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na Amazônia colon
Da cura da a
À cura do co
(1707-1
1750)
CLAUDIA ROCHA DE SOUSA
Universidade Federal do Pará, Brasil
363
Sousa, C. R. de
Endereço da autora para correspondência: Passagem Bom Jesus, 17. Bairro Terra
Firme. CEP 66077-070, Belém, PA. E-mail: claudiarochahistoria@hotmail.com
propagar com “malícia diabólica, afim sez de alimentos que se espalhou pelas
de alastrar a peste entre os selvagens e, missões, e que além das doenças e da
por meio della, votar á mais cruel das fome os índios ainda sofriam com a
mortes uma população ingenua” (Mar- constante busca dos portugueses e es-
tius [1844] 1939: 98). panhóis pela sua captura para utilizá-los
como mão-de-obra escrava. Sendo assim,
De acordo com Ronald Raminelli,
a autora ressalta que as doenças infecciosas e
análises feitas em esqueletos de ín-
o aprisionamento dos nativos foram as prin-
dios pós-contato evidenciaram fortes
cipais causas da depopulação dos índios.
vestígios de “patologias e debilidades”,
em comparação a ossadas datadas de A elevada mortandade resultou em ver-
períodos anteriores, demonstrando as- dadeiro pavor por parte dos índios em se
sim que a “conquista, portanto, acelerou contaminarem com as doenças, fugindo
o processo de destruição das comu- para o mais longe que podiam para escapar
nidades indígenas na Amazônia”. deste “mal contagioso” (Carta de João
Essa perspectiva avigora-se pelo fato da Maia da Gama, 10 set. 1726) porque,
de que os índios, ao serem reunidos como alertava o governador do Mara-
nas aldeias missionárias, entravam em nhão e Grão-Pará, João Maia da Gama,
contato com europeus e africanos, a “morte dos escravos [índios] contami-
contaminando-se assim com “agentes nados é considerada certa”3 (Carta de
patológicos” desconhecidos; os aldea- João da Maia da Gama, 13 set. 1726).
mentos, no entanto, não foram a única A baixa demográfica da população in-
forma de alastramento dessas doenças, dígena, trouxe vários transtornos para
haja vista que as epidemias se espalha- os moradores da região amazônica,
vam pelo território “seguindo os pas- dada a importância da mão-de-obra
sos do colonizador” (Raminelli 1988: indígena, pois sem trabalhadores viam-
1361-1363). se em dificuldades. Para solucionar es-
ses problemas escreviam cartas ao rei
Outro fator explicativo para a intensa
solicitando permissão para realizarem
mortandade dos índios em períodos
descimentos dos índios do sertão,4 ou
epidêmicos, segundo Raminelli (1988),
que fossem enviados navios de escra-
era consequência do fato de que os in-
vos africanos (Barbosa 2009; Cham-
dígenas residentes nas aldeias “trabalhavam
bouleyron et al. 2011: 993-98), que na
mais do que comiam, faziam jejuns
mentalidade predominante da época
forçados ou ingeriam apenas farinha
seriam mais resistentes às doenças do
de mandioca e água”, sendo assim, a
que os índios.
falta de alimentação enfraquecia-os fa-
cilitando o contágio das doenças e fa- A recorrência das epidemias de varíola
zendo da Amazônia uma região em que no Estado do Maranhão e Grão-Pará
as epidemias e a carência de trabalhadores causavam grandes estragos, culmi-
fosse constante. Maria Leonia Resende nando assim na urgência de práticas
(2003), por sua vez, afirma que dentre de cura eficazes para solucionar os
os efeitos das epidemias havia a escas- problemas. Em meio a essa terrível
ram com a doença; dessa forma, aos cioso veneno para seu sangue. Na
poucos o contágio se estendeu por língua tupi é chamada – Mereba-ayba
toda a cidade. Para agravar a situação, = doença maligna” (Martius [1844]
os índios doentes deixados na aldeia 1939: 98).
