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Interpretação estatística de dados geoquímicos de amostragem de superfície

nas Minas da Panasqueira Statistical analysis of geochemical data from
surface sampling at the Panasqueir...

Conference Paper · October 2015

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5 authors, including:

M. G. Brito João Brissos

Universidade NOVA de Lisboa Universidade NOVA de Lisboa
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Romeu Vieira Paulo Sá Caetano

ICT - INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA TERRA Universidade NOVA de Lisboa
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 Interpretação estatística de dados geoquímicos de amostragem de
superfície nas Minas da Panasqueira

Statistical analysis of geochemical data from surface sampling at the

Panasqueira Mines

1,2* 2 3 2 1,2
Brito , G.; Brissos , J.; Vieira , R.; Furtado , A.; Caetano , P.
1
Departamento de Ciências da Terra, Faculdade Ciências Tecnologia; Universidade NOVA de Lisboa, Quinta da Torre,
2829-516 Caparica. *mgb@fct.unl.pt
2
GeoBioTec, Polo Universidade NOVA de Lisboa, Quinta da Torre, 2829-516 Caparica
3
Sojitz Beralt Tin & Wolfram (Portugal) S.A. Barroca Grande, 6225-051 Aldeia de S. Francisco de Assis

Resumo
Neste estudo realiza-se a interpretação estatística de dados provenientes de uma campanha de amostragem de superfície que
tem, como principal objectivo, a definição de potenciais anomalias litogeoquímicas e a produção de cartografia temática para
suporte ao planeamento de futuros trabalhos de prospecção geológica na área mineira da Panasqueira. Neste contexto, a
metodologia utilizada é composta por três etapas: (i) Análise estatística descritiva do comportamento dos elementos químicos
de interesse e a identificação de associações geoquímicas com recurso a estatística bivariada, nomeadamente, o estudo das
correlações entre variáveis; (ii) Aplicação da análise factorial de correspondências múltiplas (AFCM) para a avaliação da
influência dos factores morfológicos, estruturais e litológicos do meio no estabelecimento de anomalias litogeoquímicas; (iii )
Estimação espacial das anomalias litogeoquímicas através do método geoestatístico da krigagem normal, para a identificação
de áreas potenciais de prospecção. A integração em SIG dos mapas estimados permite aferir a continuidade e tendência
superficial das anomalias litogeoquímicas e a cartografia produzida constitui, assim, ferramenta de apoio à optimização de
futuros trabalhos de prospecção na área mineira da Panasqueira.

Palavras-chave: anomalias litogeoquímicas, análise de correspondências múltiplas, geoestatística, prospecção mineira

Abstract
Lithogeochemical sampling data from a surface survey is analysed aiming at the definition and mapping of potential
lithogeochemical anomalies, providing support for the planning of future geological exploration in the Panasqueira mining area.
The methodology presented encompasses three stages (i) statistical analysis of the behaviour of the chemical elements and
identification of geochemical associations between the studied elements using bivariate statistics; (ii) Application of multi variate
correspondence analysis (MCA) for the identification of lithogeochemical anomalies, by the evaluation of morphological,
structural and lithological influences in geochemical occurrences; (iii) Assessment of potential survey areas by geostatistic al
estimation of the lithogeochemical factorial axes. Integration of this information in GIS allows the assessment of the continuity
and trend of the surface lithogeochemical anomalies and, therefore, the outcome maps become a useful tool for optimizing
future geological exploration works in the Panasqueira mining area.

Keywords: lithogeochemical anomalies, multiple correspondence analysis, geostatistics, mining exploration

