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Ensaios sobre língua e linguagem
Av. João Naves de Ávila, 2121
Campus Santa Mônica – Bloco 1S
Editora da Universidade Cep 38408-100 | Uberlândia – MG
Federal de Uberlândia
www.edufu.ufu.br Tel: (34) 3239-4293

R EITOR C ONSELHO E DITORIAL


Valder Steffen Jr. Carla Vieira Nunes Tavares
Mical de Melo Marcelino
VICE-REITOR Wedisson Oliveira Santos
Carlos Henrique Martins da Silva

DIRETOR DA EDUFU
Alexandre Guimarães Tadeu de Soares

S ÉRIE D IREÇÃO
Tradução de Estudos da Linguagem Fernanda Mussalim

CONSELHO EDITORIAL DA SÉRIE


Fernanda Mussalim – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil)
Anna Christina Bentes – Universidade Estadual de Campinas (Brasil)
Anna Flora Brunelli – Universidade do Estado de São Paulo – Campus S. J. do Rio Preto (Brasil)
Beth Brait – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil)
Cleudemar Alves Fernandes – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil)
Dante Lucchesi – Universidade Federal Fluminense (Brasil)
Dominique Maingueneau – Université Paris-Sourbonne, Paris IV (França)
Eliane Mara Silveira – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil)
Gladis Massini-Cagliari – Universidade do Estado de São Paulo – Campus Araraquara (Brasil)
Heloisa Mara Mendes – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil)
Jacques Guilhamou – Université de Lyon (França)
Jean Jacques Courtine – Université de la Sorbonne Nouvelle, Paris III (França)
Joaquim Dolz - Universidade de Genebra (Suíça)
José Sueli Magalhães – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil)
Luciana Salazar Salgado – Universidade Federal de São Carlos (Brasil)
Marcos Bagno – Universidade de Brasília (Brasil)
Maria da Conceição Fonseca-Silva – Universidade do Sudoeste da Bahia (Brasil)
Maria Fausta Cajahyba Pereira de Castro – Universidade Estadual de Campinas (Brasil)
Maria Irma Hadler Coudry – Universidade Estadual de Campinas (Brasil)
Marina Célia Mendonça – Universidade do Estado de São Paulo – Campus Araraquara (Brasil)
Maura Alves de Freitas Rocha – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil)
Norma Discini - Universidade Estadual de São Paulo (Brasil)
Roberto Gomes Camacho – Universidade do Estado de São Paulo – Campus S. J. do Rio Preto (Brasil)
Roberto Leiser Baronas – Universidade Federal de São Carlos (Brasil)
Roger Chartier – Collège de France (França)
Ronaldo de Oliveira Batista – Universidade Mackenzie (Brasil)
Rosana do Carmo Novaes Pinto – Universidade Estadual de Campinas (Brasil)
Sheila Vieira de Camargo Grillo – Universidade de São Paulo (Brasil)
Sírio Possenti – Universidade Estadual de Campinas (Brasil)
Stéfano Paschoal – Universidade Federal de Uberlândia (Brasil)

V OLUME 2 T RADUTORES
Wilhelm von Humboldt: Hans Theo Harden
ensaios sobre língua e linguagem Orlene Lúcia de S. Carvalho

A UTOR P REFÁCIO DA TRADUÇÃO BRASILEIRA


Wilhelm von Humboldt Jürgen Trabant
Hans Theo Harden
Orlene Lúcia de S. Carvalho
Wilhelm von Humboldt

Ensaios sobre língua e linguagem

Tradução
Hans Theo Harden
Orlene Lúcia de S. Carvalho

Série
Tradução de Estudos da Linguagem
Volume 2
Direção: Fernanda Mussalim
© 2021 para a Língua Portuguesa por:
Edufu – Editora da Universidade Federal de Uberlândia/MG
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio
sem permissão da Edufu.

Textos selecionados da obra original:


Humboldt, Wilhelm von. Über die Sprache: Reden von der Akademie.
Hrsg., kommentiert von Jürgen Trabant.
Tübingen; Basel: Francke, 1994.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Sistema de Bibliotecas da UFU, MG, Brasil

H919e Humboldt, Wilhelm von, 1767-1835


Ensaios sobre língua e linguagem [recurso eletrônico] / Tradução
Hans Theo Harden, Orlene Lúcia de S. Carvalho ; direção [série]
Fernanda Mussalim – Uberlândia : EDUFU, 2021.
324 p. (Tradução de Estudos da Linguagem ; v. 2.)

ISBN: 978-65-5824-005-1 (e-book)


DOI: http://dx.doi.org/10.14393/EDUFU-978-65-5824-005-1
Livro digital
Disponivel em: www.repositorio.ufu.br
Inclui bibliografia.

1. Linguística. 2. Linguagem. 3. Filosofia. 4. Ensaios. I. Harden,


Hans Theo, (Trad.). II. Carvalho, Orlene Lúcia de Sabóia, (Trad.) III.
Mussalim, Fernanda, (Dir.). IV. Título. V. Série.
CDU: 801

Rejâne Maria da Silva – CRB6/1925


Bibliotecária

Equipe de Realização

Editora de publicações Maria Amália Rocha


Revisão de Língua Portuguesa Lúcia Helena Coimbra Amaral
Diagramação e capa Eduardo Warpechowski
Imagem da contracapa Domínio público
Série
Tradução de estudos da linguagem

A Linguística é uma área de estudos que vem ganhando espaço


no Brasil, especialmente a partir da década de 70 do século XX,
quando os departamentos de Letras de grandes centros de pesquisa do
país incorporaram, em suas grades curriculares, a Linguística como
disciplina obrigatória. Com pouca bibliografia disponível em língua
portuguesa, os linguistas que então se formavam no país tinham que
ler as grandes obras de referência da área nas línguas oficiais em que
foram publicadas. Aos poucos, entretanto, especialmente a partir das
décadas de 80 e 90, várias traduções passaram a circular no mercado
editorial brasileiro, de modo que os cursos de licenciatura e bacharelado
de Letras e Linguística de universidades públicas e privadas puderam ter
amplo acesso às pesquisas linguísticas realizadas no exterior. A política
de tradução de obras da área foi fundamental para o desenvolvimento e
a disseminação das pesquisas de Linguística no Brasil.
A Série Tradução de Estudos da Linguagem – que tenho o privilégio
e a honra de dirigir junto à Editora da Universidade Federal de
Uberlândia (EDUFU) – vem contribuir não apenas para a permanência
dessa política de desenvolvimento e disseminação do conhecimento
produzido na área, mas também para a ampliação dos horizontes da
Linguística no Brasil, cujas fronteiras e interfaces muito se alteraram
desde os primeiros investimentos em políticas de tradução.
Nessa perspectiva – e englobando quatro linhas de publicação –, a
Série dedica-se tanto à tradução de textos/obras do campo da Linguística,
bem como de textos/obras de outras áreas que, de alguma maneira,
afetaram e/ou afetam as teorizações sobre a linguagem produzidas do
interior desse campo. O intuito é, assim, publicar traduções de:
• clássicos da área da Linguística que ainda não foram publicados
no Brasil;
• textos mais contemporâneos do campo da Linguística que
tenham relevância teórico-analítica para os estudos da
linguagem;
• clássicos de outras áreas que afetaram e/ou afetam as
teorizações sobre a linguagem produzidas do interior do
campo da Linguística;
• textos produzidos em outros campos do saber que tenham
relevância para os estudos do campo da Linguística.

A escolha das obras a serem traduzidas é feita por um Conselho


Editorial composto por pesquisadores brasileiros e estrangeiros de
reconhecida competência no campo da Linguística e áreas afins. O
Conselho tem a função de avaliar os textos/livros submetidos à EDUFU,
subsidiando a decisão quanto à pertinência da tradução e publicação
das obras enviadas para avaliação.
No que diz respeito ao público-alvo dessa Série, seria míope
considerar que ela se dirige apenas a pesquisadores e professores
universitários dedicados ao estudo da linguagem e/ou de áreas
afins; a estudantes de graduação e pós-graduação interessados nos
conhecimentos produzidos pela Linguística; e a professores de escolas
públicas e privadas que se interessam por conhecer/aprofundar
seus conhecimentos em relação aos estudos sobre a linguagem. A
problemática da linguagem há muito ganhou lugar em campos – de
pesquisa ou não – que, em suas práticas, esbarram-se a todo momento
em questões e temas pertinentes à Linguística. Dessa forma, apesar de
sua especificidade, a Série se propõe a ampliar horizontes de leitores,
por meio de uma política de divulgação das obras que possa permitir o
acesso à informação a respeito de que obras traduzidas estão sendo postas
a circular, bem como o acesso fácil e rápido às próprias publicações.
Parabenizo à EDUFU por protagonizar esta Série e desejo aos
leitores um produtivo percurso pelas páginas que se seguem.

Fernanda Mussalim
Diretora da Série
Sumário

Prefácio ................................................................................................................ 8

Ensaios sobre língua e linguagem

Ueber das Entstehen der grammatischen Formen, und ihren Einfluss auf
die Ideenentwicklung (1822) .......................................................................... 14
Sobre o surgimento das formas gramaticais e sua influência no
desenvolvimento das ideias
Comentários ..................................................................................................... 76

Ueber das Verbum in den Americanischen Sprachen (1823) .................... 82


Sobre o verbo nas línguas americanas
Comentários ................................................................................................... 114

Ueber die Buchstabenschrift und ihren Zusammenhang mit dem


Sprachbau (1824) ............................................................................................ 118
Sobre a escrita alfabética e sua conexão com a construção da língua
Comentários ................................................................................................... 176

Ueber den grammatischen Bau der Chinesischen Sprache (1826) .......... 182
Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa
Comentários ................................................................................................... 216

Ueber den Dualis (1827) ............................................................................... 220


Sobre o dual
Comentários ................................................................................................... 276

Charakter der Sprachen. Poesie und Prosa (1835) .................................... 280


O caráter das línguas: poesia e prosa
Comentários ................................................................................................... 316

Referências bibliográficas .............................................................................. 320

Os tradutores .................................................................................................. 322


Prefácio

Quando se decide ler Humboldt, a escolha costuma recair sobre a


obra póstuma Ueber die Verschiedenheit des menschlichen Sprachbaues
und ihren Einfluß auf die geistige Entwicklung des Menschengeschlechts
(Sobre a diversidade da estrutura da linguagem humana e sua influência
sobre o desenvolvimento do espírito), que constitui a introdução ao
livro Ueber die Kawi-Sprache auf der Insel Java (Sobre a língua kawi na
ilha de Java, sem tradução para o português). Filósofos da linguagem
e linguistas sempre discutiram essa obra em especial. Assim, o que é
geralmente conhecido sobre o pensamento linguístico de Humboldt
vem da introdução à obra sobre a língua kawi, como, por exemplo, que
a linguagem não é “ergon”, mas “energeia”, que ela é o “órgão formador
do pensamento” e, mais recentemente, que ela faz “uso infinito de
meios finitos”. No entanto, essa concentração na introdução de Kawi
não foi necessariamente uma bênção para a recepção de Humboldt,
pois, embora seja sem dúvida seu texto mais importante, em razão de
ser a síntese de seu compromisso quase vitalício com a linguagem,
certamente também é seu texto mais inacessível, tanto em termos de
estilo como de composição do todo. Sobretudo a estrutura geral, de
difícil compreensão, além dos detalhes muitas vezes excessivos da
apresentação tornaram complexo para a recepção o acesso ao contexto
de todo o pensamento linguístico de Humboldt, favorecendo a divisão
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os linguistas lidaram principalmente com os capítulos linguísticos da
introdução de Kawi no sentido mais restrito, já os filósofos – ainda
mais exclusivamente – se interessaram pelas passagens de filosofia da
linguagem, e partes inteiras decisivas para a arquitetura da construção
de Humboldt permaneceram despercebidas por estes e aqueles.
A abordagem característica de Humboldt em suas reflexões sobre
a linguagem, especificamente sobre a mediação ou o casamento entre a
filosofia e a investigação linguística empírica, o estudo comparativo das
línguas em termos filosóficos, cuja consequência conduz a uma crítica
linguística fundamentada na filosofia, permaneceu, assim, durante

8 • Wilhelm von Humboldt


muito tempo, particularmente obscurecida. Somente pesquisas mais
recentes sobre Humboldt parecem ser capazes de elucidar essa conexão
novamente.
Sem querermos culpar a recepção estranhamente díspar de
Humboldt da introdução à obra sobre o kawi – ela expressa pelo menos
a divergência ou a conexão entre filosofia e linguística –, parece-nos
que um melhor acesso ao autor foi possibilitado pelos textos que ele
mesmo publicou em vida, oralmente ou por escrito (a introdução não
foi editada por ele, mas apenas o primeiro livro da edição atual da obra
sobre a língua kawi).
Após seus dois primeiros fracassos como escritor, dois ensaios
publicados em 1795 na revista Die Horen, editada por F. Schiller, e o
livro Über Göthe’s Hermann und Dorothea, em 1799, Humboldt teve
dificuldades para decidir sobre suas publicações. Entre 1800 e 1820,
além de sua contribuição sobre o basco para a obra de J. C. Adelung,
Mithridates (1806-1817), em que consta o Pai Nosso em mais de 500
línguas, e da tradução de Agamenon, de Ésquilo, não apareceu mais quase
nada. No entanto, a obrigação como membro da Academia Prussiana de
Ciências de proferir regularmente palestras obrigava Humboldt, após
sua demissão do serviço público no final de 1819, a falar sobre o assunto
de que se ocupava diante de um público que não podia ser considerado
especializado (dos estudos especializados que ele publicou nos órgãos
correspondentes, apenas alguns permaneceram).
Os discursos da Academia transmitem uma imagem um pouco
distinta da que consta na introdução de Kawi no que diz respeito à
preocupação de Humboldt com a linguagem. Em primeiro lugar, por
serem textos destinados à recitação pública, eles são bem mais fáceis de
ler do que suas principais obras, de modo que o julgamento do obscuro
Humboldt certamente pode e deve ser revisto. Além disso, cada um
desses textos relativamente curtos torna impossível separar o Humboldt
filosófico do linguístico: cada discurso individualmente destaca de
modo claro a abordagem do autor no casamento desses dois momentos.
Em terceiro lugar, como um conjunto de textos, eles documentam tanto
o todo da construção do pensamento linguístico de Humboldt quanto
os destaques especiais que ele próprio deu a certos temas. Quanto à
sequência cronológica, ela revela o caminho que Humboldt tomou nos

Prefácio • 9
quinze anos de reclusão no castelo de Tegel nos arredores de Berlim,
no final dos quais se encontra o trabalho sobre a língua kawi, o que
revela que o círculo das línguas da humanidade que ele analisava estava
sempre em expansão.
Como se pode ver na lista elaborada por Wiebke Witzei com base
nas atas da Academia (HUMBOLDT, 1994, p. 224-227), Humboldt
proferiu 26 palestras durante os onze anos de ativa participação
na Academia, de 1820 a 1831. Na verdade, não foram 26 palestras
diferentes, mas um total de 17 discursos sobre vários assuntos: alguns
foram lidos duas vezes e outros eram tão longos que não podiam ser
lidos em uma única sessão. Outras palestras e escritos foram publicados
em edições póstumas, como a obra sobre a língua kawi, às vezes não
como trabalhos independentes, mas como componentes de contextos
textuais maiores dos quais se originaram. A única palestra que ainda
não havia sido publicada em alemão era Ueber das Verbum in den
Americanischen Sprachen (“Sobre o verbo nas línguas americanas”),
disponível apenas em tradução inglesa, mas que consta na obra editada
por Trabant (HUMBOLDT, 1994).
Nossa escolha pelo conjunto de textos zelosamente organizados
por Trabant, em 1994, deve-se à fidedignidade aos originais de
Humboldt, com consultas aos manuscritos, à questão da variedade
temática, além da inclusão do discurso sobre os verbos americanos.
Embora essa palestra pareça tratar de um assunto muito especial, sua
relevância para a linguística é indubitável, pois nela Humboldt aborda
a questão da delimitação da classe dos verbos e dos substantivos em
detalhadas análises, trazendo originalmente o conceito de incorporação
(“Einverleibung”). Acompanham cada texto traduzido comentários e
notas de Jürgen Trabant e dos tradutores (as notas dos textos originais
de Humboldt estão marcadas com asteriscos).
Claro que teria sido extremamente estimulante documentar
e traduzir todas as atividades docentes de Humboldt. No entanto
isso teria ido muito além do quantitativo e do quadro temático dos
discursos sobre língua, embora quase todos os discursos de Humboldt
estejam relacionados à linguística. No que diz respeito às limitações
temáticas, também somos, naturalmente, afetados pelas críticas que
podem ser dirigidas a todos que publicam os escritos de Humboldt

10 • Wilhelm von Humboldt


e que, de uma forma ou de outra, se orientam por critérios como
interesse geral, interesse atual etc., quando do momento da seleção.
Por exemplo, não estão incluídas no livro organizado por Trabant
as investigações de Humboldt sobre os hieróglifos egípcios, que ele
explicou minuciosamente em dois discursos na Academia e que eram
extremamente atuais à época. Champollion tinha interpretado a Pedra
de Roseta em 1822, e Humboldt imediatamente contou aos seus colegas
sobre essa descoberta sensacional, tendo mais tarde decifrado as “colunas
com cabeça de leão” de Berlim. Em nossa tradução, entendemos que
poderíamos passar sem esses discursos porque eles entram em detalhes
muito peculiares do egípcio e porque as considerações significativas
sobre a conexão entre a escrita e a linguagem também podem ser
encontradas em Sobre a escrita alfabética. Mais difícil foi dispensar os
discursos de Humboldt sobre o Bhagavad-Gita (que teriam ocupado
mais de sessenta páginas impressas), especialmente porque o próprio
Humboldt valorizou bastante esses discursos, em que reflete sobre
seu encontro profundamente comovente com o sânscrito e a filosofia
indiana. Entretanto, ainda que eles contenham notáveis informações
sobre a língua indiana, eles consistem mais em uma representação dessa
filosofia – e como tal também despertaram a contradição veemente de
Hegel (1827) em um discurso sobre o idioma.
Ainda nesta seleção de tradução dos discursos proferidos pelo
próprio Humboldt incluímos um texto que, após sua morte, foi lido por
August Böckh na cerimônia em memória de Humboldt, em 9 de julho
de 1835, diante dos membros da Academia. Trata-se de Poesia e Prosa,
transcrito do capítulo Caráter das línguas, da então inédita introdução
à língua kawi. Ao colocarmos esse texto no final da coletânea como
um discurso póstumo da Academia, esperamos – como fez Böckh há
150 anos – trazer aos olhos do leitor de hoje o objetivo do discurso
de Humboldt sobre a linguagem, “a pedra angular da linguística”, a
exploração do “caráter” das línguas em seu uso na poesia e na ciência. A
indubitável relevância desse texto, que completa o quadro da concepção
humboldtiana de língua, é ilustrada, por exemplo, pelo fato de que até
mesmo Gadamer acredita que é preciso se opor ao conceito supostamente
abstrato de linguagem de Humboldt: “Se cada língua é uma visão de
mundo, ela não o é como um determinado tipo de linguagem (como o

Prefácio • 11
linguista vê a língua), mas pelo que é falado ou transmitido na língua”
(1965, p. 417). Essa é precisamente a convicção básica de Humboldt, que
ele explica nos textos sobre o caráter das línguas, que não foram lidos
por linguistas nem por filósofos.

Jürgen Trabant
Hans Theo Harden
Orlene Lúcia de S. Carvalho

12 • Wilhelm von Humboldt


Ensaios sobre
língua e linguagem

B
Ueber das Entstehen der grammatischen
Formen, und ihren Einfluss auf die
Ideenentwicklung*

Indem ich versuchen werde, den Ursprung der grammatischen


Formen, und ihren Einfluss auf die Ideenentwicklung zu schildern, ist es
nicht meine Absicht, die einzelnen Gattungen derselben durchzugehen.
Ich werde mich vielmehr nur auf ihren Begriff überhaupt beschränken,
um die doppelte Frage zu beantworten:
wie in einer Sprache diejenige Bezeichnungsart grammatischer
Verhältnisse entsteht, welche eine Form zu heissen verdient? und
inwiefern es für das Denken und die Ideenentwicklung wichtig ist,
ob diese Verhältnisse durch wirkliche Formen, oder durch andre Mittel
bezeichnet werden?
Da hier von dem allmählichen Werden der Grammatik die Rede
ist, so bieten sich die Verschiedenheiten der Sprachen, von dieser Seite
aus betrachtet, als Stufen in ihrem Fortschreiten dar.
Nur muss man sich wohl hüten, einen allgemeinen Typus
allmählich fortschreitender Sprachformung entwerfen, und alle
einzelnen Erscheinungen nach diesem beurtheilen zu wollen.
Ueberall ist in den Sprachen das Wirken der Zeit mit dem Wirken der
Nationaleigenthümlichkeit gepaart, und was die Sprachen der rohen
Horden Amerikas und Nordasiens charakterisirt, braucht darum
nicht auch den Urstämmen Indiens und Griechenlands angehört
zu haben. Weder der Sprache einer einzelnen Nation, noch solchen,
welche durch mehrere gegangen sind, lässt sich ein vollkommen
gleichmässiger, und gewissermassen von der Natur vorgeschriebener
Weg der Entwicklung anweisen.

* Gelesen in der Academie der Wissenschaften am 17. Januar 1822.

14 • Wilhelm von Humboldt


Sobre o surgimento das formas
gramaticais e sua influência no
desenvolvimento das ideias*

Ao tentar retratar o surgimento das formas gramaticais e sua


influência no desenvolvimento das ideias, não tenho a intenção de
abordar cada uma das classes dessas formas detalhadamente. Vou me
limitar ao conceito geral, para responder a duas perguntas:
(i) Como surgem numa língua os meios de expressão das relações
gramaticais que merecem ser chamados de formas?
(ii) Até que ponto é importante para o pensamento e o
desenvolvimento das ideias que essas relações sejam expressas por
verdadeiras formas ou por outros meios?

Como nosso assunto é o surgimento gradual da gramática, as


diferenças entre as línguas, dessa perspectiva, podem ser vistas como
estágios de um progresso.
Mas é preciso ter cuidado ao se esboçar um tipo universal de
formação gradual das línguas e, com base nele, classificar todos os
fenômenos singulares. Por toda parte, combinam-se nas línguas a ação
do tempo e a ação das peculiaridades das nações, e o que caracteriza
as tribos selvagens das Américas e da Ásia Setentrional não se aplica
necessariamente às antigas tribos da Índia e da Grécia. Não é possível
atribuir às línguas uma trajetória de desenvolvimento completamente
uniforme, como se fosse naturalmente determinado, seja a usada por
apenas uma nação ou aquelas compartilhadas por várias nações1.

* Texto lido na Academia de Ciências em 17 de janeiro de 1822.

Ensaios sobre língua e linguagem • 15


Die Sprache, in ihrer grössesten Ausdehnung genommen, kennt
aber einen letzten Mittelpunkt im Menschengeschlecht überhaupt, und
wenn man von der Frage ausgeht: in welchem Grad der Vollendung der
Mensch bisher die Sprache zur Wirklichkeit gebracht hat? so giebt es
alsdann einen festen Punkt, nach welchem sich wieder andre, gleich
feste bestimmen lassen. Auf diese Weise nun ist eine fortschreitende
Entwicklung des Sprachvermögens, und zwar an sichren Zeichen,
erkennbar, und in diesem Sinn kann man mit Fug und Recht von
stufenartiger Verschiedenheit unter den Sprachen reden.
Da hier nur von dem Begriffe grammatischer Verhältnisse
überhaupt, und ihrem Ausdruck in der Sprache die Rede seyn soll, so
haben wir uns nur mit der Auseinandersetzung des ersten Erfordernisses
zur Ideenentwicklung, und der Bestimmung der untersten Stufen der
Sprachvollkommenheit zu beschäftigen.
Es wird aber zunächst sonderbar scheinen, daβ nur der Zweifel
erregt wird, als besässe nicht jede Sprache, auch die unvollkommenste
und ungebildetste, grammatische Formen im wahren und eigentlichen
Verstände. Nur in der Zweckmassigkeit, Vollständigkeit, Klarheit und
Kürze dieser Formen wird man Verschiedenheiten unter den Sprachen
aufsuchen. Man wird sich noch ausserdem darauf berufen, dass gerade
die Sprachen der Wilden, namentlich die Amerikanischen, vorzüglich
zahlreiche, planmässig und künstlich gebildete aufweisen. Alles dies ist
vollkommen wahr; es fragt sich nur, ob diese Formen auch wahrhaft,
als Formen anzusehen sind, und es kommt daher auf den Begriff an,
den man mit diesem Worte verbindet. Um dies vollkommen deutlich
zu machen, muss man zuvörderst zwei Misverständnisse aus dem Wege
räumen, die hier sehr leicht entstehen können.
Wenn man von den Vorzügen und Mängeln einer Sprache redet,
so darf man nicht das zum Massstabe nehmen, was irgend ein, nicht
ausschliessend durch sie gebildeter Kopf in ihr auszudrükken im Stande
wäre. Jede Sprache ist, trotz ihres mächtigen und lebendigen Einflusses
auf den Geist, doch auch zugleich ein todtes und leidendes Werkzeug,
und alle tragen eine Anlage nicht bloss zum richtigen, sondern selbst
zum vollendetsten Gebrauche in sich.

16 • Wilhelm von Humboldt


A língua, tomada em seu contexto mais amplo, porém, tem como
ponto principal a humanidade em geral e, quando se parte da pergunta
sobre o grau de perfeição a que o homem levou a língua em relação à
realidade, pode-se estabelecer um ponto fixo a partir do qual outros
pontos igualmente fixos podem ser determinados. Deste modo, um
desenvolvimento progressivo da capacidade da linguagem pode ser
identificado através de sinais confiáveis e, nesse sentido, pode-se falar
justificadamente em diferenças graduais entre as línguas.
Como vamos tratar aqui apenas do conceito de relações gramaticais
propriamente dito e de sua manifestação na língua, então precisamos
discutir o primeiro pré-requisito do desenvolvimento das ideias e a
determinação do que seria o mais baixo grau de perfeição linguística.
Inicialmente talvez possa parecer um pouco estranho lançar
dúvidas sobre o fato de que todas as línguas, inclusive as menos perfeitas
e menos desenvolvidas, tenham formas gramaticais, no sentido próprio
da expressão. As diferenças entre as línguas podem ser identificadas
apenas em termos de adequação, plenitude, clareza e brevidade das
formas. Pode-se alegar também que justamente as línguas dos povos
selvagens, em particular dos povos americanos, apresentam numerosos
elementos gramaticais formados de modo sistemático e elaborado.
Tudo isso é absolutamente verdadeiro, mas deve-se perguntar se essas
formas podem ser vistas como verdadeiras formas, o que depende do
conceito associado a essa palavra. Para deixar isso bem claro, é preciso,
em primeiro lugar, eliminar dois mal-entendidos que facilmente podem
surgir neste contexto.
Quando se fala em qualidades e defeitos de uma língua, não se
pode estabelecer como parâmetro aquilo que uma pessoa que não foi
formada exclusivamente nessa língua conseguiria expressar. Apesar da
poderosa e viva influência sobre o intelecto, cada língua é ao mesmo
tempo uma ferramenta inerte e passiva, e todas trazem consigo um
potencial para um uso não apenas correto, como também mais perfeito.

Ensaios sobre língua e linguagem • 17


Wenn nun derjenige, welcher seine Bildung in andren Sprachen
erlangt hat, irgend eine minder vollkommene studirt, und sich
ihrer bemeistert, so kann er, vermittelst derselben, eine ihr an und
für sich fremde Wirkung hervorbringen, und es wird dadurch in sie
eine ganz andre Ansicht hinübergetragen, als welche die allein unter
ihrem Einflusse stehende Nation von ihr hegt. Auf der einen Seite
wird die Sprache ein wenig aus ihrem Kreise herausgerissen; auf der
andren wird, da alles Verstehen aus Objectivem und Subjectivem
zusammengesetzt ist, etwas andres in sie hineingelegt; und so ist kaum
zu sagen, was nicht in ihr, und durch sie erzeugt werden könnte.
Sieht man bloss auf dasjenige, was sich in einer Sprache
ausdrükken lässt, so wäre es nicht zu verwundern, wenn man
dahin geriethe alle Sprachen im Wesentlichen ungefähr gleich an
Vorzügen und Mängeln zu erklären. Die grammatischen Verhältnisse
insbesondre hängen durchaus von der Absicht ab, die man damit
verbindet. Sie kleben weniger den Worten an, als sie von dem Hörenden
und Sprechenden hineingedacht werden. Da, ohne ihre Bezeichnung,
keine Rede, und kein Verstehen denkbar sind, so muss jede noch so
rohe Sprache gewisse Bezeichnungsarten für sie besitzen, und diese
mögen nun noch so dürftig, noch so seltsam, vorzüglich aber noch so
stoffartig seyn, als sie wollen, so wird der einmal durch vollkommnere
Sprachen gebildete Verstand sich ihrer immer mit Erfolg zu bedienen,
und alle Beziehungen der Ideen mit denselben genügend anzudeuten
verstehen. Die Grammatik lässt sich in eine Sprache viel leichter
hineindenken, als eine grosse Erweiterung und Verfeinerung der
Wortbedeutungen; und so muss man nicht überrascht werden, wenn
man in den Darstellungen ganz roher und ungebildeter Sprachen die
Namen aller Formen der höchstgebildeten antrift. Die Andeutungen
zu allen sind wirklich vorhanden, da die Sprache dem Menschen
immer ganz, nie stückweise beiwohnt, und der feinere Unterschied, ob
und inwiefern diese Bezeichnungsarten grammatischer Verhältnisse
nun wirkliche Formen sind, und als solche auf die Ideenentwicklung
der Eingebohrnen einwirken, wird leicht übersehen.

18 • Wilhelm von Humboldt


Quando alguém que recebeu formação em outras línguas estuda uma
língua menos perfeita e a domina, ele pode criar efeitos que são per
se alheios a essa língua, introduzindo nela uma visão bem diferente
da que tem a nação que está sob a influência somente dessa língua.
Por um lado, a língua é deslocada de seu ambiente natural; por outro,
como toda compreensão se compõe de sujeito e objeto, algo novo é
inserido nela, e, por isso, é quase impossível dizer o que pode ou não
ser criado na língua e por ela.
Assim, se for considerado apenas o que pode ser expresso em
uma língua, não é de se admirar que, na essência, todas as línguas
sejam mais ou menos iguais quanto a suas qualidades e defeitos.
As relações gramaticais em particular dependem inteiramente da
intenção associada a elas. Elas são se afixam tanto às palavras quanto
são mentalmente acrescentadas a estas pelos falantes e ouvintes.
Como nem o discurso nem a compreensão seriam concebíveis sem
essas relações, até as línguas menos desenvolvidas precisam de certos
meios para marcá-las. Por mais que esses meios sejam insuficientes,
raros ou desenvolvidos mas ainda bastante materiais, o intelecto
formado por uma língua mais perfeita vai aproveitá-los com sucesso
e vai conseguir indicar todas as relações entre as ideias. É mais fácil
perceber a gramática numa língua do que uma grande expansão ou
refinamentos dos significados das palavras, logo não é de se admirar
quando se encontram denominações de todas as formas gramaticais
mais desenvolvidas em descrições de línguas impolidas e incultas.
Indícios dessas formas estão realmente presentes, pois a língua habita
no ser humano sempre como um todo, nunca fragmentada, mas às
vezes passa despercebida uma sutil distinção, i.e., se e até que ponto
os meios de expressar as relações gramaticais correspondem a formas
propriamente ditas e se têm, como tais, influência no desenvolvimento
das ideias dos povos indígenas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 19


Dennoch ist dies gerade der Punkt, auf den es ankommt. Nicht,
was in einer Sprache ausgedrückt zu werden vermag, sondern das, wozu
sie aus eigner, innerer Kraft anfeuert und begeistert, entscheidet über
ihre Vorzüge, oder Mängel. Ihr Massstab ist die Klarheit, Bestimmtheit
und Regsamkeit der Ideen, die sie in der Nation weckt, welcher sie
angehört, durch deren Geist sie gebildet ist, und auf die sie wiederum
bildend zurückgewirkt hat. Verlässt man aber diesen ihren Einfluss
auf die Entwicklung der Ideen und die Erregung der Empfindungen,
will man prüfen, was sie als Werkzeug überhaupt hervorzubringen
und zu leisten vermöchte; so geräth man auf einen Boden, der keiner
Begränzung mehr fähig ist, da der bestimmte Begriff des Geistes fehlt,
der sich ihrer bedienen soll, alles durch Rede Gewirkte aber immer ein
zusammengesetztes Erzeugniss des Geistes und der Sprache ist. Jede
Sprache muss in dem Sinne aufgefasst werden, in dem sie durch die
Nation gebildet ist, nicht in einem ihr fremden.
Auch wenn die Sprache keine ächten grammatischen Formen
besitzt, kann, da es ihr doch niemals an andren Bezeichnungsarten
der grammatischen Verhältnisse mangelt, nicht nur die Rede, als
materielles Erzeugniss, recht gut bestehen, sondern es kann auch
vielleicht jede Gattung der Rede in solche Sprachen übergetragen, und
in ihnen gebildet werden. Dies letztere ist aber nur die Frucht einer
fremden Kraft, die sich einer unvollkommneren Sprache in dem Sinn
einer vollkommneren bedient.
Darum, dass sich mit den Bezeichnungen fast jeder Sprache
alle grammatischen Verhältnisse andeuten lassen, besitzt noch nicht
auch jede grammatische Formen in demjenigen Sinne, in dem sie
die hochgebildeten Sprachen kennen. Der zwar feine, aber doch
sehr fühlbare Unterschied liegt in dem materiellen Erzeugniss und
der formalen Einwirkung. Dies wird die Folge dieser Untersuchung
deutlicher darstellen. Hier war es genug, abzusondern, was eine beliebig
angenommene Kraft mit einer Sprache hervorzubringen, und was
sie selbst durch stetigen und habituellen Einfluss auf die Ideen und
ihre Entwicklung zu wirken vermag, um dadurch das erste hier zu
befürchtende Misverständniss zu heben.

20 • Wilhelm von Humboldt


Esse é exatamente o cerne da questão. O que determina as qualidades
e os defeitos de uma língua não é aquilo que pode ser potencialmente
expresso por ela, mas aquilo que sua força intrínseca provoca e
estimula.2 Os parâmetros são a clareza, a precisão e a vivacidade das
ideias que a língua desperta na nação a que pertence, por cujo espírito
ela foi formada e na qual se refletiu de maneira formadora. Quando,
porém, se desconsidera essa influência da língua no desenvolvimento de
ideias e no estímulo de emoções, quando se quer examinar seu potencial
criativo como ferramenta, entra-se num terreno sem limites porque
falta o conceito específico do espírito que faz uso da língua, e tudo o
que foi tecido no discurso é sempre um produto composto pelo espírito
e pela língua. Cada língua deve ser concebida no sentido conferido pela
nação que a formou, não em um sentido alheio a ela.
Mesmo que a língua não tenha formas gramaticais genuínas, como
nunca lhe faltam outros meios para marcar as relações gramaticais,
não somente existe a possibilidade do discurso como produto material,
como também qualquer tipo de discurso pode ser transferido para uma
língua e ser nela consolidado. Esse último caso é apenas fruto de uma
força externa que faz uso de uma língua menos perfeita no sentido de
uma mais perfeita.
A possibilidade de se indicar as relações gramaticais em
quase todas as línguas não implica, entretanto, que cada uma tenha
formas gramaticais como as que se encontram nas línguas altamente
desenvolvidas. A sutil diferença, mas ainda bastante perceptível, reside
no produto material e na influência da forma. Isso será mostrado com
mais clareza no decorrer desta análise. Por enquanto, para evitar o
primeiro mal-entendido, é suficiente distinguir entre aquilo que uma
força aleatória pode criar mediante a língua e o efeito que a própria
língua pode ter devido à influência constante e habitual sobre as ideias.

Ensaios sobre língua e linguagem • 21


Das zweite entsteht aus der Verwechslung einer Form mit
der andren. Da man nemlich gewöhnlich zu dem Studium einer
unbekannten Sprache von dem Gesichtspunkt einer bekannteren,
der Muttersprache, oder der Lateinischen, hinzugeht, so sucht man
auf, wie die grammatischen Verhältnisse dieser in der fremden
bezeichnet zu werden pflegen, und benennt nun die dazu gebrauchten
Wortbeugungen oder Stellungen geradezu mit dem Namen der
grammatischen Form, die in jener Sprache, oder auch nach allgemeinen
Sprachgesetzen dazu dient. Sehr häufig sind diese Formen aber gar
nicht in der Sprache vorhanden, sondern werden durch andre ersetzt,
und umschrieben. Man muss daher, um diesen Fehler zu vermeiden,
jede Sprache dergestalt in ihrer Eigenthümlichkeit studiren, dass
man durch genaue Zergliederung ihrer Theile erkennt, durch welche
bestimmte Form sie, ihrem Baue nach, jedes grammatische Verhältniss
bezeichnet.
Die Americanischen Sprachen liefern häufige Beispiele
solcher irrigen Vorstellungen, und das Wichtigste, was man bei
Umarbeitungen der Spanischen und Portugiesischen Sprachlehren
derselben zu thun hat, ist, die schiefen Ansichten dieser Art
wegzuräumen, und den ursprünglichen Bau dieser Sprachen sich
rein vor Augen zu stellen.
Einige Beispiele werden dies besser ins Licht setzen. In der
KaraibenSprache wird aveiridaco als die 2. pers. sing, imperf. conjunct.
wenn du wärest angegeben. Zergliedert man aber das Wort genauer,
so ist veiri seyn, a das Pronomen 2. pers. sing., das sich auch mit
Substantiven verbindet, und daco eine Partikel, welche Zeit anzeigt. Es
mag sogar, obgleich ich es in den Wörterbüchern nicht so aufgeführt
finde, einen bestimmten Zeittheil bedeuten. Denn oruacono daco
heisst am dritten Tage. Die wörtliche Uebersetzung jener Beugung ist
also: am Tag deines Seyns, und durch diese Umschreibung wird die
in dem Conjunctiv liegende hypothetische Annahme ausgedrückt.
Was hier Conjunctiv genannt wird, ist also ein Verbalnomen mit
einer Praeposition verbunden, oder wenn man es einer Verbalform
annähernd ausdrücken will, ein Ablativ des Infinitivs, oder das
lateinische Gerundium in do. Auf dieselbe Weise wird der Conjunctiv
in mehreren Americanischen Sprachen angedeutet.

22 • Wilhelm von Humboldt


O segundo mal-entendido3 tem origem na confusão entre uma
forma e outra. Como se costuma estudar uma língua desconhecida
da perspectiva de uma conhecida, como a língua materna ou o latim,
procura-se descobrir como as relações gramaticais da língua conhecida
são expressas na língua estrangeira, e as flexões e funções sintáticas
são denominadas com os termos das formas gramaticais da língua
conhecida ou então com os termos das leis linguísticas gerais. Com
frequência, porém, essas formas não existem na língua em questão e
são substituídas ou parafraseadas. Por isso, para evitar esse erro, é
necessário estudar cada língua com suas próprias peculiaridades, de
maneira que uma análise exata das partes permita identificar as formas
que representam as relações gramaticais, de acordo com a estrutura da
língua.
As línguas americanas fornecem inúmeros exemplos dessas noções
erradas e, na revisão das gramáticas das línguas indígenas escritas em
português e espanhol, o mais importante é remover essas perspectivas
distorcidas e evidenciar a construção original dessas línguas de forma
clara e transparente.
Alguns exemplos podem ilustrar isso melhor. Na língua caribe,
aveiridaco é descrito como a segunda pessoa do singular do imperfeito
do subjuntivo ‘você fosse’. Quando se decompõe a palavra com mais
precisão, vê-se que veiri é ‘ser’, a é o pronome de segunda pessoa do
singular que também se afixa a substantivos; e daco, uma partícula que
designa tempo. Apesar de não ter encontrado essa informação nos
dicionários, pode até ser que essa partícula indique um determinado
período porque oruacono daco significa ‘no terceiro dia’. A tradução
literal de aveiridaco é, portanto, ‘no dia do teu ser’, e com essa paráfrase
se expressa uma suposição hipotética no subjuntivo. O que aqui é
denominado subjuntivo é, então, um substantivo verbal afixado a uma
preposição ou, quando se quer expressar essa ideia com uma forma
verbal aproximada, tem-se um ablativo do infinitivo ou o gerúndio
latino terminado em -do. Esse é o modo como o subjuntivo é indicado
em várias línguas americanas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 23


In der Lule Sprache wird ein part. pass. angegeben, z. B. a-le-ti-pan,
aus Erde gemacht. Wörtlich aber heisst diese Silbenverbindung: Erde
aus sie machen (3. pers. plur. praes, von tic, ich mache).
Auch der Begriff des Infinitivs, wie ihn die Griechen und
Römer kannten, wird den meisten, wenn nicht allen Americanischen
Sprachen nur durch Verwechslung mit andren Formen zugeschrieben.
Der Infinitivus der Brasilianischen Sprache ist ein vollkommenes
Substantivum; iuca ist morden und Mord, caru essen und Speise. Ich
will essen heisst entweder che caru ai-pota, wörtlich: mein Essen ich will,
oder mit dem Verbum einverleibtem Accusativ ai-caru-pota. Nur darin
behält diese Wortstellung die Verbalnaturbei, dass sie andre Substantiva
im Accusativ regiert. Im Mexicanischen ist dieselbe Einverleibung des
Infinitivs, als eines Accusativs, in das ihn regierende Verbum. Allein
der Infinitivus wird durch diejenige Person des Futurum vertreten, von
der die Rede ist, ni-tlaçotlaz-nequia, ich wollte lieben, wörtlich: ich, ich
werde lieben, wollte. Ninequia heisst ich wollte, und indem dies die 1.
pers. sing. fut. tlaçotlaz, ich werde lieben, in sich aufnimmt, wird aus
der ganzen Phrase Ein Wort. Dasselbe Futurum kann aber auch dem
regierenden Verbum, als ein eignes Wort, nachstehen, und wird dann
nur, wie im Mexicanischen überhaupt geschieht, im Verbum durch ein
eingeschobenes Pronomen, c, angedeutet; ni-c-nequia tlaçotlaz, ich das
wollte, nemlich: ich werde lieben. Die gleiche doppelte Stellung zum
Verbum ist auch den Substantiven eigen. Die Mexicanische Sprache
verbindet also im Infinitivus den Begriff des Futurum mit dem des
Substantivs, und giebt jenen durch die Beugung, diesen durch die
Construction an. In der Lule Sprache lässt man die beiden Verba,
von denen das eine den Infinitivus regiert, bloss als zwei verba finita
unmittelbar auf einander folgen; caic tucuec, ich zu essen pflege, aber
wörtlich: ich esse, ich pflege. Selbst im Alt-Indischen ist, wie Herr
Professor Bopp scharfsinnig gezeigt hat, der Infinitivus ein im Accusativ
stehendes Verbalnomen, in der Form vollkommen dem Lateinischen
Supinum ähnlich.*

* Ausgabe des Nalus. p. 202. nt. 77. p. 204. nt. 83.

24 • Wilhelm von Humboldt


A língua lule tem um particípio passivo, como em a-le-ti-pan, ‘feito
de terra’. Literalmente essa combinação de sílabas significa ‘terra de eles
fazem’ (terceira pessoa do plural do presente de tic, ‘eu faço’).
O conceito de infinitivo conhecido pelos gregos e latinos também
é atribuído à maioria das línguas americanas, talvez até a todas, apenas
devido à confusão com outras formas. O infinitivo na língua brasileira
é um verdadeiro substantivo: iuca significa ‘assassinar’ e ‘assassinato’,
caru é ‘comer’ e ‘comida’. ‘Eu quero comer’ pode ser che caru ai-pota,
literalmente ‘minha comida eu quero’, ou com o acusativo incorporado
ao verbo ai-caru-pota4. Essa ordem de palavras só mantém a natureza
verbal na medida em que pode reger outros substantivos no acusativo.
Na língua mexicana, encontramos a mesma incorporação do infinitivo
como acusativo do verbo regente. Mas aqui o infinitivo é substituído
pela pessoa do discurso em questão, no futuro: ni-tlaçotlaz-nequia,
‘queria amar’, literalmente: ‘eu, eu amarei, queria’. Ninequia significa
‘eu queria’ e, ao incorporar a primeira pessoa do singular do futuro
tlaçotlaz (‘amarei’), a frase inteira se torna uma única palavra. O mesmo
futuro pode ser posicionado após o verbo regente como uma palavra
independente e, como geralmente acontece na língua mexicana, é
marcado apenas por um pronome intercalado, c: ni-c-nequia tlaçotlaz,
‘eu isso queria’, ou seja, ‘amarei’. Essa mesma posição dupla do verbo
caracteriza também os substantivos. Assim, no infinitivo, a língua
mexicana combina o conceito de futuro com o de substantivo e marca o
primeiro pela flexão e o segundo pela construção. Na língua lule, os dois
verbos, dos quais um rege o infinitivo, ocorrem numa sucessão imediata
como dois verbos finitos: caic tucuec, ‘eu costumo comer’, literalmente: ‘eu
como, eu costumo’. Até no sânscrito, como perspicazmente demonstrou
o Prof. Bopp, o infinitivo é um substantivo verbal no acusativo e
sua forma tem uma grande semelhança com o supino do latim*.

* Bopp, Franz. Nalus, Carmen sanscritum, e Mahàbhàrato; edidit, latine vertit et adnota-
tionibus illustravit Franciscus Bopp. London u.a.: Cox and Baylis, 1819. P. 202, nota 77
e p. 204, nota 83.

Ensaios sobre língua e linguagem • 25


Er kann daher nicht so frei gebraucht werden, als der Griechische und
Lateinische, welche der Natur des Verbum näher bleiben. Er hat auch
keine passive Form. Wo diese erforderlich ist, nimmt sie, statt seiner,
das ihn regierende Verbum an. Man sagt demnach: es wird essen
gekonnt, statt es kann gegessen werden.
Aus diesen Beispielen folgt, dass man in allen diesen Sprachen
den Infinitiv nicht als eine eigne Form aufführen, sondern vielmehr die
Arten, durch welche er ersetzt wird, in ihrer wahren Natur darstellen,
und bemerken sollte, welche Bedingungen des Infinitivs durch jede
derselben erfüllt werden, da keine allen ein Genüge leistet.
Sind nun die Fälle, wo die Bezeichnung eines grammatischen
Verhältnisses dem Begriff der wahren grammatischen Form nicht
genau entspricht, häufig, machen sie die Eigenthümlichkeit und den
Charakter der Sprache aus, so ist eine solche, wenn man auch im Stande
wäre, Alles in ihr auszudrücken, noch weit von der Angemessenheit zur
Ideenentwicklung entfernt. Denn der Punkt, auf dem diese besser zu
gelingen beginnt, ist der, wo dem Menschen, ausser dem materiellen
Endzweck der Rede, ihre formale Beschaffenheit nicht länger gleichgültig
bleibt, und dieser Punkt kann nicht ohne die Ein oder Rückwirkung der
Sprache erreicht werden.
Die Wörter, und ihre grammatischen Verhältnisse sind zwei in
der Vorstellung durchaus verschiedne Dinge. Jene sind die eigentlichen
Gegenstände in der Sprache, diese bloss die Verknüpfungen, aber
die Rede ist nur durch beide zusammengenommen möglich. Die
grammatischen Verhältnisse können, ohne selbst in der Sprache
überall Zeichen zu haben, hinzugedacht werden, und der Bau der
Sprache kann von der Art seyn, dass Undeutlichkeit und Misverstand
dabei dennoch, wenigstens bis auf einen gewissen Grad, vermieden
werden. Insofern alsdann den grammatischen Verhältnissen doch ein
bestimmter Ausdruck ist, besitzt eine solche Sprache für den Gebrauch
eine Grammatik ohne eigentlich grammatische Formen. Wenn eine
Sprache z. B. die Casus durch Praepositionen bildet, die an das immer
unverändert bleibende Wort gefügt werden, so ist keine grammatische
Form vorhanden, sondern nur zwei Wörter, deren grammatisches
Verhältniss hinzugedacht wird; e-tiboa in der Mbaya Sprache
heisst nicht, wie man es übersetzt, durch mich, sondern ich durch.