de Caeté “infeccionaram e atearam o Esse medo da varíola, segundo Luís
contágio na dita aldeia”; os que ficaram Camargo, em trabalho sobre a capita-
em Maracanã acabaram por alastrar a nia de São Paulo, fazia com que “frente
contaminação “que levou logo oitenta ao pavor causado pela doença” acon-
e tantas pessoas fora dois que se não tecessem muitos casos de índios que
sabia e morreram no mato para onde “abandonavam seus companheiros
fugiram”. atacados e fugiam espavoridos, dando
Ainda segundo o relato de João da grandes voltas nas matas para despistar
Gama, essas fugas ocasionaram o con- o demônio da varíola”. Camargo tam-
tágio nas dez ou doze aldeias circun- bém afirma que em decorrência dos
vizinhas da capitania do Pará, “onde frequentes surtos de varíola, o pavor
morreram muitos, e se despovoaram era tão elevado na população a ponto
todas”; segundo ele alguns dos que de que a simples menção de seu nome
fugiam para o mato se livravam da causava apreensão, pois “era este um
doença, porém os que escapavam já nome maldito e que causava muita an-
“feridos do contágio” acabavam mor- gústia” (Camargo 2007: 1).
rendo. Dessa forma, percebe-se a par- Martius igualmente relatou sobre esse
tir das notícias dessas fugas, o temor pavor dos índios para com a varíola,
dos índios em se contaminar com a referindo-se a um caso que ocorreu
varíola (Carta de João Maia da Gama, 2 durante uma viagem do governador
set. 1725). As fugas dos indígenas em do Estado do Grão-Pará, Mendonça
período epidêmico eram algo constan- Furtado; segundo o relato, a bordo
te, devido ao medo do contágio, levan- do navio que conduzia o governador
do os indígenas a se deslocarem para o do Pará a Macapá surgiu a notícia de
sertão ou para as aldeias vizinhas. um “varioloso”; o medo dos índios
Temor esse também observado num remeiros foi tão elevado que se joga-
relato apresentado por Martius no iní- ram “em alto mar e, a nado, preferiam
cio do século XIX, em sua obra sobre alcançar as praias, a tentar ficar em
as doenças dos índios brasileiros companhia dos brancos”, afirmou que
alguns índios ao “terem a notícia da
“a varíola era completamente
erupção da epidemia, não fogem de
desconhecida pelos índios, antes
do povoamento português. Agora,
casa para o esconderijo distante, em
porém, com a mais tremenda rapi- caminho reto, porém fazem toda sorte
dez e desumanas consequências, se de voltas, imaginando deste modo, es-
alastra até aos mais remotos ermos, capar ao inimigo perseguidor” (Mar-
e cada tribo conhece e teme essa tius [1844] 1939: 99).
doença, como se fora o mais perni-
No tocante às explicações para a ocor-
rência dos surtos, era recorrente con- doença do que os índios nascidos en-
siderá-los como castigos divinos; nos tre os portugueses, ou os que moravam
anos 1720, a epidemia era considerada nas missões havia tempo. Por outro
por alguns como consequência dos lado, escrevia, alguns hábitos dos ín-
maus tratos que os portugueses infli- dios “bravos” favoreciam o contato
giam a seus escravos. O ouvidor Borges com as doenças, como o costume de se
Valério afirmava que “quis a mão de pintarem de urucum, jenipapo, e de di-
Deus castigá-los [aos moradores] com versos óleos, que com o uso repetitivo,
o terrível contágio de bexigas” (Carta obstruía-lhes os poros resultando em
de José Borges Valério, 8 set. 1725). Já chagas mais intensas (La Condamine
o governador Maia da Gama escrevia 2000:113-114).
que “quis Deus mostrar, a igualdade de
Sobre o surgimento do contágio de
sua justiça tirando os miseráveis índios
1743, o governador Francisco Pedro de
do injusto cativeiro, levando os para a sua
Mendonça Gurjão relatava ao rei que a
[Santa] Glória e castigando como Pai mi-
contaminação na capitania do Pará inici-
sericordioso aos injustos senhores” (Car-
ara por meio do contato com os índios
ta de João Maia da Gama, 2 set. 1725).
