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infância e Relações
Internacionais no Brasil:
um levantamento acerca das
pesquisas na área
Julho de 2022
GeiRI Brasil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-48339-0
22-117148 CDD-327
Índices para catálogo sistemático:
Coordenação
Bruna Silva
Camilla Pereira
Redação do texto
Camilla Pereira
Maria Eduarda Guerra
Revisão técnica
Bruna Silva
Gabriel Arruda
Júlia Lira
Edição de arte
Bruna Silva
Camilla Pereira
Capa
Clara Moreira
Autoras convidadas
Giovanna Paiva (GEDES)
Patrícia Nabuco Martuscelli (University of Sheffield)
6
SUMÁRIO
Apresentação
10 Introdução
15 Metodologia
4
Considerações finais
34
Outras reflexões 38
Apêndices 49
Anexos: dados dos trabalhos
encontrados nos repositórios digitais 56
Cadastro para o banco de
dados de trabalhos 99
5
Apresentação
6
Por Bruna Silva e Camilla Pereira1
Co-fundadoras do GeiRI Brasil
7
contamos com a presença assídua dos membros. Dessa
forma, unimos indivíduos em diferentes estágios da tra-
jetória acadêmica, de diversos locais do país e com his-
tórias distintas para debatermos sobre um assunto ainda
tão pouco explorado no campo de Relações Internacio-
nais no Brasil.
A partir disso, ousamos ir mais longe. Tivemos a
ideia de escrever um relatório que materializasse nossas
dúvidas. Assim, reunimos alguns de nossos membros e
chegamos ao presente documento. O percurso foi repleto
de dificuldades – faculdades sem repositórios, trabalhos
restritos aos alunos das universidades, sites com alguns
problemas de pesquisa – porém, o comprometimento de
cada um dos envolvidos fez com que pudéssemos com-
pilar esses dados e refletir sobre o cenário nacional.
Por isso, agradecemos nominalmente a Franciel-
le Pains, Gabriel Arruda, Heloíse Reis, Júlia Lira, Luara
Dias e Maria Eduarda Guerra pela dedicação e excelência
na execução deste trabalho. Estendemos estes agrade-
cimentos a Giovanna Paiva e Patrícia Nabuco Martuscelli,
que aceitaram escrever as reflexões finais para este re-
latório, e a Jana Tabak pelo apoio ao grupo desde seu
início.
Esperamos que os dados aqui apresentados auxi-
liem na consolidação dos estudos sobre infância na área
de Relações Internacionais no Brasil e estimulem cada
vez mais estudantes e pesquisadores(as) a se debruça-
rem sobre esta temática. Desejamos a todos(as/es) uma
boa leitura!
8
Você conhece o ECA?
Avaliado como uma das leis mais evoluídas sobre a
proteção de crianças e adolescentes, o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) foi criado pela Lei
n° 8.069 de 13 de julho de 1990. Seu objetivo era
regulamentar o art. 227 da Constituição Federal de
1988, que garantiu às crianças e adolescentes proteção
especial contra negligência, maus-tratos, violência
e exploração. Com o processo de redemocratização
do Brasil, diversas organizações, movimentos sociais
e fundações empresariais se mobilizaram durante o
processo da Constituinte para garantir que os direitos
das crianças e dos adolescentes estivessem presentes
na Carta Magna. Assim, o ECA representa uma inovação
com relação aos documentos anteriores voltados para
crianças e adolescentes, por considerá-los sujeitos de
direitos que devem ser protegidos pela família e pelo
Estado, responsáveis por tomar decisões em favor de seu
maior interesse. Além de abolir o uso do termo “menor”,
o Estatuto também delineou a diferença etária entre
crianças (zero a 11 anos) e adolescentes (12 a 17 anos),
como disposto em seu art. 2º. Nesse sentido, o Estatuto
reconheceu às crianças e adolescentes como sujeitos de
direitos e cuidados especiais, cuja proteção por parte da
família, da sociedade e do Estado é prioritária, os quais
devem tomar decisões em favor de seu maior interesse e
garantindo sua voz. A criação do Estatuto coaduna com o
movimento internacional de proteção e reconhecimento
dos direitos de crianças e adolescentes, que teve início
no começo do século XX e cuja maior conquista foi a
criação da Convenção dos Direitos da Criança, em 1989.
9
1.
Introdução
10
Em seu livro, Alisson James (1992, p.1) afirmou
que o século XX ficou conhecido como “o século da crian-
ça”2. Neste período, foi criado o que chamamos de Re-
gime Internacional de Proteção dos Direitos da Crian-
ça. Composto por quatro documentos – a Declaração de
Genebra dos Direitos da Criança (1924)3, a Declaração
dos Direitos da Criança (1959)4, o Ano Internacional
da Criança (1979)5 e a Convenção sobre os Direitos da
Criança (1989)6 – este regime visava assegurar os direi-
tos das crianças e protegê-las de quaisquer violações. A
partir dele, portanto, uma série de discursos e imagens
acerca da figura deste grupo foram cristalizadas.
“Dependente”, “incivilizada”, “em desenvolvimen-
to”, “a espera do futuro” são apenas alguns dos termos
que, conscientemente ou não, cercam a construção so-
cial da criança nos espaços. As crianças, assim, são o
outro, o contraponto ao “nós” que é adulto, civilizado,
apto para o debate público e pertencente ao tempo pre-
11
sente. Neste sentido, cabe aos adultos o dever de guiar
a trajetória destes indivíduos, para que, no futuro, eles
sejam capazes ou estejam em plenas condições de inte-
grar o “nós” o qual já fazemos parte.
Os autores da sociologia da infância há muito se
debruçam sobre este debate e questionam esta ima-
gem acerca da criança, algo que é reforçado por esses
mesmos documentos que lhe garantem direitos. Parti-
cularmente, nas Relações Internacionais, esta área vem
crescendo, sobretudo com o final da Guerra Fria, quando
o campo sofreu uma abertura epistemológica, metodo-
lógica e ontológica, o que permitiu a inserção de novos
atores e perspectivas. Mesmo assim, as crianças ainda
permaneceram e permanecem “nas margens” da disci-
plina (WATSON, 2006)7, sendo pouco estudadas na aca-
demia e silenciadas na Política Internacional.
No Brasil, esse cenário não é diferente. A discipli-
na de Relações Internacionais, de modo geral, apesar
da qualidade acadêmica de seus pesquisadores, ainda
está se desenvolvendo, principalmente se comparada a
países do chamado Norte Global, como Estados Unidos e
Inglaterra. Dessa forma, é possível supor que um tema
tão incipiente quanto infância seja ainda mais escasso
dentro dos estudos nacionais dessa área das Ciências
Humanas e Sociais.
Com base nisso, surgiram os questionamentos que
levaram a elaboração deste relatório. Se nós, que esta-
7WATSON, Alison. Children and International Rela-
tions: a new site of knowledge? Review of Inter-
national Studies, v.32, n. 2, p 237 – 250, 2006.
12
mos construindo este trabalho, temos pesquisas na área
de infância, quantos outros como nós existem no país?
Quais são os temas que essas pessoas pesquisam? Quais
são os assuntos mais estudados de maneira geral? Há
alguma relação entre a região do país e a incidência de
um determinado tópico abordado? Essas são apenas al-
gumas das perguntas que esperamos responder aqui,
através de nossa análise dos dados coletados a partir
dos repositórios virtuais das universidades.
Por esta razão, o trabalho começa apresentando
a metodologia adotada e as implicações de nossas es-
colhas no processo de coleta de dados, de modo que o
leitor compreenda como tais informações foram compila-
das. A seguir, passamos para um panorama mais abran-
gente acerca dos programas de Relações Internacionais
no país. Nele, mostramos a quantidade de cursos na área
ofertados em cada uma das cinco regiões do Brasil – a
saber: Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sul e Sudeste – e
os números referentes às modalidades de graduação e
pós-graduação em cada uma delas e sua natureza (pú-
blica ou privada). Consideramos estas informações rele-
vantes pois situam o leitor acerca do campo de maneira
mais ampla.
A seção seguinte, e a mais importante, traz os dados
sobre os trabalhos sobre infância em Relações Interna-
cionais, também divididos pelas cinco regiões do país. As
pesquisas foram alocadas em cinco grandes categorias,
“Segurança Internacional”, “Direitos Humanos”, “Desen-
volvimento”, “Teoria das RI” e “Outros”. As quatro pri-
13
meiras, de modo mais abrangente, são temas bastan-
te pesquisados nas Relações Internacionais, e, por isso,
queríamos verificar se o mesmo convergia em relação
aos estudos sobre infância.
Toda essa análise, pautada em passado e presen-
te, será complementada por meio de uma reflexão so-
bre o futuro, realizada por duas pesquisadoras da área.