26 • Wilhelm von Humboldt


Por isso, o infinitivo não pode ser usado tão livremente como o do
latim e o do grego, que se aproximam mais da natureza do verbo.
Tampouco tem uma forma na voz passiva e, quando esta é necessária,
toma-se o verbo que rege o infinitivo em lugar dela. Diz-se, então, ‘é
podido comer’, em vez de ‘pode ser comido’.
Desses exemplos, concluiu-se que em todas essas línguas não
se deveria abordar o infinitivo como uma forma independente em si,
mas, sim, expor a verdadeira natureza das formas que o substituem
e explicitar quais são as condições do infinitivo que cada uma pode
satisfazer, porque nenhuma dessas formas chega a cumprir todas elas.
Se forem frequentes os casos em que uma relação gramatical
não corresponda ao conceito de uma verdadeira forma gramatical e se
eles determinam o caráter distintivo da língua, então, ainda que seja
possível expressar tudo nessa língua, ela estará longe de ser adequada
para o desenvolvimento das ideias. O momento em que a língua se
torna mais apropriada para esse propósito ocorre quando o homem
passa a dar mais importância à constituição formal do discurso, além
de sua finalidade material, e esse momento não pode ser atingido sem a
influência reflexiva da língua.
As palavras e suas relações gramaticais são duas coisas bem
distintas conceitualmente. Aquelas são os verdadeiros objetos da
língua, estas apenas as conexões, mas um discurso só é possível
por meio da união das duas. As relações gramaticais podem ser
acrescentadas mentalmente sem que haja signos próprios, e a estrutura
da língua pode ser de tal natureza que permita que imprecisões e mal-
entendidos sejam evitados até certo ponto. Caso exista uma expressão
determinada para as relações gramaticais, então a língua dispõe, na
prática, de uma gramática sem autênticas formas gramaticais. Se,
por exemplo, a língua marca os casos adicionando preposições a
uma palavra não modificada, ela não tem uma forma gramatical mas
apenas duas palavras, com uma relação gramatical implícita; e-tiboa
na língua mbayá não significa, como se traduz, ‘por mim’, mas ‘eu por’.

Ensaios sobre língua e linguagem • 27


Die Verbindung ist nur im Kopf des Vorstellenden, nicht als Zeichen
in der Sprache. L-emani in derselben Sprache ist nicht er wünscht,
sondern er und Wunsch oder wünschen, ohne etwas dem Verbum
Eigenthümliches, verbunden, um so ähnlicher dem Ausdruck: sein
Wunsch, als das Praefixum l eigentlich ein Besitzpronomen ist. Auch
hier wird also die Verbalbeschaffenheit hinzugedacht. Dennoch
drücken jene und diese Form hinlänglich bequem den Casus des
Nomen und die Person des Verbum aus.
Soll aber die Ideenentwicklung mit wahrer Bestimmtheit, und
zugleich mit Schnelligkeit und Fruchtbarkeit vor sich gehen, so
muss der Verstand dieses reinen Hinzudenkens überhoben werden,
und das grammatische Verhältniss ebensowohl durch die Sprache
bezeichnet werden, als es die Wörter sind. Denn in der Darstellung
der Verstandeshandlung durch den Laut liegt das ganze grammatische
Streben der Sprache. Die grammatischen Zeichen können aber nicht
auch Sachen bezeichnende Wörter seyn; denn sonst stehen wieder diese
isolirt da, und fordern neue Verknüpfungen.
Werden nun von der ächten Bezeichnung grammatischer
Verhältnisse die beiden Mittel: Wortstellung mit hinzugedachtem
Verhältniss, und Sachbezeichnung ausgeschlossen, so bleibt zu
derselben nichts als Modification der Sachen bezeichnenden Wörter,
und dies allein ist der wahre Begriff einer grammatischen Form. Dazu
stossen dann noch grammatische Wörter, das ist solche, die allgemein
gar keinen Gegenstand, sondern bloss ein Verhältniss, und zwar ein
grammatisches, bezeichnen.
Die Ideenentwicklung kann erst dann einen eigentlichen
Schwung nehmen, wenn der Geist am blossen Hervorbringen des
Gedankens Vergnügen gewinnt, und dies ist allemal von dem Interesse
an der blossen Form desselben abhängig. Dies Interesse kann nicht
durch eine Sprache geweckt werden, welche die Form nicht, als solche
darzustellen gewohnt ist, und es kann, von selbst entstehend, auch an
einer solchen Sprache kein Gefallen finden. Es wird also, wo es erwacht,
die Sprache umformen, und wo die Sprache auf einem andren Wege
solche Formen in sich aufgenommen hat, plötzlich durch sie angeregt
werden.

28 • Wilhelm von Humboldt


Essa ligação só existe na cabeça, não está expressa como signo na
língua. L-emani, na mesma língua, não é ‘ele deseja’, mas ‘ele’ e ‘desejo’
ou ‘desejar’, sem que as duas palavras tenham qualquer característica
verbal, sendo, desse modo, muito semelhante à expressão ‘seu
desejo’, especialmente porque o prefixo l é, na verdade, um pronome
possessivo. Também aqui é a mente que introduz a qualidade verbal.
Mesmo assim, as duas formas mencionadas exprimem comodamente
o caso do substantivo e a pessoa do verbo.
No entanto, se o desenvolvimento das ideias deve acontecer
com precisão, rapidez e produtividade, o intelecto tem de ser liberado
desse ato de acrescentar as relações gramaticais, e elas devem ser tão
claramente designadas na língua como as próprias palavras. Afinal, a
grande aspiração de uma língua é a representação da ação intelectual
por meio do som. Os marcadores gramaticais não podem ser ao mesmo
tempo palavras que designam objetos porque, nesse caso, elas ficam
isoladas e exigem novos meios de conexão.
Quando se exclui das autênticas marcações das relações gramaticais
os dois meios, a saber, a ordem das palavras com as relações gramaticais
implícitas e as palavras que designam objetos, sobram as palavras que
caracterizam a modificação de objetos, e apenas este é o verdadeiro
conceito de forma gramatical. Agregam-se aqui as palavras gramaticais,
as que geralmente não designam um objeto mas uma relação, nesse
caso, uma relação gramatical.
O desenvolvimento das ideias só ganha impulso quando o
espírito se compraz com a pura criação do pensamento, e o prazer
sempre depende do interesse na forma do pensamento. Tal interesse
não pode ser despertado por uma língua que não esteja acostumada
a representar a forma em si e, caso ele surja por força própria, não vai
alcançar satisfação na língua. É por isso que, onde surgir, esse interesse
vai modificar a língua e, nos casos em que a língua tenha incorporado
certas formas gramaticais, ele vai ser prontamente estimulado.

Ensaios sobre língua e linguagem • 29


In Sprachen, welche diese Stufe nicht erreicht haben, schwankt
der Gedanke nicht selten zwischen mehreren grammatischen Formen,
und begnügt sich mit dem realen Resultat. In der Brasilianischen
Sprache heisst tuba ebensowohl in substantivischem Ausdruck
sein Vater, als im Verbalausdruck er hat einen Vater, ja das Wort
wird auch für Vater überhaupt gebraucht, da Vater doch immer ein
Beziehungsbegriff ist. Auf dieselbe Weise ist xe-r-uba mein Vater, und
ich habe einen Vater, und so alle Personen hindurch. Das Schwanken
des grammatischen Begriffs in diesem Fall geht sogar noch weiter, und
tuba kann, nach andren in der Sprache liegenden Analogien, auch er
ist Vater heissen, so wie das ganz ähnlich, nur im SüdDialecte der
Sprache gebildete iaba er ist Mensch heisst. Die grammatische Form
ist bloss Nebeneinanderstellung eines Pronomen und Substantivs,
und der Verstand muss die dem Sinn entsprechende Verknüpfung
hinzufügen.
Es ist klar, dass der Eingebohrne sich in dem Worte nur Er und
Vater zusammen denkt, und dass es nicht geringe Mühe kosten würde,
ihm den Unterschied der Ausdrücke klar zu machen, die wir darin mit
einander verwirrt finden. Die Nation, die sich dieser Sprache bedient,
kann darum in vieler Rücksicht verständig, gewandt und lebensklug
seyn, aber freie und reine Ideenentwicklung, Gefallen am formalen
Denken, kann aus einem solchen Sprachbau nicht hervorgehen, sondern
dieser würde vielmehr nothwendig gewaltsame Aenderungen erfahren,
wenn von andren Seiten her eine solche intellectuelle Umwandlung in
der Nation herbeigeführt würde.
Man muss daher bei Uebersetzungen so gearteter Phrasen solcher
Sprachen wohl im Auge behalten, dass diese Uebertragungen, soweit
sie die grammatischen Formen angehen, fast immer falsch sind, und
eine ganz andre grammatische Ansicht gewähren, als der Sprechende
dabei gehabt hat. Wollte man dies vermeiden, so müsste man auch
der Uebertragung immer nur soweit grammatische Form geben, als
in der Originalsprache vorhanden ist; man stösst aber dann auf Fälle,
wo man sich aller möglichst enthalten müsste. So sagt man in der
Huasteca Sprache nana tanin-tahjal, ich werde von ihm behandelt,
aber genauer übersetzt: ich, mich behandelt er. Es ist also hier eine
active Verbalform mit dem leidenden Object, als Subject verbunden.

30 • Wilhelm von Humboldt


Em línguas que não alcançaram esse nível, não é raro que
o pensamento oscile entre várias formas gramaticais e acabe se
contentando com o resultado concreto. Na língua brasileira, tuba, em
expressão nominal, significa ‘seu pai’ e em expressão verbal ‘ele tem
um pai’, mas também se usa a palavra de modo geral para ‘pai’, pois
pai é sempre um conceito relacional. Assim, xe-r-uba significa ‘meu
pai’ e ‘tenho um pai’, e isto se aplica a todas as pessoas gramaticais.
A flutuação do conceito gramatical neste caso vai ainda mais longe
e tuba pode significar ‘ele é pai’, seguindo outras analogias presentes
na língua, sendo semelhante à forma iaba, que significa ‘ele é homem
(ser humano)’, no dialeto meridional. A forma gramatical é uma mera
justaposição de um pronome e um substantivo, e o intelecto tem que
adicionar o significado apropriado à ligação.
É claro que mentalmente o indígena só liga ‘ele’ e ‘pai’, e
demandaria um esforço considerável lhe esclarecer a diferença entre
as expressões que nós consideramos confusas. A nação que usa essa
língua pode ser inteligente, hábil e sensata em muitos aspectos, mas
o livre e puro desenvolvimento de ideias e o aprazimento com o
pensamento formal não podem nascer de uma construção linguística
como essa, e ela certamente sofreria fortes mudanças se fatores
externos provocassem uma transformação intelectual na nação.
Por isso, não se pode perder de vista que traduções de tais frases
de línguas como essas estão quase sempre erradas no que diz respeito
às formas gramaticais e que oferecem uma visão gramatical bem
diferente daquela do falante. Para evitar isso, deve-se empregar na
tradução apenas as formas gramaticais existentes na língua-fonte, mas
certos casos exigem que se rejeite qualquer marcação gramatical. Na
língua huasteca, se diz nana-tanin-tahjal, ‘sou tratado por ele’, cuja
tradução precisa é ‘eu, me trata ele’. Logo, encontramos aqui uma
forma verbal ativa ligada ao objeto passivo entendido como sujeito.

Ensaios sobre língua e linguagem • 31


Das Volk scheint das Gefühl einer Passivform gehabt zu haben, aber
von der Sprache, die nur Activa kennt, zu diesen hinübergezogen zu
seyn. Man muss aber bedenken, dass es gar keine Casusformen in der
Huasteca Sprache giebt. Nana als pron. 1. pers. sing. ist ebensowohl ich,
als meiner, mir und mich, und zeigt bloss den Begriff der Ichheit an.
In nin und dem vorgesetzten ta liegt grammatisch auch nur, dass das
Pronomen 1. pers. sing. vom Verbum regiert wird.* Man sieht daher
deutlich, dass von dem Sinn der Eingebohrnen hier nicht sowohl
der Unterschied der Passiv- oder Activform gefasst, als bloss der
grammatisch umgeformte Begriff der Ichheit mit der Vorstellung der
auf dieselbe gemachten fremden Einwirkung verbunden wird.
Welch eine unermessliche Kluft ist nun zwischen einer solchen
Sprache, und der höchstgebildeten, die wir kennen, der Griechischen.
In dem künstlichen Periodenbau dieser bildet die Stellung der
grammatischen Formen gegen einander ein eignes Ganzes, das die
Wirkung der Ideen verstärkt, und in sich durch Symmetrie und
Eurythmie erfreut. Es entspringt daraus ein eigner, die Gedanken
begleitender, und gleichsam leise umschwebender Reiz, ohngefähr
eben so, als in einigen Bildwerken des Alterthums, ausser der
Anordnung der Gestalten selbst, aus den blossen Umrissen ihrer
Gruppen wohlgefällige Formen hervorgehn. In der Sprache aber ist
dies nicht bloss eine flüchtige Befriedigung der Phantasie. Die Schärfe
des Denkens gewinnt, wenn den logischen Verhältnissen auch die
grammatischen genau entsprechen, und der Geist wird immer stärker
zum formalen, und mithin reinen Denken hingezogen, wenn ihn die
Sprache an scharfe Sonderung der grammatischen Formen gewöhnt.

* Die Huasteca Sprache hat nemlich, wie die meisten Americanischen, verschiedne Pro-
nominalFormen, je nachdem die Pronomina selbstständig, das Verbum regierend, oder
von ihm regiert gehraucht werden; nin dient nur für den letzten Fall. Die Silbe ta deutet
an, dass das Object am Verbum ausgedrückt ist, wird aber nur da vorgesetzt, wo das
Object in der ersten oder zweiten Person steht. Die ganze Art, das Object am Verbum
zu bezeichnen, ist in der Huasteca Sprache sehr merkwürdig.

32 • Wilhelm von Humboldt


Parece que a nação tinha uma percepção da forma passiva, mas foi
direcionada pela língua, que conhece apenas formas ativas. Também
é preciso levar em consideração que na língua huasteca não existem
formas para os casos. Nana, como pronome da primeira pessoa do
singular, significa ‘eu, meu, a mim, me’ e indica simplesmente que se
trata de alguma coisa ligada ao conceito de ‘eu’. Nin e o ta anteposto
só marcam o fato de que o verbo rege o pronome de primeira pessoa*.
Com isso, vê-se claramente que a percepção dos indígenas não capta a
diferença entre as formas ativa e passiva, mas junta o conceito de ‘eu’,
gramaticalmente modificado, à ideia de que algo externo influencia
esse conceito.
Que imenso abismo existe entre essa língua e a mais desenvolvida
que conhecemos, a língua grega! Na construção artística do período
grego, a posição das formas gramaticais constitui um todo que
intensifica o efeito das ideias e dá prazer, por si só, pela simetria e
eurritmia. Disso emana um encanto particular que acompanha os
pensamentos, pairando levemente sobre eles, de modo semelhante
a algumas esculturas da Antiguidade em que nascem, além da
composição das figuras, imagens agradáveis dos contornos de
seus agrupamentos. No caso da língua, porém, isso não se reduz a
uma satisfação fugaz da imaginação. A agudeza do pensamento
melhora quando as relações gramaticais correspondem com precisão
às relações lógicas, e o espírito é cada vez mais direcionado ao
pensamento formal, consequentemente, ao pensamento puro, quando
a língua o habitua a distinguir nitidamente as formas gramaticais.

* O huasteca, assim como muitas línguas americanas, tem várias formas pronominais
que podem funcionar como pronomes independentes, ser regentes do verbo ou regidas
por ele; nin serve como exemplo para o último caso. A sílaba ta indica que o objeto está
expresso junto do verbo, mas o objeto só vai ser colocado antes do verbo quando for
de primeira ou segunda pessoa. A maneira como o huasteca marca o objeto no verbo
é singular.

Ensaios sobre língua e linguagem • 33


Dieses Ungeheuern Unterschiedes zwischen zwei Sprachen auf so
verschiednen Stufen der Ausbildung ungeachtet, muss man jedoch
gestehen, dass auch unter denen, welche man grosser Formlosigkeit
anklagen kann, viele sonst eine Menge von Mitteln besitzen, eine
Fülle von Ideen auszudrücken, durch die künstliche und regelmässige
Verbindung weniger Elemente vielfache Verhältnisse der Ideen zu
bezeichnen, und dabei Kürze mit Kraft zu verbinden. Der Unterschied
zwischen ihnen, und den vollkommner gebildeten liegt nicht darin; sie
würden in dem, was ausgedrückt werden soll, mit Sorgfalt bearbeitet,
sehr nahe dasselbe erreichen; indem sie aber wirklich so Vieles besitzen,
fehlt ihnen das Eine, der Ausdruck der grammatischen Form, als solcher,
und die wichtige und wohlthätige Rückwirkung dieses auf das Denken.
Bleibt man aber hierbei einen Augenblick stehen, und blickt man
auf gleiche Weise auf die hochgebildeten Sprachen zurück, so kann
es scheinen, als fände auch in ihnen, wenn auch in etwas andrer Art,
Aehnliches statt, und als geschehe jenen Sprachen Unrecht durch den
ihnen gemachten Vorwurf.
Jede Stellung, oder Verbindung von Worten, kann man sagen,
die einmal der Bezeichnung eines bestimmten grammatischen
Verhältnisses gewidmet ist, kann auch für eine wirkliche grammatische
Form gelten, und es kann nicht soviel darauf ankommen, wenn
auch jene Bezeichnungen durch für sich bedeutsame, etwas Reales
anzeigende Wörter geschehen, und das formale Verhältniss nur
hinzugedacht werden muss. Auch die wahre grammatische Form kann
ja kaum je anders vorhanden seyn, und jene höher gestellten Sprachen
von künstlicherem Organismus haben ja auch von roherem Baue
angefangen, und tragen die Spuren desselben noch sichtbar in sich.
Diese unläugbar sehr erhebliche Einwendung muss, wenn die
gegenwärtige Untersuchung auf sichrem Grunde ruhen soll, genau
beleuchtet werden, und um dies zu thun, ist es nothwendig, zuerst, was
in ihr unbestreitbar wahr ist, anzuerkennen, und dann zu bestimmen,
was demungeachtet auch in den angegriffnen Behauptungen, als richtig
zurückbleibt.
Was in einer Sprache ein grammatisches Verhältniss charakteristisch
(so, dass es im gleichen Fall immer wiederkehrt) bezeichnet, ist für sie
grammatische Form. In den meisten der ausgebildetsten Sprachen

34 • Wilhelm von Humboldt


No entanto, mesmo em vista das enormes diferenças entre duas línguas
em níveis de desenvolvimento tão diversos, deve-se admitir que, entre
aquelas que podem ser acusadas de não ter formas suficientes, muitas
possuem uma considerável quantidade de recursos para expressar uma
grande variedade de ideias e conseguem, através de uma combinação
engenhosa e regular de poucos elementos, indicar múltiplas relações
entre as ideias, unindo assim força e concisão. A diferença entre essas
línguas e as mais desenvolvidas não reside nesse aspecto, pois, em
termos do que precisa ser expresso, as primeiras conseguiriam com
bastante diligência quase o mesmo que as últimas, mas, ainda que
disponham de uma verdadeira multiplicidade de opções, falta o mais
importante, ou seja, a expressão da forma gramatical e o significativo
e benéfico reflexo dela no pensamento.
Ao se deter nesse ponto por um instante e lançar um olhar
retrospectivo às línguas altamente desenvolvidas, pode-se ter a impressão
de que nelas acontece algo semelhante às menos desenvolvidas e que
estas são injustamente criticadas.
É possível afirmar que qualquer posição ou combinação de
palavras que represente uma determinada relação gramatical também
possa ser considerada uma forma gramatical propriamente dita, mesmo
que essas representações sejam realizadas por palavras que designam
algo real e a função formal precise ser acrescida mentalmente. Por
certo, a forma gramatical não pode existir de outro modo, e as línguas
mais desenvolvidas que têm uma organização sofisticada também
começaram com uma construção mais crua e ainda carregam consigo
vestígios visíveis dela.
Essa objeção é, sem dúvida, muito relevante, e precisamos
esclarecê-la para que a presente análise tenha um fundamento sólido,
o que requer primeiro aceitar as partes que são incontestavelmente
verdadeiras e depois determinar o que permanece como certo nas
proposições contestadas.5
Numa língua, aquilo que caracteriza uma relação gramatical (de
tal maneira que ocorra sempre do mesmo modo) é para ela uma forma
gramatical. Na maioria das línguas mais desenvolvidas, até hoje se pode
identificar a conexão entre os elementos que foram agregados da mesma
maneira que nas línguas primitivas, e parece que também a origem das

Ensaios sobre língua e linguagem • 35


lässt sich noch heute die Verknüpfung von Elementen erkennen,
die nicht anders, als in den roheren verbunden worden sind; und
diese Entstehungsart auch der ächten grammatischen Formen durch
Anfügung bedeutsamer Silben (Agglutination) hat beinahe die
allgemeine seyn müssen. Dies geht sehr klar aus der Aufzählung der
Mittel hervor, welche die Sprache zur Bezeichnung dieser Formen
besitzt. Denn diese Mittel bestehen in folgenden:
Anfügung, oder Einschaltung bedeutsamer Silben, die sonst eigne
Wörter ausgemacht haben, oder noch ausmachen,
Anfügung, oder Einschaltung bedeutungsloser Buchstaben, oder
Silben, bloss zum Zweck der Andeutung der grammatischen
Verhältnisse.
Umwandlung der Vocale durch Uebergang eines in den andren,
oder durch Veränderung der Quantität, oder Betonung.
Umänderung von Consonanten im Innern des Worts,
Stellung der von einander abhängigen Wörter nach
unveränderlichen Gesetzen,
Silbenwiederholung.

Die blosse Stellung gewährt nur wenige Veränderungen, und kann,


wenn jede Möglichkeit der Zweideutigkeit vermieden werden voll, auch
nur wenige Verhältnisse bezeichnen. In der Mexicanischen, und einigen
andren Americanischen Sprachen erweitert sich zwar der Gebrauch
dadurch, dass das Verbum Substantiva in sich aufnimmt, oder an sich
anschliesst. Allein auch da bleiben die Gränzen immer noch enge.
Die Anfügung und Einschaltung bedeutungsloser Wortelemente,
und die Umänderung von Vocalen und Consonanten wäre, wenn eine
Sprache durch wirkliche Verabredung entstände, das natürlichste und
passendste Mittel. Es ist die wahre Beugung (Flexion) im Gegensatz der
Anfügung, und es kann eben sowohl Wörter geben, welche Begriffen
von Formen, als welche Begriffen von Gegenständen entsprechen.

36 • Wilhelm von Humboldt


formas gramaticais genuínas, por meio do acréscimo de sílabas com
significado (aglutinação), deve ser vista como o processo comum do
desenvolvimento das formas gramaticais. Isso fica claro ao se listar os
meios de que a língua dispõe para expressar essas formas:
(i) afixação ou inserção de sílabas com significado que eram, ou
ainda são, palavras independentes;
(ii) afixação ou inserção de letras ou sílabas sem significado com a
única finalidade de indicar relações gramaticais;
(iii) mutação vocálica mediante a passagem de uma para outra, por
alteração da quantidade ou da acentuação;
(iv) mudança nas consoantes internas de uma palavra;
(v) ordem das palavras interdependentes conforme regras
imutáveis; e
(vi) repetição de sílabas.

O emprego das palavras em uma certa ordem proporciona poucas


possibilidades de combinações e, quando se quer excluir todas as
possíveis ambiguidades, só se consegue expressar algumas relações. Na
língua mexicana e em algumas outras línguas americanas, esse emprego
se expande pelo fato de o verbo incorporar o substantivo ou se juntar
a ele, mas, mesmo assim, também nessas línguas as possibilidades são
restritas.
A afixação ou inserção de elementos sem significado e as mudanças
de vogais e consoantes seriam o meio mais natural e adequado, se a
língua se originasse de verdadeiras convenções. Trata-se da verdadeira
flexão em oposição à afixação e, desse modo, podem existir tanto
palavras que designam formas quanto aquelas que designam objetos.

Ensaios sobre língua e linguagem • 37


Wir haben sogar oben gesehen, dass die letzteren im Grunde zur
Bezeichnung der Formen nicht taugen, da ein solches Wort wieder
durch eine Form an die andren angeknüpft seyn will. Es ist aber schwer
zu denken, dass jemals bei Entstehung einer Sprache eine solche
Bezeichnungsart vorgewaltet habe, die eine klare Vorstellung und
Unterscheidung der grammatischen Verhältnisse voraussetzen würde.
Sagt man, dass es wohl Nationen gegeben haben kann, die einen auf
diese Weise klaren und durchdringenden Sprachsinn besessen haben,
so heisst dies den Knoten zerhauen, statt ihn zu lösen. Stellt man
sich die Dinge natürlich vor, so sieht man leicht die Schwierigkeit
an. Bei Wörtern, die Sachen bezeichnen, entsteht der Begriff durch
die Wahrnehmung des Gegenstandes, das Zeichen durch die leicht
aus ihm zu schöpfende Analogie, das Verständnis: durch Vorzeigen
desselben. Bei der grammatischen Form ist dies Alles verschieden.
Sie kann nur nach ihrem logischen Begriff, oder nach einem dunkeln,
sie begleitenden Gefühle erkannt, bezeichnet und verstanden
werden. Der Begriff lässt sich erst aus der schon vorhandnen Sprache
abziehen, und es fehlt auch an hinreichend bestimmten Analogien,
ihn zu bezeichnen, und die Bezeichnung deutlich zu machen. Aus
dem Gefühl mögen wohl einige Bezeichnungsarten entstanden
seyn, wie z. B. die langen Vocale und Diphthongen, mithin ein
anhaltenderes Schweben der Stimme im Griechischen und Deutschen
für den Conjunctivus und Optativus. Allein da die ganz logische
Natur der grammatischen Verhältnisse ihnen auch nur sehr wenig
Beziehungen auf die Einbildungskraft und das Gefühl verstattet, so
können dieser Falle nur wenige gewesen seyn. Einige merkwürdige
finden sich jedoch noch in den Americanischen Sprachen. In der
Mexikanischen besteht die Bildung des Plurals bei Wörtern, die in
Vocale ausgehen, oder ihre Endconsonanten absichtlich im Plural
wegwerfen, darin, dass der Endvocal mit einem, dieser Sprache eignen,
starken, und dadurch eine Pause in der Aussprache verursachenden
Hauche ausgesprochen wird. Hierzu tritt zuweilen zugleich die
Silbenverdopplung, ahuatl, Weib, teotl, Gott, plur. ahuâ, teteô.

38 • Wilhelm von Humboldt


Vimos acima que essas últimas não servem muito bem para designar
formas, pois elas têm de estar ligadas às outras palavras por meio de
uma forma. Mas é difícil imaginar que esse modo de representação
tenha predominado na origem de uma língua, visto que pressupõe
uma noção e uma distinção claras das relações gramaticais. Dizer
que existiram nações que tinham um sentido da linguagem tão claro
e agudo significa cortar o nó górdio em vez de desatá-lo.6 Quando
apresentamos as coisas de forma natural, vemos rapidamente as
dificuldades. No caso das palavras que designam coisas, o conceito
surge da percepção do objeto, o signo, da analogia que facilmente
se estabelece, e a compreensão, da apresentação do signo. Quando
se trata da forma gramatical, no entanto, tudo é bem diferente. Ela
só pode ser reconhecida, representada e compreendida por seu
conceito lógico ou por um sentimento obscuro que a acompanha. O
conceito só pode ser elaborado em uma língua já existente, e faltam
analogias suficientemente bem definidas para representá-lo e deixar
a representação clara. Dos sentimentos poderiam ter se originado
alguns meios para expressar os conceitos, como as vogais longas e os
ditongos para o subjuntivo e o optativo no grego e no alemão, que
são um prolongamento da voz. Mas esses casos devem ter sido raros,
porque a natureza lógica das relações gramaticais permite apenas
uma influência limitada da imaginação e dos sentimentos. Todavia
há alguns casos curiosos nas línguas americanas. Na língua mexicana,
a formação do plural de palavras que terminam em vogais ou que
omitem de propósito as consoantes finais no plural é realizada por
uma forte aspiração da vogal final, própria dessa língua, provocando
uma pausa na articulação. A isso se acresce às vezes uma duplicação
de sílabas, ahuatl, ‘mulher’, teotl, ‘deus’, no plural ahuâ, teteô.

Ensaios sobre língua e linguagem • 39


Bildlicher lässt sich durch den Ton der Begriff der Vielheit nicht
bezeichnen, als indem die erste Silbe wiederholt, der letzten ihr
scharf und bestimmt abschneidender Endconsonant genommen, und
dem dann bleibenden Endvocal eine so verweilende und verstärkte
Betonung gegeben wird, dass der Laut sich gleichsam in der weiten
Luft verliert. Im südlichen Dialect der Guaranischen Sprache wird
das Suffixum des Perfectum yma in dem Grade mehr, oder weniger
langsam ausgesprochen, als von einer längeren, oder kürzeren
Vergangenheit die Rede ist. Eine solche Bezeichnungsart geht beinahe
aus dem Gebiete der Sprache heraus, und gränzt an die Gebehrde.
Auch die Erfahrung spricht gegen die Ursprünglichkeit der Beugung
in den Sprachen, wenn man einige wenige, den eben berührten
ähnliche Fälle ausnimmt. Denn so wie man eine Sprache nur genauer
zu zergliedern anfängt, zeigt sich die Anfügung bedeutsamer Silben
auf allen Seiten, und wo sie nicht mehr nachzuweisen ist, lässt sie sich
aus der Analogie schliessen, oder es bleibt wenigstens immer ungewiss,
ob sie nicht ehemals vorhanden gewesen ist. Wie leicht offenbare
Anfügung zu scheinbarer Beugung werden kann, lässt sich an einigen
Fällen in den Americanischen Sprachen klar darthun. In der Mbaya
Sprache heisst daladi du wirst werfen, nilabuitete er hat gesponnen,
und das Anfangs-d und n sind die Charakteristiken des Futurum und
Perfectum. Diese durch einen einzigen Laut bewirkte Abwandlung
scheint daher alle Ansprüche auf den Namen wahrer Beugung
machen zu können. Dennoch ist es reine Anfügung. Denn die vollen
Charakteristiken beider tempora, die auch wirklich noch oft gebraucht
werden, sind quide und quine, aber das qui wird ausgelassen, und de
und ne verlieren vor andren Vocalen ihren Endvocal. Quide heisst
spät, künftig, co-quidi (co von noco, Tag) der Abend. Quine ist eine
Partikel, die und auch bedeutet. Wie manchen solcher Abkürzungen
von ehemals bedeutsamen Wörtern mögen die sogenannten
Beugungssilben unsrer Sprachen ihren Ursprung verdanken, und
wie unrichtig würde die Behauptung seyn, dass die Voraussetzung
der Anfügung da, wo sie sich nicht mehr nachweisen lässt, eine
leere und unstatthafte Hypothese sey. Wahre und ursprüngliche
Beugung ist gewiss in allen Sprachen eine seltne Erscheinung.

40 • Wilhelm von Humboldt


Não existe uma forma mais icônica para designar a pluralidade do que
repetir a primeira sílaba, tirar a delimitadora e abrupta consoante final
da última sílaba e dar uma acentuação tão prolongada à vogal final que
o som quase se perde no ar. No guarani do sul, o sufixo do perfeito,
yma, é pronunciado mais ou menos devagar dependendo da distância
do passado em relação ao momento da fala, se é um passado próximo
ou remoto. Mas tal meio de expressão quase sai do âmbito da língua
e se aproxima do gesto. Tampouco a experiência apoia a suposição de
uma natureza primitiva da flexão nas línguas quando se exclui uns
poucos casos semelhantes aos acima mencionados. Tão logo se começa
a analisar uma língua mais detalhadamente, a afixação de sílabas com
significado aparece por toda parte e, nos casos em que ela não pode
ser comprovada, pode ser deduzida por analogia, ou pelo menos fica
incerto se ela teria existido em outro momento. A facilidade com que
uma evidente afixação se torna uma flexão pode ser mostrada com
base em alguns exemplos das línguas americanas. Na língua mbayá,
daladi significa ‘você vai arremessar’, nilabuitete, ‘ele trançou fios’, e
d e n iniciais são as marcas do futuro e do perfeito, respectivamente.
À primeira vista, essa mudança efetuada por um único som parece
atender às exigências e merecer a designação de verdadeira flexão.
No entanto, trata-se de uma mera afixação, porque os marcadores
completos dos dois tempos gramaticais, ainda usados com frequência,
são quide e quine, mas qui é omitido e de e ne perdem as vogais quando
precedem outras vogais. Quide significa ‘mais tarde, futuramente’, co-
quidi (co de noco, ‘dia’), ‘a noite’. Quine é uma partícula que significa
‘e também’. É possível que muitas sílabas flexionais de nossas línguas
devam sua origem a abreviações de palavras com significado, e
seria incorreto afirmar que a suposição de uma afixação onde não é
mais comprovável constitui uma hipótese infundada e inadmissível.
Manifestações de verdadeiras e originárias flexões com certeza são
raras em todas as línguas. Apesar disso, casos duvidosos têm de ser
tratados com muito cuidado, pois, à luz do que foi dito acima, parece-
me indubitável que existia flexão na origem e, portanto, ela pode existir,
assim como a afixação, em formas que não se pode mais identificar.

Ensaios sobre língua e linguagem • 41


Demungeachtet müssen zweifelhafte Fälle immer mit grosser
Behutsamkeit behandelt werden. Denn dass auch ursprünglich Beugung
vorhanden ist, scheint mir, nach dem Obigen, ausgemacht, und sie kann
daher eben so gut, als die Anfügung in Formen vorhanden seyn, wo sie
jetzt nur nicht mehr zu unterscheiden ist. Ja man muss, glaube ich, noch
weiter gehen und darf nicht verkennen, dass die geistige Individualität
eines Volks zur Sprachbildung und zum formalen Denken (welche
beide unzertrennlich zusammenhängen) vorzugsweise vor andren
geeignet seyn kann. Ein solches Volk wird, wenn es ursprünglich,
gleich allen übrigen, zugleich auf Agglutination und Flexion kommt,
von der letzteren einen häufigeren und scharfsinnigeren Gebrauch
machen, die erstere schneller und fester in die letztere verwandeln,
und früher den Weg der ersteren gänzlich verlassen. In andren Fällen
können äussere Umstände, Uebergänge einer Sprache in die andre,
der Sprachbildung dieser schnelleren und höheren Schwung geben,
so wie entgegengesetzte Einwirkungen Schuld seyn können, dass die
Sprachen sich in schwerfälliger Unvollkommenheit fortschleppen.
Alles dies sind natürliche, aus dem Wesen des Menschen und
den Ereignissen der Nationen erklärliche Wege, und meine Absicht
ist nur, nicht die Meynung zu theilen, welche gewissen Völkern, vom
ersten Ursprunge an, eine bloss durch Flexion und innere Entfaltung
fortschreitende Sprachbildung zuschreibt, und andren alle Bildung dieser
Art abspricht. Diese viel zu systematische Abtheilung scheint mir aus
dem naturgemässen Wege menschlicher Entwicklung hinauszugehen,
und wird, wenn ich den von mir angestellten Forschungen trauen darf,
bei genauem Studium vieler und verschiedenartiger Sprachen durch die
Erfahrung selbst widerlegt.
Es kommt aber zur Agglutination und Flexion auch noch eine dritte,
sehr häufige Bildungsart hinzu, die man, da sie immer absichtlich ist, in
dieselbe Classe mit der Beugung setzen muss, nemlich wo der Gebrauch
eine Wortform ausschliesslich zu einer bestimmten grammatischen
stempelt, ohne dass sie, weder durch Anfügung, noch durch Beugung,
etwas gerade dieser Charakteristisches an sich trägt.

42 • Wilhelm von Humboldt


Ora, na minha opinhão, deve-se ir um passo à frente porque não se
pode ignorar que a individualidade intelectual de determinada nação e
sua propensão para a construção da língua e para o pensamento formal
(ambos estão inseparavelmente unidos) podem ser mais apropriadas
do que de outras. Se uma nação como essa já começa, como todas as
outras, com aglutinação e flexão, usará a segunda com mais frequência
e perspicácia, transformará a primeira mais firme e rapidamente na
segunda, e logo abandonará a primeira completamente. Em outros
casos, fatores externos, como transmissões de uma língua para outra,
podem dar um impulso significativo ao desenvolvimento da língua, do
mesmo modo que influências desfavoráveis podem ser responsáveis
por uma trajetória imperfeita e morosa.
Todas essas trajetórias podem ser explicadas pela natureza do
homem e pelos acontecimentos das nações, e minha intenção é apenas
discordar da opinião que atribui a certas nações, desde sua origem, um
desenvolvimento da língua decorrente da flexão e da evolução interna,
negando a outras qualquer construção desse tipo. A meu ver, essa
separação demasiadamente sistemática não reflete de modo realista a
trajetória natural do desenvolvimento humano e, se eu puder confiar em
minhas próprias pesquisas, ela é refutada pela experiêcia em análises de
muitas línguas diferentes.7
Acrescenta-se, ainda, à aglutinação e à flexão um terceiro modo
de formação que ocorre com muita frequência e que – por ser sempre
intencional – deve ser colocado na mesma classe que a flexão. Ele
ocorre quando o uso cunha uma determinada palavra como forma
exclusivamente gramatical sem que ela carregue traços característicos
das formas gramaticais, como a afixação ou a flexão.8

Ensaios sobre língua e linguagem • 43


Die Silbenwiederholung beruht auf einem durch gewisse
grammatische Verhältnisse erregten dunkeln Gefühle. Wo dies
Wiederholung, Verstärkung, Erweiterung des Begriffs mit sich
führt, steht sie an ihrer Stelle. Wodies nicht ist, wie so oft in
einigen Americanischen Sprachen, und in allen Verben der 3.
Conjugation im Alt-Indischen, entspringt sie aus bloss phonetischer
Eigenthümlichkeit. Dasselbe lässt sich von der Vocalumänderung
sagen. In keiner Sprache ist diese so häufig, so wichtig, und so
regelmässig, als im Sanskrit. Aber nur in den wenigsten Fällen beruht
auf ihr das Charakteristische grammatischer Formen. Sie ist nur mit
gewissen derselben verbunden, und dann meistentheils mit mehreren
zugleich, so dass das Charakteristische jeder einzelnen doch in etwas
andrem aufgesucht werden muss.
Immer bleibt also die Anfügung bedeutsamer Silben das wichtigste
und häufigste Hülfsmittel zur Bildung grammatischer Formen. Hierin
sind sich die rohen und gebildeten Sprachen gleich; denn man würde
sehr irren, wenn man glaubte, dass auch in jenen jede Form sogleich
in lauter in sich erkennbare Elemente zerfiele. Auch in ihnen beruhen
Unterschiede von Formen auf ganz einzelnen Lauten, die man eben
so wohl, ohne an Anfügung zu denken, für Beugungslaute halten
könnte. Im Mexicanischen wird das Futurum, nach Verschiedenheit
der Stammworter, durch mehrere solcher einzelnen Buchstaben, das
Imperfectum durch ein End-ya, oder End-a bezeichnet. O ist das
Augment des Praeteritum, wie a im Sanskrit, ε im Griechischen. Nichts
in der Sprache deutet an, dass diese Laute Ueberreste ehemaliger
Wörter sind, und will man im Griechischen und Lateinischen ähnliche
Fälle nicht als Anfügung, von jetzt unbekanntem Ursprung, gelten
lassen, so muss man auch der Mexicanischen Sprache hier, so gut wie
diesen classischen, Beugung zugestehen. In der Tamanaca Sprache
ist tareccha (das Verbum bedeutet tragen) ein Praesens, tarecche ein
Praeteritum, tarecchi ein Futurum. Ich führe diese Fälle nur an, um zu
beweisen, dass die Behauptung, welche gewissen Sprachen Anfügung
und andren Beugung zutheilt, bei genauerem Eindringen in die
einzelnen Sprachen, und gründlicherer Kenntniss ihres Baues, von
keiner Seite haltbar erscheint.

44 • Wilhelm von Humboldt


A repetição de sílabas se baseia num sentimento obscuro
despertado por certas relações gramaticais. Quando envolve repetição,
intensificação ou extensão do conceito, a repetição de sílabas é bastante
apropriada. Quando não é assim, o que ocorre com muita frequência em
algumas línguas americanas e na terceira conjugação de todos os verbos
em sânscrito, a repetição de sílabas se deve apenas às especificidades
fonéticas. O mesmo pode ser dito da mutação vocálica. Em nenhuma
língua ela é tão frequente, tão importante e tão regular como no
sânscrito, mas raras vezes as características das formas gramaticais
estão relacionadas a ela. A mudança da vogal está associada somente a
algumas formas gramaticais e, na maioria das vezes, a várias ao mesmo
tempo, de modo que os traços característicos da cada uma dessas formas
têm de ser procurados em outros lugares.
Logo, a afixação de sílabas com significado continua sendo o
meio mais importante e mais frequente para a constituição de formas
gramaticais. Nesse aspecto, as línguas primitivas e as desenvolvidas são
iguais, porque se enganaria quem acreditasse que naquelas cada forma
se decompõe em elementos claramente identificáveis. Nelas também
diferenças entre as formas se baseiam em sons individuais que podem
perfeitamente ser considerados flexão, sem que se tenha de considerar
a aglutinação. Na língua mexicana, o futuro é indicado, dependendo
do radical, por várias letras separadas, e o imperfeito, pelas desinências
-ya ou -a. O é adicionado para caracterizar o pretérito, assim como a,
em sânscrito, e ε, em grego. Não há nada nessa língua que dê a entender
que esses sons sejam remanescentes de antigas palavras e, se casos
semelhantes em latim e em grego não forem interpretados como uma
aglutinação de origem ainda desconhecida, então se deve atribuir flexão
à língua mexicana, como nas línguas clássicas. Na língua tamanaku,
tareccha (o verbo significa ‘carregar’) é uma forma do presente, tarecche,
do pretérito, e tarecchi, do futuro. Menciono esses casos apenas para
provar que, quando se penetra mais profundamente em cada língua e
se adquire um conhecimento mais substancial de sua construção, não
há, de maneira alguma, como sustentar a posição que atribui a certas
línguas afixação e, a outras, flexão.

Ensaios sobre língua e linguagem • 45


Wenn man daher genöthigt ist, auch in den hochgebildeten
Sprachen Anfügung anzunehmen, und in mehreren Fällen dieselbe
sogar sichtbar erkennt, so ist die Einwendung ganz richtig, dass man,
auch bei ihnen, das wahre grammatische Verhältniss hinzudenken muss.
In amavit und ‫݋‬ʌȠȓȘıĮȢ, kommen, wie sich wohl nicht läugnen lassen
dürfte, Bezeichnungen des Stammworts, des Pronomen und des Tempus
zusammen, und die wahre, in der Synthesis des Subjects mit dem Praedicat
liegende Verbalnatur hat darin keine besondre Bezeichnung, sondern muss
hinzugedacht werden. Wollte man sagen, dass, ohne gerade über diese
Formen entscheiden zu wollen, einigen derselben Art das Hülfsverbum
einverleibt seyn, und diese Synthese andeuten könne, so reicht dies nicht
aus, da doch auch das Hülfsverbum erklärt werden muss, und nicht
immerfort ein Hülfsverbum in dem andren eingeschachtelt liegen kann.
Alles hier Zugegebne aber hebt den Unterschied zwischen
wahren grammatischen Formen, wie amavit, ‫݋‬ʌȠȓȘıĮȢ, und zwischen
solchen Wort- oder Silbenstellungen, als die meisten roheren Sprachen
zur Bezeichnung der grammatischen Verhältnisse brauchen, nicht
auf. Er liegt darin, dass jene Ausdrücke wirklich wie in Eine Form
zusammengegossen, in diesen die Elemente nur an einander gereiht
erscheinen. Das Zusammenwachsen des Ganzen bringt die Bedeutung
der Theile in Vergessenheit, die feste Verknüpfung derselben unter
Einem Accent verändert zugleich ihre abgesonderte Betonung, und
oft sogar ihren Laut, und nun wird die Einheit der ganzen Form, die
oft der grübelnde Grammatiker nicht mehr zu zergliedern vermag, die
Bezeichnung des bestimmten grammatischen Verhältnisses. Man denkt
als Eins, was man nie getrennt findet; man betrachtet als wahren, einmal
fest organisirten Körper, was man nicht auseinandernehmen, und in andre
beliebige Verbindungen bringen kann; man sieht nicht als selbständigen
Theil an, was auf diese Weise sonst nicht in der Sprache erscheint. Wie
dies entstanden, ist für die Wirkung gleichgültig. Die Bezeichnung
des Verhältnisses, wie selbständig und bedeutsam sie gewesen seyn
mag, wird nun, wie sie soll, zur blossen Modification, die sich an den
immer gleichen Begriff heftet. Das Verhältniss, das zu den bedeutsamen
Elementen erst bloss hinzugedacht werden musste, ist nun in der Sprache,
eben durch das Zusammenwachsen der Theile zum festen Ganzen,
wirklich vorhanden, wird mit dem Ohre gehört, mit dem Auge gesehen.

46 • Wilhelm von Humboldt


Quando se é obrigado a admitir afixação também nas línguas
altamente desenvolvidas, o que em alguns casos é até bastante evidente,
fica claro que é preciso acrescentar mentalmente a verdadeira relação
gramatical. Em amavit e ἐποίησας, é incontestável que se juntam a
marcação do radical, do pronome e do tempo, e a verdadeira natureza
verbal, que reside na síntese do sujeito com o predicado, não está expressa,
tendo de ser acrescida mentalmente.9 Caso se queira argumentar que,
em situações semelhantes – sem se fazer referência especificamente às
formas já mencionadas –, o verbo auxiliar está incorporado e tem a
capacidade de indicar essa síntese, isso não seria suficiente porque ele
também deve ser explicado em si mesmo, além do mais, nem sempre o
verbo auxiliar está encaixado em outro.
Nada do que foi admitido aqui anula a diferença entre verdadeiras
formas gramaticais, como amavit e ἐποίησας, e a ordem das palavras
ou sílabas que a maioria das línguas menos desenvolvidas usa para
marcar relações gramaticais. A diferença reside no fato de que essas
expressões parecem moldadas em uma única forma, enquanto nos
outros casos há apenas a aparência de elementos seriados. A união do
conjunto leva ao esquecimento do significado dos elementos, a ligação
fixa destes sob um acento muda, ao mesmo tempo, a acentuação e com
frequência até o som, e dessa maneira a unidade da forma inteira, que o
gramático especulador muitas vezes não consegue decompor, se torna
a marcação de uma determinada relação gramatical. Assim, toma-se
como uma unidade o que nunca se encontra separado, considera-se
que compõe um corpo autêntico, firmemente organizado, o que não se
pode desfazer ou transformar em qualquer outra combinação, e não se
vê como elemento independente o que não costuma aparecer na língua
como tal. O modo como surgiu não tem relevância para o efeito, pois a
marcação da relação, mesmo que um dia tenha tido significado e sido
independente, torna-se uma mera modificação, como deveria ser, que
se junta invariavelmente ao mesmo conceito. A relação, que tinha de ser
acrecentada mentalmente aos elementos com significado, passa a existir
materialmente na língua porque as partes se fundiram em uma unidade
firme, que se ouve e se vê.

Ensaios sobre língua e linguagem • 47


Die Sprachen, welche der Vorwurf trift, dass ihre grammatischen
Formen nicht so formaler Natur sind, gleichen in Vielem den oben
beschriebnen allerdings auch.
Die, wenn auch nur lose an einander gereihten Elemente fliessen
meistentheils auch in Ein Wort zusammen, und sammeln sich unter
Einen Accent. Aber einestheils geschieht dies nicht immer, und
andrentheils treten dabei andre, die formale Natur mehr, oder weniger
störende Nebenumstände ein. Die Elemente der Formen sind trennbar
und verschiebbar, jedes behält seinen vollkommnen Laut, ohne
Abkürzung oder Veränderung; sie sind in der Sprache sonst selbständig
vorhanden, oder dienen auch zu andren grammatischen Verbindungen,
z.B. PronominalAffixa als Besitzpronomina bei dem Nomen, als
Personen bei dem Verbum; die noch unflectirten Wörter tragen nicht,
wie es in einer Sprache seyn muss, in welche die grammatische Bildung
tief eingegangen ist, schon Kennzeichen verschiedner Redetheile
an sich, sondern werden erst zu denselben durch die Anfügung der
grammatischen Elemente gemacht; der Bau der ganzen Sprache ist so,
dass die Untersuchung gleich auf die Absonderung dieser Elemente
geführt wird, und diese Absonderung ohne bedeutende Mühe
gelingt; neben der Bezeichnung durch Formen, oder diesen ähnliche
Wortverbindungen, werden dieselben grammatischen Verhältnisse auch
durch blosses Nebeneinanderstellen, mit offenbarem Umzudenken der
Verknüpfung, angedeutet.
Je mehr nun in einer Sprache die hier aufgezählten Umstände
zusammenkommen, oder je mehr sie sich nur einzeln finden, desto
weniger, oder mehr befordert sie das formale Denken, und desto mehr,
oder weniger entfernt sich ihre Bezeichnungsart der grammatischen
Verhältnisse von dem wahren Begriff grammatischer Formen. Denn
nicht was einzeln und zerstreut in der Sprache vorkommt, sondern
dasjenige was ihre Wirkung auf den Geist ausmacht, vermag hier
zu entscheiden. Dies aber hängt von dem Totaleindruck, und dem
Charakter des Ganzen ab. Einzelne Erscheinungen können nur
angeführt werden, um, wie es im Vorigen geschehen ist, zu allgemein
gewagte Behauptungen zu widerlegen. Sie können aber nicht machen,
dass man die Verschiedenheit der Stufen verkenne, auf welchen zwei
Sprachen, dem Ganzen ihres Baues nach, stehen.