tirados dos sertões do Rio Negro; teria
a doença durado três anos, com grande
mortandade “tanto de índios, como mes-
DÉCADA DE 1740: A “PESTE MAIS
tiços e alguns brancos nacionais”. Infor-
TEMEROSA”
mava ainda que no ano em que chegara
O primeiro relato sobre a epidemia da ao Estado, 1747, continuavam as queixas
década de 1740 foi uma carta do gover- das mortes, embora em menor número.
nador José de Abreu Castelo Branco Entretanto, em novembro de 1748, es-
para o secretário do Maranhão e Ultra- tando na cidade de São Luís, o governa-
mar, na qual relatava que desde agosto dor teve avisos de que chegaram ao Pará
de 1743 a capitania do Pará e todos os moradores que viajaram ao sertão para a
seus distritos padeciam de uma “grande colheita das drogas, de onde trouxeram
mortandade” pelo contágio de bexi- um “novo mal contagioso”. Depois de
gas; o estrago fora tanto que resultou entrarem em contato com as “aldeias
numa fuga das aldeias, onde um número domesticadas” ao longo do Amazonas,
elevado de indígenas morrera. O gover- “contaminou a esta cidade e suas capita-
nador informava também que, em fins nias” (Carta de Francisco Pedro de Men-
de 1744, a doença encontrava-se quase donça Gurjão, 26 abr. 1749). Este “novo
extinta (Carta de José de Abreu de Cas- mal” tratava-se, segundo Antônio Baena,
telo Branco, 30 nov. 1744). de uma epidemia de sarampo (Baena
Em viagem pelo Amazonas naquela al- 1838: 228-229).
tura, Charles-Marie de La Condamine Francisco Gurjão escrevia ainda que,
esclarecia que os “índios recém-vindos ao retornar ao Pará, em janeiro de
dos bosques para as missões” eram 1749, recebeu o relato da situação a
afetados com maior gravidade pela que se achava “reduzida” não somente
para que fossem destinados a países social estava abalado”, pois os padres
de missões; no entanto, era provável realmente disputavam o seu “lugar
que se tornassem habilitados a esses sagrado”, exercendo verdadeiro des-
serviços por meio da própria prática, lumbramento nos índios convertidos,
em vista da penúria constante dessa e para resistir a essa ameaça, tentavam
atividade, tornando-os capacitados a desacreditá-los (Resende 2003: 260).
exercê-la. Em regra, os médicos do
Segundo Maria Leônia Resende, os pa-
Colégio eram profissionais externos
dres associaram os pajés à função de
que prestavam seus serviços por amizade
“ministros do demônio” e “inimigos
ou mediante pagamento (Leite 1952:
do cristianismo”; essa visão por parte
386-4003).
dos religiosos, refletia, no entanto, que
Segundo o padre Serafim Leite, a Com- pelo papel que exerciam entre os in-
panhia determinava que todas as aldeias dígenas, os “feiticeiros” foram o “es-
indígenas dispusessem de enfermaria e, teio da resistência indígena à presença
em caso de não havê-las, deveria existir jesuítica” (Resende 2003: 244). Fator
algum padre com medicamentos para esse reafirmado por Daniela Calainho,
os índios enfermos, ficando aos irmãos que afirma que os inacianos objeti-
enfermeiros a tarefa de prestar os pri- vavam desmascarar os pajés, porque
meiros socorros de acordo com a sua eles eram os detentores do saber nas
aptidão, enquanto não se recorria ao comunidades indígenas e o alicerce
médico ou cirurgião, caso houvesse es- da resistência à conversão dos índios,
ses profissionais pelas proximidades das sendo necessário mostrar os seus “em-
aldeias (Leite 1952: 387). bustes e falsidades”, apresentá-los como
instrumento demoníaco e convertê-los,
Para além disso, tem-se outro aspecto
para que dessa forma o “verdadeiro
importante apresentado no artigo de
e único” saber de Deus prevalecesse
Maria Leônia Resende, que é sobre a
(Calainho 2005: 73).
