutoranda Daiana Sigiliano, e discutidos pelos alunos que
participaram dos seminários. A terceira temporada (2019-2020) é
formada por seis episódios sobre temas da cultura pop: o revival dos
anos 80, a representação dos adolescentes em séries e filmes, o cinema
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
284
CONSIDERAÇÕES FINAIS
285
NOTAS
[1] Coordenada pelas professoras Soraya Vieira Ferreira, Gabriela Borges e pela
mestranda Daniela Santana de Oliveira (bolsista UFJF), com a participação dos
alunos bolsistas e voluntários Matheus Soares (UFJF), Camilla Marangon Feitoza
(UFJF), Amanda Padillha (UFJF), Anna Leão (UFJF), Juliana Dias (UFJF), Henrique
Perissionoto (UFJF), Madalena Costa (PET FACOM) e Maria Tereza Guedes.
[2] Coordenada por Daniela Santana de Oliveira e com a participação dos alunos
Matheus Soares, Camilla Marangon, Giulia Baesso e Lisandra Queiroga.
[3] Coordenada por Daniela Santana de Oliveira com a participação dos alunos
bolsistas e voluntários Matheus Soares (UFJF), Camilla Marangon (UFJF).
[4] Coordenada por Daniela Santana de Oliveira com a participação dos alunos
bolsistas e voluntários Matheus Soares (UFJF), Camilla Marangon (UFJF) e Vinícius
Guida (Fapemig), Renata Dorea (UFJF), Lucas Caetano.
[5] Coordenada pelos bolsistas Vinícius Guida (UFJF) e Renata Dorea (UFJF), com a
participação dos alunos bolsistas e voluntários Gabriela Telles (UFJF), Lucas Caetano,
Tatiana Vieira (bolsista de mestrado Capes) e Luma Perobelli (UFJF).
[6] Coordenada pelos bolsistas Vinícius Guida (Fapemig) e Renata Dorea (UFJF),com
a participação deTatiana Vieira (bolsista de mestrado Capes) e do aluno voluntário
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
Lucas Caetano.
[7] Coordenada pela professora Márcia Barbosa da Silva e pelo bolsista Vinícius Guida
(Fapemig), com a participação dos alunos bolsistas e voluntários Lucas Caetano,
Gabriel Telles (UFJF) e Luísa Guimarães (UFJF) e Hsu Ya Ya (UFJF).
286
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290
13
A competência midiática na produção de fanfic
do fandom Limantha de Malhação – Viva a
Diferença
Daiana Sigiliano
292
A telenovela assumiu, ao longo de quase 50 anos de emissões diárias, o
lugar de uma narrativa da nação de caráter peculiar e único, abrangendo
o cotidiano da sociedade, sintetizando o público e o privado, criando
e alimentando um repertório comum, por meio do qual pessoas de
classes sociais, gerações, sexo, raça e regiões diferentes se posicionam e
se reconhecem umas às outras (LOPES; MUNGIOLI, 2013, p.11).
293
foram sistematicamente excluídos do universo ficcional por questões
ideológicas e/ou comerciais) e os potenciais (especulações sobre o que
poderia ter acontecido além dos limites da trama) ( JENKINS, 2012, p. 16-18).
De acordo com Grossman (2017) ao abordar e aprofundar
tramas que não foram desenvolvidas inicialmente pelos roteiristas as
fanfics estimulam o público a pensar criticamente sobre os conteúdos.
Escrever e ler fanfiction não é apenas algo que você faz; é uma forma de
pensar criticamente sobre a mídia que você consome, de estar consciente
de todas as suposições implícitas que um trabalho canônico carrega, e
de considerar a possibilidade de que aquelas suposições poderiam não ser
as únicas possíveis (GROSSMAN, 2017, p.13).
294
[8]. Pela primeira vez, em 25 anos de exibição, a atração infantojuvenil
foi protagonizada por cinco mulheres. As adolescentes Keyla (Gabriela
Medvedovski), Benê (Daphne Bozaski), Tina (Ana Hikari), Lica (Manoela
Aliperti) e Ellen (Heslaine Vieira), de origens e personalidades
diferentes, ficam presas no mesmo vagão de metrô durante uma pane
elétrica. A personagem Keyla (Gabriela Medvedovski) entra em trabalho
de parto e as adolescentes se unem em solidariedade para ajudá-la no
nascimento do bebê. Um dos arcos narrativos mais populares entre os
telespectadores envolveu as personagens Lica e Samantha (Giovana
Grigio), intitulado pelo fandom como Limantha, o ship [9] é o acrônimo
dos nomes das adolescentes. Ao longo dos capítulos de Malhação o
fandom produziu conteúdos no Twitter, You Tube e, principalmente,
fanfictions. As histórias, criadas pelos fãs, aprofundavam os arcos
narrativos de Lica e Samantha e exploravam os desdobramentos que
não estavam presentes no universo ficcional.
PERCURSO METODOLÓGICO
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
295
contexto do fandom Limantha (título da série; personagens principais;
título dos episódios). A partir deste recorte chegamos nas cinco fanfics
mais acessadas, em ambos os sites, são elas: Wonderwall, Oitavo B,
Nossa Trilha Sonora, Old Habits e Paris. Nesse contexto, a escolha de
Wonderwall foi pautada por seu número de acessos no Spirit Fanfics.
296
Fiction (RPF) - uma subcultura da fanfic foca em pessoas reais - de
bandas de K-Pop. A história de clexastrash é composta por uma capa,
a imagem que ilustra a página principal reúne informações sobre a
fanfic e ilustrações que fazem referência ao arco narrativo central da
trama. Segundo a seção FAQ do Spirit as capas das tramas podem ser
criadas pelo próprio autor ou com a ajuda de um capista, um usuário
que tem a função específica de editar as imagens.
297
No centro da capa, clexastrash destaca o slogan da fanfic, que
está correlacionado não só com a sinopse disponível na página principal,
mas com o principal arco narrativo da história. Entre os temas abordados
em Wonderwall, a fã explora o medo de Lica e Samantha de terem um
relacionamento sério e de se apaixonarem. Logo nos primeiros capítulos,
clexastrash faz uma metáfora entre pular de um penhasco e se entregar
a paixão. No final da fanfic a autora retoma a figura de linguagem para
solucionar o conflito entre as protagonistas. A imagem central da capa
também destaca o título da trama e o user da fã.
Por fim, as imagens do lado esquerdo da capa de Wonderwall
são ilustrações genéricas, provavelmente retiradas de bancos de
dados. As fotos mostram uma cidade vista do alto – fazendo alusão ao
Terraço Itália que é explorado na história diversas vezes -, uma mesa
com jornais e uma xícara de cappuccino, e museus – estabelecendo
uma correlação não só com o âmbito artístico, mas com trechos dos
capítulos finais. Como, por exemplo, quando as personagens visitam
museus e ao plot em que Lica recebe uma proposta de trabalho no Van
Gogh Museum. A personagem também tem uma ligação muito pessoal
com a pintura, apesar de integrar o cânone, na fanfic essa questão
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
298
capa apresenta vários elementos que integram as fanfics criadas pela
fã. Na montagem podemos observar fotos do ship Limantha, frases
ligadas à comunidade LGBT e ao feminismo, além da bandeira e das
cores do movimento LGBT. As abas Seguidores, Seguindo e Favoritos,
ressaltam a atividade da user na plataforma. Segundo Jamison (2017) a
fanfic materializa o senso de coletividade do fandom através da troca
que se estabelece entre os autores e os leitores. Esse diálogo é baseado
“[...] quase que inteiramente na troca, no elogio, no respeito mútuo
e na crítica” ( JAMISON, 2017, p. 258). Nesse sentido, podemos afirmar
que clexastrash estabelece uma relação de troca na plataforma, não só
através dos comentários – que serão analisados mais adiante -, mas no
consumo de outras fanfics disponíveis no Spirit.
Além de Wonderwall, clexastrash também é autora de Prisão
Vermelha. A trama foi postada em 16 de fevereiro de 2018 e explora
um universo alternativo (AU/UA) [10] de Mallhação – Viva a Diferença.
Ambientada na Guerra Fria, a fanfic retrata o amor proibido entre
Lica, uma diplomata soviética, e Samantha Baines, uma diplomata
estadunidense.
Segundo as métricas do Spirit, Wonderwall gerou 189 mil
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
299
de Wonderwall, além de manter a ordem cronológica de alguns eventos
do cânone como, por exemplo, no capítulo dois, intitulado Basorexia,
em que as personagens citam que foram à sorveteria, também são
pontuados os relacionamentos de Lica, sua viagem a Europa, entre
outros. Isto é, os fatos da telenovela usados pela autora não só reforçam
a correlação entre o cânone e a fanfic, mas ajudam os leitores a se
localizarem cronologicamente na trama.
300
Imagem 3: Leitores de Wonderwall destacam
a correlação entre o cânone a fanfic.
301
cronologia do cânone. A projeção que a fã faz da vida adulta de Lica
e Samantha tem diálogo com a telenovela, mas explora os caminhos
profissionais e o amadurecimento das personagens, extrapolando
os arcos narrativos do último capítulo do programa. Dessa forma,
clexastrash realiza tanto a leitura crítica – ao reconhecer e reproduzir
os padrões e características do universo ficcional, e identificar as possíveis
ampliações e ressignificações do cânone – quando a leitura criativa – ao
explorar distintas temporalidades, eu líricos e novos arcos narrativos.
Em Wonderwall a dimensão da linguagem proposta por Ferrés e
Piscitelli (2015) também pode ser observada em outros pontos da trama.
Como, por exemplo, a forma como o cânone integra os capítulos. A
trama criada por clexastrash está inserida na mesma linha temporal da
telenovela, nos capítulos iniciais a autora informa aos leitores que o
arco narrativo se passa depois que Lica e Samantha vão à sorveteria. A
autora cita literalmente algumas falas das personagens, tais como “Eu
acabei de descobrir que sou mais corajosa do que pensava” e “Não sei
onde isso vai dar, mas tô nem aí”. Os recursos usados pela fã só trazem
verossimilhança para a fanfic, mas ajudam na imersão do leitor.
Além de manter a cronologia dos eventos narrativos e citar
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
302
exibida pela Rede Globo em 1 de janeiro de 2018, Samantha insinua que
se relacionou com Felipe (Gabriel Calamali). Na trama os personagens
deixam a questão em aberto para provocar Lica e MB (Vinicius Wester).
Porém, no capítulo 6, intitulado Opia, a autora retoma a sequência
cronologicamente, situado o leitor “[...] já havíamos tido essa conversa
na escola mais cedo, no entanto eu não havia afirmado e muito menos
negado nada [...]”, e, posteriormente, Felipe afirma ele e Samantha
ficaram, completando a cena do cânone.
303
Algumas cenas da telenovela também são ampliadas na
fanfic, a autora mantém o evento narrativo – seguindo a mesma
ambientação, os personagens que compõem o arco, a cronologia e
etc. – mas incorpora novos detalhes. Esse aspecto pode ser observado
no capítulo 12, intitulado Aurora, quando a fã amplia o arco da festa
do filho de Keyla, Tonico. No cânone Lica e Samantha ficam até de
madrugada conversando e escutando os vinis antigos de Roney (Lúcio
Mauro Filho), entre elas o álbum dos Novos Baianos. Em Wonderwall
a sequência apresenta diversas referências musicais, indo além das
citadas no cânone. As adolescentes aprofundam as canções, detalhando
o contexto de criação e o significado de alguns trechos. São citados
artistas como Belchior, Elis Regina e Maria Bethânia. Enquanto escutam
Carcará, por exemplo, Samantha explica que a música foi composta
durante a Ditadura Militar e que o 'carcará' representa o governo.
