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10/02/2023 13:17 ChatGPT: como encarar o desafio de evitar fraudes que possam usar o chat de inteligência artificial

‘Talento’ do ChatGPT força


pesquisadores a buscar antídoto
contra inteligência artificial
Foto: Fabrice Coffrini/AFP

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 Ouvir: como encarar o des 0:00

Tentar descobrir quando o sistema escreve é quase impossível, mas surgem iniciativas para tentar
reverter

Por Bruno Romani


10/02/2023 | 10h00
Atualização: 10/02/2023 | 10h38

Nas últimas semanas, o ChatGPT transformou o tema da inteligência


artificial (IA) em conversa de mesa de bar. A ferramenta da OpenAI
rompeu a bolha tecnológica ao conseguir produzir textos bem
organizados e trazer informações sobre assuntos diversos. Porém, da
mesma maneira que impressionou, o sistema levantou preocupações
sobre como a máquina pode nos enganar com facilidade - e gerou uma
corrida por um “antídoto”, algo que possa detectar quando um texto
foi escrito por uma IA.

Treinada com 175 bilhões de parâmetros (representações


matemáticas de padrões e tipos de texto), a IA por trás do ChatGPT é
capaz de produzir discursos de casamento, e-mails corporativos, listas
de organização, poemas malucos e código de computação. O sistema,
porém, também consegue escrever trabalhos acadêmicos, artigos
científicos, projetos de pesquisa, currículos falsos e mensagens que
emulam o estilo de escrita de pessoas notáveis.

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Google responde ao sucesso do ChatGPT e


lança o Bard; conheça

As possibilidades de mau uso são variadas. Imagine um currículo


criado pela máquina que inclui habilidades que o candidato não tem (e
de difícil comprovação na entrevista de contratação). Ou, em um
cenário extremo, torna-se real a possibilidade de um pesquisador
ganhar uma bolsa de pesquisa a partir de um projeto gerado pela
máquina - não à toa, a revista Nature publicou um editorial no qual
chama o ChatGPT de ameaça para a ciência transparente.

Apesar de “criativo”, o ChatGPT também não está isento de plágio.


Como é impossível determinar a origem dos dados que permitem ao
sistema escrever bem, também é bastante difícil determinar se ele
transcreve trechos inteiros ou se reproduz estruturas de artigos.
Acusações de plágio por máquinas são comuns em relação a sistemas
que geram imagens a partir de comandos de textos. A OpenAI está
também no centro desse problema, pois a startup é dona do DALL-E 2,
IA “ilustradora” acusada de copiar o estilo de artistas visuais.

Uma das primeiras iniciativas para tentar detectar se um texto foi


gerado pelo ChatGPT surgiu já em dezembro pelas mãos de um
estudante da Universidade Princeton. Edward Tian, 22, desenvolveu
uma ferramenta chamada GPTZero, que analisa textos e aponta suas
chances de terem sido escritos por uma IA. O serviço gratuito usa o
próprio ChatGPT para fazer a detecção e mede a “aleatoriedade de
sentenças” (ou seja, a escolha pouco comum de palavras em uma
frase) e o “agrupamento dessas aleatoriedades” (volume de frases
escritas com palavras pouco comuns). O texto fica próximo de ser
classificado como “escrito por humano” quando reúne um grande
volume de frases escritas com palavras pouco óbvias.

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Sam Altman, CEO da OpenAI, startup dona do ChatGPT  Foto: Stephen Brashear/ AP

Pressionada por supostamente lançar ao público uma ferramenta tão


poderosa sem os devidos cuidados, a OpenAI lançou no final de
janeiro o seu próprio detector - ele também classifica os resultados
entre “muito pouco provável” e “provável” que o material tenha sido
gerado pela máquina. Mas a companhia fez ressalvas: o sistema
funciona com textos a partir de mil caracteres, não enxerga diferenças
em códigos de computação e tem maior eficiência em inglês. A julgar
pelos primeiros resultados, a ferramenta é desanimadora.

Segundo os próprios criadores, a ferramenta foi capaz de identificar


apenas 26% dos textos criados por máquinas nos primeiros testes. A
baixa efetividade existe mesmo após o detector ter sido treinado com
textos escritos por 34 sistemas diferentes de cinco organizações
diferentes. É um problema que está longe de ser resolvido.

