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ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DO


CONDOMÍNIO TOPÁZIO, LOCALIZADO NO
MUNICÍPIO DE ESMERALDAS, MINAS GERAIS

Alice Monteiro de Carvalho (alicemonteiroc@gmail.com)1


Jaqueline Silvana Moreira (jaquelinesmoreira@yahoo.com.br)1
Juliana Campos de Pinho Resende (resendeju2000@yahoo.com.br)2
1
Graduandas do Curso de Ciências Biológicas – PUC MINAS.
2
Professora do Curso de Ciências Biológicas _PUC MINAS, graduada em
Ciências Biológicas, Mestre em Microbiologia, Doutora em Microbiologia.

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi analisar a qualidade microbiológica e físico-química da


água pertencente ao Córrego da Cachoeira, localizado dentro das delimitações do
Condomínio Topázio em Esmeraldas, Minas Gerais. Entre os meses de Julho à
Novembro de 2009, foram realizadas três coletas de água oriundas do Condomínio
Topázio, sendo cada coleta composta de quatro pontos amostrais: à montante do
Córrego da Cachoeira (perpassa todo o condomínio), na região da cachoeira e a
montante e jusante dela. Nas três coletas realizadas foram feitas análises
microbiológicas para coliformes totais e fecais, sendo que na segunda e terceira coleta,
incluíram-se análises físico-químicas. Para medidas físico-químicas, utilizou-se o
oxímetro, phametro, medidor de condutibilidade elétrica e termômetro. De acordo com
as análises microbiológicas realizadas, foram encontradas bactérias gram-negativas em
todos os tubos referentes às amostras das coletas 2 e 3, mostrando que as unidades
formadoras de colônia ultrapassam 1100. Escherichia coli também foi encontrada em
todas as amostras. No resultado físico-químico, os valores de oxigênio dissolvido
mostraram-se baixos, devido ao uso do oxigênio para o processo respiratório de
bactérias. Com os resultados obtidos, pode-se enquadrar o corpo d’água pertencente ao
Condomínio Topázio como Classe 3, tendo em vista as condições principalmente
microbiológicas. Estudos complementares na região devem ser realizados.

Palavras- chave: qualidade de água; análise microbiológica; análises físico-químicas;


município de Esmeraldas.

1. INTRODUÇÃO

A água constitui o recurso natural mais importante por ser fundamental aos

outros recursos como vegetais, animais e minerais; por ter influência direta na

manutenção da vida, saúde e bem-estar do homem e por garantir auto-suficiência

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econômica de uma região ou país (LIMA, 2003). Segundo Primack e Rodrigues (2001,

p.51), comunidades biológicas são vitais para a proteção de bacias hidrográficas, no

controle de ecossistemas por ocasião de grandes enchentes ou secas e na manutenção da

qualidade da água.

As bactérias do grupo coliformes são utilizadas como indicadores de

contaminação bacteriológica da água. Além de serem encontradas nas fezes, elas podem

ocorrer no meio ambiente, em águas com alto teor de material orgânico, solo ou

vegetação em decomposição (FUNASA, 2006).

O Condomínio Topázio, localizado no município de Esmeraldas, possui uma

área de 140 hectares, com cerca de 280 chácaras particulares. A água que percorre o

condomínio pertence à bacia do rio Paraopeba. Esta água é utilizada para criação de

animais, como patos e animais domésticos, além da recreação dos próprios moradores

das chácaras. Portanto, há possibilidade deste corpo d’água estar contaminado por

microrganismos patógenos.

Atualmente, Esmeraldas integra os 34 municípios da Região Metropolitana de

Belo Horizonte (RMBH), com Latitude Sul 19º 45’ 48”, Longitude Oeste 44º 18' 51".

Destaca-se por ser o maior em extensão territorial, 943Km², com 55mil habitantes, e à

distância aproximadamente de 60km da capital mineira, conforme os dados IBGE

(2007).