Como já ressaltamos anteriormente clexastrash explora de
maneira coerente e verossímil o perfil das personagens. Entretanto,
conforme pontuam Jenkins (2008) e Jamison (2017) a fanfic parte, muitas
vezes, da necessidade do fã de corrigir certos aspectos do cânone.
Durante a exibição do arco narrativo de Limantha, de dezembro de
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
304
30 capítulos clexastrash faz inúmeras referências externas ao universo
ficcional. De modo geral, as intertextualidades presentes na fanfic
apresentam três funções: a citação, a correlação e a contextualização.
Na citação a referência é feita de maneira pontual como, por exemplo,
nos capítulos 8 e 19, quando a fã sugere, na seção Notas do Autor,
músicas para os leitores escutarem enquanto lêem a trama. O mesmo
pode ser observado no capítulo 22, intitulado Socha, em que Lica cita
uma frase da série estadunidense How I Met Your Mother (CBS, 2005-
2015). Nesse contexto, o recurso amplia o sentido da fanfic, mas não é
aprofundado pela fã.
Na correlação a autora integra um elemento externo
ao universo ficcional para reafirmar os desdobramentos dos
arcos narrativos. Esse aspecto pode ser observado quando Lica e
Samantha vão à exposição Matriz do Tempo Real, no Museu de Arte
Contemporânea em São Paulo. Durante a visita a exposição, que de
fato integrou o calendário do MAC, as personagens correlacionam
as obras dos artistas, que refletem sobre o tempo, com os medos e
percalços de seu relacionamento. No capítulo 13, intitulado Anxietas,
a intertextualidade também apresenta a mesma função na narrativa.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
305
A vigésima quinta temporada de Malhação explorou temas
até então inéditos no âmbito da telenovela infantojuvenil. Tais
como a bissexualidade, a homofobia, o machismo, entre outros.
Porém, questões relacionadas ao formato, ao horário de exibição e a
amplitude de universo ficcional acabaram limitando a discussão dos
assuntos. Como, por exemplo, a bissexualidade, que apesar integrar
o arco narrativo de Limantha, não é diretamente abordada na trama.
Em Wonderwall, a fã não só aprofunda estes tópicos que já integravam
o cânone, mas traz novos temas como a ansiedade, a saúde mental e a
síndrome do pânico.
Como iremos detalhar na dimensão estética, a bissexualidade
é enfaticamente abordada por clexastrash no capítulo 17, intitulado
Sonder. Na fanfic, Lica e Samantha apresentam um trabalho na
disciplina de Bóris (Mouhamed Harfouch) sobre a comunidade LGBT e
a homofobia. Assim como nos capítulos em que as personagens fazem
um mochilão pela a Europa, o plot traz muitas informações. A autora
cita que o Brasil é o país que mais mata LGBT no mundo, que há cada
vinte cinco horas uma pessoa é assassinada. Durante a apresentação
as personagens ressaltam que membros da atual conjuntura política
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
306
Imagem 5: Trecho da cena em que Lica conversa
sobre sua sexualidade com Benê .
307
Temas como o machismo, a homossexualidade e o preconceito
também são explorados em outros capítulos de Wonderwall. As
reflexões se desdobram a partir de personagens como, por exemplo,
Gabriel (Luis Galves), a mãe de Samantha e etc. Apesar de não integrar
o cânone, a fã reflete sobre assuntos pertinentes ao público alvo tais
como a ansiedade e a saúde mental. Como iremos aprofundar na
dimensão da estética, os leitores se identificaram com arco narrativo
e compartilharam experiências semelhantes as das adolescentes. No
capítulo 13, intitulado Anxietas, Samantha tem uma crise de ansiedade,
depois de uma conversa conturbada com os pais a personagem começa
a se sentir mal e liga para Lica. Samantha fala que sempre teve medo
de contar sobre suas crises para os pais, porém a namorada alerta
da importância da saúde mental e que buscar ajuda profissional é
fundamental. Os capítulos de Wonderwall são, em sua grande maioria,
narrados em primeira pessoa. Nesse sentido, a clexastrash retrata os
acontecimentos da história a partir da perspectivas das protagonistas.
O recurso acaba, mesmo que indiretamente, gerando empatia e
identificação nos leitores.
Como ressaltamos anteriormente, a fanfic é composta por várias
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
308
questões ideológicas e/ou comerciais. Como explica a autora (2017,
p. 277). “Parte da importante – até crucial – função social, literária e
política da fanfiction é que as pessoas realmente contam as histórias
que querem contar, sem pré censura ou noções preconcebidas
sobre o que vai vender”. A ausência de cenas românticas, em que as
adolescentes trocavam carícias e beijos ardentes, foi criticada pelo o
fandom de Limantha. Os fãs protestavam no Twitter através de hashtags
e menções aos perfis dos roteiristas. Dessa forma, a fanfic preenchia
uma carência do público, apesar do erotismo ser pontual na trama, a
fã amplia o viés romântico do casal.
Em Wonderwall observamos uma nítida compreensão da
autora sobre a estrutura narrativa. Este aspecto está presente não só
nos ganchos que integram todos os desdobramentos da trama, mas
na padronização dos capítulos. Todos os capítulos da fanfic têm como
ponto de partida o significado de uma palavra que também é o título
do mesmo. Além de abrir o capítulo, a palavra escolhida por clexastrash
está correlacionada com o principal arco narrativo. Como, por
exemplo, no capítulo 10, intitulado Mauerbauertraurigkeit. Segundo a
fã a palavra – Mauerbauertraurigkeit - significa um sentimento movido
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
309
A fanfic materializa a coletividade presente na prática da cultura
de fãs ( JAMISON, 2017). Para Jamison (2017) dentro da comunidade o
leitor da fanfic tem mesma importância que o autor. Segundo a autora,
além do anonimato e da velocidade na propagação das fanfics, a
internet possibilitou a troca instantânea de conteúdos e impressões
sobre as tramas. No site Spirit existem seções especificas destinadas
a troca de comentários sobre as histórias. Em Wonderwall, clexastrash
estimula a participação dos leitores de distintas formas. Através das
seções Notas do Autor e Notas Finais a fã repercutia os capítulos da
telenovela que estavam no ar, refletia sobre o seu processo criativo,
ressaltava os pontos importantes da trama, indicava outras fanfics,
comentava as impressões dos leitores no Twitter e explicava os grifos
indicando a mudança na temporalidade.
Ao compartilhar com os leitores questões relacionadas ao
seu processo criativo a fã refletia, mesmo que indiretamente, sobre
o conteúdo que estava produzindo. Como, por exemplo, no capítulo
16, em que clexastrash diz que estava com um bloqueio criativo e pede
a opinião dos leitores sobre os desdobramentos narrativos. A autora
também discute, nas Notas do Autor do capítulo 7, sobre a periodicidade
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
310
exemplo, no capítulo 17 em que a fã trata de questões relacionadas à
comunidade LGBT, em sua conta pessoal no Twitter clexastrash postou
parte da pesquisa que fez para aprofundar temas como o índice de
assassinatos no Brasil.
A fã também solicita a participação dos leitores como, por
exemplo, no capítulo 26, em que clexastrash pergunta de que forma
eles preferem o título. Dessa forma, a fanfic é ampliada para outras
plataformas, dinamizando o consumo dos leitores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
311
Por fim, é importante destacar que as práticas da cultura de
fãs são cheias de nuances e peculiaridades, desta forma é fundamental
que a análise e as correlações com as dimensões da competência
midiática apresentadas neste capítulo sejam pensadas especificamente
em Wonderwall.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
312
NOTAS
[9] Ship é o nome designado ao casal que o público gostaria de ver junto, chamado de
casal shippado ( JAMISON, 2017)
313
REFERÊNCIAS
BOOTH, P. Digital Fandom: New Media Studies. Nova York: Peter Lang, 2010.
JAMISON, A. Fic - Por que a fanfiction está dominando o mundo. São Paulo: Rocco,
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
2017.
______. Lendo criticamente e lendo criativamente. In Matrizes, v.9, n.1, p. 11-24, 2012.
Disponível em: https://bit.ly/2tmMD1A. Acesso em: 21 jun. 2018.
314
WERSHLER, D. Literatura conceitual como fanfiction. JAMISON, A. Fic - Por que a
fanfiction está dominando o mundo. São Paulo: Rocco, 2017, p. 350-358.
WOLTON, D. Elogio do grande público - Uma teoria crítica da televisão. São Paulo:
Ed. Ática, 1996.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
315
14
O debate sobre questões morais entre
consumidores e marcas nas redes sociais:
o caso da cerveja Skol
Letícia Barbosa Torres Americano e Mirian Nogueira Tavares
emocionais.
317
midiáticas e digitais dos indivíduos tornaram-se essenciais para o
desempenho da publicidade na contemporaneidade.
No campo da comunicação com o mercado, os consumidores
não são mais vistos apenas como alvo das mensagens persuasivas,
mas integrá-los e torná-los atuantes nas ações é considerado cada
vez mais essencial para o estreitamento dos vínculos e a visibilidade
das campanhas. Desse modo, questionamos se ao decidir engajar-
se no processo, expressando-se através das novas tecnologias de
informação, o público, mesmo quando não há consciência sobre o
papel desempenhado, não assume também parte da responsabilidade
pela construção do conteúdo mercadológico.
Na busca de compreender melhor esse fenômeno, que
ainda podemos considerar recente, e investigar de que maneira as
competências midiáticas e digitais dos indivíduos são mobilizadas para
a construção colaborativa das mensagens mercadológicas nas redes
sociais da internet - com o objetivo de refletir sobre ações formativas
para a área - desenvolvemos nossa pesquisa em nível de doutorado na
Universidade do Algarve (UAlg), em Portugal.
Nela avaliamos a interação - público/marca/consumidores
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
318
por “à vossa/nossa saúde”. A marca de cerveja que nasceu na Europa
na década de 1960 com nome de brinde, em associação “a uma união
fraterna, a experiência coletiva de um êxtase e o momento ritual de
[celebração] à saúde... à vida.” (NEVES, 2011, p.122), algumas décadas
depois se tornou a cerveja líder do mercado brasileiro, posição que
ainda ocupa no final dos anos 2010.
Na luta por um lugar de destaque no concorrido mercado
brasileiro - terceiro produtor mundial de cerveja, o produto domina
o consumo de bebidas alcoólicas no país com mais de 80% de
participação no mercado (EUROMONITOR INTERNACIONAL, 2017)
-, a Skol apostou em inovação, uma característica a qual procura
estar associada. Em 1980, quando a marca ainda buscava espaço na
predileção dos consumidores, os direitos exclusivos de produção da
Skol no território brasileiro foram adquiridos pela empresa Brahma,
em uma ação estratégica na disputa acirrada com a Antarctica pela
liderança nacional.
De acordo com o estudo de caso publicado pela revista
especializada Meio & Mensagem, a Skol, na época, “era o patinho feio
num mercado em que Brahma e Antarctica tinham 70% de participação.”