Giovanna Paiva e Patrícia Nabuco Martuscelli, de quem
falaremos com maiores detalhes na seção “Outras refle-
xões”, discutirão sobre os próximos passos da área de
Infância em Relações Internacionais após a publicação
deste trabalho e publicização destes dados.
Portanto, objetivamos, com esta pesquisa, siste-
matizar dados sobre a temática da infância dentro da
área de Relações Internacionais e contribuir para a ex-
pansão deste campo, suscitando cada vez mais interesse
dos estudantes e pesquisadores neste assunto.
Curiosidades CDC
A Convenção dos Direitos da Criança de 1989 (CDC)
é o documento adotado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) como o maior e principal instrumento
sobre os direitos da criança. Tido pela Organização
como o “tratado de direitos humanos mais aceito da
história”, foi ratificado por 196 países, sendo a Somália,
até agora, a fazê-lo. O Brasil foi um dos primeiros
Estados a adotar a Convenção, em 24 de setembro
de 1990. Apesar de ter sido um membro participativo
e ativo na construção da CDC, os Estados Unidos
foram o único Estado-membro que não a ratificaram.
14
2.
Metodologia
15
Para confeccionar este estudo, tivemos como prin-
cipal fonte de dados os repositórios digitais das univer-
sidades brasileiras que possuíam cursos de graduação
e/ou pós-graduação em Relações Internacionais. Neles,
estão contidos os trabalhos – trabalhos de conclusão de
curso (TCCs), dissertações e teses – de todos os seus
estudantes. Todavia, alguns acervos não são abertos ao
público geral, e algumas instituições não os possuem em
formato virtual.
Antes de mapearmos os trabalhos dentro da te-
mática da infância, fizemos, em primeira instância, um
levantamento de todas as universidades que possuíam
cursos de graduação e pós-graduação no Brasil, sem le-
var em conta a presença ou não de repositório virtual8.
Seguido desta investigação, contabilizamos o número de
faculdades públicas e privadas, a fim de fornecer um pa-
norama mais completo sobre o assunto. Ademais, verifi-
camos a quantidade de cursos de graduação e programas
de pós-graduação stricto sensu9, divisão que adotamos
para todas as nossas análises.
Optamos por isso porque, na maioria dos casos,
os TCCs não eram abertos ao grande público, o que não
nos permitiu um valor exato nesta categoria. O Gráfico
8 Para um detalhamento sobre as universidades, consultar o Apêndice 1.
9 De acordo com o Ministério da Educação (MEC), “as pós-gra-
duações stricto sensu compreendem programas de mestrado e
doutorado abertos a candidatos diplomados em cursos superio-
res de graduação e que atendam às exigências das instituições
de ensino e ao edital de seleção dos alunos (Art. 44, III, Lei nº
9.394/1996). Ao final do curso o aluno obterá diploma”. Para
mais informações, consultar: http://portal.mec.gov.br/compo-
nent/content/article?id=13072:qual-a-diferenca-entre-pos-gradu-
acao-lato-sensu-e-stricto-sensu. Último acesso em abril de 2022.
16
1 mostra o número de repositórios dos programas de
Relações Internacionais disponíveis divididos pelas cinco
regiões do Brasil. A localidade com maior quantidade é
a Sudeste, com 36 repositórios (46,8%), seguida do Sul
(17 ou 22,1%). Norte, Nordeste e Centro Oeste acumu-
lam, cada, oito repositórios (10,4%).
40
46,8%
36
Repositórios
20
22,1%
17
17
das respectivas universidades, a fim de conseguirmos
título, resumo e ano da defesa das pesquisas. Apesar de
termos obtido algumas respostas, este valor ainda está
aquém da realidade. Por isso, ao final deste relatório,
disponibilizamos um link de um formulário para aqueles
cujos trabalhos não foram contabilizados aqui consigam
cadastrá-lo, para que possamos atualizar este documen-
to no futuro.
Dividimos os trabalhos em cinco grandes catego-
rias, que são: “Segurança Internacional”, “Direitos Hu-
manos”, “Desenvolvimento”, “Teoria das Relações In-
ternacionais” e “Outros”. Decidimos criar essa última
categoria a fim de juntarmos os trabalhos cujos temas
não se encaixavam nas demais, tendo em vista evitar
a criação de uma série de eixos que resultariam em um
baixo quantitativo de trabalhos.
Em termos geográficos, optamos a divisão pelas
cinco grandes regiões do país, a saber: Norte, Nordeste,
Centro Oeste, Sul e Sudeste. Essa escolha está em con-
sonância com a ideia de que os estados abarcados em
cada um desses recortes partilham de características co-
muns entre si10, e, portanto, este fato poderia ter algum
impacto em nossa análise.
Em conformidade com a regra de arredondamento
da ABNT 589111, os valores percentuais individuais apre-
10
Para mais informações, consultar: https://cnae.ibge.gov.
br/en/component/content/article/97-7a12/7a12-voce-sabia/
curiosidades/1627-regioes-brasileiras.html#:~:text=Regi%-
C3%B5es%20Brasileiras,foram%20classificados%20na%20
mesma%20regi%C3%A3o. Último acesso em abril de 2022.
11
Para mais informações, consultar: https://www.normas.com.br/
18
sentados nos gráficos foram arredondados para exibir
somente uma casa decimal. Essa escolha faz com que
alguns gráficos possam não totalizar 100,0% em suas
somas.
Outros documentos
A história sobre os direitos da criança e sua construção
legal não se iniciam e não se findam com a Convenção
dos Direitos da Criança de 1989. As Convenções de
Genebra de 1949 e seus Protocolos Adicionais de 1979 já
discutiam, mesmo que não de uma maneira específica,
a importância de garantir os direitos das crianças como
parte dos Direitos Humanos. Pós-1989, as discussões
na matéria trataram de reger sobre temáticas mais
complexas e específicas, aprovando três Protocolos
Facultativos: O Protocolo Facultativo sobre o envolvimento
de crianças em conflitos armados de 2000; o Protocolo
Facultativo sobre a venda de crianças, prostituição
infantil e pornografia infantil, de 2004; e o Protocolo
Facultativo sobre um Procedimento de Comunicações de
2014. Este último ressalta o caráter da sociedade civil de
enxergar as crianças não só como membros sujeitos de
direito da sociedade, mas sim, como membros ativos e
participativos, capazes de reclamar sobre seus próprios
visualizar/abnt-nbr-nm/5276/abnt-nbr5891-regras-de-arredonda-
mento-na-numeracao-decimal . Último acesso em abril de 2022.
19
3.
O panorama
das faculdades
de Relações
Internacionais
no Brasil
20
O primeiro departamento de Relações Internacio-
nais do mundo foi criado na London School of Economics
(LSE), em 1927, fruto de uma preocupação mundial com
o fenômeno da guerra, uma vez que a Primeira Guerra
Mundial havia terminado oito anos antes. No Brasil, foi a
Universidade de Brasília (UnB) a primeira a criar um cur-
so de Relações Internacionais, em 1974, e a inaugurar
seu programa de mestrado dez anos depois.
O segundo curso de graduação do país foi criado 21
anos depois, na Universidade Católica de Brasília (UCB),
e o Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Uni-
versidade do Rio de Janeiro (IRI/PUC-Rio) fundou seu
curso de mestrado em 1987 (VIGEVANI; THOMÁZ; LEI-
TE, 2014, p.5)12.
Em 1999, haviam 21 cursos de Relações Interna-
cionais no país, número que subiu para 97, dez anos
mais tarde, um crescimento de 361,9%. Em 2022, esse
aumento foi de 53,6%, uma vez que, atualmente, há
149 faculdades de Relações Internacionais distribuídas
entre as cinco localidades ou divisões do Brasil (Gráfico
2).
Dentre eles, destacamos a região Sudeste, que
compreende mais da metade dos cursos do país (99 ou
66,4%). Em seguida, temos a região Sul, com 19 fa-
culdades (12,8%). Nordeste, Centro Oeste e Norte pos-
suem valores muito parecidos, 13 (8,7%), 10 (6,7%) e
oito (5,4%), respectivamente.
12
VIGEVANI, Tullo; THOMÁZ, Laís; LEITE, Lucas. As Rela-
ções Internacionais no Brasil: notas sobre o início de sua ins-
titucionalização. Inter-Relações, v. 14, n. 40, 2014, p. 5 – 11.
21
Gráfico 2 – Distribuição das faculdades de Relações
Internacionais por região do Brasil – 2022 (núme-
ros absolutos e percentuais)
66,4%
100 99
75
Faculdades de RI
50
25 12,8%
19
8,7%
13 6,7%
10 5,4%
8
22
Gráfico 3 – Distribuição das faculdades de Rela-
ções Internacionais públicas e privadas por região
do Brasil (números absolutos e percentuais)
100,0%
50,0%
75,0% 53,8%
4
63,2% 7
12 70,0%
7
84,8%
84
50,0%
50,0%
25,0% 46,2%
4
36,8% 6
7 30,0%
3
15,2%
15
0,0%
Privada Pública
23
total). Sul, Centro Oeste e Nordeste possuem quantida-
des muito próximas (seis ou 20,0%, cinco ou 16,6% e
quatro ou 13,4%, respectivamente). A região Norte não
possui programas de pós-graduação em Relações Inter-
nacionais.