– 302 –
Introdução
A mina da Panasqueira é a mais antiga
exploração mineira ainda em laboração
em território nacional, e constitui uma das
maiores minas de volfrâmio actualmente
em actividade nos países de economia de
mercado, com produções anuais entre
1000 - 1200 toneladas de concentrado de
volframite. O concentrado produzido
apresenta teores em WO3
aproximadamente 75%, alguns dos teores
mais elevados disponíveis no mercado
(Franco et al., 2014). O presente estudo
tem como objectivo a avaliação dos
resultados obtidos de uma campanha de
amostragem de superfície realizada na
área de exploração e prospecção mineira
no sentido de identificar alvos geológicos
para futuros trabalhos de prospecção.
associado à intrusão das massas
graníticas, terá promovido a
transformação das litologias pelíticas em
xistos mosqueados com predominância de
biotite, clorite e cordierite, aflorantes em
grandes áreas (Oosterom et al., 1984).
Estas litologias são afectadas por dois
sistemas de falhas principais de direcções
N-S e E-W. O mapa geológico simplificado
da área mineira da Panasqueira
de
apresenta-se na Fig. 1.
A mineralização explorada na
Panasqueira ocorre numa extensa rede de
filões sub-horizontais de quartzo
hidrotermal que envolvem uma cúpula
granítica greisenizada, não aflorante e de
pequenas dimensões. Os minerais com
interesse económico são a volframite
(ferberite), cassiterite e calcopirite.

Enquadramento geológico
A exploração mineira da Panasqueira
localiza-se na vertente sul da Serra da
Estrela, no município da Covilhã, distrito
de Castelo Branco, a cerca de 300 km
para NE de Lisboa e 200 km para SE da
cidade do Porto.
A zona NW da Península Ibérica é
conhecida pela ocorrência de
mineralizações filonianas de volfrâmio (W) Fig. 1 – Mapa geológico simplificado da área
e estanho (Sn) espacialmente associadas mineira da Panasqueira
a intrusões graníticas associadas à
orogenia Hercínica. Na zona Centro- Materiais e metodologia
Ibérica, especificamente na região onde
Foram recolhidas numa área de
se situa a mina, destaca-se uma
aproximadamente 33 Km2, 497 amostras à
sequência meta-sedimentar do Grupo das
superfície de rocha meta-sedimentar (rock
Beiras, Complexo Xisto-Grauváquico,
chip samples) não alterada e sem
neoprotorozóica, de fácies profundas,
filões/filonetes de quartzo - em
turbidíticas e não carbonatadas (Thadeu,
afloramento (20 a 30 m2) no total de +/-
1977; Sousa, 1984). A sequência inclui
1Kg/amostra. Foram inseridos 27
xistos argilosos, intercalações de siltitos,
duplicados de campo, 2 réplicas e 2
por vezes com níveis de xistos negros
amostras de referência. Foram analisados
com sulfuretos, fortemente deformados,
48 elementos por ICP-MS e o elemento
por vezes com intercalações decimétricas
Flúor por IC. O método de prospecção
de grauvaques (Meireles et al., 2013,
pretende detectar uma assinatura
2014). Estas rochas foram afectadas, em
geoquímica à superfície do sistema
geral, por metamorfismo regional de baixa
hidrotermal mineralizador em
intensidade e intruídas por granitos com
profundidade, à imagem do demonstrado
duas micas com idade Rb-Sr de 289 ± 4
por Oosterom et al. (1984).
Ma (Priem & den Tex, 1982). O
subsequente metamorfismo de contacto, A interpretação estatística dos dados