48 • Wilhelm von Humboldt


As línguas acusadas de não terem formas gramaticais tão
formalizadas se assemelham bastante às descritas acima.
Os elementos seriados, ainda que um pouco soltos, geralmente
confluem a uma só palavra e se reúnem sob um único acento. No entanto,
por um lado, isso não acontece sempre e, por outro, há circunstâncias
marginais que perturbam a natureza formal, ora mais, ora menos.
Os elementos das formas são separáveis e passíveis de deslocamento,
mantendo cada um seu som integral, sem reduções ou alterações; em
geral, eles existem na língua como formas independentes, ou então
servem para criar outras ligações gramaticais, por exemplo, os afixos
pronominais servem como pronomes possessivos com o substantivo
e como marcadores de pessoa com o verbo. As palavras ainda sem
flexão não trazem marcas distintivas das partes da oração, como
deveria ser numa língua em estágio avançado de desenvolvimento
gramatical, e só exercem esse papel por via da adição de elementos
gramaticais. A construção de toda a língua é tal que qualquer análise
leva imediatamente à fácil separação desses elementos. Além da
representação por formas gramaticais ou por combinações de palavras
semelhantes às formas, as mesmas relações gramaticais são indicadas
pela simples justaposição, que obviamente requer uma reinterpretação
das combinações.
Quanto mais se juntam numa língua as condições aqui
enumeradas, ou quanto menos nela se encontram, tanto mais ou tanto
menos essa língua vai estimular o pensamento formal, e a marcação
das relações se distancia mais, ou menos, do verdadeiro conceito de
formas gramaticais. O fator decisivo, pois, não é aquilo que se encontra
isolado e disperso numa língua, mas, sim, aquilo que exerce influência
no espírito, e isto depende da impressão geral e do caráter da língua.
Seguindo o que fizemos até agora, fenômenos isolados só podem ser
citados para refutar proposições demasiado ousadas e gerais, mas não
podem servir para negar a diferença de nível em que duas línguas se
encontram quanto ao desenvolvimento de sua construção.

Ensaios sobre língua e linguagem • 49


Je mehr sich eine Sprache von ihrem Ursprung entfernt, desto mehr
gewinnt sie, unter übrigens gleichen Umständen, an Form. Der blosse
längere Gebrauch schmelzt die Elemente der Wortstellungen fester
zusammen, schleift ihre einzelnen Laute ab, und macht ihre ehemalige
selbständige Form unkenntlicher. Denn ich kann die Ueberzeugung
nicht verlassen, dass doch alle Sprachen hauptsächlich von Anfügung
ausgegangen sind.
So lange die Bezeichnungen der grammatischen Verhältnisse, als
aus einzelnen, mehr oder weniger trennbaren Elementen bestehend
angesehen werden, kann man sagen, dass der Redende mehr die
Formen in jedem Augenblick selbst bildet, als sich der vorhandnen
bedient. Daraus nun pflegt eine bei weitem grössere Vielfachheit dieser
Formen zu entstehen. Denn der menschlichen Geist strebt schon in
seiner natürlichen Anlage nach Vollständigkeit, und jedes, auch noch
so selten vorkommende Verhältniss wird in demselben Verstande, als
alle übrigen zur grammatischen Form. Wo dagegen die Form in einem
strengeren Sinne genommen, und durch den Gebrauch gebildet wird,
nun aber fernerhin das gewöhnliche Reden nicht in neuem Bilden
besteht, da giebt es Formen nur für das häufig zu Bezeichnende, und
das seltner Vorkommende wird umschrieben, und durch selbständige
Wörter bezeichnet. Zu diesem Verfahren gesellen sich noch die
beiden andren Umstände, dass der noch uncultivirte Mensch gern
jedes Besondre in allen seinen Besonderheiten, nicht bloss in den,
zu dem jedesmaligen Zweck nothwendigen darstellt, und dass
gewisse Nationen die Sitte haben, ganze Sätze in angebliche Formen
zusammenzuziehen, z. B. den vom Verbum regierten Gegenstand,
vorzüglich wenn er ein Pronomen ist, mitten in den Schooss des
Verbum aufzunehmen. Hieraus entsteht, dass gerade die Sprachen,
denen es an dem wahren Begriff der Form wesentlich gebricht, doch
eine bewundernswürdige Menge, in strenger Analogie, zusammen
Vollständigkeit bildender, angeblicher Formen besitzen.

50 • Wilhelm von Humboldt


Quanto mais uma língua se afasta de sua origem, mais ela ganha
no que diz respeito à forma, desde que não mudem as condições.10 O
uso prolongado de uma língua, por si só, leva a uma fusão mais sólida
dos elementos de uma combinação de palavras, os sons individuais
são polidos e sua forma antiga, que era independente, se torna mais
irreconhecível. Pessoalmente não pretendo abrir mão da convicção de
que todas as línguas tinham a afixação como ponto de partida.
Contanto que se considere que as representações de formas
gramaticais se compõem de elementos individuais, mais ou menos
separáveis, pode-se dizer que o falante prefere criar novas formas a
cada instante a usar as já existentes. A isso se deve a multiplicidade de
formas gramaticais, pois a mente humana tem em si uma propensão
natural a buscar a plenitude e, desse modo, mesmo as relações mais
raras são transformadas em formas gramaticais como todas as outras.
Porém, quando uma forma é tomada num sentido mais estrito, tendo
sido criada pelo uso, e quando a fala cotidiana não cria novas formas,
haverá formas apenas para designar o que ocorre com frequência,
usando-se paráfrases ou palavras independentes para o que é menos
frequente. Associam-se a esse processo dois outros fatores, a saber,
o homem pouco culto tende a apresentar o que é específico com
todos os detalhes, não se limitando aos elementos necessários nos
respectivos contextos, e certas nações têm o hábito de contrair orações
inteiras em supostas formas, por exemplo, inserindo no meio do verbo
o elemento regido por ele, particularmente quando se trata de um
pronome. Decorre daí que sejam justamente as línguas que carecem
fundamentalmente do conceito genuíno de forma as que possuem uma
admirável variedade de supostas formas que, por meio de rigorosas
analogias, criam um sistema completo.

Ensaios sobre língua e linguagem • 51


Hienge der Vorzug der Sprachen von der Vielheit, und der
strengen Regelmässigkeit der Formen ab, von der Menge der
Ausdrükke für ganz besondre Verschiedenheiten (wie in der Sprache
der Abiponen das Pronomen der 3. Person verschieden ist, je
nachdem der Mensch ab- oder anwesend, stehend, sitzend, liegend,
oder herumgehend gedacht wird), so müsste man viele Sprachen der
Wilden über die Sprachen der hochcultivirten Völker stellen, wie
denn dies auch nicht selten, selbst in unsern Tagen, geschieht. Da
aber der Vorzug der Sprachen vor einander vernünftiger Weise nur in
ihrer Angemessenheit zur Ideenentwicklung gesucht werden kann, so
verhält es sich damit gerade entgegengesetzt. Denn diese wird durch
diese Vielfachheit der Formen vielmehr erschwert, und es ist ihr lästig,
in so viele Wörter Nebenbestimmungen mit aufnehmen zu müssen,
deren sie durchaus nicht in jedem Falle bedarf.
Ich habe bisher nur von grammatischen Formen gesprochen;
allein es giebt auch in jeder Sprache grammatische Wörter, auf die
sich das Meiste von den Formen geltende gleichfalls anwenden lässt.
Solche sind vorzugsweise die Praepositionen und Conjunctionen. Als
Bezeichnungen grammatischer Verhältnisse stehen dem Ursprunge
dieser Wörter, als wahrer Verhälnisszeichen dieselben Schwierigkeiten,
wie dem Ursprunge der Formen entgegen. Es liegt nur darin ein
Unterschied, dass sie nicht alle, wie die reinen Formen, aus blossen
Ideen abgeleitet werden können, sondern Erfahrungsbegriffe, wie
Raum und Zeit, zu Hülfe nehmen müssen. Man kann daher mit
Recht bezweifeln, wenn es auch noch neuerlich von Lumsden in
seiner Persischen Grammatik mit Heftigkeit behauptet worden ist,
dass es ursprünglich Praepositionen und Conjunctionen im wahren
Sinne des Wortes gegeben habe. Alle haben vermuthlich, nach
Horne Took’s richtigerer Theorie, ihren Ursprung in wirklichen,
Gegenstände bezeichnenden Wörtern. Die grammatisch-formale
Wirkung der Sprache beruht daher auch auf dem Grade, in welchem
diese Partikeln noch ihrem Ursprunge näher, oder entfernter
stehen. Ein merkwürdigeres Beispiel zu dem hier Gesagten, als
vielleicht irgend eine andre Sprache, liefert die Mexicanische in
den Praepositionen. Sie besitzt drei verschiedne Arten derselben:

52 • Wilhelm von Humboldt


Se o mérito das línguas dependesse da variedade e rigorosa
regularidade das formas e da quantidade de expressões existentes para
as particularidades especiais (como na língua dos abipones, em que o
pronome da terceira pessoa varia dependendo da presença ou ausência
da pessoa e se ela está em pé, sentada, deitada ou andando), muitas
línguas dos povos primitivos deveriam ser colocadas acima daquelas
das nações cultas, algo que, aliás, acontece com certa frequência nos dias
atuais. No entanto, como o mérito de uma língua em relação a outras só
pode ser avaliado quanto à adequação ao desenvolvimento de ideias,
o que ocorre, na verdade, é o contrário. De fato, tal desenvolvimento
é dificultado pela variedade de formas, e constitui um obstáculo ter de
integrar determinações marginais e frequentemente desnecessárias a
tantas palavras.
Até agora só falei de formas gramaticais, mas em todas as línguas
existem também palavras gramaticais às quais pode ser aplicado quase
tudo o que é válido para as formas. Preposições e conjunções entram
preferencialmente nessa categoria. Como marcadores de relações
gramaticais, a origem dessas palavras como verdadeiros signos
relacionais enfrenta as mesmas dificuldades que a origem das formas.
A única diferença é que nem todas essas palavras podem ser deduzidas
de meras ideias, sendo necessário recorrer a conceitos da experiência,
como espaço e tempo. Por conseguinte, pode-se questionar, com
toda razão, a ideia de que tenham existido originalmente verdadeiras
preposições e conjuncões, como afirmou Lumsden veementemente
em sua Gramática da língua persa. Conforme a teoria de Horne Took,
mais correta, é provável que todas tenham sua origem em palavras que
designaram objetos de verdade.11 O efeito gramático-formal da língua
reside, então, no grau de distância entre essas partículas e sua origem.
Para o que foi dito aqui, as preposições na língua mexicana oferecem
um exemplo mais notável do que em qualquer outra língua. Ela tem três
tipos de preposições:

Ensaios sobre língua e linguagem • 53


1., solche, in welchen sich, so wahrscheinlich gleich auch bei ihnen
dieser Ursprung ist, schlechterdings nicht mehr der Begriff eines
Substantivum entdekken lässt, z.B. c, in. 2., Solche, in welchen man eine
Praeposition mit einem unbekannten Element verbunden findet. 3.,
Solche, die deutlich ein mit einer Praeposition verbundnes Substantivum
enthalten, wie z.B. itic, in, aber eigentlich, zusammengesetzt aus ite,
Bauch, und c, in, im Bauch. Ilhuicatl itic heisst nun nicht, wie man es
übersetzt, im Himmel, sondern im Bauche des Himmels, da Himmel
im Genitiv steht. Pronomina werden nur mit den beiden letzten Arten
der Praepositionen verbunden, und da alsdann nie die persönlichen,
sondern die possessiven genommen werden, so zeigt dies deutlich das
in der Praeposition steckende Substantivum an. Notepotzco wird zwar
durch hinter mir ubersetzt, es heisst aber eigentlich hinter meinem
Rücken, von teputz, der Rükken. Man sieht hier also die Stufenfolge, in
welcher die ursprüngliche Bedeutung sich verloren hat, und zugleich
den sprachbildenden Geist der Nation, der, wenn ein Substantivum
Bauch, Rücken im Sinne einer Praeposition gebraucht werden sollte,
demselben, um die Wörter nicht grammatisch unverbunden zu lassen
(nach Art des Lateinischen ad instar und des Deutschen inmitten)
eine schon vorhandne Praeposition hinzufügte. Die in diesem Punkt
grammatisch unvollkommner gebildete Mixteca Sprache drückt vor,
hinter dem Hause geradezu durch chisi, sata huahi, Bauch, Rücken,
Haus aus.
Das Verhältniss, das sich in den Sprachen zwischen den
Beugungen und grammatischen Wörtern bildet, begründet neue
Verschiedenheiten unter denselben. Dies zeigt sich z.B. darin, dass
die eine mehr Bestimmungen durch Casus, die andre mehr durch
Praepositionen, die eine mehr Tempora durch Beugung, die andre durch
Zusammensetzung mit Hülfsverben macht. Denn diese Hülfsverba,
wenn sie bloss Verhältnisse der Theile des Satzes bezeichnen, sind
gleichfalls nur grammatische Wörter. Von dem griechischen τυγχάνειν
ist eine wahrhaft materielle Bedeutung gar nicht mehr bekannt.
Im Sanskrit wird auf dieselbe Weise, aber viel seltner shtha, stehen,
gebraucht. Es lässt sich aber die Norm zur Beurtheilung der Vorzüge der
Sprachen in diesem Punkt nach allgemeinen Grundsätzen aufstellen.

54 • Wilhelm von Humboldt


1. aquelas que não mais permitem descobrir o conceito de um
substantivo, mesmo que essa origem seja bastante provável, por exemplo,
c, que significa ‘em’;
2. aquelas em que se encontra uma preposição ligada a um
elemento desconhecido;
3. aquelas que claramente contêm um substantivo ligado a uma
preposição, por exemplo, itic, ‘em’, na verdade composta de ite, ‘barriga’
e c, ‘em’, ou seja, ‘na barriga’.

Ilhuicatl itic não significa ‘no céu’, como se costuma traduzir,


mas ‘na barriga do céu’, porque céu está no genitivo. Os pronomes só
se combinam com os dois últimos tipos de preposições e, como nesses
casos nunca se usam os pronomes pessoais mas apenas os possessivos,
vemos claramente o substantivo dentro da preposição.
Embora se traduza notepotzco como ‘atrás de mim’, na verdade,
significa ‘atrás de minhas costas’, de teputz, ‘costas’. Veem-se aqui os
níveis em que o significado original se perdeu e, ao mesmo tempo,
o espírito que forma a língua da nação, o qual, para não deixar as
palavras gramaticalmente desconectadas, acrescenta a substantivos
como barriga e costas, quando usados no sentido de preposições, uma
preposição já existente (assim como ad instar, em latim, e inmitten, em
alemão). A língua mixteca, que nesse aspecto é gramaticalmente menos
desenvolvida, expressa em frente, atrás da casa simplesmente como
chisi, sata huahi, ou seja, ‘barriga, costas, casa’.
A relação que se estabelece entre a flexão e as palavras gramaticais
dá origem a novas diferenças entre as línguas.12 São evidências dessas
diferenças o fato de que umas marcam as relações mais por meio de
casos, outras por preposições, umas formam os tempos mais pela
flexão, outras por composições com verbos auxiliares. Os próprios
verbos auxiliares, quando marcam apenas a relação entre as partes da
oração, também são palavras gramaticais. O significado concreto do
grego τυγχάνειν, por exemplo, é desconhecido. No sânscrito, usa-se
shtha, ‘estar em pé’, mas com pouca frequência. No entanto, quanto a
esses aspectos, acreditamos que seja possível estabelecer uma norma
para avaliar as qualidades de uma língua com base em princípios gerais.

Ensaios sobre língua e linguagem • 55


Wo die zu bezeichnenden Verhältnisse sich, ohne Hinzukunft
eines besondren Begriffs, bloss aus der Natur eines höheren und
allgemeineren Verhältnisses ergeben, da geschieht die Bezeichnung
besser durch Beugungen, sonst durch grammatische Wörter. Denn
die an sich durchaus bedeutungslose Beugung enthält nichts, als
den reinen Begriff des Verhältnisses. In dem grammatischen Wort
liegt ausserdem der Nebenbegriff, der auf das Verhältniss, um es zu
bestimmen, bezogen wird, und der, wo das reine Denken nicht ausreicht,
immer hinzukommen muss. Daher sind der dritte und selbst der
siebente Casus der Sanskrit Declination nicht eben beneidenswerthe
Vorzüge dieser Sprache, da die durch sie bezeichneten Verhältnisse
nicht bestimmt genug sind, um des schärferen Abgränzens durch
eine Praeposition entbehren zu können. Eine dritte Stufe, welche
aber wahrhaft grammatisch gebildete Sprachen immer ausschliessen,
ist wenn ein Wort in seiner ganzen materiellen Bedeutung zum
grammatischen Worte gestempelt wird, wie wir weiter oben an den
Praepositionen gesehen haben.
Man mag nun die Beugungen, oder die grammatischen Wörter
vor Augen haben, so kommt man immer auf dasselbe Resultat
zurück. Sprachen können die meisten, vielleicht alle grammatischen
Verhältnisse mit hinlänglicher Deutlichkeit und Bestimmtheit
bezeichnen, ja sogar eine grosse Vielfachheit angeblicher Formen
besitzen, und es kann ihnen dennoch der Mangel ächter grammatischer
Formalität im Ganzen und im Einzelnen ankleben.
Ich habe bis hierher vorzüglich gestrebt, Analoga grammatischer
Formen, wodurch die Sprachen sich erst diesen zu nähern versuchen,
von diesen selbst zu unterscheiden. Dabei überzeugt, dass nichts dem
Sprachstudium so empfindlichen Schaden zufügt, als allgemeines,
auf nicht gehörige Kenntniss gegründetes Raisonnement, habe ich,
soviel es ohne übermässige Weitläuftigkeit geschehen konnte, jedes
Einzelne mit Beispielen belegt, obgleich ich wohl fühle, dass die
wahre Ueberzeugung nur aus dem vollständigen Studium wenigstens
einer der hier betrachteten Sprachen hervorgehen kann. Um zu
einem entscheidenden Resultat zu gelangen, wird es aber nun noch
nothwendig seyn, die ganze hier berührte Frage, jetzt ohne Factisches
beizumischen, in ihren Endpunkten zusammen zu fassen.

56 • Wilhelm von Humboldt


Quando as relações que devem ser marcadas resultam da natureza
de uma relação superior mais geral, sem acréscimo de um conceito
particular, a marcação será efetuada preferencialmente pela flexão e,
nos outros casos, mediante palavras gramaticais, pois a flexão, que em
si não tem significado, representa apenas a pura ideia de relação. Já na
palavra gramatical há um conceito adicional que se aplica à relação,
determinando-a, e que precisará ser acrescido quando o pensamento
puro não for suficiente. Por esse motivo, o terceiro e até mesmo o
sétimo caso de declinação no sânscrito não são exatamente qualidades
invejáveis dessa língua, porque as relações por eles marcadas não são
suficientemente precisas para que se possa prescindir das preposições
numa delimitação mais nítida. Há, ainda, um terceiro nível, em que
uma palavra com seu significado concreto pleno é timbrada como
uma palavra gramatical, como vimos acima no caso das preposições,
mas isto nunca acontece nas línguas verdadeiramente desenvolvidas.
Tanto a visão da flexão quanto a visão de palavras gramaticais
levam ao mesmo resultado. As línguas podem marcar a maioria, ou
talvez até todas as relações gramaticais com suficiente clareza e precisão,
podem possuir inclusive uma grande variedade de pretensas formas e,
mesmo assim, apresentar uma deficiência com relação à formalidade
gramatical em termos gerais ou individuais.
Até o momento, pretendi primeiramente estabelecer a diferença
entre as analogias de formas gramaticais por meio das quais as línguas
tentam se aproximar das verdadeiras formas, e as próprias formas
gramaticais. Como estou convencido de que nada pode ser mais
prejudicial para o estudo das línguas do que um raciocínio que não se
baseie num conhecimento apropriado, documentei cada um de meus
argumentos com exemplos, tentando evitar pormenores indevidos,
mesmo sentindo que uma argumentação convincente só pode ser o
resultado da análise profunda de, pelo menos, uma das línguas aqui
mencionadas. Para se chegar a um resultado definitivo, porém, será
necessário resumir todos os aspectos das questões aqui discutidas sem
acrescentar elementos factuais.

Ensaios sobre língua e linguagem • 57


Dasjenige, worauf Alles bei der Untersuchung des Entstehens,
und des Einflusses grammatischer Formalität hinauslauft, ist richtiges
Unterscheiden zwischen der Bezeichnung der Gegenstände und
Verhältnisse, der Sachen und Formen.
Das Sprechen, als materiell, und Folge realen Bedürfnisses, geht
unmittelbar nur auf Bezeichnen von Sachen; das Denken, als ideell,
immer auf Form. Ueberwiegendes Denkvermögen verleiht daher einer
Sprache Formalität, und überwiegende Formalität inihr erhöhet das
Denkvermögen.

1. Entstehen grammatischer Formen.

Die Sprache bezeichnet ursprünglich Gegenstände, und überlässt


das Hinzudenken der redeverknüpfenden Formen dem Verstehenden.
Sie sucht aber dies Hinzudenken zu erleichtern durch Wortstellung,
und durch, auf Verhältniss und Form hingedeutete Wörter für
Gegenstande und Sachen.
So geschieht, auf der niedrigsten Stufe, die grammatische
Bezeichnung durch Redensarten, Phrasen, Sätze.
Dies Hülfsmittel wird in gewisse Regelmässigkeit gebracht, die
Wortstellung wird stetig, die erwähnten Wörter verlieren nach und
nach ihren unabhängigen Gebrauch, ihre Sachbedeutung, ihren
ursprünglichen Laut.
So geschieht, auf der zweiten Stufe, die grammatische Bezeichnung
durch feste Wortstellungen, und zwischen Sach- und Formbedeutung
schwankende Wörter.
Die Wortstellungen gewinnen Einheit, die formbedeutenden
Wörter treten zu ihnen hinzu, und werden Affixa. Aber die Verbindung
ist noch nicht fest, die Fügen sind noch sichtbar, das Ganze ist ein
Aggregat, aber nicht Eins.
So geschieht auf der dritten Stufe die grammatische Bezeichnung
durch Analoga von Formen.

58 • Wilhelm von Humboldt


O mais importante na análise do surgimento e do impacto da
formalidade gramatical é a correta diferenciação entre a representação
de objetos e relações, de coisas e formas.
A fala, que é material e fruto de uma necessidade real, direciona-
se imediatamente à representação de coisas. O pensar, que é ideal,
direciona-se à forma. A preponderante capacidade de pensar atribui
formalidade à língua, e a preponderante formalidade numa língua eleva
a capacidade de pensar.

1. Surgimento das formas gramaticais

A língua designa originalmente objetos e deixa o acréscimo das


formas que conectam o discurso para o ouvinte.
Ela tenta, porém, facilitar essa operação do pensamento pela
ordem das palavras e por meio de palavras para objetos que, ao mesmo
tempo, indicam relações e formas.
Desse modo, no nível mais baixo, a representação gramatical
acontece por meio de locuções, frases e orações.
Esses recursos adquirem uma certa regularidade, a ordem
das palavras se torna constante, as palavras usadas vão perdendo
gradualmente seu uso independente, seu significado concreto e a
pronúncia original.
No segundo nível, acontece, então, a representação gramatical pela
ordem fixa de palavras e por palavras que oscilam entre um significado
concreto e um significado abstrato.
A ordem das palavras ganha coesão e as palavras gramaticais se
juntam a essa ordem, tornando-se afixos. A conexão, todavia, ainda
não é fixa, as junções são visíveis, e o todo é um aglomerado, mas não
compõe uma unidade.
Assim acontece, no terceiro nível, a marcação gramatical por meio
de analogias de formas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 59


Die Formalität dringt endlich durch. Das Wort ist Eins, nur durch
umgeänderten Beugungslaut in seinen grammatischen Beziehungen
modificirt; jedes gehört zu einem bestimmten Redetheil und hat nicht
bloss lexikalische, sondern auch grammatische Individualität; die
formbezeichnenden Wörter haben keine störende Nebenbedeutung
mehr, sondern sind reine Ausdrücke von Verhältnissen.
So geschieht auf der höchsten Stufe die grammatische Bezeichnung
durch wahre Formen, durch Beugung, und rein grammatische Wörter.
Das Wesen der Form besteht in ihrer Einheit, und der vorwaltenden
Herrschaft des Worts, dem sie angehört, über die ihm beigegebnen
Nebenlaute. Dies wird wohl erleichtert durch verloren gehende
Bedeutung der Elemente, und Abschleifung der Laute in langem
Gebrauch. Allein das Entstehen der Sprache ist nie ganz durch so
mechanische Wirkung todter Kräfte erklärbar, und man muss niemals
darin die Einwirkung der Stärke und Individualität der Denkkraft aus
den Augen setzen.
Die Einheit des Worts wird durch den Accent gebildet. Dieser ist
an sich mehr geistiger Natur, als die betonten Laute selbst, und man
nennt ihn die Seele der Rede, nicht bloss weil er erst das eigentliche
Verständniss in dieselbe bringt, sondern auch, weil er wirklich
unmittelbarer, als sonst etwas in der Sprache, Aushauch der die Rede
begleitenden Empfindung wird. Dies ist er auch da, wo er Wörter durch
Einheit zu grammatischen Formen stempelt; und wie Metalle, um
schnell und innig zusammenzuschmelzen, rasch und stark glühender
Flamme bedürfen, so gelingt auch das Zusammenschmelzen neuer
Formen nur dem energischen Act einer starken, nach formaler
Abgränzung strebenden Denkkraft. Sie offenbart sich auch an den
übrigen Beschaffenheiten der Formen, und so bleibt es unumstösslich
gewiss, dass, welche Schicksale auch eine Sprache haben möge, sie nie
zu einem vorzüglichen grammatischen Bau gelangt, wenn sie nicht
das Glück erfährt, wenigstens einmal von einer geistreichen, oder
tiefdenkenden Nation gesprochen zu werden. Nichts kann sie sonst
aus der Halbheit träge zusammengefügter, die Denkkraft nirgends mit
Schärfe ansprechender Formen retten.

60 • Wilhelm von Humboldt


A formalidade finalmente se introduz. A palavra constitui uma
unidade, modificada em suas relações gramaticais somente por
elementos flexionais que sofrem alterações. Cada palavra pertence a
uma certa parte do discurso e não tem apenas individualidade lexical
mas também individualidade gramatical. As palavras que marcam as
formas são puras expressões relacionais, sem qualquer interferência de
outro significado.
Assim, no nível mais elevado, a marcação gramatical acontece
por meio de verdadeiras formas: flexões e palavras puramente
gramaticais.
A essência da forma consiste na sua unidade e no forte domínio
que exerce a palavra sobre os elementos agregados. Isso é facilitado pela
perda de significado dos elementos e pelo desgaste dos sons, devido
ao uso contínuo. Mas a formação da língua nunca pode ser explicada
simplesmente pelas ações mecânicas de forças inânimes, e nunca se
deveria perder da vista o impacto da potência e da individualidade da
força do pensamento.
A unidade da palavra é formada pelo acento. Este é em si mais de
natureza mental do que os próprios sons acentuados. Diz-se que ele é
a alma da fala, não apenas porque abre ao ouvinte a possibilidade de
compreendê-la verdadeiramente, como também porque é a emanação
das emoções que acompanham a fala de forma mais imediata do que
qualquer outro elemento da língua. O acento também transforma
palavras, por meio da unidade que nelas cria, em formas gramaticais.
E, assim como metais precisam de uma chama forte e intensa para se
unir no processo de fundição, a junção de novas formas só terá êxito sob
a atuação enérgica de uma força intelectual que aspira a delimitações
formais. Essa força também se manifesta nas outras qualidades das
formas e, assim, torna-se irrefutável a afirmação de que uma língua,
seja qual for sua trajetória, só vai atingir o nível de perfeição na
construção gramatical se tiver a sorte de ser falada, pelo menos uma
vez, por uma nação profundamente intelectualizada e culta. Se isto
não acontecer, nada poderá salvar a língua da imperfeição de formas
preguiçosamente compostas que não estimulam o pensamento em
momento algum.

Ensaios sobre língua e linguagem • 61


2. Einfluss der grammatischen Formen.

Das Denken, welches vermittelst der Sprache geschieht, ist entweder


auf äussre, körperliche Zwecke, oder auf sich selbst, also auf geistige
gerichtet. In dieser doppelten Richtung bedarf es der Deutlichkeit und
Bestimmtheit der Begriffe, die in der Sprache grossentheils von der
Bezeichnungsart der grammatischen Formen abhängt.
Umschreibungen dieser durch Phrasen, durch noch nicht zur
sichren Regel gewordne Wortstellungen, selbst durch Analoga von
Formen bringen nicht selten Zweideutigkeit hervor. Wenn aber auch
das Verständniss, und damit der äussre Zweck geborgen ist, so bleibt
doch sehr oft der Begriff in sich unbestimmt, und da, wo er, als Begriff,
offenbar auf zwei verschiedne Weisen genommen werden kann,
ungesondert.
Wendet sich das Denken zu wirklicher innrer Betrachtung, nicht
bloss zu äussrem Treiben, so bringt auch die blosse Deutlichkeit und
Bestimmtheit der Begriffe andre, und auf jenem Wege immer nur
schwer zu erreichende Forderungen hervor.
Denn alles Denken geht auf Notwendigkeit und Einheit. Das
Gesammtstreben der Menschheit hat dieselbe Richtung. Denn es
bezweckt im letzten Resultat nichts anders, als Gesetzmässigkeit
forschend zu finden, oder bestimmend zu begründen.
Soll nun die Sprache dem Denken gerecht seyn, so muss sie in
ihrem Baue, soviel als möglich, seinem Organismus entsprechen. Sie
ist sonst, da sie in Allem Symbol seyn soll, gerade ein unvollkommnes
dessen, womit sie in der unmittelbarsten Verbindung steht. Indem
auf der einen Seite die Masse ihrer Wörter den Umfang ihrer Welt
vorstellt, so repraesentirt ihr grammatischer Bau ihre Ansicht von dem
Organismus des Denkens.
Die Sprache soll den Gedanken begleiten. Er muss also in stetiger
Folge in ihr von einem Elemente zum andren übergehen können, und
für Alles, dessen er für sich zum Zusammenhange bedarf, auch in ihr
Zeichen antreffen. Sonst entstehen Lücken, wo sie ihn verlässt, statt ihn
zu begleiten.

62 • Wilhelm von Humboldt


2. Influência das formas gramaticais

O pensamento, que acontece por meio da língua, está direcionado


ou a fins exteriores, materiais, ou a si mesmo, ou seja, a fins intelectuais.
Nessa dupla direção, são necessárias clareza e precisão de conceitos,
os quais geralmente dependem, na língua, do modo de expressão das
formas gramaticais.
Expressar as formas gramaticais por meio de circunlocuções
frasais, pela ordem de palavras ainda não fixa ou mesmo por analogias
de formas frequentemente gera ambiguidades. Mesmo quando a
compreensão e, consequentemente, os fins exteriores são assegurados, o
conceito em si permanece muitas vezes indeterminado e, nos casos em
que pode ser usado de duas maneiras diferentes, ele fica indistinto.
Quando o pensamento se dedica à genuína contemplação
introspetiva e não apenas a atividades exteriores, a nitidez e a precisão
dos conceitos criam exigências que só podem ser cumpridas com
dificuldade.
Isso porque todo pensamento está direcionado à necessidade
e à unidade. As aspirações de toda a humanidade têm essa mesma
tendência, pois seu objetivo final é encontrar regularidade por meio da
investigação ou determiná-la logicamente.
Para satisfazer as exigências do pensamento, a construção da língua
deve corresponder, tanto quanto possível, ao organismo do pensamento.
Caso contrário, ela, que deve ser símbolo de tudo, seria algo imperfeito
justamente em relação àquele com que tem uma ligação mais imediata.
Enquanto, por um lado, a quantidade de palavras da língua significa a
extensão de seu mundo, por outro, sua construção gramatical representa
a visão do organismo do pensamento.13
A língua deve acompanhar o pensamento. O pensamento deve,
então, poder passar de um elemento a outro na própria língua em
sucessão constante e encontrar nela um signo para tudo o que ele
necessita coerentemente expressar, senão surgirão lacunas onde a língua
o abandona em vez de acompanhá-lo.

Ensaios sobre língua e linguagem • 63


Obgleich endlich der Geist immer und überall nach Einheit und
Nothwendigkeit strebt, so kann er beide doch nur nach und nach aus
sich, und nur mit Hülfe mehr sinnlicher Mittel entwickeln. Zu den
hülfreichsten unter diesen Mitteln gehört für ihn die Sprache, die,
schon ihrer bedingtesten und niedrigsten Zwecke wegen, der Regel,
der Form, und der Gesetzmässigkeit bedarf. Je mehr er daher in ihr
ausgebildet findet, wonach er auch für sich selbst strebt, desto inniger
kann er sich mit ihr vereinigen.
Betrachtet man nun die Sprachen nach allen diesen, hier an
sie gestellten Forderungen, so erfüllen sie dieselben nur, oder doch
vorzugsweise gut, wenn sie echt grammatische Formen, und nicht
Analoga derselben besitzen, und so offenbart sich dieser Unterschied in
seiner ganzen Wichtigkeit.
Das Erste und Wesentlichste ist, dass der Geist von der Sprache
verlangt, dass sie Sache und Form, Gegenstand und Verhältniss rein
abscheide, und nicht beide mit einander vermenge. So wie sie auch ihn
an diese Vermengung gewohnt, oder ihm die Absonderung erschwert,
lähmt und verfälscht sie sein ganzes innres Wirken. Gerade aber diese
Absonderung wird erst rein vorgenommen bei der Bildung der ächt
grammatischen Form durch Beugung, oder durch grammatische Wörter,
wie wir oben bei dem stufenartigen Bezeichnen der grammatischen
Formen gesehen haben. In jeder Sprache, die nur Analoga von Formen
kennt, bleibt Stoffartiges in der grammatischen Bezeichnung, die bloss
formartig seyn sollte, zurück.
Wo die Zusammenschmelzung der Form, wie sie oben beschrieben
worden, nicht vollkommen gelungen ist, da glaubt der Geist noch immer
die Elemente getrennt zu erblicken, und da hat für ihn die Sprache nicht
die geforderte Uebereinstimmung mit den Gesetzen seines eignen
Wirkens.
Er fühlt Lücken, er bemüht sich sie auszufüllen, er hat nicht mit
einer mässigen Anzahl in sich gediegener Grössen, sondern mit einer
verwirrenden halb verbundner zu thun, und arbeitet nun nicht mit
gleicher Schnelligkeit und Gewandtheit, mit gleichem Gefallen am
leicht gelingenden Verknüpfen besondrer Begriffe zu allgemeineren,
vermittelst wohl angemessner, mit seinen Gesetzen übereinstimmender
Sprachformen.

64 • Wilhelm von Humboldt


Ainda que o espírito sempre e em todo lugar aspire à unidade e
à necessidade, ele só consegue desenvolvê-las partindo dele mesmo,
pouco a pouco e com a ajuda de meios mais sensoriais. O meio mais útil
para o espírito é a língua, visto que, em razão de seus fins mais limitados
e básicos, ela necessita de regras, formas e regularidade. Quanto mais o
espírito encontra aquilo a que ele aspira já desenvolvido na língua, mais
estreitamente poderá se ligar a ela.
Quando se contemplam as línguas considerando todas as
exigências aqui impostas, então elas só as cumprem, de forma mais ou
menos perfeita, se tiverem verdadeiras formas gramaticais e não apenas
analogias delas, o que revela a grande pertinência dessa distinção.
A primeira e mais essencial exigência do espírito para com a
língua é que ela diferencie claramente substância e forma, objeto e
relação, em vez de misturá-los. A depender do modo como a língua
acostuma o espírito a essa mistura ou lhe dificulta a diferenciação,
ela pode paralisar e corromper a atuação intrínseca do espírito. Essa
diferenciação só acontece de forma pura com a criação de genuínas
formas gramaticais por flexão ou por palavras gramaticais, como vimos
acima nas representações das formas gramaticais apresentadas passo a
passo. Nas línguas que têm apenas analogias de formas, os elementos
de substância marcam as relações gramaticais, quando deveriam ser os
elementos formais.
Nos casos em que a junção das formas, como descrita acima, não
foi totalmente bem-sucedida, o espírito permanece com a impressão
de que os elementos estão separados, e consequentemente a língua não
mostra a devida congruência em relação às leis de atuação do espírito.
O espírito percebe as lacunas e tenta preenchê-las; ele não está
lidando com um número moderado de elementos bem definidos, mas
com um número perturbador de elementos semiligados. Logo, ele
não trabalha com a mesma velocidade e agilidade nem com o mesmo
prazer que tem quando transforma facilmente conceitos particulares
em conceitos gerais por meio de formas linguísticas adequadas e em
sintonia com suas próprias leis.

Ensaios sobre língua e linguagem • 65


Darin nun offenbart es sich, wenn man die Frage auf die
äusserste Spitze stellt, dass, wenn eine grammatische Form auch
schlechterdings kein andres Element in sich schliesst, als welches
auch in dem sie nie ganz ersetzenden Analogen liegt, sie dennoch
in der Wirkung auf den Geist durchaus etwas anderes ist, und dass
dies nur auf ihrer Einheit beruht, in der sie den Abglanz der Macht
der Denkkraft an sich trägt, die sie schuf. In einer nicht dergestalt
grammatisch gebildeten Sprache findet der Geist lückenhaft
und unvollkommen ausgeprägt das allgemeine Schema der
Redeverknüpfung, dessen angemessner Ausdruck in der Sprache die
unerlassliche Bedingung alles leicht gelingenden Denkens ist. Es ist
nicht nothwendig, dass dies Schema selbst ins Bewusstseyn gelange;
dies hat auch hochgebildeten Nationen gemangelt. Es genügt,
wenn, da der Geist immer unbewusst danach verfährt, er für jeden
einzelnen Theil einen solchen Ausdruck findet, der ihn wieder einen
andren mit richtiger Bestimmtheit auffassen lässt.
In der Rückwirkung der Sprache auf den Geist macht die ächt
grammatische Form, auch wo die Aufmerksamkeit nicht absichtlich
auf sie gerichtet ist, den Eindruck einer Form, und bringt formale
Bildung hervor. Denn da sie den Ausdruck des Verhältnisses rein,
und sonst nichts Stoffartiges enthält, worauf der Verstand abschweifen
könnte, dieser aber den ursprünglichen Wortbegriff darin verändert
erblickt, so muss er die Form selbst ergreifen. Bei der unächten Form
kann er dies nicht, da er den Verhältnissbegriff nicht bestimmt genug
in ihr erblickt, und noch durch Nebenbegriffe zerstreut wird. Dies
geschieht in beiden Fällen bei dem gewöhnlichsten Sprechen, durch
alle Classen der Nation, und wo die Einwirkung der Sprache günstig
ist, geht allgemeine Deutlichkeit und Bestimmtheit der Begriffe,
und allgemeine Anlage, auch das rein Formale leichter zu begreifen,
hervor. Es liegt auch in der Natur des Geistes, dass diese Anlage,
einmal vorhanden, sich immer ausbildet, da, wenn eine Sprache
dem Verstände die grammatischen Formen unrein und mangelhaft
darbietet, je länger diese Einwirkung dauert, je schwerer aus dieser
Verdunkelung der rein formalen Ansicht herauszukommen ist.

66 • Wilhelm von Humboldt


Se a questão é levada a extremo, descobre-se que, mesmo quando
uma forma gramatical contém os mesmos elementos que a analogia,
que nunca a substitui completamente, ela tem um impacto diferente
no espírito; essa diferença se baseia na unidade da forma, que reflete
o poder da força intelectual que a criou. Numa língua que não se
desenvolveu gramaticalmente de tal maneira, o espírito encontra o
esquema geral de combinação das partes da oração apenas de modo
fragmentado e imperfeito, mas a expressão adequada desse esquema
é condição imprescindível para um pensar facilmente bem-sucedido.
Não é necessário que o esquema atinja a consciência; isso não aconteceu
em nações altamente desenvolvidas. É suficiente se o espírito puder
encontrar na língua uma expressão para cada parte, de modo que o leve
a conceituar outra com adequada precisão, já que ele sempre procede
inconscientemente.
Na repercussão da língua sobre o espírito, a verdadeira
forma gramatical, mesmo nos instantes em que a atenção não é
intencionalmente dirigida a ela, deixa uma impressão formal, criando
assim estruturas formais. Como a verdadeira forma gramatical só marca
a relação, não contendo substância que possa distrair o intelecto, este
vê que o conceito original da palavra foi alterado e tem que capturar
a própria forma. Com as falsas formas, o intelecto não pode proceder
deste modo porque não reconhece nitidamente o conceito de relação e
se distrai com conceitos adicionais. Isso acontece na fala cotidiana, em
todas as classes da nação. Quando a ação da língua é favorável, surge a
tendência a uma clareza e precisão geral dos conceitos junto com uma
predisposição a compreender com mais facilidade o que é puramente
formal. Essa predisposição faz parte da natureza do espírito e, uma vez
presente, se desenvolve continuamente; quando a língua apresenta ao
intelecto formas gramaticais impuras e imperfeitas, quanto mais tempo
essa influência dura, mais difícil se torna para a concepção puramente
formal sair desse obscurecimento.

Ensaios sobre língua e linguagem • 67


Was man daher von der Angemessenheit einer nicht solchergestalt
grammatisch gebildeten Sprache zur Ideenentwicklung sagen möge,
so bleibt es immer sehr schwer zu begreifen, dass eine Nation auf der
unverändert bleibenden Basis einer solchen Sprache von selbst zu
hoher wissenschaftlicher Ausbildung sollte gelangen können. Der Geist
empfängt da nicht von der Sprache, und diese nicht von ihm dasjenige,
dessen beide bedürfen, und die Frucht ihrer wechselseitigen Einwirkung,
wenn sie heilbringend werden sollte, müsste erst eine Veränderung der
Sprache selbst seyn.
Auf diese Weise sind also, soviel dies bei Gegenständen dieser
Art geschehen kann, die Kriterien festgestellt, an welchen sich die
grammatisch gebildeten Sprachen von den andren unterscheiden
lassen. Keine zwar kann sich vielleicht einer vollkommnen
Uebereinstimmung mit den allgemeinen Sprachgesetzen rühmen,
keine vielleicht ist durch und durch, in allen Theilen geformt, und
auch unter den Sprachen der niedrigeren Stufe giebt es wieder viele
annähernde Grade. Dennoch ist jener Unterschied, der zwei Classen
von Sprachen bestimmt von einander absondert, nicht gänzlich ein
relativer, ein bloss im Mehr, oder Weniger bestehender, sondern
wirklich ein absoluter, da die vorhandne, oder fehlende Herrschaft der
Form sich immer sichtbar verkündet.
Dass nur die grammatisch gebildeten Sprachen vollkommne
Angemessenheit zur Ideenentwicklung besitzen, ist unläugbar. Wieviel
auch noch mit den übrigen zu leisten seyn dürfte, mag allerdings der
Versuch, und die Erfahrung beweisen. Gewiss bleibt indess immer, dass
sie niemals in dem Grade, und der Art, wie die andren, auf den Geist zu
wirken im Stande sind.

68 • Wilhelm von Humboldt


Independentemente do que possa ser dito a respeito da
adequação para o desenvolvimento de ideias de uma língua que
não possui tais estruturas gramaticais, será sempre muito difícil
compreender que uma nação possa alcançar por si mesma, na base
inalterada de tal língua, um alto nível de conhecimentos científicos.
Neste caso, o espírito não recebe da língua o que precisa, nem ela dele,
e o fruto da influência mútua, para ser benéfico, deveria ocasionar
uma mudança na própria língua.
Assim foram estabelecidos, na medida em que é possível
com objetos dessa natureza, os critérios para distinguir as línguas
gramaticalmente desenvolvidas das outras. Talvez nenhuma delas
possa se vangloriar de uma harmonia completa com as leis gerais da
linguagem, talvez nenhuma seja formada perfeitamente em todas as
partes e entre as línguas de um nível mais baixo existam muitos graus
de aproximação. Mesmo assim, essa diferença que separa claramente as
duas classes de línguas14 não é uma diferença relativa que consiste num
«mais» ou «menos», mas uma distinção realmente absoluta, porque
a presença ou ausência do domínio da forma sempre se manifesta de
maneira visível.
Não se pode negar que só as línguas gramaticalmente formadas
são perfeitamente adequadas ao desenvolvimento das ideias. Quanto ao
desempenho das outras, só pesquisas e a experiêcia podem demonstrá-
lo. Mas, com certeza, nunca terão o mesmo grau e modo de influência
no espírito que as gramaticalmente desenvolvidas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 69


Das merkwürdigste Beispiel einer seit Jahrtausendenden Literatur in
einer fast von aller Grammatik, im gewöhnlichen Sinne des Worts,
entblössten Sprache bietet die Chinesische dar. Es ist bekannt, dass
gerade in dem sogenannten alten Stil, in welchem die Schriften des
Confucius und seiner Schule verfasst waren, und der noch heute der
allgemein übliche für alle grossen philosophischen und historischen
Werke ist, die grammatischen Verhältniste einzig und allein durch
die Stellung, oder durch abgesonderte Wörter bezeichnet werden,
und dass es oft dem Leser überlassen bleibt, aus dem Zusammenhang
zu errathen, ob er ein Wort für ein Substantivum, Adjectivum,
Verbum, oder für eine Partikel nehmen soll.* Der Mandarinische
und literarische Stil haben zwar dafür gesorgt, mehr grammatische
Bestimmtheit in die Sprache zu bringen, aber auch in ihnen besitzt
sie keine wahrhaft grammatischen Formen, und jene eben erwähnte
Literatur, die berühmteste der Nation, ist von dieser neueren
Behandlung der Sprache durchaus unabhängig.
Wenn, wie Etienne Quatremere** scharfsinnig zu beweisen
gesucht hat, die Coptische Sprache die Sprache der alten Aegyptier
gewesen ist, so kommt auch die hohe wissenschaftliche Bildung, auf
welcher diese Nation gestanden haben soll, hier in Betrachtung. Denn
auch das grammatische System der Coptischen Sprache ist, wie Silvestre
de Sacy*** sich ausdrückt, vollkommen ein synthetisches, das heisst ein
solches, in welchem die grammatischen Bezeichnungen den, Sachen
bedeutenden Wortern abgesondert vor- oder nachgesetzt werden.
Silvestre de Sacy vergleicht es namentlich hierin dem Chinesischen.
Wenn nun zwei der merkwürdigsten Völker die Stufe ihrer
intellectuellen Bildung mit Sprachen zu erreichen vermochten,
die ganz, oder grösstentheils der grammatischen Formen
entbehren, so scheint hieraus eine wichtige Einwendung gegen
die behauptete Nothwendigkeit dieser Formen hervorzugehen.

* Grammaire Chinoise par M. Abel-Remusat. p. 35. 37.


** Recherches critiques et historiques sur la langue et la littérature de l'Egypte.
*** In Millins Magasin encyclopédique Tom. IV. 1808.S. 255., wo zugleich eben so neue,
als geistreiche Ideen über den Einfluss der hieroglyphischen und alphabetischen Schrift
auf die grammatische Bildung der Sprachen entwickelt werden.

70 • Wilhelm von Humboldt


O exemplo mais notável oferece o chinês, uma língua basicamente
desprovida de gramática, no sentido usual da palavra, com uma
literatura que floresce há milênios. Sabe-se que no chamado estilo
antigo, usado nos escritos de Confúcio e de sua escola e que até
hoje é comum em todas as grandes obras filosóficas e históricas,
as relações gramaticais são indicadas pela ordem das palavras ou
expressas por palavras gramaticais separadas, e que muitas vezes
cabe ao leitor depreender do contexto se deveria entender uma
palavra como substantivo, adjetivo, verbo ou partícula*. É certo que
o estilo mandarim e o literário proporcionaram a introdução de mais
determinação gramatical na língua, mas mesmo assim ela não possui
verdadeiras formas gramaticais, e a literatura mais famosa da nação
acima mencionada não depende dessas inovações.
Se o copta foi a língua dos antigos egípcios, como Etienne
Quatremere** tentou provar com acerto, é preciso considerar que havia
um alto nível de conhecimentos científicos que deve ter sido atingido
por essa nação. O sistema gramatical da língua copta, como afirma
Silvestre de Sacy***, também é completamente sintético, ou seja, trata-
se de um sistema em que as representações gramaticais são colocadas
separadamente antes ou depois das palavras que se referem a objetos.
Expressamente nesse aspecto, Silvestre de Sacy o compara com a língua
chinesa.
O fato de duas das mais notáveis nações terem conseguido alcançar
um nível alto de formação intelectual com línguas que, completamente
ou em grande parte, são desprovidas de formas gramaticais, parece
constituir uma séria objeção à necessidade das formas aqui defendidas.

