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A linguagem literária

Função poética ou estética 

Todo texto literário deve se preocupar com a forma da mensagem. Por isso a
função poética ou estética da linguagem estará sempre em evidência na literatura.  

Linguagem conotativa 
A literatura também privilegia a linguagem conotativa (ou conotação), isto é, aquela
que sugere significados diferentes do habitual (denotação). Em um de seus poemas,
Carlos Drummond de Andrade propõe ao homem:  

'...Pôr o pé no chão do seu coração...' 

É evidente que toda a frase acima tem sentido conotativo. Pode-se interpretá-la
como: conhecer a si mesmo, tomar contato com o próprio ser. 

Linguagem plurissignificativa 
A língua literária muitas vezes seleciona elementos que podem oferecer
significações distintas, ou seja, que são plurissignificativos:  

'Ela a caminhar na sua vida, eu na minha


espiando.'
(Raul Pompéia) 

Linguagem original 

' Para criar sua realidade, o autor freqüentemente


faz uso de combinações originais, até mesmo
estranhas ou de difícil interpretação: 
'Mas a girafa era uma virgem de tranças recém-
cortadas.'
(Clarice Lispector) 
' Outras vezes, cria novas palavras ou neologismos.
É o caso do poeta Carlos Drummond de Andrade,
no verso abaixo: 
'Chuvadeira maria, chuvadonha, chuvinhenta,
chuvil, pluvimedonha!' 

Recursos de expressão 
Existem vários recursos a que se pode recorrer para tornar um texto mais
expressivo. Entre eles, podemos reconhecer três tipos básicos:  

' Recursos semânticos – baseiam-se na significação das palavras


ou frases: 
'O amor é difícil mas pode luzir em qualquer ponto
da cidade.'
(Ferreira Gullar) 
' Recursos sonoros – apóiam-se no som:
'Meu coração tardou. Meu coração
Talvez se houvesse amor nunca tardasse;
Mas visto que, se o houve, o houve em vão [...]'
(Fernando Pessoa) 
' Recursos sintáticos – baseiam-se na construção
das frases:
'Ó dor! Ó dor! Ó dor! Cala,
ó Job, os teus ais,
Que os tem maiores este filho de seus pais!'
(Antônio Nobre) 

Figuras de linguagem 
Alguns dos recursos usados na língua literária recebem o nome de figuras de
linguagem (ou estilo). Elas são classificadas em: figuras de palavras, figuras de
pensamento e figuras de construção.  

Figuras de palavras 

Ocorrem sempre que uma palavra afasta-se do seu significado normal, adquirindo
outro (ou outros).
As mais freqüentes são:  

' Comparação – figura construída por meio de uma relação de


semelhança: 
'Há corações fechados que são como portas de que
se perde a chave.' (Raul Pompéia) 
' Metáfora – também se apóia numa relação de semelhança, mas
os termos da comparação estão ocultos: 
'Há corações-hotéis, onde todo mundo entra,
escandalosamente [...]' (Raul Pompéia) 
' Metonímia – figura que se constrói por meio de uma relação mais
objetiva que as anteriores, como a relação de causa ou
decorrência: 
'Que bem verdade é que doze anos de lágrimas
envelhecem a gente.' (Pedro Rabelo) 

Atenção: a metonímia que indica a substituição do todo pela parte ou da parte pelo
todo é chamada também de sinédoque:  

'[...] os olhos dela achavam sempre um par de


olhos que iam em sua procura.' (Pedro Rabelo) 
' Antonomásia – substituição de um nome próprio por um nome
comum, por um apelido ou por um título que tornou a pessoa
conhecida: 
O Mártir da Inconfidência (para Tiradentes). 
' Perífrase – rodeio de palavras, circunlóquio:
A mais antiga das profissões (para prostituição). 
' Sinestesia – figura que se baseia na soma de sensações
percebidas por diferentes órgãos dos sentidos:
'[...] e a ondulação sonora e táctil entrava pelos
meus ouvidos, pelas minhas mãos, enchendo
minha boca da água da antecipação do gosto.'
(Pedro Nava) 

 Figuras de pensamento
     São aquelas que se apóiam em idéias. As mais recorrentes são:  

