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A REPRESENTAÇÃO HOMOSSEXUAL E AUTODESCOBERTA NO

AUDIOVISUAL: NARRATIVA E ESTILO NO VIDEOCLIPE I’M GAY,


DE EUGENE LEE YANG (2019)1

Luan Ximenes Dias


Graduando em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica de
Campinas (PUC-Campinas)
Bolsista FAPIC-Reitoria/PUC-Campinas
luan.xd@puccampinas.edu.br

João Paulo Hergesel


Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Linguagens,
Mídia e Arte pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-
Campinas)
joao.hergesel@puc-campinas.edu.br

RESUMO:
A representação da homossexualidade tem se diversificado, multiplicado e ganhado espaço nos
territórios midiáticos, como é perceptível em distintas narrativas audiovisuais contemporâneas. No
videoclipe I’m Gay, de Eugene Lee Yang (2019), o enredo se desenvolve a partir do choque entre o
protagonismo homossexual e as condutas e práticas regulatórias de comportamento de gênero alinhadas
com uma sociedade conservadora. Este trabalho objetiva estudar I’m Gay como instrumento de
influência, representação e transmissão de uma autoaceitação da comunidade LGBTQIAP+, a partir de
uma análise narrativa e estilística. Tal análise mostra-se relevante para compreender como os recursos
do audiovisual podem sugerir meios de constituição afetiva com a causa LGBTQIAP+ e com a
autodescoberta da sexualidade de Eugene, seja por um ato político ou de solidariedade.

Palavras-chave: Audiovisual. Narrativa. Estilo.

ABSTRACT:
The representation of homosexuality has diversified, multiplied, and gained space in media territories,
as it is noticeable in different contemporary audiovisual narratives. In the video clip I’m Gay, by Eugene
Lee Yang (2019), the plot develops from the clash between homosexual protagonism and the regulatory
conduct and practices of gender behavior aligned with a conservative society. This work aims to study
I’m Gay as an instrument of influence, representation, and transmission of self-acceptance by the
LGBTQIAP+ community, based on a narrative and stylistic analysis. Such analysis is relevant to
understand how audiovisual resources can suggest means of affective constitution with the
LGBTQIAP+ cause and with Eugene's self-discovery of sexuality, whether through a political or
solidarity act.

Keywords: Audiovisual. Narrative. Style.

1
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (PROPESQ/PUC-Campinas)
1
INTRODUÇÃO

A representação da homossexualidade tem se diversificado, multiplicado e ganhado


espaço nos territórios midiáticos, como é perceptível, por exemplo, em distintas narrativas
audiovisuais contemporâneas. A conexão de tais terminologias (“sexualidade”, “gênero” e
“audiovisual”) parece-nos relevante para estudar os potenciais efeitos provocados por tais
produtos.
Sabe-se que, em se tratando de produção audiovisual, os autores não apenas contam
histórias (narrativas), mas buscam por meio das técnicas videográficas, a melhor maneira de
contá-las (estilo). Nessa linha de raciocínio, a criação de conteúdo produz sentido e pode
motivar a identificação.
Em 15 de junho de 2019, propositalmente durante o Pride Month, mês do orgulho
LGBTQIAP+2 nos Estados Unidos, foi publicado um videoclipe intitulado I’m Gay e que, até
26 de dezembro 2020, contava com mais de 18,7 milhões de visualizações no canal The Try
Guys (em tradução livre, Os Rapazes da Tentativa). Trata-se de um canal estadunidense de
comédia composta por quatro integrantes: Keith Habersberger, Ned Fulmer, Zach Kornfeld e
Eugene Lee Yang. Os vídeos produzidos seguem disponíveis para transmissão no canal do
YouTube3.
I’m Gay foi produzido, dirigido e interpretado por Eugene. Com uma narrativa de pouco
mais de cinco minutos, o objetivo do intérprete/protagonista foi revelar sua orientação sexual
para o seu público, composto por mais de 5 milhões de inscritos. Segundo o The Trevor
Project4, Eugene levantou, com esse vídeo, mais de 120 mil dólares para a referida organização,
que tem como missão informar e prevenir suicídios entre os jovens LGBTQIAP+.
O enredo do videoclipe se desenvolve a partir de culturas vivenciadas da própria história
pessoal do protagonista, como o convívio familiar com condutas e práticas regulatórias de
comportamento de gênero alinhadas com uma sociedade conservadora – práticas essas que
limitam a possibilidade de existência dos sujeitos, aprisionando-os em apenas dois campos de
atuação, não cumulativos: o binômio: homem/mulher. Além disso, referências intertextuais,

