Aluno(a): estilística. No primeiro caso, deixa-se de men- cionar termo que é facilmente subentendido: Turma: "Chegaste muito antes de a festa começar" - elipse do sujeito tu. "Gostaria que você me fi- FIGURAS DE LINGUAGEM zesse um favor" - elipse da preposição "de". A elipse estilística visa a tornar o enunciado 01º UNIDADE, GRAMÁTICA mais conciso ou rápido: "No mar, tanta tormen- ta e tanto dano" - elipse do verbo "haver" As figuras de linguagem são desvios em rela- (Camões). "Lutar com palavras/é a luta mais ção à norma. Enquanto a gramática disciplina o vã./Entanto lutamos/mal rompe a manhã" - elip- uso racional da lingua, e visa à clareza, as figu- se de parte da conjunção adversativa "no en- ras concorrem para aumentar a expressividade. tanto". Criam efeitos estéticos e emocionais. Seguem as mais comuns: 2 - Zeugma: elipse de verbo anteriormente mencionado: «O meu pai era paulista/Meu avô, pernambucano/O meu bisavô, mineiro/Meu ta- A - FIGURAS FÔNICAS OU SONORAS taravô, baiano" (Chico Buarque) - omissão de "era". Quando o verbo oculto está em flexão diferen- te, tem-se a zeugma complexa: "Luís é simpáti- 1 - Aliteração: repetição de sons consonantais co; seus (consoantes): "Vem vindo o violento vento/zu- primos, antipáticos" - seus primos são antipáti- nindo, ziguezagueia/ frio, frígido, friorento/que- cos. bra o vidro da vidraça/geme, gargalha gol- peia." (Mauro Mota). 3 - Assíndeto: elipse de conjunções coordena- tivas: Entrei, falei, saí. - "Rezei o credo, segurei 2 - Assonância: repetição de sons vocálicos: a vela, fiz todos os gestos do ritual". "Trazendo no deserto das idéias/O desespero endêmico do inferno." (Augusto dos Anjos) - E 4 - Polissíndeto: repetição de conjunções co- bamboleando em ronda/dançam bandos ton- ordenativas: "E sob as ondas ritmadas/e sob as tos e bambos/de pirilampos." (Gulherme de Al- nuvens e os ventos /e sob as pontes e sob o meida). sarcasmo/e sob a gosma e o vômito (...)" - Car- los Drummond de Andrade. 3 - Onomatopeia: tentativa de reproduzir os sons dos objetos e movimentos do mundo real: 5 - Hipérbato: inversão da ordem direta dos "Sino de Belém, que graça ele tem!/Sino de Be- termos oracionais, ou das orações no período: lém bate bem-bem-bem." (Manuel Bandeira) - Dos meus problemas cuido eu. - Perde tempo "Vou danado pra Catende/Vou danado pra Ca- quem olha a vida dos outros. tende/Vou danado pra Catende/Com vontade de chegar." (Ascenso Ferreira, Trem de ferro). 6 - Anástrofe: tipo de hipérbato em que um de- terminante com preposição vem antes do seu 4 - Paranomásia: jogo estilístico feito com pa- determinado: Chegou do amor a primavera (em lavras parônimas, ou seja, que têm sons pareci- vez de "a primavera do amor"). - "Bem sei que dos: «Com tais premissas ele sem dúvida le- um dia o vendaval da sorte/ Do mar lançou-me va-nos às primícias". (Padre Antonio Vieira) - na gelada areia." (Castro Alves) - ordem direta: "Melancolias, mercadorias espreitam-me." "...na gelada areia do mar". (Drummond, A flor e a náusea). 7 - Hipálage: tipo de inversão em que um adje- tivo qualifica um termo mas aparece ligado a B - FIGURAS DE SINTAXE E outro, ganhando com isso um valor metafórico DE CONSTRUÇÃO ou simbólico. A retórica define essa figura como um deslocamento de atribuição: "Fiquei olhan- do o vôo branco das garças" (por "o vôo das 1 - Elipse: omissão de termo ou expressão fa- garças brancas). - "...as lojas loquazes dos barbeiros" (Eça de Queirós). 