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All content following this page was uploaded by Paula Fernanda Queiroz on 17 August 2016.
Resumo
No presente trabalho são iniciados os estudos de arqueobotânica
no sítio neolítico de São Pedro de Canaferrim, Sintra.
É realizada a análise de meio milhar de fragmentos de madeira
carbonizados, provenientes de um conjunto de amostras
recolhidas no preenchimento sedimentar das estruturas
arqueológicas escavadas.
O espectro de espécies botânicas identificadas permite obter
informação acerca dos recursos vegetais explorados pelas
comunidades locais, bem como uma primeira ideia sobre o
coberto vegetal do sítio arqueológico durante o período de
ocupação.
Este relatório contém dados inéditos cuja utilização e divulgação necessitará da autorização dos autores
ESTUDOS DE ARQUEOBOTÂNICA NO SÍTIO
NEOLÍTICO DE SÃO PEDRO DE CANAFERRIM,
SINTRA
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Análise antracológica
O material entregue para análise consiste em dois conjuntos de amostras com
material vegetal carbonizado, provenientes do preenchimento sedimentar de
diferentes estruturas negativas escavadas em duas campanhas de trabalhos de
campo - 1993 e 2000 (Simões, 1998; 1999).
Cada amostra reporta-se a um determinado horizonte de desmontagem definido no
seio das unidades estratigráficas do preenchimento, e contém um número variável
de fragmentos de carvão (entre algumas unidades a várias dezenas). Em cada
amostra foi realizada uma subamostragem aleatórea, formada por alguns
fragmentos de carvão de dimensão superior a 5 mm.
Os fragmentos de carvão analisados foram lavados em água e seccionados
manualmente segundo as três secções de diagnóstico - transversal, radial e
tangencial, e foram observados e diagnosticados à lupa binocular e ao microscópio
óptico de luz reflectida.
Para a identificação dos carvões foram utilizadas as colecções de referência de
cortes de madeira e de madeiras carbonizadas do CIPA-IPA, bem como catálogos
de anatomia de madeiras (Schweingruber, 1990; Queiroz & Van der Burgh, 1989;
Van Leeuwaarden, em prep.).
Análise polínica
Dada a riqueza em matéria húmica do preenchimento das estruturas arqueológicas
escavadas, evidenciada logo à partida pela cor muito escura dos sedimentos
conservados, optou-se pela realização de amostragens em série para análise
polínica (ver estampa I). Foi recolhida uma coluna de amostras no corte
estratigráfico da estrutura 67 (seis amostras), bem como algumas amostras noutras
estruturas e cortes estratigráficos (cinco amostras).
Foram realizados ensaios de concentração polínica pelo método de
hiperconcentração de sedimentos arqueológicos pobres em material polínico de
Girard et Renault-Miskovsky (1969), utilizando-se óleo de silicone na montagem
das lâminas de microscópio.
Para a quantificação da concentração polínica (número de grãos de pólen por
grama de sedimento) foram adicionadas a cada amostra previamente pesada, no
início do tratamento laboratorial, pastilhas com um número conhecido de esporos
de Lycopodium (Stockmarr, 1971).
Embora o sedimento seja rico em matéria orgânica (humificada), a sua textura
areno-siltosa, propícia ao arejamento, não favoreceu a conservação polínica.
Os resultados obtidos, mesmo com o método de hiperconcentração utilizado,
revelaram-se infrutíferos para a obtenção de concentrações polínicas passíveis de
serem estudadas. Do conjunto de amostras estudadas obteve-se uma
concentração polínica absoluta de cerca de 95 grãos / gr, em média, variando entre
28 e 193 grãos de pólen por grama de sedimento. Para além do baixo número de
grãos de pólen, os espectros polínicos observados continham uma proporção
grande de pólen muito erodido e de pólen fresco de contaminação.
Análise carpológica
Um conjunto de amostras de sedimento, provenientes de diferentes profundidades
no preenchimento das estruturas negativas escavadas, foi recolhido com o
objectivo de se proceder ao estudo de macrorrestos vegetais (frutos e sementes)
que eventualmente aí se tenham conservado.
A partir destas amostras foram realizados em laboratório alguns protocolos de
flutuação para recolha de material orgânico. O material recolhido foi escrutinado à
lupa binocular e corresponde exclusivamente a tecidos lenhosos carbonizados; não
foram encontradas sementes.