2
Termo adotado para representar a comunidade composta por lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros,
queer/questionando, intersexo, assexuais/arromânticas/agêneros, pansexuais/polissexuais e outros tipos de
orientação que não se enquadrem no padrão heteronormativo.
3
Canal The Try Guys no YouTube. Disponível em: https://tinyurl.com/y8g38sz7. Acesso em: 09 nov. 2021.
4
The Trevor Project é uma organização sem fins lucrativos norte-americana fundada em 1998 em West
Hollywood, Califórnia, com o objetivo de informar e prevenir o suicídio entre jovens LGBTQIAP+.
2
incluindo fenômenos da cultura asiática, como mangás e animês, ajudam a contextualizar a
história que está sendo contada.
Eugene afirma que criou o videoclipe como uma maneira pessoal de tornar sua
sexualidade pública de forma que apresente suas histórias inéditas e específicas ao público.
Ainda relata: “Eu retive por causa do medo e da vergonha moldadas pelo meu passado, mas
prometo dar toda a minha verdade no resto do trabalho da minha vida” (YANG, 2019, p. 1).
Esse relato reafirma o poder das normas e práticas regulatórias, por meio de ideologias
moralistas e cristãs, por exemplo, que denominam e controlam todo o comportamento e
subjetividade de uma pessoa humana e/ou grupos sociais.
Desse modo, este trabalho objetiva estudar o videoclipe I’m Gay como instrumento de
influência, representação e transmissão de uma autoaceitação da comunidade LGBTQIAP+, a
partir de uma análise narrativa e estilística. Tal análise mostra-se relevante para compreender
como os recursos do audiovisual podem sugerir meios de constituição afetiva com a causa
LGBTQIAP+ e com a autodescoberta da sexualidade de Eugene, seja por um ato político ou de
solidariedade.

ANÁLISE NARRATIVA E ESTILÍSTICA DO VIDEOCLIPE

De forma geral, a narrativa de I’m Gay e suas respectivas cenas são produzidas por
cores, ressaltando sentimentos e definindo o propósito de cada personagem, que, em ordem,
(vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta) formam as cores da bandeira da comunidade
LGBTQIAP+, da qual Eugene faz parte. A totalidade das cores neutras, como o preto e o
branco, também marca presença: os vestidos de preto simbolizam as pessoas que o apoiaram,
enquanto os que não o fizeram aparecem vestidos de branco. Além disso, a presença da trilha
sonora, da banda eletrônica ODESZA5, e os movimentos do balé contemporâneo, também
coreografado por Eugene, ficam responsáveis por intensificar as ações.
Adaptando o percurso metodológico utilizado para o estudo de narrativa e estilo no
audiovisual (HERGESEL, 2019), o movimento adotado para esta análise parte de uma
observação inicial e descompromissada do corpus, a fim de detectar quais são as passagens
fundamentais para a condução da narrativa. A partir disso, seleciona-se o recorte e faz-se uma
revisitação às cenas, dispensando a elas um olhar mais aprofundado. Passa-se, então, a procurar

5
ODESZA é uma dupla norte-americana de música eletrônica de Seattle, Washington, formada em 2012,
consistindo em Hassison Mills e Clayton Knigth.
3
entender como a estrutura narrativa se molda, considerando os personagens, o tempo e o espaço
dentro do enredo que se desenvolve. Busca-se, ainda, compreender como as marcas estilísticas
são compostas, considerando aspectos técnicos e poéticos do audiovisual. Por fim, propõe-se
uma reflexão dos elementos observados, para que se atinjam os objetivos propostos.

O vermelho: reforço das normas sociais


O vídeo se inicia em um cenário vermelho, na qual Eugene (vestido da mesma cor) e
seus irmãos imitam as ações de seus pais (Figura 1) – ações típicas dos papéis de gênero em
uma sociedade conservadora, reforçando ainda mais as normas sociais, em que o homem grita
e se alcooliza, enquanto a mulher deve ser brilhante, borbulhante e atraente. Na cena, Eugene
se identifica mais com os hábitos tidos como feminino, seguindo os retratos de sua mãe e irmã,
até que seu pai e irmão o repreendem, e ele passa a agir de uma maneira tida como correta para
um homem em uma sociedade conservadora.