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
319
ainda na década de 1990, com a definição de um plano de comunicação
diferenciador e a adoção de uma personalidade para a marca: “Jovem,
ousada, irreverente e inovadora”, conforme define a Ambev, atual
proprietária da marca, em sua homepage. [4]
A parceria com a agência F/Nazca, firmada em 1996, marcou
a história da publicidade brasileira com a produção de um dos casos
mais emblemáticos em que a comunicação mercadológica fez toda a
diferença para o desempenho do produto.
Roberts (2004, p. 189) lembra que o principal argumento de
promoção da concorrência era “com base na supremacia”. Mas, a
partir da pesquisa que detectou que o consumidor percebia a Skol
como uma cerveja mais suave, leve, ideal para climas mais quentes, foi
decidido apresentá-la através dos seus atributos sensoriais. Assim, o
sentimento do público foi sintetizado no slogan “A cerveja que desce
redondo”, com grande impacto na trajetória da marca e na memória
dos brasileiros. Ao slogan foi agregado o elemento da seta giratória, o
que “ratifica sua proposta” (DIAS, 2015) ao representar graficamente o
“descer redondo”. Definidos o novo mote e a personalidade da marca,
houve preocupação em integrar a mensagem a “todos os pontos de
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
320
Em 1999, o setor cervejeiro do Brasil passou por uma grande
reviravolta com impactos globais devido à fusão entre duas gigantes
da área, Brahma e Antarctica, para a criação da Companhia de Bebidas
da América, a AmBev. A Skol também passou a fazer parte das marcas
do grupo, que desse modo tornou-se um dos maiores produtores
de bebidas do mundo. As mudanças no campo administrativo e de
propriedade não modificaram a gestão de marketing da marca Skol,
que manteve e fortaleceu a sua identidade, consolidando a liderança
nacional nos primeiros anos do século XXI ao ultrapassar a fatia
de 30% do mercado. “Entre as razões que poderiam explicar esse
desempenho, é imprescindível destacar o posicionamento adotado em
1997 (‘a cerveja que desce redondo’) e, desde então, consistentemente
respeitado, como um elemento fundamental para esse sucesso.”
(TELLES, 2004, p. 65).
De acordo com Neves (2011), o slogan em sua forma original,
entre 1997 e 2005, foi veiculado em quase oitenta filmes publicitários
para a televisão, além de assinar uma pluralidade de anúncios em
outras mídias, eventos e ações na internet. Em 2005, a primeira
variação: “Com Skol, tudo fica redondo”. Ao longo dos anos, outros
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
321
especialmente entre o público feminino. As peças que geraram
polêmica foram as produzidas para mídia exterior. Elas faziam parte
de um conjunto maior que, de acordo com a nota da Skol publicada em
suas redes sociais [5], tinha “como mote aceitar os convites da vida para
aproveitar cada momento”.
No entanto, os anúncios instalados com frases soltas, sem
qualquer contexto, como “Esqueci o ‘não’ em casa”; “Topo antes
de saber a pergunta” e “Tô na sua, mesmo sem saber qual é a sua”,
despertaram questionamentos, reações indignadas e até acusações de
que a marca fazia apologia ao estupro. Tudo foi acentuado pelo fato
de que no período do Carnaval, tradicionalmente, há um agravamento
do problema de assédio sexual. A discussão se espalhou primeiro nas
redes sociais e depois na grande imprensa e mídia especializada a
partir da iniciativa de duas jovens feministas. Elas interviram em uma
das peças, “corrigindo” a frase com fita isolante e postaram o feito
no Facebook, cobrando mais responsabilidade dos publicitários. A
imagem a seguir é do post de Pri Ferrari, uma das ativistas, já editado
com a informação de que a marca havia feito contato e prometido
suspender a campanha - um sinal da força das redes sociais - e também
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
322
A Skol viu-se obrigada a agir rapidamente para atenuar
os danos a sua imagem. O consumidor conectado pôde perceber
que tem o poder de afetar e provocar mudanças mesmo em marcas
gigantes, como no caso em questão, desde que haja capacidade de
organização e engajamento por uma causa. A ação pode ser facilitada
pelas possibilidades de agregação e propagação oferecidas pelas
redes sociais na internet. A marca compreendeu a ocorrência como
um sinal de alerta de que a sociedade tinha mudado e que seria
importante acompanhar esse processo. Desse modo, a equipe de
marketing da Skol definiu que era uma oportunidade de reformulação
do seu posicionamento, ligando-o a causas inclusivas, à promoção da
diversidade e ao combate ao preconceito. O que tem sido apontada por
alguns - inclusive com ironia - como a fase “politicamente correta”
de sua comunicação. A polêmica também contribuiu para fomentar o
debate sobre a misoginia na publicidade brasileira de cerveja.
323
através de quatro publicações no Facebook, que serão apresentadas na
ordem cronológica em que foram veiculadas. Três delas geraram um
alto grau de engajamento e uma obteve desempenho fraco em relação
ao esperado para as mensagens com esse tipo de conteúdo na página.
324
Estabeleceu-se um diálogo intenso em torno da mensagem e
uma participação chegou a ter 47 réplicas. Muitos agradecimentos e
elogios, assim como expressões de desagrado. Porém, o debate que se
instalou de fato foi sobre ser ou não uma postura sincera, autêntica da
marca ou apenas uma estratégia oportunista para ganhar espaço nesse
nicho de mercado. A “conversa” a seguir sintetiza o tipo de interação
predominante.
325
Reproduzimos, em sequência, parte de um diálogo que
se estendeu longamente na página, no qual o perfil que o iniciou
expressou a dúvida - e mesmo angústia – em relação à sua opinião
sobre a ação da marca.
326
Imagem 5: Continuação das Réplicas no post “Brinde ao Respeito”
327
Há alguns apontamentos que julgamos relevantes destacar
acerca da interação. A começar pelo compartilhamento do vídeo Pink
Money [9] – Tragédia 41 da drag queen Melissa L’Orange, como forma
de qualificar o debate. No episódio, ela discute a problemática que
relaciona o poder de compra da comunidade LGBT e as marcas que se
mostram aliadas à causa. L’Orange ressalta que, como “infelizmente”
vivemos em uma sociedade capitalista, “é impossível fugir do mercado
[...] eles já vão fazer propaganda de qualquer jeito, o marketing já existe,
eles já vão ganhar dinheiro... Eu prefiro que eles ganhem dinheiro
e me deem visibilidade. Tipo ... é uma troca quase justa”. A artista,
no entanto, ressalta que não são as marcas que vão acabar com a
homofobia e que isso depende de ações muito mais profundas, porém
elas acabam por “jogar na cara da sociedade que somos gente, porque
consumimos”.
A inserção de parte do diálogo de um outro comentário –
exatamente o que abordamos anteriormente – reflete também a busca
por oferecer embasamento à discussão, mas ainda o reconhecimento
do espaço como um ambiente legítimo de debate, bem como de seus
interlocutores e o interesse despertado por essa angulação do tema. Na
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
328
além de jurarem que nunca mais irão comprá-lo. A explicação da
marca de que mudou para incluir todos, não é aceita.
Ao continuarmos, no entanto, a examinar as réplicas do
comentário, encontramos referências a diversos outros conjuntos
sociais: “façam agora uma sobre preconceito racial”, “sobre a
rejeição aos baixinhos”. Houve quem afirmasse que a marca deveria
homenagear os catadores de latinha, pois são importantes para os
programas de reciclagem e ainda denunciou que “desse pessoal
ninguém nunca lembra”. Todavia, o post seguinte que justamente
propunha o enfrentamento a todo tipo de preconceito foi muito mal
recebido pelo público.
329
Além de um número baixo de reações (2.300) e
compartilhamentos (56) para o padrão da fanpage, os duzentos
comentários foram majoritariamente hostis. Ao abordar o preconceito
de forma geral - sem associá-lo a grupos específicos - e indicar que
quase todos têm ou já tiveram um comportamento nesse sentido,
a marca não conseguiu atrair em sua defesa setores associados a
nenhuma causa e nem mesmo dispostos a debater a questão em
sua generalidade. Foram poucas, apenas dez, as pessoas que se
dispuseram a elogiar a iniciativa da Skol. O exemplo a seguir descreve
bem a situação.
330
Imagem 9: Comentários (2) post “Skol Diálogos”
331
De qualquer forma, a marca não obteve sucesso na proposta
de comunicação desse post, o público em grande maioria repeliu a
investida da Skol para estabelecer diálogos sobre a necessidade de se
combater os preconceitos em suas variadas formas.
332
não se falou mal do produto nesse caso. A presença do público feminino
foi sensivelmente maior nas mais de 1.100 participações, o que reforça
o recorte de gênero na aprovação da nova postura da Skol, avaliada
tanto de forma específica relativa a este anúncio, como de modo geral.
“Vou até passar a beber cerveja depois dessa propaganda” foi afirmado
algumas vezes. Várias internautas exaltaram “Skol a melhor cerveja”,
se referindo claramente ao posicionamento da marca e não ao produto
em si.
No entanto, as interações não foram acríticas. Pontos de vista
diferenciados de mulheres sobre o filme foram confrontados. Apesar
do aplauso da maioria que se manifestou, a opinião ficou longe de ser
unânime. Algumas criticaram a peça por tirar o “lugar de fala” em um
comercial que se pretende feminista e acusaram a marca de promover
mansplanning, em que o “macho branco” continuaria ditando as
regras. Outras, disseram que o comercial só “refletiu a realidade” e
que “mulheres podem ser machistas e homens podem evoluir”. Os
comentários geraram muitas réplicas, portanto usaremos alguns
trechos para exemplificar como decorreu a dinâmica.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
333
Outro ponto singular nesta postagem em relação ao usual
na página da Skol foi o elevado número de “marcações” de perfis de
amigas na rede social para que elas visualizassem a peça publicitária.
Independentemente da posição pessoal de cada um, é preciso
reconhecer que houve bastante espaço e mobilização para discutir a
campanha, ou seja, o machismo, o feminismo e a publicidade em si.
334
Imagem 13: post “Metamorfose Ambulante”
mais réplicas.
335
Mesmo que a crítica tenha sido rebatida por internautas, o
autor, que acusou a marca de estar destruindo “os valores da família
tradicional”, foi respaldado por outros, através de manifestações
como: “mundo com valores perdidos” e “cunho esquerdizante”, em
uma associação cada vez mais comum no Brasil, que liga qualquer
posicionamento à esquerda política com um “comportamento liberal”,
o que poderia ser traduzido, nesse tipo de visão, como uma postura
condenável, libidinosa e licenciosa. A referência ao presidente eleito
do país em outubro de 2018, Jair Bolsonaro, quase um ano antes do
pleito, é uma amostra da relação estabelecida pelo então candidato
com os anseios morais dessa parcela da população.
Em algumas participações a homofobia foi expressa sem
qualquer pudor, apesar de sempre haver quem recriminasse tal atitude,
como é perceptível no diálogo a seguir. Para aquelas, a exibição de
beijo gay no vídeo configurou falta de respeito com a audiência.
336
realidade, ganharam relevância pelo volume e pela permeabilidade
que encontraram no tecido social brasileiro. Houve ainda quem
apontasse a Skol como preconceituosa em relação às pessoas que têm
outra opinião e de discriminar quem pensa diferente, na lógica de que
a marca estava oprimindo parte do público através do posicionamento
pró-inclusão.