100,0%
75,0%
66,7%
71,4% 71,4%
10
15 10
86,4%
95
100,0%
50,0%
8
25,0%
33,3%
28,6% 28,6%
5
6 4
13,6%
15
0,0%
Graduação Pós-graduação
24
guido do Sul. As regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste
alternaram com os menores quantitativos. Tais núme-
ros nos estimulam a questionar o fato de uma localiza-
ção que possui apenas quatro dos 26 estados brasileiros
(Sudeste) ter valores tão expressivos, enquanto Norte,
Nordeste e Centro Oeste, que acumulam 19 estados,
registrarem as menores quantidades, algo que aborda-
remos melhor nas considerações finais deste relatório.
Na próxima seção, falaremos especificamente sobre os
estudos da infância nas Relações Internacionais, com a
divisão entre grandes temas por região.
Crimes de Guerra
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional de
1998, que rege sobre os crimes nos conflitos armados
e segue as Convenções de Genebra de 1949 e seus
Protocolos adicionais sobre o Direito Humanitário, tipifica
como crime de guerra, em seu art. 8º, “[r]ecrutar ou
alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais
ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades”.
Tal inciso trata sobre a presença de crianças como atores
armados em situação de conflitos, comumente conhecidas
como “crianças-soldado’’. O Protocolo Facultativo sobre o
envolvimento de crianças em conflitos armados de 2000
das Nações Unidas trata de maneira específica sobre a
questão. O Brasil ratificou ambos os documentos.
25
4.
Os estudos
sobre Infância
em Relações
Internacionais
no Brasil
26
Nesta seção, dedicaremo-nos a apresentar os grá-
ficos contendo os dados acerca da presença – ou ausên-
cia – de trabalhos que abordam a infância nas Relações
Internacionais nas faculdades de todas as cinco regiões
do Brasil. Portanto, começaremos apresentando um pa-
norama geral do país, para, em seguida, fazer a análise
pelas cinco regiões.
O Gráfico 5 traz as informações gerais sobre a
quantidade de trabalhos sobre infância em RI, dividi-
dos entre os grandes temas da disciplina. Algo que nos
chama atenção diz respeito à ausência de pesquisas na
região Norte. Por causa disso, não há um gráfico dedica-
do à análise exclusiva desta região. Além disso, muitos
dos trabalhos encontrados tangenciam a infância apenas
de modo secundário. Isso significa que há uma série de
estudos, sobretudo na área de gênero, que mencionam
crianças e infância, porém, estes não são seu enfoque
principal.
Podemos notar a predominância de pesquisas so-
bre a infância no campo da Segurança Internacional,
com 24 trabalhos (53,3%) e dos Direitos Humanos, logo
em seguida, com 18 (40,0%). Os temas de Desenvolvi-
mento, Teoria de RI e Outros apresentaram apenas um
estudo cada um (2,2%). Tais informações condizem com
o fato de que os campos da Segurança Internacional e
dos Direitos Humanos continuam, até os dias atuais,
como os mais predominantes nas discussões dentro da
disciplina das RI, enquanto os demais ainda buscam se
consolidar na área.
27
Gráfico 5 – Quantidade de trabalhos sobre infância
em RI por grandes temas – Brasil (números abso-
lutos e percentuais)
30
53,3%
24
20 40,0%
18
Trabalhos
10
28
Além disso, a ausência de trabalhos envolvendo a
infância nos campos de Desenvolvimento, Teoria das RI
e Outros, novamente, pode refletir uma situação corri-
queira dentro da disciplina - o enfoque em temas mais
consolidados, em detrimento daqueles considerados “re-
centes” – bem como pode ser mais uma evidência da
subnotificação de trabalhos.
57,1%
4
42,9%
3
Trabalhos
Seg internacional DH
Grandes temas
29
nas uma pesquisa (11,1%), enquanto Desenvolvimento
e Teoria de RI não possuem nenhum.
44,4% 44,4%
4 4
Trabalhos
11,1%
1
30
Gráfico 8 – Quantidade de trabalhos sobre infância
em RI por grandes temas – região Sul (números
absolutos e percentuais)
60,0%
6
40,0%
Trabalhos
4
4
Seg internacional DH
Grandes temas
31
número de cursos de RI, o que possibilita uma maior
diversificação das temáticas abordadas nos trabalhos de
seus estudantes.
52,6%
10
10
36,8%
7
Trabalhos
5,3% 5,3%
1 1
32
Uma possível explicação para este dado é o fato de esta
região concentrar o maior número de faculdades de RI
do país, o que possibilita com que mais alunos possam
se interessar pelos estudos sobre infância, levando, as-
sim, a uma maior diversidade de temas. Todavia, o fato
de termos encontrado apenas 45 trabalhos em um país
que possui 149 faculdades de RI nos leva a crer que
ainda há um longo caminho a ser percorrido para os es-
tudos sobre a infância. Dessa forma, nas considerações
finais, faremos um resumo dos principais pontos trazidos
neste relatório, além de realizarmos uma reflexão sobre
o campo de modo mais abrangente.
Insegurança alimentar
Em 2022, a Organizações das Nações Unidas publicou
o relatório The State of Food Security and Nutrition in
the World em que versa sobre a situação de insegurança
alimentar e desnutrição. Com a crise sanitária causada
pela cepa SARS-CoV-2, associada à crise econômica, a
situação agravou-se, colocando alguns países de volta
ao mapa da fome, incluindo o Brasil. O país apresentou
aumento no número de pessoas em situação de
insegurança alimentar, afastando-o da meta para erradicar
a fome até 2030. Estes dados ressaltam, principalmente,
os riscos da desnutrição e insegurança alimentar infantil
como um fator alarmante a ser revertido.
33
5.
Considerações
finais
34
O GeiRI surgiu do desejo de conexão entre estu-
dantes de Relações Internacionais de todo o Brasil que
pesquisam sobre infância. Como extensão deste ímpeto
ou desta disposição, este relatório foi composto. Enquan-
to os resultados que encontramos nos surpreenderam
positivamente, eles demonstraram também que existe
um longo caminho a ser percorrido, não somente para os
pesquisadores de infância nas Relações Internacionais,
mas para todos aqueles que se dedicam à pesquisa no
Brasil.
Um primeiro ponto que destacamos foram os pro-
blemas enfrentados na procura em alguns repositórios,
seja por não possuírem endereços on-line que facilitem a
busca das informações, pela dificuldade de acesso e en-
tendimento das interfaces daqueles existentes, ou pelo
acesso restrito somente aos estudantes e professores
das universidades em questão. Isto impede um panora-
ma mais próximo da realidade, e ressalta a precariedade
da forma como a ciência, e o acesso a ela, é feita no
Brasil de modo mais amplo, ou seja, a falta de investi-
mentos para a melhoria das instituições e para o forneci-
mento de bolsas de pesquisa aos estudantes. Portanto, a
ausência de dados também é, por si só, uma informação
de extrema relevância.
Os valores mais expressivos, como visto ao longo
do relatório, encontraram-se na região Sudeste, mesmo
que esta região conte com apenas quatro dentre os 26
estados brasileiros. Ao passo que a região Norte, com
sete estados, não registrou nenhum trabalho que tra-
35
tasse sobre infância em Relações Internacionais, assim
como as regiões Nordeste e Centro-Oeste acumulam
baixas quantidades de pesquisas. Uma possível inter-
pretação vai de encontro à realidade histórica do Brasil,
na qual São Paulo, em especial, e Rio de Janeiro, se de-
senvolveram como os grandes centros urbanos do país,
contendo a maior parte dos cursos de Relações Interna-
cionais. Contudo, devido ao fato supracitado das dificul-
dades enfrentadas pelos pesquisadores, é difícil saber
até que ponto se estende as vantagens destas localida-
des em relação às demais.
A presença exaustiva de trabalhos na área de Se-
gurança Internacional foi um dos dados mais notáveis
que relatamos. No que tange aos estudos sobre infân-
cia, esta área engloba, em grande parte, a temática das
“crianças-soldados”, assim como a análise do papel das
Nações Unidas (ONU) para tentar pôr um fim ao recru-
tamento infantil em casos específicos ao redor do mun-
do, com ênfase para regiões do Sul Global. Em seguida,
vimos os trabalhos sobre Direitos Humanos, compostos
principalmente de discussões sobre crianças refugiadas
ou migrantes, e tráfico internacional de crianças. Ao pas-
so em que é interessante ver assuntos tão importantes
ganhando espaço no estudo das Relações Internacio-
nais, percebemos que as produções sobre infância den-
tro destes dois “grandes temas” estavam restritos aos
mesmos assuntos.