Figura 1: Representação de uma família tradicional, segundo a heteronormatividade.

Fonte: I’M GAY. Direção de Eugene Lee Yang. The Try Guys, 15 jun. 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=qpipLfMiaYU. Acesso em: 09 nov. 2021.

Ademais, faz-se necessário apresentar como ilustração os conceitos pautados por


Eugene em seu vídeo, acerca dos reforços, hábitos e práticas sociais. E, ainda, vale ressaltar que
tais práticas, foram atribuídas ao longo da história, na qual a cultura patriarcal impôs às
mulheres a lógica de dominação e opressão. O tema de estereótipos de gênero e das atitudes
relacionadas à sexualidade está basicamente ligado à atribuição de papéis sexuais. Ou seja,
existem práticas regulatórias que determinam os papéis de gênero de dada sociedade, assim
como é ilustrado pela narrativa.
De acordo com García-Mina Freire (2003), em leitura de Santos (2009), os modelos de

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masculinidade e feminilidade são moldes vazios que cada sociedade preenche com uma série
de normas e atitudes, crenças, estereótipos e comportamentos previamente escolhidos neste
amplo leque de possibilidades que contém o contexto social. Estes modelos definem a vida das
pessoas através de uma normativa que aponta os direitos e deveres, proibições e privilégios que
cada pessoa tem por pertencer a um sexo ou a outro. Ou seja, a fala e o discurso pode ser um
determinante nas identificações sexuais. Em uma leitura de Haddad e Haddad (2017), a criança,
desde o nascimento, é levada a uma performance que a define de acordo com o seu sexo
biológico.
Nesse sentido, seguindo o raciocínio de Reis (2014), Judith Butler reafirma essa ideia.
“A cultura impõe práticas entendidas como feminina ou masculina, que se chama
performatividade” (BUTLER, 2003, p. 8), caracterizada pela reprodução reiterada de modos de
agir na sociedade que constrangem a mulher a se comportar de modo feminino e o homem a se
comportar de modo masculino, excluindo, consequentemente quem não se enquadra nestes
comportamentos impostos, por estarem fora do padrão ideal pré-determinado pelas relações
sociais de poder.
Essa regra disciplinar fundamental é denominada por Butler (2003) como
“heteronormatividade”, que estabelece a heterossexualidade como princípio regulatório da
sexualidade. Dessa maneira, assim como Soares (2012) afirma, a identidade não descreve a
realidade, ela se torna imposta. Em uma mesma leitura, Soares (2012), descreve que o termo
“performatividade” foi um empréstimo da linguística apropriada por Butler para designar que
a linguagem não apenas apresenta o corpo e o sexo como tal como se apresentam, como algo
dado, mas sim cria, constrói significações e representações daquilo que nomeia (LOURO,
2001).
Portanto, falar de gênero como performativo significa que gênero não é o que somos,
mas que continuamos a fazê-lo, repetindo normas claras de gênero impostos por práticas
regulatórias. Butler (2003, p. 200) descreve: “Essa repetição é a um só tempo reencenação e
nova experiência de um conjunto de significados já estabelecidos socialmente; e também é a
forma mundana e ritualizada de sua legitimação”. Contudo, as performances que ocorrem na
narrativa vão de acordo com a teoria de Butler. As práticas discursivas apresentadas pela família
de Eugene instituem saberes e legitimam poderes regulatórios sobre um individuo, a fim de
normalizar e hierarquizar papéis sexuais. Em diálogo com Graça (2016), são essas práticas
discursivas ou regulatórias, amplamente difundidas e apreendidas pelos sujeitos, que moldam

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os códigos identitários de gênero, baseados na diferença sexual e na construção de seres binários
– homem ou mulher, ilustrada na narrativa.