Durante os trabalhos de campo de 2000 foi recolhido um pequeno macrorresto
orgânico, negro, de forma mais ou menos cilíndrica, de origem desconhecida. Este
pequeno objecto foi também entregue para eventual identificação (fruto ou
semente, coprólito?). Após observação à lupa binocular procedeu-se à abertura da
estrutura cilíndrica referida, que se revelou uma crisálida de um pequeno insecto
(ver estampa II). A identificação da larva e respectiva crisálida não foi realizada no
âmbito deste trabalho.
RESULTADOS
Salicaceae
cf. Salix (salgueiro)
Populus (choupo)
Fagaceae
Quercus faginea Lam. (carvalho cerquinho)
Quercus coccifera L. (carrasco)
Quercus rotundifolia Lam. (azinheira)
Quercus sp.
Ulmaceae
Ulmus (ulmeiro)
Rosaceae
Crataegus monogyna Jacq. (pilriteiro)
Prunus cf. P. avium L.
Prunus
Leguminosae
Leguminosae indet. 1
Leguminosae indet. 2
Ulex tipo (inclui Ulex, Genista, Ononis)
Anacardiaceae
Pistacia lentiscus L. (aroeira)
Aceraceae
Acer monspessulanum L. (zelha)
Rhamnaceae
Rhamnus alaternus/lycioides (aderno bastardo)
Thymelaeaceae
Daphne gnidium L. (trovisco)
Ericaceae
Arbutus unedo L. (medronheiro)
Erica arborea L. (urze branca)
Erica umbellata L. (queiró)
Erica sp.
Oleaceae
Fraxinus angustifolia Vahl (freixo)
Olea europaea L. subsp. sylvestris (zambujeiro)
Phillyrea (aderno)
Daphne gnidium
Secção transversal
Porosidade semidifusa. Poros infrequentes, reunidos principalmente no início da
camada de crescimento, em pequenos grupos. Tecido vascular pouco diferenciado
do tecido de suporte; tecido fibroso de paredes ligeiramente mais espessas que o
tecido vascular.
Secção tangencial
Raios exclusivamente unisseriados, com até cerca de 18 células de altura. Células
dos raios elípticas, alongadas longitudinalmente.
Secção radial
Raios homogéneos formados por células quadradas.
Placas de perfuração simples.
Erica arborea
Secção transversal
Porosidade difusa. Poros isolados, mais raramente em pequenos múltiplos (2-3),
por vezes dispostos em fiadas de orientação radial. Poros com até 80 m de
diâmetro.
Secção tangencial
Raios unisseriados e multisseriados com até 6 células de largura, e cerca de 15
células de altura.
Secção radial
Raios heterogéneos com células prostradas no centro e 1-3 fiadas de células
erectas nas margens.
Pontuações intervasculares opostas.
Leguminosae indeterminada 1
Secção transversal
Porosidade difusa. Poros isolados, com cerca de 30 – 40 m de diâmetro..
Secção tangencial
Raios unisseriados, mais raramente bisseriados, compridos (com cerca de 20
células de altura).
Secção radial
Raios heterogéneos com várias fiadas de células quadradas nas margens e poucas
fiadas de células prostradas no centro, ou só formados por células quadradas.
Vasos sem espessamentos espiralados.
cf. Salix
Secção transversal
Porosidade difusa. Poros pequenos e abundantes.
Secção tangencial
Raios exclusivamente unisseriados, relativamente curtos (até 12 células de altura).
Por vezes ocorrem raios pontualmente bisseriados na zona central.
Raios com células circulares em secção tangencial.
Secção radial
Raios homogéneos ou ligeiramente heterogéneos, formados por células prostradas
e, por vezes, 1(2) fiada marginal de células quadradas.
Referências:
BRAUN-BLANQUET, J., PINTO DA SILVA, A.R. & ROZEIRA, A. (1956) – Résultats de deux
excursions géobotaniques à travers le Portugal Septentrional et Moyen II – Chênaies à feuilles
caduques (Quercion occidentale) et chênaies à feuilles persistantes (Quercion fagineae) au
Portugal. « Agronomia Lusitana », 18 : 167-235.
HILL, M.O. & GAUCH, H.G. (1980) – Detrended correspondence analysis: An improved ordination
technique. “Vegetatio”, 42: 47-58.
MATEUS, J.E. (1990) - A teoria da zonação do ecossistema territorial. Arqueologia Hoje I. Etno-
Arqueologia p: 196-219.