* Grammaire Chinoise, M. Abel-Rémusat, p. 35-37.


** Recherches critiques et historiques sur la langue et la littérature de l’Egypte.
*** No periódico Magasin encyclopédique, 1808, Tomo IV, p.255, editado por Millin, há
ideias inovadoras sobre a influência dos hieróglifos e da escrita alfabética na construção
gramatical das línguas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 71


Es ist indess noch auf keine Weise dargethan, dass die Literatur
dieser beiden Völker gerade diejenigen Vorzüge besass, auf welche
die Eigenschaft der Sprache, von der hier die Rede ist, vorzüglich
einwirkt. Denn unläugbar zeigt sich die durch eine reiche
Mannigfaltigkeit bestimmt und leicht gebildeter grammatischer
Formen begünstigte Schnelligkeit und Schärfe des Denkens am
glänzendsten im dialektischen und rednerischen Vortrag, daher
sie sich in der Attischen Prosa in ihrer höchsten Kraft und Feinheit
entfaltet. Von dem Chinesischen alten Stil geben selbst diejenigen,
welche sonst ein günstiges Urtheil über die Literatur dieses Volkes
fällen, zu, dass er unbestimmt und abgerissen ist, so dass der auf ihn
folgende, dem Bedürfniss des Lebens besser angepasste dahin trachten
musste, ihm mehr Klarheit, Bestimmtheit und Mannigfaltigkeit zu
geben. Dies beweist daher im Gegentheil nur unsre Behauptung.
Von der Alt-Aegyptischen Literatur ist nichts bekannt; was wir aber
sonst von den Gebräuchen, der Verfassung, den Bauwerken und der
Kunst dieser merkwürdigen Länder wissen, deutet mehr auf streng
wissenschaftliche Bildung, als auf ein leichtes und freies Beschäftigen
des Geistes mit Ideen hin. Hätten indess auch diese beiden Völker
gerade die Vorzüge erreicht, die man billigerweise Anstand nehmen
muss, ihnen beizulegen, so würde dadurch das oben Entwickelte nicht
widerlegt seyn. Wo der menschliche Geist durch ein Zusammentreffen
begünstigender Umstände mit glücklicher Anstrengung seiner
Kräfte arbeitet, gelangt er mit jedem Werkzeuge zum Ziel, wenn
auch auf mühevollerem und langsamerem Wege. Allein darum dass
er die Schwierigkeit überwindet, ist die Schwierigkeit nicht minder
vorhanden. Dass Sprachen mit keinen, oder sehr unvollkommnen
grammatischen Formen störend auf die intellectuelle Thätigkeit
einwirken, statt sie zu begünstigen, fliesst, wie ich gezeigt zu haben
glaube, aus der Natur des Denkens und der Rede. In der Wirklichkeit
können andre Kräfte diese Hemmungen schwächen, oder aufheben.
Allein bei der wissenschaftlichen Betrachtung muss man, um zu reinen
Folgerungen zu gelangen, jede Einwirkung als ein abgesondertes
Moment, für sich und so, als würde sie durch nichts Fremdartiges
gestört, beurtheilen, und dies ist hier mit den grammatischen Formen
geschehen.

72 • Wilhelm von Humboldt


No entanto, ainda não foi demonstrado que a literatura dessas duas
nações possuía justamente as qualidades particularmente afetadas
pela característica da língua aqui tratada. Sem dúvida, a prontidão e
a precisão do pensamento, favorecidas por uma riqueza diversificada
de formas gramaticais simples e definidas, se revelam da maneira mais
esplêndida no discurso dialético e retórico, e por isso elas se desenvolvem
na prosa ática com força e sutileza supremas.15 Até mesmo aqueles
que geralmente emitem um juízo favorável sobre a literatura chinesa
admitem que o estilo antigo é indeterminado e abrupto, e por isso o
estilo seguinte, mais ajustado às necessidades do leitor, aspirou a mais
transparência, precisão e variedade. E isso comprova nossa proposição
em vez de refutá-la. Não se sabe nada da antiga literatura egípcia, mas
o que é conhecido dos costumes, da organização, da arquitetura e da
arte dessa nação singular indica mais uma rígida formação científica
do que uma livre e leve ocupação do espírito com ideias. Porém,
mesmo supondo que os dois povos alcançaram os méritos que, com
razão, oscilamos em lhes atribuir, o que foi desenvolvido acima não
seria refutado. Onde o espírito humano trabalha sob um encontro
de condições favoráveis com o esforço afortunado de seu potencial,
vai cumprir seu objetivo com qualquer ferramenta, ainda que por
um caminho mais árduo e lento. Mas, se ele supera as dificuldades,
isso não significa que elas não existam. Como acredito ter mostrado,
o fato de as línguas sem formas gramaticais ou com formas bastante
imperfeitas atrapalharem as atividades intelectuais, em vez de favorecê-
las, origina-se na natureza do pensar e do falar. Na realidade, outras
forças podem diminuir ou suprimir esses obstáculos. Porém, para se
chegar a conclusões inequívocas sobre as reflexões científicas, deve-
se avaliar cada influência como um fator isolado, como se nada de
estranho o perturbasse, e isso foi feito aqui com as formas gramaticais.

Ensaios sobre língua e linguagem • 73


Inwiefern auch in den Amerikanischen Sprachen eine höhere
Bildungsstufe erreicht ward, darüber lässt sich keine reine Erfahrung
zu Rathe ziehen. Die Schriften von Eingebohrnen* in Mexikanischer
Sprache, die man besitzt, rühren nur von der Zeit der Eroberung her,
und athmen daher schon fremden Einfluss. Doch ist sehr zu bedauern,
daß man keine davon in Europa kennt. Vor der Eroberung gab es kein
Mittel schriftlicher Aufzeichnung in jenem Welttheil. Man könnte
schon dies als einen Beweis ansehen, dass in demselben kein Volk mit
der entschiednen Stärke der Denkkraft aufgestanden seyn muss, welche
GLH +LQGHUQLVVH ELV ]XU (U¿QGXQJ GHV $OSKDEHWV GXUFKEULFKW $OOHLQ
GLHVH(U¿QGXQJLVWZRKOEHUKDXSWQXUVHKUZHQLJHPDOHJHVFKHKHQ
GDGLHPHLVWHQ$OSKDEHWHGXUFK8HEHUOLHIHUXQJHLQHVDXVGHPDQGUHQ
entstanden sind.
Die Sanskrit Sprache ist unter den uns bekannten die älteste und
erste, die einen wahrhaften Bau grammatischer Formen, und zwar
in einer solchen Vortreflichkeit und Vollständigkeit des Organismus
besitzt, dass in dieser Rücksicht nur wenig später hinzugetreten ist.
Ihr zur Seite stehen die Semitischen Sprachen; allein die höchste
Vollendung des Baues hat unstreitig die Griechische erreicht. Wie nun
diese verschiednen Sprachen sich in den hier betrachteten Rücksichten
gegen einander verhalten, und welche neue Erscheinungen durch das
Entstehen unsrer neueren Sprachen aus den classischen hervorgegangen
sind, bietet reichlichen Stoff zu weiteren, aber feineren und schwierigeren
Untersuchungen dar.

* A. v. Humboldts Essai politique sur le royaume de la Nouvelle Espagne. p. 93. Desselben


Vues des Cordillères et monumens des peuples de l’Amérique. p. 126.

74 • Wilhelm von Humboldt


Para saber até que ponto se atingiu uma formação mais sofisticada
nas línguas americanas, não podemos nos apoiar pura e simplesmente
na experiência. Os escritos existentes de nativos* na língua mexicana
datam da época da conquista e já respiram uma influência estrangeira.
É realmente lamentável que essas escritas não sejam conhecidas na
Europa. Antes da conquista, não havia meios de fixação da escrita
naquele continente. Esse fato pode ser visto como prova de que nas
Américas não surgiu nenhuma nação com aquela poderosa força do
pensamento, necessária para superar os obstáculos do caminho para a
invenção do alfabeto.16 Parece que essa invenção ocorreu poucas vezes
porque a maioria dos alfabetos foram criados uns com base nos outros,
por transmissão.
O sânscrito é a primeira e mais antiga das línguas por nós conhecidas
que dispõe de uma verdadeira construção de formas gramaticais em
um organismo tão perfeito e completo que pouco foi acrescentado com
o decorrer do tempo. Além do sânscrito há as línguas semíticas, mas,
sem dúvida, foi o grego que alcançou o mais alto grau de perfeição
na construção. Questões sobre como essas línguas aqui consideradas
permitem uma comparação quanto aos aspectos aqui tratados e sobre
os novos fenômenos que surgiram com o desenvolvimento das línguas
modernas a partir das clássicas oferecem um campo vasto para outras
análises, mais sutis e complexas.

* Alexander von Humboldt, Essai politique sur le royaume de la Nouvelle Espagne, p. 93,
e Vues des Cordillères et monumens des peuples de l’Amérique, p. 126.

Ensaios sobre língua e linguagem • 75


— Comentário —

Este ensaio infelizmente representa os pensamentos de Humboldt


que foram, embora superficialmente, mais retomados na linguística. A
proeminência de seus pensamentos ocorre devido à estreita ligação com
as questões da emergente linguística histórico-comparativa: (i) a questão
primariamente gramatical (não relacionada ao vocabulário); (ii) a questão
classificatória; e (iii) a questão genealógica, ou seja, o programa de “gramática
comparativa” formulado por F. Schlegel, “que nos dará pistas completamente
novas sobre a genealogia das línguas de modo semelhante à anatomia
comparada, que iluminou a história natural” (SCHLEGEL, [1808] 1977, p.
28; tradução nossa).
São esses pontos que repetidamente têm levado Humboldt, na
historiografia da linguística, a ser visto como parte da linguística romântica.
Humboldt se associa ao programa de Schlegel, mas todo o seu discurso é uma
crítica quase corrosiva às ideias de Schlegel, isso se levarmos em consideração
que Humboldt normalmente se expressa com cautela. Na realidade, é apenas
a primeira questão que liga Humboldt aos românticos, i.e., a convicção de
que a gramática, ou a “construção interna”, como Friedrich Schlegel a chama,
é fundamental para a avaliação da diversidade ou igualdade das línguas
humanas. Mas Humboldt vai além das ideias de seus contemporâneos na
medida em que ele vê a verdadeira peculiaridade das línguas em seu “caráter”
que não coincide com a construção. No que diz respeito aos outros pontos,
Humboldt difere diametralmente do programa romântico.
A comparação com as ciências biológicas, que Humboldt também
estabelece (mas para ele a ciência de comparação é a fisiologia, não a
anatomia), permanece para ele uma comparação. Humboldt enfatiza que, na
linguagem e no espírito humano, nos encontramos em uma esfera que não
tem analogia na natureza, ou seja, na esfera da história e da profícua criação
humana. Esse é o modo como as ciências biológicas são compreendidas por ele,
como ciências teleológicas, seguindo a tradição de Leibniz e Kant. Por outro
lado, no programa do romantismo, que já começa com Friedrich Schlegel, os
pais fundadores da linguística histórico-comparativa conceituaram a língua
como um objeto da natureza, uma tendência que com o tempo se tornou
cada vez mais dominante. Assim, a diversidade de línguas era vista como

76 • Wilhelm von Humboldt


uma diversidade dada pela natureza – as “duas questões principais sobre as
línguas”, de Schlegel, se baseiam em uma desigualdade natural do ser humano
–, e a história da língua, como uma história natural. Em outras palavras, a
história é essencialmente o curso do tempo – diacronia – interrompido por
catástrofes, migrações e miscigenações, no qual reinam as leis eternas da
natureza. A atuação do homem nesse processo diacrônico – em termos bem
rousseaunianos – é negativa e leva o estado originalmente intacto e natural
à decadência. Essa feição deveras mecanicista-naturalista, determinista,
pessimista e reacionária da linguística romântica é completamente alheia a
Humboldt, que – como também Hegel – está muito mais próximo do espírito
do final do século XVIII do que daquele de seus contemporâneos linguistas
românticos.
“Surgimento” deve ser entendido aqui no sentido da problemática da
origem de Kant como um nascer genético-funcional, não como um começar
temporal (1956). Sobre o surgimento das formas gramaticais é, portanto, a
tentativa de uma história ideal de procedimentos (que Humboldt distingue
com base nas sugestões de Schlegel, dando continuidade a elas) que ocorrem
em todas as línguas, na perspectiva de um desenvolvimento a partir de uma
forma inferior (mas, mesmo assim, humana) e de uma ascenção otimista do
espírito humano a uma forma superior que nunca vai alcançar a realização
perfeita, mas que pode ser a base de uma espécie ideal de línguas. Aqui
não há leis da natureza que imponham um caminho determinado, aqui há
apenas a ideia de orientação da natureza do espírito humano, da qual as
línguas tentam se aproximar em sua dinâmica especificamente histórica e
humana, sem garantir, no entanto, que esse objetivo possa eventualmente
ser alcançado. Assim como a ideia da irmandade guia o processo histórico
universal da união planetária dos povos, a ideia de língua se esforça por se
manifestar na forma sempre mais pura (na individualidade e na diversidade
constantes) no decorrer da história universal.

———

Ensaios sobre língua e linguagem • 77


— Notas —

1
Logo no início, Humboldt explicita as razões históricas (“Nationaleigenthümli-
chkeit”, ‘as peculiaridades das nações’) contra a hipótese das leis naturais como um
elemento decisivo no desenvolvimento das línguas.
2
Humboldt adota um enfoque bastante diferenciado tanto em relação ao indiferen-
tismo linguístico como ao relativismo linguístico: segundo o indiferentismo, asso-
ciado à concepção semiótica da língua, é possível dizer qualquer coisa em qualquer
língua. Essa correta noção restringe justamente o relativismo, na medida em que
uma determinada estrutura linguística inspira um uso particular, mas não estabele-
ce um limite baseado numa lei natural de uso da linguagem (ver as explicações sobre
o chinês neste ensaio e em Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa). No entan-
to, perante ambas as posições, Humboldt mantém a ideia de uma progressão ideal e
eficaz em termos da história universal das línguas e dos procedimentos gramaticais,
assim como a ideia de uma escala de avaliação.
3
Sobre o segundo mal-entendido na avaliação das formas gramaticais, a saber, que se
pensa a gramática de uma língua por meio de outra, Humboldt exige um ponto de
vista estrutural coerente. Ver Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa.
4
Aqui aparece, pela primeira vez, a expressão “incorporação” – assim como “incor-
porado” –, que vai desempenhar um grande papel na tipologia como termo com-
plementar às três classes de línguas de A. W. v. Schlegel, designando uma suposta
quarta classe. Humboldt não se concentra particularmente na criação de classes de
línguas, mas na distinção entre procedimentos gramaticais, e a incorporação não é,
para ele, um quarto procedimento, mas uma contraparte sintática da aglutinação.
Ver Coseriu (1972) e Trabant (1986, p.186).
5
A discussão que se segue, dirigida contra o indiferentismo gramatical, diz respeito
aos vários procedimentos de representação das relações gramaticais e esclarece que,
para Humboldt, o princípio da síntese, segundo o qual da fusão de dois elementos
emerge um terceiro, novo, é o critério de avaliação para se saber se algo é uma for-
ma gramatical ou não. O conceito de linguagem, portanto, só se realiza plenamente
onde existe a síntese. Por outro lado, também fica claro que Humboldt rejeita as
generalizações por demais precipitadas de A. W. v. Schlegel, que fala de línguas sem
estrutura, com afixação e com flexão ([1818] 1971, p.14). Os diferentes procedimen-
tos gramaticais (flexão, aglutinação, posição) ocorrem em diversas combinações e
com consequências variadas em cada língua.
6
Isso vai de encontro à concepção de F. Schlegel de uma origem da flexão a partir
da raiz (!), concepção essa também mantida por A. W. v. Schlegel, quando ele con-
trasta as “racines stériles” das línguas sem estrutura com a “végétation abundante
et féconde” das línguas flexionais ([1818] 1971, p.14). Humboldt concorda com a
concepção mais antiga, também mantida, por exemplo, por Horne Tooke, de que
as formas gramaticais surgiram de elementos lexicais e de que a flexão se origina
da aglutinação, mas ele também menciona alguns casos limítrofes que contradi-
zem essa concepção.

78 • Wilhelm von Humboldt


7
Esse parágrafo resume novamente a oposição de Humboldt a Friedrich Schlegel,
que representa exatamente a opinião rejeitada aqui. O fato de que ainda hoje se
acredita que o primeiro promoveu uma classificação criptorracista das línguas pode
ser atribuído à recepção de Humboldt, completamente iludida pelo pensamento de
Schlegel.
8
Sobre esse tipo de formação, ver Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa.
9
Ver Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa.
10
Jacob Grimm escolheu justamente essa frase de Humboldt para confrontá-la com o
conceito romântico de história da linguagem: “Mais de uma vez a história concede-
-nos a passagem ao declínio, mas à ascenção, quase nunca” ([1824] 1906, p. 151;
tradução nossa). A esse respeito, Humboldt esclareceu que estava pensando em um
progresso que vai da origem a um ponto culminante da gramática, não em uma lei
da natureza unidirecional, ao que ele acrescentou: “Quanto mais uma língua se afas-
ta de sua origem, mais ela ganha no que diz respeito à forma, desde que não mudem
as condições”. Isso não impede, e aqui podemos incluir as reflexões de Humboldt
sobre as línguas românicas, que uma língua possa ascender outra vez a um novo
ponto culminante.
11
Em Epea pteroenta, or the Diversions of Purley (1786-1805), as etimologias de Horne
Tooke são excêntricas, e Humboldt concorda apenas com o princípio da teoria dele.
12
Aqui Humboldt aborda os diferentes procedimentos que formam a base da classifi-
cação de A. W. v. Schlegel das línguas flexionais, as sintéticas e as analíticas ([1818]
1971, p. 16), sem, no entanto, usar os termos do autor, já que Humboldt os rejeita.
13
Para Humboldt, o “organismo do pensamento” é o campo das formas de contempla-
ção e de pensamento a priori, definido por Kant. Tanto desse mundo interior quanto
do mundo exterior as diversas línguas dão visões diferentes, por um lado, na gramá-
tica, e, por outro, no vocabulário. Quanto mais simbólicos forem os procedimentos
gramaticais em relação ao mundo interno a priori, mais perfeitos serão. Fica claro,
portanto, por que é inútil perguntar sobre a perfeição em termos de vocabulário, ou
seja, em relação ao mundo exterior: no mundo exterior, não há nada a priori que
poderia ser considerado como critério de perfeição – aqui o que importa é a maior
extensão e a maior riqueza possível.
14
Apesar das reservas às afirmações muito ousadas de Schlegel sobre as línguas,
Humboldt chega, com base em uma impressão global e desconsiderando os deta-
lhes das diferenças, à distinção entre duas classes de línguas (as gramaticalmente
desenvolvidas e as outras), que correspondem superficialmente às duas classes
principais de Friedrich Schlegel. Posteriormente, Humboldt revisou essa divisão,
após estudar mais intensamente a língua chinesa, e chegou a uma divisão tripar-
tite, devido a uma nova avaliação do chinês (Ver Sobre a estrutura gramatical da
língua chinesa), que corresponde superficialmente à divisão de A. W. v. Schlegel.
Apesar de sua aparente hesitação em relação à questão da classificação das línguas,
Humboldt consegue obter, mais adiante, uma clareza definitiva. Uma classificação
de acordo com as categorias naturais contradiz a natureza da própria língua e deve
ser rejeitada de uma vez por todas, porque individualmente as línguas são diferen-
tes não como categorias, mas como indivíduos. Como indivíduos, no entanto, elas
sempre compõem uma classe inteira. Observando a individualidade das línguas
que são contraditórias a cada classificação, parece legítimo usar classificações, ou,

Ensaios sobre língua e linguagem • 79


mais precisamente, classes parciais “para efeito de análise ou representação” e com
relação aos procedimentos linguísticos individuais. As classes apresentadas aqui
e em Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa devem ser interpretadas desse
modo. Assim, com referência a Humboldt, pode-se considerar correta a oposição
aos irmãos Schlegel e a todas as tentativas posteriores a eles de classificar as lín-
guas à maneira das ciências exatas.
15
Ver Poesia e Prosa.
16
A respeito da relação das línguas americanas com a escrita, ver Sobre a escrita
alfabética.

80 • Wilhelm von Humboldt


Ueber das Verbum in den
Americanischen Sprachen*

Sie haben die Güte gehabt, meiner neulichen Abhandlung


über das Entstehen der grammatischen Formen eine theilnehmende
Aufmerksamkeit zu schenken.
Ich wünsche heute, dasjenige, was ich damals allgemein über dieses
Entstehen behauptet, an einem einzelnen grammatischen Punkt durch
eine Reihe von Sprachen hindurch auszuführen. Ich wähle hierzu die
Amerikanischen, als die am meisten zu einem solchen Behufe geeigneten,
und hebe das Verbum, als den bedeutendsten Redetheil, und den
Mittelpunkt jeder Sprache heraus. Ohne aber in die Auseinandersetzung
der einzelnen Theile des Verbum einzugehen, werde ich mich bloß auf
seine eigentliche Verbalnatur, das Zusammenfassen des Subjects und
Praedicats des Satzes vermittelst des Begriffes des Seyns beschränken.
Nur diese macht sein Wesen aus; alle übrigen Beziehungen, Personen,
Tempora, Modi, Genera sind nur daraus abgeleitete Eigenschaften
desselben.
Die zu beantwortende Frage ist also: durch welche grammatische
Bezeichnungsart deuten die hier zu vergleichenden Sprachen an, daß
Subject und Praedicat vermittelst des Begriffes des Seyns überhaupt,
oder auf eine bestimmte Weise zusammengefaßt werden soll?
Um nun zu beurtheilen, inwiefern sich diese Sprachen der
grammatischen Vollendung in diesem Punkte nähern, muß man den
Zustand, als Ziel, vor Augen haben, wo das Verbum, als wirklicher
Redetheil da steht, d. h. wo es eine Gattung von Wörtern giebt, welche,
indem sie die Verbalkraft besitzen, sich durch eine festbestimmte
Form von allen übrigen Redetheilen unterscheiden. Bis zu diesem
Zustande hinauf müssen alle übrigen sich vorfindenden Bildungsarten,
oder Umschreibungen des Verbum, so viel als möglich, stufenweise
zusammengestellt werden.

* Gelesen am 3. Juni 1823.

82 • Wilhelm von Humboldt


Sobre o verbo nas
línguas americanas*

Vossa Senhoria teve a gentileza de receber meu recente discurso


sobre o surgimento das formas gramaticais com considerável simpatia.
Hoje minha intenção é detalhar, por meio da análise de um
determinado fenômeno gramatical numa série de línguas, aquilo que
defendi a respeito do surgimento em termos gerais naquela ocasião.
Escolhi as línguas americanas porque são as mais adequadas para esse
objetivo e vou me concentrar no verbo por ser ele o centro de todas as
línguas e a parte mais importante da oração. Sem entrar em pormenores
na discussão sobre as distintas partes do verbo, limitar-me-ei à autêntica
natureza verbal, ou seja, à junção do sujeito e do predicado da oração
através do conceito de Ser1. Esse conceito é o único que representa a
essência do verbo, sendo todas as outras relações, como pessoa, tempo,
modo e gênero, qualidades dele derivadas.
Então, a pergunta a ser respondida é a seguinte: que tipos de
recursos gramaticais das línguas aqui comparadas indicam que o sujeito
e o predicado devem ser unidos por meio do conceito de Ser, ou de uma
maneira específica?
Para avaliar até que ponto essas línguas se aproximam da perfeição
gramatical nesse item, deve-se ter em vista o estado do verbo como
verdadeira parte da oração, i.e., um estado em que existe uma classe
de palavras que se distingue de todas as outras partes da oração por
sua forma fixa e por sua força verbal. Até chegar a esse nível, todas as
outras maneiras de formação do verbo ou de suas paráfrases devem ser
compiladas uma a uma, do modo mais completo possível.

* Lido em 3 de junho de 1823.

Ensaios sobre língua e linguagem • 83


Der Begriff des Seyn‘s, welcher die Grundlage, und das Wesen des
Verbum ausmacht, kann angedeutet seyn
entweder als für sich bestehend,
oder als der Verbalform körperlich, als Hülfsverbum, einverleibt,
oder als in ihr nur der Idee nach enthalten.
Nach diesen drei Abtheilungen werden sich die Verschiedenheiten
der verglichenen Sprachen am richtigsten stellen lassen. Nur darf
man nicht vergessen, daß es wohl keine Sprache geben mag, in
welcher nicht die erste dieser Methoden mit einer der letzten zugleich
gebraucht werden sollte, und daß in denjenigen Sprachen, welche ein
Verbum substantivum und in ihrer Conjugation Formen mit und ohne
Hülfsverba besitzen, alle diese drei Fälle vorkommen.

I. Wenn der Begriff des Seyns, als für sich bestehend


angedeutet ist.

Von den Arten, wie dies geschehen kann, muß ich gleich
die ausnehmen, wo es ein wirkliches, das Verbum substantivum
ausmachendes Wurzelwort giebt. Denn da dies, wie jedes andere
Stammwort, die Verbalform annehmen muß, so tritt es in einen der
beiden andren Fälle. Es enthält das Seyn entweder als ein Hülfsverbum,
wie in unsren; ich bin gewesen, oder in der bloßen Form, wie im
einfachen: ich bin. Wenn man bedenkt, daß wohl die Verba substantiva
aller Sprachen ursprünglich von dem Begriff eines concreten Zustandes
ausgehen, und auf diesen nur den allgemeinen des Seyns übertragen, so
leuchtet dies noch mehr ein.
Soll es nun keinen eignen Wurzellaut für das Verbum substantivum
geben und dasselbe doch für sich, nicht in einer andren Verbalform,
angedeutet seyn, so muß diese Andeutung entweder nur durch die
Stellung der, das Verbum regierenden, und von ihm regierten Worte
geschehen, oder an Sprachelementen, die an sich keine Verba sind,
sondern nur dadurch dazu werden. Im ersteren Fall wird das Verbum
substantivum nur hinzugedacht, im andren stellt es sich in einem eignen
Worte, aber ohne Wurzellaut dar.

84 • Wilhelm von Humboldt


O conceito de Ser, que constitui a base e a essência do verbo:
(i) pode ser indicado como uma entidade própria;
(ii) pode aparecer como uma forma verbal física com um verbo
auxiliar incorporado, por exemplo;
(iii) ou pode ser apenas uma ideia contida na forma verbal.
As diferenças entre as línguas comparadas ficam mais claras
quando se segue essa tripla distinção. Mas não se deve esquecer que
provavelmente não existe língua que não empregue o primeiro método
junto com um dos outros e que, em línguas que têm um verbo-
substantivo2 e formas com e sem verbo auxiliar em sua conjugação,
existem os três tipos mencionados.

I. Quando o conceito de Ser é indicado como uma


entidade própria

Dos tipos que empregam esse modo vou excluir aqueles em que há
um autêntico radical que forma o verbo-substantivo, pois o radical tem
de se manifestar na forma verbal, como qualquer outro radical, e desse
modo cai em uma das outras duas categorias. O verbo Ser aparece como
auxiliar, o que ocorre no nosso ich bin gewesen (‘eu fui; eu tenho sido’),
ou na forma simples ich bin (‘eu sou’). Isso parece ainda mais evidente
quando se considera que os verbos-substantivos em todas as línguas se
referem originalmente a um estado concreto e apenas o transferem para
o estado geral de Ser.
Caso não exista um radical para o verbo-substantivo e este seja
indicado por si mesmo e não esteja dentro de outra forma verbal, essa
indicação deve ser efetuada pela posição das palavras regentes e regidas,
ou por elementos da língua que não são verbos propriamente ditos, mas
apenas assumem essa função. No primeiro caso, acrescenta-se o verbo
mentalmente e, no segundo, o verbo se manifesta como uma palavra
própria, mas sem o radical.

Ensaios sobre língua e linguagem • 85


1. wenn das Seyn hinzugedacht wird.

Die Nebeneinanderstellung eines Adjectivs und Substantivs, mit


ausgelassenem Verbum substantivum ist in den hier verglichenen
Amerikanischen Sprachen eine der gewöhnlichsten Arten, Sätze zu
bilden.
Mexikanisch: in Pedro qualli, der Peter (ist) gut.
Totonakisch: aquit chixco, ich (bin) Mensch.
Huastekisch: naxe uxum ibaua tzichniel, dieses Weib (ist) nicht
deine Magd.
In einigen Sprachen kann nicht jedes Praedikat mit einem Subject
auf diese Weise verbunden werden, sondern nur Verbalien, oder gar
Participien.
Das Subject kann auch, statt eines Nomen, ein Pronomen,
entweder ein selbständiges, oder ein affigirtes seyn. In diesem letzten
Fall vorzüglich wächst die Verwandtschaft dieser Bezeichnungsart
mit einer Verbalform. Denn auch eine solche wird da, wo keine
Tempuscharakteristik hinzutritt, nur durch die Verbindung von einem
Attributivum, und einem Pronomen gebildet.
Indeβ ist das Verbum, als abgesonderter Redetheil nicht vorhanden,
wenn, wie auch die Form sonst sey, auf die hier betrachtete Weise ein
Verbum aus jedem Wort, nicht bloß mit den in der Sprache zu Verben
gestempelten gemacht werden kann, oder mit solchen die ausdrücklich
die Charakteristik des Nomen an sich behalten, und ich verweise daher
alle diese Fälle in diese Classe. Denn in allen diesen giebt es noch in
der That kein Verbum, sondern nur abgesonderte Sprachelemente mit
ausgelassenem Verbum.
Interessant aber werden diese Fälle, weil in ihnen eine stufenweise
Annäherung zum Verbum und mithin das Trachten des Sprachinstincts
nach dem Erreichen der grammatischen Form sichtbar ist.
Die affigirten Pronomina sind nun entweder eigne, nur dieser
Wortstellung gewidmete, oder zwar auch sonst in der Sprache, aber
nicht beim Verbum, oder nicht so gebräuchlich, oder die Pronominal-
Affixa des Verbum selbst.

86 • Wilhelm von Humboldt


1. Quando o conceito de Ser é acrescentado mentalmente

A justaposição de um adjetivo e de um substantivo ao verbo-


substantivo omitido é a maneira mais comum de se fazer frases nas
línguas americanas aqui comparadas:
No mexicano3: in Pedro qualli, ‘o Pedro (é) bom’.
No totonaco4: aquit chixco, ‘eu (sou) ser humano’.
No huasteca5: naxe uxum ibaua tzichniel, ‘esta mulher não (é) a sua
empregada’.
Em algumas línguas, não se pode ligar qualquer tipo de predicado
ao sujeito, apenas palavras de natureza verbal ou particípios.
O sujeito também pode ser um pronome, independente ou afixado,
em lugar de um substantivo. Caso seja afixado, o meio de expressão se
assemelha bastante a uma verdadeira forma verbal, porque a forma se
constitui, quando não tem uma marca de tempo, da combinação de um
atributo e um pronome.
Não haverá, contudo, um verbo como parte da oração – seja qual
for a forma –, se for possível transformar em verbo qualquer palavra
e não apenas aquelas que na língua foram marcadas como verbos, ou
aquelas que expressamente mantêm características dos substantivos.
Vou agrupar, então, todos esses casos nesta classe porque neles não
existe um verdadeiro verbo, mas tão somente elementos isolados sem
o verbo.
Esses casos são interessantes porque neles se manifesta uma
aproximação gradativa com o verbo e, por conseguinte, a aspiração do
instinto linguístico por alcançar uma forma gramatical.
Os pronomes afixados podem ser utilizados apenas nessa posição
sintática ou podem ter outras funções, mas sem ficar junto ao verbo,
ou então são afixos pronominais do próprio verbo, o que não é muito
comum.

Ensaios sobre língua e linguagem • 87


Die Mayische, oder Yucatanische Sprache hat ein eignes Pronomen,
welches, zu jedem Nomen gestellt, mit demselben einen Satz bildet, und
also die Kraft besitzt, den Begriff des Verbum einzufügen. Pedro en, ich
bin Peter. So wie es aber, ohne Praedicat, steht, verliert es diese Kraft,
und en allein kann nicht: ich bin heißen.
In der Betoischen Sprache giebt es zwar kein eignes Pronomen
hierfür, da das gebrauchte auch als Besitzpronomen dient. Aber
die Stellung bringt den Unterschied hervor, denn praefigirt ist
dies Pronomen, das sich übrigens wenig von dem persönlichen,
selbständigen unterscheidet, das Besitzpronomen, suffigirt ist es das
die Verbalkraft enthaltende; humanirru, Mensch (bin) ich, fofeirru,
böse (bin) ich. Auf die gleiche Weise bildet diese Sprache ein Verbum
substantivum, ajoirru. Die Bedeutung der Stammsilbe wird nicht
angegeben, sie scheint aber ein Etwas, ein Vorhandenes anzuzeigen.
Ausdrucksvoll ist es noch, daß in dieser Wortstellung der Accent
immer auf das Pronomen gelegt wird, als wolle man andeuten, daß
dies dabei die Hauptsache sey.
Daß das Nomen (um den Besitz) und das Verbum (um das
Subject anzuzeigen) sich desselben Pronomens bedienen, ist in den
Amerikanischen Sprachen sehr häufig. Man kann es daraus erklären,
daß die Handlung als ein Besitz des Handelnden angesehen werden
kann. Einfacher aber ist es anzunehmen, daß in beiden Fällen an die
Verbindung der Person mit dem Nomen, oder Verbum gedacht, und
diese Beziehung, wie sie der Sinn fordert, genommen wird, denn
daß man den Begriff bis zur Schärfe grammatischer Unterscheidung
bringe.
Der Nutzen, welchen die hier genannten Sprachen durch diese
Bildung von Sätzen vermittelst einer Auslassung des Verbum erreichen,
ist ein doppelter.
Sie können einmal dadurch jedes beliebige Nomen in ein Verbum
verwandeln, oder wenigstens, als solches, behandeln. Dies geschieht
nun zwar auch durch ein wirkliches Verbum substantivum, wo ein
solches vorhanden ist, aber da diese Sprachen, wie wir gesehen, das
Nomen zum Theil mit den Flexionssilben des Verbum selbst verbinden,
so geht diese Freiheit viel weiter.

88 • Wilhelm von Humboldt


Na língua dos maias, também chamada de língua de Iucatã6, existe
um pronome que, combinado com qualquer substantivo, forma uma
frase, tendo assim o potencial de introduzir o conceito verbal: Pedro en,
‘eu sou Pedro’. Mas sem o predicado o pronome perde esse potencial e o
en isolado não pode significar ‘eu sou’.
Na língua betoi7, não há um pronome específico para essa função
porque o pronome usado é, ao mesmo tempo, pronome possessivo,
mas a posição marca a diferença: como prefixo esse pronome, por sinal
bastante semelhante ao pronome pessoal, funciona como possessivo e,
como sufixo, contém a força verbal acima mencionada: humanirru, ‘eu
(sou) ser humano’, fofeirru, ‘mau eu (sou)’. O betoi forma um verbo-
substantivo do mesmo modo, ajoirru. O significado da sílaba radical
não é dado, mas parece que ela indica alguma coisa, algo existente.
Também é relevante observar que nessa composição sintática o acento
sempre recai no pronome, como se o falante sinalizasse que o pronome
é o elemento mais importante.
Um fenômeno muito frequente nas línguas americanas é o uso do
mesmo pronome em duas funções: com o substantivo para indicar posse
e com o verbo para marcar o sujeito. Uma possível explicação seria que
a ação é vista como uma propriedade daquele que age. Porém, parece
mais fácil supor que nos dois casos a ligação da pessoa com o nome
ou o verbo é deduzida intuitivamente, e essa relação é compreendida,
conforme exige o sentido, de modo a levar o conceito à acuidade
gramatical.
Essa maneira de formar frases mediante a omissão do verbo
proporciona dupla vantagem a essas línguas.
Nelas se pode transformar qualquer substantivo num verbo
ou, pelo menos, tratá-lo como um verbo. Isso também acontece com
os genuínos verbos-substantivos, mas, conforme vimos, como essas
línguas combinam os substantivos, em parte, com as sílabas flexionais
do verbo, há uma maior flexibilidade.

Ensaios sobre língua e linguagem • 89


Der zweite Vortheil dieser Bezeichnungsart ist, daß wo es
darauf ankommt, die zweifache Art des Verbum, wo es in der einen
ein energisches Attributiv zur Basis hat, in der andren bloß das
Zusammengehören eines Praedicats mit seinem Subject, einer Sache
und der in ihr ruhenden Eigenschaft, deutlich von einander zu
unterscheiden, dies viel besser auf diese Weise geschieht, als selbst durch
ein ausdrückliches Verbum substantivum, das durch seine vollständige
Verbalform immer an ein energisches Attribut erinnert.
Mehrere der hier genannten Sprachen verbinden zwar auch mit
diesen Wortstellungen, freier oder beschränkter, Partikeln der tempora
und somit ist in ihnen die Absonderung nicht rein. Aber in andren ist
dies nicht der Fall. In der Betoischen und Mayischen namentlich entsteht
durch die gewöhnliche Conjugation, und die mit dem Pronomen, eine
zweifache Conjugation mit, und ohne Zeitbestimmung, und da in
diesen beiden Sprachen das Praesens der wahren Conjugation, auch
als tempus, eine Charakteristik hat, so entsteht durch die andere Art
der Conjugation ein abgesonderter Aorist des Praesens, desgleichen die
cultivirten Sprachen nicht auf gleich bequeme Weise bilden können.

2. Wenn das Seyn in einem eigenen Worte, aber ohne


Wurzellaut dargestellt wird.

Obgleich die hier ausgedrückte Annahme auf den ersten Anblick


etwas räthselhaft klingt, so sieht man doch bald, daß, wenn das Seyn,
ohne Wurzellaut, in einem Wort dargestellt werden soll, dies nur durch
die Charakteristik der Person, mithin das Pronomen, mit oder ohne
Tempus-Charakteristik seyn kann.
Wirklich verhält es sich nun in zwei Sprachen auf diese Weise, in
der Mayischen und der Yarurischen.
Von der Mayischen haben wir oben gesehen, daß sie ein eignes
Pronomen besitzt, um mit dem Begriff der Person ein Praedicat
in einem Satz zu verbinden. Es giebt aber in ihr auch ein andres,
welches für sich, und allein stehend den Verbalbegriff mit sich führt,
und von dem jede Person sowohl die Bedeutung der Pronomen, als
des Verbum substantivum hat; ich und ich bin, du und du bist u.s.f.

90 • Wilhelm von Humboldt


A segunda vantagem está na natureza dupla do verbo, que tem
o potencial de diferenciar de forma mais nítida os casos em que há
um atributo dinâmico8 como base daqueles em que ocorre a simples
junção de um predicado com um sujeito, ou seja, de uma coisa com as
qualidades inerentes a ela. Essa distinção é estabelecida de modo mais
claro do que com um verbo-substantivo expresso que, pela forma verbal
completa, sempre faz alusão a um atributo dinâmico.
Algumas das línguas aqui mencionadas combinam partículas
temporais com a ordem das palavras, ora de forma mais livre, ora
mais limitada, e por isso a diferenciação não é pura, mas existem
também aquelas que não procedem assim. Particularmente nas línguas
maia e betoi forma-se, por meio da conjugação normal e por aquela
com pronome, uma dupla conjugação com e sem marca temporal. E
como nessas duas línguas o presente da conjugação normal tem uma
marca temporal, a outra conjugação representa um distinto aoristo do
presente, que as línguas mais desenvolvidas não conseguem formar tão
comodamente.

2. Quando o Ser é representado por uma palavra própria,


mas sem radical

Mesmo que a suposição aqui formulada pareça um pouco


enigmática à primeira vista, vê-se logo que, quando o Ser é expresso
sem um radical na própria palavra, isso só pode acontecer se houver
uma pessoa gramatical, ou seja, através de um pronome, com ou sem
marca de tempo.
Na realidade, somente duas línguas se comportam desse modo: o
maia e o yaruro9.
Conforme vimos acima, a língua maia tem pronomes
específicos para ligar um predicado com o conceito de pessoa numa
frase. Mas existem outros pronomes que, quando aparecem em
posição isolada, implicam o conceito verbal e têm o significado
de pronome e de verbo-substantivo: ‘eu e eu sou’, ‘tu e tu és’ etc.

Ensaios sobre língua e linguagem • 91


Es wird aber nicht allein auf diese Weise im Praesens abgewandelt,
sondern nimmt auch die Kennzeichen der tempora an. Von dem
zweiten, früher erwähnten Pronomen derselben Sprache unterscheidet
es sich in den beiden ersten Personen des Sing. und Plur. (die dritten
kommen von einem andren Stamm) nur durch ein hinzu kommendes
t, folgendergestalt.

Pronomen, das mit einem Praedicat Pronomen, das für sich Verbalkraft
den Verbalbegriff verbin det besitzen
1. en 1. ten
2. ech 2. tech
3. lailo 3. lai
4. on 4. toon
5. ex 5. teex
6. ob 6. loob

Diese Ähnlichkeit leitet auf den Gedanken, daß in dem t ein


wirklicher Wurzellaut liegen könne, und so scheint Alles zusammen zu
treffen, um dies Wort nicht für ein Pronomen, sondern für ein wirkliches
Verbum substantivum zu halten. Doch liefe dies immer auf Eins hinaus.
Denn die Thatsache ist nicht zu läugnen, daß dies Wort zugleich als bloßes
Pronomen und Verbum subst. dient, und bald so, bald anders gebraucht
wird. In der Uebersetzung des Vater-Unser kommt toon deutlich als
bloßes Pronomen vor. Wenn t ein Wurzellaut ist, so kann er dies auch
vom Pronomen seyn. Es giebt sichtbar solche in einigen Sprachen. In der
Maipurischen z. B. finden sich die Ausdrücke für die 3. pers. sing. durch
alle andre Personen hindurch wieder, eben als hieße dieser Laut die
Person, der Mensch überhaupt, und die Pronomina der andren Personen
in dieser Zusammensetzung die Ich-Person, die Du-Person u.s.f.
In der Sprache der Achagua haben die Pronomina aller Personen
den nemlichen Wurzellaut, der aber nicht, wie in der Maipurischen, in
der 3. pers. sing. allein steht, sondern auch in ihr, wie in den übrigen
Personen, mit einem Affixum verbunden ist.
Auf jeden Fall aber leistet dies Mayische Pronomen vollständig die
Dienste eines Verbum substantivum, und es giebt kein anderes in der
Sprache.

92 • Wilhelm von Humboldt


Esses pronomes não são modificados apenas no presente, mas recebem
também as marcas dos tempos. Eles se distinguem do segundo tipo de
pronome dessa língua, já mencionado acima, na primeira e na segunda
pessoa do singular e do plural (as terceiras pessoas vêm de um radical
diferente) apenas pelo acréscimo de um t.

Pronomes que conectam o conceito Pronomes que têm força verbal


verbal a um predicado: própria:
1. en 1. ten
2. ech 2. tech
3. lailo 3. lai
4. on 4. toon
5. ex 5. teex
6. ob 6. loob

Essa semelhança sugere que no t há um verdadeiro radical, e tudo


leva a crer que ele pode ser um verdadeiro verbo-substantivo e não
um pronome. Essa interpretação não altera nada porque não se pode
negar que essa palavra exerce as duas funções, mero pronome e verbo-
substantivo, e que é utilizada às vezes como pronome, às vezes como
verbo-substantivo. Na tradução do Pai Nosso, toon ocorre claramente
como mero pronome. Quando t é um radical, então ele também pode
ser do pronome. É evidente que esse fenômeno existe em algumas
línguas. Na língua maipure10, por exemplo, a designação da terceira
pessoa do singular está em todas as outras pessoas, como se esse som
significasse ‘pessoa’, ‘ser humano’ em geral, e os pronomes das outras
pessoas seriam, consequentemente, ‘eu-pessoa’, ‘tu-pessoa’ etc.
Na língua dos achaguá11, os pronomes de todas as pessoas têm o
mesmo radical, mas esse radical não aparece, como na língua maipure,
apenas na terceira pessoa, ele está conectado a todas as pessoas por
um afixo.
Em todo caso, os pronomes da língua maia servem plenamente
como verbo-substantivo, e não existem outros na língua.

Ensaios sobre língua e linguagem • 93


Es ist auch sehr begreiflich, daß in der Vorstellungsweise roher
Völker der Begriff eines Gegenstandes und besonders einer Person gar
nicht so getrennt seyn kann von dem Begriff seines Daseyns. Dies findet
auch auf die im Vorigen angeführten Wortstellungen Anwendung. Wo
uns eine harte und ungrammatische Auslassung des Verbum zu seyn
scheint, ist bei jenen Völkern vermuthlich ein dunkles Zusammendenken,
ein Nichtunterscheiden des Gegenstandes vom Seyn. Vermuthlich
rührt es auch daher, daß in einigen Amerikanischen Sprachen jedes
Adjectivum so zusammengesetzt ist, daß es nicht sowohl den bloßen
Begriff, als vielmehr den Ausspruch enthält: es ist so und so beschaffen.
In der Yarurischen Sprache wird die Abwesenheit eines
Wurzellauts, welcher seyn bedeutete, noch sichtbarer. Jede Person des
Pronomens macht ein verschiednes Wort, und kein Buchstabe ist allen
gemeinschaftlich. Auch ist das Pronomen, welches die Verbalkraft
besitzt, bis auf kleine Verschiedenheiten, dasselbe, als das selbständige
persönliche. Die Kennzeichen der tempora werden ihm praefigirt. So
heißt que, ich bin, ri-que, ich war u.i.f. Dies ri aber ist nichts andres, als eine
Partikel, welche ein Entfernen von einem Gegenstand ausdrückt, und
unsrem von entspricht. Ui-ri-di, es war Wasser da, wörtlich: Wasser fern es.
Streng genommen sind die beiden hier erklärten
Verbalbezeichnungen mit den im Vorigen aufgeführten einerlei. Auch
hier wird das Verbum hinzugedacht. Der Unterschied aber besteht
darin, daß die Pronomina hier für sich allein schon das Seyn bedeuten,
und es also gleichsam in sich enthalten, statt daß in jenen Fällen der
Begriff davon erst durch das Zusammentreten eines Subjects und
Praedicats geweckt wird. Auch kommt noch dazu, daß, besonders in
der Mayischen Sprache, ein eignes, und nur dies Pronomen (indem es
mehrere giebt, welche die Yarurische nicht hat) diese Eigenschaft besitzt.
Wie die Formen nun sind, sehen diese vollkommen einem wahren
Verbum ähnlich, und wenn man dies que und ten als bloße Verba subst.
vorstellte, so würde der, welcher ihre Elemente nicht untersuchte, sie
ebenso für wahre Verba annehmen, als die Sanskritischen bhu und as,
das Griechische εἰμὶ. und lat. sum. Das Beispiel dieser Sprachen kann
auch bei der Analyse der Wörter, welche andre Sprachen als Verb. subst.
brauchen, dienen, und lehren, daß nicht nothwendig in denselben ein
gemeinschaftlicher Wurzellaut gemacht zu werden braucht.

94 • Wilhelm von Humboldt


É perfeitamente compreensível que no imaginário de povos menos
cultos o conceito de uma coisa e especialmente de uma pessoa não
¿TXHPWmRGLVWDQWHVGRFRQFHLWRGHVXDH[LVWrQFLD(VVDQRomRWDPEpP
pode ser aplicada à ordem das palavras, já mencionada. O que nos
parece uma dura e agramatical omissão do verbo provavelmente é para
esses povos uma noção obscura, uma não-distinção entre a coisa e o
Ser. Isso talvez seja também responsável pelo fato de que, em algumas
línguas americanas, todos os adjetivos sejam compostos de tal modo
TXHQmRFRQWHQKDPRPHURFRQFHLWRPDVDQWHVGHWXGRDH[SUHVVmRp
assim porque se diz assim.
Na língua yaruro, a ausência do radical que significaria ser fica ainda
mais visível. Para cada pessoa existe uma forma pronominal diferente,
que não compartilha sequer uma letra com as outras. Os pronomes que
têm força verbal – fora pequenas diferenças – e os pronomes pessoais
independentes são os mesmos. Os tempos são marcados por prefixos.
Que, por exemplo, significa ‘eu sou’, ri-que ‘eu fui’, etc. Este ri, entretanto,
nada mais é do que uma partícula que expressa a distância em relação ao
objeto e tem uma função semelhante ao nosso longe de. Ui-ri-di significa
‘havia água’, ou seja, ‘água longe de’ (do falante).
A rigor, os dois significados verbais aqui explicados são
basicamente iguais aos expostos acima. Aqui também o verbo está
sendo acrescentado mentalmente. Mas a diferença reside no fato de
que, nesse último caso, os pronomes já significam Ser, i.e., os próprios
pronomes contêm esse conceito, não sendo necessária a combinação
de um sujeito e um predicado para introduzir o conceito verbal. Deve-
se acrescentar que, notadamente na língua maia, é um determinado
pronome que compreende essa qualidade (existem vários nessa língua
que a língua yaruro não tem). O modo como as formas se mostram
tem muita semelhança com os verdadeiros verbos e, caso que e ten
fossem apresentados como simples verbos-substantivos, alguém que
não analisasse seus elementos os aceitaria como verdadeiros verbos,
como bhu e as do sânscrito, İੁȝ੿ do grego e sum do latim. Os exemplos
dessas línguas também podem auxiliar na análise das palavras usadas
como verbos-substantivos em outras línguas e, assim, revelar que
nesses verbos-substantivos não precisaria necessariamente haver um
radical.