' Antítese – confronto de duas idéias opostas: 


'No mais duro pau de espinho, nasce uma rosa
fragrante.'
(adágio popular gaúcho) 
' Paradoxo – expressão contraditória:
'Ia divina, num simples vestido roxo, que a vestia
como se a despisse.' (Raul Pompéia) 
' Eufemismo – expressão que atenua uma idéia, substituindo a
palavra ou expressão por outra mais agradável: 
'Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo desta vida [...]' (Camões) 
' Ironia – expressão que geralmente significa o contrário daquilo
que está sendo dito: 
Vinte reais? O que você vai fazer com essa
'fortuna'? 
' Personificação ou prosopopéia – é a atribuição de características
humanas a animais, plantas ou coisas: 
'A casa tinha-se espremido ali...'
(Carlos Drummond de Andrade) 
' Hipérbole – é uma figura baseada no exagero:
'Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca...' (Vinícius de Moraes) 
' Apóstrofe – é uma invocação, um chamado
emotivo: 
'Deuses impassíveis... Por que é que nos criastes?'
(Antero de Quental) 
' Gradação – é a disposição das idéias numa
ordem gradativa:
'Homens simples, fortes, bravos...
Hoje míseros escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...' (Castro Alves) 

Figuras de construção
Também chamadas de figuras de sintaxe, alteram a estrutura habitual da frase. As
principais são:  

' Elipse – é a omissão de um dos termos da frase. No exemplo


abaixo, omitiu-se o verbo: 
'Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a
vossa!'
(Cecília Meireles) 
' Polissíndeto – é a repetição de conectivos numa seqüência de
frases: 
'Há mil razões para isso; porque não é sua a terra;
porque se o 'tocarem' não ficará nada que a outrem
aproveite; porque para frutas há o mato; porque...'
(Monteiro Lobato) 
' Assíndeto – é a ausência de conectivos numa
seqüência de frases: 
'Destrançou os cabelos, soltou-os, trançou-os de
novo.'
(Pedro Rabelo) 

Desenho do poeta
Federico García Lorca,
feito para ilustrar o
programa de
apresentação de uma
peça de teatro.
' Anacoluto – é uma construção sintática
interrompida por outra, ou seja, é uma
desestruturação intencional da frase: 
'Eu, que era branca e linda, eis-
me medonha e feia.' (Manuel
Bandeira) 
' Pleonasmo – é a repetição de palavras
desnecessárias à compreensão, mas
importantes para a expressividade:
'As montanhas, vejo-as iluminadas,
ardendo no grande
sol amarelo.' (Vinícius de Moraes) 
' Hipérbato – é uma inversão dos termos da frase, uma alteração
na ordem direta:
'Já da morte o palor me cobre o rosto [...]'
(Álvares de Azevedo) 
' Silepse – é a concordância verbal ou nominal que se faz pela idéia
e não pela forma. A silepse pode ser de:

 • Gênero: São Paulo é linda à noite! 


 • Número: Aquele casal vai deixar saudade! Como eram unidos! 
 • Pessoa: Os brasileiros somos criativos. 
' Anáfora – é a repetição de um termo no início das
frases ou versos: 
'Tem mais samba no encontro que na espera
Tem mais samba a maldade que a ferida...'
(Chico Buarque de Holanda) 
' Aliteração – é a repetição de sons consonantais iguais
ou semelhantes:
'E as cantilenas de serenos sons amenos
Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos
fenos...' (Eugênio de Castro) 
' Assonância – é a repetição de sons vocálicos iguais ou
semelhantes: 
'Até amanhã, sou Anna
Da cama, da cana, fulana, sacana...'
(Chico Buarque de Holanda) 
' Onomatopéia – é uma construção cujo som se assemelha ao que
se quer representar: 
'Pedro Pedreiro penseiro esperando o trem
Que já vem, que já vem, que já vem...'
(Chico Buarque de Holanda) 
' Paronomásia – é o encontro de duas palavras muito semelhantes
quanto à forma: 
'Ser capaz, como um rio, [...] de lavar do límpido a
mágoa da mancha...' (Thiago de Mello) 

Atenção: a aliteração, a assonância, a onomatopéia e a paronomásia também são


chamadas de figuras de som. 

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