Segundo estimativa do Consórcio Intermunicipal da Bacia Hidrográfica do rio

Paraopeba – CIBAPAR, a bacia possui cerca de 15.000 usuários (IGAM, 2005). Em

relação às outorgas vigentes, fez-se um levantamento de todos os usos licenciados na

bacia do rio Paraopeba, tanto para águas superficiais quanto para subterrâneas. As

superficiais destinam principalmente à irrigação (40%) e às atividades industriais

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(16,5%) e em relação às águas subterrâneas prevalecem o consumo humano (38%), as

atividades industriais (25%) e o abastecimento (13%).

O objetivo deste trabalho foi analisar a qualidade microbiológica e físico-

química da água pertencente ao Córrego da Cachoeira, localizado dentro das

delimitações do Condomínio Topázio em Esmeraldas, Minas Gerais.

2. METODOLOGIA

2.1 Amostragem

Foram realizadas de Julho a Novembro de 2009, três coletas de água oriundas do

Condomínio Topázio, sendo cada uma delas com quatro pontos amostrais: no córrego

de encontro ao Córrego da Cachoeira (perpassa todo o condomínio), na região da

cachoeira e à montante e jusante dela. Todas as amostras foram coletadas em vidrarias

previamente preparadas por esterilização em autoclave. Estas foram identificadas por

meio de números e anotadas em caderno de coleta. Para medidas físico-químicas,

utilizou-se o oxímetroYSI 95, phametro e medidor de condutibilidade elétrica PHTEC e

termômetro HUGER Quatz. Para georeferenciar os pontos das coletas foi utilizado o

GPS Garmin etrex.

2.2 Processamento das amostras

A primeira técnica utilizada foi o método de tubos múltiplos empregado para

verificar a presença de coliformes totais.

Cada amostra de água coletada foi inoculada em série de 3 tubos contendo 10

mL de caldo lactosado, (com tubo de Durhan invertido), nos seguintes volumes: 0,1mL,

1mL e 10 mL respectivamente em cada um dos tubos. Os tubos múltiplos foram

incubados em estufa por 24h a 37ºC.

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2.3 Leitura dos resultados

Com a formação de gás no interior do tubo de Durhan (0,1 ml, 1ml e/ou 10ml)

no final de 24 horas o teste presuntivo foi considerado positivo, devendo-se fazer o teste

confirmatório.

Para isso, retirou-se uma alçada da cultura positiva e inoculou-a em tubos

contendo caldo verde-brilhante bile 2% para teste confirmatório para coliformes totais,

incubando-os a 37ºC. Os tubos foram considerados positivos a partir da observação da

presença de bolhas de gás no interior dos tubos de Durhan.

Foi retirado uma alíquota de todos os tubos do teste presuntivo para coliformes

totais que deram positivo, nos 3 volumes; e estes inoculados em tubos contendo meio

EC e posteriormente incubados em banho-maria a 44,5ºC durante 24 horas. No final das

24 horas, foi observada a formação de bolhas de gás no interior do tubo de Durhan o

que indicou a presença de coliformes de origem fecal.

2.4 Interpretação dos resultados

Os resultados positivos são expressos em N.M. P. (Número Mais Provável) /100

ml de amostra (BRASIL, 2006). Para se determinar o N.M. P, verifica-se a combinação

formada pelo número de tubos positivos que apresentaram os volumes 01 ml, 1 ml e

10mL no teste confirmatório.

Além disso, as variáveis físico-químicas coletadas durante o estudo contribuíram

para o resultado final.

O teor de oxigênio dissolvido é obtido através de coletas em balde e introdução

do oxímetro YSI 95 na amostra. É necessário precaução no momento da coleta a fim de

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se avaliar a agitação do líquido ou contato prolongado com a atmosfera, pois este

poderá interferir nos resultados (CHACON; NEPOMUCENO ; GURGEL, 1988).

