Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HKDXSWHWDQHLQHPHLQ]HOQHQJUDPPDWLVFKHQ3XQNWGXUFKHLQH5HLKHYRQ6SUDFKHQJUDPDWLFDOQXPDVpULHGHOtQJXDVDTXLORTXHGHIHQGLDUHVSHLWRGRVXUJLPHQWRH
LQGXUFKDXV]XIKUHQ,FKZlKOHKLHU]XGLH$PHULNDQLVFKHQDOVGLHDPPHLVWHQ]XWHUPRV JHUDLV QDTXHOD RFDVLmR (VFROKL DV OtQJXDV DPHULFDQDV SRUTXH VmR DV PDL
LQHP VROFKHQ %HKXIH JHHLJQHWHQ XQG KHEH GDV9HUEXP DOV GHQ EHGHXWHQGVWHQDGHTXDGDVSDUDHVVHREMHWLYRHYRXPHFRQFHQWUDUQRYHUERSRUVHUHOHRFHQWURG
HGHWKHLO XQG GHQ 0LWWHOSXQNW MHGHU 6SUDFKH KHUDXV 2KQH DEHU LQ GLHWRGDVDVOtQJXDVHDSDUWHPDLVLPSRUWDQWHGDRUDomR6HPHQWUDUHPSRUPHQRUHVQ
XVHLQDQGHUVHW]XQJGHUHLQ]HOQHQ7KHLOHGHV9HUEXPHLQ]XJHKHQZHUGHLFKPLFKGLVFXVVmR VREUH DV GLVWLQWDV SDUWHV GR YHUER OLPLWDUPHHL j DXWrQWLFD QDWXUH]
OR DXI VHLQH HLJHQWOLFKH 9HUEDOQDWXU GDV =XVDPPHQIDVVHQ GHV 6XEMHFWV XQGYHUEDORXVHMDjMXQomRGRVXMHLWRHGRSUHGLFDGRGDRUDomRDWUDYpVGRFRQFHLWRG
UDHGLFDWV GHV 6DW]HV YHUPLWWHOVW GHV %HJULIIHV GHV 6H\QV EHVFKUlQNHQ 1XU GLHVH6HU(VVHFRQFHLWRpR~QLFRTXHUHSUHVHQWDDHVVrQFLDGRYHUERVHQGRWRGDVDVRXWUD
DFKWVHLQ:HVHQDXVDOOHEULJHQ%H]LHKXQJHQ3HUVRQHQ7HPSRUD0RGL*HQHUDUHODo}HV FRPR SHVVRD WHPSR PRGR H JrQHUR TXDOLGDGHV GHOH GHULYDGDV
6pULH
7UDGXomR
'LUHomR)HUQDQGD0XVVDOLP
7UDGXomRGH(VWXGRVGD/LQJXDJHP
(QVDLRVVREUH
+DQV7KHR+DUGHQH2UOHQH/~FLDGH6&DUYDOKR
:LOKHOPYRQ+XPEROGW
OtQJXDHOLQJXDJHP
Ensaios sobre língua e linguagem
Av. João Naves de Ávila, 2121
Campus Santa Mônica – Bloco 1S
Editora da Universidade Cep 38408-100 | Uberlândia – MG
Federal de Uberlândia
www.edufu.ufu.br Tel: (34) 3239-4293
DIRETOR DA EDUFU
Alexandre Guimarães Tadeu de Soares
S ÉRIE D IREÇÃO
Tradução de Estudos da Linguagem Fernanda Mussalim
V OLUME 2 T RADUTORES
Wilhelm von Humboldt: Hans Theo Harden
ensaios sobre língua e linguagem Orlene Lúcia de S. Carvalho
Tradução
Hans Theo Harden
Orlene Lúcia de S. Carvalho
Série
Tradução de Estudos da Linguagem
Volume 2
Direção: Fernanda Mussalim
© 2021 para a Língua Portuguesa por:
Edufu – Editora da Universidade Federal de Uberlândia/MG
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio
sem permissão da Edufu.
Equipe de Realização
Fernanda Mussalim
Diretora da Série
Sumário
Prefácio ................................................................................................................ 8
Ueber das Entstehen der grammatischen Formen, und ihren Einfluss auf
die Ideenentwicklung (1822) .......................................................................... 14
Sobre o surgimento das formas gramaticais e sua influência no
desenvolvimento das ideias
Comentários ..................................................................................................... 76
Ueber den grammatischen Bau der Chinesischen Sprache (1826) .......... 182
Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa
Comentários ................................................................................................... 216
Prefácio • 9
quinze anos de reclusão no castelo de Tegel nos arredores de Berlim,
no final dos quais se encontra o trabalho sobre a língua kawi, o que
revela que o círculo das línguas da humanidade que ele analisava estava
sempre em expansão.
Como se pode ver na lista elaborada por Wiebke Witzei com base
nas atas da Academia (HUMBOLDT, 1994, p. 224-227), Humboldt
proferiu 26 palestras durante os onze anos de ativa participação
na Academia, de 1820 a 1831. Na verdade, não foram 26 palestras
diferentes, mas um total de 17 discursos sobre vários assuntos: alguns
foram lidos duas vezes e outros eram tão longos que não podiam ser
lidos em uma única sessão. Outras palestras e escritos foram publicados
em edições póstumas, como a obra sobre a língua kawi, às vezes não
como trabalhos independentes, mas como componentes de contextos
textuais maiores dos quais se originaram. A única palestra que ainda
não havia sido publicada em alemão era Ueber das Verbum in den
Americanischen Sprachen (“Sobre o verbo nas línguas americanas”),
disponível apenas em tradução inglesa, mas que consta na obra editada
por Trabant (HUMBOLDT, 1994).
Nossa escolha pelo conjunto de textos zelosamente organizados
por Trabant, em 1994, deve-se à fidedignidade aos originais de
Humboldt, com consultas aos manuscritos, à questão da variedade
temática, além da inclusão do discurso sobre os verbos americanos.
