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Sabrina Almeida
Psicóloga Clínica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3129109346716127
RESUMO
O estudo teve como objetivo investigar as vivências de jovens que utilizam os grafites
urbanos (grafite e pichação) como formas de expressão artística e cultural. Mais
especificamente, buscou-se observar a relação dos grafites urbanos com temas pertinentes à
juventude, entre eles: construção de identidade, manifestação política e protagonismo juvenil.
A pesquisa realizada foi de natureza qualitativa, de tipo descritivo e caráter transversal. Foram
selecionados 3 jovens do sexo masculino, residentes em João Pessoa – capital da Paraíba, com
idades entre 27 e 29 anos e que pertenciam ao mesmo grupo de grafiteiros. Utilizou-se o
grupo de discussão como fonte metodológica, ancorada no interacionismo simbólico. Como
resultados, os jovens ressaltaram o papel do grafite enquanto forma de atuação política e arte
de protesto contra a opressão, exclusão e vulnerabilidade. Ademais, os participantes
expressaram a relevância do grafite na construção de identidade e sentimento de pertença
grupal. E, ainda, percebeu-se a importância do grafite na promoção do protagonismo juvenil,
pelo fato dessa ferramenta permitir aos jovens falarem diretamente de si para os demais sem
que haja supostos representantes.
INTRODUÇÃO
A palavra “graffito” tem origem italiana e quer dizer riscar ou rabiscar (GITAHY,
1999). Os grafites urbanos (pichação e grafite) surgiram a partir de assinaturas (“tags”)
inscritos com sprays pelos jovens nos muros, trens e estações de metrô de Nova York. Mais
tarde foram incorporados letras especiais, desenhos e símbolos, criando uma estética própria,
que começou a se definir como “arte das ruas”. Além disso, os grafiteiros também se agrupam
em “crews” (grupos de grafiteiros) que se reúnem sob um nome ou sigla (FORT; GOHL,
2016).
Alguns autores remontam a história da pichação à Antiguidade, comparando-a com as
pinturas rupestres (TEIXEIRA, 2004). Nessa visão a pichação está associada à necessidade do
homem de se comunicar e deixar sua marca (ZAN et al., 2010). Posteriormente, a invenção do
spray tornou-se um marco para a arte do grafite ao conferir melhor praticidade de uso,
facilidade no transporte e maior visibilidade em relação às outras técnicas como giz ou carvão
(LIMA, 2018). Destarte, tanto o grafite quanto a pichação usam o spray como ferramenta,
assim como, usufruem da cidade enquanto matéria-prima.
No entanto, há divergências entre os autores com relação às diferenças entre o grafite e
a pichação. Segundo Pereira (2005), a distinção entre grafite e pichação é algo muito
específico do Brasil. Em outros países, a pichação é apenas um estilo dentro do grafite (ZAN
et al., 2010). A diferenciação mais compreensível é um posicionamento do grafite mais
próximo do campo da pintura e a pichação, mais próxima da escrita. Ademais, as pichações
costumam ser feitas no calor do momento, num impulso, os grafites passam geralmente por
um processo de desenvolvimento no papel (SILVA, 2004).
Apesar dessa necessidade de diferenciação, muitos grafiteiros são também pichadores
e os próprios não sabem diferenciar exatamente o que seja uma pichação ou um grafite, uma
vez que ambos provocam transformações na paisagem urbana. Assim como o picho, os
grafites também são em grande parte feitos clandestinamente. E ainda, aos olhos da justiça o
grafiteiro pode ser tão vândalo quanto o pichador (SILVA, 2001).
No Brasil, o grafite é liberado legalmente desde que haja a autorização para a pintura
no muro; dessa maneira, se a pintura não foi autorizada previamente é considerada pichação.
Na prática, pichar ou grafitar sem o consentimento do proprietário é crime passível de
detenção e multa (FORT; GOHL, 2016). De qualquer maneira, os grafites urbanos continuam
a coexistir nos muros das cidades brasileiras, contribuindo para a formação da identidade,
cooperação, autoafirmação e lazer de jovens periféricos que não se enquadram
necessariamente ao que o Estado espera de um cidadão típico e obediente de suas obrigações.
O crescimento descontrolado, fragmentado e desigual característico da urbanização
configurou um solo fértil para a atuação do grafite nas grandes metrópoles brasileiras. Nesse
cenário, os grafiteiros se tornaram agentes de intervenção em espaços públicos deteriorados,
abordando uma temática político-social inspirada pelo discurso do hip-hop de busca por
formas de representatividade, inserção dos jovens da periferia à sociedade e discussão de
problemas sociais (ZAN et al., 2010).
Cada vez mais, os jovens utilizam a dimensão simbólica como forma de comunicação
e ato político, isso se expressa nos comportamentos e atitudes pelos quais se posicionam
diante de si mesmos e da sociedade, um fenômeno que pode ser observado nas ruas, nas
escolas ou nos espaços de agregação juvenil (DAYRELL, 2002). O grafite e pichação,
enquanto forma de expressão, surgem para tentar cobrir a ausência de outras formas de
expressão no âmbito público, reflexo da falta de investimento institucional (ARAÚJO, 2016).
Ambos denunciam a lógica da cidade, porém a pichação é tratada de forma negativa,
considerada como ação ilegal, usualmente associada ao vandalismo, delinquência, poluição
visual e desfiguração dos espaços públicos (SOUZA, 2007). Enquanto o grafite, uma espécie
de arte ou expressão cultural (SILVA, 2004).
Diante da indispensabilidade de ampliar o conhecimento a respeito da temática, este
estudo teve como objetivo investigar as vivências de jovens que utilizam o grafite ou a
pichação como forma de expressão artística e cultural. Mais especificamente, buscou-se
investigar a relação dos grafites urbanos com temas pertinentes à juventude, entre eles:
construção de identidade, protagonismo juvenil, cultura juvenil e movimentos sociais.
METODOLOGIA
Grafite O que o grafite significa para vocês? Verificar a contribuição do grafite na formação
da identidade dos jovens e sua importância no
enfrentamento de situações de exclusão e
discriminação.
Juventude O que é ser jovem para vocês? Conhecer suas experiências e expectativas em
relação à juventude.
Cultura juvenil O que vocês entendem por cultura Incentivar a discussão sobre cultura juvenil e
juvenil? protagonismo.
Relação com outros Como é a relação de vocês com os Investigar como se constituem as relações entre
jovens grafiteiros outros jovens grafiteiros? jovens de diferentes grupos/coletivos.
Polícia/violência Vocês já tiveram algum problema Explorar as situações vividas no confronto com a
com a polícia? Poderiam citar polícia.
alguma experiência?
Projetos de vida Quais os seus projetos de vida? Conhecer suas projeções futuras em relação à
Esses projetos envolvem o grafite? vida e como o grafite está inserido.
Discriminação/racismo Vocês já tiveram alguma Identificar as experiências de
experiência de discriminação/racismo e analisar as estratégias de
discriminação/racismo? enfrentamento elaboradas pelos jovens.
Encerramento Não temos mais perguntas. Promover a discussão do grupo sobre outros
Gostariam de falar sobre mais algum temas relevantes.
assunto?
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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