Ensaios sobre língua e linguagem • 95


II. Wenn der Begriff des Seyns dem Verbum körperlich
in der Form eines Hülfsverbum einverleibt ist.

Hülfsverba treten entweder nur für einzelne tempora ein, oder


bilden die ganze Conjugation. Das erstere entsteht aus zufälligen, sich
nur auf diese tempora, nicht auf die Bildung des Verbum allgemein
beziehenden Ursachen. Das letztere findet sich leicht, wenn ein einmal
vorhandenes Verbum subst. die Bequemlichkeit darbietet, jedes andre
Verbum durch bloße Verbindung mit ihm zu bilden. Bisweilen aber zeigt
die Conjugation durch ein Hülfsverbum auch an, daß der Sprachsinn
der Nation in dem Verbum, außer den Kennzeichen der Personen und
Tempora, noch etwas, die Verbalkraft selbst anzeigendes sucht, und
darum zu einem allgemeinen Verbum seine Zuflucht nimmt. Dies
kann zwar selbst doch nur aus jenen Elementen und dem Wurzellaute
bestehen. Aber der Mangel, dem abgeholfen werden soll, ist alsdann
doch in der Sprache nur einmal, und kehrt nicht in jedem Verbum
wieder.
Ein treffendes Beispiel hierzu giebt die Mayische Conjugation. Bei
ihrer Zergliederung stößt man auf ein Element, das weder zur Wurzel
gehört, noch Kennzeichen einer Person, eines tempus, oder Modus ist,
und wenn man ihre Verschiedenheiten und Umänderungen vergleicht,
so trift man durchaus eine große Sorgfalt an, auch die eigentliche
Verbalkraft in der Form des Verbum auszudrücken.
Die Conjugation in der Sprache der Maya wird durch Anfügung
des Pronomen, und der Charakteristik der tempora und modi an das
Stammwort gebildet. Das Pronomen ist, nach einem weiter unten zu
bestimmenden Unterschiede, entweder das Besitzpronomen, oder
dasjenige, welches, ohne für sich mit Verbalkraft versehen zu seyn,
sie dann erhält, wenn sich ein Praedicat zu einem Satz an dasselbe
anschließt.
Außerdem aber begleitet alle Verba, im Praesens und Imperfectum
das Suffixum cah, und alle transitiven durch die übrigen tempora, außer
dem Futurum, hindurch das Suffixum ah; Praes. 1. Pers. sing. canan-
in-cah, ich bewache. Imperf. 1. Pers.s. canan-in-cah-cuchi. Perf. 1. Pers.
Sing. in-canan-t-ah. In ist das Besitzpronomen, cuchi, die Charakteristik
des Imperfectum, das t im Perfectum ein euphonischer Buchstabe.

96 • Wilhelm von Humboldt


II. Quando o conceito de Ser está incorporado ao verbo
sob a forma de um verbo auxiliar

Os verbos auxiliares ou compõem a formação de certos tempos


ou constituem conjugações inteiras. O primeiro tipo se estabelece
aleatoriamente por motivos relacionados apenas aos próprios tempos,
não se referindo à formação do verbo em geral. O segundo tipo pode
ser facilmente encontrado nos casos em que um verbo-substantivo, já
existente, oferece a comodidade de compor qualquer outro verbo por
meio da simples combinação com um verbo auxiliar. Às vezes, porém, a
conjugação por meio de um verbo auxiliar também indica que o sentido
da linguagem12 da nação procura no verbo, além das marcas de pessoa
e de tempo, um elemento que indique a força verbal e, por isso, recorre
a um verbo geral. Os elementos que compõem o verbo podem ser tão
somente os acima mencionados, além de um radical. Mas o defeito a
ser corrigido existe na língua apenas uma vez e não se repete em cada
verbo.
Um bom exemplo para esse caso é a conjugação na língua maia. Ao
se analisar essa conjugação, descobre-se um elemento que não pertence
ao radical, nem marca pessoa, tempo ou modo e, quando se comparam
as diferenças e modificações das formas, depara-se com uma precisão
surpreendente na expressão da verdadeira força verbal.
A conjugação na língua maia é formada pela afixação do pronome
e dos marcadores de tempo e modo ao radical. O pronome ou é o
possessivo ou aquele que não tem força verbal em si, mas que ganha
essa força quando o predicado de uma frase se junta a ele. Trata-se de
uma distinção a ser delimitada mais adiante.
Além do mais, todos os verbos são acompanhados no presente e
no imperfeito pelo sufixo cah, e todos os verbos transitivos recebem
o sufixo ah nos outros tempos, à exceção do futuro: canan-in-cah, ‘eu
vigio’ (1ª pess. sing. do presente), canan-in-cah-cuchi (1ª pess. sing. do
imperfeito), in-canan-t-ah (1ª pess. sing. do prefeito). In é um pronome
possessivo, cuchi o marcador do imperfeito e o t, no perfeito, uma letra
eufônica.

Ensaios sobre língua e linguagem • 97


Der Begriff der transitiven Verba wird hier etwas enger, als
gewöhnlich genommen. Man versteht darunter nemlich nur diejenigen,
die ein andres außer ihnen stehendes Wort, als ihren Gegenstand,
regieren. Alle übrigen heißen intransitiva, folglich auch diejenigen,
die an und für sich Activa sind, aber entweder keinen bestimmten
Gegenstand haben (wie ich liebe, hasse u.s.f.) oder das von ihnen
regierte Wort im Verbum selbst enthalten, auf ähnliche Weise als die
Griechischen ȠੁțȠįȠȝȑȦ, ȠੁțȠįȠȦȑȦ. Da diese einen zweiten Accusativ
regieren können, so wird bei ihnen in der That der ihnen einverleibte
Gegenstand gleich in ihren Begriff mit aufgenommen.*
Die tempora der intransitiven Verba, außer dem Praesens und
Imperfecrum, sind, indem sie ah und das Besitzpronomen wegwerfen,
mit denjenigen Pronomen verbunden, welches mit einem Praedicat für
sich Sätze bildet.
Es giebt Fälle, wo das Praesens nicht nur das Suffixum cah, sondern
wo sogar das Stammwort, wenn es, wie bei vielen Verben der Fall ist, ein
ah zur Endsilbe hat, diese verliert, und an deren Stelle ic gesetzt wird.
Die Bedeutung ändert sich dann auch, und deutet ein gewöhnliches,
zur Eigenschaft gewordenes Handeln an. Da nun ic auch Charakteristik
eines Gerundium genannt wird, so scheint diese ganze Umänderung die
Verwandlung des Verbum in ein Verbale zu seyn, und alsdann muß, um
die Abwandlung zu bewirken, mit solchem Worte dasjenige Pronomen
verbunden werden, welches zugleich als Verbum subst. dient; ten
yacunic, ich liebe, eig. ich bin liebend.
Was cah und ahIUVLFKEHGHXWHQHUIlKUWPDQQLFKW'DZRcah
zum Stamm einiger Verba selbst gehört, drückt es Heftigkeit aus. Ah ist,
als Vorsilbe, Charakteristik des männlichen Geschlechts, der Bewohner
eines Orts, endlich der von Activverben gemachten Nomina. Hiernach
scheint es ursprünglich Person, Mann, angedeutet zu haben, dann
Pronomen und endlich Affixum geworden zu seyn. Merkwürdig ist, daß
zwischen ah und cah derselbe Unterschied ist, als zwischen en und ten.

* Ich bemerken hier gelegentlich, da‰GLHVRQVWDQGHQNKQHQ=XVDPPHQVHW]XQJHQVR


reiche Sanskrit-Sprache, wie die Deutsche, diese Verbindungen von Subst. und Verben
in demselben Wort nicht kennt. Im Lateinischen kommen sie, obgleich aber sparsam
vor; aedifico.

98 • Wilhelm von Humboldt


O conceito de verbos transitivos aqui tem um sentido um pouco
mais restrito do que o usual, abrangendo apenas os verbos que regem
uma palavra que ocorre além deles. Todos os outros verbos são vistos
como intransitivos, portanto também aqueles que, no fundo, são ativos,
mas que ou não têm um objeto determinado (como eu amo, eu odeio
etc.), ou já contêm a palavra regida, semelhante ao grego ȠੁțȠįȠȝȑȦ,
ȠੁțȠįȠȦȑȦ (‘construir‘). Como esses verbos podem reger um segundo
acusativo, na verdade o objeto neles incorporado é assimilado a seus
significados.*
Os tempos dos verbos intransitivos, exceto o presente e o
imperfeito, descartam o ah e o pronome possessivo, ao mesmo tempo
em que se juntam aos pronomes que formam propriamente frases em
combinação com um predicado. Existem casos em que o presente não
perde apenas o sufixo cah, mas o radical também perde a sílaba ah se ela
for a sílaba final, o que é o caso de muitos verbos. Nesses momentos, o
ah é substituído por ic. Isso também muda o significado e indica uma
ação tão habitual que se tornou quase uma qualidade. Como ic também
é considerada marca de gerúndio, todas essas modificações parecem
transformar o verbo numa perífrase verbal e, nesse caso, para efetuar
a transformação, a palavra tem de ser combinada com aquele pronome
que serve ao mesmo tempo de verbo-substantivo: ten yacunic, ‘eu amo’,
ou mais precisamente, ‘eu estou amando’.
Sobre o significado de cah e ah não se tem informações. Quando
cah faz parte do radical de alguns verbos, ele expressa intensidade. Ah,
como prefixo, é a marca do gênero masculino, dos habitantes de um
lugar e dos substantivos derivados de verbos ativos. Por isso, pode-
se inferir que originalmente indicava uma pessoa do sexo masculino,
para depois se tornar pronome e, finalmente, afixo. Um fato curioso
é que a diferença entre ah e cah é a mesma que existe entre en e ten.

* Gostaria de mencionar aqui que no sânscrito, uma língua rica em composições ousa-
das, como no alemão, não existe a combinação de substantivos e verbos numa mesma
palavra. No latim, elas ocorrem, como em aedifico, mas são parcas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 99


Das c könnte daher wohl auch ein Wurzellaut seyn. In der Cuniugation
wird cah ganz wie ein Verbum behandelt. Denn das Besitzpronomen
wird in dieser dem Wortstamm immer praefigirt. Da es nun im
Praesens und Imperfectum, wie die obigen Beispiele zeigen, sich
hinter das wahre Stammwort des Verbum, und vor cah stellt, so zeigt
sich an diesem Unterschied von canan-in-cah, und in-canan-t-ah, daß
im ersteren cah, und canan nur im letzteren als Verbum angesehen
wird. Canan-in-cah ist gerade, wie das Englische I do guard.
Cah also ist ein wahres Hülfsverbum, ten, wo es eintritt, auch,
bei en muß, seiner Natur nach dies Seyn hinzugedacht werden, ah
scheint ihm gleich, was es aber auch seyn möge, so begleitet es in der
Conjugation bloß transitive Verba, ist dann Charakteristik, und enthält
also die Verbalkraft des Seyns in sich. Daß wirklich cah und ah diese
Function in der Sprache besitzen, zeigt sich auch daraus, daß sie niemals
da gebraucht werden, wo schon eins der beiden, immer mit dem Begriffe
des Seyns verbundenen Pronomina vorhanden ist.
Die bestimmten Resultate dieser Auseinandersetzung sind daher:
1.) daß die Mayische Sprache in ihrer Conjugation, auβer den
Beugungssilben der Personen und Tempora, noch ein andres Element
besitzt, welches den Begriff des Seyns deutlich mit sich führt.
2.) daß diese Sprache ein Bemühen zeigt, in dem Verbum, außer
den andren Bestimmungen desselben, auch seine synthetische Kraft
zu bezeichnen, welches um so sichtbarer ist, als sie sich dazu, nach
Verschiedenheit der Fälle, verschiedener, aber zum gleichen Zweck
führender Mittel bedient.
Noch einfacher, und in die Augen fallender bildet die Yarurische
Sprache ihre ganze Conjugation durch ein Hülfsverbum.
Die Verbindung des Pronomen, und der Kennzeichen der
Tempora, welche, wie wir im Vorigen sahen, das Verbum subst. bildet,
macht, den Stammwörtern suffigirt, auch die Flexionssilben der einzigen
und ganzen Conjugation der attributiven Verba aus, nur daß noch die
selbständigen Pronomina vorgesetzt werden. Weder die Stammwörter,
noch jenes Hülfsverbum leiden dabei irgend eine Veränderung. Die
Verbindung bleibt aber dem ungeachtet immer nur locker, und wo
Person und Zeitbezeichnung von selbst aus dem Zusammenhange
hervorzugehen scheint, wird das Hülfsverbum auch wohl weggelassen.

100 • Wilhelm von Humboldt


Portanto, o c pode ser visto como um radical. Na conjugação, trata-
se cah completamente como um verbo, porque nela o pronome
possessivo é sempre prefixado ao radical da palavra. Desde que esteja
no presente ou no imperfeito, depois do verdadeiro radical do verbo
e antes de cah, como foi mostrado nos exemplos acima, a diferença
entre canan-in-cah e in-canan-t-ah ilustra que cah é visto como verbo
no primeiro exemplo, e canan, no segundo. Canan-in-cah é como o
inglês I do guard.
Cah, então, é um verdadeiro verbo auxiliar, e ten, onde é usado,
também. Já com en, em razão de sua natureza, o conceito de Ser dever
ser acrescentado mentalmente, e ah parece ser do mesmo tipo. De
qualquer modo, ah na conjugação só acompanha verbos transitivos,
sendo um marcador e, por isso, contém em si a força verbal do Ser. Que
cah e ah realmente têm essa função na língua pode ser evidenciado pelo
fato de que nunca são usados onde um dos dois pronomes que sempre
contêm o conceito de Ser esteja presente.
Os resultados obtidos nessas minhas deliberações, então, são:
1) a língua maia possui em sua conjugação não somente sílabas de
flexão de pessoa e de tempo, mas também outro elemento que contém
o conceito de Ser;
2) essa língua demonstra um esforço em atribuir uma força
sintética13 ao verbo, além de outras determinações verbais. Esse esforço
se torna mais claramente perceptível na medida em que a língua usa, a
depender da ocasião, diferentes meios que têm um fim comum.
Na língua yaruro, esse esforço é bem mais evidente, visto que ela
constrói a conjugação inteira por meio de um verbo auxiliar.
A combinação do pronome e dos marcadores dos tempos que
formam o verbo-substantivo, como vimos acima, também forma, ao
sufixar os radicais, a única e completa conjugação dos verbos atributivos,
além de os pronomes independentes funcionarem como prefixo. Nem
os radicais nem o verbo auxiliar sofrem qualquer modificação. Não
obstante, a ligação sempre fica frouxa e, onde a marca de tempo e de
pessoa parecem surgir do contexto, provavelmente o verbo auxiliar será
omitido.

Ensaios sobre língua e linguagem • 101


Die Bildung einzelner Tempora durch Hülfsverba ist auch in den
Amerikanischen Sprachen häufig vorhanden.
Ich erwähne aber hier nur eines, auch in andrer Beziehung
merkwürdigen Falles dieser Art in der Totonaka-Sprache.
Die Kennsilbe eines der beiden Perfecta, welche diese Sprache
besitzt, ist nit, und niy heißt sterben. Es ist nicht unwahrscheinlich,
daß jenes Affixum von diesem Verbum stammt, Tod und Vernichtung
sind passende Begriffe für den Ausdruck der Vergangenheit, und
andre Sprachen bedienen sich daher verneinender Partikeln zu
Charakteristiken des Praeteritum. In der Tamanakischen ist zwar
nicht gerade dies der Fall, aber die Verneinungspartikel puni zu einem
Worte gesetzt, das etwas Lebendiges bezeichnet, bedeutet, daß dasselbe
gestorben ist; papa puni (wörtlich: Vater nicht) der verstorbene Vater. In
der Sprache der Omagua heißt dasselbe Wort alt, vergangen, und nicht
vorhanden.
In der Maipurischen und Caribischen Sprache dagegen sind die
Verneinungspartikeln ma und spa zugleich Kennsilben des Praeteritum.
Bopps* Vermuthung daß das Sanskritische Augment ursprunglich
das a privativum sey, wird als o durch die Analogie dieser Sprachen
gestützt. Doch möchte ich darüber nicht entscheiden, da dies, das
Griechische Augment ε, und das Mexicanische o auch vielleicht nur
Lautverlängerungen sind, welche sinnbildlich die Länge der verflossenen
Zeit anzeigen sollen. Auf jeden Fall müßte man die Verneinung als eine
wirkliche Vernichtung, ein Gewesen und nicht mehr seyn, nicht als eine
Verneinung des Praesens ansehen.

III. Wenn der Begriff des Seyn‘s in der Verbalform nur


der Idee nach vorhanden ist.

Das Verbum besteht in diesem Fall nur aus dem Stammwort, den
Kennsilben der Personen, und denen der Tempora und Modi. Jene
sind ursprünglich Pronomina, diese Partikeln. Ehe nun beide durch
die abschleifende Aussprache ganz zu Affixen geworden sind, kommen
folgende drei Fälle vor:

* Annals of oriental literature. nr.1. p.26.

102 • Wilhelm von Humboldt


Também está presente nas línguas americanas, com frequência, a
formação de tempos específicos.
Aqui, todavia, vou mencionar só um desses casos na língua
totonaca, que aliás apresenta singularidades em outras áreas.
A sílaba que marca uma as duas formas de perfeito que essa língua
tem é nit, e niy significa ‘morrer’. É bastante provável que esses afixos
derivem do verbo porque morte e aniquilação são conceitos apropriados
à expressão de passado, e outras línguas empregam partículas negativas
para marcar o pretérito. Esse não é exatamente o caso na língua
tamanaku14, mas a partícula de negação puni, em conjunção com uma
palavra que designa ‘alguma coisa viva’, significa que esta morreu: papa
puni (literalmente: ‘pai não’) ‘o pai morto’. Na língua dos Omágua15, a
mesma palavra significa ‘velho, passado’ e ‘inexistente’.
Na língua maipure e na língua do Caribe16, as partículas de
negação ma e spa funcionam também como sílabas marcadoras do
pretérito. A suposição de Bopp* de que o aumento no sânscrito seja
originalmente o a privativo é apoiado pela analogia do o nessas línguas.
Mas eu não gostaria de dar uma opinião a esse respeito porque talvez
o a do sânscrito, o aumento grego ε e o mexicano o sejam apenas sons
prolongados para a indicação alegórica da duração do tempo que já se
passou. De qualquer modo, essa negação deveria ser vista como uma
verdadeira aniquilação, um existiu e não existe mais, e não como uma
negação do presente.

III. Quando o conceito de Ser existe apenas como ideia


expressa na forma verbal

Nesse caso, o verbo consiste somente do radical, das sílabas


marcadoras de pessoa e daquelas de tempo e modo. As primeiras
são originalmente pronomes, as segundas, partículas. Antes de esses
dois tipos se tornarem verdadeiros afixos pelo desgaste da pronúncia,
ocorrem os seguintes três casos:

* Annals of Oriental Literature, n.1, p.26.

Ensaios sobre língua e linguagem • 103


1.) daß alle jene drei Elemente gleich ausgeschieden, und gleich
locker verbunden sind.
2.) daß eine von beiden, die Bezeichnung der Personen, oder die
der Tempora und Modi eine festere Verbindung mit dem Stammwort
eingegangen, und zur Form geworden ist, die andre aber nur phrasenartig
daran angeschlossen wird.
3.) daß beide Bezeichnungen gleich fest mit dem Stammwort
zusammengeschmolzen sind, und das Ganze sich einer wahren
grammatischen Form nähert, wenn es auch dem Begriffe derselben
nicht volle Genüge leistet.

Erster Fall.
Ich wüßte hier nur die Sprache der Omagua zu nennen, da mir keine
andre mit so entschiedener Abwesenheit aller wahrhaft grammatischen
Formen im Verbum vorgekommen ist.
Die selbständigen Pronomina, die Stammwörter der Verba, und
die Partikeln der Tempora und Modi werden, ohne alle Abänderung,
und ohne alle engere Verbindung, bloß neben einander gestellt, und
nicht einmal die Ordnung in welcher dies geschieht, scheint fest zu
seyn; usu, gehen. 1. pers. sing. Praes. ta usu. 2. pers. sing. perf. avi ene
usu (ene ist das Pronomen, avi char. perf.).

Zweiter Fall
1.) Die Maipurische, Abiponische und Mbayische und
Mocobische Sprache stellen nur die Kennzeichen der Personen in
engere Verbindung mit dem Stammwort des Verbum, und lassen sich
die der Tempora und modi loser daran anschliessen. Sie haben daher
nur Einen, durch verschiedene Partikeln, oder aus solchen entstandene
Affixa in jedes Tempus, und jeden Modus zu verwandelnden Typus
der Personenformation. Dieser Typus, für sich betrachtet, macht
gewöhnlich das Praesens aus. Allein genau genommen kann man
ihm diesen Namen nicht beilegen. Denn auch die Charakteristiken
der andren Tempora werden weggelassen, wenn man glaubt ihrer, der
Deutlichkeit unbeschadet, entbehren zu können. Man erwartet nicht,
in gebildeten Sprachen etwas dieser Conjugationsform Aehnliches
anzutreffen. Dennoch findet es sich im Sanskrit und Griechischen.

104 • Wilhelm von Humboldt


1) os três elementos são igualmente diferenciados e ligados de
modo mais frouxo;
2) um dos marcadores, seja o de pessoa ou aqueles de tempo e
modo, se une de modo mais firme ao radical e se torna uma forma,
enquanto o outro elemento é perifrasticamente acrescentado;
3) ambos os marcadores se fundem igualmente com o radical de
modo firme, e esse conjunto se aproxima de uma verdadeira forma
gramatical, mesmo quando ainda não completou inteiramente o
conceito.

Primeiro caso
Nessa categoria só entra, que eu saiba, a língua dos Omágua,
porque nunca encontrei outra em que se manifeste uma ausência tão
definitiva das verdadeiras formas gramaticais no verbo.
Os pronomes independentes, os radicais dos verbos e as partículas
dos tempos e dos modos são justapostos sem qualquer modificação ou
uma ligação mais firme, e sequer a ordem parece fixa: usu, ‘ir’, ta usu (1ª
pess. sing. do presente), avi ene usu (2ª pess. sing. do perfeito; ene é o
pronome, avi, a marca do perfeito).

Segundo caso
1) As línguas maipure, abipone, mbayá e mocovi17 estabelecem
uma ligação relativamente estreita entre os marcadores de pessoa e
o radical do verbo, mas conectam os tempos e os modos de maneira
mais frouxa. Por isso, elas têm quanto à pessoa apenas um tipo de
informação, que se origina de partículas ou afixos delas derivados
e que deve ser modificado em todos os tempos e modos. Esse tipo,
visto isoladamente, representa normalmente o presente. Mas, a bem
dizer, não se deveria lhe atribuir essa denominação, pois também os
marcadores dos outros tempos podem ser omitidos quando se acredita
que a precisão não vai sofrer com a ausência deles. Não se espera
encontrar algo semelhante a essa forma de conjugação em línguas
mais desenvolvidas. Mesmo assim, ocorre no sânscrito e no grego.

Ensaios sobre língua e linguagem • 105


Die jetzt bedeutungslose Partikel sma verwandelt, wenn sie sich im
Sanskrit hinter das Praesens stellt, dies in eine vergangene Zeit, und im
Griechischen bringt ἄν mit dem Indicativus den Conjunctivus hervor.
2.) In den bisher betrachteten Sprachen machten also die
Personenzeichen mit dem Worte die Conjugation aus, und die übrigen
Kennsilben schlossen sich nur gleichsam äußerlich und locker an.
Der umgekehrte Fall, doch nicht vollkommen und rein, findet sich in
der Sprache der Lule. Die Charakteristiken der Tempora und Modi
sind nemlich unmittelbar, und fest, zum Theil nur aus einzelnen
Buchstaben bestehend, dem Stammwort angefügt, und mit diesen
Verbindungen vollenden Pronomina, die Conjugation. Diese sind aber
die gewöhnlichen Possessiva, so daβ Nomen und Verbum dadurch zum
Theil zusammenfallen, und z. B. came so gut: ich esse, als meine Speise,
cumuee so gut: ich heirathe, als mein Weib heißt, nur in wenigen Fällen
sind die Verbal-Pronomina von den possessiva verschieden.
Die Personenzeichen sind folglich hier selbständige, auch sonst in
der Sprache vorkommende Elemente, und die der Tempora und Modi
dagegen wahre Affixa.
Die Sprachen der Mbaya, Abiponen, Mocobi und Lule sind,
sowohl den Worten, als einigen grammatischen Formen nach, nahe mit
einander verwandt. Es ist daher um so wunderbarer, daß die letzte in
der ursprünglichen Bildung des Verbum ein Princip befolgt, welches
dem der drei ersten Sprachen beinahe entgegengesetzt ist.
Dritter Fall
Die Sprachen, deren Conjugation in diese Classe gehört, nähern
sich den höher gebildeten, in welchen jede Verbalbeugung eine eigne
und feste Form ausmacht. Sowohl die Personen, als Tempus- und
Modus Kennzeichen sind mit dem Stamme des Verbum verbunden,
ohne daß diese Verbindung bei der einen oder andren Gattung dieser
Affixa fester, oder loser genannt werden kann.
Allen hier zusammenzustellenden Conjugationen fehlt indeß
immer noch viel an derjenigen Festigkeit der Formen, welche den Geist
grammatisch befriedigt.
Die Elemente stehen wohl regelmäßig, und bestimmt bei einander,
sind aber nicht eigentlich in einander verschmolzen und daher leicht
erkennbar.

106 • Wilhelm von Humboldt


A partícula sânscrita sma, que hoje em dia não tem mais significado,
quando colocada depois do presente, transforma-o em tempo passado
e, no grego, o ਙȞ com o indicativo gera o subjuntivo.
2) Nas línguas que foram contempladas até agora, a conjugação
é formada pelos marcadores de pessoa junto com a palavra radical,
e as outras sílabas marcadoras são anexadas de uma forma mais ou
menos solta e periférica. Um caso oposto, ainda que não totalmente, é a
língua do povo lule18. Os marcadores de tempo e de modo, que às vezes
consistem em apenas uma letra, juntam-se direta e fixamente ao radical,
e com essas combinações os pronomes completam a conjugação. Mas os
pronomes são normalmente pronomes possessivos e, por conseguinte,
substantivos e verbos são parcialmente iguais. Por exemplo, came pode
significar ‘como’ ou ‘minha comida’, cumuee, ‘eu caso’ ou ‘minha esposa’.
São raros os casos em que os pronomes verbais são diferentes dos
pronomes possessivos.
Por consequência, os marcadores da pessoa são elementos
independentes que também ocorrem em outros momentos na língua,
enquanto os marcadores de tempo e modo são verdadeiros afixos.
As línguas mbayá, abipone, mocovi e a de Lule são bastante
aparentadas quanto ao léxico e a certas formas gramaticais. Por isso,
é bastante estranho que a língua de Lule siga, na formação original
do verbo, um princípio que é quase o inverso daquele das outras três
línguas.

Terceiro caso
As línguas cuja conjugação pertence a essa classe se aproximam
daquelas mais desenvolvidas em que toda flexão verbal apresenta uma
forma própria e fixa. Tanto os marcadores de pessoa quanto os de tempo
e modo se juntam ao radical do verbo sem evidenciar a diferença em
termos da qualidade da ligação, se mais firme ou mais frouxa.
Todas as conjugações aqui agrupadas, entretanto, carecem ainda
daquela estabilidade das formas que satisfaz o espírito no aspecto
gramatical.
Os elementos são justapostos regularmente, mas, na realidade, não
se fundem e, por isso, são facilmente reconhecíveis.

Ensaios sobre língua e linguagem • 107


Sie finden sich sonst, außer dem Verbum, in der Sprache in
selbständiger Form wieder entweder ohne alle Veränderung oder mit
sehr kleiner Umbeugung der Laute, die Personen zeichen als Pronomina,
die übrigen Affixa als Partikeln.
Das Verbum ist in seiner Zusammensetzung trennbar, und
nimmt, wie es der Zusammenhang der Rede fordert, andre Redetheile
in sich auf.
Keine amerikanische Sprache ist in ihrer Conjugation von allen
diesen Hindernissen der Festigkeit der Form frei, in vielen finden sich
alle drei, in den meisten wenigstens das erste und letzte. In den wahrhaft
grammatisch gebildeten Sprachen dagegen, der Sanskritischen,
Griechischen, Lateinischen, Deutschen trift man keinen dieser Mängel
an. Das Verbum nimmt nichts von demjenigen, was es regiert, in
seine Mitte auf, die den Stamm modificirenden Affixa haben alle
Selbständigkeit verloren, und die Unterscheidung selbst der Elemente
der Formen wird eine schwierige, philologische Aufgabe, deren Erfolg
oft mislingt, und der nur sehr selten zu wirklicher Evidenz gelangt.
In einzelne Beispiele dieser Verbal formen einzugehen, würde in ein
ermüdendes Detail führen. Ich erwähne daher nur der merkwürdigen
Eigenthümlichkeit der Mexikanischen Sprache, an dem Verbum selbst
auch den Gegenstand auszudrücken, den es regiert. Dies ist zwar
mehreren Amerikanischen Sprachen eigen, allein die Mexikanische
ist unter allen mir bekannten diejenige, welcher das Aufnehmen der
regierten Redetheile in die Verbalform am meisten eigen ist, und
welche diese Eigenthümlichkeit vorzüglich ausgebildet hat. Das regierte
Nomen wird mitten in das Verbum gesetzt, geht dies nicht an, so wird
es durch ein vertretendes Pronomen, im Verbum doch im voraus.
Sind zwei regierte Redetheile da, ein Accusativ, und Dativ, so werden
auch zwei ihnen entsprechende Pronomina eingeschoben, und ist kein
regiertes Object vorhanden, aber das Verbum doch von der Natur, daß
es gewöhnlich eins, die Sache, oder Person, oder beide mit sich führt,
so treten zwei unbestimmte Pronomina in das Verbum. Alle diese
Einschiebungen geschehen, und in festbestimmter Regelmäßigkeit,
zwischen dem Personenzeichen und dem Stammwort des Verbum.

108 • Wilhelm von Humboldt


Encontram-se esses elementos também fora do verbo de forma
independente, ora sem qualquer modificação, ora com pequenas
mudanças fonéticas, os marcadores de pessoa como pronomes e os
outros afixos como partículas.
A composição verbal é decomponível e o verbo absorve outras
partes da oração se o contexto do discurso assim exigir.
Nenhuma língua americana é livre desses obstáculos à estabilidade
das formas em sua conjugação, em muitas há os três, e na maioria
pelo menos o primeiro e o último. Em línguas com gramáticas
verdadeiramente desenvolvidas, como o sânscrito, o grego, o latim e o
alemão, não se encontra nenhum desses defeitos. O verbo não absorve
qualquer dos elementos regidos19, os afixos que modificam o radical
perderam toda a independência e até mesmo separar os elementos das
formas se torna uma tarefa filológica deveras difícil, que frequentemente
fracassa e que muito raramente produz evidências concretas.
Abordar os pormenores da forma verbal resultaria em detalhes
cansativos. Assim, vou mencionar apenas a estranha singularidade
da língua mexicana de expressar no próprio verbo o elemento por ele
regido. Trata-se de uma característica de várias línguas americanas,
mas a língua mexicana, entre todas que eu conheço, é a que mais
se destaca pela integração dos elementos regidos ao verbo e a que
desenvolveu essa peculiaridade de forma mais notável. O substantivo
regido é colocado no meio do verbo e, se isto não for possível, ele
vai ser anunciado por um pronome substituto no verbo. Se houver
dois elementos regidos, um acusativo e um dativo, serão inseridos
os respectivos pronomes e, se não houver nenhum objeto regido,
mas o verbo for do tipo que normalmente leva um objeto referente
a uma pessoa, a uma coisa ou às duas, dois pronomes indefinidos
serão integrados ao verbo. Todas essas inserções ocorrem de modo
fixo e regular entre o marcador de pessoa e o radical do verbo.

Ensaios sobre língua e linguagem • 109


Das Mexikanische Verbum drückt also allemal entweder einen ganzen
Satz wirklich aus, oder giebt doch immer das vollständige Schema,
und die Andeutung aller Theile desselben, die nur hernach weiter
ausgebildet werden; es sagt z. B. ich gebe einem etwas, in Einem
Wort, nitetlamaca, und bestimmt hernach wer und was dieser und
dieses ist. Daraus folgt aber auch unabänderlich, daß ein Theil der
Verbalform dem Sinn und Zusammenhang der Rede nach, immer
wechselnd ist, und daß das regierende Pronomen bald unmittelbar
vor dem Stammwort steht, bald von ihm durch ein, oder mehrere
Silben, bestimmte, oder unbestimmte Pronomina, und selbst durch
Substantiva getrennt wird. Geht man nun in Gedanken noch einmal
die verschiedene Bildungsart der hier zergliederten Verbalformen
durch, so ergiebt sich ein allgemeines, über den ganzen Organismus
dieser Sprachen Licht verbreitendes Resultat.
Das Herrschende und Vorwaltende in ihnen ist das Pronomen,
mit allen zur Sprache kommenden Gegenständen wird der Begriff der
Person verbunden.
Nomen und Verbum sind nicht an sich verschieden, sie werden es
erst durch das sich mit ihnen verbindende Pronomen.
Denn der Gebrauch dieses spaltet sich in zwei Theile, von denen
der eine dem Nomen, der andre dem Verbum zugewandt ist. Beide
verbinden sich aber in dem Begriff des Gehörens zur Person, als Besitz
beim Nomen, als Energie beim Verbum. Darauf aber, ob diese Begriffe
dunkel in einander verwirkt sind, oder sich bestimmt und deutlich
scheiden, beruht hauptsächlich die grammatische Vollkommenheit
der Sprache. Die richtige Abtheilung der Gattungen des Pronomens ist
daher für dieselbe entscheidend, und in dieser muß man bei weitem der
Mexikanischen den Vorzug geben.
Es entsteht hieraus, daß die Redenden gewissermaßen mehr in
jedem Augenblick das Verbum machen, als sich eines vorhandenen
bedienen, und eine weitere Folge hiervon ist es, daß die Verbalbildung
fast in jeder Sprache nur Eine, auf alle einzelnen Verba passende ist,
daß es wesentlich nur Eine Conjugation giebt, und daß die einzelnen
Verba, einige wenige unregelmäßige etwa ausgenommen, keine
Eigenthümlichkeiten darbieten.

110 • Wilhelm von Humboldt


Portanto, o verbo mexicano sempre expressa uma frase inteira
ou oferece o esquema dela, indicando as partes que têm de ser
elaboradas: o verbo expressa, por exemplo, em uma só palavra a
frase ‘eu dou algo a alguém’, nitetlamaca, e depois determina a quem
e o que dá. As consequências inevitáveis desse procedimento são que
a forma verbal sempre varia, a depender do sentido e do contexto do
discurso, e que o pronome regente às vezes ocorre imediatamente
antes do radical e às vezes está separado deste por uma ou várias
sílabas, pronomes definidos ou indefinidos e até por substantivos.
Quando se revisam mentalmente os diferentes modos de formação
das formas verbais aqui analisadas, surge um resultado que ilumina
o organismo inteiro dessas línguas.
O elemento predominante e mais importante nessas línguas
é o pronome, porque associa o conceito de pessoa a todos os objetos
tematizados.
O substantivo e o verbo, em si, não são diferentes, sendo a diferença
estabelecida apenas pelo pronome anexado a eles.
O uso do pronome se divide em duas partes, das quais uma é
voltada ao substantivo e a outra ao verbo. Mas ambas estão associadas
ao conceito de pertencer à pessoa, como propriedade no caso do
substantivo e como energia no caso do verbo. A perfeição gramatical
de uma língua baseia-se principalmente na seguinte questão: se esses
dois conceitos são vagamente entrelaçados ou claramente distintos.
Por isso, uma clara separação da classe dos pronomes é decisiva
para essa perfeição e, a esse respeito, a língua mexicana destaca-se
formidavelmente.
Uma das consequências dessa divisão é que os falantes, até certo
ponto, criam verbos constantemente em vez de usar os existentes; outra
é que existe, em quase todas essas línguas, um só tipo de composição
verbal que se aplica a todos os verbos, ou seja, no fundo há apenas
uma conjugação e os verbos, exceto por algumas irregularidades, não
revelam peculiaridades.

Ensaios sobre língua e linguagem • 111


Im Griechischen, Lateinischen, Alt-Indischen ist dies anders. Viele
Verba müssen da einzeln studirt werden, weil sie einzelne Ausnahmen,
Lautveränderungen, Mangel, und überhaupt sie charakterisirende
Individualität an sich tragen.
Der Unterschied zwischen diesen gebildeten, und jenen roheren
Sprachen ist gewiß großentheils nur einer der Zeit, und einer mehr oder
weniger glücklichen Mischung verschiedenartiger Dialecte. Allein zum
Theil liegt er gewiß auch in den ursprünglichen Anlagen der Nationen.
Diejenigen, deren Sprachen wir hier zergliedert haben, setzen im
Sprechen ewig die Elementartheile der Rede zusammen, verbinden diese
nicht fest, weil sie dem wechselnden Bedürfniß folgen, bringen immer
soviel zusammen, als das Bedürfniβ ihnen jedesmal zu erheischen
scheint und lassen oft verbunden, was die Gewohnheit des Gebrauches
verknüpft, wenn auch die scharfe Absonderung der Gedanken es
nothwendig trennen würde.
Daraus kann nun keine richtige Wortabtheilung entstehen, nicht
für die Richtigkeit und Angemessenheit des Gedankens, wo das Wort
nur eine gewisse Masse wohl in sich geschlossenen Inhalts, und eine
bestimmte grammatische Form haben muß, noch für die Forderungen
des Ohrs.
Nationen von höheren Geistes und Sinnes-Anlagen werden für
diese richtige Abtheilung Gefühl haben, das Zusammenfügen und
unaufhörliche Verschieben bloßer Elementartheile wird ihnen widrig
seyn, sie werden auch in den Wörtern wahre Individualität suchen,
daher fest verbinden, nicht zu viel in Ein Ganzes versammeln, und nur
zusammen lassen, was dem Gedanken nach zusammengehört, nicht
was bloß der Gebrauch oft, oder sogar gewöhnlich verknüpft.

112 • Wilhelm von Humboldt


Em grego, latim e sânscrito é diferente. Muitos verbos têm de ser
analisados separadamente porque manifestam exceções particulares,
mudanças sonoras, falhas, de modo geral, suas características individuais.
A diferença entre essas línguas desenvolvidas e aquelas
subdesenvolvidas reside, em grande parte, na cronologia20 e em uma
mistura de dialetos mais ou menos bem-sucedida, mas, em parte, com
certeza também na predisposição original das nações.
Essas nações cujas línguas foram aqui analisadas combinam
continuamente na fala as partes elementares do discurso e não as juntam
de uma forma fixa porque seguem necessidades diversas, associando
somente os elementos que a respectiva necessidade parece requerer e
frequentemente deixam conectados aqueles que foram juntados pelo
uso, mesmo quando a clara separação dos pensamentos pediria um
discernimento perspicaz.
Disso não pode nascer uma adequada diferenciação das classes de
palavras, nem para a exatidão e conveniência do pensamento, para o
qual a palavra deve ter um conteúdo bem definido e uma determinada
forma gramatical, nem para as exigências do ouvido.
Nações com um espírito linguístico mais sensível e mais
sofisticado terão maior sensibilidade para com essa diferenciação e
oferecerão resistência ao incessante movimento das partes elementares.
Elas vão procurar uma verdadeira individualidade nas palavras e,
consequentemente, criar combinações fixas, não vão aglomerar
elementos demais numa unidade e vão deixar ligados aqueles que
o pensamento juntou e não aqueles que foram frequentemente
combinados apenas pelo uso.

Ensaios sobre língua e linguagem • 113


— Comentário —
O propósito explícito deste texto é ser a continuação do discurso sobre
o surgimento das formas gramaticais, além de responder à questão geral da
gramática sobre a realização da verbalidade em diferentes línguas. Trata-
se, em especial, de ilustrar a aproximação gradual das diferentes línguas
americanas à formalidade gramatical, aprofundando assim, com novos
exemplos, os argumentos contra Schlegel.
Humboldt resume o contexto mais abrangente do qual o presente
discurso foi tomado da seguinte maneira: “Acredito, por tudo o que foi exposto
até agora, que eu tenha demonstrado suficientemente como é possível que
as línguas tenham uma grande multiplicidade de supostas formas e possam
designar todas as relações gramaticais com suficiente clareza e precisão,
mas que lhes falta, em geral e como um todo, o caráter de uma verdadeira
formalidade gramatical e que deste fato se origina uma diferença verdadeira
e essencial, mas gradual” (3r do Ms.).
A fim de averiguar “em que sentido essas línguas têm formas gramaticais”,
não se precisa examinar toda a gramática, mas apenas se concentrar no “mais
significativo elemento da oração”, o verbo. E sobre este, trata-se de saber “o
que é que faz do verbo um verbo, a designação característica da verdadeira
natureza verbal” (4r do Ms.).
Além das perguntas linguísticas gerais sobre a verbalidade e as formas
gramaticais, o discurso documenta particularmente bem o trabalho de
Humboldt com as línguas americanas. Por isso, acrescentamos informações
sobre as línguas mencionadas. Com nenhum outro grupo de línguas
Humboldt trabalhou tão intensamente e por tanto tempo quanto com as
línguas americanas. Depois do basco, que fez dele um linguista, por assim
dizer, essas foram as línguas que mais lhe despertaram interesse por anos.
Pode-se dizer com segurança que Humboldt reuniu todo o conhecimento
disponível à época e que este discurso documenta, ao mesmo tempo, como
esse enorme conhecimento era, na realidade, pequeno.
De fato, ele se refere a uma quantidade relativamente pequena de línguas
numa vasta área geográfica, que se estende do México à Argentina. Humboldt
mais intuiu do que conheceu a incrível variedade de línguas americanas,
sobre cujo registro fez um trabalho pioneiro, inclusive através de sua amizade
com Pickering e Duponceau, os fundadores da linguística americana.

114 • Wilhelm von Humboldt


Por algum tempo, Humboldt chegou até mesmo a assumir que as línguas
da América poderiam ser caracterizadas por uma certa semelhança. Em sua
perspectiva, o “predomínio do pronome”, cujo aprofundamento é o objetivo
deste discurso, pode ter sido um traço uniforme nas línguas americanas.
Durante décadas, ele teve a intenção de escrever um livro sobre as línguas
americanas, cujo plano poderíamos perfeitamente reconstruir, orientado para
essa suposta semelhança entre elas (Trabant, 1994). É provável que Humboldt
tenha desistido do projeto de um grande livro americano depois de 1826
porque ele não conseguiu uma prova convincente dessa uniformidade.
É possível, no entanto, que a principal razão para abandonar esse projeto
tenha sido outra. Num colóquio, o etnolinguista italiano Maurizio Gnerre,
a respeito das obras linguísticas americanas de Humboldt, mencionou o
seguinte possível motivo do redirecionamento de seu interesse pelas línguas
do mar do sul: o objetivo final de Humboldt era a descrição do “caráter” das
línguas e, como não existiam verdadeiros textos nas línguas americanas, além
dos esqueletos mortos das gramáticas e dos dicionários dos missionários,
ele percebeu que não iria alcançar seu objetivo sem textos reais. Porém,
nas narrativas cosmológicas das ilhas Tonga e nos textos sobre o kawi, ele
encontrou exatamente o material de que precisava para o empreendimento
mencionado acima.

———

Ensaios sobre língua e linguagem • 115


— Notas —

1
Nesta palestra, Humboldt condensa sua teoria sobre o verbo de tal forma que ela
parece estar completamente em consonância com a tradição, como, por exemplo,
com o capítulo XIII da Gramática de Port-Royal (1660, p. 66), a mãe de todas as
gramáticas gerais. No entanto, é importante para a concepção de Humboldt sobre
a natureza verbal que a junção do sujeito e do predicado por meio de Ser seja uma
síntese (ver nota 13) e que seja dinâmica, uma “prosopopeia” (Sobre a estrutura gra-
matical da língua chinesa), uma ação de pessoas.
2
O verbo ser.
3
O mexicano (náuatle, asteca), no planalto central mexicano, pertence à família de
línguas uto-astecas. Humboldt escreveu uma gramática dessa língua que Manfred
Ringermacher publicou no contexto da edição dos escritos linguísticos de Hum-
boldt (Mexikanische Grammatik, 1994). Aqui estamos nos referindo a Ruhlen (1991,
p. 370), assim como às outras línguas mencionadas por Humboldt. Vale a pena con-
ferir as informações sobre essas línguas em Brinton (1885, p. 352).
4
O totonaco é falado no litoral atlântico do México (RUHLEN, 1991, p. 368).
5
O huasteca é uma língua maia (RUHLEN, 1991, p. 368).
6
Sobre o maia, ver Ruhlen (1991, p. 368).
7
O betoi, uma língua do norte da América do Sul, atualmente extinta, é aparentada
ao também extinto chibcha. Ver Ruhlen (1991, p. 371).
8
A respeito da diferença entre atributo “dinâmico” e “inerente”, ou passivo, a qual
corresponde essencialmente à distinção entre o particípio e o adjetivo, Humboldt
certamente se refere a Bernhardi ([1805] 1990, p. 143), a quem ele gosta de consultar
sobre questões gramaticais gerais.
9
O yaruro está na América equatorial (RUHLEN, 1991, p.373).
10
O maipure, uma das línguas que Humboldt denomina “línguas do Orinoco”, per-
tence à família Arawak (RUHLEN, 1991, p. 374).
11
O achaguá é uma língua da família Arawak, da Colômbia (RUHLEN, 1991, p. 374).
12
Já em Sobre o surgimento das formas gramaticais, Humboldt usa a expressão “sentido
da linguagem”, que ocupa a posição da imaginação na sistemática (kantiana) do
pensamento do autor sobre a língua. Aqui trata-se do sentido histórico-particular
da língua de uma nação, não tanto do sentido universal-transcendental da língua do
ser humano, que é o compasso de Humboldt para a qualidade linguística dos vários
fenômenos, por exemplo, assim como para as diferentes escritas (ver Sobre a escrita
alfabética).
13
Na natureza verbal, a força sintética, juntamente com a prosopopeica, constitui a
autenticamente verbal: “Em um único ato sintético, o verbo une o predicado e o
sujeito por meio de Ser, de modo que o Ser, que junto com o predicado dinâmico se
torna uma ação, é atribuído ao próprio sujeito, assim o que foi pensado tão somente
como vinculável passa a um estado ou a um processo na realidade. Não se pensa

116 • Wilhelm von Humboldt


apenas o relâmpago fulminando, mas o próprio relâmpago fulmina” (ver nota 4, em
Sobre a estrutura gramatical da língua chinesa).
14
Língua caribenha do rio Orinoco, extinta (RUHLEN, 1991, p. 375).
15
Língua da família tupi-guarani das regiões amazônicas colombiana e peruana
(RUHLEN, 1991, p. 373).
16
Ver Ruhlen (1991, p. 375).
17
Abipone, mbayá e mocovi são dialetos do Guaicurú, uma língua falada no Chaco
(Paraguai e Argentina). Ver Ruhlen (1991, p. 375), que não menciona o mbayá.
18
Essa língua, já extinta, é falada a oeste do Chaco (RUHLEN, 1991, p. 375).
19
Existem, no entanto, línguas com gramáticas verdadeiramente desenvolvidas, nas
quais novas formas gramaticais foram criadas por meio de afixação. No futuro em
português, por exemplo, o pronome objeto pode ser inserido entre o radical e a
desinência (cantá-lo-ei), tendo esta sido originalmente uma palavra independente,
ou seja, uma forma do infinitivo habere.
20
Como já observamos em Sobre o surgimento das formas gramaticais (Nota 6), é
exatamente nessa questão que a concepção de Humboldt difere da de Friedrich
Schlegel, para quem as línguas, por natureza, ou são boas, i.e., flexionais, ou não
flexionais. Humboldt, ao contrário, é um representante da teoria da aglutinação,
segundo a qual todas as formas gramaticais provêm de uma “aglutinação original” e
as línguas são mais ou menos avançadas quanto a seu desenvolvimento. A diferença
é somente de tempo, não de natureza (inalterável). O desenvolvimento, como afirma
a frase seguinte, depende em parte da "predisposição linguística”.