Embora essa palestra pareça tratar de um assunto muito especial, sua
relevância para a linguística é indubitável, pois nela Humboldt aborda
a questão da delimitação da classe dos verbos e dos substantivos em
detalhadas análises, trazendo originalmente o conceito de incorporação
(“Einverleibung”). Acompanham cada texto traduzido comentários e
notas de Jürgen Trabant e dos tradutores (as notas dos textos originais
de Humboldt estão marcadas com asteriscos).
Claro que teria sido extremamente estimulante documentar
e traduzir todas as atividades docentes de Humboldt. No entanto
isso teria ido muito além do quantitativo e do quadro temático dos
discursos sobre língua, embora quase todos os discursos de Humboldt
estejam relacionados à linguística. No que diz respeito às limitações
temáticas, também somos, naturalmente, afetados pelas críticas que
podem ser dirigidas a todos que publicam os escritos de Humboldt
Prefácio • 11
linguista vê a língua), mas pelo que é falado ou transmitido na língua”
(1965, p. 417). Essa é precisamente a convicção básica de Humboldt, que
ele explica nos textos sobre o caráter das línguas, que não foram lidos
por linguistas nem por filósofos.
Jürgen Trabant
Hans Theo Harden
Orlene Lúcia de S. Carvalho
B
Ueber das Entstehen der grammatischen
Formen, und ihren Einfluss auf die
Ideenentwicklung*
* Bopp, Franz. Nalus, Carmen sanscritum, e Mahàbhàrato; edidit, latine vertit et adnota-
tionibus illustravit Franciscus Bopp. London u.a.: Cox and Baylis, 1819. P. 202, nota 77
e p. 204, nota 83.
* Die Huasteca Sprache hat nemlich, wie die meisten Americanischen, verschiedne Pro-
nominalFormen, je nachdem die Pronomina selbstständig, das Verbum regierend, oder
von ihm regiert gehraucht werden; nin dient nur für den letzten Fall. Die Silbe ta deutet
an, dass das Object am Verbum ausgedrückt ist, wird aber nur da vorgesetzt, wo das
Object in der ersten oder zweiten Person steht. Die ganze Art, das Object am Verbum
zu bezeichnen, ist in der Huasteca Sprache sehr merkwürdig.
* O huasteca, assim como muitas línguas americanas, tem várias formas pronominais
que podem funcionar como pronomes independentes, ser regentes do verbo ou regidas
por ele; nin serve como exemplo para o último caso. A sílaba ta indica que o objeto está
expresso junto do verbo, mas o objeto só vai ser colocado antes do verbo quando for
de primeira ou segunda pessoa. A maneira como o huasteca marca o objeto no verbo
é singular.
* Alexander von Humboldt, Essai politique sur le royaume de la Nouvelle Espagne, p. 93,
e Vues des Cordillères et monumens des peuples de l’Amérique, p. 126.
1
Logo no início, Humboldt explicita as razões históricas (“Nationaleigenthümli-
chkeit”, ‘as peculiaridades das nações’) contra a hipótese das leis naturais como um
elemento decisivo no desenvolvimento das línguas.
2
Humboldt adota um enfoque bastante diferenciado tanto em relação ao indiferen-
tismo linguístico como ao relativismo linguístico: segundo o indiferentismo, asso-
ciado à concepção semiótica da língua, é possível dizer qualquer coisa em qualquer
língua. Essa correta noção restringe justamente o relativismo, na medida em que
uma determinada estrutura linguística inspira um uso particular, mas não estabele-
ce um limite baseado numa lei natural de uso da linguagem (ver as explicações sobre
o chinês neste ensaio e em Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa). No entan-
to, perante ambas as posições, Humboldt mantém a ideia de uma progressão ideal e
eficaz em termos da história universal das línguas e dos procedimentos gramaticais,
assim como a ideia de uma escala de avaliação.
3
Sobre o segundo mal-entendido na avaliação das formas gramaticais, a saber, que se
pensa a gramática de uma língua por meio de outra, Humboldt exige um ponto de
vista estrutural coerente. Ver Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa.
4
Aqui aparece, pela primeira vez, a expressão “incorporação” – assim como “incor-
porado” –, que vai desempenhar um grande papel na tipologia como termo com-
plementar às três classes de línguas de A. W. v. Schlegel, designando uma suposta
quarta classe. Humboldt não se concentra particularmente na criação de classes de
línguas, mas na distinção entre procedimentos gramaticais, e a incorporação não é,
para ele, um quarto procedimento, mas uma contraparte sintática da aglutinação.
Ver Coseriu (1972) e Trabant (1986, p.186).
5
A discussão que se segue, dirigida contra o indiferentismo gramatical, diz respeito
aos vários procedimentos de representação das relações gramaticais e esclarece que,
para Humboldt, o princípio da síntese, segundo o qual da fusão de dois elementos
emerge um terceiro, novo, é o critério de avaliação para se saber se algo é uma for-
ma gramatical ou não. O conceito de linguagem, portanto, só se realiza plenamente
onde existe a síntese. Por outro lado, também fica claro que Humboldt rejeita as
generalizações por demais precipitadas de A. W. v. Schlegel, que fala de línguas sem
estrutura, com afixação e com flexão ([1818] 1971, p.14). Os diferentes procedimen-
tos gramaticais (flexão, aglutinação, posição) ocorrem em diversas combinações e
com consequências variadas em cada língua.
6
Isso vai de encontro à concepção de F. Schlegel de uma origem da flexão a partir
da raiz (!), concepção essa também mantida por A. W. v. Schlegel, quando ele con-
trasta as “racines stériles” das línguas sem estrutura com a “végétation abundante
et féconde” das línguas flexionais ([1818] 1971, p.14). Humboldt concorda com a
concepção mais antiga, também mantida, por exemplo, por Horne Tooke, de que
as formas gramaticais surgiram de elementos lexicais e de que a flexão se origina
da aglutinação, mas ele também menciona alguns casos limítrofes que contradi-
zem essa concepção.