8 - Pleonasmo: repetição de uma idéia por e irmã!/ Vi o sorriso da morta,/ Vi o repouso e meio de palavras diferentes. O pleonasmo pode a beleza da morta!" (A. F. Schmidt). ser sintático ou semântico. O primeiro ocorre quando se repete, por meio de um pronome, 13 - Prolepse: antecipação enfática de termo um termo antecipado: "Aquela moça, nunca a vi ou expressão da frase: Joana creio que veio tão satisfeita." - "A mim, não me interessam tu- aqui hoje. as queixas". - "A Europa dizem que é tão bonita, e a Itália No pleonasmo semântico, não há repetição principalmente" (M. de Assis). da função sintática. A ênfase decorre essencial- mente do sentido das palavras. Inclui-se neste 14 - Silepse (concordância ideológica): é a con- tipo de pleonasmo o chamado objeto direto in- cordância não com o termo expresso, e sim terno. Exemplos: Vi com meus próprios com a idéia que se tem dele. Pode ser de gêne- olhos. - "E rir meu riso e derramar meu pran- ro, número ou pessoa. to/Ao seu pesar ou seu contentamento" (Vini- a) de gênero: "A gente sai cansado de um jo- cius de Moraes) - "meu riso" é um objeto direto go de futebol."; "Sua Excelência está interes- interno. sado em conhecer as obras do ginásio.". b) de número: "A boiada seguia vagarosamen- Um tipo importante de pleonasmo é o epíte- te e, em determinado momento, estouraram." - to de natureza. Por meio dele, destaca-se uma "A juventude é imprevisível. Por nada, fazem a qualidade natural, caracteristica, de certo obje- maior confusão.". to: "A noite escura/não quer que eu saia./Fe- c) de pessoa: Os brasileiros somos otimistas. chou-me a porta/e eu quero praia" (José Améri- - "Os portugueses sois ladrões" (Pe. Vieira). co de Almeida). - "O mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas de Portugal!" (Fernando Pessoa). C - FIGURAS DE PALAVRA
Obs.: Não se deve confundir o epíteto de natu-
reza, que tem valor estilístico, com a repetição 1 - Metáfora: mudança de sentido da palavra redundante e viciosa que denota ignorância devido a uma relação de semelhança entre os acerca do sentido das palavras: "O político fez seres ou objetos que ela designa: "Não sei co- uma breve alocução e saiu" (alocução já é "dis- mo você suporta essa cruz" ("cruz" designa o curso breve"). - Vou reiterar de novo meus ar- sofrimento de alguém por analogia com os pa- gumentos. decimentos de Cristo). - A Amazônia é o pul- mão do mundo. 9 - Anacoluto: quebra da construção lógica da frase. É uma espécie de pleonasmo sintático 2 - Metonímia: alargamento do sentido da pa- em que o termo antecipado, pela forma em que lavra por uma relação, não de semelhança, se apresenta, não pode desempenhar a mesma mas de proximidade (causalidade ou contigui- função do termo repetido: "Aquela moça, gosto dade): A juventude é impaciente (por "os jo- muito dela" (sem preposição, "aquela moça" vens") - "Todos temem a língua daquela mu- não pode ser objeto indireto). - "Quem ama o lher". No primeiro caso, usou-se o abstrato pelo feio, bonito lhe parece". concreto; no segundo, o instru-mento pela ação. 10 - Anáfora: é a repetição de termos no início de versos ou períodos: "Olha a voz que me res- 3 - Símbolo: associação convencional entre ta/Olha a veia que salta/Olha a gota que fal- um nome concreto e um abstrato: "Não cora o ta/Pro desfecho da festa..." (Chico Buarque). livro de ombrear co sabre,/Nem cora o sabre de chamá-lo irmão..." (Castro Alves). "Livro" e 11 - Epístrofe: é repetição de termos no final "sabre" são símbolos, respectivamente, do co- de versos ou fragmentos oracionais: "Trabalha nhecimento e da guerra. com medo, ama com medo, vive com medo". 