O laranja: influências culturais


Laranja é a cor predominante na cena seguinte, que retrata Eugene vestido em um
conjunto inspirado nas roupas utilizadas pelos personagens do mangá e animê Naruto,
representando a influência asiática que esteve muito presente durante sua infância (Figura 2).
Nessa cena, ele é representado dançando em uma igreja de forma vívida, até que é corrigido,
novamente, pelas pessoas ao seu redor. Eugene, confuso, senta-se nos bancos em que as pessoas
que os apoiam, ou seja, os que estão vestidas de roupas pretas e com uma postura pacífica,
enquanto, do outro lado, as pessoas estão vestidas de branco e agindo de maneira exaltada, se
interagindo com a figura representativa (padre/pastor) que também se encontra da mesma
forma.

Figura 2: Religião como domínio cultural.

Fonte: I’M GAY. Direção de Eugene Lee Yang. The Try Guys, 15 jun. 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=qpipLfMiaYU. Acesso em: 09 nov. 2021.

No entanto, é perceptível que, além da influência da cultura japonesa, há também a


presença do cristianismo na vida pessoal do protagonista. Eugene ilustra bem como essa cultura
religiosa pode determinar e influenciar os comportamentos e ações sobre um indivíduo. Na
visão de Eunice Durham (2004, p. 231), “a cultura constitui um processo pelo qual os homens
orientam e dão significado às suas ações através de uma manipulação simbólica que é atributo
fundamental de toda prática humana”. Logo, a cultura pode ser entendida como o conjunto de
costumes e valores de certa sociedade que conectada com os tipos de religiões se manifestam
de alguma forma, seguindo os valores éticos e morais pré-estabelecidos culturalmente.

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O amarelo: balé contemporâneo
Amarelo é a cor seguinte, e a cena tende a transmitir sensações de suavidade, doçura e
delicadeza. Eugene, com um colete amarelo pálido e em um fundo amarelo queimado, dança
com uma moça, até que um homem chama sua atenção e eles passam a dançar juntos (Figura
3). A mulher continua a dançar por um momento, mas cada vez mais distante dos dois. Os
movimentos de dança são realizados com elegância, e buscam transmitir uma conexão natural
entre os dois homens. No fim, a mulher aparece vestida de preto (cor utilizada para representar
os aliados) e abraça Eugene.

Figura 3: Movimento do ballet contemporâneo e suas conexões.

Fonte: I’M GAY. Direção de Eugene Lee Yang. The Try Guys, 15 jun. 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=qpipLfMiaYU. Acesso em: 09 nov. 2021.

Eugene utiliza do balé contemporâneo – movimento de dança que está presente no


âmbito do protagonista – para representar a conexão com os dois indivíduos, o homem e a
mulher. No entanto, a dança pode ser considerada uma arte que se desenvolve no espaço e no
tempo, expressando sensibilidade através do movimento corporal, de modo harmônico ou não,
conforme a interpretação e a estética de expressão (DANTAS, 1999). Desse modo, Eugene
ilustra, através dos gestos, passos e movimentos corporais com o ritmo musical, sua
sensibilidade e afetividade com os bailarinos.

O verde: memorial da boate Pulse (2016)


Em seguida, na cena com tons de verde, observemos Eugene descer as escadas até um
clube, vestido como Cheyenne Pepper (nome que ele utiliza em suas performances de drag
queen). Feliz e sorridente, Cheyenne cumprimenta sua nova família, representada por vários

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nomes conhecidos da comunidade LGBTI (Grace Yoo, Intae Kim, Terumi Shimazu, Gary
Murakami, Sophia Oddi, Joshua Blaine, Kim Chi, Jazzmyne Jay, Rhea Litre, Mayhem Miller,
Curly Velasquez, Arisce Wanzer e outros). Em seguida, aparece um homem caminhando até a
pista de dança com a mão em forma de arma e atirando (Figura 4). As pessoas caem no chão,
mas Cheyenne permanece de pé, confuso com o que está acontecendo.

Figura 4: Memorial do massacre de Orlando, na boate Pulse, 2016.

Fonte: I’M GAY. Direção de Eugene Lee Yang. The Try Guys, 15 jun. 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=qpipLfMiaYU. Acesso em: 09 nov. 2021.

Esse quadro busca ser um memorial a todas as pessoas que morreram no massacre6 de
Orlando (Flórida), que ocorreu na boate Pulse em 2016. A boate era conhecida por ser uma casa
noturna popular entre a comunidade LGBTI. Esse massacre deixa claros os ataques de ódios e
violências simbólicas que a comunidade LGBTI enfrenta durante toda sua vivência enquanto
indivíduo em uma sociedade machista e homotransfóbica.