Von den Arten, wie dies geschehen kann, muß ich gleich
die ausnehmen, wo es ein wirkliches, das Verbum substantivum
ausmachendes Wurzelwort giebt. Denn da dies, wie jedes andere
Stammwort, die Verbalform annehmen muß, so tritt es in einen der
beiden andren Fälle. Es enthält das Seyn entweder als ein Hülfsverbum,
wie in unsren; ich bin gewesen, oder in der bloßen Form, wie im
einfachen: ich bin. Wenn man bedenkt, daß wohl die Verba substantiva
aller Sprachen ursprünglich von dem Begriff eines concreten Zustandes
ausgehen, und auf diesen nur den allgemeinen des Seyns übertragen, so
leuchtet dies noch mehr ein.
Soll es nun keinen eignen Wurzellaut für das Verbum substantivum
geben und dasselbe doch für sich, nicht in einer andren Verbalform,
angedeutet seyn, so muß diese Andeutung entweder nur durch die
Stellung der, das Verbum regierenden, und von ihm regierten Worte
geschehen, oder an Sprachelementen, die an sich keine Verba sind,
sondern nur dadurch dazu werden. Im ersteren Fall wird das Verbum
substantivum nur hinzugedacht, im andren stellt es sich in einem eignen
Worte, aber ohne Wurzellaut dar.
Dos tipos que empregam esse modo vou excluir aqueles em que há
um autêntico radical que forma o verbo-substantivo, pois o radical tem
de se manifestar na forma verbal, como qualquer outro radical, e desse
modo cai em uma das outras duas categorias. O verbo Ser aparece como
auxiliar, o que ocorre no nosso ich bin gewesen (‘eu fui; eu tenho sido’),
ou na forma simples ich bin (‘eu sou’). Isso parece ainda mais evidente
quando se considera que os verbos-substantivos em todas as línguas se
referem originalmente a um estado concreto e apenas o transferem para
o estado geral de Ser.
Caso não exista um radical para o verbo-substantivo e este seja
indicado por si mesmo e não esteja dentro de outra forma verbal, essa
indicação deve ser efetuada pela posição das palavras regentes e regidas,
ou por elementos da língua que não são verbos propriamente ditos, mas
apenas assumem essa função. No primeiro caso, acrescenta-se o verbo
mentalmente e, no segundo, o verbo se manifesta como uma palavra
própria, mas sem o radical.
Pronomen, das mit einem Praedicat Pronomen, das für sich Verbalkraft
den Verbalbegriff verbin det besitzen
1. en 1. ten
2. ech 2. tech
3. lailo 3. lai
4. on 4. toon
5. ex 5. teex
6. ob 6. loob
* Gostaria de mencionar aqui que no sânscrito, uma língua rica em composições ousa-
das, como no alemão, não existe a combinação de substantivos e verbos numa mesma
palavra. No latim, elas ocorrem, como em aedifico, mas são parcas.
Das Verbum besteht in diesem Fall nur aus dem Stammwort, den
Kennsilben der Personen, und denen der Tempora und Modi. Jene
sind ursprünglich Pronomina, diese Partikeln. Ehe nun beide durch
die abschleifende Aussprache ganz zu Affixen geworden sind, kommen
folgende drei Fälle vor:
Erster Fall.
Ich wüßte hier nur die Sprache der Omagua zu nennen, da mir keine
andre mit so entschiedener Abwesenheit aller wahrhaft grammatischen
Formen im Verbum vorgekommen ist.
Die selbständigen Pronomina, die Stammwörter der Verba, und
die Partikeln der Tempora und Modi werden, ohne alle Abänderung,
und ohne alle engere Verbindung, bloß neben einander gestellt, und
nicht einmal die Ordnung in welcher dies geschieht, scheint fest zu
seyn; usu, gehen. 1. pers. sing. Praes. ta usu. 2. pers. sing. perf. avi ene
usu (ene ist das Pronomen, avi char. perf.).
Zweiter Fall
1.) Die Maipurische, Abiponische und Mbayische und
Mocobische Sprache stellen nur die Kennzeichen der Personen in
engere Verbindung mit dem Stammwort des Verbum, und lassen sich
die der Tempora und modi loser daran anschliessen. Sie haben daher
nur Einen, durch verschiedene Partikeln, oder aus solchen entstandene
Affixa in jedes Tempus, und jeden Modus zu verwandelnden Typus
der Personenformation. Dieser Typus, für sich betrachtet, macht
gewöhnlich das Praesens aus. Allein genau genommen kann man
ihm diesen Namen nicht beilegen. Denn auch die Charakteristiken
der andren Tempora werden weggelassen, wenn man glaubt ihrer, der
Deutlichkeit unbeschadet, entbehren zu können. Man erwartet nicht,
in gebildeten Sprachen etwas dieser Conjugationsform Aehnliches
anzutreffen. Dennoch findet es sich im Sanskrit und Griechischen.
Primeiro caso
Nessa categoria só entra, que eu saiba, a língua dos Omágua,
porque nunca encontrei outra em que se manifeste uma ausência tão
definitiva das verdadeiras formas gramaticais no verbo.
Os pronomes independentes, os radicais dos verbos e as partículas
dos tempos e dos modos são justapostos sem qualquer modificação ou
uma ligação mais firme, e sequer a ordem parece fixa: usu, ‘ir’, ta usu (1ª
pess. sing. do presente), avi ene usu (2ª pess. sing. do perfeito; ene é o
pronome, avi, a marca do perfeito).
Segundo caso
1) As línguas maipure, abipone, mbayá e mocovi17 estabelecem
uma ligação relativamente estreita entre os marcadores de pessoa e
o radical do verbo, mas conectam os tempos e os modos de maneira
mais frouxa. Por isso, elas têm quanto à pessoa apenas um tipo de
informação, que se origina de partículas ou afixos delas derivados
e que deve ser modificado em todos os tempos e modos. Esse tipo,
visto isoladamente, representa normalmente o presente. Mas, a bem
dizer, não se deveria lhe atribuir essa denominação, pois também os
marcadores dos outros tempos podem ser omitidos quando se acredita
que a precisão não vai sofrer com a ausência deles. Não se espera
encontrar algo semelhante a essa forma de conjugação em línguas
mais desenvolvidas. Mesmo assim, ocorre no sânscrito e no grego.