O potencial hidrogeniônico foi determinado através do contato após alguns

minutos do phametro PHTEC com a amostra presente no balde.

O medidor de condutilibilidade elétrica PHTEC deve ser introduzido no corpo

d’água no local da coleta das amostras. Os valores são determinados a partir da

quantidade de eletrólito presente na amostra (CHACON; NEPOMUCENO ; GURGEL,

1988).

O termômetro HUGER Quatz foi colocado em contato com o corpo d’água e

após alguns segundos o valor da temperatura da amostra foi revelado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nas três coletas realizadas foram feitas análises microbiológicas para coliformes

totais e fecais (Quadro 1), sendo que na segunda e terceira coleta, incluíram-se análises

físico-químicas (Quadro 2).

Caldo Limite
Caldo
Coleta Período Amostra Caldo lactosato verde MNP/ml
E.C. max / min
brilhante

10 ml 1 ml 0,1 ml

1 3+ 1+ 1+ positivo negativo 75 17 - 200

coleta 1 período de 2 3+ 3+ 3+ positivo positivo >1100 420 -

seca 3 3+ 3+ 3+ positivo positivo >1100 420 -

4 3+ 3+ 3+ positivo positivo >1100 420 -

1 3+ 3+ 3+ positivo positivo >1100 420 -

seca com 2 3+ 3+ 3+ positivo positivo >1100 420 -

coleta 2 dia 3 3+ 3+ 1+ positivo positivo 460 90 - 2000

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chuvoso 4 3+ 3+ 1+ positivo positivo 460 90 - 2000

1 3+ 3+ 3+ positivo negativo >1100 420 -

coleta 3 período 2 3+ 3+ 3+ positivo positivo >1100 420 -

chuvoso 3 3+ 3+ 3+ positivo positivo >1100 420 -

4 3+ 3+ 3+ positivo positivo >1100 420 -

Quadro 1 - Análise microbiológica realizada em quatro pontos de um total de 3 coletas de água.

De acordo com as análises microbiológicas realizadas, foram encontradas

bactérias gram-negativas (fermentadoras de lactose) em todos os tubos referentes às

amostras das coletas 2 e 3, mostrando que as unidades formadoras de colônia

ultrapassam 1100 colonias/mL.

É visto que a presença da E. coli em água ou alimentos é indicativa de

contaminação com fezes humanas (GONÇALVES et al, 2002) e de alguns animais

como gado e suínos. Segundo as análises microbiológicas (Quadro 1), 83% (10/12) das

amostras são positivas para E. coli. Verifica-se, então, que esta água se mostra

imprópria para consumo humano, pois a ingestão da mesma pode causar vários

problemas gastrointestinais (GONÇALVES et al, 2002). Além disso, das amostras

coletadas, não se apresentam valor negativo para E. coli em no mínimo 80% das

amostras (BRASIL, 2000).

Oxigênio

Coleta Amostra Temperatura pH dissolvido Condutividade elétrica (µS.cm-1)

(mg/L)

1 20,7ºC 7,7 1,40 76

coleta 2 2 19,8ºC 7,2 1,85 100

3 19,9ºC 7,2 2,10 99

4 19,5ºC 8.1 0,51 64

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1 21,3ºC 7.7 2,13 78

coleta 3 2 21,0ºC 7.4 2,10 85

3 21,3ºC 7.1 2,31 88

4 21,0ºC 8.3 1,81 70

Quadro 2 - Resultado físico-químico encontrado na segunda e terceira coleta de água.

No resultado físico-químico (Quadro 2), os valores mostraram-se dentro dos

parâmetros normais para o ambiente em estudo, exceto pela taxa de oxigênio dissolvido.