MATEUS, J.E. & QUEIROZ, P.F. (1993) - Os estudos de Vegetação Quaternária em Portugal;
Contextos, balanço de resultados, perspectivas. in A.P.E.Q (Ed.) “O Quaternário em Portugal”,
Associação Portuguesa para o Estudo do Quaternário. Colibri, Lisboa
PINTO DA SILVA, A.R. et al (1987) – O manto vegetal da serra de Sintra. Primeiras impressões.
Instituto Botânico, Faculdade de Ciências, Lisboa (policop.)
PINTO DA SILVA, A.R., BACELAR, J.J.A.H., CATARINO, F.M., CORREIA, A.I.D., ESCUDEIRO,
A.S.C., SERRA, M.G.L. & RODRIGUES, C.M.A. (1989) – A Flora da Serra de Sintra. “Portugalia
Acta Biológica”, 15: 5-258.
QUEIROZ, P.F. & VAN DER BURGH, J. (1989) - Wood Anatomy of Iberian Ericales. "Revista de
Biologia", 14: 95-134.
STOCKMARR, J. (1971) – Tablets with spores used in absolute pollen analysis. “Pollen et Spores”,
13: 615-621.
TER BRAAK, C.J.F. (1987-1992) – CANOCO – a FORTRAN program for Canonical Community
Ordination. Microcomputer Power, Ithaca, New York, USA.
VAN LEEUWAARDEN, W. (in prep.) – Wood anatomy of Portuguese Quercus – recent and fossil
wood and charcoal. Trabalhos do CIPA.
ESTUDOS DE ARQUEOBOTÂNICA
SÍTIO NEOLÍTICO DE SÃO PEDRO DE CANAFERRIM
2 3
4 5 6
ESTAMPA I
Amostragem de sedimentos para análise polínica:
1. Aspecto da zona de escavação durante a recolha das amostras palinológicas.
2. Estrutura 63, corte N-S.
3. Estrutura 63, corte N-S, após recolha da amostra polínica.
4. Estrutura 67.
5. Estrutura 67, corte da fossa sob o penedo.
6. Estrutura 67, corte da fossa sob o penedo após recolha da coluna de amostras polínicas.
Fotos: J.P. RUAS
ESTUDOS DE ARQUEOBOTÂNICA
SÍTIO NEOLÍTICO DE SÃO PEDRO DE CANAFERRIM
ESTAMPA II
Larva de insecto e respectiva crisálida,
recolhida no depósito sedimentar
Ref: Lc2, G5 nº49 [57]
(divisões da escala indicam 1 mm)
1 2 3
4 5 6
ESTAMPA III
Quercus faginea
1. Porosidade, secção transversal (aprox. X 10)
2. Raios homogéneos, secção radial (aprox. X 100)
3. Vasos com pontuações intervasculares, secção tangencial
(aprox. X 100)
Quercus coccifera
4. Porosidade, secção transversal (aprox. X 10)
5. Porosidade e parênquima apotraqueal, secção transversal 7
(aprox. X 100)
6. Raios unisseriados, secção tangencial (aprox. X 200)
7. . Raios unisseriados e raio multisseriado, secção tangencial
(aprox. X 200)
ESTAMPA IV
Quercus rotundifolia
1. Porosidade, secção transversal
(aprox. X 10)
2. Porosidade e parênquima
apotraqueal, secção transversal
(aprox. X 100)
3. Raio multisseriado, secção tangencial
(aprox. X 100)
3
Fotos: P.F. QUEIROZ
ESTUDOS DE ARQUEOBOTÂNICA
SÍTIO NEOLÍTICO DE SÃO PEDRO DE CANAFERRIM
ESTAMPA V
Fraxinus angustifolia
1. Porosidade na madeira de Verão, secção
transversal (aprox. X 100)
4 2. Parênquima paratraqueal vasicêntrico na
madeira de Verão, secção transversal (aprox.
X 200)
3. Secção radial (aprox. X 100)
4. Raios com células prostradas compridas,
secção radial (aprox. X 200)
5. Raios com células de dimensão irregular,
secção tangencial (aprox. X 100).
Fotos: P.F. QUEIROZ
ESTUDOS DE ARQUEOBOTÂNICA
SÍTIO NEOLÍTICO DE SÃO PEDRO DE CANAFERRIM
2
3
5 6
ESTAMPA VI
Olea europaea sylvestris
1. Porosidade, secção transversal (aprox. X 10)
2. Porosidade, secção transversal (aprox. X 200)
3. Porosidade, secção transversal (aprox. X 100)
4. Raios heterogéneos com células de dimensão irregular,
secção tangencial (aprox. X 200).
5. Raios heterogéneos com células de dimensão irregular,
secção tangencial (aprox. X 100).