Por outro lado, muitos avaliaram que, mesmo que se trate
de ações de marketing, a postura da Skol era importante para
provocar reflexões sobre a promoção de um mundo “mais humano”. O
comentário a seguir, acompanhado de uma parcela das respostas, é um
dos que aborda essa questão. Ele foi escolhido como exemplo porque
foi, dentro dessa abordagem, o que gerou mais interação. A autora
precisou de enfrentar opiniões contrárias e foi chamada de ingênua. O
post mostra o confronto de posições que aconteceram diversas vezes
no espaço.
337
O antagonismo percebido na página acabou por refletir uma
tendência da própria sociedade, exacerbada nas redes sociais da
internet, na discussão de temas com cunho moral. Em contraste aos
anteriores, apresentamos uma seleção de comentários que retratam a
maioria - por uma pequena margem - das participações, salientando,
desse modo, a distância na recepção do conteúdo entre os dois polos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
338
responsabilidades e como se proteger on-line; eles também precisam
se relacionar socialmente e com consideração aos outros.” (FRAU-
MEIGS et al, 2017, p. 42).
Definitivamente, o desenvolvimento das habilidades
socioemocionais, entre as quais a empatia, como foi ressaltado
no Segundo Fórum Europeu de Literacia dos Media e da Informação
(UNESCO, 2016) se apresenta - em tempos de perplexidade com as
redes sociais – cada vez mais fundamental em qualquer abordagem
voltada à educação para as mídias, na busca da construção de um
ambiente comunicacional sadio, cidadão e inclusivo.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
339
NOTAS
[2] A outra dimensão apontada pelos estudantes como deficiente em sua formação é
“Saúde e Bem-Estar”. As demais são: Acesso e Inclusão; Aprendizagem e Criatividade;
Ética e Empatia; e-Presença e Comunicação; Participação Ativa; Direitos e
Responsabilidades; Privacidade e Segurança. (RICHARDSON; MILOVIDOU, 2017).
[3] Uma definição mais completa do termo pode ser encontrada no site do Nordic
Museum. Disponível em: https://nordicmuseum.org/exhibitions/skal. Acesso em:
28 set. 2019.
[5] A nota foi publicada na página da Skol nas seguintes redes sociais: Facebook,
Instagram e Twitter.
340
REFERÊNCIAS
CHAIM, Célia. Skol, a cerveja que há oito anos desce redondo. Meio & Mensagem,
Case Report, p.70-71, 2005.
DIAS, Kadu (Skol [blog]. Mundo das Marcas, 2015. Disponível em https://
mundodasmarcas.blogspot.com/2006/05/skol-cerveja-que-desce-redondo.html.
Acesso em: 29 set. 2019.
ROBERTS, Kevin. Lovemarks: o futuro além das marcas. São Paulo: M. Books do
Brasil Editora Ltda, 2004.
341
TELLES, Renato. Posicionamento e Reposicionamento de Marca: uma perspectiva
estratégica e operacional dos desafios e riscos. Tese de Doutorado, Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, 2004.
342
15
Crescer na era da internet: o registro das
constantes transformações na relação de
crianças e mídias através dos youtubers mirins
Hyrlla Tomé
344
uma característica biológica, tendo em vista que reconhecemos
comportamentos infantis em adultos. Logo, mesmo que de forma
inconsciente, as estruturas sociais desenvolvem expectativas sobre
os papéis que adultos e crianças devem desempenhar dentro de suas
circunstâncias.
Essa reflexão faz-se necessária também ao constatar que,
a princípio, o YouTube não era uma plataforma projetada para a
apropriação infantil, exigindo que seus usuários se declarassem maiores
de 18 anos de idade. Ou seja, era um espaço midiático que excluía a
atividade infantil em sua premissa - quase como se desejasse manter
nos bastidores algum tipo de comportamento adulto, ou, em algum
grau, manter os pequenos protegidos da exposição de práticas adultas.
Fato é que a plataforma excluía crianças de seu público-
alvo, assim como outras atividades definidas como “adultas” que, de
acordo com Buckingham (2007), determinam a idade em que a infância
termina legalmente de forma primária, como a permissão para
emprego remunerado, sexo, consumo de álcool e voto. E, como pontua
o autor, “apesar disso, claro, as crianças de verdade se envolvem em
muitas dessas atividades bem antes de estarem legalmente autorizadas
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
345
representações e discursos que as crianças contemporâneas têm
sobre si mesmas e seus pares.
Importante para a discussão que se pretende desenvolver neste
trabalho é a consciência da fronteira existente entre adultos e crianças,
e de como a construção social da mesma resulta no estranhamento,
e até mesmo choque, das atividades desenvolvidas por crianças no
espaço do YouTube. Quando escreveu sobre a morte da infância no livro
Crescer na Era das Mídias, David Buckingham (2007) pontuou que
346
SER CRIANÇA: SUA RELAÇÃO COM A MÍDIA
347
Ao ser considerada laço social, a televisão apresenta-se como o espelho
da sociedade, pois permite que esta se veja através da sua representação
exibida na tela. Ao fazer a sociedade refletir-se, a televisão não só cria
uma imagem e uma representação, mas também um laço entre todos
aqueles que a assistem simultaneamente. (BORGES, 2014, p. 27)
348
pirata em que fossem transmitidos apenas desenhos, em um horário
inteiramente dedicado ao entretenimento infantil dentro da grade de
televisão aberta.
Se, antes, crianças dependiam de seus pais para conhecer o
mundo, hoje, possuem todas as respostas que quiserem com o Google
- tanto para aprender, quanto para ensinar. Se, antes, dependiam da
produção de conteúdos infantis por profissionais adultos para suas
demandas de entretenimento, hoje, possuem tecnologias digitais
disponíveis para produção de seu próprio conteúdo - além de não
precisarem mais sonhar com uma possível invasão do sistema de
televisão para veicularem conteúdos de seus próprios interesses,
como os personagens da TV CRUJ.
O YouTube evidencia a independência infantil de fazer com
que suas vozes sejam ouvidas e reverberadas, a partir da geração de
conteúdo direto para seus pares, além da ruptura de outros níveis de
independência, como a financeira (a partir da monetização dos vídeos).
Claro que, além dessas circunstâncias, a plataforma destaca outros
problemas como a exposição e trabalho infantis, perda de privacidade
da audiência, através da coleta de dados, e tais fatos não podem ser
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
349
O processo de conexão atual é tão simples e corriqueiro que não é
incomum ouvir relatos de crianças não alfabetizadas capazes de
reproduzirem seus vídeos favoritos no YouTube por conta própria.
Ainda assim, autores como Burgess e Green (2009, p. 98)
afirmam que a “alfabetização digital é um dos principais problemas
da cultura participativa”. No estágio atual da presente pesquisa, as
pistas sobre os processos de alfabetização digital encontradas levam
a concordar com os autores de YouTube e a Revolução Digital quando
afirmam que alfabetizações “são produzidas por contextos sociais e
históricos específicos e neles são praticadas” (BURGESS; GREEN,
2009, p. 100), justificando a atual forma de fluxo em que se encontram
as definições de conhecimento e alfabetização.
A noção de literacia midiática está associada a um processo
que permite “o desenvolvimento de competências fundamentais para
que o indivíduo exerça um papel mais ativo na sociedade, tornando-se
um consumidor com mais senso crítico e um produtor mais criativo”
(OLIVEIRA, 2018, p. 11). Em sua pesquisa sobre a relação entre a
televisão e o público infantil, Pereira (2004) destaca a necessidade de
saber utilizar as mídias para “ver mais longe”, “para que a voz das crianças
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
não fique silenciada pela voz dos adultos” (PEREIRA, 2004, p. 6).
Scolari (2018, p. 14) relata que a concepção de literacia midiática
está baseada, nuclearmente, nos conceitos de consciência crítica,
participação democrática e, até mesmo, fruição da própria mídia. Ele
salienta ainda que pesquisadores do novo contexto de literacia midiática
identificaram uma lista de competências que englobam as atividades
de participação na mídia, a que chamam de prosuming skills, “que
incluem as competências necessárias para produzir/criar conteúdo, até
a habilidade de configurar uma conta de comunicação online para usar
softwares de geração de conteúdo digital e programação”.
Em busca de compreender as demandas da alfabetização
digital, Scolari (2018, p. 4) levanta uma série de usos da internet por
parte dos jovens:
350
Os jovens estão a fazer muitas coisas com os media, desde jogar
videojogos com amigos a escrever fan-fiction, partilhar fotografias
no Instagram, ver – e muitas vezes a carregar – vídeos no YouTube ou
participar em eventos do ‘mundo real’ dedicados às suas personagens
e histórias preferidas. A equipa de investigação do projeto Transmedia
Literacy definiu estas competências como ‘capacidades transmediáticas’.
351
na presente pesquisa. Afinal, para construir laços através da plataforma
é necessário entender os códigos de interação da própria comunidade
a fim de gerar e consumir conteúdos de maneira efetiva.
Os autores Burgess e Green (2009) enfatizam a prática criativa
dentro da quase onipresença das tecnologias digitais como forma do
desenvolvimento de consciência crítica para a participação inteligente
na mídia:
352
A utilização e participação nas mídias sociais exige dos usuários
determinado nível de letramento digital e conexão com a internet. No
caso do youtube, quando além de consumidor de conteúdo se deseja
também produzi-lo, é necessário acesso a bens materiais específicos
como câmeras digitais de última geração, filmadoras, bons computadores
e softwares que podem ser livres ou não. ( JORGE, 2018, p. 2)
353
• Quais são os novos espaços digitais que eu posso usar para ser ativo
e engajado?
• Como eu posso contribuir para a tolerância, diversidade e outros
discursos na cultura da mídia digital?
• Onde minhas ações são benéficas e prejudiciais a minha comunidade local?
• Como eu posso agir para ajudar as questões que me interessam,
informar outras pessoas sobre meus posicionamentos e me engajar
em um diálogo valioso?
354
Destrinchando cada uma das esferas citadas, a autora define
que, para a esfera política, a avaliação de qualidade da estrutura do
sistema é definida de acordo com os objetivos das políticas públicas
e dos tipos de serviços a serem oferecidos. Já na esfera econômica, a
avaliação de qualidade é definida de acordo com os objetivos de mercado
e a grade de programação, enquanto na esfera cultural a avaliação dos
programas é realizada a partir dos objetivos de produção, conforme
a atuação dos profissionais. Por fim, a avaliação da performance do
canal é realizada na esfera social, a partir dos objetivos do contrato
de concessão em vigor. A autora enfatiza que “a discussão do conceito
de qualidade na televisão está sempre relacionada com um contexto
político, econômico, social e cultural bastante particular” (BORGES,
2014, p. 26). As relações entre qualidade e as esferas acima citadas
foram resumidas na tabela abaixo:
QUALIDADE... OS OBJETIVOS...
...da estrutura do das políticas
Política
sistema públicas
… da grade de do mercado e
Econômica
programação radiofusores
… dos
Cultural de produção
programas
… da performance do contrato
Social
do canal de concessão
355
A autora ainda elenca funções básicas que os serviços públicos
precisam cumprir para diferentes tipos de objetivos de formato.
Sublinha-se nesta pesquisa as funções básicas dos programas televisivos
voltados ao público infantojuvenil: de acordo com a leitura de Oliveira
(2018), o conteúdo “deve oferecer diversidade em diferentes níveis: no
conteúdo, formato, gênero, origens, técnicas e públicos” (OLIVEIRA,
2018, p. 67). A qualidade estética também deve ser observada, a partir
da oferta de diferentes tipos de linguagem de expressão audiovisual e
narrativa, fugindo de estereótipos e promovendo a sensibilização.