Ensaios sobre língua e linguagem • 117


Ueber die Buchstabenschrift
und ihren Zusammenhang
mit dem Sprachbau*

Es hat mir bei dem Nachdenken über den Zusammenhang der


Buchstabenschrift mit der Sprache immer geschienen, als wenn die
erstere in genauem Verhältniss mit den Vorzügen der letzteren stände,
und als wenn die Annahme und Bearbeitung des Alphabets, ja selbst
die Art und vielleicht auch die Erfindung desselben, von dem Grade
der Vollkommenheit der Sprache, und noch ursprünglicher, der
Sprachanlagen jeder Nation abhienge.
Anhaltende Beschäftigung mit den Amerikanischen Sprachen,
Studium der Alt-Indischen und einiger mit ihr verwandten, und die
Betrachtung des Baues der Chinesischen schienen mir diesen Satz auch
geschichtlich zu bestätigen. Die Amerikanischen Sprachen, die man
zwar sehr mit Unrecht mit dem Namen roher und wilder bezeichnen
würde, die aber ihr Bau doch bestimmt von den vollkommen gebildeten
unterscheidet, haben, soviel wir bis jetzt wissen, nie Buchstabenschrift
besessen. Mit den Semitischen und der Indischen ist diese so innig
verwachsen, dass auch nicht die entfernteste Spur vorhanden ist,
dass sie sich jemals einer andren bedient hätten. Wenn die Chinesen
beharrlich die ihnen seit so langer Zeit bekannten Alphabete der
Europaeer zurückstossen, so liegt dies, meines Erachtens, bei weitem
nicht bloss in ihrer Anhänglichkeit am Hergebrachten, und ihrer
Abneigung gegen das Fremde, sondern viel mehr darin, dass, nach
dem Mass ihrer Sprachanlagen, und nach dem Bau ihrer Sprache, noch
gar nicht das innere Bedürfniss nach einer Buchstabenschrift in ihnen
erwacht ist. Wäre dies nicht der Fall, so würden sie durch ihre eigene,
ihnen in hohem Grade beiwohnende Erfindsamkeit, und durch ihre
Schriftzeichen selbst dahin gekommen seyn, nicht bloss, wie sie jetzt
thun, Lautzeichen als Nebenhülfe zu gebrauchen, sondern ein wahres,
vollständiges und reines Alphabet zu bilden.

* Gelesen in der Akademie der Wissenschaften am 20. Mai 1824.

118 • Wilhelm von Humboldt


Sobre a escrita alfabética
e sua conexão com a
construção da língua*

Em minhas reflexões sobre a conexão entre a escrita alfabética


e a língua, sempre tive a impressão de que existe uma relação direta
entre a primeira e as qualidades da segunda e de que a aceitação e o
processamento de um alfabeto, sua forma e talvez a própria invenção deste
dependessem do grau de perfeição da língua e, mais fundamentalmente,
da predisposição linguística de cada nação.
Constantes estudos sobre as línguas americanas, o sânscrito e
algumas línguas a ele aparentadas, além da análise da construção do
chinês parecem comprovar que a afirmação acima é verdadeira, inclusive
historicamente. Até onde sabemos, as línguas americanas, injustamente
denominadas rudimentares e selvagens, mesmo que sua estrutura as
diferencie das plenamente desenvolvidas, nunca tiveram uma escrita
alfabética. Com as línguas semíticas e o sânscrito essa escrita tem uma
ligação tão estreita que não existe o mais remoto vestígio de que elas
teriam usado, em algum momento, outro sistema. A meu ver, o fato de
os chineses rejeitarem terminantemente os alfabetos europeus, há muito
deles conhecidos, não se deve apenas ao apego às tradições e à aversão
ao estranho, mas a não ter surgido, ainda, a necessidade interior de uma
escrita alfabética, em razão da predisposição linguística e da construção
da língua. Se não fosse esse o caso, com seu alto grau de criatividade e os
próprios ideogramas, eles já teriam desenvolvido um autêntico alfabeto,
puro e pleno, e não se limitariam apenas a utilizar símbolos fonéticos
como recurso auxiliar, como fazem atualmente.

* Texto lido na Academia de Ciências, em 20 de maio de 1824.

Ensaios sobre língua e linguagem • 119


Auf Aegypten allein schien diese Vorstellungsart nicht recht zu
passen. Denn die heutige Coptische Sprache beweist unläugbar, dass
auch die Alt-Aegyptische einen Bau besass, der nicht von grossen
Sprachanlagen der Nation zeugt, und dennoch hat Aegypten nicht
nur Buchstabenschrift besessen, sondern war sogar, nach keinesweges
verwerflichen Zeugnissen, die Wiege derselben. Allein auch wenn eine
Nation Erfinderin einer Buchstabenschrift ist, bleibt ihre Art, dieselbe
zu behandeln, ihrer Anlage entsprechend, den Gedanken aufzufassen,
und durch Sprache zu fesseln und auszubilden; und die Wahrheit dieser
Behauptung leuchtet gerade recht aus der wunderbaren Art hervor, wie
die Aegyptier Bilder- und Buchstabenschrift in einander übergehen
liessen.
Buchstabenschrift und Sprachanlage stehen daher in dem
engsten Zusammenhange, und in durchgängiger Beziehung
auf einander. Dies werde ich mich bemühen, hier sowohl aus
Begriffen, als, soviel es in der Kürze geschehen kann, welche
diesen Abhandlungen geziemt, geschichtlich zu beweisen. Die
Wahl dieses Gegenstandes hat mir aus dem zwiefachen Grunde
angemessen geschienen, dass die Natur der Sprache in der That
nicht vollständig eingesehen werden kann, wenn man nicht zugleich
ihren Zusammenhang mit der Buchstabenschrift untersucht, und
dass gerade jene neuesten Beschäftigungen mit der Aegyptischen
Schrift den Antheil an Untersuchungen über Schrift-Erfindung und
Aneignung im gegenwärtigen Augenblicke verdoppeln.
Alles, was sich auf die äussren Zwecke der Schrift, ihren Nutzen im
Gebrauch für das Leben und die Verbreitung der Kenntnisse bezieht,
übergehe ich gänzlich. Ihre Wichtigkeit von dieser Seite leuchtet zu
seht von selbst ein, und nur Wenige dürften in dieser Hinsicht die
Vorzüge der Buchstabenschrift vor den übrigen Schriftarten verkennen.
Ich beschränke mich bloss auf den Einfluss der alphabetischen auf
die Sprache und ihre Behandlung. Ist dieser wirklich bedeutend, ist
der Zusammenhang der Sprache mit dem Gebrauche eines Alphabets
innig und fest, so können auch die Ursachen begieriger Aneignung der
Buchstabenschrift, oder kalter Gleichgültigkeit gegen dieselbe nicht
länger zweifelhaft bleiben.

120 • Wilhelm von Humboldt


Mas essa concepção não parecia se aplicar ao Egito, pois a atual
língua copta prova, sem sombra de dúvida, que também o egípcio
antigo tinha uma construção que não testemunhava uma predisposição
linguística nacional muito desenvolvida, e, apesar disso, o Egito não
apenas possuiu uma escrita alfabética, como também, segundo claras
evidências, foi seu berço. Mesmo quando uma nação é a criadora de uma
escrita alfabética, permanece a maneira como trata a escrita, conforme
sua predisposição para captar o pensamento, fixá-lo e desenvolvê-lo por
meio da língua; e a verdade dessa afirmação se revela claramente no
modo admirável como os egípcios entrelaçaram a escrita hieroglífica e
a alfabética.
A escrita alfabética e a predisposição linguística têm, por
conseguinte, estreita conexão e se encontram numa constante relação
de reciprocidade. Aqui me ocuparei em comprová-las tanto em termos
conceituais quanto históricos, na medida em que a brevidade desta
conferência me permite. A escolha desse tópico me pareceu adequada
por dois motivos: primeiro porque, de fato, não se pode compreender
completamente a natureza da linguagem sem que se investige sua conexão
com a escrita alfabética; segundo, porque as mais recentes descobertas
sobre a escrita egípcia1 duplicaram a quantidade de pesquisas sobre a
invenção e a apropriação da escrita.
Desconsiderarei por inteiro tudo o que se refere à função externa
da escrita, a seu emprego no cotidiano e à divulgação do saber. A
importância da escrita alfabética nesses aspectos é óbvia, e poucos
negariam as vantagens dela sobre os outros modos de escrita. Eu me
restringirei somente à influência da escrita alfabética sobre a língua e
ao modo como esse tema tem sido tratado. Caso se comprove que essa
influência é realmente significativa e que a relação entre a língua e o uso
de um alfabeto é intrínseca e consistente, então não há qualquer dúvida
sobre as causas de uma ávida apropriação ou de uma fria indiferença em
relação à escrita alfabética.

Ensaios sobre língua e linguagem • 121


Wie aber schon oft von den Sprachen selbst behauptet wird, dass
ihre Verschiedenheit nicht von grosser Wichtigkeit sey, da, wie auch der
Schall laute, und die Rede sich verknüpfe, doch endlich immer derselbe
Gedanke hervortrete, so dürfte die Art der Schriftzeichen noch für
bei weitem gleichgültiger gehalten werden, wenn sie nur nicht gar zu
grosse Unbequemlichkeit mit sich führe, oder die Nation sich gewöhnt
habe, die mit ihr verbundnen zu überwinden. Auch machen diejenigen,
welche sich der Schrift häufig, und noch weit mehr diejenigen, welche
sich derselben auf eine sinnige Weise bedienen, immer nur von jedem
Volke einen kleinen Theil aus. Jede Sprache hat also nicht bloss lange
Zeit ohne Schrift bestanden, sondern lebt auch grossentheils beständig
auf gleiche Art fort.
Allein das tönende Wort ist gleichsam eine Verkörperung des
Gedanken, die Schrift eine des Tons. Ihre allgemeinste Wirkung
ist, dass sie die Sprache fest heftet, und dadurch ein ganz andres
Nachdenken über dieselbe möglich macht, als wenn das verhallende
Wort bloss im Gedächtniss eine bleibende Stätte findet. Es ist aber
auch zugleich unvermeidlich, dass sich nicht irgend eine Wirkung
dieser Bezeichnung durch Schrift, und der bestimmten Art derselben
überhaupt dem Einflusse der Sprache auf den Geist beimischen sollte.
Es ist daher keinesweges gleichgültig, welche Art der Anregung die
geistige Thätigkeit durch die besondre Natur der Schriftbezeichnung
erhält. Es liegt in den Gesetzen dieser Thätigkeit, das Denkbare
und Anschauliche als Zeichen und Bezeichnetes zu betrachten,
wechselweise hervorzurufen, und in verschiedne Stellung gegen
einander zu bringen; es ist ihr eigen, bei einer Idee oder Anschauung
auch die verwandten wirken zu lassen, und so kann die Uebertragung
des erst als Ton gehefteten Gedanken auf einen Gegenstand des Auges,
nach Massgabe der Art, wie sie geschieht, dem Geiste sehr verschiedne
Richtungen geben. Offenbar aber müssen, wenn die Gesammtwirkung
nicht gestört werden soll, das Denken in Sprache, die Rede und die
Schrift übereinstimmend gebildet, und wie aus Einer Form gegossen
seyn.

122 • Wilhelm von Humboldt


Assim como se tem frequentemente afirmado sobre as línguas
que sua diversidade não é significativa porque, independentemente do
som e da estrutura da fala, no final das contas o mesmo pensamento
se manifesta, também se poderia considerar que a forma da escrita é
indiferente2 quando ela não traz grande desconforto ou quando a nação
se acostuma com esse desconforto e consegue superá-lo. Além do mais,
aqueles que usufruem da escrita representam apenas uma pequena parte
da nação e aqueles que usufruem dela de maneira rebuscada, uma parte
ainda menor. Logo, as línguas não somente existiram por muito tempo
sem escrita, como continuam existindo, em grande parte, dessa forma.
Todavia a palavra falada é como a corporificação do pensamento,
e a escrita, a corporificação do som. O efeito mais geral da escrita é
que ela fixa a língua e com isso permite um tipo de reflexão bastante
diferente daquela sobre a palavra efêmera, que tem um lugar
determinado apenas na memória. Ao mesmo tempo, parece inevitável
que a representação por meio da escrita, assim como a forma específica
desta afetem a influência da língua sobre o espírito. Por isso não é de
modo algum indiferente o tipo de estímulo que a atividade do espírito
recebe da natureza especial da escrita. Os princípios dessa atividade
consistem em considerar o que é pensável e o que é observável como
signo e coisa designada, evocando-os mutuamente e contrastando-os
em posições diversas. Também é próprio dessa atividade permitir que
sobre uma ideia ou uma percepção atuem os aspectos relacionados
a elas, e assim a transformação do pensamento, inicialmente fixado
como som, em objeto visível, a depender da maneira como ela ocorre,
pode levar o espírito a direções diversas. É evidente que o pensamento
deve ser construído como linguagem em harmonia com a fala e a
escrita, como se viessem de um molde único, para que o efeito total
não seja perturbado.

Ensaios sobre língua e linguagem • 123


Darum dass die Schrift nur immer Eigenthum eines kleineren
Theils der Nation bleibt, und wohl überall erst entstanden ist,
als der schon festbestimmte Sprachbau nicht mehr wesentliche
Umänderungen zuliess, ist ihr Einfluss auf sie nicht minder wichtig.
Denn die gemeinschaftliche Rede umschlingt doch (freilich in einer
Lebensform weniger, als in der andren) das ganze Volk, und was auf
sie bei Einzelnen gewirkt ist, geht doch mittelbar auf Alle über. Die
feinere Bearbeitung der Sprache aber, für welche der Gebrauch der
Schrift eigentlich erst den Anfangspunkt bezeichnet, ist gerade die
wichtigste, und unterscheidet, an sich und in ihrer Wirkung auf die
Nationalbildung, die Eigenthümlichkeit der Sprachen bei weitem
mehr, als der gröbere, ursprüngliche Bau.
Die Eigenthümlichkeit der Sprache besteht darin, dass sie,
vermittelnd, zwischen dem Menschen und den äussren Gegenständen
eine Gedankenwelt an Töne heftet. Alle Eigenschaften jeder einzelnen
können daher auf die beiden grossen Hauptpunkte in der Sprache
überhaupt bezogen werden, ihre Idealität und ihr Tonsystem. Was
der ersteren an Vollständigkeit, Klarheit, Bestimmtheit und Reinheit,
dem letzteren an Vollkommenheit abgeht, sind ihre Mängel, das
Entgegengesetzte ihre Vorzüge.
Diese Ansicht habe ich in zwei, dieser Versammlung früher
vorgelegten Abhandlungen aufzustellen und zu rechtfertigen versucht,
und mich bemühet zu zeigen:
dass das, auch unverknüpfte Wortsystem jeder Sprache eine
Gedankenwelt bildet, die, gänzlich heraustretend aus dem Gebiet
willkürlicher Zeichen, für sich Wesenheit und Selbständigkeit
besitzt; dass diese Wortsysteme niemals einem einzelnen Volk allein
angehören, sondern auf einem Wege der Ueberlieferung, den weder
die Geschichte, noch die Sprachforschung ganz zu verfolgen im Stande
sind, zu dem Werke der gesammten Menschheit alle Jahrhunderte ihres
Daseyns hindurch werden, und dass mithin jedes Wort ein doppeltes
Bildungselement in sich trägt, ein physiologisches, aus der Natur des
menschlichen Geistes hervorgehendes, und ein geschichtliches, in der
Art seiner Entstehung liegendes; ferner:

124 • Wilhelm von Humboldt


A influência da escrita sobre a nação não é de menor relevância
porque a escrita continua como propriedade de uma pequena parte
da nação e provavelmente se expandiu por todo lado depois que a
estrutura da língua estava estabelecida e não permitia mais alterações
essenciais. A fala comunitária envolve a nação inteira (obviamente em
certas situações sociais menos que em outras), e o que ocorre na fala
em nível individual se espalha indiretamente por toda a comunidade. O
refinamento de uma língua, cujo ponto inicial é propriamente o uso da
escrita, constitui o processo mais importante e marca, em si mesmo e
em sua influência na formação de uma nação, a peculiaridade da língua
bem mais do que a construção original, mais grosseira3.
A peculiaridade da língua consiste em fixar um mundo de
pensamentos em sons, mediando entre o homem e os objetos reais.
Todas as qualidades de uma língua podem ser relacionadas a estes
dois pontos principais: a idealidade e o sistema de sons. O que falta
na primeira em termos de plenitude, clareza, precisão e pureza, e no
segundo em termos de perfeição, constitui os defeitos de uma língua; o
oposto são seus méritos.
Expressei essa opinião em dois tratados4 anteriores a esta sessão,
tentando fundamentá-la, e me esforcei em demonstrar:
(i) que o sistema lexical de cada língua, isolado, forma um universo
de pensamentos completamente separado do campo dos signos
arbitrários, mas que tem existência e autonomia próprias;
(ii) que esses sistemas lexicais jamais pertencem a uma única
nação, mas se tornam obra de toda a humanidade durante os séculos da
sua existência por meio da tradição, que nem a história nem a pesquisa
linguística conseguem acompanhar; e que, por conseguinte, cada
palavra traz consigo um duplo elemento de composição: um fisiológico,
originário da natureza do espírito humano, e um histórico, presente no
modo como se originou; e ainda

Ensaios sobre língua e linguagem • 125


dass der Charakter der vollkommner gebildeten Sprachen dadurch
bestimmt wird, dass die Natur ihres Baues beweist, dass es dem Geist
nicht bloss auf den Inhalt, sondern vorzüglich auf die Form des
Gedanken ankommt.
Ich glaube diesen Weg auch hier verfolgen zu können, und es
leuchtet nun von selbst ein, dass die Buchstabenschrift die Idealität der
Sprache schon insofern negativ befördert, als sie den Geist auf keine,
von der Form der Sprache abweichende Weise anregt, dass aber das
Tonsystem, da Lautbezeichnung ihr Wesen ausmacht, erst durch sie
Festigkeit und Vollständigkeit erlangen kann.
Dass jede Bilderschrift durch Anregung der Anschauung des
wirklichen Gegenstandes die Wirkung der Sprache stören muss, statt sie
zu unterstützen, fällt von selbst in die Augen. Die Sprache verlangt auch
Anschauung, heftet sie aber an die, vermittelst des Tones, gebundene
Wortform. Dieser muss sich die Vorstellung des Gegenstandes
unterordnen, um als Glied zu der unendlichen Kette zu gehören,
an welcher steh das Denken durch Sprache nach allen Richtungen
hinschlingt. Wenn sich das Bild zum Schriftzeichen aufwirft, so drängt es
unwillkührlich dasjenige zurück, was es bezeichnen will, das Wort. Die
Herrschaft der Subjectivität, das Wesen der Sprache, wird geschwächt,
die Idealität dieser leidet durch die reale Macht der Erscheinung, der
Gegenstand wirkt nach allen seinen Beschaffenheiten auf den Geist,
nicht nach denjenigen, welche das Wort, in Uebereinstimmung mit
dem individuellen Geiste der Sprache, auswählend zusammenfasst,
die Schrift, die nur Zeichen des Zeichens seyn soll, wird zugleich
Zeichen des Gegenstandes, und schwächt, indem sie seine unmittelbare
Erscheinung in das Denken einführt, die Wirkung, welche das Wort
gerade dadurch ausübt, dass es nur Zeichen seyn will. An Lebendigkeit
kann die Sprache durch das Bild nicht gewinnen, da diese Gattung der
Lebendigkeit nicht ihrer Natur entspricht, und die beiden verschiednen
Thätigkeiten der Seele, die man hier zugleich anregen möchte, können
nicht Verstärkung, sondern nur Zerstreuung der Wirkung zur Folge
haben.

126 • Wilhelm von Humboldt


(iii) que o caráter das línguas plenamente desenvolvidas é
determinado pelo fato de que a natureza de sua construção comprova
que o espírito busca não apenas o conteúdo, mas sobretudo a forma do
pensamento.
Acredito que possa percorrer esse caminho também aqui. É
indubitável que a escrita alfabética influencia de maneira negativa o
lado ideacional da língua, na medida em que não estimula o intelecto
independentemente da forma, e que o sistema fonético, por meio da
escrita alfabética, atinge estabilidade e plenitude por ser a identificação
dos sons sua essência.
Salta aos olhos que qualquer escrita ideográfica, ao estimular a
visão do objeto real, necessariamente perturba os efeitos da língua em
vez de apoiá-los. A língua exige, sim, aspectos visuais, mas vincula-os
à forma da palavra fixada pelo som. A concepção do objeto deve estar
subordinada a essa forma para que possa participar como elo da infinita
cadeia na qual o pensamento se entrelaça mediante a linguagem em todas
as direções. Quando toma a função da escrita, a imagem logo suprime
involuntariamente aquilo que ela deveria designar, ou seja, a palavra5. A
supremacia da subjetividade, essência da linguagem, fica enfraquecida;
seu aspecto ideacional sofre devido ao real poder da manifestação; o
objeto atua sobre o espírito com todas as suas propriedades, não com
aquelas que a palavra, em consonância com o espírito idiossincrático da
linguagem, reúne de modo seletivo; a escrita, que deve ser apenas signo
do signo, torna-se simultaneamente signo do objeto e, ao introduzir a
manifestação imediata do objeto no pensamento, enfraquece o efeito
que a palavra exerce justamente por ser apenas signo. A linguagem não
ganha vivacidade pela imagem porque essa espécie de vivacidade não
corresponde a sua natureza, e as duas diferentes atividades da alma, a
qual se poderia estimular aqui, não podem ocasionar a amplificação
mas tão somente a dispersão do efeito.

Ensaios sobre língua e linguagem • 127


Dagegen scheint eine Figurenschrift, welche Begriffe bezeichnet,
recht eigentlich die Idealität der Sprache zu befördern. Denn ihre
willkührlich gewählten Zeichen haben ebensowenig, als die der
Buchstaben, etwas, das den Geist zu zerstreuen vermöchte, und die
innere Gesetzmässigkeit ihrer Bildung führt das Denken auf sich selbst
zurück.
Dennoch wirkt auch eine solche Schrift gerade der idealen, d.h. der
die Aussenwelt in Ideen verwandelnden Natur der Sprache entgegen,
wenn sie auch nach der strengsten Gesetzmässigkeit in allen ihren
Theilen zusammengefügt wäre. Denn für die Sprache ist nicht bloss
die sinnliche Erscheinung stoffartig, sondern auch das unbestimmte
Denken, inwiefern es nicht fest und rein durch den Ton gebunden
ist; denn es ermangelt der ihr wesentlich eigenthümlichen Form. Die
Individualität der Wörter, in deren jedem immer noch etwas andres, als
bloss seine logische Definition liegt, ist insofern an den Ton geheftet,
als durch diesen unmittelbar in der Seele die ihnen eigenthümliche
Wirkung geweckt wird. Ein Zeichen, das den Begriff aufsucht, und den
Ton vernachlässigt, kann sie mithin nur unvollkommen ausdrücken. Ein
System solcher Zeichen giebt nur die abgezognen Begriffe der äussren
und innren Welt wieder; die Sprache aber soll diese Welt selbst, zwar in
Gedankenzeichen verwandelt, aber in der ganzen Fülle ihrer reichen,
bunten und lebendigen Mannigfaltigkeit enthalten.
Es hat aber auch nie eine Begriffsschrift gegeben, und kann
keine geben, die rein nach Begriffen gebildet wäre, und auf die nicht
die in bestimmte Laute gefassten Wörter der Sprache, für welche sie
erfunden wurde, den hauptsächlichsten Einfluss ausgeübt hätten.
Denn da die Sprache doch vor der Schrift da ist, so sucht dieselbe
natürlich für jedes Wort ein Zeichen, und nimmt diese, wenn sie
auch durch systematische Unterordnung unter ein Begriffssystem
vom Laut unabhängige Geltung hätten, doch in dem Sinn der ihnen
untergelegten Wörter. Daher ist jede Begriffsschrift immer zugleich
eine Lautschrift, und ob sie, nebenher und in welchem Grade, auch
als wahre Begriffsschrift gilt? hängt von dem Grade ab, in weichem
der sie Gebrauchende die systematische Unterordnung ihrer
Zeichen, den logischen Schlüssel ihrer Bildung, kennt und beachtet.

128 • Wilhelm von Humboldt


Por outro lado, parece que uma escrita hieroglífica6, que designa
conceitos, promove verdadeiramente a idealidade da língua, pois seus
signos, arbitrariamente escolhidos, não têm quase nada que possa
desviar a atenção da mente, assim como as letras, e a sistemática interna
da formação reconduz o pensamento a si mesmo. No entanto, esse
tipo de escrita se contrapõe à natureza ideacional da língua, i.e., que
transforma o mundo exterior em ideias, mesmo que seja composta
com a estrutura a mais rígida possível em todas as suas partes. Para a
língua não apenas a manifestação sensorial serve como substância, mas
também o pensamento indefinido, quando ele não é fixado pelo som de
maneira firme e pura, pois falta à substância sua forma essencialmente
própria. A individualidade das palavras, nas quais sempre se encontra
algo além de uma simples definição lógica, está de tal maneira fixada no
som que é através dele que o efeito inerente às palavras é diretamente
despertado na alma7. O signo que capta o conceito, mas desconsidera o
som, só pode expressar esse efeito imperfeitamente. Um sistema com
tais signos reflete apenas os conceitos copiados do mundo externo e
interno; a língua, no entanto, deve conter esses mundos, convertidos
em elementos do pensamento, na plenitude de sua rica, colorida e viva
multiplicidade.
Nunca houve nem pode haver uma escrita conceitual formada
puramente por conceitos. Inevitavelmente as palavras da língua, para
a qual essa escrita teria sido inventada, exerceriam uma influência
preponderante sobre a escrita, devido à configuração em sons. Como a
língua existe anteriormente à escrita, naturalmente ela busca um signo para
cada palavra e toma esses signos com o sentido das palavras subjacentes a
eles, ainda que eles tenham, por subordinação a um sistema de conceitos,
um valor independente do som. Portanto, toda escrita conceitual é ao
mesmo tempo uma escrita fônica, e até que ponto ela vale como uma
autêntica escrita conceitual depende do grau em que o usuário conhece
e observa a classificação sistemática dos signos, a chave lógica de sua
formação. Aquele que tem apenas conhecimento mecânico dos signos
correspondentes às palavras domina tão somente uma escrita de sons.

Ensaios sobre língua e linguagem • 129


Wer die den Wörtern entsprechenden Zeichen nur mechanisch kennt,
besitzt in ihr nichts, als eine Lautschrift. Wenn eine solche Schrift auf
eine andre Sprache übergeht, findet der gleiche Fall statt. Denn auch
in dieser muss der Gebrauch, wenn die Schrift wirklich Schrift seyn
soll, doch jedem Zeichen seine Geltung in Einem, oder mehreren
bestimmten Wörtern anweisen. Die Schriftzeichen sind also in beiden
Sprachen nur insofern gleichbedeutend, als es die ihnen untergelegten
Wörter sind, und das Lesen des in einer beider Sprachen Geschriebnen
wird für den dieser Sprache Unkundigen immer zu einem Uebersetzen,
in welchem die Individualität der Ursprache allemal aufgegeben
wird. Es geht also bei dem Gebrauche Einer solchen Schrift unter
verschiednen Nationen immer hauptsächlich nur der Inhalt über, die
Form wird wesentlich verändert, und der unläugbare Vorzug einer
Begriffsschrift, Nationen verschiedner Sprachen verständlich zu seyn,
wiegt die Nachtheile nicht auf, welche sie von andren Seiten her mit
sich führt.
Als Lautschrift ist eine Begriffsschrift unvollkommen, weil sie
Laute für Wörter angiebt, mithin der Sprache allen Gewinn entzieht,
der, wie wir sehen werden, aus der Lautbezeichnung der Wortelemente
entspringt. Sie wirkt aber auch niemals rein als Lautschrift. Da man
der Geltung und dem Zusammenhang ihrer Zeichen nach Begriffen
nachgehen kann, den Gedanken, gleichsam mit Uebergehung des
Lautes, unmittelbar bilden, so wird sie dadurch zu einer eignen Sprache,
und schwächt den natürlichen, vollen und reinen Eindruck der wahren
und nationeilen. Sie ringt auf der einen Seite, sich von der Sprache
überhaupt, wenigstens von einer bestimmten frei zu machen, und
schiebt auf der andren dem natürlichen Ausdruck der Sprache, dem
Ton, die viel weniger angemessene Anschauung durch das Auge unter.
Sie handelt daher dem instinctartigen Sprachsinn des Menschen gerade
entgegen, und zerstört, je mehr sie sich mit Erfolg geltend macht, die
Individualität der Sprachbezeichnung, die allerdings nicht bloss in dem
Laut einer jeden liegt, aber an denselben durch den Eindruck gebunden
ist, den jede bestimmte Verknüpfung articulirter Töne unläugbar
specifisch hervorbringt.

130 • Wilhelm von Humboldt


Quando esse tipo de escrita é transferido para outra língua, ocorre
o mesmo porque também nessa língua o uso deve atribuir a cada
signo um valor referente a uma ou mais palavras, quando a escrita é
verdadeiramente uma escrita. Os ideogramas têm o mesmo significado
nas duas línguas, assim como as palavras subjacentes a eles, e a leitura do
que é escrito em uma das duas línguas será para aquele que não conhece
a língua sempre um processo de tradução no qual a individualidade da
língua de origem será definitivamente abandonada. No uso desse tipo
de escrita entre nações diferentes, transfere-se sobretudo o conteúdo,
enquanto a forma é substancialmente alterada, e a inegável vantagem
da escrita conceitual de ser inteligível para nações de diferentes línguas
não compensa as desvantagens que a escrita traz consigo em outros
âmbitos.
Uma escrita conceitual é imperfeita como escrita fônica porque
apresenta sons como palavras, retirando da língua, como veremos,
qualquer tipo de ganho que provenha da representação sonora dos
elementos das palavras. Ela nunca funciona meramente como escrita
de sons. Como é possível rastrear o valor e a relação dos signos por
meio de conceitos e formar o pensamento sem a mediação do som, a
escrita conceitual se torna uma língua própria e enfraquece a impressão
natural, plena e pura da genuína língua nacional. Por um lado, a escrita
conceitual se esforça para se libertar da língua per se, ou pelo menos
de uma determinada língua; por outro, substitui a expressão natural,
o som, pela percepção visual, bem menos adequada. Desse modo, ela
se contrapõe ao sentido instintivo da linguagem humana e destrói, ao
se impor com êxito, a individualidade da marcação da linguagem. Essa
individualidade não reside no som de cada língua, mas está relacionada
a ele pela impressão que qualquer combinação de sons articulados
indubitavelmente cria.

Ensaios sobre língua e linguagem • 131


Das Bemühen, sich von einer bestimmten Sprache unabhängig zu
machen, das das Denken ohne Sprache einmal unmöglich ist, nachteilig
und verödend auf den Geist einwirken. Eine Begriffsschrift übt diese
Nachtheile nur insofern nicht in dem hier geschilderten Grade aus, als
ihr System nicht consequent durchgeführt ist, und als sie im Gebrauch
phonetisch aufgenommen wird.
Die Buchstabenschrift ist von diesen Fehlern frei, einfaches,
durch keinen Nebenbegriff zerstreuendes Zeichen des Zeichens, die
Sprache überall begleitend, ohne sich ihr vorzudrängen, oder zur Seite
zu stellen, nichts hervorrufend, als den Ton, und daher die natürliche
Unterordnung bewahrend, in welcher der Gedanke nach dem durch
den Ton gemachten Eindruck angeregt werden, und die Schrift ihn
nicht an sich, sondern in dieser bestimmten Gestalt festhalten soll.
Durch dies enge Anschliessen an die eigenthümliche Natur
der Sprache verstärkt sie gerade die Wirkung dieser, indem sie auf
die prangenden Vorzüge des Bildes und Begriffsausdrucks Verzicht
leistet. Sie stört die reine Gedankennatur der Sprache nicht, sondern
vermehrt vielmehr dieselbe durch den nüchternen Gebrauch an
sich bedeutungsloser Züge, und läutert und erhöht ihren sinnlichen
Ausdruck, indem sie den im Sprechen verbundnen Laut in seine
Grundtheile zerlegt, den Zusammenhang derselben unter einander,
und in der Verknüpfung zum Wort anschaulich macht, und durch die
Fixirung vor dem Auge auch auf die hörbare Rede zurückwirkt.
An diese Spaltung des verbundnen Lauts, als an das Wesen der
Buchstabenschrift haben wir uns daher zu halten, wenn wir den inneren
Einfluss derselben auf die Sprache beurtheilen wollen.
Die Rede bildet im Geiste des Sprechenden, bis sie einen
Gedanken erschöpft, ein verbundnes Ganzes, in welchem erst die
Reflexion die einzelnen Abschnitte aufsuchen muss. Dies erfährt
man vorzüglich bei der Beschäftigung mit den Sprachen ungebildeter
Nationen. Man muss theilen und theilen, und immer mistrauisch
bleiben, ob das einfach Scheinende nicht auch noch zusammengesetzt
ist. Gewissermassen ist freilich dasselbe auch bei den hochgebildeten
der Fall, allein auf verschiedne Weise; bei diesen nur etymologisch
zum Behuf der Einsicht in die Wortentstehung, bei jenen grammatisch
und syntaktisch zum Behuf der Einsicht in die Verknüpfung der Rede.

132 • Wilhelm von Humboldt


O esforço de se libertar de uma determinada língua tem influência
desvantajosa e devastadora no espírito, já que pensamento sem
linguagem é simplesmente impossível. Uma escrita conceitual não
surte os efeitos negativos no grau retratado aqui, na medida em que
seu sistema não é implementado de forma coerente e por ser ela mesma
percebida, no uso, em termos fonéticos.
A escrita alfabética está livre desses defeitos. É um simples signo
do signo que não desvia a atenção com conceitos adicionais, que
acompanha a língua em todas as instâncias sem se impor a ela ou
rivalizar com ela, evocando apenas o som e mantendo desta forma a
subordinação natural, na qual o pensamento deve ser estimulado por
meio da impressão suscitada pelo som. A escrita não fixa o pensamento
em si mesmo, mas sim numa combinação específica.
Por meio dessa estreita ligação com a natureza peculiar da língua,
a escrita alfabética amplia o efeito da língua, renunciando às vantagens
ostensivas da imagem e da escrita conceitual. A escrita alfabética
não interfere na pura expressão do pensamento pela linguagem,
mas a amplia pelo uso pragmático de traços que, em si, não têm
significado. Ela aprimora e realça a expressão sensorial ao decompor
em elementos básicos o som, que se combina na fala, ao dar visibilidade
ao encadeamento dos sons na formação de palavras8, e ao se refletir
também no discurso audível pela fixação visual.
Temos que nos orientar por essa decomposição de sons encadeados,
a essência da escrita alfabética, quando desejamos julgar sua influência
intrínseca sobre a língua.
O discurso forma na mente do falante uma totalidade coesa até que
consiga esgotar um pensamento, no qual é preciso procurar os trechos
individuais por meio da reflexão. Isso se experiencia principalmente no
estudo de línguas de nações incultas. É preciso decompor e decompor
e, ainda assim, continuar desconfiando se o que parece simples não é
algo composto. De certa forma, o mesmo ocorre nas línguas cultas,
mas de maneira diferente; nestas, apenas etimologicamente, por uma
questão de compreensão da origem das palavras, naquelas, sintática e
gramaticalmente, por uma questão de compreensão da coesão do discurso.

Ensaios sobre língua e linguagem • 133


Das Verbinden des zu Trennenden ist allemal Eigenschaft des
ungeübten Denkens und Sprechens; von dem Kinde und dem Wilden
erhält man schwer Wörter, statt Redensarten. Die Sprachen von
unvollkommnerem Bau überschreiten auch leicht das Mass dessen,
was in einer grammatischen Form verbunden seyn darf. Die logische
Theilung, welche die Gedankenverknüpfung auflöst, geht aber nur
bis auf das einfache Wort. Die Spaltung dieses ist das Geschäft der
Buchstabenschrift. Eine Sprache, die sich einer andren Schrift bedient,
vollendet daher das Theilungsgeschäft der Sprache nicht, sondern
macht einen Stillstand, wo die Vervollkommnung der Sprache weiter
zu gehen gebietet.
Zwar ist die Aufsuchung der Lautelemente auch ohne den
Gebrauch der Buchstabenschrift denkbar, und die Chinesen besitzen
namentlich eine Analyse der verbundnen Laute, indem sie die Zahl
und Verschiedenheit ihrer Anfangs- und End-Articulationen und
ihrer Wortbetonungen bestimmt und genau angeben. Da aber nichts
weder in der gewöhnlichen Sprache, noch in der Schrift (insofern sie
nemlich wirklich Zeichenschrift ist, da die Chinesen bekanntlich dieser
auch Lautbezeichnung beimischen) zu dieser Analyse nöthigt, so
kann sie schon darum nicht so allgemein seyn. Da ferner der einzelne
Ton (Consonant und Vocal) nicht durch ein nur ihm angehörendes
Zeichen isolirt dargestellt, sondern nur den Anfängen und Endigungen
verbundner Laute abgehört wird, so ist die Darstellung des Tonelements
nie so rein und anschaulich, als durch die Buchstabenschrift, und die
Lautanalyse, wenn ihr auch nichts an Vollständigkeit und Genauigkeit
abgienge, macht nicht auf den Geist den Eindruck einer rein vollendeten
Sprachtheilung. Bei der inneren Wirkung der Sprachen aber, welche
allein ihre wahren Vorzüge bestimmt, kommt Alles auf das volle und
reine Wirken jedes Eindrucks an, und der geringste, im äusseren Erfolg
gar nicht bemerkbare Mangel an einem von beiden ist von Erheblichkeit.
Das alphabetische Lesen und Schreiben dagegen nöthigt in jedem
Augenblick zum Anerkennen der zugleich dem Ohr und dem Auge
fühlbaren Lautelemente, und gewöhnt an die leichte Trennung und
Zusammensetzung derselben; es macht daher eine vollendet richtige
Ansicht der Theilbarkeit der Sprache in ihre Elemente in eben dem
Grade allgemein, in welchem es selbst über die Nation verbreitet ist.

134 • Wilhelm von Humboldt


Conectar aquilo que deve estar separado é sempre uma característica
do pensamento e da fala pouco exercitada; da criança e do selvagem
dificilmente se obtêm palavras isoladas em lugar de locuções. As
línguas de estrutura imperfeita ultrapassam facilmente o limite daquilo
que deveria estar conectado a uma forma gramatical. A divisão lógica
que quebra a conexão do pensamento estende-se apenas até a palavra
simples. A decomposição desta é tarefa da escrita alfabética. Uma
língua que se utiliza de outra escrita não completa consequentemente
essa tarefa, mas para no lugar onde o aperfeiçoamento da língua
exigiria a continuidade.
É certamente possível procurar os elementos fônicos mesmo
sem o uso da escrita alfabética, e os chineses operam uma análise das
combinações dos sons na medida em que especificam com precisão a
quantidade e a variedade da articulação inicial e final, assim como a
sílaba tônica da palavra. Mas como essa análise não é exigida na fala
comum nem na escrita (uma escrita efetivamente icônica, dado que os
chineses a misturam com uma representação sonora, como bem se sabe),
ela não costuma ocorrer. Além do mais, como cada som (consoante
e vogal) não está representado por um signo exclusivo, mas apenas
apreendido pelo início e final dos sons combinados, a representação dos
elementos fônicos nunca fica tão pura e transparente quanto na escrita
alfabética, e a análise desses elementos, ainda que não lhe falte nada
em termos de plenitude e exatidão, não deixa na mente a impressão
de uma decomposição pura e completa. Já no que diz respeito à ação
interna das línguas, a qual determina as verdadeiras virtudes de uma
língua, tudo depende do efeito puro e pleno de cada impressão, e o
mínimo defeito numa delas, mesmo imperceptível na superfície, tem
um impacto considerável. Por outro lado, a leitura e a escrita alfabética
requerem a cada momento o reconhecimento de elementos fônicos
simultaneamente perceptíveis ao ouvido e ao olho e familiarizam a fácil
separação e combinação dos sons, permitindo, devido ao modo como
estão difundidas pela nação, uma percepção completa da natureza
analítica da língua.

Ensaios sobre língua e linguagem • 135


Zunächst äussert sich diese berichtigte Ansicht in der Aussprache,
die, durch das Erkennen und Ueben der Lautelemente in abgesonderter
Gestalt, befestigt und geläutert wird. So wie für jeden Laut ein Zeichen
gegeben ist, gewöhnen sich das Ohr und die Sprachorgane, ihn immer
genau auf dieselbe Weise zu fordern und wiederzugeben; zugleich
wird er, mit Abschneidung des unbestimmten Tönens, mit dem, im
ungebildeten Sprechen, ein Laut in den andren überfliesst, schärfer und
richtiger begränzt. Diese reinere Aussprache, die feine Ausbildung des
Ohrs und der Sprachwerkzeuge ist schon an sich, und in ihrer Wirkung
auch auf das Innre der Sprache von der äussersten Wichtigkeit; die
Absonderung der Lautelemente übt aber auch einen noch tiefer in das
Wesen der Sprache eingehenden Einfluss aus.
Sie führt nemlich der Seele die Articulation der Töne vor, indem
sie die articulirten Töne vereinzelt und bezeichnet. Die alphabetische
Schrift thut dies klarer und anschaulicher, als es auf irgend einem
andren Wege geschehen könnte, und man behauptet nicht zu viel, wenn
man sagt, dass durch das Alphabet einem Volke eine ganz neue Einsicht
in die Natur der Sprache aufgeht. Da die Articulation das Wesen der
Sprache ausmacht, die ohne dieselbe nicht einmal möglich seyn würde,
und der Begriff der Gliederung sich über ihr ganzes Gebiet, auch wo
nicht bloss von Tönen die Rede ist, erstreckt; so muss die Versinnlichung
und Vergegenwärtigung des gegliederten Tons vorzugsweise mit der
ursprünglichen Richtigkeit und der allmählichen Entwicklung des
Sprachsinnes in Zusammenhang stehen. Wo dieser stark und lebendig
ist, wird ein Volk aus eignem Drange der Erfindung des Alphabets
entgegengehen, und wo ein Alphabet einer Nation von der Fremde
her zukommt, wird es die Sprachausbildung in ihr befördern und
beschleunigen.
Obgleich der articulirte Laut körperlich und instinctartig
hervorgebracht ist, so stammt sein Wesen doch eigentlich nur aus der
inneren Seelenanlage zur Sprache, die Sprachwerkzeuge besitzen bloss
die Fähigkeit, sich dem Drange dieser gemäss zu gestalten.

136 • Wilhelm von Humboldt


Essa percepção retificada se manifesta inicialmente na pronúncia,
que é fixada e aprimorada por meio do reconhecimento e do exercício de
sons isolados. Como a cada som9 é atribuído um símbolo, o ouvido e os
órgãos da fala se acostumam e exigem que ele seja sempre reproduzido
exatamente da mesma forma; ao mesmo tempo, ao se excluir a pronúncia
difusa, que na fala não refinada leva à sobreposição de um som a outro,
ele é delimitado mais precisa e adequadamente. Essa pronúncia mais
limpa, o treinamento mais sutil do ouvido e dos órgãos da fala, é de
extrema relevância em si e em seu efeito sobre a essência da língua; a
distinção dos elementos fonéticos, no entanto, exerce uma influência
ainda mais profunda no espírito da língua, porque ela apresenta a
articulação dos sons à alma na medida em que isola e representa os sons
articulados.
A escrita alfabética faz essa apresentação de maneira mais clara
e evidente do que aconteceria por qualquer outro meio, e não é
exagero afirmar que por meio do alfabeto uma nação ganha uma visão
completamente nova da natureza da língua10. Como a articulação é a
essência da língua, sem a qual esta não seria possível, e o conceito de
estruturação se expande a todas as áreas e não apenas aos sons, logo a
evocação e a realização dos sons articulados estão conectadas à exatidão
original e ao desenvolvimento progressivo do sentido da linguagem.
Quando esse sentido é forte e ativo, a nação vai se empenhar na criação
de um alfabeto, e quando um alfabeto é importado, ele vai favorecer e
acelerar uma sensibilidade em relação à língua.
Embora o som articulado seja produzido física e instintivamente,
sua verdadeira natureza provém da predisposição interna da alma para
a linguagem. Os órgãos da fala têm apenas a capacidade de se adequar
a essa predisposição.

Ensaios sobre língua e linguagem • 137


Eine Definition des articulirten Lauts, bloss nach seiner physischen
Beschaffenheit, ohne die Absicht oder den Erfolg seiner
Hervorbringung darin aufzunehmen, scheint mir daher unmöglich.
Er ist ein sich einzeln abschneidender Laut, nicht ein verbundnes und
vermischtes Tönen oder Schmettern, wie die meisten Gefühllaute.
Sein charakteristischer Unterschied liegt nicht, musikalisch, in der
Höhe und Tiefe, da er durch die ganze Tonleiter hindurch angestimmt
werden kann. Derselbe beruht ebensowenig auf der Dehnung und
Verkürzung, Helligkeit oder Dumpfheit, Härte oder Weiche, da
diese Verschiedenheiten theils Eigenschaften aller articulirten Töne
seyn können, theils Gattungen derselben bilden. Versucht man nun
aber die Unterschiede zwischen a und e, p und k u.s.w. auf einen
allgemeinen sinnlichen Begriff zurückzuführen, so ist mir wenigstens
bis jetzt dies immer mislungen. Es bleibt nichts übrig, als überhaupt
zu sagen, dass diese Töne, unabhängig von jenen Kennzeichen,
dennoch specifisch verschieden sind, oder dass ihr Unterschied aus
einem bestimmten Zusammenwirken der Organe entsteht, oder eine
andre ähnliche Beschreibung zu versuchen, die aber nie eine wahre
Definition giebt. Erschöpfend und abschliessend wird ihr Wesen
immer nur dadurch geschildert, dass man ihnen die Eigenschaft
zuschreibt, unmittelbar durch ihr Ertönen Begriffe hervorzubringen,
indem theils jeder einzelne dazu gebildet ist, theils die Bildung des
einzelnen eine in bestimmbaren Classen bestimmbare Anzahl
gleichartiger, aber specifisch verschiedner möglich macht und fordert,
welche nothwendige oder willkührliche Verbindungen mit einander
einzugehen geeignet sind. Hierdurch ist jedoch nicht mehr gesagt, als
dass articulirte Laute Sprachlaute und umgekehrt sind.
Die Sprache aber liegt in der Seele, und kann sogar bei
widerstrebenden Organen und fehlendem äusseren Sinn hervorgebracht
werden. Dies sieht man bei dem Unterrichte der Taubstummen, der nur
dadurch möglich wird, dass der innere Drang der Seele, die Gedanken
in Worte zu kleiden, demselben entgegenkommt, und vermittelst
erleichternder Anleitung den Mangel ersetzt, und die Hindernisse
besiegt.

138 • Wilhelm von Humboldt


Uma definição do som articulado com base somente em suas
características físicas, sem considerar a intenção ou o êxito de sua
produção, parece-me impossível11. Trata-se de um som individualmente
delimitado e não da produção de barulhos indiscriminados ou
estridentes, como a maioria das expressões emotivas. Sua propriedade
distintiva não reside, musicalmente, nos tons altos e baixos, porque
podem ser entoados em qualquer ponto da escala. Tampouco se trata
de longo e breve, nítido ou abafado, duro ou brando12, visto que essas
distinções podem ser características de todos os sons articulados
ou compor suas categorias. Até hoje não me foi possível distinguir
a e e, p e k etc. com base em um conceito geral e razoável. Resta
apenas dizer que esses sons, independentemente das características
mencionadas, se revelam especificamente distintos ou que a diferença
entre eles tem origem numa certa ação conjunta dos órgãos, ou pode-
se, ainda, tentar outra descrição semelhante, mas que nunca permitirá
uma verdadeira definição. A natureza dos sons costuma ser descrita
exaustiva e conclusivamente, atribuindo-se a eles a propriedade de
produzir conceitos diretamente por meio da sua realização, em parte
porque cada som tem essa propriedade individualmente e em parte
porque a realização de cada um permite e demanda uma determinada
classe de elementos de natureza semelhante, mas ao mesmo tempo
especificamente distintos, os quais se adéquam às combinações
necessárias ou arbitrárias. Com isso o que se quer dizer é tão somente
que os sons articulados são sons da língua e vice-versa.
Mas a língua está na alma e pode ser produzida até mesmo quando
os órgãos oferecem resistência ou quando falta um dos cinco sentidos
externos. Isso se vê no ensino aos surdos, que só é possível porque o
impulso interno da alma de transformar os pensamentos em palavras
vai ao encontro desse ensino e supre a deficiência através de instruções
facilitadoras, superando os impedimentos.