6. e 7. Raios heterogéneos, secção radial (aprox. X 200).
7
Fotos: P.F. QUEIROZ
ESTUDOS DE ARQUEOBOTÂNICA
SÍTIO NEOLÍTICO DE SÃO PEDRO DE CANAFERRIM
1 3
ESTAMPA VII
Phillyrea
1. e 2. Porosidade, secção
transversal (aprox. X 100)
3. Raio heterogéneo com células
erectas e quadradas, secção
radial (aprox. X 200).
4. Raio heterogéneo com células
erectas e quadradas, secção
radial (aprox. X 100).
5. Raios heterogéneos com células
de dimensão irregular, secção
tangencial (aprox. X 100).
4 5
Fotos: P.F. QUEIROZ
ESTUDOS DE ARQUEOBOTÂNICA
SÍTIO NEOLÍTICO DE SÃO PEDRO DE CANAFERRIM
1 2
3 4 5 6
ESTAMPA VIII
Rhamnus alaternus/lycioides
1. Porosidade, secção transversal (aprox.
X 20)
2. Porosidade, secção transversal (aprox.
X 100)
Pistacia lentiscus
3. Porosidade, secção transversal (aprox.
X 10).
4. Porosidade, secção transversal (aprox.
X 200).
5. Raio multisseriado, secção tangencial
(aprox. X 200).
6. Vasos com espessamentos
espiralados, secção radial (aprox. X 400).
7 7. Raio heterogéneo, secção radial (aprox.
X 200).
4
2 3
ESTAMPA IX
Crataegus monogyna
1. Porosidade, secção 6 7 8
transversal (aprox. X 10)
2. Porosidade na madeira de
Primavera, secção transversal (aprox. X 100)
3. Porosidade na madeira de Verão, secção transversal (aprox. X 100)
4. Raios multisseriados, secção tangencial (aprox. X 100)
Prunus cf. P. avium
5. Porosidade, secção transversal (aprox. X 100).
6. Raios , secção radial (aprox. X 100).
7. Vasos com espessamentos espiralados, secção radial (aprox. X 200).
8. Raios multisserados compridos, secção tangencial (aprox. X 100).
5 6
ESTAMPA X
Arbutus unedo
1. Porosidade, secção transversal (aprox. X 10)
2. Porosidade, secção transversal (aprox. X 100).
3. Porosidade, secção transversal (aprox. X 200).
4 4. Raios heterogéneos, secção radial (aprox. X
100).
5. Vasos com espessamentos espiralados,
secção radial (aprox. X 200).
6. Raios multisseriados de contorno fusiforme,
secção tangencial (aprox. X 200).
1 2
5 6
4 ESTAMPA XI
Erica umbellata
1. Porosidade, secção transversal
(aprox. X 200)
2. Raios multisseriados, secção
tangencial (aprox. X 200).
3. Porosidade, secção transversal
(aprox. X 20).
Ulmus
4. Porosidade, secção transversal
(aprox. X 100).
5. Vasos com espessamentos
espiralados, secção radial (aprox.
X 200).
6. Vaso com pontuações
intervasculares, secção radial
(aprox. X 200).
7. Raios homogéneos, secção
radial (aprox. X 100).
4 5
ESTAMPA XII
Ulex tipo
2 3 1. Porosidade, secção
transversal (aprox. X 100)
2. Raio heterogéneo, secção
radial (aprox. X 100).
3. Raio heterogéneo, secção
radial (aprox. X 200).
4. Vasos com espessamentos
espiralados, secção
8 tangencial (aprox. X 200).
5. Raios multisseriados, secção
6
tangencial (aprox. X 200).
Leguminosae indet. 2
6. Raios multisseriados,
secção tangencial (aprox. X
200).
7. Porosidade, secção
transversal (aprox. X 200).
7 9 8. e 9. Raios hererogéneos,
secção radial (aprox. X 200).
1 2
4 5 6 7
ESTAMPA XIII
Acer monspessulanum
1. Porosidade, secção transversal (aprox. X 200)
2. Poros múltiplos, secção transversal (aprox. X
400).
3. Secção radial (aprox. X 100).
4. Raios multisseriados, secção tangencial (aprox.
X 100).
Populus
5. Raios uniisseriados, secção tangencial (aprox. X
200).
6. Vaso com pontuações intervasculares, secção
radial (aprox. X 200).
7. Porosidade, secção transversal (aprox. X 100).
8. Raios homogéneos, secção radial (aprox. X 100).
8
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