disputa existente entre os pajés e os pa-
dres jesuítas; de fato, uma vez que am- Todavia, deve-se observar que os mis-
bos possuíam o papel de “instrutores” sionários tiveram que se “amoldar ao
espirituais e entendedores das práticas novo contexto”, e ao socorrer os en-
medicinais, tal situação culminaria em fermos, agora não somente no aspecto
verdadeiro conflito, em que os pajés espiritual; os religiosos, assim, pas-
muitas vezes acusavam os padres de saram a utilizar-se de práticas que eram
serem os causadores das doenças – o habituais aos pajés, resultando assim
que não estaria distante da verdade, na crença, por parte dos indígenas de
pois, de fato, foi através do contato que os padres assumiram o “papel da
com o europeu que vieram muitas pa- pajelança” (Resende 2003: 255). Deve-
tologias –, e incentivavam os nativos se ressaltar que os padres aprenderam,
a fugirem dos religiosos se quisessem através da convivência, muitas das
continuar vivos. Isso demonstrava que práticas curativas dos índios, então por
os pajés perceberam que o seu “espaço que eles também não passaram a ser
tes”, e depois de estarem bem fervidas, cavalo frescas, ou se são secas, (…) se
sentava-se o doente em uma cadeira borrifam com água, e se fritam: depois
furada e com pouca roupa, para que ao de bem fritas, se espalmam em em-
ser exposto ao calor fosse expelindo plasto sobre a parte lesa com todo o
o suor, e depois de alguns minutos, calor”, e após alguns minutos “experi-
acrescentava-se alguns “ladrilhos” já mentará o bom efeito livre totalmente
“vermelhos em brasa”, na panela para das dores, e se ainda fica alguma febre,
conservar o calor. O padre afirma que já facilmente se cura com a sangria8”
o “suor é tanto que ainda depois de (Daniel 2004: 383).
abafados na cama, suam e tressuam os
Portanto, o padre João Daniel destaca
constipados” (Daniel 2004: 381).
que, nas várias moléstias que gras-
Outra doença apresentada pelo jesuíta savam nas colônias portuguesas, as
são os catarros, que seriam mortais principais técnicas de cura eram ad-
quando eram muito fortes (denomina- vindas dos próprios recursos naturais,
dos de catarrões), afirmando que em “porque nas suas muitas ervas, raízes
algumas localidades poderiam se tor- e arbustos têm os americanos boticas
nar epidêmicos levando muita gente a bem providas” (Daniel 2004: 383).
morte. Entre suas formas de cura havia
os sudoríferos, os xaropes, aguardente
queimada, chá ordinário, café e outras DA VARIOLIZAÇÃO À SANGRIA
ervas sudoríferas, sobressaindo-se a De acordo com La Condamine uma
raiz de pajé merioba, que teria efeito maneira de ter evitado as trágicas con-
superior ao chá de violas, o chá de pi- sequências da varíola no ano de 1743,
menta cozida, cebolas, e outras boticas. seria a utilização da variolização dos
O padre João Daniel ressalta que o índios cativos, procedimento que já
catarro poderia degenerar em “es- seria utilizado com sucesso na região
quinências, garrotilhos ou pleurises”, por um missionário carmelita, do qual
sendo necessário usar o alcaçuz e o ele não informa o nome; de acordo
seu extrato para as tosses secas, além com a transcrição da Memoria dos mais
de gargarejo, tomar xaropes; no caso temiveis contagios de bexigas e sarampo d’este
da esquinência havia a raiz do alcaçuz Estado desde o anno de 1720 por diante, de
bravo, que por seus excelentes efeitos autoria do tenente coronel Teodósio
era chamada de raiz da esquinência; Constantino de Chermont (Chermont
para o garrotilho e pleuris, “tão difícil 1885: 28-30) e da pesquisa da historia-
de curar, e perigoso, apontarei aqui dora Magali Sá, esse religioso seria o
um remédio caseiro, tanto mais eficaz, frei carmelita José Madalena que nas
quanto mais fácil”, que de acordo com palavras desta autora foi o “primeiro
o jesuíta foi confirmado por um mis- a utilizar a técnica de variolização na
sionário do Amazonas que “por vezes Amazônia durante um surto de varíola
o experimentou com bom sucesso”; que irrompera na região na década de
esse remédio seria “umas castanhas de 1720, salvando inúmeros índios” (Sá
balhadores não poderiam pagar os dízi- tanto sociais, quanto econômicos. En-
mos a Fazenda Real, o que acarretaria fim, como lembrou Arthur Vianna,
prejuízos para o governo. as epidemias modificaram “estruturas
de governos, causaram devastações
Os governadores também queixavam-
graves, influenciaram no desenvolvi-
se das epidemias, relatavam a elevada
mento econômico de regiões” e “con-
mortandade, e a difícil situação pela
tribuíram para a dispersão dos povos”
qual passava o Estado; exemplo disso
(Vianna 1975 [1908]: 9).