Além da observação das funções básicas já mencionadas
e discutidas anteriormente, as autoras propõem uma análise do
conteúdo segmentada em três etapas: o plano da expressão, o plano
do conteúdo e a mensagem audiovisual.
A presente pesquisa inspira-se nessa metodologia, adaptando
ainda os aspectos-chave da mídia-educação propostos pelo British
Film Institute (BAZALGETTE, 1999), dividindo, assim, as avaliações
individuais de cada vídeo analisado em seis etapas, conforme mostra o
quadro abaixo:
A autora ainda elenca funções básicas que os serviços públicos
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
356
PROPOSTA METODOLÓGICA PARA ANÁLISE DA QUALIDADE DOS
VÍDEOS NO YOUTUBE
357
de anúncios os vídeos geram. Como é do interesse da plataforma que
mais usuários gerem conteúdos populares, o YouTube oferece um
espaço de aprendizado gratuito para que criadores de conteúdo de
diferentes níveis aperfeiçoem suas práticas e, consequentemente,
gerem mais renda - tanto para a plataforma, quanto para si.
Seguindo essa lógica, poder-se-ia, então, dizer que os
conteúdos mais populares e rentáveis podem ser avaliados como
com maiores níveis de qualidade. Dentro dessa leitura específica, é
importante salientar que a lógica de popularidade do YouTube ainda
é um grande mistério, mas sabe-se que quanto mais inserido nas
práticas da plataforma, maiores as chances de um conteúdo ser bem
aceito pela comunidade, consequentemente, ser popular, ao menos
dentro de um nicho.
Quanto às esferas social e cultural, que se referem às funções
básicas desempenhadas pelos programas e performance do canal,
respectivamente, é possível aplicar uma série de parâmetros, que
Oliveira (2018) resume ao refletir que “a qualidade está relacionada a
três aspectos primordiais: o objetivo da plataforma onde o conteúdo é
veiculado, a qualidade dos vídeos e as necessidades do público infanto-
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
358
Dentro do debate da qualidade, Borges (2014) desenvolve
parâmetros de avaliação da qualidade dos conteúdos da televisão
pública portuguesa, que foram adaptados por Oliveira (2018) em sua
dissertação para atender às especificidades do YouTube.
A presente pesquisa inspira-se nessa metodologia, adaptando
ainda os aspectos-chave da mídia-educação propostos pelo British
Film Institute (BAZALGETTE, 1999), dividindo, assim, as avaliações
individuais de cada vídeo analisado em seis etapas, conforme mostra o
quadro abaixo:
- Duração
- Data de envio
- Número de views
- Descrição
Visual
Utilização de
equipamentos
Como se produz?
que permitam
Indicadores do
uma boa imagem,
plano da expressão
iluminação adequada,
(OLIVEIRA, 2018;
Técnicas enquadramentos,
BORGES, 2014),
movimentos de
avaliados de 1 a 4,
câmera e ritmo da
sendo 1 fraco e 4
montagem e cenário
excelente.
que possam contribuir
com a construção da
narrativa.
359
ÁREAS PERGUNTAS CHAVE AVALIAÇÃO
Sonora
Uso de equipamentos que
possibilitem boa qualidade de
áudio e utilização de trilhas e
efeitos sonoros adequados de
acordo com a proposta de cada
vídeo.
Como se produz?
Indicadores do Videografismo
plano da expressão Utilização de vinhetas de
(OLIVEIRA, 2018; abertura e crédito, textos,
Técnicas
BORGES, 2014), legendas e outros elementos
avaliados de 1 a 4, gráficos com o intuito de
sendo 1 fraco e 4 enriquecer a narrativa e não
excelente. deixar o vídeo poluído.
Atuação
Apresentação e/ou atuação
adequada por parte dos
Youtubers, convidados e atores
envolvidos.
Originalidade e criatividade
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
do formato audiovisual,
apresentando inovação em
relação às ideias, apresentação
e abordagem dos temas
360
ÁREAS PERGUNTAS CHAVE AVALIAÇÃO
Eficácia na transmissão
das mensagens,
incluindo propostas
Como sabemos o que
com clareza objetiva,
significa?
roteiro bem elaborado
Indicadores da
e efetiva comunicação
mensagem audiovi-
Linguagem com o público
sual (OLIVEIRA, 2018;
BORGES, 2014), ava-
Utilização de
liados de 1 a 4, sendo 1
elementos e estratégias
fraco e 4 excelente.
que estimulem a
participação do público
- Presença de
informações que sejam
relevantes e úteis ao
mesmo tempo que
entretém
- Diversidade e
confiabilidade das
fontes na construção
das temáticas
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
- Atender às
expectativas do público
em relação à proposta
do tema e conteúdo
apresentado
361
ÁREAS PERGUNTAS CHAVE AVALIAÇÃO
- Utilização de
elementos adequados
ao público e que
promovam a
Como representa os
identificação do
temas?
espectador
Indicadores do plano
do conteúdo (OLIVEI-
Representação - Estímulo à
RA, 2018, BORGES,
imaginação através
2014), avaliados de 1 a
de narrativas que
4, sendo 1 fraco e 4
desenvolvam as
excelente.
capacidades cognitivas
e emotivas, com
verossimilhança
- Possui a opção de
comentários ativada?
- Número de usuários
Quem recebe e
Público que curtiram
que sentido dá?
- Número de usuários
que descurtiram
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
362
Ainda dentro desse contexto, o autor, no relatório apresentado
afirma que a diversidade do conteúdo depende dos usuários. Dito
isso, Banaji e Buckingham (2013, p. 33) acreditam que é necessário
levar em conta também a diversidade de jovens, a própria internet e a
participação cívica, o que implica entender as atividades online dentro
do contexto das interações offline individuais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
363
das crianças, como também, para garantir que não sejam expostas a
conteúdos “puramente adultos” antes da idade considerada adequada.
Por conta das rápidas transformações, é real a possibilidade
de que o ambiente que inspirou o início do desenvolvimento desta
pesquisa seja totalmente diferente ao final dela. E esse fato, ao invés
de ser considerado um complicador, é ainda mais inspirador para que
novas explorações comparativas possam ser produzidas, percebendo os
efeitos a longo prazo de cada política de conteúdo aplicada e os efeitos
dela nas socializações dos pequenos sujeitos e no conteúdo em si.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
364
NOTAS
[1] Esta dissertação de mestrado que está a ser desenvolvida no PPGCOM UFJF é parte
integrante das atividades da rede Alfamed (Red Interuniversitaria Euroamericana
de Investigación en Competencias Mediáticas para la Ciudadanía), com o apoio do
Projeto I+D+I (2019-2021), intitulado “Youtubers e Instagrammers: La competencia
mediática en los prosumidores emergentes” (RTI2018-093303-B-I00), financiado
pelo Ministerio de Ciencia, Innovación y Universidades de España e o Fondo Europeo
de Desarrollo Regional (FEDER).
[2] YouTube paga multa de US$ 170 milhões e muda política de vídeos infantis -
Diário de Pernambuco. Disponível em: https://www.diariodepernambuco.com.br/
noticia/economia/2019/09/youtube-paga-multa-de-us-170-milhoes-e-muda-
politica-de-videos-infant.html. Acesso em: 9 set 2019.
365
REFERÊNCIAS
BAZALGETTE, Cary. Making movies matter. London: British Film Institute. 1999.
BANAJI, Shakuntala; BUCKINGHAM, David. The Civic Web: Young People, the
Internet, and Civic Participation (The John D. and Catherine T. MacArthur Foundation
Series on Digital Media and Learning). Massachusetts: The MIT Press, 2013.
CRUJ (Primeiro Episódio) Parte 1. Produção de Cao Hamburger, Flávio de Souza. São
Paulo: Disney, Sbt, 1997. P&B. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=R-
ZvQ0K5Vu4&. Acesso em: 06 set. 2019.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
JORGE, Glaucia Maria dos Santos. De criança para criança: discursos sobre
gênero, raça e classe social produzidos por youtubers mirins. In: Anais… Congresso
Internacional de Educação e Tecnologias. São Paulo. 2018. Disponível em: http://
cietenped.ufscar.br/submissao/index.php/2018/article/download/651/179/. Acesso
em: 22 set. 2019.
MIHAILIDIS, Paul. Media literacy and the emerging citizen: Youth, engagement and
participation in digital culture. Peter Lang, 2014.
366
OLIVEIRA, Daniela Santana de. A qualidade audiovisual e a competência midiática
na formação do olhar do público infantojuvenil. 2018. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2018.
SCOLARI, Carlos A. (Ed.). Teens, media and collaborative cultures: exploiting teens’
transmedia skills in the classroom. Barcelona: Transliteracy H2020 Research And
Innovation Actions, 2018.
367
16
Encontros no documentário brasileiro e a
potência de emancipação do espectador
Tatiana Vieira Lucinda
369
Tais perguntas abrem uma longa discussão, contudo, neste
estudo, almejamos focar no entendimento de como o encontro no
documentário brasileiro foi se desenhando para, posteriormente,
interligá-lo ao seu impacto no espectador. Partimos da hipótese de
que o lugar do espectador também é configurado pelos modos de
aproximação do cineasta, pelas aberturas permitidas àquele que é
filmado e por esse embate de mise-en-scènes tão distintas, mas que
têm em comum o fator transformador da câmera, a qual pode inibir,
incitar uma encenação ou permitir uma entrega.
Para nos situar melhor nesse tema, vamos primeiro
compreender porque o documentário é concebido como o cinema
do encontro e quais as percepções sobre o papel do cineasta
nessa relação. Na sequência, resgatamos um breve panorama do
documentário brasileiro, destacando algumas tendências no modo de
relacionamento entre cineasta e sujeito filmado, e, por fim, levantamos
algumas proposições a respeito da relação entre as formas de encontro
e o lugar ocupado pelo espectador.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
370
filme sobre pessoas em situação de rua, por exemplo. Por mais que os
personagens possam estar previamente selecionados e que a equipe
de filmagem já os tenha contatado, a obra só acontece efetivamente
quando o cineasta se coloca diante dessas pessoas para ouvir suas
histórias, seja permitindo um discurso mais livre ou interpelando-as
com perguntas para suscitar as respostas que ele espera - mas que
não necessariamente virão da forma como se planejou. Nesse outro
exemplo, há também um fator de inesperado. Por mais que se busque
roteirizar um documentário, determinando exatamente o que será
captado, o encontro carrega a potência de trazer consigo surpresas
que só se revelam quando a câmera está ligada. E para lidar com esse
encontro, é preciso lançar mão de uma série de operações, a maioria
delas sob controle do realizador e sua equipe.
Durante uma palestra proferida nas Conferências Internacionais
de Documentário É Tudo Verdade, o cineasta Eduardo Coutinho
defendeu que o essencial do documentário ou acontece no encontro
ou não acontece, ou seja, o encontro é a premissa fundamental desse
gênero de cinema. Segundo o realizador, “o documentário é isso:
encontro do cineasta com o mundo, geralmente socialmente diferente
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
371
filmado. Não se trata, assim, de uma autocriação do outro, mas de um
novo modo de se relacionar com ele, de ampliar os espaços de fala,
trazendo para a tela a força do encontro.
