Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Eletrotécnica e de Computadores
L.EEC019 — Eletrónica 1
Fevereiro, 2023
Versão 1.0
Conteúdo
1 Introdução 3
2 LTspice 4
2.1 Netlist . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Edição de esquemático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2.1 Criar, abrir ou guardar um esquema de circuito elétrico . . . . 6
2.2.2 Desenho do esquema de circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2.3 Parametrização dos elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2.4 Sistema de representação numérica . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.5 Atribuição de etiquetas (Labels) aos nós . . . . . . . . . . . . 8
2.3 Diretrizes de simulação e visualização de resultados . . . . . . . . . . 9
2.3.1 Ponto de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3.2 Análise transitória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3.3 Visualização dos resultados de uma análise transitória . . . . . 11
3 Conclusão 13
Introdução Sintética à Simulação de Circuitos Elétricos com o LTspice
1 Introdução
As ferramentas do tipo SPICE (Simulation Program with Integrated Circuit
Emphasis) definem, presentemente, uma classe de simuladores de circuitos elétricos.
A primeira versão data do inı́cio dos anos 70 do século passado e foi inicialmente de-
senvolvida por Larry Nagel na Universidade da Califórnia, em Berkeley, sob o nome
de SPICE1. A ferramenta passou para o domı́nio público em 1971 e, desde então,
tem vindo a sofrer melhoramentos diversos, a partir dos quais eclodiram uma série
de simuladores comerciais que usam o SPICE como base no seu motor de cálculo,
nomeadamente, o Pspice, IS Spice, Rspice, Micro Cap (requalificado recentemente
para utilização livre e sem licença), Multisim, HSPICE, entre outros, e também o
LTspice.
O objetivo de uma simulação elétrica é o de prever numericamente o compor-
tamento de circuitos no seu funcionamento real. Os simuladores são hoje, por
conseguinte, uma peça incontornável no processo de projeto de circuitos e siste-
mas eletrónicos modernos, sendo possı́vel, com bons modelos1 dos dispositivos e
simulações cuidadas, obter um projeto final que nos dá excelentes garantias de fun-
cionamento à primeira após o fabrico.
O simulador SPICE recorre a técnicas de resolução numérica de sistemas de
equações que resultam da análise nodal do circuito a simular. Sumariamente, po-
demos interpretar um simulador como sendo uma máquina de cálculo que constrói
um sistema de equações com base nas leis de kirchhoff e usa métodos numéricos
para calcular as correntes e tensões no circuito. Concomitantemente, o problema da
convergência está sempre muito presente no ato de simular. O algoritmo de cálculo
numérico nem sempre converge para uma solução, exigindo o envolvimento do utili-
zador no processo de alterar a configuração de simulação, tanto ao nı́vel do esquema
como do controlo de variáveis internas associadas ao algoritmo de simulação, de
modo a reverter os problemas de convergência.
Os circuitos podem ser descritos tanto pelo desenho de um esquema elétrico,
neste caso estará associado ao simulador um programa de captura de esquemáticos,
como por um ficheiro texto escrito numa linguagem de descrição de circuitos, com
sintaxe e semântica próprias. O LTspice oferece ambas possibilidades.
Na verdade, as ferramentas de simulação tipicamente geram representações in-
ternas dos esquemas desenhados a partir de uma conversão prévia do esquema para
uma descrição textual designada por netlist. Este processo corresponde à extração
do esquemático e é a partir da interpretação da netlist que o simulador cria o sis-
tema de equações. Além da indicação dos componentes, dos respetivos parâmetros e
suas interligações, a descrição do circuito também deve incluir um conjunto de dire-
trizes para controlar a simulação (precisão, método de integração, ...), definir o tipo
de simulação a realizar (dc, temporal, frequência, ...), bem como para especificar o
formato das grandezas elétricas pretendidas. Os resultados de simulação podem ser
1
Modelos de simulação elétrica são representações matemáticas (ou simbólicas) parametrizáveis,
com ou sem significado fı́sico, que relacionam as tensões e correntes no dispositivo elétrico (e.g. o
modelo de uma resistência ideal é v = R i e o parâmetro do modelo é o R) e que se destinam a uma
resolução numérica por computador. O modelo é tanto melhor, quanto melhor for a sua previsão
numérica do real, na presunção de que as condições de funcionamento em ambiente de simulação
são semelhantes (réplicas virtuais — modelo) às reais.
L.EEC019 — Eletrónica 1 3
2 LTspice
Figura 1: Exemplo de um esquema elétrico criado no LTspice e respetiva netlist aı́ obtida.
2 LTspice
O LTspice é uma ferramenta de software SPICE para simulação de circuitos
elétricos que incorpora captura de esquemático e visualização gráfica de formas
de onda. O software é disponibilizado gratuitamente pela Analog Devices, Inc.
(ADI) e existe para duas plataformas: Windows e Mac OS X. Para os sistemas baseados
em Linux pode ser instalada a versão Windows com recurso à aplicação Wine. Na
figura 1 apresenta-se um exemplo de desenho de um esquema elétrico, justaposto
com a representação textual equivalente.