pode ser visto por meio da carta es-
crita pelo governador Francisco Pedro
de Mendonça Gurjão ao rei, sobre a
AGRADECIMENTOS
epidemia ocorrida em 1749, na qual
o governante afirma ter encontrado a Ao professor Dr. Rafael Chambouleyron
cidade de Belém quase despovoada e que orientou minha monografia de con-
clusão de curso na graduação em História
passando por uma grande “penúria” de
pela UFPa intitulado de: “O ‘lastimoso castigo
mantimentos (Carta de Francisco Pe- e fatal estrago’ das epidemias no Estado do Ma-
dro de Mendonça Gurjão, 26 abr. 1749). ranhão e Grão-Pará na primeira metade do sé-
Os religiosos igualmente queixavam-se culo XVIII”, da qual se originou este artigo
dos infortúnios provocados pelas epi- (Sousa 2011). À CAPES, pela concessão de
demias, pela carência de índios nos bolsa de mestrado pelo Programa de Pós
conventos e a falta de trabalhadores Graduação em História Social da Amazô-
para dar prosseguimento às obras de nia (PPGH) da Universidade Federal do
construção da Igreja da Sé, em Belém Pará (UFPA).
(Sobre a necessidade de finalização da
obra da casa do Bispo, 4 fev. 1727).9
NOTAS
Segundo Crosby as epidemias teriam os se- 1
De acordo com Chambouleyron
guintes efeitos: causavam impacto extremo,
(2010:15) o Estado do Maranhão e Grão
com casos mortais; quase todos expos- Pará “corresponde em boa parte aos con-
tos adoecem, resultando em um índice de tornos atuais da Amazônia brasileira. Em
mortalidade que equivale ao da população; finais do século XVII e princípios do sé-
poucas pessoas tem condições de cuidar culo XVIII, compreendia várias capitanias
dos doentes o que causa a morte de pessoas reais – Pará, Maranhão, Piauí – e algumas
que sobreviveriam se tivessem tratamento capitanias privadas – Tapuitapera, Caeté,
adequado; não tem quem cultive, plante ou Cametá e Ilha Grande de Joanes”.
cuide dos animais (Crosby [1986] 2002: 90- 2
O viajante francês Charles-Marie de La
91), dessa forma todo o grupo é afetado, Condamine, que esteve em Belém no ano
o que explica os problemas causados pelas de 1743, relata em sua obra ter ficado im-
epidemias. possibilitado de seguir viagem, pois teve
“dificuldade de formar equipagem de re-
Portanto, torna-se perceptível que os madores”, uma vez que as “bexigas faziam
períodos epidêmicos exigiram uma re- então um grande estrago, e os índios na
ordenação do Estado do Maranhão e maior parte se refugiaram nas aldeias cir-
Grão-Pará, para minimizar os prejuízos, cunvizinhas.” (La Condamine [1745] 2000:
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Fontes Manuscritas
Arquivo Histórico Ultramarino10
Carta da Câmara de Belém ao rei. Belém,