4 - Catacrese: é a metáfora utilitária, sem 12 - Simploce: é a repetição de termos no iní- efeito expressivo: perna de mesa, boca da gar- cio e no fim de versos ou períodos: "Eu vi a rafa, etc. morta, Senhor!/ Vi a morta - minha filha, noiva A catacrese é um desvio de sentido que abu- sa da etimologia da palavra original: "A polícia O oposto do eufemismo é o disfemismo, que encurralou o bandido na sala". Etimologica- consiste em empregar palavra depreciativa ou mente, "encurralar" significa "prender em cur- chula em vez de palavra neutra: "A namorada ral". Por falta de termo adequado, foi usado de Armínio é um bofe (em vez de "é feia")". com referência a "sala". Outros exemplos: "Espalhou as sementes no 4 - Litote (ou lítotes): tipo de eufemismo em chão" ("espalhar" é "disseminar a palha"). "Os que se afirma uma coisa pela negação do atletas do vôlei embarcaram ontem no avião oposto: "O presidente não foi simpático às rumo à Grécia" ("embarcar" é "entrar em bar- idéias do grupo" (em vez de "hostilizou-as”) – co"). “Nicolau dos Santos Neto não era lá muito ho- nesto". 5 - Antonomásia: tipo de perífrase em que um nome de pessoa ou de lugar é substituído por 5 - Hipérbole: consiste no exagero da expres- um atributo que os caracteriza. Ex.: O Boca do são. É comum na linguagem dos apaixonados: Inferno foi o principal representante do nosso Ela é louca pelos filhos. - Se você me pedir, eu Barroco. - A falta de espigões na orla marítima lhe trago o sol. realça os encantos da Cidade das Acácias. 6 - Ironia ou antífrase: ocorre quando se afir- 6- Sinestesia: cruzamento de sensações (olfa- ma o oposto do que se quer dizer: Quanto aos to, visão, audição, gustação e tato): "Ouviu-se indicadores sociais, os brasileiros vivem no me- um grito fino de mulher" (cruzamento de audi- lhor dos mundos. - O ministro foi sutil como ção com tato). - "Rubros clarins anunciavam a um hipopótamo. manhã" (cruzamento de visão com audição). A ironia não se revela na cadeia da frase. Sua intenção é percebida pelo tom e pelo contras- te entre o discurso e a realidade. Por dizer o D - FIGURAS DE PENSAMENTO oposto do que as evidências mostram, ela não raro tem efeito cômico. 1 - Antítese: aproximação de termos ou frases 7 - Gradação: apresentação de idéias em pro- que se opõem quanto ao sentido. Ex: "Neste gressão ascendente (clímax) ou descendente momento todos os bares estão repletos de ho- (anticlímax): Passou de pobre a remediado, e mens vazios" (Vinicius de Moraes). de remediado a rico. - A platéia viu tudo: o vôo, a marcha, o arrastar-se do pássaro pela calça- 2 - Paradoxo (oximoro): é a reunião de idéias da. opostas num só juízo. Ex.: "Amor é (...) dor que desatina sem doer" (Camões). - Henrique 8 - Prosopopeia, personificação ou animiza- é um rico pobre. ção: consiste em se atribuir ações, pensamen- tos, sentimentos a objetos inanimados ou a se- 3 - Eufemismo: abrandamento da expressão, res irracionais: "Vai passar nesta avenida/ um para suavizar o efeito de uma idéia desagradá- samba popular./Cada paralelepípedo da vel: rua/esta noite vai se arrepiar..." (Chico Buar- "Depois de três anos juntos, ela o mandou pas- que). sear" (por "mandou-o embora").