O azul: violência
A cena com elementos de cores azuis se abre com Eugene vestindo um longo par de
jeans azul, sendo espancado e chutado no chão por estranhos, em um ambiente no que parece
ser o fundo de um beco, o que ilustra muito bem os espaços de violência contra pessoas LGBTI
e por fim, com marcas de agressão e muito sangue. Quando eles param e fogem, ele sai em
busca de ajuda. Seus irmãos (vestidos de preto) o encontram e tentam ajudá-lo, mas seus pais
(vestidos de branco) intervêm. A família argumenta, deixando Eugene se apegar a qualquer
força que ele possa ter nele mesmo para seguir em frente e se recuperar.

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Em 12 de junho, um homem de 29 anos causou um massacre matando pelo menos 50 pessoas e deixando outras
53 feridas, na boate Pulse, em Orlando. (FAUS, 2016, p. 1).
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Figura 5: Ato de violação simbólica contra a comunidade LGBTI.

Fonte: I’M GAY. Direção de Eugene Lee Yang. The Try Guys, 15 jun. 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=qpipLfMiaYU. Acesso em: 09 nov. 2021.

Eugene, por sua vez, reconhece as violências físicas e simbólicas que a comunidade a
qual ele pertence sofre diariamente. A cena representa toda e qualquer forma de discriminação
direta e indireta contra a comunidade LGBTI.

O violeta: confronto
Os tons de violeta são utilizados em seguida, através do vestido e maquiagem. Eugene
aparece passando por uma multidão, nela há pessoas que o empurraram e gritam com ele, mas
também pessoas que o mostram apoio (Figura 6). Essas pessoas são diferenciadas, novamente,
pelas cores das roupas (preto e branco), atos que acompanham toda a narrativa audiovisual.

Figura 6: Confronto e polarização.

Fonte: I’M GAY. Direção de Eugene Lee Yang. The Try Guys, 15 jun. 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=qpipLfMiaYU. Acesso em: 09 nov. 2021.

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Nessa cena, fica clara a ilustração do protagonista a partir do confronto e o choque de
opiniões que sempre permeiam a vida de qualquer pessoa da comunidade LGBTI. Além de
exemplificar a grade polarização que existe dentro de uma sociedade acerca de qualquer assunto
relacionado à sexualidade e gênero.

Cena final: formação das cores da bandeira LGBTI


A última cena mostra Eugene e algumas das personalidades que já haviam aparecido
anteriormente sentados em cenário, dessa vez, representado a completa ordem da bandeira
LGBTI. Além disso, Eugene finaliza apresentando sua nova família, a própria comunidade e
com uma dedicatória: “For the LGBTQIA+ Community” (em tradução: “para a comunidade
LGBTQIA+”).

Figura 7: Para a comunidade LGBTI.

Fonte: I’M GAY. Direção de Eugene Lee Yang. The Try Guys, 15 jun. 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=qpipLfMiaYU. Acesso em: 09 nov. 2021.

Todos os elementos que compõem o discurso mostram que o objetivo de Eugene não
foi apenas representar sua história e assumir sua sexualidade, mas também de reconhecer a
comunidade LGBTI, sendo um discurso que auxilia a legitimar tanto discursos anteriores
quanto os que virão a seguir de que a comunidade LGBTI deve ser vista e respeitada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A narrativa audiovisual, como elemento de expressão das manifestas culturais, através


de aspectos poéticos e discursivos, perpetuamente rica em simbolismos e representações,
possibilita um entendimento mais categórico e absoluto do objetivo de Eugene, além do
reconhecimento das práticas sociais e a performance de gênero presente na sociedade.

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Cada cena analisada representa as interferências do contexto social, e tais análises
ajudam a desmistificar os processos históricos, culturais e ideológicos a qual estão inseridos.
Nesse sentido, os processos de análises auxiliam na compreensão e construção de novos
sentidos e na transformação de novos discursos que sustentam a legitimidade da comunidade
LGBTQIAP+.

REFERÊNCIAS
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(RJ): Civilização Brasileira, 2003.

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