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CONOTAÇÃO, DENOTAÇÃO

E FIGURAS DE LINGUAGEM
A língua portuguesa é muito rica: suas palavras podem ser combinadas de formas
muito criativas, e também podem ser usadas de maneira a significar algo diferente do
sentido indicado pelo dicionário. As palavras podem ser usadas no sentido conotativo
ou denotativo, e também podem ser empregadas em figuras de linguagem.

CONOTAÇÃO E DENOTAÇÃO
O gênero lírico é quase sempre escrito em primeira pessoa e a forma associada a este
gênero é o poema, que comumente pode ser dividido em versos - cada linha do poema
- e estrofes - conjunto de versos. O gênero lírico é marcado pela subjetividade - em
contraste com a objetividade dos textos informativos e do gênero épico ou narrativo - e
apresenta as diversas emoções do eu-lírico.

GÊNERO ÉPICO OU NARRATIVO


Denotação é o uso das palavras no sentido comum delas, ou seja, elas têm no texto o
mesmo significado que têm no dicionário - estão no sentido literal. Já a conotação é o
uso das palavras em sentido distinto do sentido comum - o sentido delas, nestes casos,
é figurado. Observe:

Segundo dados meteorológicos, vai chover acima do esperado no carnaval carioca.

Falar como o smartphone mudou o mundo é chover no molhado. - Significa que é algo
inútil.

FIGURAS DE LINGUAGEM
Figuras de Palavras ou Semânticas
Comparação

Aproximação entre elementos por afinidade, sempre feita com o conectivo “como” ou
outra demonstração explícita de comparação:

“Meu amor me ensinou a ser simples como um largo de igreja.” (Oswald de Andrade)

“As solteironas, os longos vestidos negros fechados no pescoço, negros xales nos
ombros, pareciam aves noturnas paradas...” (Jorge Amado)

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Metáfora
Conotação, Denotação e Figuras de Linguagem

Uma metáfora é uma comparação subentendida, ou seja, sem o uso de conectivos:

"Meu pensamento é um rio subterrâneo“ (Fernando Pessoa)

“Amor é um fogo que arde sem se ver” (Luís de Camões)

Catacrese

A catacrese é um tipo de metáfora tão comum que já se tornou hábito usá-la no


cotidiano. Ela acontece quando um termo deixa de ser usado em seu sentido original e
é incorporado a uma expressão:

O pé da mesa está quebrado.

A receita precisa de um dente de alho.

Metonímia

Uma metonímia ocorre quando um termo é usado no lugar de outro termo com relação
de proximidade:

Jamais leu Saramago nem Mia Couto. - A pessoa jamais leu uma obra dos autores

“O meu nome é Severino, / não tenho outro de pia” (João Cabral de Melo Neto) - A pia
à qual o autor de refere é a pia de batismo, ou seja, Severino é seu nome de batismo.

Há um tipo especial de metonímia chamado de sinédoque, que ocorre quando usamos


uma parte para nos referirmos ao todo:

Ela nunca teve um teto para se abrigar durante a infância. - O teto aparece representando
a casa toda.

Sinestesia

A sinestesia reúne dois ou mais termos que têm relação com os nossos sentidos (visão,
audição, tato, olfato e paladar) em uma frase ou expressão:

“E as doces palavras que eu tinha cá dentro...” (Gonçalves Dias) - Mistura paladar (doces)
com audição (palavras)

“Os carinhos de Godofredo não tinham mais gosto dos primeiros tempos” (Autran
Machado) - Mistura tato (carinhos) com paladar (gosto)

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Figuras de Sintaxe ou de Construção

Conotação, Denotação e Figuras de Linguagem


Elipse

A elipse é a omissão de um termo que é facilmente compreendido:

“O mar - lago sereno, / O céu - manto azulado” (Casimiro de Abreu) - omissão de “é”

“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados” (Machado de Assis) - omissão de “havia”

Hipérbato

Em geral, a estrutura da oração é: sujeito - verbo - predicado. Ocorre um hipérbato


quando esta estrutura é modificada:

“Ouviram do Ipiranga às margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante”


(Hino Nacional Brasileiro)

“Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada

E triste, e triste e fatigado eu vinha.