Ensaios sobre língua e linguagem • 139


Aus der individuellen Beschaffenheit dieses Dranges, verständliche
Laute hervorzubringen, aus der Individualität des Lautgefühls
(überhaupt in Hinsicht des Lautes, als solchen, des musikalischen Tons
und der Articulation), und endlich aus der Individualität des Gehörs und
der Sprachwerkzeuge entsteht das besondre Lautsystem jeder Sprache,
und wird, sowohl durch seine ursprüngliche Gleichartigkeit mit der
ganzen Sprachanlage des Individuums, als in seinen tausendfachen,
einzeln gar nicht zu verfolgenden Einflüssen auf alle Theile des
Sprachbaues, die Grundlage der besondren Eigenthümlichkeit der
ganzen Sprache selbst. Die aus der Seele heraustönende specifische
Sprechanlage verstärkt sich in ihrer Eigenthümlichkeit, indem sie
wieder ihr eignes Tönen, als etwas fremdes Erklingendes, vernimmt.
Wenn gleich jede wahrhaft menschliche Thätigkeit der Sprache
bedarf, und diese sogar die Grundlage aller ausmacht, so kann doch
eine Nation die Sprache mehr oder weniger eng in das System ihrer
Gedanken und Empfindungen verweben. Es beruht dies auch nicht
bloss, wie man wohl zuweilen zu glauben pflegt, auf ihrer Geistigkeit
überhaupt, ihrer mehr oder weniger sinnigen Richtung, ihrer
Neigung zu Wissenschaft und Kunst, noch weniger auf ihrer Cultur,
einem höchst vieldeutigen, und mit der grössesten Behutsamkeit zu
brauchenden Worte. Eine Nation kann in allen diesen Rücksichten
vorzüglich seyn. und dennoch der Sprache kaum das ihr gebührende
Recht einräumen.
Der Grund davon liegt in Folgendem. Wenn man sich das Gebiet
der Wissenschaft und Kunst auch völlig abgesondert von Allem denkt,
was sich auf die Anordnung des physischen Lebens bezieht, so giebt
es für den Geist doch mehrere Wege dahin zu gelangen, von denen
nicht jeder die Sprache gleich stark und lebendig in Anspruch nimmt.
Diese lassen sich theils nach Gegenständen der Erkenntniss bestimmen,
wobei ich nur an die bildende Kunst und die Mathematik zu erinnern
brauche, theils nach der Art des geistigen Triebes, der mehr die sinnliche
Anschauung suchen, trocknem Nachdenken nachhängen, oder sonst
eine, nicht der ganzen Fülle und Feinheit der Sprache bedürfende
Richtung nehmen kann.

140 • Wilhelm von Humboldt


O sistema peculiar de sons das línguas se origina na condição individual
desse impulso de produzir sons compreensíveis, na individualidade
da intuição sonora (em geral, no que diz respeito ao próprio som,
ao tom musical e à articulação) e finalmente na individualidade da
percepção auditiva e dos órgãos da fala. Esse sistema se torna a base da
peculiaridade da língua como um todo, tanto através da similaridade
original com a predisposição do indivíduo à linguagem quanto das
milhares de influências (impossíveis de se rastrear individualmente)
sobre todas as partes da estrutura da língua. E a propensão à linguagem,
que ressoa da alma, se amplia em sua peculiaridade na medida em que
percebe seu próprio som como alheio.
Ainda que qualquer atividade verdadeiramente humana precise
da língua e que esta deva ser vista como o fundamento de todas as
atividades, uma nação pode entrelaçar estreitamente a língua no sistema
de seus pensamentos e sentimentos. Isso não depende apenas do espírito
da nação, como às vezes se acredita, nem de uma certa inclinação
sensorial, nem da vocação para a ciência ou a arte, e ainda menos de sua
cultura, uma palavra extremamente ambígua, que deve ser usada com
a maior cautela. Uma nação pode ser primorosa em todos os aspectos
mencionados, e, mesmo assim, não atribuir à língua o devido valor.
Isso ocorre pelo seguinte motivo: quando se considera a ciência e a
arte completamente separadas de tudo o que se relaciona à organização
da vida física, existe uma variedade de caminhos que o espírito pode
tomar para chegar a essas áreas, e nem todos esses caminhos recorrem
à língua com a mesma força e vivacidade. Esses caminhos podem
ser parcialmente determinados por seus objetos de conhecimento –
basta lembrar aqui as artes plásticas e a matemática – e parcialmente
pela natureza do ímpeto intelectual, o qual pode dar preferência à
contemplação sensorial, concentrar-se em reflexões áridas ou tomar
uma direção que não requer a plenitude e a sutileza da língua.

Ensaios sobre língua e linguagem • 141


Zugleich liegt, wie schon oben bemerkt ist, auch in der Sprache
ein Doppeltes, durch welches das Gemüth nicht immer in der
nothwendigen Vereinigung berührt wird; sie bildet Begriffe, führt die
Herrschaft des Gedanken in das Leben ein, und thut es durch den
Ton. Die geistige Anregung, die sie bewirkt, kann dahin führen, dass
man, vorzugsweise von dem Gedanken getroffen, ihn zugleich auf
einem andren, unmittelbareren Wege, entweder sinnlicher, oder reiner,
unabhängiger von einem, als zufällig erscheinenden Schall, aufzufassen
versucht; alsdann wird das Wort nur als Nebenhülfe behandelt. Es kann
aber auch gerade der in Töne gekleidete Gedanke die Hauptwirkung auf
das Gemüth ausüben, gerade der Ton, zum Worte geformt, begeistern,
und alsdann ist die Sprache die Hauptsache, und der Gedanke erscheint
nur als hervorspriessend aus ihr, und untrennbar in sie verschlungen.
Wenn man daher die Sprachen mit der Individualität der
Nationen vergleicht, so muss man zwar zuerst die geistige Richtung
derselben überhaupt, nachher aber immer vorzüglich den eben
erwähnten Unterschied beachten, die Neigung zum Ton, das feine
Unterscheidungsgefühl seiner unendlichen Anklänge an den Gedanken,
die leise Regsamkeit, durch ihn gestimmt zu werden, dem Gedanken
tausendfache Formen zu geben, auf welche, gerade weil sie in der Fülle
seines sinnlichen Stoffes ihre Anregung finden, der Geist von oben herab,
durch Gedankeneintheilung nie zu kommen vermöchte. Es liesse sich
leicht zeigen, dass diese Richtung für alle geistige Thätigkeiten die am
gelingendsten zum Ziel führende seyn muss, da der Mensch nur durch
Sprache Mensch, und die Sprache nur dadurch Sprache ist, dass sie den
Anklang zu dem Gedanken allein in dem Wort sucht. Wir können aber
dies für jetzt übergehen, und nur dabei stehen bleiben, dass die Sprache
wenigstens auf keinem Wege eine grossere Vollkommenheit erlangen
kann, als auf diesem. Was nun die Articulation der Laute, oder, wie man
sie auch nennen kann, ihre gedankenbildende Eigenschaft hervorhebt,
und ins Licht stellt, wird in dieser geistigen Stimmung begierig gesucht
oder ergriffen werden, und so muss die Buchstabenschrift, welche
die Articulation der Laute, zuerst bei dem Aufzeichnen, hernach bei
allgemein werdender Gewohnheit, bei dem innersten Hervorbringen
der Gedanken, der Seele unablässig vorführt, in dem engsten
Zusammenhange mit der individuellen Sprachanlage jeder Nation stehen.

142 • Wilhelm von Humboldt


Ao mesmo tempo, conforme observado acima, há na língua uma
duplicidade cuja necessária união nem sempre afeta a alma. A língua
forma conceitos e introduz o domínio do pensamento na vida por meio
do som. O estímulo intelectual que a língua provoca pode ter como
resultado que, ao ser afetado preferencialmente pelo pensamento, se
tente conceituá-lo por outros caminhos, mais imediatos, mais sensoriais
ou mais puros, ou mais independentes do som, que parece arbitrário.
Nesse caso, a palavra é tratada como um recurso auxiliar. Por outro lado,
pode ser que precisamente o pensamento revestido de som surta mais
efeito na alma do que o tom moldado em palavras desperte entusiasmo.
Nesse caso, o principal é a língua e o pensamento parece apenas estar
brotando dela, intrinsecamente entrelaçado nela.
Quando se comparam as línguas com a individualidade das nações,
deve-se observar em primeiro lugar a inclinação intelectual geral delas
e depois a diferença acima mencionada, a afinidade com o som, o
sutil sentimento de discernimento na receptividade infinita do som ao
pensamento, a leve vivacidade a ser por ele afinada e a dar inúmeras
formas ao pensamento, formas estas que, por terem sua estimulação na
farta matéria sensorial do som, o próprio intelecto não poderia criar,
de cima, por meio da divisão do pensamento. Seria fácil mostrar que
essa inclinação é necessariamente a mais bem-sucedida para qualquer
atividade intelectual, pois o ser humano só é ser humano mediante a
língua, e a língua só é língua pelo fato de que procura assonância com
o pensamento unicamente na palavra. Mas podemos deixar isso de
lado, por enquanto, e apenas constatar que a língua não pode atingir
perfeição maior a não ser dessa maneira. Aquilo que ressalta e revela a
articulação dos sons, ou seja, sua propriedade de formar pensamentos,
vai ser avidamente procurado e adotado, considerando a disposição
intelectual, e assim a escrita alfabética, que apresenta continuamente à
alma a articulação dos sons na formação mais íntima do pensamento,
primeiro na notação e depois ao desenvolver um hábito geral, deve estar
estreitamente conectada com a predisposição linguística de cada nação.

Ensaios sobre língua e linguagem • 143


Auch erfunden oder gegeben, wird sie ihre volle und eigenthümliche
Wirkung nur da ausüben, wo ihr die dunkle Empfindung des
Bedürfnisses nach ihr schon vorangieng.
So unmittelbar an die innerste Natur der Sprache geknüpft, übt
sie nothwendig ihren Einfluss auf alle Theile derselben aus, und wird
von allen Seiten her in ihr gefordert. Ich will jedoch nur an zwei Punkte
erinnern, mit welchen ihr Zusammenhang vorzüglich einleuchtend
ist, an die rhythmischen Vorzüge der Sprachen, und die Bildung der
grammatischen Formen.
Ueber den Rhythmus ist es in dieser Beziehung kaum nöthig,
etwas hinzuzufügen. Das reine und volle Hervorbringen der Laute,
die Sonderung der einzelnen, die sorgfältige Beachtung ihrer
eigenthümlichen Verschiedenheit kann da nicht entbehrt werden, wo
ihr gegenseitiges Verhältniss die Regel ihrer Zusammenreihung bildet.
Es hat gewiss rhythmische Dichtung bei allen Nationen vor dem
Gebrauch einer Schrift gegeben, auch regelmässig sylbenmessende
bei einigen, und bei wenigen, vorzüglich glücklich organisirten hohe
Vortreflichkeit in dieser Behandlung. Es muss diese aber unläugbar
durch das Hinzukommen des Alphabetes gewinnen, und vor dieser
Epoche zeugt sie selbst schon von einem solchen Gefühl der Natur
der einzelnen Sprachlaute, dass eigentlich nur das Zeichen dafür
noch mangelt, wie auch in andren Bestrebungen der Mensch oft erst
von der Hand des Zufalls den sinnlichen Ausdruck für dasjenige
erwarten muss, was er geistig längst in sich trägt. Denn bei der
Würdigung des Einflusses der Buchstabenschrift auf die Sprache
ist vorzüglich das zu beachten, dass auch in ihr eigentlich zweierlei
liegt, die Sonderung der articulirten Laute, und ihre äussren Zeichen.
Wir haben schon oben, bei Gelegenheit der Chinesen, bemerkt,
und die Behauptung lässt sich, unter Umständen, auch auf wahrhaft
alphabetische Schrift ausdehnen, dass nicht jeder Gebrauch einer
Lautbezeichnung den entscheidenden Einfluss auf die Sprache
hervorbringt, den die Auffassung der Buchstabenschrift in ihrem
wahren Geist einer Nation und ihrer Sprache allemal zusichert.

144 • Wilhelm von Humboldt


A escrita alfabética, seja inventada ou adotada, vai produzir um
efeito pleno e peculiar somente quando existir uma vaga sensação de
necessidade, anterior a ela.
Vinculada diretamente à natureza mais profunda da língua, a
escrita alfabética necessariamente exerce influência em todas as partes
da língua e é exigida em todos os seus aspectos. Mas eu gostaria de
relembrar apenas dois momentos em que a ligação da escrita alfabética
com a língua parece especialmente evidente, a saber, na qualidade
rítmica e na construção das formas gramaticais.
A respeito do ritmo não é preciso acrescentar muita coisa. A
pura e plena produção dos sons, a distinção de cada um, a criteriosa
observação de suas idiossincrasias, nada disso pode faltar num contexto
em que a relação mútua estabelece as regras de seriação dos sons.
Certamente existia poesia rítmica em todas as nações antes do uso da
escrita, e em algumas se media regularmente as sílabas, enquanto em
poucas, organizadas de modo excepcionalmente feliz, havia suprema
excelência nisso. Mas não se pode negar que essa poesia rítmica
ganha em muito com a escrita alfabética; além do mais, a existência
desse tipo de poesia antes da escrita alfabética é testemunha de uma
sensibilidade para com a natureza dos sons individuais da língua,
para os quais faltava apenas o signo, de modo que, como acontence
frequentemente com outras aspirações humanas, os homens devem
aguardar que venha da mão do destino a expressão sensorial para o que
já está, há muito, mentalmente dentro deles. Ao apreciar a influência
da escrita alfabética sobre a língua, deve-se considerar primeiramente
que nessa escrita há dois aspectos: a distinção dos sons articulados e
seus signos materiais. Afirmamos acima a respeito dos chineses, e essa
afirmação talvez possa ser estendida às verdadeiras escritas alfabéticas,
que nem todo uso de signos fonéticos exerce necessariamente a
influência decisiva que a adoção de uma escrita alfabética, com sua
verdadeira natureza, poderia assegurar a uma nação e sua língua.

Ensaios sobre língua e linguagem • 145


Wo dagegen, auch noch ohne den Besitz alphabetischer Zeichen,
durch die hervorstechende Sprachanlage eines Volks jene innere
Wahrnehmung des articulirten Lauts (gleichsam der geistige Theil des
Alphabets) vorbereitet und entstanden ist, da geniesst dasselbe, schon
vor der Entstehung der Buchstabenschrift, eines Theils ihrer Vorzüge.
Daher sind Sylbenmasse, die sich, wie der Hexameter und der
sechzehnsylbige Vers der Slocas aus dem dunkelsten Alterthum her auf
uns erhalten haben, und deren blosser Sylbenfall noch jetzt das Ohr
in einen unnachahmlichen Zauber wiegt, vielleicht noch stärkere und
sichrere Beweise des tiefen und feinen Sprachsinns jener Nationen, als
die Ueberbleibsel ihrer Gedichte selbst. Denn so eng auch die Dichtung
mit der Sprache verschwisten ist, so wirken doch natürlich mehrere
Geistesanlagen zusammen auf sie; die Auffindung einer harmonischen
Verflechtung von Sylben-Längen und Kürzen aber zeugt von der
Empfindung der Sprache in ihrer wahren Eigenthümlichkeit, von der
Regsamkeit des Ohrs und des Gemüths, durch das Verhältniss der
Articulationen dergestalt getroffen und bewegt zu werden, dass man
die einzelnen in den verbundnen unterscheidet, und ihre Tongeltung
bestimmt und richtig erkennt.
Dies liegt allerdings zum Theil auch in dem, der Sprache nicht
unmittelbar angehörenden musikalischen Gefühl. Denn der Ton besitzt
die glückliche Eigenthümlichkeit, das Idealische auf zwei Wegen, durch
die Musik und die Sprache, berühren, und diese beiden mit einander
verbinden zu können, woher der von Worten begleitete Gesang wohl
unbestreitbar im ganzen Gebiete der Kunst, weil sich zwei ihrer
bedeutendsten Formen in ihm vereinen, die vollste und erhebendste
Empfindung hervorbringt. Je lebendiger aber jene Sylbenmasse auch für
die musikalische Anlage ihrer Erfinder sprechen, desto mehr zeugen sie
von der Stärke ihres Sprachsinnes, da gerade durch sie dem articulirten
Laut, also der Sprache, neben der hinreissenden Gewalt der Musik, sein
volles Recht erhalten wird.

146 • Wilhelm von Humboldt


Mesmo antes do surgimento da escrita alfabética, porém, naquele
momento em que a percepção interior do som articulado já estava
preparada e se originou em virtude da proeminente predisposição
linguística de uma nação (algo como a parte mental do alfabeto), ela
desfrutava de uma parte dessa percepção.
Por isso, as métricas de sílabas que, como o hexâmetro e o verso de
dezesseis sílabas dos Slokas13, se conservaram desde a antiguidade mais
obscura, chegando até nós, e cuja cadência silábica até hoje proporciona
um encanto inigualável para o ouvido, talvez sejam uma evidência
mais forte e indubitável do profundo e refinado sentido da linguagem
dessas nações do que os remanescentes das próprias poesias. Por mais
estreito que seja o parentesco entre língua e poesia, existem várias
outras predisposições intelectuais que também atuam conjuntamente
sobre esta. Mas a descoberta de um entrelaçamento harmônico entre as
sílabas longas e breves atesta uma sensibilidade para com a verdadeira
singularidade da língua e uma receptividade da audição e do ânimo a ser
atingida e comovida de tal modo pela relação entre os sons articulados,
que se reconhece a articulação individual nas combinações sonoras e se
determina o valor dos sons corretamente.
Isso se deve, em parte, à sensibilidade musical, que não é uma
parte imediata da língua, pois o som tem a afortunada característica de
atingir o que é ideal por duas vias, a música e a língua, casando as duas.
Sem dúvida, o canto acompanhado de palavras evoca em cada área
das artes a mais plena e sublime sensação porque nele se reúnem duas
formas artísticas importantes14. As métricas das sílabas testemunham
vividamente o dom musical de seus criadores, mas atestam ainda
mais o forte sentido da linguagem porque é por meio delas que o som
articulado, ou seja, a língua, mantém sua merecida posição, ao lado da
força arrebatadora da música.

Ensaios sobre língua e linguagem • 147


Denn die antiken Sylbenmasse unterscheiden sich eben dadurch am
allgemeinsten von den modernen, dass sie, auch in dem musikalischen
Ausdruck, den Laut immer wahrhaft als Sprachlaut behandeln,
die wiederkehrende, vollständige oder unvollständige Gleichheit
verbundner Laute (Reim und Assonanz), die auf den blossen Klang
hinausläuft, verschmähen, und nur sehr selten die Sylben gegen ihre
Natur, bloss der Gewalt des Rhythmus gehorchend, zu dehnen oder
zu verkürzen erlauben, sondern genau dafür sorgen, dass sie in ihrer
natürlichen Geltung, klar und unverändert austönend, harmonisch
zusammenklingen.
Die Beugung, auf welcher das Wesen der grammatischen Formen
beruht, führt nothwendig auf die Unterscheidung und Beachtung der
einzelnen Articulationen. Wenn eine Sprache nur bedeutsame Laute an
einander knüpft, oder es wenigstens nicht versteht, die grammatischen
Bezeichnungen mit den Wörtern fest zusammenzuschmelzen, so hat sie
es nur mit Lautganzen zu thun, und wird nicht zu der Unterscheidung
einer einzelnen Articulation, wie durch das Erscheinen des nemlichen,
nur in seinen Beugungen verschiednen Wortes angeregt. So wie daher
Feinheit und Lebendigkeit des Sprachsinnes zu festen grammatischen
Formen führen, so befördern diese die Anerkennung des Alphabetes,
als Lauts, welcher hernach leichter die Erfindung, oder fruchtbarere
Benutzung der sichtbaren Zeichen folgt. Denn wo sich ein Alphabet
zu einer grammatisch noch unvollkommneren Sprache gesellt, kann
Beugung durch Hinzufügung und Umänderung einzelner Buchstaben
gebildet, die vorhandne sichrer bewahrt, und die noch halb in Anfügung
begriffne reiner abgeschieden werden.
Wodurch aber die Buchstabenschrift noch viel wesentlicher,
obgleich nicht so sichtlich an einzelnen Beschaffenheiten erkennbar,
auf die Sprache wirkt, ist dadurch, dass sie allein erst die Einsicht
in die Gliederung derselben vollendet, und das Gefühl davon
allgemeiner verbreitet. Denn ohne die Unterscheidung, Bestimmung
und Bezeichnung der einzelnen Articulationen, werden nicht die
Grundtheile des Sprechens erkannt, und der Begriff der Gliederung
wird nicht durch die ganze Sprache durchgeführt.

148 • Wilhelm von Humboldt


De modo geral, as métricas silábicas da Antiguidade se distinguem
das modernas sobretudo por realmente tratarem o som, também na
expressão musical, sempre como um som da língua, menosprezando
a constante semelhança completa ou incompleta dos sons encadeados
(rima e assonância), a qual focaliza a mera imagem sonora. Além disso,
raras vezes essas métricas permitem que as sílabas sejam contraídas ou
alongadas contra sua própria natureza, obedecendo à força do ritmo;
muito pelo contrário, elas soam conforme seu valor natural, de forma
clara, inalterada e consoam harmonicamente.
A flexão, na qual se baseia a essência das formas gramaticais, leva
obrigatoriamente à distinção e à observação das articulações individuais.
Caso a língua ligue apenas sons com significado ou não consiga prender
as formas gramaticais às palavras, ela vai lidar com a totalidade de
sons, não sendo estimulada a distinguir a articulação individual, como
acontece com o surgimento de palavras idênticas, diferenciadas somente
pela flexão. Do mesmo modo que a sutileza e a vivacidade do sentido
da linguagem resultam em formas gramaticais fixas, estas últimas
promovem o reconhecimento do alfabeto como representação do som,
o que vem a facilitar a invenção ou o uso produtivo de sinais gráficos.
Quando um alfabeto se associa a uma língua ainda gramaticalmente
imperfeita, a flexão pode ser formada por acréscimo ou modificação
de letras separadas, a flexão já existente pode ser preservada mais
seguramente e aquela que ainda é quase afixação pode ser separada mais
claramente15.
Mas o efeito mais fundamental que a escrita alfabética tem na
língua, embora não tão óbvio e visível em detalhes, é que apenas através
dela o conhecimento da estruturação da língua é aperfeiçoado e o
sentimento em relação a essa estruturação é difundida de modo mais
generalizado. Sem a diferenciação, a determinação e a classificação das
articulações individuais, não é possível identificar os elementos básicos
da fala e o conceito da estruturação não é aplicado a toda a língua.

Ensaios sobre língua e linguagem • 149


Jeden in einem Gegenstande liegenden Begriff aber vollständig
durchzuführen, ist überhaupt und überall von der grössesten
Wichtigkeit, und noch mehr da, wo der Gegenstand, wie die Sprache,
ganz ideal ist, und wo, theils zugleich, theils nach einander, der
Instinct handelt, das Gefühl ahndet, der Verstand einsieht, und die
Verstandeseinsicht wieder auf das Gefühl, und dieses auf den Instinct
berichtigend zurückwirkt. Die Folgen des Mangels davon erstrecken
sich wen über den unvollendet bleibenden Theil hinaus, bei den
Sprachen ohne Buchstabenschrift, und ohne sichtbare Spuren eines
nach derselben empfundnen Bedürfnisses, nicht bloss auf die richtige
und vollständige Einsicht in die Articulation der Laute, sondern über
die ganze Art ihres Baues und ihres Gebrauchs. Die Gliederung ist
aber gerade das Wesen der Sprache; es ist nichts in ihr, das nicht Theil
und Ganzes seyn könnte, die Wirkung ihres beständigen Geschäfts
beruht auf der Leichtigkeit, Genauigkeit und Uebereinstimmung
ihrer Trennungen und Zusammensetzungen. Der Begriff der
Gliederung ist ihre logische Function, so wie die des Denkens selbst.
Wo also, vermöge der Schärfe des Sprachsinnes, in einem Volk die
Sprache in ihrer ächten, geistigen und tönenden Eigenthümlichkeit
empfunden wird, da wird dasselbe angeregt, bis zu ihren Elementen,
den Grundlauten, vorzudringen, dieselben zu unterscheiden und zu
bezeichnen, oder mit andren Worten, Buchstabenschrift zu erfinden,
oder sich darbietende begierig zu ergreifen.
Richtigkeit der intellectuellen Ansicht der Sprache, von
Lebendigkeit und Feinheit zeugende Bearbeitung ihrer Laute, und
Buchstabenschrift erheischen und befördern sich daher gegenseitig,
und vollenden, vereint, die Auffassung und Bildung der Sprache in ihrer
ächten Eigenthümlichkeit. Jeder Mangel an einem dieser drei Punkte
wird in ihrem Bau, oder ihrem Gebrauche fühlbar, und wo die natürliche
Einwirkung der Dinge nicht durch besondre Umstände Abweichungen
erfährt, da darf man sie vereint, und noch verbunden mit Festigkeit
grammatischer Formen und rhythmischer Kunst anzutreffen hoffen.
Die hier gemachte Einschränkung beugt dem Bestreben vor,
dasjenige, was sich theoretisch ergiebt, nun auch durch die Geschichte
der Völker (sollte man es ihr auch aufdringen müssen) sogleich
beweisen, oder voreilig widerlegen zu wollen.

150 • Wilhelm von Humboldt


Mas aplicar, de forma completa, cada conceito presente em um
objeto é de suma importância em qualquer lugar, ainda mais quando
o objeto, como é o caso da língua, é totalmente ideal, quando, em
parte simultaneamente, em parte sucessivamente, o instinto age, o
sentimento intui e o intelecto compreende, e quando essa compreensão
intelectual tem um efeito corretivo no sentimento e este, por sua
vez, no instinto. As consequências das deficiências acima descritas
se estendem bem além da parte incompleta de línguas sem escrita
alfabética e sem vestígios reconhecíveis da necessidade de criar uma,
repercutindo não apenas no conhecimento completo e apropriado
da articulação dos sons, como também na natureza estrutural e no
uso da língua. A estruturação é justamente a essência da língua e não
existe nada nela que não possa ser ao mesmo tempo parte e todo;
o efeito de seu funcionamento contínuo baseia-se na facilidade, na
precisão e na congruência de suas divisões e composições. O conceito
da estuturação é a função lógica da língua, tanto quanto a função
do próprio pensamento16. Quando uma nação sente a verdadeira
particularidade sonora e intelectual da língua, em virtude de uma
aguçada sensibilidade, ela é estimulada a avançar até os elementos
constitutivos, i.e., os sons básicos, diferenciando-os e qualificando-
os, ou, em outras palavras, a inventar uma escrita alfabética ou se
apoderar avidamente de uma já existente.
Assim, uma precisa percepção intelectual da língua, um
processamento de sons com vivacidade e refinamento, e a escrita
alfabética são interdependentes e assistem-se mutuamente, além de
juntos aperfeiçoarem a concepção e a formação do que é verdadeiramente
inerente à língua. Qualquer deficiência em um desses três aspectos será
perceptível na estrutura ou no uso, e, nos casos em que a atuação natural
dos fatores não é desviada por circunstâncias especiais, espera-se
encontrá-los juntos e combinados com a firmeza das formas gramaticais
e a arte rítmica.
As limitações explicitadas aqui evitam a tendência de se provar
imediatamente ou refutar precipitadamente resultados de considerações
teóricas a partir de uma forçada história das nações. Mas inferências
baseadas em simples concepções não são inválidas, desde que sejam
apropriadas e completas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 151


Darum darf aber die Entwicklung aus blossen Begriffen, wenn sie nur
sonst richtig und vollständig ist, nicht unnütz genannt werden. Sie
muss vielmehr, wo es nur irgend angeht, die Prüfung der Thatsachen
begleiten, und ihr die Punkte der Untersuchung bestimmen helfen.
Nach dem im Vorigen über den Zusammenhang des Sprachbaues mit
der Buchstabenschrift Gesagten, werden erschöpfende Untersuchungen
über die Verbreitung der letzteren nicht von der Geschichte der
Sprachen selbst getrennt werden dürfen, und es wird überall auf die
Frage ankommen: ob es die Beschaffenheit der Sprache, und die sich
in ihr ausdrückende Sprachanlage der Nation, oder andre Umstände
waren, welche wesentlich auf die Art der Erfindung oder Aneignung
eines Alphabets einwirkten? inwiefern diese Entstehungsweise die
Beschaffenheit desselben bestimmte oder veränderte, und welche
Spuren es, bei allgemein gewordenem Gebrauch, in der Sprache
zurückliess?
Es kann hier nicht meine Absicht seyn, nach der bis jetzt versuchten
Entwicklung aus Ideen, noch in eine historische Untersuchung der
Sprachen in Beziehung auf die Schriftmittel, deren sie sich bedienen,
einzugehen. Nur um im Ganzen den behaupteten Zusammenhang
zwischen der Buchstabenschrift und der Sprache auch an einer
Thatsache zu erläutern, sey es mir erlaubt, diese Abhandlung mit einigen
Betrachtungen über die Amerikanischen Sprachen in dieser Hinsicht zu
beschliessen.
Man kann es als eine Thatsache annehmen, dass sich in keinem
Theile Amerika’s eine Spur einer Buchstabenschrift gezeigt hat,
obgleich es bisweilen behauptet oder vermuthet worden ist. Unter den
Mexikanischen Hieroglyphen lindet sich zwar eine, zum Theil den
Chinesischen Coua’s ähnliche Gattung, die noch nicht genau erläutert
ist, und dies, bei den wenigen vorhandnen Ueberbleibseln, auch
wahrscheinlich nicht zulässt; wären aber darin auf irgend eine Weise
Lautzeichen, so wurden die Nachrichten, die wir über das Land und
seine Geschichte besitzen, davon Spuren enthalten. Man könnte zwar
hier die Einwendung machen, dass auch von Buchstabenzeichen in den
Hieroglyphen das Alterthum schweigt. Allein hier ist der Fall durchaus
anders.

152 • Wilhelm von Humboldt


Ao contrário, elas têm de acompanhar a verificação dos fatos sempre
que possível e ajudar a determinar os pontos relevantes da pesquisa.
Do que foi dito anteriormente sobre a conexão entre a construção da
língua e a escrita alfabética depreende-se que pesquisas exaustivas
sobre a difusão desta não devem ser separadas da história das
respectivas línguas, e as questões que sempre se colocam são: foi a
própria natureza da língua e o espírito da nação expresso nela ou foram
outras circunstâncias que atuaram substancialmente na maneira como
se inventou ou se apropriou de uma escrita alfabética? Em que medida
a maneira de sua gênese influenciou ou modificou sua constituição e
que vestígios essa escrita deixou na língua, quando passou a ter seu
uso generalizado?
Não tenho a intenção de aprofundar aqui as considerações teóricas
apresentadas ou de apresentar uma pesquisa histórica das línguas a
respeito do uso dos sistemas de escrita, mas, para elucidar o que foi
afirmado teoricamente em relação à conexão entre a escrita alfabética
e a língua com fatos, permitam-me concluir este tratado com algumas
observações sobre as línguas americanas.
Pode-se aceitar como fato que em nenhuma parte das Américas
há vestígios de uma escrita alfabética, mesmo que se tenha por vezes
afirmado o contrário ou pelo menos suspeitado. Entre os hieróglifos
mexicanos existe um tipo que tem uma certa semelhança com os guas
chineses17, mas ele ainda não foi analisado o bastante, e talvez nem
seja possível uma análise profunda com base nos parcos fragmentos
que existem dessa escrita. Se nela existissem símbolos fonéticos, as
informações que temos sobre o país e sua história conteriam pistas desse
fato. Certamente se poderia contra-argumentar que o mundo antigo
nada revela sobre os símbolos fonéticos dos hieróglifos egípcios, mas
esse caso é bem diferente.

Ensaios sobre língua e linguagem • 153


Dass Aegypten Buchstabenschrift besass, fieng nur in den allerneuesten
Zeiten an bezweifelt zu werden, als man auch die demotische Schrift
für Begriffszeichen erklärte, sonst gab es eine Menge von Zeugnissen,
die es bewiesen, oder vermuthen liessen. Nur darüber stritt man,
welche unter den Aegyptischen Schriftarten die alphabetische gewesen
sey, oder suchte vielmehr den Sitz dieser bloss in der obengenannten
demotischen.
Dass in Amerika ein Zustand früherer Cultur über die ältesten
Anfänge der uns bekannten Geschichte hinaus untergegangen ist,
beweist eine Reihe von Denkmälern, theils in Gebäuden, theils in
künstlicher Bearbeitung des Erdbodens, die sich von den grossen Seen
des nördlichen Theiles bis zur südlichsten Gränze Peru‘s erstrecken,
von welchen ich zu einem andren Zweck theils aus der Reise meines
Bruders, der ihre Gränzen, die Mittelpunkte dieser Civilisation, und den
Strich, dem sie folgt, genau angiebt, und die Ursachen des letzteren sehr
glücklich nachweist, theils aus andren Quellen, vorzüglich den Werken
der ersten Eroberer, ein Verzeichniss zusammengetragen habe.
Meine Aufmerksamkeit bei der Untersuchung der Amerikanischen
Sprachen ist daher immer zugleich darauf gerichtet gewesen, ob ihr
Bau Spuren des Gebrauchs verloren gegangner Alphabete an sich
trage? Ich habe jedoch nie dergleichen angetroffen; vielmehr ist der
Organismus dieser Sprachen gerade von der Art, dass man, von den
obigen allgemeinen Betrachtungen über den Zusammenhang der
Sprache mit der Buchstabenschrift ausgehend, recht füglich begreifen
kann, dass weder sie zur Erfindung eines Alphabets führten, noch auch,
wenn sich ein solches dargeboten hätte, eine mehr als gleichgültige
Aneignung desselben erfolgt seyn würde. Die Aufnahme der nach
Amerika gekommenen Europäischen Schrift beweist indess freilich
hierfür nichts. ung desselben erfolgt seyn würde. Die Aufnahme der
nach Amerika gekommenen Europäischen Schrift beweist indess
freilich hierfür nichts. Denn die unglücklichen Nationen wurden
gleich so niedergedrückt, und ihre edelsten Stämme grossentheils
dergestalt ausgerottet, dass an keine freie, wenigstens keine geistige
nationelle Thätigkeit zu denken war. Einige Mexicaner ergriffen aber
wirklich das neue Aufzeichnungsmittel, und hinterliessen Werke in der
einheimischen Sprache.

154 • Wilhelm von Humboldt


Só recentemente surgiram dúvidas quanto à existência de uma
escrita alfabética no Egito, quando a escrita demótica também foi
reconhecida como ideográfica18. Havia, no entanto, muitos indícios
que comprovavam ou que deixavam pressupor a existência de uma
escrita alfabética. Discutia-se unicamente sobre qual das escritas
egípcias havia sido a alfabética, ou melhor, procurava-se localizá-la
apenas na escrita demótica.
O fato de que nas Américas o estado da cultura entrou em
declínio bem antes do início de nosso conhecimento histórico é
comprovado com memoriais, ora sob a forma de edificações, ora na
sofisticada maneira de cultivo da terra. Compilei uma lista desses
memoriais, que se estendem desde os Grandes Lagos no Norte até
o extremo sul do Peru, mas foi para outros fins19. Ela se baseia, em
parte, nas informações dos primeiros conquistadores, além de outras
fontes e, em parte, nos relatos da viagem de meu irmão, que descreve
com exatidão as fronteiras, os centros dessa civilização e a rota que
ela segue, tendo conseguido determinar as causas do desenvolvimento
dessa rota de forma muito convincente.
Por isso, na análise das línguas americanas minha atenção
sempre se voltou também para a discussão sobre se a construção
revelava vestígios de alfabetos perdidos. Nunca me deparei com
nada desse gênero; ao contrário, o organismo dessas línguas é tal
que, partindo das observações gerais sobre o nexo entre a escrita
alfabética e a língua, permite facilmente compreender que as línguas
das Américas não favoreceram a invenção de uma escrita alfabética
e, além disso, mesmo que uma escrita desse tipo estivesse disponível,
teria ocorrido uma apropriação mais do que indiferente dela. O uso
da escrita europeia importada nada prova a esse respeito porque essas
infelizes nações foram oprimidas logo no início e as tribos mais nobres
foram exterminadas de tal forma que as atividades nacionais livres se
tornaram impossíveis, sobretudo as intelectuais. Alguns mexicanos,
no entanto, fizeram uso da nova ferramenta de registro e deixaram
obras na língua indígena.

Ensaios sobre língua e linguagem • 155


Alle Vortheile des Gebrauchs der Buchstabenschrift beziehen sich,
wie im Vorigen gezeigt ist, hauptsächlich auf die Form des Ausdrucks,
und vermittelst dieser, auf die Entwicklung der Begriffe, und die
Beschäftigung mit Ideen. Darin liegt ihre Wirkung, daraus entspringt
das Bedürfniss nach ihr. Gerade die Form des Gedankens aber wird
durch den Bau der Amerikanischen Sprachen, die zwar bei weitem nicht
die bisweilen behauptete, aber doch, und eben hierin, eine auffallende
Gleichartigkeit haben, nicht vorzüglich begünstigt, oft durchaus
vernachlässigt, und die Amerikanischen Volksstämme standen, auch bei
der Eroberung, und in ihren blühendsten Reichen, nicht auf der Stufe,
wo im Menschen der Gedanke, als überall herrschend, hervortritt.
An die Seltenheit und zum Theil den gänzlichen Mangel solcher
grammatischer Bezeichnungen, die man ächte grammatische Formen
nennen könnte, will ich hier nur im Vorbeigehen noch einmal
erinnern. Aber ich glaube mich nicht zu irren, wenn ich auch die
nur durch höchst seltne Abweichungen unterbrochne strenge und
einförmige Analogie dieser Sprachen, die Häufung aller durch einen
Begriff gegebnen Nebenbestimmungen, auch da, wo ihre Erwähnung
nicht nothwendig ist, die vorherrschende Neigung zu dem besondren
Ausdruck, statt des allgemeineren, hierher zähle. Der dauernde
Gebrauch einer alphabetischen Schrift würde, wie es mir scheint,
nicht nur diese Dinge abgeändert oder umgestaltet haben, sondern
lebendigere nationelle Geistigkeit hätte sich auch dieser unbehülflichen
Fesseln zu entledigen gewusst, die Begriffe in ihrer Allgemeinheit
aufgefasst, die in dem Gedanken und der Sprache liegende Gliederung
energischer und angemessner angewandt, und den Drang gefühlt, das
ängstliche Aufbewahren der Sprache im Gedächtniss durch Zeichen für
das Auge zu sichern, damit die Reflexion ruhiger über ihr walten, und
der Gedanke sich in festeren, aber mannigfaltiger wechselnden und
freieren Formen bewegen könne. Denn wenn die Buchstabenschrift
nicht die Bevölkerung Amerika’s begleitet hatte (insofern man
nemlich überhaupt eine von der Fremde her annimmt), so waren die
Amerikanischen Nationen wohl nur auf eigne Erfindung derselben
zurückgewiesen, und da diese mit ungemeinen Schwierigkeiten
verbunden ist, so mag die lange Entbehrung einer Buchstabenschrift
nicht unbedeutend auf den Bau ihrer Sprachen eingewirkt haben.

156 • Wilhelm von Humboldt


Conforme demonstrei, todas as vantagens de se usar uma escrita
alfabética estão relacionadas principalmente à forma da expressão e, por
meio desta, ao desenvolvimento de conceitos e à ocupação com ideias.
Esse é o efeito da escrita alfabética e a causa de sua necessidade. Mas a
forma do pensamento, em específico, não é favorecida na construção
das línguas americanas, ao contrário, com frequência é inteiramente
negligenciada. E, nesse aspecto, essas línguas têm uma semelhança
ostensiva, mas não do modo como vem sendo por vezes afirmado.
Quando foram conquistadas e mesmo nos impérios mais prósperos,
as nações americanas não tinham alcançado aquele nível em que o
pensamento emerge no ser humano como um elemento em toda parte
dominante20.
Destaco aqui passageiramente a raridade ou a ausência completa
do que se pode chamar verdadeiras formas gramaticais. Creio que
não esteja cometendo um erro quando acrescento aqui as seguintes
características dessas línguas: a rígida e uniforme analogia, raramente
quebrada por exceções; a acumulação de determinações adicionais a
um conceito, mesmo quando desnecessárias; e a tendência dominante
à expressão específica em lugar da mais geral. O uso contínuo de uma
escrita alfabética, ao que me parece, não apenas teria modificado ou
remodelado esses aspectos, como também uma intelectualidade nacional
mais viva teria conseguido se desfazer desses grilhões inúteis, teria
captado os conceitos em sua generalidade e aplicado mais vigorosamente
a estruturação inerente ao pensamento e à língua. Além do mais, teria
sentido o impulso de assegurar, por meio de signos visuais, o tímido
armazenamento da língua na memória, para que a reflexão pudesse lidar
com a língua com mais tranquilidade e o pensamento tivesse condições
de se mover dentro de formas mais fixas, porém mais diversificadas e
livres. Se a escrita alfabética não tivesse acompanhado a população das
Américas (contanto que se aceite uma vinda de terras alheias), então as
nações americanas dependeriam da invenção de uma própria e, como
se trata de um processo extremamente difícil, a longa privação de uma
escrita alfabética deve ter tido um efeito considerável em suas línguas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 157


Diese Einwirkung konnte auch noch dadurch besonders modificirt
werden, dass auch die Gattung der Schrift, welche einige Amerikanische
Völker wirklich besessen, nicht von der Art war, bedeutenden Einfluss
auf die Sprache und das Gedankensystem auszuüben.
Ich berühre jedoch dies nur im Vorbeigehn, da, um wirklich darauf
fussen zu können, es eine Vergleichung der Sprachen Amerika’s mit
denen der Völkerstämme andrer Welttheile, die sich gleichfalls keiner
Schriftzeichen bedienen, und mit der Chinesischen, der wenigstens
alphabetische fremd sind, nothwendig machen würde, zu welcher hier
nicht der Ort ist.
Dagegen liegt es den hier anzustellenden Betrachtungen näher,
und leuchtet von selbst ein, dass lange Entbehrung der Schrift die
regelmässige Einförmigkeit des Sprachbaues, die man fälschlich für
einen Vorzug hält, befördert. Abweichungen werden dem Gedächtniss
mühevoller aufzubewahren, vorzüglich wenn noch nicht hinreichendes
Nachdenken über die Sprache erwacht ist, um ihre inneren Gründe zu
entdecken und zu würdigen, oder nicht genug Forschungsgeist, ihre
bloss geschichtlichen aufzusuchen. Das Vorherrschen des Gedächtnisses
gewöhnt auch die Seele an das Hervorbringen der Gedanken in
möglichst gleichem Gepräge, und der auf genaue Sprachuntersuchung
gerichteten Aufmerksamkeit endlich sind die Fälle nicht fremd, wo die
Schrift selbst, das Aneinanderreihen der Buchstaben, Abkürzungen und
Veränderungen hervorbringt.
Man darf hiermit nicht verwechseln, dass die Schrift den
Formen auch mehr Festigkeit, und dadurch in andrer Rücksicht mehr
Gleichförmigkeit giebt. Dadurch wirkt sie vorzüglich nur der Spaltung
in zu vielfältige Mundarten entgegen, und schwerlich würden sich,
bei anhaltendem Schriftgebrauch, die den meisten Amerikanischen
Sprachen eignen Verschiedenheiten der Ausdrükke der Männer und
Weiber, Kinder und Erwachsnen, Vornehmen und Geringen erhalten
haben. In demselben Stamm und derselben Classe zeigen sonst gerade
die Amerikanischen Nationen ein bewunderungswürdiges Festhalten
der gleichen Formen durch die blosse Ueberlieferung. Man hat
Gelegenheit, dies durch die Vergleichung der Schriften der in die ersten
Zeiten der Europaeischen Ansiedelungen fallenden Missionarien mit
der heutigen Art zu sprechen zu bemerken.

158 • Wilhelm von Humboldt


Esse efeito também poderia ter sido alterado pelo fato de que o tipo
de escrita que alguns povos americanos, de fato, possuíram não tinha
uma influência significativa na língua e no sistema do pensamento.
Menciono isso apenas passageiramente porque, para se ter uma
base mais sólida, seria preciso uma comparação entre as línguas das
Américas, aquelas de nações de outras partes do mundo que também
não fazem uso de sinais escritos, e a língua chinesa, que não conhece a
escrita alfabética; mas aqui não é o lugar.
No entanto, o que mais se aproxima das presentes considerações
e parece até óbvio é que a privação prolongada de uma escrita favorece
a uniformidade regular da construção linguística, às vezes considerada
erroneamente como um mérito. É muito mais árduo para a memória
arquivar irregularidades, principalmente quando ainda não foi despertada
uma reflexão sobre a língua suficiente para descobrir e apreciar as razões
profundas da existência delas, ou quando falta o espírito investigativo
para descobrir seus motivos meramente históricos. A preponderância
da memória também habitua a alma a criar o pensamento de modo o
mais uniforme possível, e não são desconhecidos da criteriosa análise
linguística casos em que a própria escrita, o simples sequenciamento
das letras, gera abreviações e mudanças.
Não se deve confundir o que foi dito acima com o fato de que a
escrita propicia mais estabilidade às formas da língua, criando, sob outro
aspecto, mais homogeneidade. Por meio desse processo, a escrita inibe
a diversificação da língua em muitas variedades, e é difícil imaginar
que as línguas americanas teriam preservado as diversas expressões
da linguagem própria dos homens e das mulheres, das crianças e dos
adultos, da classe alta e da classe baixa, se tivesse havido o uso contínuo
de uma escrita. Numa mesma tribo e numa mesma classe social, porém,
justamente as nações americanas mostram uma admirável manutenção
das formas linguísticas, por mera tradição. Pode-se observar isso
comparando os escritos dos missionários da época dos primeiros
assentamentos europeus com a maneira contemporânea de falar.

Ensaios sobre língua e linguagem • 159


Vorzüglich bietet sich dieselbe bei den Nordamerikanischen Stämmen
dar, da man sich in den Vereinigten Staaten (und jetzt leider nur dort)
auf eine höchst beifallswürdige Weise um die Sprache und das Schicksal
der Eingebornen bemüht. Es wäre indess sehr zu wünschen, dass sich
die Aufmerksamkeit noch bestimmter auf diese Vergleichung derselben
Mundarten in verschiednen Zeiten richtete. Die durch die Schrift
hervorgebrachte Festigkeit ist daher mehr ein Verallgemeinern der
Sprache, welches nach und nach in die Bildung eines eignen Dialects
übergeht, und sehr verschieden von der Durchführung Einer Regel
durch eine Menge zwar ähnlicher, doch, Begriff und Ton genau beachtet,
nicht immer ganz gleicher Fälle, von der wir oben redeten.
Alles hier Gesagte findet auch auf das Zusammenhäufen zu
vieler Bestimmungen in Einer Form Anwendung, und wenn man den
Gründen tiefer nachgeht, so hängen die hier erwähnten Erscheinungen
sämmtlich von der mehr, oder weniger stark und eigenthümlich auf die
Sprache gerichteten Regsamkeit des Geistes ab, von welcher die Schrift
zugleich Beweis und befördernde Ursach ist. Wo diese Regsamkeit
mangelt, zeigt es sich in dem unvollkommneren Sprachbau; wo sie
herrscht, erfährt dieser eine heilsame Umformung, oder kommt von
Anfang an nicht zum Vorschein. Mit dem einen und andren Zustande
aber ist die Schrift, das Bedürfniss nach ihr, die Gleichgültigkeit gegen
sie, in beständiger Verbindung.
Bei der Aufzählung der Ursachen der Eigenthümlichkeit der
Amerikanischen Sprachen darf man aber auch die oben erwähnte
Gleichartigkeit derselben, so wie die Absonderung Amerika‘s von den
übrigen Welttheilen nicht vergessen. Selbst wo entschieden verschiedne
Sprachen ganz nahe bei einander waren, wie im heutigen Neu-Spanien,
habe ich in ihrem Bau nie eine belebende oder gestaltende Einwirkung
der einen auf die andre an irgend einer sichren Spur bemerken
können. Die Sprachen vorzüglich gewinnen aber an Kraft, Reichthum
und Gestaltung durch das Zusammenstossen grosser und selbst
contrastirender Verschiedenheit, da auf diesem Wege ein reicherer
Gehalt menschlichen Daseyns, schon zu Sprache geformt, in sie übergeht.