Terceiro caso
As línguas cuja conjugação pertence a essa classe se aproximam
daquelas mais desenvolvidas em que toda flexão verbal apresenta uma
forma própria e fixa. Tanto os marcadores de pessoa quanto os de tempo
e modo se juntam ao radical do verbo sem evidenciar a diferença em
termos da qualidade da ligação, se mais firme ou mais frouxa.
Todas as conjugações aqui agrupadas, entretanto, carecem ainda
daquela estabilidade das formas que satisfaz o espírito no aspecto
gramatical.
Os elementos são justapostos regularmente, mas, na realidade, não
se fundem e, por isso, são facilmente reconhecíveis.
1
Nesta palestra, Humboldt condensa sua teoria sobre o verbo de tal forma que ela
parece estar completamente em consonância com a tradição, como, por exemplo,
com o capítulo XIII da Gramática de Port-Royal (1660, p. 66), a mãe de todas as
gramáticas gerais. No entanto, é importante para a concepção de Humboldt sobre
a natureza verbal que a junção do sujeito e do predicado por meio de Ser seja uma
síntese (ver nota 13) e que seja dinâmica, uma “prosopopeia” (Sobre a estrutura gra-
matical da língua chinesa), uma ação de pessoas.
2
O verbo ser.
3
O mexicano (náuatle, asteca), no planalto central mexicano, pertence à família de
línguas uto-astecas. Humboldt escreveu uma gramática dessa língua que Manfred
Ringermacher publicou no contexto da edição dos escritos linguísticos de Hum-
boldt (Mexikanische Grammatik, 1994). Aqui estamos nos referindo a Ruhlen (1991,
p. 370), assim como às outras línguas mencionadas por Humboldt. Vale a pena con-
ferir as informações sobre essas línguas em Brinton (1885, p. 352).
4
O totonaco é falado no litoral atlântico do México (RUHLEN, 1991, p. 368).
5
O huasteca é uma língua maia (RUHLEN, 1991, p. 368).
6
Sobre o maia, ver Ruhlen (1991, p. 368).
7
O betoi, uma língua do norte da América do Sul, atualmente extinta, é aparentada
ao também extinto chibcha. Ver Ruhlen (1991, p. 371).
8
A respeito da diferença entre atributo “dinâmico” e “inerente”, ou passivo, a qual
corresponde essencialmente à distinção entre o particípio e o adjetivo, Humboldt
certamente se refere a Bernhardi ([1805] 1990, p. 143), a quem ele gosta de consultar
sobre questões gramaticais gerais.
9
O yaruro está na América equatorial (RUHLEN, 1991, p.373).
10
O maipure, uma das línguas que Humboldt denomina “línguas do Orinoco”, per-
tence à família Arawak (RUHLEN, 1991, p. 374).
11
O achaguá é uma língua da família Arawak, da Colômbia (RUHLEN, 1991, p. 374).
12
Já em Sobre o surgimento das formas gramaticais, Humboldt usa a expressão “sentido
da linguagem”, que ocupa a posição da imaginação na sistemática (kantiana) do
pensamento do autor sobre a língua. Aqui trata-se do sentido histórico-particular
da língua de uma nação, não tanto do sentido universal-transcendental da língua do
ser humano, que é o compasso de Humboldt para a qualidade linguística dos vários
fenômenos, por exemplo, assim como para as diferentes escritas (ver Sobre a escrita
alfabética).
13
Na natureza verbal, a força sintética, juntamente com a prosopopeica, constitui a
autenticamente verbal: “Em um único ato sintético, o verbo une o predicado e o
sujeito por meio de Ser, de modo que o Ser, que junto com o predicado dinâmico se
torna uma ação, é atribuído ao próprio sujeito, assim o que foi pensado tão somente
como vinculável passa a um estado ou a um processo na realidade. Não se pensa
1
O termo moderno é morfológico.
2
Isso mostra novamente que Humboldt está sendo guiado pelo princípio da gramáti-
ca pura, além das diferenças históricas, também advogadas por Bernhardi, a quem
Humboldt se refere com frequência. O conjunto das leis internas que determinam
uma língua é denominado “Sprachsinn”, ‘sentido da linguagem’ (ver Sobre o dual,
notas 11 e 16).
3
Essa concepção de língua, que há algumas décadas teria sido completamente inacei-
tável, tornou-se admissível depois do artigo de Roman Jakobson sobre a iconicidade
da língua, de 1964, fortemente influenciado pela semiótica peirciana.
4
Essa síntese, que junto com a articulação representa a essência da língua, manifes-
ta-se na frase na função gramatical do verbo: “Todas as outras palavras são quase
matéria morta que precisa ser relacionada, apenas o verbo é o núcleo que contém
e semeia a vida” (Ueber das vergleichende Sprachstudium, ([1820] 1960-1981), § 5;
tradução nossa). O verbo torna a enunciação lógica (Roma = arder em chamas)
numa representação com agentes dinâmicos (Roma está ardendo em chamas). Essa
ideia de Humboldt foi retomada pela gramática de valências, que coloca o verbo,
que tem o potencial de ligar os outros actantes, no centro da frase (TESNIÈRE,
1965).
5
Ver Bernhardi ([1805] 1990, p. 1293): “Masculino e feminino é uma distinção
baseada na própria natureza viva e se estende a todas as suas partes. Por isso até o
homem inexperiente compreende os conceitos com facilidade e pode aplicá-los à
própria substância” (tradução nossa).
6
A abreviação T. se refere à edição do Tchoung-Young (Chung-Yung), um dos quatro
livros clássicos confucianos, que Abel-Rémusat publicou em 1818, em Paris.
7
A abreviação Gr. se refere à gramática chinesa de Abel-Rémusat, Eléments de la
grammaire chinoise, Paris, 1822.
8
Ver Harbsmeier (1979, p. 265-266), cujo esboço do chinês clássico representa um
contraste crítico às considerações de Humboldt, mas no fundo afirma as observa-
ções deste.
9
Abel-Rémusat, Recherches sur les langues tartares, Paris, 1820.