Tinhas a alma de sonhos povoada,

E a alma de sonhos povoada eu tinha...” (Olavo Bilac)

Polissíndeto

Repetição de conjunções coordenativas - em geral o “E”:

“Vão chegando as burguesinhas pobres,

E as criadas das burguesinhas ricas

E as mulheres do povo, e as criadas da redondeza.” (Manuel Bandeira)

“E sob as ondas ritmadas

e sob as nuvens e os ventos

e sob as pontes e sob o sarcasmo

e sob a gosma e sob o vômito” (Carlos Drummond de Andrade)

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Anacoluto
Conotação, Denotação e Figuras de Linguagem

É uma quebra da sequência lógica da frase, em geral após uma vírgula, introduzindo um
novo pensamento levemente conectado ao anterior:

“Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas” (Alcântara Machado)

“Umas carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de
tão imprestáveis” (José Lins do Rego)

Pleonasmo

O pleonasmo é uma repetição de ideia através do uso de termos semelhantes ou com


mesmo significado:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)

“Eu canto um canto matinal” (Guilherme de Almeida)

Dependendo da construção da frase, o pleonasmo não é uma figura de linguagem, mas


sim um vício de linguagem. Expressões como “elo de ligação”, “subir para cima”, “descer
para baixo”, “repetir de novo”, “hemorragia de sangue” e “monopólio exclusivo” devem
ser evitadas.

Anáfora

Repetição de uma palavra no início de versos ou frases:

“Depois o areal extenso...

Depois o oceano de pó...

Depois no horizonte imenso

Desertos, desertos só...” (Castro Alves)

“Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse,

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!” (Carlos Drummond de Andrade)

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Figuras de Pensamento

Conotação, Denotação e Figuras de Linguagem


Hipérbole

É a figura de linguagem associada ao exagero, a fim de gerar uma ideia impactante:

“Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo Bilac)

“Pela lente do amor

Vejo tudo crescer

Vejo a vida mil vezes melhor” (Gilberto Gil)

Eufemismo

Usar um eufemismo é uma maneira de suavizar alguma coisa desagradável que está
sendo dita. Por exemplo:

“A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer” (Mario Quintana)

“PARVO Aguardai, aguardai, houlá!

E onde havemos nós d'ir ter?

DIABO Ao porto de Lúcifer.” - Eufemismo para inferno

Ironia

Em sátiras ou críticas, é comum encontrar ironias: palavras ou expressões que, no


contexto, devem ser interpretadas com o significado oposto ao habitual:

“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças” (Monteiro Lobato)

“Moça linda, bem tratada,

três séculos de família,

burra como uma porta: um amor” (Mário de Andrade)

Personificação

A personificação ou prosopopeia é a figura de linguagem que atribui características


humanas a objetos inanimados ou ações humanas a animais:

“Um frio inteligente (...) percorria o jardim” (Clarice Lispector)

“O cipreste inclina-se em fina reverência / e as margaridas estremecem, sobressaltadas”


(Cecília Meireles)

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Antítese
Conotação, Denotação e Figuras de Linguagem

A antítese é a figura de linguagem que traz uma aproximação de termos ou ideias


contrárias:

“É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer” (Luís de Camões)

Figuras de Som ou Harmonia


Aliteração

Repetição de uma consoante ou de consoantes com sons similares:

“Toda gente homenageia Januária na janela” (Chico Buarque)

“Leves véus velam nuvens vãs, a lua” (Fernando Pessoa)

Assonância

Repetição de uma vogal ou de sons vocálicos:

“Sou Ana, da cama


da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdã” (Chico Buarque)
“O que o vago e incógnito desejo / de ser eu mesmo de meu ser me deu” (Fernando
Pessoa) - observe que nestes dois versos há a repetição das vogais E e O.

Paronomásia

É a utilização de palavras parônimas - com grafias e pronúncias semelhantes, mas com


significados diferentes - para criar um efeito sonoro na frase:

“Em muitas partes toma o navio perto à porta de seu dono” (Padre Antônio Vieira)

“Conhecer as manhas e as manhãs” (Almir Sater e Renato Teixeira)

Onomatopeia

Esta figura de linguagem, comum em histórias em quadrinhos, tenta reproduzir o som


de algum objeto ou ação através de palavras:

“Ó rodas, é engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!” (Fernando Pessoa)

“Passa, tempo, tic-tac

Tic-tac, passa, hora

Chega logo, tic-tac

Tic-tac, e vai-te embora” (Vinícius de Moraes)

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