Alguns teóricos e cineastas contemporâneos destacam o que
acreditam ser uma postura mais ética do documentarista nessa relação.
Comolli (2008) defende que se deve ter a consciência de que não se
filma impunemente. Há, portanto, que se pensar no jogo de forças
presente na cena e nas operações realizadas, buscando um modo de
fazer que dê espaço de fala e visibilidade aos sujeitos filmados, que
lhes permita não serem alvos da imagem, mas sim quem pode ajudar
a produzi-la. Para Coutinho, o documentarista precisa livrar-se de si
para entender e acolher as demandas do outro (COUTINHO; XAVIER;
FURTADO, 2005).
Todavia, como o próprio cineasta brasileiro destaca, não é
possível esvaziar-se por completo das ideologias e do próprio passado.
Na verdade, o fundamental é que haja uma disposição para estar livre de
si ou, ao menos, uma percepção de que é preciso buscar formas de não
deixar que as preconceções e estereótipos sobre determinado sujeito
ou situação dominem as operações na filmagem. Coutinho justifica que
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
372
uma consciência da imagem de si e dessa consciência é que vem uma
armadilha para o documentarista: os sujeitos filmados tendem a fazer
o papel que se imagina que o cineasta e o diretor desejam. E isso, ao
seu ver, remete a um trabalho difícil do documentário, que é “[...] lidar
diariamente com o mundo dos clichês veiculados e disseminados pela
cultura do espetáculo e incorporados, conscientemente ou não, às
relações sociais cotidianas” (FRANÇA, 2010, p. 87).
Daí a ideia de um documentarista que chegue ao encontro o
mais livre possível de pré-julgamentos, demonstrando ser alguém que
está ali para atender aos interesses dos sujeitos filmados, buscando
modos de deixá-los à vontade para discursar e, sobretudo, apto a
uma “escuta sensível”, como diria Coutinho (1997). E o que vamos
perceber ao longo da trajetória do documentário nacional é que há
uma tendência para a busca desse tipo de escuta ou, ao menos, uma
tentativa de conferir mais liberdade e autonomia ao sujeito filmado,
permitindo que ele seja parte ativa da construção fílmica. É o que
veremos no tópico a seguir.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
373
De acordo com Ramos (2004), esse início da produção
documentária no Brasil e em todo o mundo foi influenciado pela tradição
não-ficcional inaugurada em 1930 por John Grierson, permanecendo
dominante no país até a década de 1960. “Utilização de intensa voz
over expositiva, encenação e um namoro sem má-consciência com a
propaganda marcam esta definição do documentário” (RAMOS, 2004,
p. 81). Nesse sentido, tomando a questão do encontro como mote
central de nossa discussão, nessa fase o que se tinha era um encontro
do cineasta com a realidade filmada ou sujeitos que servia basicamente
como elemento para a construção do filme, geralmente já programado
e com seus objetivos bem delineados. O que acontecia no encontro não
alterava significativamente o curso das filmagens, dado que tudo era
arranjado de modo a atender a um escopo previamente definido.
Pode-se dizer que a década de 1960 representou um salto
importante na produção documentária nacional, quando novos
procedimentos estilísticos surgiram, possibilitados pela chegada de
tecnologias, como as câmeras mais leves, ágeis e o gravador de voz
Nagra. De acordo com Ramos (2004), essa nova fase do documentário
brasileiro é marcada por planos longos e imagens tremidas com a
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
374
Para Lins e Mesquita (2008), as produções dos anos 1960
marcaram o primeiro momento do documentário social crítico e
independente no Brasil, que buscava tratar, pela primeira vez de forma
crítica, os problemas e experiências das classes populares. O “dar voz
ao povo” era um elemento presente, contudo, não era o elemento
central do documentário. Apesar de a entrevista estar presente, a voz
over explicativa ainda era utilizada. O documentarista seria a voz do
saber, ao passo que o entrevistado era a voz da experiência.
Essa mistura entre entrevista e narração configurou, na visão
de Lins e Mesquita (2008) uma forma bastante híbrida, que buscava
interpretar situações sociais complexas e trabalhar a montagem de
modo retórico. O que se tinha eram cineastas filmando indivíduos que
pertenciam a segmentos sociais distintos dos seus, como se tentasse
descrever “tipos sociais”, daí a associação de Bernadet ao trabalho
sociológico [3]. Como exemplos dessa fase, Lins e Mesquita (2008) citam
as obras Viramundo (1965), de Geraldo Sarno, Opinião pública (1966), de
Arnaldo Jabor e Maioria absoluta (1964-66), de Leon Hirszman.
Já na década de 1970 surgiram produções que buscavam dar
respostas aos limites da tendência sociológica, curtas que promoviam
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
375
Mesquita (2008, p. 24), nos filmes de Omar e em seu texto-manifesto
“O antidocumentário-provisoriamente”, o cineasta:
376
nesta segunda fase, a postura do documentarista é de disponibilidade
e abertura para o encontro e ainda: “Coutinho aposta no processo de
filmagem como aquele que produz acontecimentos e personagens;
aposta no encontro entre quem filma e quem é filmado como essencial
para tornar o documentário possível”.
Essa inovação no modo de fazer em Cabra acaba por fomentar
a potência do encontro no documentário e mais do que isso: a
força do inesperado na cena. Quando se dá uma abertura maior aos
personagens, apostando na força das relações no momento da tomada,
acaba-se por investir em algo que não se sabe exatamente o que virá,
mas que dá mais densidade à construção da realidade, ao novo olhar
que se propõe.
Já nos anos 1980 e 1990, o documentário brasileiro afasta-se
ainda mais da antiga tradução educativa ou sociológica para assumir
uma outra tendência: “[...] a conquista da palavra, o direito à palavra,
dar a palavra ao povo” (SENRA, 2010, p. 113). Nessa fase, a entrevista é
privilegiada, o diálogo com o personagem passa ocupar o lugar dos
recursos narrativos e retóricos, e da voz over que acaba por guiar a
interpretação do espectador (LINS; MESQUITA, 2008). Assim, a obra
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
377
de incentivo ao cinema na década de 1990, houve a retomada do cinema
brasileiro, que ganhou ainda mais força com a chegada das tecnologias
digitais, as quais possibilitaram a realização de filmagens a custos mais
baixos (LINS; MESQUITA, 2008). Para Senra (2010), os anos 1990 marcaram
a década de florescimento do documentário, com a “fórmula” de imagens
enfileiradas entremeadas por entrevista. Tudo isso exerceu uma influência
para que se pensassem em novos modos de fazer cinema documentário
no Brasil.
Outro ponto que merece ser mencionado é o fato de um
número significativo de produções dos anos 1990 dar preferência a
temáticas ligadas à população pobre e marginalizada. De acordo com
Lins e Mesquita (2008, p. 44),
378
vida na cadeia; Justiça (2004), de Maria Augusta Ramos, que acompanha
a rotina do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, com seus
réus e familiares – oriundos de classes mais baixas; O cárcere e a rua
(2005), de Liliana Sulzbach, que acompanha três mulheres presas na
Penitenciária Madre Pelletier, de Porto Alegre; Estamira (2005), de
Marcos Prado, cuja personagem central e que dá nome à obra é uma
mulher de 63 anos portadora de distúrbios mentais que vive e trabalha
no Aterro Jardim Gramacho; Falcão, meninos do tráfico (2006), de MV
Bill e Celso Athayde, que trata da vida de crianças e adolescentes
envolvidos no tráfico de drogas, residentes em favelas e comunidades
de diversos estados e regiões do país, dentre tantos outros.
Alguns desses exemplos citados nos revelam algo mais:
além da busca pela tematização do popular, de grupos geralmente
esquecidos pela grande mídia, muitos documentários deram enfoque
à questão da violência. Ramos (2008, p.217), ao resgatar a trajetória dos
documentários que tematizam o “popular”, observa uma transição,
dos anos 1960, passando pelos anos 1970, 1980, 1990 e até 2000, de
uma construção negativa como alienação, seguida de uma elegia de
suas culturas, especificidades e costumes, e terminando com uma “[...]
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
379
desses filmes, de certo modo, responsabilizam o espectador – o “outro
de classe” (a classe média) pelas situações mostradas.
Segundo Ramos (2008, p. 215), a imagem do popular
criminalizado de alguns documentários desse período expõe um
“naturalismo cruel”,
380
filmado e o retraimento daquele que enuncia, o cineasta. O foco da
câmera de Coutinho nessas obras não seria revelar o horror, mas
extrair os meandros das personalidades de cada personagem, a
riqueza que reside em sua natureza humana, suas histórias de vida e
suas singularidades.
Não é por acaso que Cabra marcado para morrer (1964/1984)
foi considerado um divisor de águas na trajetória do documentário.
A forma de se relacionar com os personagens e de permitir que eles
revelem a sua automise-en-scène, assim como o modo como concebe
o encontro enquanto um catalisador de reações e emoções potenciais
faz de Coutinho um cineasta que merece destaque especial no cinema
documentário brasileiro. Para Bezerra (2014), de Santo Forte (1999)
em diante, Coutinho cria uma forma própria de fazer documentário,
cuja finalidade é suscitar um acontecimento fílmico que estimule
a transformação criativa de pessoas comuns em personagens
expressivos, o que classifica como “documentário de personagem”. O
teórico acrescenta que, nas obras de Coutinho, o que se espera é que
os sujeitos filmados “[...] não se prendam aos clichês de sua condição
social, não sigam um roteiro prévio, mas inventem para um para si,
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
381
o que é gravado nada mais é do que o resultado de uma relação entre
cineasta e personagem.
De acordo com Senra (2010, p.113), o que vimos acontecer
nas últimas três décadas do documentário brasileiro foi uma
“virada subjetiva”, termo cunhado por Beatriz Sarlo e definido
como a reconstrução da “tessitura da vida”, “[...] a verdade contida na
rememoração da experiência, a promover tanto a valorização da primeira
pessoa como ponto de vista, quanto a reivindicação de uma dimensão
subjetiva”. Seria, portanto, o renascimento do sujeito que não teve espaço
de expressão autêntica nos anos 1960 ou 1970, a devolução da palavra ao
autor de sua própria história.
O documentário contemporâneo brasileiro vem exatamente
reforçando a sua dimensão subjetiva através de uma série de
procedimentos e operações, muitas vezes com hibridismos,
interceptando a ficção, mas em nome de uma atualização estética e
política. Lins e Mesquita (2008, p. 13) definem o documentário atual
como “[...] o lugar da produção de imagens ‘menores’, da realização
de auto representações, da afirmação da diversidade de experiências,
identidades e linguagens”. Vale acrescentar que os últimos anos
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
382
de modo a complexificar um fato ocorrido ou um problema social;
abordagem de experiências individuais – recusa à generalização; foco
na experiência pessoal e na subjetividade dos próprios realizadores [4];
o “ensaio fílmico”; criação de dispositivos [5] de filmagem; temas que
surgem do insignificante para suscitar uma experiência; hibridismos
com a ficção e experimentalismos.