10
O termo indo-germânico não é uma invenção de racistas alemães, como se lê com
frequência, mas primeiramente uma designação geográfica que se refere ao espaço
entre a Índia e a Germânia. Esse termo foi cunhado pelo geógrafo Conrad Malte-
Brun em Précis de géographie universelle, vol. II, Paris (1810, p. 577). De modo geral,
Humboldt prefere o termo “sânscrito” (ver Sobre o Dual).
11
Em contraposição a Sobre o surgimento das formas gramaticais, encontramos aqui
uma avaliação nova e mais positiva da língua chinesa. Isto se deve parcialmente aos
intensos estudos dessa língua por Humboldt, e parcialmente ao abandono de um
questionamento genético (“Surgimento“) em prol de um questionamento estrutu-
ralista, no qual prevalecem considerações fundamentalmente semióticas. Também
* Herr Schmitthenner (Ursprachlehre. S. 20.) sagt: Ohne nun eine ausführliche Dars-
tellung, dass die Sprachen Amerikas und Afrikas um so unvollkommener und von
einander abweichender seyn müssen, je weniger sich die sie sprechenden Völker aus
der Dummheit des Naturlebens zu dem Lichte der Vernunft, und aus der Zerstreu-
ung der Rohheit zu der Einheit der Bildung erhoben haben, der Mühe werth zu hal-
ten, gehen wir u.s.f. Ich weiss nicht, ob viele einen so verwerfenden und die Unter-
suchung von vorn herein abschneidenden Ausspruch zu unterschreiben geneigt seyn
möchten. Ich kann nicht anders, als eine ganz entgegengesetzte Meinung hegen. Ich
will mich hier nicht auf den merkwürdigen Bau mehrerer Afrikanischen und Ame-
rikanischen Sprachen berufen. Es mag nicht jeder Sprachforscher Neigung zu einem
solchen Studium in sich fühlen, doch wird gewiss jeder, der sich auch nur oberflächli-
ch mit denselben beschäftigt hat, zugestehen, dass ihre Kenntniss von der höchsten
Wichtigkeit für das Sprachstudium ist. Allein der Culturzustand jener Völkerschaften,
namentlich der Amerikanischen, ist, und gerade in Beziehung auf den Gedankenaus-
druck, gar nicht durchgängig so, wie er in jener Stelle geschildert wird. Von den Nord-
-Amerikanischen Nationen geben die Berichte über ihre Volksversammlungen und die
mitgetheilten Reden einiger ihrer Häuptlinge einen ganz andren Begriff. Viele Stellen
derselben sind von wahrhaft rührender Beredsamkeit, und stehen auch diese Stäm-
me mit den Einwohnern der Vereinigten Staaten in enger Verbindung, so ist doch das
Gepräge der reinen und ursprünglichen Eigenthümlichkeit in ihren Ausdrücken un-
verkennbar. Sie sträuben sich allerdings, die Freiheit ihrer Wälder und Gebirge mit der
Arbeit des Ackerbaus und der Beschränkung in Häuser und Dörfer zu vertauschen,
allein sie bewahren in ihrem herumstreifenden Leben eine einfache, wahrheitlieben-
de, oft grossartige und edelmüthige Gesinnung. Man sehe Morse’s report to the Secre-
tary of war of the united states on Indian Affairs. p. 71. App. p.5. 21. 53. 121. 141. 242.
* Afirma o Sr. Schmitthenner (Ursprachlehre, p. 20): “Se não se considerar que vale a
pena fazer uma exposição detalhada apontando que as línguas da América e da África
devem ser imperfeitas e diferentes umas das outras, menos as nações que as falam se
elevarão da tolice da vida na natureza em direção à luz da razão, e da dispersão bárbara
à unidade da cultura etc.” Não acredito que seriam muitos os que gostariam de assinar
uma declaração tão depreciativa que exclui totalmente qualquer investigação. Não tenho
como não ter uma opinião contrária. Não vou me referir aqui à curiosa construção de
várias línguas africanas e americanas. Nem todos os linguistas se sentem inclinados a tal
pesquisa, mas certamente todos os que já lidaram com essas línguas, mesmo de forma
superficial, admitem que o conhecimento sobre elas é da maior importância para o estu-
do das línguas em geral. Deve-se enfatizar que o estado cultural dessas tribos, especial-
mente das americanas, não é coerente com o descrito por Schmitthenner, sobretudo em
relação à expressão do pensamento. Os relatos sobre as assembleias tribais e os discursos
de alguns dos caciques das nações norte-americanas fornecem imagens completamente
diferentes. Muitos trechos são de uma eloquência verdadeiramente comovente e, mesmo
que essas tribos mantenham um contato próximo com os habitantes dos Estados Unidos,
é inconfundível o caráter de singularidade pura e genuína no modo de se expressar. Cer-
tamente, eles se recusam a trocar a liberdade de suas florestas e montanhas pelo trabalho
na agricultura e pelo confinamento em casas e aldeias, mas preservam em suas vidas
uma atitude simples, veraz, muitas vezes magnífica e nobre. Ver Morse, Report to the Sec-
retary of War of the United States on Indian Affairs: p. 71; App., p. 5, 21, 53, 121, 141, 242.
Die Sprachen von Menschen, die ihrem Ausdruck diese Klarheit, Stärke und
Lebendigkeit zu geben verstehen, können der Aufmerksamkeit der Sprachforscher nicht
unwerth seyn. Von einigen Süd-Amerikanischen Stämmen giebt Vieles Zeugniss, was in
Gilij’s saggio di storia Americana über ihre Sagen und Erzählungen verstreut ist. Wären
aber auch alle heutigen Amerikanischen Eingebornen zu einem Zustand absoluter
Rohheit und dumpfen Naturlebens, wie es gewiss nicht der Fall ist, herabgewürdigt,
so lässt sich doch auf keine Weise behaupten, dass es immer ebenso gewesen sey. Der
blühende Zustand der Mexicanischen und Peruanischen Reichs ist bekannt, und dass
mehrere Völker in Amerika einen höheren Grad der Ausbildung erlangt hatten, zeigen
die Spuren alter Cultur, die man zufällig von den Muiscas und Panos aufgefunden hat.
