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NOME DO FORMANDO:

CURSO: TÉCNICO/A DE MANUTENÇÃO INDUSTRIAL DE METALURGIA E METALOMECÂNICA

AÇÃO: 0121TMI

DOMÍNIO / MÓDULO: DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E CULTURAL

FICHA DE TRABALHO Nº 2

Contudo, o português de Angola e de Moçambique, devido ao contacto com outras línguas


de África, sofreu influências diferentes das do português europeu.
Observemos alguns casos diferenciadores do Português de Angola, através de excerto de um
escritor angolano. Faça o mesmo exercício efetuado no excerto anterior:

“Ulume ia a dizer não foi só o inimigo, qualquer que ele fosse, a arrasar o vale, para
haver guerra é preciso ter dois exércitos. Mas para quê entrar nesse tipo de discussão? Lhe
entregou a xikuanga e a galinha e o massango que carregara, mimos da mãe, para ouvir não
era preciso, pai, a comida vos faz mais falta a vocês que a mim, agradeço muito mas da
próxima vez eu é que vos levo comida, tenho demais, ao que Ulume contrapôs o seu orgulho,
a nossas provisões chegam a estragar, não temos bocas para comer todas as que existem no
vale, agora que as pessoas foram embora ou morreram, deixaram lavras e nakas
abandonadas que nem precisamos de colher.
- Mesmo com a família do Luzolo lá?
- Sim, dá para todos e ainda sobra muito.
Mas o ar de Kanda, ao introduzir a palavra Luzolo na conversa, deu a entender a
Ulume que tinham chegado à parte que mais interessava o filho.
- A propósito, o que ele disse que ia fazer lá no vale?
- O teu irmão já não é militar, lhe desmobilizaram. Veio uma vez nos visitar e contar
isso. Foi buscar a família e agora estamos a construir casas e os cercados para se instalarem
bem.
- E ele deixou o exército definitivamente? É isso que diz?
- Veio sem farda nem arma. Da primeira vez e desta também. Por enquanto se
instalam connosco. Mas quando a guerra acabar mesmo, então está a pensar voltar para
nosso kimbo, onde vocês nasceram. Como sabes, está abandonado.”
Pepetela, Parábola do Cágado Velho

Síntese de algumas diferenças entre a norma de Portugal e a de Angola:


Portugal Angola
- Vogais átonas muito reduzidas (leves): - Vogais átonas abertas (fortes): preciso,
colher, vale, se, interessava, … interessava, colher, …
Fonética

- Ditongos totais: sou, leite, mãe … - Ditongos são monotongados (transformando


- etc. num só som): sou, leite, mãe …
- etc.
- Utilização e colocação do pronome- - Utilização e colocação do pronome pessoal: Lhe
pessoal: Entregou-lhe, estragar-se, o entregou, estragar, o que ele disse, lhe
Morfossintático

que disse ele, desmobilizaram-no, desmobilizaram, nos visitar, se instalam, …


visitaram- nos, instalam-se, … - - Uso da marca do plural apenas no nome e
- Uso da marca do plural em todos os adjetivo ou determinante: A nossas provisões…
elementos envolvidos: As nossas- etc.
provisões…
etc.
- -
- -
Léxico

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Analisemos ainda alguns casos diferenciadores do Português de Moçambique, através de excerto de


um escritor moçambicano muito conhecido em Portugal. Faça o mesmo exercício efetuado no excerto
anterior (sublinhar):

“Me estou demorando com a mensagem. Quando chegar ao lugar dos divinos já eles terão
recebido a contrapalavra de outrem. Certo era que eu não tinha apetência para herói póstumo. A
conderação devia ser evitada, custasse os olhos e a cara. Que poderia eu fazer, fantasma sem lei nem
respeito? Ainda pensei em reaparecer no meu corpo de quando eu era vivo, moço e felizão. Me
retroverteria pelo umbigo e surgiria, do outro lado, fantasma palpável, com voz entre os mortais. Mas
um xipoco que reocupa o seu antigo corpo arrisca perigos muito mortais: tocar ou ser tocado basta
para descambalhotar corações e semear fatalidades.
Consultei o meu pangolim, meu animal de estimação. Há alguém que desconheça os poderes
deste bicho de escamas, o nosso halakavuma? Pois este mamífero mora com os falecidos. Desce dos
céus aquando das chuvadas. Tomba na terra para entregar novidades ao mundo, as providências do
porvir. Eu tenho um pangolim comigo, como em vida tive um cão. Ele se enrosca a meus pés e faço-
lhe uso como almofada. Perguntei ao meu halakavuma o que devia fazer.
- Não quer ser herói?
Mas herói do quê, amado por quem? Agora, que o país era uma machamba de ruínas, me
chamavam a mim, pequenito carpinteiro? O pangolim se intrigou:
- Não lhe apetece ficar vivo, outra vez?
- Não. Como está a minha terra, não me apetece.
O pangolim rodou sobre si próprio. Perseguia a extremidade do corpo ou afinava a voz para
que eu lhe entendesse? Porque não é com qualquer um que o bicho fala. Ergueu-se sobre as patas
traseiras, nesse jeito de gente que tremexia comigo. Apontou o pátio da fortaleza e disse:
- Veja à sua volta, Ermelindo. Mesmo no meio destes destroços nasceram flores silvestres.
- Não quero regressar para lá.
- É que aquele será, para sempre, o teu jardim: entre pedra ferida e flor selvagem.
Me irritavam aquelas vagueações do escamudo. Lhe lembrei que eu queria um conselho, uma
saída. O halakavuma ganhou as gravidades e disse:
- Você, Ermelindo, você deve remorrer.

Mia Couto, A Varanda do Frangipani

Síntese de algumas diferenças entre a norma de Portugal e a de Moçambique

Portugal Moçambique
Fonética

- Vogais átonas muito reduzidas (leves): - Vogais átonas abertas (fortes): respeito,
respeito, perigos, tocar, … perigos, tocar, …
- etc. - etc.
- Utilização e colocação do pronome - Utilização e colocação do pronome pessoal:
Morfossintático

pessoal: Estou a demorar-me, ele enrosca- Me estou demorando, ele se enrosca, faço-
se, faço uso dele, eu o intendesse?, lembrei- lhe uso, eu lhe entendesse, Lhe lembrei
o que… que…
- Construção perifrástica de ação a decorrer: - Construção perifrástica de ação a decorrer:
Ela ficou a chorar. Ela ficou chorando.
- etc. - etc.
Léxico
R 12-74v2 23-04-2009 1 1

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