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GOIÂNIA
2022
DANILLO DE NERY FERNANDES
GOIÂNIA
2022
DANILLO DE NERY FERNANDES
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Orientador: Prof. Me. Ernesto Martim S. Dunck
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Examinador Convidado: Enzo de Lisita
AGRADECIMENTOS
RESUMO ................................................................................................................... 15
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 27
ABSTRACT............................................................................................................... 28
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 28
O HIP HOP E O RAP COMO INSTRUMENTO DISSEMINADOR DE
CONHECIMENTOS CONSTITUCIONAIS DO ARTIGO 5°, INCISO IX e XLI E
ARTIGO 6º PARA AS PESSOAS MARGINALIZADAS
RESUMO
O presente artigo científico tem como objetivo estudar se o gênero musical hip
hop e rap influencia na disseminação de alguns dos conhecimentos
constitucionais do artigo 5° da Constituição Federal sobre a dignidade humana.
Sabe-se que grande parte da população hipossuficiente financeiramente no
Brasil, não tem acesso à educação de qualidade e isso gera o fato de não
desenvolverem senso crítico para questionar seus direitos e deveres. Devido a
este déficit, a chance de se tornarem cidadãos alienados e passivos de
qualquer injustiça social é maior. Pensando neste raciocínio, é possível que as
letras das músicas de grandes nomes do hip hop e rap pode servir de ponte
para esses ensinamentos? É possível que esse gênero musical seja uma
provável ferramenta educacional de conscientização? A resposta que se impõe
é que a cultura informa, se adequando à linguagem do contexto na qual está
inserida e chega a onde o “juridiquês” e o livro da Carta Magna não chega.
1
Acadêmico do Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
danillonery@gmail.com
INTRODUÇÃO
Com o passar dos anos, ainda assim, em 1891, foi feita a segunda
constituição do Brasil chamada de Constituição da República dos Estados Unidos do
Brasil, que teve sua permanência até o ano de 1930. Mesmo depois desse tempo,
com algumas reformas, não houve menção da palavra ‘’cultura’’.
Após outras edições constitucionais e reformas que acompanharam os
costumes e pensamentos presidenciais da época, foi que se teve a
redemocratização do Estado brasileiro, que foi promulgada no dia 05 de outubro de
1988, a Constituição da República Federativa do Brasil, inclusive revolucionária para
o campo da cultura. Incentivado pela pressão da classe cultural e das classes
populares, esta edição da Carta Magna procurou assegurar a todos cidadãos o
pleno exercício dos direitos culturais.
De fato, no que tange à cultura este texto constitucional é elogiado em muitos
países pela forma democrática pelo tratamento dado à cultura nacional. Em seu art.
215, caput, expressa visivelmente sua posição: “O Estado garantirá a todos o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e
incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.
Uma grande novidade trazida pela Carta Cidadã de 1988 foi a proteção e
valorização com respaldo legal da cultura indígena e africana até então esquecida e
marginalizada.
Do hip hop nasceu o rap que em inglês significa rhythm and poetry, em
tradução livre ritmo e poesia. É possível dizer que o Rap, é a forma encontrada pela
população hipossuficiente para relatar, de forma rítmica ritmada e cantada, o que se
passa no dia-a-dia dos setores com maior déficit financeiro e de menos recursos,
com problemas principalmente estruturais das grandes cidades.
Os problemas que muitas vezes eram pouco falados e questões sociais
que ninguém mais se interessava em abordar, de uma forma direta, com linguagem
acessível e critica, foram tomando forma no rap. Esse pilar do movimento é o da
musicalidade, onde os pretos, pobres e revoltados com a sociedade se expressam
rimando ao som da base do DJ (outro personagem dessa revolução cultural).
As letras possuem o conteúdo de indignação com a realidade vivida pelos
autores fazendo críticas ao sistema. Sua importância na sociedade era transmitir
informação a fim de conscientizar as comunidades periféricas para a luta contra os
preconceitos e as injustiças.
O rap designa, assim, a voz de um grupo que se reconhece
marginalizado e menosprezado pelo sistema, porém luta e tenta de alguma forma
ser notado. Desde aquela época e até hoje, inúmeros artistas se destacaram como
rappers. Muitos nomes são emblemáticos, como NWA, Snoop Dogg, LL Cool J e
Tupac.
No âmbito nacional o rap só vai surgir por volta do ano de 1986, mais
especificamente na cidade de São Paulo. Em meados dos anos 80, o rap não era
bem-vindo aos ouvidos da maioria das pessoas, pois era considerado um estilo
musical muito violento e típico da periferia.
Após 10 anos, na década de 90, que o gênero vai ganhar força e atenção
da mídia e imprensa, com as rádios e a indústria fonográfica, que passa a dar mais
atenção a este novo estilo de música. Os primeiros rappers a terem sucesso foram o
DJ Hum e Thayde. Depois deles vieram nomes como Racionais MCs, Facção
Central, Detentos do Rap, Xis & Dentinho, Gabriel, O Pensador e Sabotage, que até
hoje é uma referência incontestada.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes. [...]
4. POSSÍVEL COLABORAÇÃO DO HIP HOP E DO RAP NA DEMOCRATIZAÇÃO
DOS CONHECIMENTOS DE DIREITOS CONSTITUCIONAIS
Sem o Rap, acho que nada do que eu vivo, e nada do que eu passei
enquanto ser humano, em relação a transformação de pensamento,
vivência e de postura, nada disso teria acontecido, tá ligado! O Rap mudou
minha visão de mundo, abriu minha cabeça para busca de conhecimento,
para o autoconhecimento. Então, devo muito da minha vida a essa cultura.