A detecção de comparar texto com texto não funciona, porque o


ChatGPT não está apenas copiando. Estamos falando de síntese
de texto. Encontrar a síntese é muito difícil
Fernando Osório, professor da USP São Carlos

“Atualmente, a detecção de textos criados por IA beira ao impossível”,


diz Fernando Osório, professor da USP São Carlos. “A detecção de
comparar texto com texto não funciona, porque o ChatGPT não está
apenas copiando. Estamos falando de síntese de texto. Encontrar a

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síntese é muito difícil”, diz. Isso significa que ferramentas tradicionais


usadas em universidades para detecção de plágio mal nasceram e já se
tornaram obsoletas.

Marca d’água para detectar texto


Uma das alternativas estudada por pesquisadores a fim de facilitar a
identificação é uma espécie de “marca d’água”: uma anotação digital
aplicada, invisível aos olhos das pessoas, a ser aplicada em todos os
textos gerados pelos sistemas.

Criado por pesquisadores da Universidade de Maryland (EUA), o


algoritmo de marca d’água tem funcionamento simples. Ele divide
aleatoriamente em dois grupos as palavras dentro de um modelo de
linguagem: um com palavras “permitidas” e outro com “bloqueadas”. A
partir disso, o modelo de linguagem seria direcionado a compor frases
com mais palavras “permitidas”. Então, os detectores passam a olhar
para a quantidade da presença de palavras permitidas em um texto.

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“O problema desse processo é que ele pode engessar a sofisticação na


produção de texto”, afirma Diogo Cortiz, professor da PUC-SP.

O problema de marcas d’água é que elas podem engessar a


sofisticação na produção de texto
Diogo Cortiz, professor da PUC-SP.

Há outra limitação importante. Para funcionar, a OpenAI teria que


inserir o algoritmo de marca d’água dentro do GPT-3, o cérebro do
ChatGPT. É uma possibilidade que parece pequena no momento.

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Os pesquisadores de Maryland testaram o algoritmo no OPT-6.7B,


modelo de linguagem disponibilizado publicamente pela Meta
(empresa-mãe do Facebook). Não é possível saber também se o
algoritmo funcionaria bem em um modelo diferente.

Combate na web
Outro movimento que está surgindo para tentar frear a capacidade de
IAs escritoras é atrapalhar o treinamento delas. Os grandes modelos
de linguagem aprendem “lendo” informações de sites e redes sociais,
como a Wikipédia, o StackOverflow e o Reddit. É possível, porém,
proibir que sistemas automáticos encontrem essas páginas - isso é
feito uma simples alteração no arquivo “robot.txt”.

Novamente, o problema é de implementação: seria necessário que


grandes sites, como a Wikipédia, ativassem o recurso para reduzir a
qualidade do texto das máquinas. Ao optar por ativar a configuração,
os sites ficariam invisíveis também a sistemas de anúncios
publicitários automáticos, o que tem impacto econômico aos
proprietários dessas páginas.

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Outra opção olhada por ativistas é exigir de empresas donas de


grandes modelos de linguagem a obtenção de autorização expressa
para a utilização das informações.

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Professores na Suíça participam de treinamento sobre o ChatGPT  Foto: Fabrice


COFFRINI / AFP

Soluções a curto prazo


Mesmo que detectores, vestígios digitais e outras soluções evoluam,
os especialistas acreditam que estamos diante de uma caça de gato e
rato, pois a tendência é que as IAs que geram textos tendem a ficar
ainda mais sofisticadas - a OpenAI já trabalha na próxima geração do
cérebro do ChatGPT, o GPT-4.

Então, a briga será por transparência - há quem entenda que as


próprias startups por trás desses sistemas encontrem maneiras não
apenas de identificar quando suas máquinas produziram, mas também
indicar as fontes de onde as informações vieram.

ChatGPT: veja o que o é capaz de criar

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A boa notícia para os brasileiros é que o ChatGPT não funciona tão


bem em português - ao menos por enquanto. Faltam a ele gírias e
expressões, além de contexto de cultura local. Tudo isso pode ajudar a
“dedurar” textos artificiais.

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Pode ser também que a máquina force mais contato entre os


humanos. “Isso muda como avaliadores de projetos, contratantes e
professores terão que lidar com aquilo que é apresentado. O
elemento pessoal ganha força, mas nem sempre é possível fazer isso”,
diz Osório. “Acho que estamos diante de um cenário caótico”, afirma.

“A OpenAI apressou o passo e deixou a gente para lidar com os


problemas depois”, diz Cortiz.

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