(A. v. Humboldt. Monumens des peuples de l’Amérique. p. 20. 72-74. 128. 244. 246. 248.
265. 297.) Sollte man es nun nicht der Mühe werth halten, zu untersuchen, ob die uns
gegenwärtig bekannten Amerikanischen Sprachen das Gepräge jener Cultur oder der
heutigen angeblichen Rohheit an sich tragen?
As línguas dos povos que sabem se expressar com tanta clareza, força e vivacidade não
podem ser indignas da atenção dos linguistas. Há várias evidências de tribos da América
do Sul dispersas nas lendas e narrativas, como em Saggio di Storia Americana, de Gilij.
Mas, ainda que todos os povos indígenas americanos de hoje estivessem em um estado
de rudeza absoluta e vida natural maçante, o que certamente não é o caso, de qualquer
maneira seria impossível afirmar que tenha sido sempre assim. O estado florescente
dos impérios mexicano e peruano é bem conhecido, e que vários povos na América
tinham atingido um grau mais elevado de educação comprovam os vestígios da cultura
antiga dos Muiscas e Panos, acidentalmente encontrados (A. v. Humboldt, Monumens
des peuples de l’Amérique, p. 20, 72-74, 128, 244, 246, 248, 265, 297). Será que não valeria
a pena o esforço de investigar se as línguas americanas atualmente por nós conhecidas
ostentam o caráter daquelas culturas ou a rudeza atualmente alegada?
Erster Abschnitt
Von der Natur des Dualis im Allgemeinen
* Es liegt in der Natur der Sache, dass die hier versuchte Aufzählung der Sprachen,
welche den Dualis besitzen, nicht vollständig seyn kann. Es schien mir aber dennoch
nothwendig sie, als eine durch weitere Forschungen zu ergänzende hier mitzutheilen.
Primeira seção6
Da natureza do dual em geral
* Nur gewisse einmal hergebrachte Formeln, wie die beiden alten heiligen Städte (Jeru-
salem und Mekka) machen hiervon eine Ausnahme. P. Amédée Jaubert’s Elémens de la
grammaire Turke, p. 19. § 46.
** W. Owen*s dictionary of the Welsh language. Vol. I. p.36. Gramm. Cello- Bretonne par
Legonidec. p. 42. Owen erwähnt nur des Vorsetzens de Zahl zwei, nicht der beiden an-
dren, für die Dualform allein entscheidenden Umstände. Man muss dies aber wohl nur
auf Rechnung seiner Ungenauigkeit, nicht auf die der Sprache setzen.
* Constituem exceções apenas certas expressões, como as duas antigas cidades sagradas
(Jerusalém e Meca). Eléments de la Grammaire Turke, p. 19, § 46, de P. Amédée Jaubert.
** Dictionary of the Welsh language, de W. Owen, vol. I, p.36, e Gramm. Cello-Bretonne,
de Legonidec, p.42. Owen menciona apenas a prefixação com o número dois, não os ou-
tros dois fatores decisivos para o dual. No entanto, isso se deve apenas à sua imprecisão,
não à língua.
* Essa também parece ser a opinião do Sr. Bopp; ver Annals cet., p.2.
** No que diz respeito à vã tentativa de introduzir o dual na língua armênia, ver a Gram-
maire de la langue Arménienne, de Cirbied, p. 37.
*** Essas informações foram extraídas de uma comunicação oral do professor Puharska,
através de cuja missão científica o governo polonês dá um exemplo muito raro de dedi-
cação nobre à língua da pátria e aos estudos das línguas em geral.
* Es beruht dies nur auf einer abgerissenen Nachricht, die Herr Du Ponceau zu der neu-
en Ausgabe von Eliot’s grammar of the Massachusetts Indian language p. XX. giebt, und
in der er sich selbst nur ungewiss ausdrückt.
* Essa informação se baseia apenas num comentário incompleto que o senhor Du Pon-
ceau teceu sobre a nova edição da Grammar of the Massachusetts Indian language, de
Eliot, p. 20, no qual ele se expressa de forma bastante vaga.
* Ver o Handbuch der Hebräischen etc., gramática, p. 121. Também em hebraico, o nome
do Egito, Mizraim (ver Gesenius, Wörterbuch, em mazor) é um dual. Para interpretar
o Alto e o Baixo Egito, fica-se meio confuso, por um momento, pelo fato de que o Alto
Egito, meridional, tem seu próprio nome, Patros (Gesenius, Hauptversammlung). Além
disso, o senhor Gesenius (Lehrgebäude, p. 539, §2) deduz o dual em Mizraim da divisão
do país em dois pelo Nilo, mas esta, claro, não é aplicável ao delta. No entanto, de acordo
com comunicações posteriores, o Sr. Gesenius agora se inclina para a minha opinião de
que a divisão em Alto e Baixo Egito é a razão da forma do nome e, quando chegar ao
dual hebraico, exporei mais amplamente como ele consegue estabelecer uma harmonia
sutil entre as designações acima mecionadas e a distinção dos períodos de uso.
* Dieser Ausdruck dürfte sich für die mit dem Sanskrit zusammenhangenden Sprachen,
die man neuerlich auch Indo-Germanische genannt hat, nicht bloss durch seine Kürze,
sondern auch durch seine innre Angemessenheit empfehlen, da Sanskritische Sprachen,
der Bedeutung des Worts nach, Sprachen kunstreichen und zierlichen Baues sind.
** Dobrizhoffer’s historia de Abiponibus. T.2.p. 166-168.
* Esta expressão pode ser recomendada para as línguas relacionadas ao sânscrito, que
foram recentemente chamadas de indo-germânicas, não apenas por sua brevidade, mas
também por sua adequação intrínseca, já que as línguas sânscritas, no sentido da pala-
vra, são elegantes e delicadas em sua arquitetura.
** Ver Historia de Abiponibus, de Dobrizhoffer, parte 2, p.166-168.
* Dobrizhoffer schreibt joale und ahëpegak, will aber mit j den Spanischen Laut dieses
Buchstabens und mit ë den Umlaut ö ausdrücken.