O ponto forte de uma boa parte das produções é o investimento
na subjetividade, o que representa uma mudança na própria
relação com o espectador, que antes se ancorava na objetividade,
nas narrações que se diziam “imparciais” para tomar o que lhe era
oferecido com uma verdade. Agora, a crença no documentário acaba
também sendo desafiada – o espectador é levado a duvidar do que
vê, a questionar se se trata de um retrato da realidade ou de uma
encenação. Mais importante nisso é a tentativa de desvincular o olhar
do espectador da narrativa em si e levá-lo a experimentar a construção
fílmica, a ser afetado pelas relações que se estabelecem na cena. É o
que acontece, por exemplo, com o documentário Santiago (2007). O
que, a princípio, seria um filme para contar a história daquele que foi
mordomo da família do cineasta acabou se tornando uma obra que
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
ESPECTADOR EMANCIPADO
383
artista e espectador, na visão do teórico. Ainda segundo o Rancière
(2012,p.17), o espectador emancipado “[...] observa, seleciona, compara,
interpreta. Relaciona o que vê com muitas outras coisas que viu em
outras cenas, em outros tipos de lugares. [...] Participa da performance
refazendo-a à sua maneira [...]”.
Quando o filósofo fala em observação, seleção, comparação
e interpretação por parte do espectador, ele reconhece essa
possibilidade de uma atuação mais ativa, a qual, ao seu ver, guarda em
si uma potência política. Para ele, o espectador passa a ver, a sentir e
a compreender alguma coisa “[...] à medida que compõe o seu próprio
poema” (RANCIÈRE, 2012, p. 18). Isso significa que a formação do olhar
do espectador, despertando-o para um posicionamento crítico e
político começa quando o mesmo tem uma certa autonomia para fazer
as suas próprias asserções na obra.
Ainda segundo o filósofo francês, a emancipação está na busca
do fim do abismo entre os espectadores, tidos como passivos, e os
autores, ativos. Para ele, o poder dos espectadores não é resultado
de sua qualidade de membros de um corpo coletivo, mas sim da
capacidade que cada um tem de traduzir do seu modo aquilo que
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
384
proposta por Rancière (2012) teria uma ligação ao que Comolli (2008)
defende como o estágio “maior” do espectador.
O crítico francês fala, ainda, do que ele chama de “bom lugar”
e “mau lugar” do espectador, sendo o primeiro aquele em que há a
satisfação dos desejos e a crença e o segundo o que brinca com os
medos, que faz o espectador passar de um lugar de conforto a uma
posição de perigo, transitando para um engajamento mais ativo
na obra. É ocupando o “mau” lugar que o espectador seria levado a
uma transformação crítica. Comolli (2008) acrescenta que ao brincar
com os desejos do espectador, o cinema seria capaz de acessar o seu
mundo interior, ou seja, o mesmo seria capaz de olhar para si mesmo,
percebendo de onde vê e como vê o filme.
Isso posto, e fazendo alusão ao encontro no documentário,
percebemos que a forma como cineasta se relaciona com o sujeito
filmado impacta não apenas na elaboração final do filme como
também no espaço ocupado pelo espectador. As operações e condutas
dos documentarista, sejam elas relacionadas ao momento em que ele
se encontra com o outro, ou no momento em que organiza as cenas na
montagem, podem abrir ou fechar o espaço de participação do terceiro
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
385
posição do espectador como aquele que crê em tudo que lhe é oferecido
para experimentar a crítica, a dúvida, a comparação e a reflexão.
Tal afirmação se mostra pertinente quando pensamos que tudo
o que foge dos padrões midiáticos tradicionais, os quais contribuem
fortemente para a formação do olhar do espectador, acaba por tirá-
lo de sua zona de conforto. Se o sujeito filmado tem liberdade para
discursar, fugindo de um roteiro pré-determinado, existe aí a potência
que ele revele algo de si e de sua realidade que o espectador desconhece
e que pode minar estereótipos e estigmas. Quando o espectador já não
sabe mais se o que vê é realidade ou ficção, ele tende a experimentar
um lugar de conflito, mas que o incita a pensar sobre a sua realidade.
Assim também acontece com outros mecanismos acionados pelo
cineasta que mostram que nem ele tem controle sobre o que registra,
deixando que o real fale mais alto e penetre a consciência daquele que
assiste ao filme.
386
direcionar o discurso daquele que fala diante da câmera, permitindo
a intromissão do real, a ocorrência do acaso e do risco (COMOLLI,
2008), há uma possibilidade maior de que, mesmo em um encontro em
que há o diálogo entre cineasta e sujeito filmado, o espectador possa
contar com um possibilidade de participação maior. Poderíamos dizer
que quanto menor é a intervenção do cineasta na conversa, maior é o
espaço de asserções por aquele que assiste ao filme, pois os sentidos
não foram monopolizados nas mãos de um único indivíduo, mas se
multiplicaram no momento em que o encontro foi se desenhando,
com a distribuição de forças entre um lado e outro e a abertura para
que cada um inscreva a sua subjetividade e conduza o seu discurso da
forma como entende ser a mais apropriada para revelar sua verdade.
Obras como Cabra marcado para morrer (1964/1984) apresentam,
por exemplo, um “outro rosto” do sujeito filmado, o que, por si só, já é um
mecanismo de quebra de expectativas e de deslocamento do espectador,
antes acostumado com uma visão formatada – e estereotipada – daquele
grupo de personagens que o filme dá a voz. E isso, mais uma vez, nos dá
a ver a emancipação, na medida em que Rancière (2012, p. 17) a concebe
como “[...] a oposição entre o olhar e o agir, quando se compreende que
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
387
realmente ocorreram ao acaso? Muitas vezes, ao assistir a um
documentário atual, o espectador não consegue ter as respostas para
todos esses questionamentos, porque o objetivo do próprio cineasta não
é entregar algo que ele pensou anteriormente, mas compartilhar uma
construção que começou a existir no momento em que ele ligou a câmera
e que continua reverberando naquele que assiste ao produto final.
Daí a ideia de que o encontro pode sim mudar tudo. Basta que
o documentarista esteja disposto a incluir o espectador na construção
fílmica desde o momento em que decide gravar, optando não por
operações que fecham os sentidos, como a voz off ou a entrevista
direcionada, mas por estratégias que os abrem, os multiplicam e
mesmo os indefinem. Tarefa difícil, mas que já vem se mostrando
eficaz a cada nova experiência, investimento criativo e estético que
desorienta o espectador e ao mesmo tempo o engaja no filme de uma
forma muito mais intensa, pois, segundo Comolli (2008, p. 46), “[...] é
estando cego que se começa a ver, estando perdido que se começa a
compreender, estando apavorado que se começa a sentir”.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
388
NOTAS
[1] RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal...O que é mesmo documentário? São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2008.
[3] Lins e Mesquita (2008) fazem uma ressalva importante: nem todos os
documentários brasileiros da década de 1960 “[...] conjugavam nos mesmos termos as
características do ‘filme sociológico’, interpretativo, com pretensões generalizantes”.
Assim, nossa exposição não tem como objetivo fixar tais características a todas as
obras do período, mas apontar uma tendência marcante na época
[5] Na obra Ensaios no real: o documentário brasileiro hoje, Mesquita (2010, p.205)
define o dispositivo “[...] como lugar da criação, pelo realizador, de um artifício ou
protocolo produtor de situações a serem filmadas – o que nega a ideia de que um
filme pode apreender a essência de uma temática ou representar em sua totalidade
uma realidade preexistente. Teríamos, nos filmes ‘de dispositivo’, como escreveu
Consuelo Lins, a criação de uma ‘maquinação’, de uma lógica, de um pensamento, que
institui condições, regras, limites para que o filme aconteça; e de uma ‘maquinaria’
que produz concretamente a obra”. Como exemplo de “filme dispositivo” podemos
389
citar Rua de Mão Dupla (2002), de Cao Guimarães, cuja regra inicial para que as
gravações acontecessem era que as seis pessoas convidadas pelo cineasta trocassem
de casa por 24 horas e fizessem registros da casa alheia, tentando decifrar como
seriam seu(s) dono(s) a partir das impressões que o local e os objetos pessoais lhes
passaram. Nesse sentido, o dispositivo ocasiona o surgimento de situações que só
existem com a filmagem, como se a história começasse com o próprio filme.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
390
REFERÊNCIAS
______.; XAVIER, Ismail; FURTADO, Jorge. O sujeito (extra) ordinário. In: MOURÃO,
Maria Dora; LABAKI, Amir (Orgs.). O cinema do real. São Paulo: Cosac Naify, 2005,
p. 96-141.
DI TELLA, Andrés. O documentário e eu. In: MOURÃO, Maria Dora; LABAKI, Amir
(Orgs.). O cinema do real. São Paulo: Cosac Naify, 2005. p. 68-81.
RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal...O que é mesmo documentário? São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2008.
ANÁLISE CRÍTICA E PRODUÇÃO CRIATIVA DE MÍDIA
391
A
AUTORES
ALISSON THIAGO DO NASCIMENTO
Mestre em Ensino de Ciência e Tecnologia pela Universidade
Tecnologia Federal do Paraná (UTFPR) - Programa de Pós-Graduação
em Ensino de Ciência e Tecnologia (PPGECT). Licenciado em Artes
Visuais pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Integrante
do Laboratório e Núcleo de Estudos e Pesquisas em Mídia-Educação
– LUME/UEPG. Têm trabalhos nas áreas Arte Digital, Histórias em
Quadrinhos, Ilustração, Desenho, Design Editorial e Fotografia. Autor
e ilustrador do livro "Cadê meu instrumento".
E-mail: ali14alis@hotmail.com
DAIANA SIGILIANO
Doutoranda e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de
Juiz de Fora. Membro do grupo do Grupo de Pesquisa em Comunicação,
Arte e Literacia Midiática da Universidade Federal de Juiz de Fora e do
Grupo de Pesquisa em Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva
da Universidade Federal do Amapá. Pesquisadora do Observatório da
Qualidade no Audiovisual e Rede brasileira de pesquisadores de ficção
televisiva (Obitel).
AUTORES
E-mail: daianasigiliano@gmail.com
393
DANIELA SANTANA DE OLIVEIRA
Graduada em Letras pela Universidade Federal de Viçosa e Mestre
em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Integrou
o projeto TIM ArtEducação atuando como monitora de Artes
Digitais e posteriormente integrou o Observatório da Qualidade do
Audiovisual, onde pesquisou sobre qualidade audiovisual e literacia
midiática audiovisual através de oficinas de audiovisual para o público
infantojuvenil.
E-mail: danisantolive@gmail.com
GABRIELA BORGES
Graduada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal
de Minas Gerais (1993), mestre (1997) e doutora em Comunicação e
Semiótica (2004) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Realizou estágios de pesquisa na Universidade Autónoma de Barcelona
(1996) e na University of Dublin Trinity College (2000-2002). Realizou
pós-doutoramento sobre a televisão pública de qualidade no CIAC da
Universidade do Algarve em Portugal (2005-2008), onde atuou como
pesquisadora e professora do Mestrado e Doutorado em Comunicação
Cultura e Artes (2005-2012) e ainda colabora com o Doutorado em
Media Arte Digital (2012-). Em 2019-2020 realiza pesquisa de pós-
doutorado sobre ficção seriada e literacia midiática no CIAC e na
Universidade de Huelva, Espanha. Atualmente é professora adjunta
na Universidade Federal de Juiz de Fora e atua como professora
permanente do PPGCOM, do qual foi coordenadora (2016-2019).
Participa da Red Interuniversitaria Euroamericana de Investigación
en Competencias Mediáticas para la Ciudadanía – ALFAMED, sendo
coordenadora da equipe brasileira composta por UFSC, UEPG, UNB,
UFTM e UNISO. Publicou os livros Qualidade na TV pública portuguesa.