Evidenciamos, também, as menções sobre infân-
cia em trabalhos dedicados à discussão de gênero nas
36
Relações Internacionais, como supracitado no início da
seção anterior. A percepção geral, dentro da disciplina,
é a de que gênero e infância são dois estudos comple-
mentares, senão partes de um mesmo estudo. No en-
tanto, tal generalização é perigosa, porque, ao reduzi-los
a um conglomerado, chamado por Cynthia Enloe de wo-
menandchildren (ENLOE, 1991)13, as dimensões através
das quais tais assuntos podem ser abordados acabam
extremamente simplificadas, e não correspondem à re-
alidade. Consequentemente, os estudos sobre infância
acabam ocupando uma posição secundária em relação
aos estudos de gênero.
Como visto, as pesquisas sobre infância nas Rela-
ções Internacionais, embora ainda escassas, vêm cres-
cendo nos tempos atuais no Brasil, mesmo que a passos
lentos. Nosso objetivo com a produção deste levanta-
mento foi justamente elucidar tal crescimento, mesmo
que incipiente, de modo não só a trazer um panorama de
como a pesquisa em Relações Internacionais vêm sendo
feita no âmbito nacional, mas também a necessidade de
“abrir novos caminhos” dentro da disciplina. Esperamos,
assim, que, mediante as informações aqui apresentadas,
mais estudantes, professores e cursos de Relações Inter-
nacionais engajem em discussões referentes à infância e
crianças dentro da área, com o objetivo de trazer para o
centro do debate um grupo ainda tão marginalizado.
13
ENLOE, Cynthia. ‘Womenandchildren: Propaganda Tools of Patriar-
chy,’. In: BATES, Greg (eds.). Mobilizing Democracy: Changing the
U.S. Role in the Middle East. Monroe: Common Courage Press, 1991.
37
6.
Outras
reflexões
38
Decidimos criar essa seção a fim de somarmos ou-
tras vozes a este relatório. Para isso, convidamos duas
pesquisadoras que são referência na área de infância em
Relações Internacionais no Brasil e pedimos que respon-
dessem a uma pergunta: Com base em tudo o que foi
exposto neste relatório e em sua trajetória individual, o
que podemos esperar do futuro do campo de estudos so-
bre infância nas RI? Assim, nosso objetivo é apresentar
ao leitor as reflexões de três mulheres que são destaque
no campo.
As duas convidadas foram: Giovanna Paiva e Pa-
trícia Nabuco Martuscelli. Cada uma delas escreveu um
breve texto, que será apresentado, nesta ordem, nas
próximas páginas. Antes, porém, faremos um resumo
do currículo de cada uma, para que o leitor conheça suas
jornadas.
Giovanna Paiva é doutora e mestra em Relações
Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Re-
lações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNI-
CAMP, PUC-SP). Bacharel em Relações Internacionais
pela UNESP. Membro do Grupo de Estudos de Defesa e
Segurança Internacional (GEDES) e da Rede de Pesquisa
em Paz, Conflitos e Estudos Críticos de Segurança (PCE-
CS) e do Grupo de estudos sobre infância em Relações
Internacionais. Investiga a área de Paz, Defesa e Segu-
rança Internacional, com ênfase no emprego de crian-
ças-soldado.
Patrícia Nabuco Martuscelli é Lecturer (Professora
Assistente) in International Relations na Univerisidade
39
de Sheffield no Reino Unido. Foi Social Science Research
Fellow in Conflict and Migration no Institute for Risk and
Disaster Reduction (University College London). Douto-
ra em Ciência Política pela Universidade de São Paulo
(2016-2019) e mestre em Relações Internacionais com
ênfase em Política Internacional e Comparada pela Uni-
versidade de Brasília (2014-2015). Possui bacharel em
Relações Internacionais pela Universidade de Brasília
(2010-2013). É membro do Núcleo de Pesquisa em Re-
lações Internacionais (NUPRI/USP), Núcleo de Estudos e
Pesquisas sobre Deslocados Ambientais (NEPDA/UEPB),
da Rede Brasileira de Operações de Paz (REBRAPAZ) e
do Grupo de Pesquisa Direitos Humanos e Vulnerabilida-
des (UniSantos). Patrícia realiza pesquisas nas áreas de
proteção e participação internacional da infância, direi-
tos das crianças, migração infantil e menores desacom-
panhados, crianças e conflitos armados, reunião fami-
liar para refugiados e políticas migratórias no Brasil e na
América Latina.
40
Giovanna Ayres Arantes de Paiva
41
das RI (ONUF, 1989; WENDT, 1992)15. Os estudos de se-
gurança ampliaram-se e aprofundaram-se, levando em
consideração múltiplos setores da segurança, não ape-
nas o militar (BUZAN; WÆVER; WILDE, 1998)16.
Mesmo com essas transformações na área, as
crianças ainda são invocadas, majoritariamente, como
as vítimas a serem salvas pelos discursos de segurança
e proteção. Tal fato mostra a necessidade de uma refle-
xão mais profunda sobre a importância de enxergar as
crianças como atores nas RI, sujeitos de direito e capa-
zes de promover mudanças, expressar opiniões e serem
protagonistas de suas próprias narrativas.
Muitos avanços foram feitos nesse sentido. Atual-
mente, dispomos de uma bibliografia nacional e interna-
cional que se propõe a pensar as infâncias e as Relações
Internacionais. No contato entre esses campos de estudo
existem ganhos mútuos. As RI aprendem a incluir mais
atores essenciais nas dinâmicas internacionais, dando
destaque e repensando o papel das crianças. Os Estu-
dos sobre a Infância ganham ao incorporar as dinâmicas
internacionais em suas reflexões e poderem trazer mais
contribuições sobre a capacidade de agência política das
crianças. Assim, discussões sobre metodologias a serem
usadas para pensar as crianças nas RI, temas como regi-
15
ONUF, Nicholas Greenwood. World of Our Making:
Rules and Rule in Social Theory and Inter-
national Relations. London: Routledge, 1989.
WENDT, Alex. Anarchy is What States Make of It: The Social Construction
of Power Politics. International Organization, v. 46, p. 391-425, 1992.
16 BUZAN; WÆVER; WILDE. Security: A New Framework
for Analysis. Colorado: Lynne Rinner Publishers Inc., 1998.
42
me internacional dos direitos das crianças e participação
e protagonismo infantil a nível global constituem campos
férteis que ensejam mais pesquisas no presente e no fu-
turo.
Especialmente no Brasil, temos muito o que falar
sobre a relação entre infância e RI. Os desafios que o
país enfrenta, tais como mudanças climáticas, desastres
ambientais, crise econômica, política e sanitária, fome,
racismo, glorificação da educação infantil militarizada
e discursos de ódio contrários aos direitos das crianças
exigem reflexões sobre o papel das crianças e jovens na
política nacional e internacional. Alguns estudos, artigos,
livros, dissertações e teses de doutorado tocam nesses
pontos (MARTUSCELLI, 2015; PAIVA, 2021; TABAK,
2014; TAQUECE, 2021)17. Ainda assim, há dificuldade
para que a temática seja aceita nas principais revistas
científicas, programas de pós-graduação e congressos e
uma resistência em encaixar tal abordagem na área de
17
MARTUSCELLI, Patrícia. Crianças soldado na Colômbia: a
construção de um silêncio na política internacional. Dis-
sertação de Mestrado em Relações Internacionais. Universida-
de de Brasília, Instituto de Relações Internacionais, Brasília, 2015
PAIVA, Giovanna. Crianças e (in)segurança: a constru-
ção de narrativas sobre crianças-soldado na agen-
da internacional. 1. ed. Campinas: IFCH Unicamp, 2021.
TABAK, Jana. “In the best interest” of whom? Rethinking the
Limits of the International Political Order through the (Re)
constructions of the World Child and Child-Soldiers. Tese de
Doutorado em Relações Internacionais. Programa de Pós-Graduação
em Relações Internacionais do Instituto de Relações Internacionais,
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
TAQUECE, Leonardo. A (des)construção da crian-
ça moderna nas relações internacionais. Dissertação
de Mestrado em Relações Internacionais. Programa de Pós-
-Graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas”, Univer-
sidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, São Paulo, 2021.
43
RI que, apesar dos avanços, ainda é dominada por uma
lógica adulta e estadocêntrica. Em um país com tantas
questões que afetam as crianças, constitui uma contra-
dição que a área da infância não encontre maior abertu-
ra e aderência nas Relações Internacionais.