Um valor razoável de oxigênio em corpos d’água perpassa 4,0mg/l (BRASIL, 2005); e

o maior valor encontrado neste estudo foi 2,31mg/l.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Comparando os pontos de coleta, verificou-se que para fins microbiológicos, a

amostra 1 possui melhor qualidade, pois os valores de coliformes fecais foram os

menores. Provavelmente, a água do córrego à montante do Córrego da Cachoeira possui

baixos níveis de matéria orgânica. Para a detecção de E. coli, esta amostra apresentou

resultados negativos em duas coletas. Como há criação animais na região, é interessante

a realização de outros estudos no intuito de verificar microrganismos diferentes da E.

coli, como a Salmonela sp., por exemplo.

Certamente, a presença dos altos níveis de coliformes totais e fecais é

proveniente de áreas (fazendas, bairros) localizadas fora do perímetro do Condomínio

Topázio, onde utilizam do mesmo córrego.

Os baixos valores de oxigênio podem ser explicados pela presença de coliformes

totais e fecais em 83 % das amostras coletadas. Isto se deve à capacidade de bactérias,

provenientes de matéria orgânica originada de esgotos ou animais, fazerem uso do

oxigênio para seus processos respiratórios. Algumas vezes a decomposição vegetal

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também promove baixa nos valores de oxigênio. Além disso, esta baixa demonstra que

certamente há poucos processos fotossintéticos ocorrendo e interferindo na vida

aquática (animais e vegetais) da região.

De acordo a Resolução do CONAMA nº 357 (2005) e com os resultados obtidos,

pode-se enquadrar o corpo d’água pertencente ao Condomínio Topázio como Classe 3,

visto as condições, principalmente, microbiológicas.

Além disso, é indicada a realização de outros estudos do corpo d’água

pertencente ao Córrego da Cachoeira para se obter uma gama maior de dados tanto

físico-químicos como microbiológicos, a fim de se enriquecer o estudo.

AGRADECIMENTOS

Ao laboratório de Microbiologia da PUC Minas Betim, por ceder o espaço e

ajuda nas análises microbiológicas.

Aos moradores e síndica do Condomínio Topázio pelo interesse na qualidade da

água da região e permissão de acesso da área para este estudo.

Ao laboratório de Zoologia da PUC Minas Betim pela liberação dos

equipamentos utilizados na análise físico-química da água proveniente do Córrego da

Cachoeira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Resolução Conama. Portaria n. 274, de 29 de novembro de 2000.

BRASIL. Resolução Conama. Portaria n. 357, de 17 de março de 2005.

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BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Manual prático de análise de água. 2ª ed. rev.

- Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 146 p.2006.

CHACON, João de Oliveira; NEPOMUCENO, Francisco Hilton; GURGEL, José

Jarbas Studart. Manual sobre manejo de reservatório para a produção de peixes.

Project reports: 190 p.1988.

FUNASA (Fundação Nacional de Saúde). Manual Prático de Análise de Água. 2ed

revisada. Brasília, 2006.

GONÇALVES, Edvaldo Sápia et al. A segurança alimentar e seus consumidores: um

breve estudo sobre a Escherichia coli. Revista CESUMAR, v.7, n.1, p.7-23, dez., 2002.

IBGE Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/Acesso em 25

janeiro 2009.

LIMA, R. T. Percepção ambiental e participação pública na gestão dos recursos

hídricos: perfil dos moradores da cidade de São Carlos, SP (Bacia hidrográfica do

Rio do Monjolinho). USP. 2003. 732f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São

Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos. Disponível em:

http://www.universoambiental.com.br/novo/artigos_ler.php?canal=8&canallocal=13&c

analsub2=78&id=120. Acesso em: 08 set. 2008.

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MINAS GERAIS. Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM). Estudos das Metas

De Qualidade Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba (2005). Disponível em:

<http://aguas.igam.mg.gov.br/aguas/downloads/acordo_resultados/Estudo_Metas_Parao

peba.pdf>. Acessado em 27 de janeiro de 2009.

PRIMACK, Richard B.; RODRIGUES, Efraim. Biologia da conservação. Londrina,

PR: Planta, 2001. 327p

Revista Sinapse Ambiental – Dezembro de 2009.

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