Esses versos evidenciam uma reflexão por parte do músico que, o estudo
sobre os direitos e antropologia são capazes de gerar um senso crítico necessário
para essa população considerada menos valorizada. Assim, de acordo com
Rodrigues e Grubba (2011, p. 3):
Para sustentar a tese apresentada, foi realizada uma entrevista com Felipe
Moreno, ex fotógrafo do Thaíde, um dos primeiros rappers do Brasil (São Paulo-SP).
Pergunta: Qual a sua história e como foi o início da relação com o Thaíde?
Meu nome é Felipe Moreno, sou nascido e criado no Interior de São Paulo em uma
cidade chamada Bauru (cidade conhecida pelo Sanduíche), nas ido na década de 90
o Hip-hop entrou em minha vida desde que me entendo por gente, a cultura em sua
essência sempre foi um protesto contra a desigualdade social, Racismo e etc.Thaíde
foi um dos primeiros contatos meu que tive com o Rap Nacional, juntamente com ele
NDee Naldinho e Racionais MC. Porém Thaíde foi o precursor de toda a cena do
Rap no Brasil, no estilo Musical do Canto Falado, Thaíde oficialmente foi o Pioneiro
juntamente com seu companheiro na época o DJ Hum. Tudo começou em São
Paulo, Capital, mais especificamente na São Bento, onde pessoas de classe média-
baixa se encontravam para dançar e de certa forma protestar, pois um dos
elementos do Hip-hop é o BreakDance, onde o próprio Thaide tinha uma equipe de
Break denominada "BackSpin", o tempo passou e o nosso grande Thaide começou a
escrever algumas rimas e levar até a São Bento e Alguns Bailes da Região, até que
estourou com a Música "Corpo Fechado".Meu Relacionamento com o Thaide,
passou do profissional para uma breve amizade, fui por três vezes fotógrafo oficial
dessa lenda, convidado pelo próprio Thaide, sempre em conversa com ele, as ideias
eram incríveis, uma mente a frente do tempo realmente. Hoje ele é músico, repórter
e artista em geral.
”Sobre a atenção diferenciada por parte do Estado, eu acho muito pouco. O que eu
vi foi um Estado tentando se contornar a isso, o Estado achando alguma vertente
pra minar um pouco isso. Eu acho que o resultado disso hoje é os Treps de hoje que
quase não se fala mais de crítica, virou meio que “vendido” só como treta de fazer
grana. E o Hip Hop nunca foi isso, pelo menos o início do Hip Hop nunca foi pra
fazer grana (dinheiro) a grana sempre foi consequência, o dinheiro sempre vinha
depois, e hoje está sendo o contrário. Eu acho que o Estado achou uma forma de
contornar esse senso crítico, ainda tem as resistências tem os grupos de RAP que
ainda perseguem essa parada, tem a trilha sonora do Pietro Facção Central, o
próprio Racionais, o Thaide que ainda hoje faz som, esses são os remanescentes,
ou seja, os originários do HIP HOP. Então, as letras chegaram sim até o Estado
porém o sistema continua o mesmo, sendo manipulado, continua sendo da mesma
forma senão pior, mas a resistência ainda é o HIP HOP, a mudança de pensamento
de cada um, eu acho que essa é a maior diferença do RAP, o que precisa é a
mudança individual de cada um, mudar o senso crítico de cada um, a forma de
enxergar o próximo também. “
Diante disso, tem-se que o hip hop e o rap segue uma linha de raciocínio
individual, devendo partir do senso crítico exposto para a realização de crítica social
e jurídica.
CONCLUSÃO
Em suma, é possível crer que os gêneros musicais hip hop e o rap podem
sim servir de ponte para que essas ideias sejam passadas onde a educação e a
constituição muitas vezes não chega ou é precária. O conteúdo de linguagem
simples e cheio de gírias se distancia do juridiquês complexo e se aproxima da
realidade dialogando com um número considerável de ouvintes que muitas vezes,
em sua maioria, são mais leigos fazendo com que assuntos que antes não eram
pensados, hoje são questionados e desenvolvem um senso crítico maior.
Analisando obras, monografias, artigos de opinião e estudiosos da área
da cultura, conclui-se que há indícios da ligação direta e uma colaboração
educacional constitucional entre a sociedade brasileira como parte de raízes
afrodescendentes, populações marginalizadas e a possível ponte para o
conhecimento antropológico democratizado no contexto em questão. O Brasil, como
já discuto acima, é um dos países que mais consomem conteúdo musical do mundo.
Também, por essa informação, vê-se a presença da música na vida dos brasileiros.
Com isso, a educação se torna ainda mais concreta por meio dessa
informação e as letras acompanham a linguagem simplificada e acessível para que
esse grupo de pessoas entendam quais são seus direitos, garantias e os
compromissos que o Estado deveria estar cumprindo. Isso é observado nos
depoimentos de autoridades do gênero, cantores, que relatam nas letras de canções
e documentários, suas experiências pessoais de como esse tipo de música e cultura
abriu a mente e construiu um senso crítico. Por isso, a conscientização é feita
através dessa desconstrução.
ABSTRACT
This scientific article aims to study whether the hip hop and rap music genre
influences the dissemination of some of the constitutional knowledge of article 5 of
the Federal Constitution on human dignity. It is known that a large part of the poor
population in Brazil does not have access to quality education and this generates the
fact that they do not develop a critical sense to question their rights and duties. Due
to this deficit, the chance of becoming alienated citizens and passive of any social
injustice is greater. Thinking about this reasoning, is it possible that the lyrics of the
songs of great names in hip hop and rap can serve as a bridge to these teachings?
The answer that is imposed is that culture informs, adapting to the language of the
context in which it is inserted and reaches where the legalese and the Magna Carta
book do not.
Keywords: Culture; Right; Right to the Constitution; Hip Hop; Rap music.
REFERÊNCIAS
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