2.1 Netlist
A descrição textual do circuito a simular e as diversas diretrizes necessárias ao
controlo da simulação são definidas num ficheiro de formato texto. À descrição
textual chamamos netlist. Este ficheiro é gerado automaticamente pelo LTspice
segundo o esquema do circuito que é desenhado na plataforma. Em alternativa, o
utilizador tem a possibilidade de construir o ficheiro recorrendo a um qualquer editor
de texto. No ambiente LTspice este ficheiro deve ter como extensão xxx.asc. O
ficheiro netlist contém toda a informação sobre o circuito a simular, podendo facil-
4 L.EEC019 — Eletrónica 1
Introdução Sintética à Simulação de Circuitos Elétricos com o LTspice
mente ser utilizado por diferentes ferramentas de software com fins diversos, mesmo
entre simuladores de diferentes plataformas, representando um beneficio muito rele-
vante em termos de portabilidade.
Caso decida descrever o circuito via ficheiro netlist, atente que a primeira
linha do ficheiro é sempre ignorada, sendo habitualmente utilizada para identificar o
circuito editado, no exemplo da figura 1 — * Amplificador *. Embora o sı́mbolo *
não seja necessário para o caso particular da primeira linha do ficheiro, em todas as
restantes linhas, se esta começar por *, tudo à sua direita é considerado comentário
(é ignorado quando o simulador interpreta o conteúdo do ficheiro). Comentários a
meio ou nos finais de linha são precedidos de ; (e não *).
Cada linha do texto define um componente ou elemento de circuito, como este é
interligado no contexto do circuito e diretrizes. A linguagem de descrição é interpre-
tada e segue uma sintaxe muito simples. A primeira letra de cada linha referencia
o tipo de elemento e o seu sufixo identifica o elemento de forma inequı́voca no seio
do circuito. Contudo, se a linha iniciar por um ponto (como .backanno ou .end na
figura 1), então trata-se de uma diretriz (controlo ou tipo de simulação). Na tabela
1 são apresentados alguns exemplos de diferentes elementos e respetiva sintaxe. É
um bom exercı́cio observar a figura 1 e fazer a correspondência com a sintaxe listada
na tabela 1. Note que foram dados nomes (etiquetas — labels) aos nós no esquema
que, naturalmente, têm correspondência na netlist gerada. Caso se escuse de dar
nomes aos nós, o LTspice fa-lo-á de forma automática (o nome começa sempre por
N seguido de um valor numérico de sequenciação como sufixo). É bom realçar que
o nó de referência global (a massa, como vulgarmente designamos) é pré-definido e
representado por 0 (zero), como poderá extrapolar da figura 1. Note que um nó
com a designação de 00 é um nó diferente do nó 0. Se se iniciar o nome de
um nó por $G então esse nó é assumido na netlist como global (e.g. $G VDD).
O sistema de representação numérica de <Valores> será discutido um pouco
mais à frente. Para uma referência mais exaustiva da sintaxe, consulte o manual
disponibilizado pelo LTspice no menu Help.
L.EEC019 — Eletrónica 1 5
2.2 Edição de esquemático
Novo esquema
Todos os Componentes
GND Adicionar texto
Iniciar Simulação Modo de Apagar Label Arrastar
Diretriz SPICE
6 L.EEC019 — Eletrónica 1
Abrir ficheiro Gravar ficheiro
Introdução Sintética à Simulação de Circuitos Elétricos com o LTspice
(a): Janela de seleção de compo- (b): Instanciação de resistência (c): Fonte de tensão independente.
nentes. (iniciar escrita de res na caixa de
texto ou selecionar da lista).
L.EEC019 — Eletrónica 1 7
2.2 Edição de esquemático
Tal como referido anteriormente, caso não se fixem nomes para os nós do cir-
cuito, o LTspice encarrega-se de o fazer. Mas para facilitar a leitura do circuito e
8 L.EEC019 — Eletrónica 1
Introdução Sintética à Simulação de Circuitos Elétricos com o LTspice
Figura 7: Janela para associar um nome a um determinado nó. A massa (GND) é um nó muito
relevante (é global) e tem a si associada um sı́mbolo especial, o COM não tem grande significado e a
caixa permite editar um nome a nosso gosto. É possı́vel também definir que o nó a designar é um
porto e pode-se determinar de que tipo se trata: se é de entrada, saı́da ou bidirecional. Se o nó é
do tipo porto, ou não, é irrelevante para a netlist, a distinção apenas permite uma leitura mais
fácil do esquema. Há, no entanto, ferramentas que podem utilizar esta informação para verificar
regras elétricas, por exemplo, poderá não fazer muito sentido ligar entre si dois portos que são
ambos saı́das.
a sua organização, bem como possibilitar uma rápida identificação dos nós que são
relevantes analisar, é muito importante que se dê um nome escolhido pelo utilizador,
principalmente àqueles mais essenciais. Note que se a dois fios que não estão
ligados no desenho do esquema do circuito, lhes for atribuı́do o mesmo
nome, então esses fios ficam eletricamente curto-circuitados (são o mesmo
nó do ponto de vista da netlist). Pode verificar quais fios estão eletrica-
mente ligados destacando um deles. Prima o botão direito do rato sobre
o fio a verificar e escolha Highlight Net, na sequência todas as ligações comuns
serão realçadas com uma cor predefinida.