Com o avanço do reconhecimento da importância
dos estudos sobre infância para as RI, no futuro, é pos-
sível imaginar cada vez mais estudos sobre militarização
da infância, violências contra as crianças, priorização de
recortes de gênero e de raça e participação de crianças e
jovens como líderes de organizações e movimentos po-
líticos e sociais. Temas e possibilidades de pesquisa que
incluam crianças e Relações Internacionais não faltam.
Basta atravessarmos fronteiras artificiais impostas para
vislumbrarmos um futuro frutífero para essas áreas do
saber.
44
Patrícia Nabuco Martuscelli
45
discussão visível nos diversos cursos de RI espalhados
pelo país.
Nessa linha, o relatório aponta para um crescimen-
to do tema das infâncias na disciplina de Relaçōes Inter-
nacionais no Brasil. É esperado que o tema aparecesse
dentro das áreas de Segurança Internacional e Direitos
Humanos porque essas são as áreas mais fáceis de visi-
bilizar a atuação das crianças com seu envolvimento em
diferentes conflitos armados, o fato que organizações
internacionais adotam esse tema em suas agendas e o
aumento do número de crianças migrando sozinhas por
exemplo. Esse é um importante começo. Porém, tam-
bém é necessário refletir sobre as infâncias menos visí-
veis e porque algumas infâncias são hiper visibilizadas e
outras são invisibilizadas.
Também estamos observando essas discussões no
Brasil. A área já conta com trabalhos críticos que ques-
tionam a construção da infância na ordem internacional,
trabalhos que descontroem o léxico de direitos das crian-
ças e que reivindicam o reconhecimento da agência de
diferentes infâncias para além dos espaços e categorias
criados por adultos. Esse é o futuro do tema das crianças
nas Relaçōes Internacionais no Brasil. Estudos críticos
sobre as diferentes infâncias presentes no meio interna-
cional são necessários cada dia mais em que a figura da
criança e o discurso dos direitos das crianças são usados
para excluir, invisibilizar e discriminar a atuação interna-
cional desse grupo.
Além disso uma perspectiva brasileira sobre infân-
46
cias nas RI tem contribuído e vai continuar a contribuir
para o debate internacional sobre o tema. É importante
que iniciativas colaborativas para consolidar o campo no
Brasil continuem a acontecer. Ao mesmo tempo, é im-
portante continuar a construir um diálogo com nossos
colegas no exterior que também têm refletido sobre o
tema. Essas redes de apoio, pesquisa e reflexões são
fundamentais para continuar a consolidar a temática das
crianças nas RI no Brasil e no exterior. É importante que
essas redes sejam nutridas e fortalecidas.
Por fim, as iniciativas de “convidar” pesquisadores
e “procurar” trabalhos sobre o tema em meio aos progra-
mas de graduação e pós-graduação espalhados pelo país
auxiliam para um reconhecimento de que as infâncias
nas RI sejam percebidas como uma temática importante
para a disciplina e que deve ter espaço na agenda e es-
paços de discussão, ensino e pesquisa das RI. Isso não
é fácil. Conversando com colegas no Brasil e no exterior
engajados nessa área, percebo que, entre nós, há um
consenso de que crianças são atores das RI que devem
ser reconhecidas como tal e que o modo como a discipli-
na é estruturada contribui para a sua exclusão. Contudo,
o estranhamento apresentado pelos meus colegas lá em
2012 continua a aparecer nos círculos “tradicionais” das
RI. Pesquisas sobre/com/por crianças não são reconhe-
cidas como de RI e raramente programas de pós-gra-
duação e graduação no país discutem esse tema dentro
das disciplinas tradicionais de TRI, Segurança Interna-
cional e Desenvolvimento por exemplo. É nosso trabalho
continuar a buscar e construir esses espaços por meio
47
de publicações, conferências, organização de eventos e
mudanças no currículo. Essa não é uma tarefa fácil. As
RI não vão mudar da noite por dia, mas pelo menos não
estamos sozinhos. O futuro do campo de estudos sobre
infância nas RI está em boas e capazes mãos.
48
7.
Apêndices
49
Estados federativos brasileiros separados
por região
Norte
Acre
Amapá
Amazonas
Pará
Rondônia
Roraima
Tocantins
Nordeste
Alagoas
Bahia
Ceará
Maranhão
Paraíba
Pernambuco
Piauí
Rio Grande do Norte
Sergipe
Centro Oeste
Goiás
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Sul
Paraná
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Sudeste
Espírito Santo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
São Paulo
50
Universidades com cursos de graduação e
pós-graduação em Relações Internacionais
no Brasil – divisão por regiões
Norte
Acre
Faculdade Pitágoras de Rio Branco
Amapá
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Amazonas
Centro Universitário do Norte (UniNorte)
Centro Universitário La Salle (Unilasalle)
Pará
Universidade da Amazônia (UNAMA)
Universidade do Estado do Pará (UEPA)
Roraima
Universidade Federal de Roraima (UFRR)
Tocantins
Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Nordeste
Bahia
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE)
Universidade Salvador (Unifacs)
Ceará
Faculdade Stella Maris (FSM)
Paraíba
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
51
Pernambuco
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Centro Universitário Tabosa de Almeida (ASCES)
Faculdade Damas (FADIC)
Faculdades Estácio
Piauí
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Sergipe
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Centro Oeste
Brasília
Centro Universitário de Brasília (UniCEUB)
Centro Universitário do Distrito Federal (UDF)
Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB)
Universidade de Brasília (UnB)
Universidade Católica de Brasília (UCB)
Goiás
Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)
Universidade Federal de Goiás (UFG)
Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica)
Sul
Paraná
Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA)
Centro Universitário Internacional (UNINTER)
UDC Centro Universitário
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
52
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER)
Centro Universitário La Salle (UniLaSalle)
Centro Universitário Univates (UNIVATES)
Escola Superior de Propaganda e Marketing de Porto Alegre (ESPM
PoA)
Faculdade São Francisco de Assis (UNIFIN)
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)
Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Santa Catarina
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Sudeste
São Paulo
Faculdades Anhanguera
Centro Universitário Bráz Cubas
Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR)
Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP)
Centro Universitário Moura Lacerda (CUML)
Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação
(ESAMC)
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP)
Universidade Estácio de Sá (Ribeirão Preto)
Fundação Armando Alvares Penteado (FA-FAAP)
Faculdades de Campinas (FACAMP)
INPG Business School
Faculdade de Direito de Itu (FADITU)
Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo (FEBASP)
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP)
Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP)
Centro Universitário FMU
Faculdades Rio Branco (FRB)
Faculdades Rio Branco Granja Viana (FRB-GV)
Centro Universitário Fundação Santo André (FSA)
Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC-SP)
Centro Universitário IESB
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)
53
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Trevisan Escola de Negócios
Universidade Anhembi Morumbi (UAM)
Universidade Federal do ABC (UFABC)
Universidade Mogi das Cruzes (UMC)
Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP)
Universidade Estadual Paulista (UNESP - Franca)
Universidade Estadual Paulista (UNESP - Marília)
União Bandeirante de Educação (UNIBAN)
Universidade Cidade de São Paulo (UNICID)
Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL)
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Universidade de Franca (UNIFRAN)
Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES)
Centro Universitário Lusíada (UNILUS)
Universidade Metodista de São Paulo (UMESP)
Universidade Santo Amaro (UNISA)
Universidade Paulista (UNIP)
Centro Universitário Sagrado Coração (UNISAGRADO)
Universidade Católica de Santos (UNISANTOS)
Universidade de Sorocaba (UNISO)
Unità Faculdade
Universidade São Judas Tadeu (USJT)
Universidade de São Paulo (USP)
PPGRI San Tiago Dantas
Rio de Janeiro
Centro Universitário Bennett
Escola de Comando e Estado-maior do Exército (ECEME)
FIA Business School (FIAA)
Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC-RJ)
Centro Universitário IBMR-RJ
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Universidade Cândido Mendes (UCAM-RJ)
Universidade Católica de Petrópolis (UCP)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ)
Universidade Estácio de Sá (UNESA-RJ)
Faculdade Anhanguera Niterói (UNIAN-RJ)
Universidade da Força Aérea (UNIFA)
Universidade La Salle (UNILASALLE)
Centro Universitário Universus Veritas (UNIVERITAS-RJ)
Universidade Veiga de Almeida (UVA)
54
Minas Gerais
Faculdade Brás Cubas de Minas Gerais
Faculdade Cruzeiro do Sul de Minas Gerais
Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação
(ESAMC-Uberlândia)
Universidade Estácio de Sá (UNESA-MG)
Faculdade Santo Agostinho (FASA)
Faculdade de Belo Horizonte (FDR)
Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC-MG)
Centro Universitário Newton Paiva
Universidade Positivo (POSITIVO-MG)
Universidade Cândido Mendes (UCAM-MG)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Centro Universitário UNA-MG
Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI-MG)
Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH)
Universidade de Franca (UNIFRAN-MG)
Centro Universitário Internacional (UNINTER-MG)
Universidade do Sul (UNISUL-MG)
Centro Universitário Universus Veritas (UNIVERITAS-MG)
Universidade Norte do Paraná (UNOPAR-MG)
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)
Centro Universitário IBMR-MG
Espírito Santo
Faculdade Cruzeiro do Sul do Espírito Santo
Universidade Estácio de Sá (UNESA-ES)
Universidade Cândido Mendes (UCAM-ES)
Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI-ES)
Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL-ES)
Universidade de Franca (UNIFRAN-ES)
Centro Universitário Internacional (UNINTER-ES)
Universidade do Sul (UNISUL-ES)
Universidade Norte do Paraná (UNOPAR-ES)
Universidade Vila Velha (UVV)
Faculdades Anhanguera
55
8.