** Handschriftliche mir vom Abate Hervas mitgetheilte, nach Papieren des Abate Don
Raimondo de Termaier verfasste Grammatik der Mokobischen Sprache. §. 3.
* Dobrizhoffer escreve joale e ahëpegak, mas quer expressar com j o fonema espanhol
respresentado por essa letra e, com ë, o Umlaut ö.
** Manuscrito da Grammatik der Mokobischen Sprache, §3, recebido do Abade Hervás,
baseado nos documentos do Abade Don Raimondo de Termaier.
* A Grammar of the Tahitian dialect of the Polynesian language. Tahiti. 1823.p. 9. 10.
** Silvestre de Sacy’s Grammaire Arabe. T. 1. § 702. 704. 710., womit auch Oberleitner
(fundamenta linguae Arabicae. p. 224.) verglichen zu werden verdient.
* A Grammar of the Tahitian Dialect of the Polynesian Language, Taiti, 1823, p. 9-10.
** Silvestre de Sacy, Grammaire Arabe, parte 1, § 702, 704, 710, com a qual a gramática
de Oberleitner (Fundamenta Linguae Arabicae, p. 224.) merece ser comparada.
* Auf dieselbe Weise scheint Adelung (Wörterbuch v. Mann. S. 349 u.a.a.O.) es zu neh-
men, wenn man im Deutschen einige Wörter mit Zahlen im Singular verbindet, und
sechs Loth, zehn Mann u.s.w. sagt. Zum Theil ist dies auch ganz richtig, einige dieser
Redensarten sind sogar nur in der gemeinen, nicht in der edleren Sprechart geduldet,
und in allen herrscht der zufällige Eigensinn des Sprachgebrauchs, da nun z.B. zehn
Pfund, aber nie zehn Elle sagt. Gerade da aber, wo dieser Sprachgebrauch sich am meis-
ten festgesetzt hat, bei Mann, liegt, meinem Gefühl nach, eine schöne, von Adelung
nicht herausgehobene Feinheit in dem Ausdruck. Der Singular soll hier andeuten, dass
die angezeigte Zahl als ein geschlossenes Ganzes angesehen wird; darum wird das Wort
aus der unbestimmten Mehrheit des Pluralis herausgerissen. Dies ist vorzüglich in der
distributiven Redensart vier Mann hoch sichtbar, wo jede vier zusammenstehende Män-
ner als Eine Reihe gelten sollen. Ich glaubte dies bemerken zu müssen, da dieser anoma-
le Singular, wie der Dualis, eigentlich ein collectiver, ein Plural-Singular, ist, und diese
Redensarten einen Beweis abgeben, wie die Sprachen, in Ermangelung richtiger For-
men, unrichtige, aber im Augenblick des jedesmaligen Gebrauchs charakteristische, zu
Erreichung ihres Zwecks anwenden. Dem Ausdruck zehn Fuss liegt wohl etwas Andres,
nemlich die Unterscheidung des eigentlichen und des übergetragenen Begriffs von Fuss
zum Grunde, obgleich man zu diesem Behuf auch einen doppelten Plural Fusse und
Füsse unterscheidet. Eine ähnliche, mit diesen Fällen zu vergleichende Verwechslung
des Numerus kommt im Hebraeischen vor. (Gesenius Lehrgebäude. S. 538.)
* In der Abiponischen Sprache z.B. giebt es sechs verschiedene durch beide Geschlechter
durchgehende Wörter um das Pron. 3. pers. selbständig auszudrücken. Alle endigen mit
der Sylbe ha, diese kommt aber allein nie vor, und ist auch schwerlich die Bezeichnung des
er, da sie, wenn man mit diesem sechsfachen Pronomen, wie man kann, den Begriff allein
verbindet, gänzlich verschwindet. Für das Besitzpronomen hingegen giebt es eine einfa-
che Bezeichnung, die jedoch oft ausgelassen wird, so dass alsdann der Mangel der Besitz-
bezeichnung zur Anzeige des Possessivum 3. pers. wird. Dobrizhoffer. l. c. T. 2. p. 168-170.
* Na língua abipone, por exemplo, há seis palavras diferentes para ambos os gêneros,
que expressam o pronome de terceira pessoa de modo independente. Todas terminam
com a sílaba ha, mas esta nunca ocorre sozinha e dificilmente pode ser vista como de-
signação para ele, visto que desaparece completamente quando o conceito sozinho se
conecta com esse pronome sêxtuplo, o que é possível. Para o pronome possessivo, ent-
retanto, há uma forma simples, que é frequentemente omitida, de modo que a falta de
um elemento que expresse posse se torna a indicação do possessivo da terceira pessoa
(Dobrizhoffer, loc. cit., parte 2, p. 168-170).
μινυνθάδίω δὲ γενέσθην,
do que a paráfrase de Ovídio, em
1
Ver Ueber das vergleichende Sprachstudium ([1820] 1960-1981).
2
Esse trecho reitera a intenção de Humboldt de criar uma linguística que mediaria
entre o filosófico e o histórico-empírico na investigação sobre as línguas, e também
revela, portanto, a lacuna existente entre a linguística e o paradigma da chamada
linguística histórico-comparativa, que estava se estabelecendo no século XIX e que
não só se orientava cada vez mais histórica e empiricamente, como também reduziu
o histórico ao diacrônico.
3
A legitimidade da autonomia de toda ciência (incluindo as ciências naturais), em
razão do “objetivo mais alto e geral do esforço total do espírito humano”, a qual tam-
bém caracteriza o conceito de universidade de Humboldt, inclusive em sua forma
organizacional, perdeu sua credibilidade sob as condições pós-modernas, segundo
o diagnóstico de Lyotard (1979). Sem querer decidir sobre esta última questão rela-
tiva à teoria das ciências, a orientação de Humboldt para com os últimos fins da raça
humana parece ser a de um corretivo, tanto em relação ao indiferentismo e relativis-
mo cultural (e outros) em que anything goes, como contra a arrogância cultural, que
Humboldt critica mais adiante, no comentário sobre Schmitthenner.