– 303 –
geoquímicos verificou a influência de Resultados e discussão
factores morfológicos, estruturais e
Pela análise estatística verificou-se que o
litológicos do meio com vista a identificar
W, Sn, Cs e F apresentam distribuições
um padrão de ocorrência de eventuais
idênticas, com forte assimetria positiva, o
anomalias e definir a sua tipologia.
que significa que, em termos genéricos,
A análise do comportamento espacial de ocorrem com teores baixos apresentando,
anomalias litogeoquímicas teve por base no entanto, valores extremos em algumas
uma metodologia desenvolvida em três amostras analisadas (Fig. 2). O Cu e Nb
etapas: apresentam distribuição quasi-normal com
teores que não se afastam muito dos
Etapa 1: Estudo estatístico dos elementos
valores médios analisados.
químicos de interesse e identificação de
associações geoquímicas;
Etapa 2: Identificação de associações
litogeoquímicas através da Análise
Factorial de Correspondências Múltiplas
(AFCM);
Etapa 3: Selecção de áreas potenciais de
prospecção pela estimação geoestatística
de anomalias litogeoquímicas.
Consideraram-se como elementos de
interesse o volfrâmio, o estanho e o cobre Fig. 2 – Exemplo de histograma de distribuição do W
(W, Sn e Cu), bem como o césio (Cs), o
flúor (F), o lítio (Li), o rubídio (Rb) e o
nióbio (Nb), dado que estes últimos
ocorrem associados ao W e Sn segundo
Bussink (1984), Oosterom et al. (1984),
Polya (1988) e Pinto et al. (2014). As
variáveis morfo-estruturais integradas na
análise foram as seguintes:
Classes de distância às falhas de
orientação N-S e E-W (FNS e FEW);
Fracturação: direcção (JST),
persistência (JPE) e espaçamento (JI);
Fig. 3 – AFCM exploratória (no plano factorial F1/F2)
Direcção da xistosidade (XIS); Para além dos elementos referidos,
Tipo litológico (Lit1: xisto argiloso; Lit2: seleccionaram-se também aqueles que
xisto mosqueado; Lit3: xisto gresoso). apresentam coeficiente de correlação
superior a 60%, ou seja, que possam
A categorização dos dados referentes às constituir associações geoquímicas.
propriedades geométricas e mecânicas Verificou-se que o W e Sn ocorrem
das fracturas foi feita de acordo com as associados, apresentando este último
recomendações da ISRM (1978). No forte correlação com o F, Cs, índio (In) e
seguimento destes trabalhos foi realizada Nb. Associados ao Cu ocorrem o crómio
a estimação espacial das ocorrências (Cr), vanádio (V), titânio (Ti), escândio
litogeoquímicas por krigagem normal com (Sc) e Nb. Foi feita uma primeira AFCM
vista à identificação das áreas potenciais exploratória com o objectivo de
para a realização de futuros trabalhos de seleccionar as variáveis morfo-estruturais
prospecção. que apresentam maior correlação com as
anomalias geoquímicas, consideradas

– 304 –
 como sendo as classes mais elevadas dos
teores observados (classe 2 – teores mais
elevados e classe 1 – teores mais baixos)
(Fig. 3).
Como síntese pode concluir-se que a
variável que afecta de forma mais
significativa as anomalias positivas de W,
Sn, Cu, Li, As, F, Rb, Cs, Nb, Cr, Ti, Tl, Be
e V é o tipo litológico Lit2 - xistos
mosqueados, sendo que as restantes
variáveis morfo-estruturais têm reduzida
relevância.
Uma segunda AFCM, apenas com os
elementos de interesse e os tipos
litológicos, confirmou a existência de uma
anomalia litogeoquímica associada aos
xistos mosqueados. A estimação espacial
do eixo factorial F1, que representa perto
de 81% da variância da anomalia (Tabela
1), apresenta-se na Fig. 4.
Tabela 1 – % explicação dos eixos factoriais para a AFCM
com elementos de interesse e litologia.
Eixo Factorial % explicação % explicação acumulada
1 80.6 80.6
2 8.0 88.6
3 3.3 91.9
Fig. 4 – Estimação espacial do eixo factorial F1
Verifica-se que a anomalia litogeoquímica
ocorre no quadrante E – SE da área
amostrada, associada aos xistos
mosqueados, onde ocorrem teores
elevados dos elementos de interesse. A
associação de teores baixos a médios
com xistos gresosos (Lit3) domina a zona
W da área de estudo. A anomalia ocorre
maioritariamente nos xistos mosqueados,
alongada segundo NW-SE, pelo que se
conclui que a área mais promissora para
prospecção se encontra no Sector E da
área amostrada.
– 305 –
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Conclusões
A AFCM complementada por cartografia
geoquímica baseada em estimação
geoestatística permitiu a interpretação dos
dados obtidos, identificar anomalias
litogeoquímicas e caracterizar a sua
distribuição e tendência superficial. Estes
resultados constituem, assim, uma
ferramenta de utilidade para a optimização
de futuros trabalhos de prospecção na
área mineira da Panasqueira.
Agradecimentos
Este trabalho é uma contribuição para o Projeto
UID/GEO/04035/2013 financiado pela FCT –
Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Portugal.
Referências
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