Anexos
Dados dos trabalhos
encontrados nos repositórios
digitais
56
Região Nordeste
57
ENTRE O UNIVERSALISMO DOS DIREITOS HUMANOS E
O PARTICULARISMO AFRICANO: O CASO DAS CRIANÇAS
DE GUINÉ-BISSAU (JEANE SILVA DE FREITAS, 2011)
58
nacionais que atuam na prevenção e combate a esse tráfico infantil,
e explana sobre o panorama global acerca das crianças traficadas
para fins de exploração sexual, mediante análise das estimativas
das vítimas, das causas que tornam esse cenário propício e da con-
dição de traficadas, sob um olhar direcionado para a vítima. Assim,
através de uma metodologia qualitativa de caráter exploratório-des-
critivo, por meio de análise documental e revisão bibliográfica, bus-
ca-se instituir a compreensão do referido tema. Nesse contexto,
fatores como a pobreza extrema, consumismo, construções histó-
ricas sociais de sexualização de crianças e objetificação feminina e
a marginalização de grupos da sociedade são alguns dos elementos
que constroem o cenário de risco que viola direitos e amplifica vul-
nerabilidades, ofertando condições para a existência de tal crime.
59
essa a primeira de doze resoluções, que teve sua última resolução
debatida em 2015. Essas resoluções têm o intuito de zelar pelas
vidas das crianças-soldados e garantir os direitos fundamentais que
as guardam. Diante disso, o presente artigo tem como objetivo ana-
lisar o fenômeno de recrutamento das crianças-soldados dentro dos
conflitos armados nos últimos anos, com o propósito de entender os
meios pelos quais essas crianças se deixam serem utilizadas como
manobra militar e qual o seu papel dentro dos conflitos, comparan-
do essa análise a criação do discurso empregado nas resoluções es-
tabelecidas pelo Conselho de Segurança e suas consequências dire-
ta na vida das crianças-soldados sob a ótica da Segurança Humana.
60
so de violência acaba posicionando essas meninas-soldados numa
esfera onde elas estão ligadas diretamente às vontades do seu gê-
nero oposto, os homens. Para isso serão analisados os papéis tanto
do homem, como o da mulher e das crianças como agência dentro
das relações internacionais e em seguida como essa marginalização
e invisibilidade promovem a exclusão dos seus direitos humanos.
61
sendo esta, uma análise cuidadosa e ampla das publicações antigas
e recentes de uma determinada área do conhecimento. A pesquisa
possibilitou dentre diversos resultados e diante de múltiplos estudos
apurados e revisados, o quanto a ONU necessita fazer frente diante
desses governos, já que esses recrutam crianças e desrespeitam
seus direitos. É imprescindível considerar o papel da Organização
em gerar recomendações, mas essas, podem não ser tão suficien-
tes para provocar um processo de cuidado efetivo a esse público.
62
realizado primeiramente um debate sobre os conceitos de “crian-
ça” e de “criança-soldado”, e, a seguir, analisado como o direito
internacional tem tratado do tema, que tem importância crescente.
Por fim, procura analisar qual o papel da ONU, Organização das
Nações Unidas, nesse âmbito. Mais especificamente, será discutido
se a referida organização vem atuando no sentido de buscar criar
normas supranacionais que possam auxiliar a amenizar o problema.
63
crianças e adolescentes, no que diz respeito às piores formas de
trabalho infantil, existe na sociedade brasileira, e o seu combate é
necessário e urgente tanto por parte do poder público quanto da
sociedade, pois somente a atuação do poder público e da sociedade
civil em prol da efetivação dos direitos fundamentais da criança e
do adolescente, poderá erradicar o trabalho infantil em nosso país.
64
PÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO (BRUNA SIQUEIRA,
2020)
65
na sociedade. O presente estudo aprofunda na análise especifica-
mente da publicidade voltada para o público infantil nos tempos
atuais, evidenciando a prática do unboxing como um fruto da au-
sência de delimitações jurídicas para a publicidade. A partir deste
estudo de caso, assim como por uma extensão revisão bibliográfica,
apresenta que a premissa da racionalidade adotada pelo merca-
do encontra diversas brechas com o desenvolvimento de pesqui-
sas realizadas pela ciência comportamental e a psicologia. Prova,
portanto, que o argumento utilizado pelas empresas de publicidade
que possui foco no público infantil se encontra caduca. Dessa for-
ma, é necessário que os sujeitos de direitos aptos a se manifestar
imponham medidas ainda mais restritivas, nos moldes de várias
organizações internacionais, para regular o mercado publicitário
brasileiro, com o foco nas redes sociais, priorizando ainda a que
possui maior influência sobre o público infantil, que é o Youtube.
66
essa dissertação estuda o uso de crianças soldado por todas as par-
tes envolvidas no conflito armado colombiano e apresenta algumas
evidências para explicar por que esse fenômeno foi silenciado na po-
lítica internacional. Além disso, a partir da literatura mais tradicional
sobre o tema de crianças soldado, foi construído um modelo padrão
de crianças soldado e meninas soldado para comparar com a reali-
dade colombiana com o objetivo de entender quais são as semelhan-
ças e diferenças desse caso com outros estudos sobre essa questão.
67
RANTIA DE SEUS DIREITOS FUNDAMENTAIS (DÉBORA
ESTER SUAREZ REBOUÇAS, 2018)
68
Região Sul
Universidade do Sul de Santa Catarina
(UNISUL)
69
Resumo: A subtração internacional de crianças tem se tornado uma
conduta cada vez mais comum no sistema internacional. Na com-
paração de 2008 com 2003, constata-se um crescimento de 56%
no número total de casos registrados. Com o intuito de proteger
o melhor interesse da criança, foi criada em 1980, na 14a sessão
da Conferência de Haia de Direito Internacional Privado, a Conven-
ção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças.
Tendo isto em vista, o objetivo do presente trabalho é verificar a
conduta do Brasil no que diz respeito aos casos da Convenção –
especificamente os casos registrados entre Brasil e Estados Uni-
dos - e se o país, na qualidade de signatário, tem assegurado a
devida aplicação da Convenção nestas situações e se o país tem
tomado medidas que objetivam uma implementação mais efetiva
e eficiente dos termos deste tratado. Conclui-se que em todo o pe-
ríodo analisado, a forma com que o Brasil implementou os termos
da Convenção foi falha e que as medidas já tomadas visando a uma
melhora deste quadro, ainda que apresente resultados positivos,
não são suficientes para deixar o país em total conformidade com
os termos deste tratado. Portanto, é fundamental que medidas adi-
cionais sejam adotadas no país em um futuro próximo de maneira
a eliminar as queixas registradas por países estrangeiros acerca da
conduta brasileira frente ao sequestro internacional de menores.
70
absoluto e a absolvição do acusado. Hoje, amparado por sua imuni-
dade soberana, é chegada a hora de rever essa máxima. Este tra-
balho busca examinar se a Santa Sé e o Vaticano se enquadram nos
critérios para a condição de Estado soberano, propostos pelo tratado
de Montevidéu, bem como quais são as suas relações com a Organi-
zação das Nações Unidas, suas estruturas internas e seus sistemas
de julgamento, que não parecem punir os culpados, e, por fim, ques-
tionar se o Papa poderia ser acusado de crimes contra a humanida-
de, pelo acobertamento dos crimes sexuais cometidos pelo clero.
71
cussões nas crianças em situação de vulnerabilidade, a pesquisa
foi organizada por meio da análise de dois estudos de caso con-
temporâneos: uma guerra convencional no Iêmen, um país do SUL
GLOBAL fora do contexto cultural latino-americano e outro mais
próximo, da violência não convencional nas favelas do Rio de Ja-
neiro. Os dois estudos permitem aplicar a abordagem teórica es-
tabelecendo comparações que buscam 1) compreender os proble-
mas que impactam a vida de crianças em conflito (convencionais
ou não) e 2) buscar respostas e possíveis soluções no campo do
direito internacional humanitário para os problemas apresentou.