4
Essa unilateralidade do questionamento linguístico se intensificou ainda mais no
século XIX, quando foi praticamente igualada à linguística, uma tendência incen-
tivada pelo sucesso das obras de Grimm, Bopp e A. W. v. Schlegel. Para Humboldt,
tratava-se apenas de uma das possíveis questões relativas à “arquitetura” das línguas.
5
Aqui Humboldt adverte contra entender o conceito de parentesco biologicamente,
ou seja, racista, uma tendência já emergente em sua época.
6
As demais seções previstas não foram escritas. No manuscrito, há apenas o título
da segunda seção: “Sobre as línguas em que o dual aparece preferencialmente como
uma forma pronominal.”
7
A suposição de Humboldt de que as línguas celtas são línguas indo-europeias foi
plenamente confirmada pela área de estudos indo-europeus.
8
Esse é o tema da obra sobre a língua kawi; ver também Ueber die Sprache der
Südseeinseln (“Sobre as línguas do Pacífico Sul”).
9
J. C. Adelung e J. S. Vater, [1806-17] 1970.
10
Adrian Balbi, Atlas ethnograpique du globe ou Classification des peuples anciens et
modernes d’apres leurs langues, Paris, 1826.
11
O “sentido da linguagem” é universal (todos os seres humanos o têm) e aberto à
diversidade (as pessoas o têm em diferentes graus e de diferentes formas). Essa ex-
pressão é, obviamente, formada por analogia ao sensus communis, de Kant (1963, p.
156). Nem um nem outro deve ser interpretado em termos biológicos.
12
A questão da relação entre o espaço como uma forma pura de intuição e o pronome
pessoal é contemplada em Ueber die Verwandtschaft der Ortsadverbien mit dem Pro-
* Eine sehr geistvolle und von tiefer und gründlicher Lesung der Alten zeugende Ueber-
sicht des Ganges der Griechischen Literatur in Absicht auf Redefügung und Styl giebt
die Einleitung zu Bernhardy‘s wissenschaftlicher Syntax der Griechischen Sprache.
* Unübertrefflich gesagt und mit eignem Dichtergefühl empfunden ist in der Vorrede
zu A. W. v. Schlegel's Râmâyan die Auseinandersetzung über die früheste Poesie bei
den Griechen und Indiern. Welcher Gewinn wäre es für die philosophische und
ästhetische Würdigung beider Literaturen und für die Geschichte der Poesie, wenn
es diesem, vor allen andren mit den Gaben dazu ausgestatteten Schriftsteller gefiele,
die Literaturgeschichte der Indier zu schreiben oder doch einzelne Theile derselben,
namentlich die dramatische Poesie zu bearbeiten und einer ebenso glücklichen Kritik
zu unterwerfen, als das Theater anderer Nationen von seiner wahrhaft genialen
Behandlung erfahren hat.
1
Poesia e prosa são manifestações do potencial da língua cujo surgimento real, no
entanto, não se fundamenta em uma determinação unilateral e naturalmente ne-
cessária, estabelecida pela estrutura linguística. Em Humboldt, não há relações
de determinação unilaterais e naturalmente necessárias, mas apenas casamentos
históricos entre efeitos e repercussões: a estrutura linguística pode inspirar um uso
particular, mas esse estímulo também deve ser aceito pelas nações e indivíduos que
falam a língua, e a aceitação congênita das possibilidades estruturais de uma língua
é uma jogada de sorte (Ueber das vergleichende Sprachstudium, [1820] 1960-1981).
Por outro lado, dificuldades e obstáculos que certas estruturas linguísticas impõem
podem ser superados (como no caso do chinês – Sobre o surgimento das formas
gramaticais), ou potenciais favoráveis podem permanecer adormecidos (como no
caso do sânscrito).
2
Essa ideia está associada a um ensaio estético de Humboldt anterior a este discurso,
Über Göthe’s Hermann und Dorothea, de Goethe, em que ele, completamente imerso
no discurso da dialética, escreveu de forma radical: “Ele [o artista] deve eliminar em
nossa alma cada memória da realidade e manter apenas a imaginação intensa e viva”
(1954, p.126).
3
Ver também a contraposição entre o poeta e o historiador em Ueber die Aufgabe des
Geschichtsschreiber ([1821] 1960-1981): o sentido de realidade caracteriza os escri-
tores da prosa.
4
Ver Ueber das vergleichende Sprachstudium ([1820] 1960-1981), § 21: o “uso oratório
da linguagem” exige “forças inteiras do homem” em contraste com o uso prosaico,
em sentido mais estrito, ou seja, aquele do cotidiano, que Humboldt denomina “uso
operacional”.
5
Esse anseio se encontra igualmente na base da concepção chinesa de língua, assim
como na concepção tradicional de língua, segundo a qual se pode pensar indepen-
dentemente da língua, e uma escrita logográfica constitui uma possibilidade (Ver
Sobre a escrita alfabética).
6
Nesse último apogeu do desenvolvimento da prosa, dissipa-se de forma extrema
não só a subjetividade, como também a sensorialidade da língua (ela não mais afir-
ma uma autonomia própria), de modo que a expressão “sublimidade”, no sentido de
Kant, alcança precisamente a impressão estética que ela produz: “pois o verdadei-
ramente sublime não pode estar contido em qualquer forma sensorial, mas alcança
somente as ideias da razão, que [...] são estimuladas e despertadas na alma” (KANT,
1956, p. 76). A linguagem em que a prosa científica se baseia, cuja subjetividade e
sensorialidade ela deixa para trás, porém sem jamais ser capaz de se desvencilhar
completamente delas, torna-se, em uma aproximação infinitesimal de seu último e
mais alto nível de desenvolvimento, um signo indiferente, mas que, ao mesmo tem-
po, em sua extrema devoção ao objeto, ao pensamento, atinge novamente a função
da imagem mais elevada, a imagem da verdade. Essa é também a razão pela qual o
chinês e o grego são semelhantes nesse nível mais elevado de perfeição. O chinês, no
entanto, não toma o desvio pela língua.
,6%1