Para dar um nome aos nós do circuito, prima o botão correspondente na barra
de ferramentas (figura 4), daı́ surgirá uma janela de dialogo como aquela indicada na
figura 7. Após o OK, bastará arrastar a Label e fixar a respetiva âncora (o quadrado
azul) ao fio que se pretende dar o nome. Em alternativa, pode também posicionar
o ponteiro do rato sobre o fio que pretende dar nome e, premindo o botão direito,
selecionar Label Net.
L.EEC019 — Eletrónica 1 9
2.3 Diretrizes de simulação e visualização de resultados
O ponto de operação, diretriz .op, apenas simula a resposta do circuito para dc.
Ao conjunto de tensões e correntes que daqui resulta também se designa frequente-
mente por ponto de funcionamento estático (PFE), ou em repouso, do circuito. Se
a este estiver associado uma ou mais fontes independentes de sinal temporal (e.g.
sinusoidal), o valor dc assumido em .op será o correspondente à amplitude dos sinais
em t = 0 s.
Selecionando o DC op pnt na janela de diretrizes da figura 8, observa-se o in-
dicado na figura 9a e, premindo OK, podemos agora fixar a dita diretriz no espaço
de trabalho, conforme indica a figura 9b. Antes de simular, convém definir pri-
meiro o valor de tensão da fonte V1, alterando as suas propriedades, neste caso, para
1 V. Agora sim, premindo o botão para correr a simulação (figura 4) obteremos o
resultado indicado na figura 9c.
A simulação do tipo .op apenas lista os valores resultantes da simulação, nome-
adamente, as tensões nos nós e correntes nos componentes. Pode optar por colocar
uma etiqueta no fio com a indicação do respetivo resultado de simulação. Para esse
fim, clique com o botão direito do rato no fio e escolha Place .op Data Label; o
respetivo resultado será mostrado no esquema como uma etiqueta.
A simulação .op é o equivalente virtual de ensaios em laboratório recorrendo a
medições de tensão e corrente com voltı́metros e amperı́metros, respetivamente, em
modo dc.
(a): Janela de seleção do ponto de (b): Esquema da figura 1 com a (c): Resultado da simulação.
operação. diretriz .op adicionada.
10 L.EEC019 — Eletrónica 1
Introdução Sintética à Simulação de Circuitos Elétricos com o LTspice
(a): Janela de seleção de análise (b): Análise transitória de 1 ms. (c): Esquema da figura 1 com a di-
transitória. retriz .tran adicionada.
L.EEC019 — Eletrónica 1 11
2.3 Diretrizes de simulação e visualização de resultados
12 L.EEC019 — Eletrónica 1
Introdução Sintética à Simulação de Circuitos Elétricos com o LTspice
Passando com o rato pela janela do gráfico e premindo o botão direito acede
a mais opções que permitem editar os gráficos, adicionar sinais (traços), definir
expressões com sinais, alterar escalas, formatar, etc... Pode consultar a lista de
expressões que podem ser aplicadas aos sinais no menu Help → Help Topics →
LTspice XVII → Waveform Viewer → Waveform Arithmetic.
A figura 13 mostra um exemplo de como proceder para gerar um novo painel
gráfico e visualizar o resultado de uma expressão aplicada ao sinal vo. Com o apon-
tador do rato sobre o painel gráfico, premir o botão direito →Add Plot Pane. Um
novo gráfico, ainda vazio, é adicionado conforme a figura 13a apresenta. Repetindo
o processo, agora sob o novo gráfico vazio (figura 13a) →Add Traces abre uma
nova janela, tal como indica a figura 13b. Pode agora editar a expressão desejada
(se selecionar o sinal da lista, este será adicionado à caixa de edição) e, finalmente,
obtém-se o resultado depois do OK (figura 13c).
Se pretender alterar escalas, selecione a opção adequada em View após premir o
botão direito do rato no espaço gráfico. As ferramentas de zoom também podem ser
utilizadas para uma melhor visualização.
Por fim, pode adicionar cursores para medição sobre os gráficos. Basta clicar no
nome do traço que se encontra no topo de cada gráfico.
3 Conclusão
Este documento não pretende ser uma referência exaustiva sobre o LTspice, mas
contém o essencial para iniciar a simulação em SPICE. Deve sempre complementar
a informação aqui presente com o manual disponı́vel no Help do LTspice. Toda-
via, muitas das referências relativas aos métodos de simulação aqui descritos são
transversais a outras ferramentas de simulação baseadas em SPICE.
Finalmente, é sempre bom consultar o ficheiro .log que o LTspice gera após
cada simulação, encontra aı́ a informação sobre como esta correu e o registo de
eventuais erros.
L.EEC019 — Eletrónica 1 13