72
râneos, será possível perceber o grau de destruição física, humana e
moral, na qual os menores se encontram. As crianças, que vivem em
ambientes violentos, crescem privadas de suas necessidades mate-
riais e afetivas, sendo suas escolas, hospitais e igrejas destruídas e
sua família e amigos afastados ou mortos. Ademais, os infantes não
conseguem recorrer ao Estado, pois o mesmo não consegue garan-
tir seu direito à vida, à educação ou à saúde. Recorrendo ao recruta-
mento, como forma de sobreviver á este ambiente hostil, a criança
alimenta o ciclo econômico das Novas Guerras, fazendo com que
isso não seja somente considerado um conflito, mas também um co-
mércio que por beneficiar a grande maioria, parece não possuir fim.
73
ças-soldados, e sua contribuição para a consolidação do Califado, ob-
jetivo principal do grupo terrorista ISIS, através de uma análise onde
são apresentados os conceitos de guerra de terceiro tipo, segurança
humana, e de terrorismo. O trabalho apresenta um histórico sobre o
ISIS, desde as mudanças em sua terminologia, até seus objetivos e
métodos de ação. Analisa o papel das crianças-soldados em diferen-
tes conflitos no mundo, em diferentes tempos históricos e as diferen-
ças com o recrutamento das crianças nos conflitos contemporâneos.
Destaca-se o caso das crianças-soldados recrutadas pelo ISIS, des-
de das formas de recrutamento até seu treinamento, os papéis que
exercem dentro do grupo, e sua importância para o futuro do califado.
74
ção do fenômeno no segundo capítulo são observados na prática.
75
evidenciar as políticas de proteção aos migrantes e sua relação com
o processo de integração da União Europeia. Avaliando a política
comum de fronteiras, o Espaço Schengen, o Regulamento Dublin,
a Frontex (Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional
nas Fronteiras Externas), observa-se que o livre movimento dos
migrantes é restringido em nome de um discurso de segurança e
identidade nacional. A criança migrante, securitizada por políticas
de exceção e práticas de restrição à mobilidade, passa a ser vis-
ta como uma ameaça existencial. Por último, tem-se a análise das
políticas migratórias e das recentes práticas adotados pelo governo
italiano frente a chegada de crianças desacompanhadas conside-
rando a agenda de securitização das migrações da União Europeia.
Região Sudeste
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP)
76
atuam no século XXI, cabe aqui analisar o processo de humaniza-
ção das penas que pulverizam controles a céu aberto. A prevenção
geral, aliada ao clamor da sociedade civil por segurança, redimen-
siona as políticas de tolerância zero como prática neoliberal pauta-
das no estabelecimento da cidadania, participação democrática e
inflação das ilegalidades. É pela perspectiva das resistências que se
enfrenta o discurso democrático da universalização de programas à
juventude do novo milênio, capazes de conciliar práticas punitivas
à garantia de direitos humanitários. Contra os programas de pre-
venção geral, calcados no castigo como pedagogia exemplar em
prol da sociedade asséptica e do corpo são, afirma-se a vida como
vontade de potência, uma tentativa de provocar linhas de fuga fren-
te às punitivas capturas da sociedade de controle no século XXI.
77
vada para o cumprimento da Convenção 182 – OIT, instrumento
internacional sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho In-
fantil que em 2020 alcançou ratificação universal, e da meta 8.7
dos ODS que diz respeito a eliminação do trabalho infantil até 2025.
Neste contexto, propõe uma reflexão sobre teoria e realidade das
Piores Formas de Trabalho Infantil, a partir do exemplo do Brasil.
78
te da empreitada colonial e continua presente no humanitarismo.
Acredita-se que a construção da representação ocidental da in-
fância e da criança esteve profundamente conectada ao processo
imperial de dominação, sobrevivendo hoje no sistema humanitá-
rio através da iconografia da infância nas propagandas de orga-
nizações humanitárias. O objetivo deste trabalho é problematizar
essas imagens de crianças não só como um instrumento para ar-
recadar recursos e doações, mas também como uma ferramen-
ta que carrega e perpetua uma representação das comunidades
do Sul Global como infantis. A pesquisa será realizada a partir
de uma revisão da bibliografia sobre o assunto, juntamente com
o exame de diretrizes de organizações humanitárias sobre o uso
da imagem em propagandas e uma entrevista semiestruturada.
79
Resumo: A presente monografia propõe uma análise histórica das
políticas migratórias estadunidenses pós-11 de setembro, com foco
na população latino-americana. Objetiva-se explicitar, historicamen-
te, a evolução das políticas administrativas para uma política es-
sencialmente carcerária, se tratando dos centros de detenção de
imigrantes na fronteira Estados Unidos-México. Foi realizada uma
pesquisa bibliográfica com base em documentações acadêmicas, re-
latos e notícias sobre o assunto. Os Estados Unidos são o principal
destino de migrantes latino-americanos, que buscam sair de seus
países em crise. Até hoje fazem um tipo de imigração selecionada,
buscando facilitar e/ou dificultar a migração de acordo com seus
interesses. Após os atentados de 11 de setembro de 2001 passou
a adotar um discurso antiimigração baseado na premissa da Segu-
rança Nacional. O endurecimento das políticas migratórias acarreta
no aumento da chamada “imigração ilegal” e nas deportações de
famílias que se estabeleceram “ilegalmente” nos Estados Unidos.
Pretende-se retratar a temática da imigração irregular inserida nos
ciclos de acumulação econômicos de Giovanni Arrighi. O assunto
não é retratado diretamente em sua obra, no entanto contribui
para analisarmos as políticas focadas nos campos de detenção de
imigrantes na fronteira Estados Unidos-México, ao privilegiar uma
abordagem das relações entre os interesses econômicos e políticos.
80
Através de uma análise bibliográfica e documental, o presente tra-
balho apresenta a questão do uso de crianças soldados na Libéria
mediante o estudo da situação do país durante as duas guerras civis,
o recrutamento, treinamento e uso de crianças e adolescentes pelos
beligerantes, seu papel na transição para a paz, e o tratamento que
lhes foi conferido pela justiça transicional. Como resultados, des-
prendem-se a má estruturação dos programas de desarmamento,
desmobilização, reabilitação e reintegração (DDRR), os quais não
conseguiram propor oportunidades educacionais e empregatícias de
qualidade para as crianças e os jovens, respectivamente, a rele-
gação da justiça transicional a um segundo plano e a dificuldade
em mesclar a responsabilização das crianças soldados por sua atu-
ação nos conflitos com a sua vulnerabilidade enquanto crianças.
81
e o CSNU. A partir das perguntas de pesquisa e da metodologia
empregada, o estudo discutiu proposições teóricas sobre a possi-
bilidade de os atores não estatais interferirem nas deliberações in-
tergovernamentais. Sugere-se que o enquadramento das ideias e
normas, a formação de coalizões e a mobilização por meio de redes
de advocacia criam estímulos que aumentam as chances de os ati-
vistas influenciarem as decisões dos Estados-membros do CSNU.
As conclusões desta tese permitem considerar, de um lado, a parti-
cipação das ONGs num espaço tradicionalmente fechado à sua pre-
sença e, de outro, o desenvolvimento do CSNU, com destaque às
adaptações que viabilizaram uma maior aproximação com as ONGs.
82
como série temporal o período compreendido entre 2000 e 2011,
tomamos como amostra os 193 países membros das Nações Unidas
e selecionamos como variáveis independentes: regime de gover-
no, tempo de democracia, novas democracias, região geográfica de
localização do país, indicador de tráfico humano, tipos de tráfico
humano e PIB per capita. Para a segunda dimensão, qualitativa,
fazemos uso do arcabouço da área de políticas públicas, sobretudo
os estudos relacionados ao processo de formação de agenda e o
Modelo de Fluxos Múltiplos, e mapeamos as políticas públicas re-
ferentes ao tema produzidas entre 2000 e os dias atuais no Brasil.
83
CRIANÇAS E (IN)SEGURANÇA: A CONSTRUÇÃO DE NAR-
RATIVAS SOBRE CRIANÇAS-SOLDADO NA AGENDA IN-
TERNACIONAL (GIOVANNA AYRES ARANTES DE PAIVA,
2020)
84
complexidades da(s) infância(s), seja como formulação conceitu-
al ou como experiências vividas. Diante desse cenário, argumen-
tamos que a criança, mesmo dependente, é um sujeito completo
e tem a mesma humanidade que um adulto; e que o campo de
estudos sobre a infância nas Relações Internacionais tem muito
a ganhar quando se descentraliza os conceitos universalizados de
“criança” e “infância” para ouvir novas contribuições ao debate. Ao
fugir do cartesiano e enxergar as possibilidades teórico-metodo-
lógicas para além da desconstrução da criança, propõe-se explo-
rar os portais que são abertos através desse diálogo que tangen-
cia as próprias teorias das Relações Internacionais, que é o portal
principal deste trabalho considerando o curso pelo qual foi feito.