Análise dos programas do Canal 2: (2014), A poética televisual de
Samuel Beckett (2009), organizou a coletânea Nas margens. Ensaios
AUTORES
394
audiovisuais de ficção e de documentário Vol I (2011) e Vol II (2012) e
Discursos e Práticas de Qualidade na TV (2008).
E-mail: gabriela.borges@ufjf.edu.br
HYRLLA TOMÉ
Possui formação em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e, atualmente, é
Mestranda em Comunicação pela UFJF, na linha de Competências
Midiáticas, Estética e Temporalidade. Pesquisadora do Observatório
da Qualidade no Audiovisual. Desenvolve pesquisas voltadas para a
relação do público infantil e mídias digitais e produção de conteúdo no
YouTube, além de atuar no mercado enquanto analista de estratégias
em Marketing Digital.
E-mail: hyrlla.thome@gmail.com
AUTORES
395
JOSE IGNACIO AGUADED GOMEZ
Doutor em psicopedagogia pela Universidade de Huelva. É professor
na Universidade de Educação e Comunicação e na Universidade
de Huelva. É presidente fundador do grupo Comunicar e editor-
chefe da Revista Científica de Educomunicação (Comunicar). Ocupa
o cargo de Diretor do Mestrado Internacional de Comunicação e
Educação Audiovisual da Universidade Internacional de Andalucía
em parceria com a Universidade de Huelva e Diretor do programa
de Doutorado Interuniversitário de Comunicação (Universidade de
Sevilha, Universidade de Málaga, Universidade de Cadiz, Universidade
de Huelva). Trabalha questões referentes, principalmente, à
educomunicação.
Email: director@grupocomunicar.com
396
culturais, na programação e mediação de cineclubes, mostras e
festivais de cinema, especialmente voltados para a infância, educação
e direitos humanos. Também desenvolve oficinas isoladas e projetos
de formação de professores para o trabalho com cinema na escola.
E-mail: karinejoulie@gmail.com
E-mail: lidiamirandacoutinho@gmail.com
397
LYANA THÉDIGA DE MIRANDA
Doutora em Educação (PPGE/UFSC). Jornalista e publicitária. Professora
do Instituto Federal de Brasília (IFB) onde atua no curso Técnico
de Produção de Áudio e Vídeo, nas modalidades Técnico Integrado
ao Ensino Médio, Técnico Subsequente e Proeja. É pesquisadora do
Núcleo infância, Comunicação, Cultura e Arte (NICA/UFSC/CNPq),
do Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva (LaboMídia/UFSC/
CNPq) e do Grupo de Pesquisa em Formação Docente e Tecnologias
(ForTec/PUC-Rio/CNPq). Pesquisa temas ligados à Mídia-Educação,
com ênfase em: Metodologias ativas, Integração das TIC no ambiente
escolar, Cultura audiovisual, Competências digitais e midiáticas,
Crianças e tecnologias digitais móveis, Formação de Professores.
E-mail: lyanathediga@gmail.com
398
MARCUS VENICIUS BRANCO DE SOUZA
Engenheiro de Produção, Especialista em Tecnologia da Informação
com ênfase em Gestão de Sistemas de Informação - UNISO, Mestre
pela PUC-Campinas - Centro de Ciências Exatas Ambientais e
Tecnologia, em Informática ênfase em Gerenciamento de Sistemas de
Informação, Doutorando em Educação - UNISO - Linha de Pesquisa
- Educação Superior (Educação e Tecnologia). Professor Associado II
da Fatec - Itapetininga, concursado. Foi Coordenador do Curso de
Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Atualmente é Presidente da
CPA, Procurador Institucional, Fatec - Itapetininga/Centro Estadual
de Educação Tecnológica Paula Souza(CEETEPS). Foi Coordenador
dos Cursos Superiores de Tecnologia, foi Procurador Institucional das
Faculdades Integradas de Itapetininga. É Avaliador ad hoc Institucional
e de Cursos MEC/INEP/DAES. Coordena a "scientific initiation at
graduation from FATEC at the CONTECSI FEA/USP", atua como Mentor
na FATORSYN (www.fatorsyn.com.br), é consultor de várias empresas
da região, especialista em Gestão da Tecnologia da Informação.
E-mail: mvsmarcus@gmail.com
399
Interuniversitaria Euroamericana de Investigacion en Competencias
Mediáticas para la Ciudadanía – ALFAMED. Suas pesquisas tratam
sobre formação de professores, avaliação da aprendizagem, fraude
acadêmica e ética.
E-mail: alzira.pimenta@gmail.com
MARIANA MEYER
Graduada em Jornalismo na Faculdade de Comunicação da
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), possui experiência em
redação jornalística e redação para a web. Atuou na produção de
conteúdo da Revista A3 de divulgação científica da UFJF em 2019.
Foi bolsista de iniciação científica da Fapemig e da UFJF atuando
no Observatório da Qualidade no Audiovisual entre 2017 e 2019 nos
projetos “A qualidade na ficção seriada brasileira: análise de séries com
formato episódico”, “Competências midiáticas em cenários brasileiros
e euroamericanos” e “Criação de podcasts: Observatório da Qualidade
no Audiovisual”. Possui publicações nas áreas de qualidade na ficção
seriada brasileira, competência midiática, complexidade narrativa,
composição imagética e reassistibilidade.
E-mail: marianaagmeyer@gmail.com
400
metragem como Desassombro e o longa metragem A cidade e as Flores.
É membro do Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPQ, Formação de
Professores, Cultura digital e Aprendizagem.
E-mail: marioassuncao@iftm.edu.br
401
desenvolvido o seu trabalho de investigação e de produção teórica
nas áreas das estéticas fílmica e artística. Como professora da
Universidade do Algarve, participou na elaboração do projeto de
licenciatura em Artes Visuais, do mestrado e doutoramento em
Comunicação, Cultura e Artes e do doutoramento em Média-Arte
Digital. Atualmente é coordenadora do CIAC (Centro de Investigação
em Artes e Comunicação) e vice-coordenadora do doutoramento em
Média-Arte Digital.
E-mail: miriantavar@gmail.com
MÔNICA FANTIN
Doutora em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) com Estágio no Exterior, na Università Cattolica del Sacro
Cuore (UCSC), Milão, Itália. Realizou Pós-Doutorado em Estética no
Departamento de Filosofia da UCSC. Professora Associada do Centro de
Educação da UFSC, atua no Curso de Pedagogia e no Programa de Pós-
Graduação em Educação, Linha de Pesquisa Educação e Comunicação.
Líder do Grupo de Pesquisa Núcleo Infância, Comunicação, Cultura e
Arte, UFSC/CNPq, tem experiência na área de educação, com ênfase
no campo da infância, cultura lúdica, mídia-educação, formação de
professores. No âmbito das atividades acadêmicas articula ensino,
pesquisa e extensão a partir dos temas: mídia-educação, cultura
digital na escola, infância, cinema e mediações culturais, processos de
ensino-aprendizagem e dimensão estética na formação. Desenvolve
atividades em parceria com o Centro di Ricerca sull'Educazione ai
Media e all'Informazione (CREMIT) e participa da Red Interuniversitaria
Euroamericana de Investigacion en Competencias Mediáticas para la
Ciudadanía – ALFAMED.
E-mail: fantin.monica@gmail.com
402
Educação e Comunicação e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-
graduação em Educação na Universidade do Estado de Santa Catarina
(PPGE/UDESC) e Licenciada em Pedagogia, com habilitação em Anos
Iniciais (UDESC). Atua como Coordenadora do Curso de Pedagogia e
Coordenadora Pedagógica na Faculdade Cesusc, Florianópolis. Possui
interesse e estudos nas áreas de alfabetização e letramento, formação de
professores e em Tecnologias Digitais e suas interfaces com a educação. É
integrante do Grupo de Pesquisa NICA - Núcleo Infância, Comunicação,
Cultura e Arte, sediado no Centro de Ciências em Educação da UFSC.
E-mail silvianeavila@gmail.com
403
TÁGIDES RENATA DE MELLO KAAM
Possui mestrado em Educação pela Universidade de Sorocaba- UNISO,
onde cursa o doutorado na mesma área. Licenciada em Pedagogia
pelo Centro Universitário de São Roque, possui Especialização em
Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Nove de Julho.
É professora efetiva do Centro Universitário de São Roque atuando nas
disciplinas: Didática e Metodologia de Matemática, História, Geografia
e Ciências; Estudos sobre a Infância e Linguagem e Aquisição da
Escrita. Coordenadora Pedagógica na escola Educare de São Roque.
Consultora Pedagógica na empresa Crê-Ser.
E-mail: prof.tagides@gmail.com
contemporânea.
E-mail: m.heitkoeter@gmail.com
404
VÂNIA LÚCIA QUINTÃO CARNEIRO
Doutora em Educação (Universidade de São Paulo). Pós-doutorado
em comunicação (Universidade de Sevilha). Especialista em gêneros
televisivos (Universidade Internacional de Andaluzia / UNIA), Mestra
em Tecnologia Educacional (Universidade Federal do Rio Grande
do Norte), Graduada em licenciatura em matemática (Universidade
Federal de Minas Gerais). Sua experiência profissional foi exercida
na Universidade de Brasília nas áreas de pesquisa e de produção
em Televisão e Educação. Publicou trabalhos publicados sobre
programação de TV e audiências infanto-juvenis, formação de
educadores em comunicação audiovisual, educação a distância,
TV na escola, mídias. Coordenou a área de Educação, Tecnologias
e Comunicação na Faculdade de Educação e foi líder do Grupo de
pesquisa Educamídia (UNB/CNPq). Foi coeditora internacional da
Revista Comunicar no Brasil. Pesquisadora da Red Interuniversitaria
Euroamericana de Investigacion en Competencias Mediáticas para la
Ciudadanía – ALFAMED.
VINÍCIUS GUIDA
Graduando do curso de Jornalismo da Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF). Pesquisador do Observatório da Qualidade no
Audiovisual e do grupo de pesquisa Comunicação, Arte e Literacia
Midiática da Faculdade de Comunicação da UFJF. Participou do projeto
Competências Midiáticas em Cenários Brasileiros e Euroamericanos
como bolsista de Iniciação Científica vinculado à Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
E-mail: vinicius_guida@outlook.com
AUTORES
405
Este livro apresenta os resultados do projeto de pesquisa Competências
midiáticas em cenários brasileiros e euroamericanos, desenvolvido pela
equipe brasileira da Rede Interinstitucional Euroamericana de Investigação sobre a
Competência Midiática (Alfamed), integrada pelos grupos de pesquisa Comunicação,
Arte e Literacia Midiática da UFJF; Lume (Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre
Mídia e Educação) da UEPG; NICA (Núcleo Infância Comunicação, Cultura e Arte)
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Formação de Professores, Cultura
Digital e Aprendizagem da UFTM, Educamídia da UNB e GPESTI (Educação Superior
Tecnologia e Inovação) da UNISO, com financiamento do CNPQ e da FAPEMIG.
A pesquisa teve como objetivo identificar os níveis de competência midiática
de crianças, jovens, universitários e profissionais de comunicação de diferentes
contextos socioculturais e elaborar ações de formação em mídia e educação para
futuros pedagogos e profissionais de comunicação.
ISBN 978-85-93128-45-5
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