85
gração de jovens e crianças, a literatura e algumas Organizações
Não Governamentais (ONGs) que atuaram no país percebem falhas
nesse processo. No entanto, é concluído que, apesar dessas lacu-
nas, Serra Leoa é um exemplo a ser aplicado a outros casos, dados
os resultados alcançados na reintegração das ex-crianças-soldado.
86
mentos (temporais e subjetivos) e superação. Desse modo, o ideal
para a reintegração social bem-sucedida das ex-crianças soldado
está inscrito na possibilidade de superação do passado militar e na
projeção de um futuro estável. Além disso, penso ser a relação des-
ta produção temporal entre passado militar traumático e futuro do
sujeito resiliente para ex-criança soldado que revela as construções
do entendimento de sua categoria no presente como em uma po-
sição de espera. Espera no sentido tanto de aguardo (da criança
que espera pertencer ao mundo adulto) quanto de esperança (da
ex-criança soldado que espera ser resiliente). De outro lado, ques-
tionando a produção do tempo como linear, junto com a relação,
essencialmente, opositora entre os discursos do trauma e da resili-
ência, pretendo refletir sobre as (des)continuidades temporais entre
a categoria (ex-) criança soldado, o envolvimento militar e o (pós-)
conflito, que marcam seus desenhos temporais difusos. Assim, o
parêntese que guarda o prefixo ex traduz uma forma de abranger
as múltiplas temporalidades que coexistem nas histórias e estórias
das (ex-) crianças soldado e bagunçam com a noção moderna da
infância e do conflito armado. A categoria (ex-) criança soldado e
sua posição temporal confusa, portanto, incomoda certos binaris-
mos, como: adulto e criança; guerra e paz; público e privado, etc.
87
AS VOZES DE EX-CRIANÇAS SOLDADO: REFLEXÕES
CRÍTICAS SOBRE O PROGRAMA DE DESARMAMENTO,
DESMOBILIZAÇÃO E REINTEGRAÇÃO DAS NAÇÕES UNI-
DAS (JANA TABAK, 2009)
88
AZEVEDO PEREIRA, 2019)
89
prática do casamento infantil. Metodologia é histórica, pois in-
vestiga os fatos ocorridos no passado para verificar sua influên-
cia na sociedade contemporânea e identificar a eficácia das leis
internacionais. Pesquisa se baseia nos relatórios internacionais,
pesquisa bibliográfica e dados. Abordagem é quanti-qualitativa.
90
tificar a legislação nacional que protege o acesso dos migrantes e
refugiados à rede de ensino e uma análise empírica da situação
dos jovens migrantes e refugiados em Uberlândia, tendo como base
os dados levantados pelo GEUCI- UFU, o Observatório NEPO - Uni-
camp e o Projeto de Cooperação para Análise das Decisões de Re-
fúgio. A Constituição Federal de 1988, a Lei nº 9.394/96, a Lei nº
9.474/97, a nova Lei de Migração 13.445/17 e a Resolução 1 de
13 de novembro de 2020 do Conselho Nacional de Educação, as-
seguram ao imigrante o acesso gratuito à educação, sem distinguir
a condição do imigrante, contudo, o Estado brasileiro não possui
políticas públicas que contribuam com a permanência e a integra-
ção dos imigrantes nas escolas. Sendo assim, a sociedade civil e as
instituições de ensino superior atuam de modo a suprir a ausência
de políticas e trabalham para incorporar nas escolas projetos peda-
gógicos que utilizam do ensino do português como língua de aco-
lhimento ao imigrante, e atividades multiculturais, que permitam
ao imigrante se identificar com o conteúdo ensinado e desencade-
ar uma troca de conhecimento entre os receptores e os externos.
91
como o Tribunal está atuando neste caso. Para a estruturação da
pesquisa que é de caráter básica utilizou-se o método descritivo,
quanto a abordagem do problema o método escolhido foi o qua-
litativo, e no que tange aos procedimentos do estudo o trabalho
tem caráter de pesquisa Bibliográfica, Documental e Estudo de
caso. Por fim, concluiu-se que a criação do Tribunal Penal Interna-
cional, trouxe grandes avanços perante o Direito Internacional e a
proteção internacional dos Direitos Humanos, principalmente pela
complementariedade que o mesmo oferece para or tribunais nacio-
nais, entretanto que por premissas que o próprio Estatuto de Roma
possuí, para realizar o julgamento de forma eficaz, ele se depara
com alguns problemas, o que pode levar o mesmo a se estender.
92
cionais sejam adotadas no país em um futuro próximo de maneira
a eliminar as queixas registradas por países estrangeiros acerca da
conduta brasileira frente ao sequestro internacional de menores.
93
absoluto e a absolvição do acusado. Hoje, amparado por sua imuni-
dade soberana, é chegada a hora de rever essa máxima. Este tra-
balho busca examinar se a Santa Sé e o Vaticano se enquadram nos
critérios para a condição de Estado soberano, propostos pelo tratado
de Montevidéu, bem como quais são as suas relações com a Organi-
zação das Nações Unidas, suas estruturas internas e seus sistemas
de julgamento, que não parecem punir os culpados, e, por fim, ques-
tionar se o Papa poderia ser acusado de crimes contra a humanida-
de, pelo acobertamento dos crimes sexuais cometidos pelo clero.
94
mente em nível mundial, seguido do crime em nível continental,
onde logo o crime será abordado pela ótica do mercado, e pos-
teriormente trará uma análise histórico-cultural sobre o tema. O
presente artigo foi construído utilizando o método dedutivo, com-
binado ao método bibliográfico e documental, inserindo-se na linha
de pesquisa intitulada Novos Agentes e Relações Internacionais.
95
A cooperação portuguesa através do projeto FDB, trouxe impactos
benéficos a sociedade guineense, contribuído para suprir a grave
carência de pessoal qualificado nas instituições do Estado guine-
ense. Hoje a FDB conta com um corpo docente maioritariamente
nacionais, formados na própria instituição, uma contribuição impor-
tantíssima, na estratégia de desenvolvimento e melhoria do quadro
institucionais do país. A cooperação educacional brasileira através
do PEC-G, contribui com um número elevado de recursos humanos
para a Guiné-Bissau. Por oferecer vagas em diferentes áreas do
conhecimento, estes quadros formados por esse programa, encon-
tram-se atuando nas mais diversas instituições do país. Em rela-
ção a Pós-graduação os dois projetos, tanto a portuguesa quanto
a Brasileira, continuam apresentando uma limitação aos estudan-
tes guineense, pelos dados apresentados, há um número irrisório
da participação dos guineenses nos programas de pós-graduação.
96
dos acordos junto ao campo doméstico para a formulação e imple-
mentação de políticas públicas de cuidados alternativos; trabalho
de interlocução e os desdobramentos das discussões realizadas no
âmbito doméstico nas negociações internacionais; processo de atu-
ação do negociador no ambiente doméstico para a elaboração de
políticas públicas e sua relação com as diretrizes internacionais. Per-
cebe-se que há grandes similaridades nos ordenamentos jurídicos
em ambos os níveis devido ao fato de que os negociadores brasilei-
ros se apresentaram de forma ativa e protagônica, desempenhando
um papel de destaque no processo de construção das normativas
internacionais. Serão considerados três momentos chave distintos
para análise: 1) aprovação da Convenção Internacional sobre os
Direitos da Criança (1989) e promulgação da Lei Federal 8.069 -
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990); 2) Realização do 1º
Colóquio Internacional sobre Acolhimento Familiar (2004) e a deli-
beração do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direi-
to de Crianças e Adolescentes a Convivência Familiar e Comunitária
(2006); 3) Aprovação das Diretrizes sobre Cuidados Alternativos
(2009) e promulgação da Lei 12.010 - Nova Lei de Adoção (2009).
97
trizes e Bases da Educação, a qual originou o Plano Nacional de
Educação de 2001. Assim, após um breve ensaio histórico acerca
da educação brasileira, abordar-se-á o conceito de Regimes Inter-
nacionais e a questão da efetividade para então se verificar a efe-
tividade da UNESCO com relação à Declaração de Dakar e assim
entender os resultados do Plano Nacional de Educação de 2001.
98
9.
Cadastro
para o banco
de dados de
trabalhos
99
Com o intuito de criar um banco de dados com
todos os trabalhos sobre Infância em Relações In-
ternacionais, criamos este formulário: https://docs.
google.com/forms/d/1ehryKMxOg6FHaNGVl5jupU-
LOGTDzFtkoIDRC8bl0sM/edit. Caso seu TCC, mono-
grafia, dissertação ou tese não tenham sido citados
no anexo, pedimos que preencham este formulário
para que possamos, no futuro, realizar um novo rela-
tório com números mais atualizados. Quaisquer dú-
vidas, nos escreva: <geiribrasil2021@gmail.com>.
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