160 • Wilhelm von Humboldt


Particularmente as tribos da América do Norte oferecem a
possibilidade de uma comparação desse tipo porque, nos Estados
Unidos (e infelizmente apenas lá), os pesquisadores se ocupam das
línguas e do destino dos povos indígenas de modo extremamente
louvável. Seria desejável, entretanto, que a atenção se voltasse mais
precisamente para a comparação do mesmo dialeto em diferentes
épocas. A estabilidade gerada pela escrita é, por conseguinte, mais uma
generalização da língua, que se translada pouco a pouco até formar
uma variedade própria, um processo bem diferente da aplicação de
uma regra a casos aparentemente semelhantes, mas que, após uma
minuciosa análise do conceito e do som, se afirmam como diferentes,
conforme já mencionado.
Tudo o que foi dito aqui se aplica também à acumulação de
várias determinações em uma só forma e, quando se examina
profundamentemente as causas, fica evidente que todos os fenômenos
aqui mencionados se relacionam com uma agilidade intelectual que se
dirige à língua, de modo particular e mais ou menos forte, e da qual
a escrita é ao mesmo tempo prova e causa propiciadora. Onde essa
agilidade falta, vemos uma certa imperfeição na construção da língua;
onde ela existe, a construção da língua passa por uma transformação
salutar ou as imperfeições são suprimidas desde o início. A escrita,
a necessidade dela ou a indiferença para com ela estão em constante
relacionamento com um desses dois casos.
Ao listar as causas das especificidades das línguas americanas, não
se deve esquecer a já mencionada homogeneidade nem o isolamento
entre as Américas e os outros continentes. Mesmo em lugares onde
línguas decididamente diferentes ficaram geograficamente perto, como
na Nova Espanha de hoje, nunca observei qualquer traço de uma
influência estimuladora ou formadora entre elas. Mas as línguas ganham
vigor, riqueza e conformação, sobretudo com a confrontação de grandes
e contrastantes diferenças porque, por esse caminho, um conteúdo
mais rico da existência humana, já moldado na língua, transita até elas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 161


Denn dies nur ist ihr realer Gewinn, der in ihnen, wie in der Natur,
aus der Fülle schaffender Kräfte entsteht, ohne dass der Verstand
die Art dieses Schaffens ergründen kann, aus der Anschauung, der
Einbildungskraft, dem Gefühl. Nur von diesen hat sie Stoff und
Bereicherung zu erwarten; von der Bearbeitung durch den Verstand,
wenn dieselbe darüber hinausgeht, dem Stoff seine volle Geltung in
klarem und bestimmtem Denken zu verschaffen, eher Trockenheit und
Dürftigkeit zu fürchten. Die Schrift nun kann sich leichter verbreiten,
selbst leichter entstehen, wo verschiedne Völkereigenthümlichkeit
sich lebendig gegeneinander bewegt; einmal entstanden und
ausgebildet, kann sie aber auch, wie die logische Bearbeitung, zu der
sie am mächtigsten mitwirkt, der Lebendigkeit der Sprache, und ihrer
Einwirkung auf den Geist nachtheilig werden.
Bei den Amerikanischen Völkerstämmen lag aber dasjenige, was
sie, da ihnen Buchstabenschrift einmal nicht von aussen zugekommen
war, von derselben fern hielt, freilich vorzüglich noch im Mangel
geistiger Bildung, ja nur intellectueller Richtung überhaupt. Davon
geben die Mexicaner ein aufallendes Beispiel. Sie besassen, wie die
Aegyptier, Hieroglyphen-Bilder und Schrift, machten aber nie die
beiden wichtigen Schritte, wodurch jenes Volk der alten Welt gleich
seine tiefe Geistigkeit bewies, die Schrift von dem Bilde zu sondern,
und das Bild als sinniges Symbol zu behandeln. Schritte, welche,
aus der geistigen Individualität des Volks entspringend, der ganzen
Aegyptischen Schrift ihre bleibende Form gaben, und die man, wie
es mir scheint, nicht als bloss stufenweis fortgehende Entwicklung
des Gebrauchs der Bilderschrift ansehen darf, sondern die geistigen
Funken gleichen, die, plötzlich umgestaltend, in einer Nation
oder einem Individuum sprühen. Die Mexicanische Hieroglyphik
gelangte ebensowenig zur Kunstform. Und doch scheinen mir die
Mexicaner unter den uns bekannt gewordnen Amerikanischen
Nationen an Charakter und Geist die vorzüglichsten zu seyn,
und namentlich die Peruaner weit übertroffen zu haben, so wie
ich auch glaube, die Vorzüge ihrer Sprache vor der Peruanischen
beweisen zu können. Die Grässlichkeit ihrer Menschenopfer zeigt sie
allerdings in einer unglaublich rohen und abschreckenden Gestalt.

162 • Wilhelm von Humboldt


Apenas este é o ganho real das línguas, que vem da abundância das
forças criadoras, da contemplação, da imaginação, da sensação, como
na natureza. Trata-se de um processo de criação em que o intelecto
não consegue penetrar. E só dessas forças a língua pode esperar
substância e enriquecimento. Ela deve temer pobreza e aridez, caso
o processamento pelo intelecto, quando este vai mais além, não
proporcione à substância o devido valor em um pensamento claro e
preciso. A escrita pode se difundir e até se formar com mais facilidade
quando diferentes características nacionais se movem animadamente
entre si. Uma vez estabelecida, a escrita também tem a capacidade,
assim como o processamento lógico, sobre o qual atua fortemente,
de provocar um efeito desfavorável à vivacidade da língua e à sua
influência sobre o espírito.
No entanto, o que distanciou as nações americanas da
escrita alfabética, não tendo nem sequer recebido uma de fora,
foi primeiramente a falta de formação intelectual, até mesmo de
uma orientação intelectual, em geral. Os mexicanos oferecem um
exemplo evidente disso. Assim como os egípcios, eles tinham imagens
hieroglíficas e escrita, mas nunca deram os dois importantes passos com
que aquele povo do Velho Mundo provou sua capacidade intelectual,
ou seja, separar a escrita da imagem e tratar a imagem como símbolo
sensorial. Esses passos, que nascem da individualidade intelectual
de uma nação e que deram à escrita egípcia sua forma permanente,
na minha opinião, não deveriam ser vistos meramente como um
desenvolvimento gradual do uso da ideografia, mas como faíscas
subitamente lançadas em uma nação ou um indivíduo e que provocam
remodulações. A escrita hieroglífica mexicana tampouco chegou ao
nível de uma arte gráfica. Mesmo assim, entre os povos americanos que
conhecemos, parece que os mexicanos são proeminentes em termos de
caráter e intelectualidade. Sobrelevaram-se, com certeza, aos peruanos
e estou certo de que também posso provar a preeminência da língua
deles sobre a dos peruanos. Por outro lado, os horrendos sacrifícios
humanos ilustram o lado brutal e arrepiante das nações mexicanas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 163


Allein die kalte Politik, mit welcher die Peruaner, nach blossen Einfällen
ihrer Regenten, unter dem Schein weiser Bevormundung, ganze Nationen
ihren Wohnsitzen entrissen, und blutige Kriege führten, um, soweit sie
zu reichen vermochten, den Völkern das Gepräge ihrer mönchischen
Einförmigkeit aufzudrücken, ist kaum weniger grausam zunennen. In
der Mexicanischen Geschichte ist regere und individuellere Bewegung,
die, wenn auch die Leidenschaften Rohheit verrathen, sich doch, bei
hinzukommender Bildung, zu höherer Geistigkeit erhebt. Die Ansiedlung
der Mexicaner, die Reihe ihrer Kämpfe mit ihren Nachbarn, die siegreiche
Erweiterung ihres Reichs erinnert an die Römische Geschichte. Von
dem Gebrauch ihrer Sprache in Dichtkunst und Beredsamkeit lässt
sich nicht genau urtheilen, da, was auch von Reden, im Rath und bei
häuslichen Veranlassungen, in den Schriftstellern vorkommt, schwerlich
hinlänglich treu aufgefasst ist. Allein es lässt sich sehr wohl denken,
dass, vorzüglich in den politischen, dem Ausdruck weder Scharfsinn,
noch Feuer, noch hinreissende Gewalt jeder Empfindung gefehlt haben
mag. Findet sich doch dies alles noch in unsren Tagen in den Reden der
Häuptlinge der Nord-Amerikanischen wilden Horden, deren Aechtheit
nicht zu bezweifeln scheint, und wo diese Vorzüge gerade nicht können
aus dem Umgänge mit Europaeern abgeleitet werden. Da Alles, was
den Menschen bewegt, in seine Sprache übergeht, so muss man wohl
die Stärke und Eigenthümlichkeit der Empfindungsweise und des
Charakters im Leben überhaupt von der intellectuellen Richtung und
der Neigung zu Ideen unterscheiden. Beides strahlt in dem Ausdruck
wieder, aber auf die Gestaltung und den Bau der Sprache kann
doch, ohne das letztere, nicht mächtig und dauernd gewirkt werden.
Es ist sehr wahrscheinlich, dass, wenn auch das Mexicanische
und Peruanische Reich noch Jahrhunderte hindurch unerobert von
Fremden bestanden hätte, diese Nationen doch nicht würden aus sich
selbst zur Buchstabenschrift gelangt seyn. Die Bilderschrift und die
Knotenschnüre, welche beide besassen, von welchen aber, aus noch
nicht gehörig klar gewordenen Ursachen, jene bei den Mexicanern,
diese bei den Peruanern ausschliesslich im Staats- und eigentlichen
Nationalgebrauch blieben, erfüllten die äussren Zwecke der Gedanken-
Aufzeichnung, und ein innres Bedürfniss nach vollkommnercn Mitteln
wäre schwerlich erwacht.

164 • Wilhelm von Humboldt


Todavia, não é menos cruel a política fria dos peruanos,
frequentemente motivada apenas pelos caprichos dos regentes, que
deslocaram nações inteiras e travaram guerras sangrentas só para se
impor, sob o pretexto de uma tutelagem sábia e de uma uniformidade
monástica dessas nações. Na história mexicana, existe um movimento
vívido e individual que, em conexão com a cultura, se eleva a uma
intelectualidade superior, apesar de as paixões revelarem uma
certa selvageria. O assentamento dos povos mexicanos, suas lutas
contra os vizinhos, a vitoriosa expansão do império, tudo isso traz à
memória a história romana. O uso da língua na poesia e na retórica
fica fora do nosso julgamento porque o que foi transmitido pelos
autores a respeito dos discursos públicos e domésticos não pode ser
considerado suficientemente fidedigno. Pode-se, entretanto, imaginar
que particularmente nos discursos políticos não faltava perspicácia,
ardor, nem a força arrebatadora da emoção. Afinal, tudo isso se
encontra até hoje nos discursos dos caciques das tribos selvagens da
América do Norte21, cuja autenticidade é indubitável e nos quais essas
qualidades não podem ser atribuídas à influência europeia. Como
tudo o que comove os homens entra na língua, deve-se distinguir
entre a força e a particularidade das emoções e do caráter na vida
em geral, por um lado, e a direção e propensão intelectual às ideias,
por outro. Ambas estão refletidas na expressão, mas, para um efeito
significativo e duradouro na formação e na construção da língua, o
aspecto intelectual é imprescindível.
É bastante provável que, mesmo que a conquista dos impérios
mexicanos e peruanos pelos estrangeiros tivesse demorado séculos,
essas nações não teriam desenvolvido uma escrita alfabética por si
próprias. A escrita hieroglífica e os quipus, esta dos peruanos e aquela
dos mexicanos, cujo uso ficou restrito a assuntos governamentais por
motivos ainda pouco elucidados, cumpriram a finalidade exterior de
fixação do pensamento e é difícil imaginar que uma necessidade interna
de meios mais aprimorados pudesse ter sido despertada.

Ensaios sobre língua e linguagem • 165


Ueber die Knotenschnüre, die auch in andren Gegenden Amerika’s,
ausserhalb Peru und Mexico, üblich waren, und die auf Vermuthungen
eines Zusammenhanges der Bevölkerung Amerika’s mit China, so
wie die Hieroglyphen mit Aegypten geführt haben, werde ich an
einem andren Orte die Nachrichten, die sich von ihnen finden,
zusammenstellen. Sie sind allerdings sehr mangelhaft, aber doch
hinreichend, einen bestimmteren und genaueren Begriff von dieser
Gattung von Zeichen zu geben, als man durch Robertson’s, und andrer
neuerer Schriftsteller Berichte erhält. Ihre Bedeutung lag in der Zahl
ihrer Knoten, der Verschiedenheit ihrer Farben, und vermuthlich
auch der Art ihrer Verschlingung. Diese Bedeutung war jedoch wohl
nicht überall dieselbe, sondern verschieden nach den Gegenständen,
und man musste vermuthlich, um sie zu erkennen, wissen, von wem
die Mittheilung herrührte, und was sie betraf. Denn es waren auch
der Aufbewahrung dieser Schnüre, nach der Verschiedenheit der
Verwaltungszweige, verschiedne Beamte vorgesetzt. Ihre Entzifferung
endlich war künstlich, und sie bedurften eigener Ausleger. Sie
scheinen daher im Allgemeinen mit den Kerbstöcken in Eine Classe
zu gehören, allein durch einen Grad sehr hoher Vervollkommnung
künstliche Mittel, zuerst, mnemonisch, der Erinnerung, hernach,
wenn der Schlüssel des Zusammenhanges der Zeichen mit dem
Bezeichneten bekannt war, der Mittheilung gewesen zu seyn. Es
bleibt nur zweifelhaft, in welchem Grade sie sich von subjectiven
Verabredungen für bestimmte und genau bedingte Fälle zu wirklichen
Gedankenzeichen erhoben. Dass sie beides zugleich waren, ist offenbar,
da z.B. in denjenigen, durch welche die Richter von der Art und
Menge der verhängten Bestrafungen Nachricht gaben, die Farben der
Schnüre die Verbrechen, die Knoten die Arten der Strafen andeuteten.
Ob aber in ihnen auch ein allgemeinerer Gedankenausdruck möglich
war, ist nicht klar, und sehr zu bezweifeln, da die Verschlingung auch
farbiger Schnüre keine hinlängliche Mannigfaltigkeit von Zeichen zu
gewähren scheint.
Dagegen lagen in dieser Kunst der Knotenschnüre vielleicht
besondre Methoden der Gedächtnisshülfe oder Mnemonik, wie sie
auch dem classischen Alterthum nicht fremd waren. Diese scheinen bei
den Peruanern wirklich üblich gewesen zu seyn.

166 • Wilhelm von Humboldt


Em outro momento, compilarei as informações existentes sobre os
quipus, que também eram comuns em outras áreas das Américas
e que motivaram suposições de uma conexão entre os povos
americanos e os chineses, assim como os hieróglifos foram vistos
como indícios de uma ligação com os egípcios. Essas informações
são insuficientes, mas mesmo assim elas permitem a construção de
um conceito mais definido e exato desse tipo de signo do que aquele
que foi oferecido por Robertson e outros autores mais recentes. O
significado dos quipus estava no número de nós, nas cores diferentes
e talvez também no modo como os nós eram atados. Esse significado
presumivelmente variava conforme os objetos em questão e, para se
identificar o sentido, deveria ser necessário saber de quem procedia
a comunicação e qual era o assunto, porque a guarda desses quipus
cabia a funcionários diferentes, dependendo da área da administração.
Finalmente, deve-se mencionar que a decifração dessas cordas foi
um processo artificial porque requeria especialistas. Parece que
pertencem à mesma categoria dos entalhes. Devido ao alto grau de
perfeição, trata-se primeiramente de meios artificiais mnemônicos,
ou seja, da memória, e, em segundo lugar, da comunicação, quando
a conexão entre o signo e o objeto designado já era conhecida. No
entanto, não fica claro em que medida os signos subjetivamente
convencionados para determinados assuntos, claramente definidos,
se elevaram a verdadeiros signos do pensamento. É evidente que
eles tinham essas duas funções, pois naqueles quipus, por exemplo,
com os quais os juízes informavam da qualidade e da quantidade das
penas impostas, as cores indicavam os crimes e os nós, os tipos de
pena. Se uma expressão mais geral do pensamento era possível, não
se sabe ao certo, mas é bastante duvidável porque o enlace de cordas,
mesmo de cordas coloridas, não parece proporcionar uma diversidade
suficiente de signos. Sem embargo, a arte dos quipus representava
métodos mnemônicos bastante costumeiros entre os peruanos o que
não era estranho à Antiguidade Clássica, porque se relata que crianças
alinhavam pedras coloridas para memorizar as orações ensinadas
pelos espanhóis, ou seja, realizavam um procedimento semelhante ao
dos quipus mas com objetos diferentes.

Ensaios sobre língua e linguagem • 167


Denn es wird erzählt, dass Kinder, um ihnen von den Spaniern
mitgetheilte Gebetsformeln zu behalten, farbige Steine an einander
reiheten, also, nur mit andren Gegenständen, ein den Knotenschnüren
ähnliches Verfahren beobachteten. In dieser Voraussetzung waren die
Knotenschnüre allerdings Schrift im weitläuftigeren Sinne des Worts,
entfernten sich doch aber sehr von diesem Begriff, da das Verständniss
bei der Mittheilung in der Entfernung auf der Kenntniss der äusseren
Umstände beruhte, und wo sie zu geschichtlicher Ueberlieferung
dienten, dem Gedächtniss doch die hauptsächlichste Arbeit blieb,
der die Zeichen nur zu Hülfe kamen, die Fortpflanzung mündlicher
Erklärung hinzutreten musste, und die Zeichen nicht eigentlich
und vollständig (wie es die Schrift, wenn nur der Schlüssel ihrer
Bedeutung gegeben ist, doch thun soll) den Gedanken durch sich
selbst aufbewahrten.
Mit Sicherheit lässt sich jedoch hierüber kein Unheil fallen.
Ich bin auch nur darum in die vermuthliche Beschaffenheit dieser
Knotenschnüre, von welchen sich noch im vorigen Jahrhundert einer
(aber ein Mexicanischer) in der Boturinischen Sammlung befand,
eingegangen, um zu zeigen, auf welche Weise die Völker Amerika’s
die doppelte Art der Zeichen kannten, zu welcher alle Schrift, wie sie
seyn mag, gehört, die durch sich selbst verständliche der Bilder, und
die durch willkührlich für das Gedächtniss gebildete Ideenverknüpfung,
wo das Zeichen durch etwas Drittes (den Schlüssel der Bezeichnung) an
das Bezeichnete erinnert. Die Unterscheidung dieser beiden Gattungen,
die da in einander übergehen, wo die allegorisirende Bilderschrift auch
ihre unmittelbare Verständlichkeit aufgiebt, und die, der Masse nach,
und im Fortschreiten willkührlich scheinenden Zeichen zum Theil
ursprünglich Bilder waren, ist aber, und gerade in Rücksicht auf die
Sprache, von erheblicher Wichtigkeit, wie man an der Mexicanischen
und Peruanischen zeigen kann.
Die Mexicanischen Hieroglyphen hatten einen nicht Grad der
Vollkommenheit erreicht; sie bewahrten offenbar den Gedanken durch
sich selbst, da sie noch heute verständlich sind, sie unterschieden sich
auch bisweilen deutlich von blossen Bildern.

168 • Wilhelm von Humboldt


Desta perspectiva, os quipus representavam uma escrita no sentido
mais amplo da palavra, mas se afastavam bastante do conceito porque a
compreensão da comunicação à distância se baseava no conhecimento
das circunstâncias externas e, no momento em que os quipus foram
usados na transmissão de fatos históricos, a maior parte do trabalho
ficou para a memória e os signos serviam apenas como um auxílio,
exigindo uma explicação oral adicional, e não tinham a capacidade
de preservar, por si próprios, o pensamento de maneira autêntica e
completa (como deve ocorrer com a escrita, desde que a chave de seu
significado seja fornecida).
Por enquanto, não é possível avaliar isso com segurança22. Estou
tratando aqui da presumível natureza dos quipus, dos quais ainda no
século passado se encontrava um exemplar (mexicano) na Coleção
Boturini, para mostrar de que modo as nações americanas conheciam
a dupla forma dos signos, que caracteriza toda e qualquer escrita:
as imagens compreensíveis por si mesmas e as arbitrárias ligações
conceituais inventadas para ajudar a memória, em que um terceiro
elemento, a chave do significado, conecta o signo ao elemento designado.
A distinção dessas duas categorias, que se confundem quando a escrita
ideográfica alegórica renuncia a seu aspecto autoexplicativo e que
eram em parte originalmente imagens, mas passaram a parecer signos
arbitrários por causa da quantidade de traços, é de extrema importância
para a língua, como se pode demonstrar nas línguas mexicana e peruana.
Os hieróglifos mexicanos alcançaram um considerável nível de
perfeição e obviamente conservaram o pensamento por si mesmo
porque até hoje são compreensíveis e com frequência se distinguiam
claramente de meras imagens.

Ensaios sobre língua e linguagem • 169


Denn wenn auch z. B. der Begriff der Eroberung in ihnen meistentheils
durch den Kampf zweier Krieger vorgestellt wird, so findet man doch
auch den sitzenden König mit seinem Namenszeichen, dann Waffen,
als Trophaeen gebildet, und das Sinnbild der eroberten Stadt, welches
zusammengenommen die deutliche Phrase: der König eroberte die
Stadt, und eine viel bestimmter ausgedruckte ist, als die berühmte
Saitische Inschrift, die als die einzige angeführt zu werden pflegt, wo
sich in dem Zeugniss des Alterthums zugleich Bedeutung und Zeichen
erhalten haben. Man sieht auch aus dem eben Gesagten, dass es nicht
an Mitteln fehlte, auch Namen zu schreiben, und man daher auf
dem Wege war, Lautzeichen in der Art der Chinesischen zu besitzen.
Dennoch ist sehr zu bezweifeln, ob die Mexicanische Hieroglyphik
jemals wahre Schrift geworden ist.
Denn wahre Schrift kann man nur diejenige nennen, welche
bestimmte Wörter in bestimmter Folge andeutet, was, auch ohne
Buchstaben, durch Begriffs zeichen, und selbst durch Bilder möglich
ist. Nennt man dagegen Schrift im weitläufigsten Verstände jede
Gedanken-Mittheilung, die durch Laute geschieht, d.h. bei welcher
der Schreibende sich Worte denkt, und welche der Lesende in Worte,
wenn gleich nicht in dieselben, übersetzt (eine Bestimmung, ohne die
es gar keine Gränze zwischen Bild und Schrift geben würde), so liegt
zwischen diesen beiden Endpunkten ein weiter Raum für mannigfaltige
Grade der Schriftvollkommenheit. Diese hängt nemlich davon ab,
inwieweit der Gebrauch die Beschaffenheit der Zeichen mehr, oder
weniger an bestimmte Wörter, oder auch nur Gedanken gebunden hat,
und mithin die Entzifferung sich mehr, oder weniger dem wirklichen
Ablesen nähert, und in diesem Raum, ohne den Begriff wahrer
Schrift zu erreichen, allein auf einer Stufe, die sich jetzt nicht mehr
bestimmen lässt, scheint auch die Mexicanische Hieroglyphenschrift
stehen geblieben zu seyn. Ob man z.B. Gedichte, von welchen
es berühmte und namentlich angeführte gab, hieroglyphisch
aufbewahren konnte? da die Poesie einmal unwiderruflich an
bestimmte Worte in bestimmter Folge durch ihre Form gebunden
ist, lässt sich jetzt nicht mehr entscheiden. War es nicht möglich, so
befanden sich die Peruaner hierin in einer vortheilhafteren Lage.

170 • Wilhelm von Humboldt


Embora o conceito de conquista, por exemplo, seja geralmente
representado pela luta entre dois guerreiros, também se encontra o
rei sentado com o signo de seu nome, armas concebidas como troféus
e o símbolo da cidade conquistada, o que expressa claramente a frase
o rei conquistou a cidade; esta é uma expressão mais bem definida do
que a famosa inscrição saítica, normalmente citada como o único
exemplo de testemunho da Antiguidade que contém significado e
signo ao mesmo tempo. Os fatos acima mencionados evidenciam que
não faltavam meios para escrever nomes próprios e, deste modo, esse
povo estava a caminho de possuir signos fonéticos semelhantes aos do
chinês. Mesmo assim, fica a dúvida sobre se os hieróglifos mexicanos
se tornaram, um dia, uma escrita verdadeira23.
Pode-se chamar uma verdadeira escrita apenas aquela que indica
certas palavras numa certa sequência, algo que também é possível
sem letras, mediante logogramas ou até mesmo imagens. Por outro
lado, quando se expande o conceito de escrita, de maneira mais
abrangente, a qualquer comunicação de pensamentos por meio de
sons, quem escreve pensa palavras e quem lê traduz em palavras, não
necessariamente nas mesmas (uma determinação que marca a linha
divisória entre escrita e imagem), encontrando-se entre esses dois
pontos extremos um amplo espaço para múltiplos graus de perfeição
da escrita. Essa perfeição depende do grau em que o uso da escrita
associou a natureza dos signos a certas palavras ou até mesmo a
apenas pensamentos; assim, o processo de decifração se aproxima da
verdadeira leitura. Parece que os hieróglifos mexicanos permaneceram
nesse estágio, sem ter chegado ao conceito de uma verdadeira escrita,
num nível que hoje não pode ser determinado ao certo. Tampouco
se pode saber com exatidão se foi possível preservar poemas com a
escrita hieroglífica, dos quais havia alguns famosos e conhecidos pelo
nome, porque um poema, por sua forma, está irrevogavelmente ligado
a certas palavras numa certa sequência. Se isso não foi possível, então
nesse aspecto os peruanos estavam numa posição mais favorável.

Ensaios sobre língua e linguagem • 171


Denn eine Schrift, oder ein Analogon derselben, das nicht
die Gegenstände selbst darstellt, sondern mehr innerliches
Gedächtnissmittel ist, kann sich, wenn auch weniger fähig, auf ein
andres Volk, oder eine entfernte Zeit überzugehen, der Sprache ganz
genau anschliessen. Indess darf man freilich nicht vergessen, dass ein
Volk, welches sich einer solchen Schrift in solchem Sinne bedient,
nicht sowohl wirklich eine Schrift besitzt, als vielmehr nur den
Zustand, ohne Schrift auf das blosse Gedächtniss verwiesen zu seyn,
durch künstliche Mittel in hohem Grade vervollkommnet hat.Das aber
ist gerade der wichtigste Unterscheidungspunkt in dem Zustande mit
und ohne Schrift, dass in dem ersteren das Gedächtniss nicht mehr die
Hauptrolle in den geistigen Bestrebungen spielt.
Welches indess auch die Vorzüge und Nachtheile jedes dieser
beiden Schriftsysteme seyn mochten, so genügten sie den Nationen,
welche sie sich angeeignet hatten; sie hatten sich einmal an dieselben
gewöhnt, und jedes, vorzüglich aber das Peruanische, war sogar in
die Verfassung des Staats, und die Art seiner Verwaltung verwebt.
Es ist daher nicht abzusehen, wie eins dieser Völker von selbst auf
Buchstabenschrift gekommen seyn würde; die Möglichkeit lässt sich
allerdings nicht bestreiten. Das Beispiel Aegyptens zeigt die nahe
Verwandtschaft von Laut-Hieroglyphen und Buchstaben, und aus der
graphischen Darstellung der Verschlingungen der Knotenschnüre
konnten Zeichen entstehen, die in der Gestalt den Chinesischen glichen,
sich aber phonetisch behandeln liessen. Es hätte aber dazu eine ähnliche
geistige Anlage gehört, als die Aegyptier schon so frühe verriethen, dass
auch die älteste Ueberlieferung sie uns nicht anders darstellt, und es
ist allemal ein ungünstiges Zeichen für die künftige Entwicklung einer
Nation, wenn sie, ohne dass jene Anlage zugleich ans Licht tritt, schon
einen so bedeutenden Grad der Cultur, und so mannigfache und feste
gesellschaftliche Formen erreicht, als dies in Mexico und Peru der Fall
war. Vermuthlich hätte man sich in beiden Reichen, so wie heute in
China, den Gebrauch der Buchstabenschrift anzunehmen geweigert,
wenn er sich freiwillig, und nicht auf dem nöthigenden Wege der
Eroberung dargeboten hätte.

172 • Wilhelm von Humboldt


Uma escrita ou uma analogia dela que não represente os objetos
e funcione mais como um auxílio interno mnemônico pode
perfeitamente se conectar à lingua, mesmo que não tenha o potencial
de ser transferida a outro povo ou outra época. Contudo, não se deve
esquecer que uma nação que se utiliza de tal escrita nesse sentido
não possui uma verdadeira escrita, apenas aperfeiçoou, por meio de
recursos artificiais, uma situação sem escrita em que dependia só da
memória. A diferença mais importante entre ter e não ter escrita é que,
no primeiro caso, a memória não desempenha mais a função principal
nas atividades intelectuais24.
Sejam quais forem as vantagens e desvantagens desse dois
sistemas de escrita, eles satisfizeram as necessidades das nações que os
adquiriram e se acostumaram a eles, e os dois, especialmente o peruano,
estavam entrelaçados com a constituição e o modo de administração
do Estado. Por isso, é difícil imaginar como uma dessas nações poderia
ter desenvolvido uma escrita alfabética por conta própria, mas é uma
possibilidade que não se pode negar. O exemplo do Egito evidencia o
estreito parentesco entre os hieróglifos fonéticos e as letras do alfabeto,
e da representação gráfica do entrelaçamento dos quipus poderiam ter
se originado signos semelhantes aos chineses, mas que talvez pudessem
ser tratados foneticamente. Para isso, no entanto, teria sido necessária
uma predisposição intelectual como a que os egípcios mostraram tão
cedo que até os documentos mais antigos testemunham essa inclinação.
Para o futuro desenvolvimento de uma nação, não é um bom sinal
quando se alcança um nível tão notável de cultura, com estruturas
sociais diversificadas e firmes, como foi o caso do México e do Peru,
sem evidência da predisposição intelectual acima mencionada. Nos dois
impérios, os habitantes provavelmente teriam se recusado a adotar o
uso de uma escrita alfabética, como hoje em dia na China, caso tivesse
se tratado de um ato voluntário e não de uma imposição baseada na
conquista.

Ensaios sobre língua e linguagem • 173


So wie ich versucht habe, bei den grammatischen Formen zu zeigen,
dass auch blosse Analoga ihre Stelle vertreten können, ebenso ist es mit
der Schrift. Wo die wahre, der Sprache allein angemessne fehlt, können
auch stellvertretende andre alle äusseren, und bis auf einen gewissen
Grad auch die inneren Zwecke und Bedürfnisse befriedigen. Nur die
eigenthümliche Wirkung jener wahren und angemessnen, so wie die
eigenthümliche Wirkung der ächten grammatischen Form, kann nie
und durch nichts ersetzt werden; sie liegt aber in der inneren Auffassung
und der Behandlung der Sprache, in der Gestaltung des Gedanken, in
der Individualität des Denk- und Empfindungsvermögens.
Wo jedoch solche stellvertretende Mittel (da dieser Ausdruck
nunmehr verständlich seyn wird) einmal Wurzel gefasst haben, wo
der instinctartig in der Nation auf das Bessere gerichtete Sinn nicht
ihr Emporkommen verhindert hat, da stumpfen sie diesen Sinn noch
mehr ab, erhalten das Sprach- und Gedankensystem in der falschen,
ihnen entsprechenden Richtung, oder geben ihm dieselbe, und sind
nicht mehr zu verdrängen, oder ihre wirkliche Verdrängung übt nun
die erwartete heilsame Wirkung viel schwächer und langsamer aus.
Wo also die Buchstabenschrift von einem Volke mit freudiger Begierde
ergriffen und angeeignet werden soll, da muss sie demselben früh, in
seiner Jugend frische, wenigstens zu einer Zeit dargeboten werden, wo
dasselbe noch nicht auf künstlichem und mühevollem Wege eine andre
Schriftgattung gebildet, und sich an dieselbe gewöhnt hat. Noch weit
mehr wird dies der Fall seyn müssen, wenn die Buchstabenschrift aus
innrem Bedürfniss, und geradezu ohne durch das Medium einer andren
hindurchzugehen, erfunden werden soll. Ob dies aber wirklich jemals
geschehen seyn mag, oder so unwahrscheinlich ist, dass es nur als eine
entfernte Möglichkeit angesehen werden darf? darauf behalte ich mir
vor, bei einer andren Gelegenheit zurückzukommen.

174 • Wilhelm von Humboldt


Anteriormente tentei mostrar que meras formas análogas podem
substituir formas gramaticais, o que é igualmente válido para a escrita,
e que, onde falta a verdadeira escrita, a única adequada para a língua,
outros tipos podem substituí-la e satisfazer todas as necessidades e os fins
externos e, até certo ponto, também os internos. Mas o efeito particular
dessa escrita verdadeira e adequada, assim como o das autênticas formas
gramaticais, nunca pode ser substituído por nada porque ele reside na
conceitualização interna e no modo de tratar a língua, na formação do
pensamento e na individualidade da capacidade de pensar e sentir.
No entanto, no momento em que esses meios vicários (doravante
essa expressão será mais bem compreendida) se enraizaram e que o
instinto nacional, voltado para o que é melhor, não conseguiu impedir
sua ascenção, eles amorteceram o instinto mencionado e mantiveram o
sistema da língua e do pensamento na direção que corresponde à deles, ou
seja, a direção errada. É quase impossível suplantar esses meios vicários
e, quando isso acontece, o efeito benéfico desse processo é mais fraco e
lento. Se uma nação quiser se apropriar de boa vontade e adquirir uma
escrita alfabética, esta deve ser oferecida cedo, no auge de sua juventude,
em um tempo em que o povo ainda não tenha desenvolvido artificial
e laboriosamente outro sistema de escrita e se acostumado a ele. Essa
é uma condição necessária ainda mais importante quando a invenção
da escrita alfabética vem de um anseio intrínseco, diretamente, sem
passar pela mediação de outro tipo de escrita. Mas, em outra ocasião,
volto a essa questão para verificar se isso jamais aconteceu ou se é tão
improvável que pode ser visto apenas como uma possibilidade remota.

Ensaios sobre língua e linguagem • 175


— Comentário —

Enquanto no discurso sobre o chinês Humboldt discute o tema da


“síntese”, nesta palestra ele retoma o segundo princípio da linguagem, que
ele denomina “articulação”. Trata-se da contrapartida física da reflexão. Em
termos de linguística moderna, trata-se do princípio da dupla articulação da
linguagem (MARTINET, 1963), isto é, a língua, por um lado, divide o mundo
em unidades de conteúdo (primeiro nível de estruturação, ou reflexão) e, por
outro, as sequências correspondentes a essas unidades de conteúdo podem ser
decompostas em unidades sonoras, ou fonemas (segundo nível de estruturação,
ou articulação). As duas estruturações correspondem aos dois tipos principais
de escrita: a ideográfica, que representa as unidades de significado, ou as
unidades da primeira estruturação; e a escrita fonográfica, ou alfabética, que
representa as unidades da segunda estruturação.
Humboldt desenvolve a tese de que a escrita fonográfica, na medida em
que ela se baseia no reconhecimento da dupla articulação da linguagem, é mais
adequada à natureza da língua do que a escrita ideográfica, que representa a
primeira estruturação, refletindo assim apenas metade do potencial da língua.
Ou seja, o objetivo das considerações de Humboldt é provar que a escrita
alfabética capta a natureza semiótica melhor do que qualquer outro tipo de
escrita, e não que ela seja em si a mais inteligente, como, por exemplo, observou
Hegel (1830, § 459).
Tampouco é intenção de Humboldt provar que as línguas indo-europeias
são “em si mais inteligentes” do que a língua chinesa, mas, sim, que elas refletem
a natureza da língua de forma mais adequada. Humboldt reconhece que a
escrita fonográfica se baseia em uma intuição genial, ou seja, na descoberta do
sistema fonológico de uma língua, e formula, então, os princípios fundamentais
da fonologia, estabelecidos cem anos depois por Trubetzkoy ([1939] 1958).
Desse modo, a essência estrutural da língua é conceitualizada pela escrita
alfabética porque esta enfatiza claramente a articulação pela representação
gráfica dos fonemas, manifestando assim a relevante percepção estrutural da
língua. A relação entre a escrita alfabética e a construção de certas línguas
é recíproca: por um lado, apenas as línguas com uma verdadeira natureza
articulatória conseguem gerar ou adotar essa escrita; por outro, esse tipo de
escrita complementa essa natureza. A escrita alfabética não é, portanto, apenas

176 • Wilhelm von Humboldt


um sistema de anotação, mas uma parte integrante da língua: ela completa a
tarefa de estruturação da língua.
Na segunda parte do discurso, Humboldt investiga casos em que a
complementação da tarefa de estruturação não foi bem-sucedida, especialmente
nos sistemas de escrita dos povos indígenas das Américas. A conexão com a
arquitetura da língua também é, naturalmente, estreita, mas agora em termos
negativos. Humboldt suspeita que essas línguas estão estruturadas de tal
maneira que não favorecem a criação ou a adaptação de um tipo de escrita
alfabética, e também carecem da “influência significativa” da letra na estrutura
da língua e no pensamento linguístico das nações em questão. Isso, é claro,
também se afina com as descobertas de Humboldt a respeito das formas
gramaticais nas línguas americanas. Essas línguas não atingem o padrão das
denominadas línguas sânscritas (Ver Sobre o verbo nas línguas americanas).
Para a discussão atual, mais importantes do que as reflexões sobre
os escritos americanos talvez sejam as observações de Humboldt sobre a
psicodinâmica da escrita, especialmente sobre a relação entre memória e
escrita (ONG, 1982). A esse respeito, Humboldt se mostra como um pensador
mais ligado ao iluminismo no sentido kantiano do que, por exemplo, ao
“fonocêntrico” Hegel, na medida em que não aprecia tanto a idealização da
oralidade na tradição platônica e rousseauniana, mas vê na escrita um passo
decisivo para aliviar a memória, para o pensamento crítico e para a história, ou
seja, para o progresso.
O artigo sobre a escrita alfabética é, com certeza, junto com as passagens
sobre questões dialógicas em Sobre o dual, um dos textos mais importantes que
Humboldt escreveu sobre a teoria geral da língua, com reflexões pertinentes
sobre a estrutura e a capacidade de mediação da língua. O fato de Humboldt
tê-las apresentado em um discurso sobre a escrita sinaliza claramente que
já estamos aqui além do fonocentrismo, do qual Derrida (1967) acusa o
mainstream filosófico do Ocidente (Trabant, 1990, cap. 8 e 9; 1994a).

———

Ensaios sobre língua e linguagem • 177


— Notas —
1
Humboldt se refere à interpretação da Pedra de Roseta por Jean-François Champol-
lion, em 1822, por meio da qual ele conseguiu provar que os hieróglifos egípcios
têm um valor fonético. Em março de 1824, na Academia, Humboldt havia falado
sobre esse assunto: Ueber die phonetischen Hieroglyphen des Herrn Champolion des
jüngeren (“Sobre os hieróglifos fonéticos do jovem Sr. Champollion”).
2
A crítica sobre a concepção de linguagem como signo arbitrário também é esten-
dida por Humboldt à escrita. No entanto, não se trata apenas de provar que as letras
individuais são manifestações materiais, ou seja, imagens visuais dos fonemas – elas
são apenas imagens de sua forma, de sua unidade funcional, ou seja, cada fonema
como unidade distintiva corresponde, em princípio, a uma letra distinta. Trata-se
da questão mais geral de saber se é indiferente se a escrita reproduz unidades do
segundo nível de estruturação (articulação) ou unidades do primeiro nível de estru-
turação (reflexão).
3
Ver Poesia e Prosa.
4
Ver Sobre o surgimento das formas gramaticais.
5
A prova de que isso ocorre são os pictogramas, que se tornaram tão comuns em
nosso mundo, especialmente em lugares de tráfego internacional, porque estão con-
scientemente reprimindo as palavras de uma língua particular.
6
Com “escrita hieroglífica”, Humboldt se refere ao procedimento ideográfico, que,
ao contrário da figurativa “escrita pictórica”, representa as unidades da primeira es-
trutura com caracteres arbitrários, como é o caso de grande parte dos caracteres
chineses.
7
Com a prova de que a escrita ideográfica é menos adequada que a escrita sintética
(i.e., uma escrita que liga significado e som de forma inseparável) porque esta leva
a essência sonora em consideração, e com o pensamento de que as línguas naturais
são evidências inequívocas, Humboldt acaba definitivamente com a ideia de uma
characteristica universalis (uma escrita universal), ainda acalentada por Leibniz.
Harbsmeier (1979, p. 12) ressalta que Leibniz se interessou pela escrita chinesa no
contexto de suas reflexões sobre a characteristica universalis.
8
Os três princípios da escrita alfabética correspondem exatamente aos três procedi-
mentos básicos de uma descrição fonológica: inventário dos fonemas, classificação
e determinação das combinações dos fonemas. Eles deixam claro que a invenção da
letra pressupõe uma análise fonológica pré-científica.
9
O “som”, na terminologia de Humboldt, é geralmente o som conectado em uma
palavra inteira. Nos momentos em que ele faz um descrição precisa, ele chama o
fonema isolado de “elemento de som”. A crítica frequentemente feita à linguística
daquela época de que não havia uma distinção clara entre fonemas e letras se justi-
fica apenas terminologicamente: por exemplo, quando Bernhardi ([1805] 1990) ou
J. Grimm falam em letras, é evidente que estão falando dos sons da língua. A impre-
cisão terminológica também se justifica na medida em que as letras, sob condições
ideais, correspondem a fonemas.

178 • Wilhelm von Humboldt


10
A intuição subjacente à análise fonológica demonstra e promove uma conscientiza-
ção da linguagem que, na terminologia moderna, seria denominada metalingua-
gem. Como esta e outras visões metalinguísticas refletem na língua, Humboldt deixa
claro que elas são reflexivas e pertencem ao próprio funcionamento da língua. Elas
promovem sua autoconsciência e, consequentemente, seu potencial crítico.
11
Isso não é nada mais do que uma suposição básica subjacente ao conceito atual
de fonema: um fonema não pode ser definido unicamente por sua condição
física, isto é, de acordo com suas propriedades articulatórias ou acústicas. Só
se pode afirmar que este ou aquele segmento de uma sequência de sons, que
é fisicamente um continuum, deva ser considerado como um som, quando se
leva em consideração a intenção ou o êxito. Logo, a segmentação só é possível
se se puder determinar que uma parte do continuum é funcional, ou seja, que
tem a função de diferenciar significados. Portanto, não é possível distinguir, por
exemplo, entre /p/ e /k/ em termos sensoriais gerais, visto que essa distinção só
pode ser observada como funcional dentro de uma determinada língua. É possí-
vel que a diferença física e articulatória não funcione como diferença fonológica
numa outra língua.
12
A fonologia de Humboldt é primariamente uma fonologia segmental. As qualidades
prosódicas que ele aborda aqui podem ser fonologicamente relevantes, como ele
observou, ou seja, podem formar categorias de sons articulados. Em alemão, por
exemplo, o segmento /a/ forma uma categoria relevante na língua, podendo ser
longo ou breve. Por causa dessa distinção, por exemplo, distingue-se entre /ma:sԥ/
(Maße, ‘medidas’) e /masԥ/ (Masse, ‘massa, volume’). Quando não têm relevância
fonológica, estas propriedades são, de fato, “livres” e podem ser “características de
todos os sons articulados” ou podem ser utilizadas para fins de expressão suplemen-
tar” (TRUBETZKOY, 1939, capítulo sobre a estilística de sons).
13
Sloka: medida ou ritmo de verso indiano.
14
A respeito da ligação entre poesia e música, ver também Poesia e Prosa.
15
Ver Sobre o surgimento das formas gramaticais.
16
Sobre os conceitos de organização ou articulação em Humboldt e na linguística
estrutural, ver Trabant (1993).
17
Humboldt se refere aqui aos trigramas (pa-kua ou ba-gua) da literatura divinatória
chinesa. Ver Jensen (1969, p. 156)
18
A escrita demótica era uma forma cursiva dos hieróglifos egípcios que, diferente-
mente da escrita hierática, ou religiosa, foi usada em contextos populares profanos.
Ver Coulmas (1989, p. 69).
19
A lista mencionada contém monumentos, sobre os quais informa Müller-Vollmer
(1993, p. 320).
20
Ver a conclusão sobre as línguas americanas no final de Sobre os verbos nas línguas
americanas.
21
Humboldt se referiu repetidamente aos discursos dos caciques norte-americanos,
que ele considerava de extrema relevância não só em termos políticos, mas também
linguísticos, porque deles ele esperava um esclarecimento sobre o caráter das lín-
guas indígenas que o material das línguas da América Central e da América do Sul

Ensaios sobre língua e linguagem • 179


não oferecia. Esse foi certamente o motivo de seu contato com o jornalista cheroqui
Elias Boudinot. Ver Müller-Vollmer (1993, p. 61, 68).
22
Também Coulmas (1989, p. 18) considera que a questão dos quipus ainda não foi
resolvida.
23
Ver Coulmas (1989, p. 31): “The Aztek system is a picture-word writing system in
which the initial steps towards phonetization had been accomplished, but which ne-
ver developed a full-fledged system, however. It remained at the threshold of writing
proper.”
24
A desoneração da memória pela escrita é uma condição para que a inteligência se
liberte da tarefa de simplesmente decorar informações. A escrita é, assim, uma con-
dição para a possibilidade de esforços intelectuais avançados que se desenrolam na
prosa. Ver Poesia e Prosa.

180 • Wilhelm von Humboldt


Ueber den grammatischen Bau der
Chinesischen Sprache*

Bei der Untersuchung des Chinesischen nimmt gewöhnlich die


Eigenthümlichkeit der Schrift und ihre Verbindung mit der Sprache
die Aufmerksamkeit dergestalt in Anspruch, dass darüber der
grammatische Bau der letzteren weniger beachtet wird. Dennoch gehört
derselbe so sehr zu den merkwürdigsten, dass er gar nicht bloss eine
Abart einer einzelnen Sprache bildet, sondern eine eigne Classe in den
grammatischen Verschiedenheiten aller Sprachen ausfüllt.
Der erste Eindruck, welchen die Lesung einer Stelle eines
Chinesischen Buchs hinterlässt, ist der, dass diese Sprache sich in ihrem
grammatischen Bau so gut als von allen andren bekannten entfernt. Am
meisten steht sie indess den gewöhnlich classisch genannten entgegen,
und ich werde daher vorzugsweise diese im Sinne haben, wenn ich von
ihrer Verschiedenheit von andren Sprachen rede.
Sollte ich diese auf Einen allen übrigen zum Grunde liegenden
Punkt zurückführen, so würde ich dieselbe darin setzen, dass die
Chinesische Sprache die Wortverbindung nicht nach den grammatischen
Kategorien bestimmt, ihre Grammatik nicht auf die Classificirung
der Wörter gründet, sondern die Gedankenverbindung auf eine
andre Weise bezeichnet. Die Grammatik andrer Sprachen hat zwei
abgesonderte Theile, einen etymologischen und einen syntaktischen, in
der Chinesischen Grammatik findet sich bloss dieser letztere. In anderen
Sprachen muss man, um einen Satz zu verstehen, mit der Untersuchung
der grammatischen Beschaffenheit der Wörter anfangen, und dieselben
nach dieser construiren, im Chinesischen ist dies unmöglich. Man muss
unmittelbar das Wörterbuch zu Hülfe nehmen, und die Construction
ergiebt sich bloss aus der Wortbedeutung, der Stellung und dem Sinne
der Rede.

* Classensitzung des 20. März, 1826.

182 • Wilhelm von Humboldt


Sobre a estrutura gramatical
da língua chinesa*

Nos estudos sobre o chinês, a peculiaridade da escrita e sua


relação com a língua costuma chamar bastante atenção, ao passo que a
estrutura gramatical é bem menos observada. No entanto, essa estrutura
se caracteriza de maneira tão singular que o chinês não consiste
simplesmente em um subgrupo composto de uma única língua, mas
forma uma classe própria na diversidade gramatical das línguas.
A primeira impressão que a leitura de um trecho de livro em chinês
deixa é a de que essa língua se distancia, em sua estrutura gramatical, de
todas as outras línguas conhecidas. Ela se contrapõe sobretudo às línguas
normalmente denominadas clássicas, por isso vou fazer referência
preferencialmente a essas línguas quando falar sobre a diferença entre o
chinês e as outras línguas.
Resumindo essas diferenças, eu diria que o ponto essencial
em questão é que o chinês não relaciona as palavras por meio de
categorias gramaticais, pois sua gramática não se baseia na classificação
das palavras, estabelecendo ligação entre as ideias de outro modo. A
gramática de outras línguas tem duas partes distintas, uma etimológica1
e uma sintática, mas na gramática chinesa se encontra apenas esta última.
Para se compreender uma oração em outras línguas, é preciso começar
pela análise das características gramaticais das palavras, construindo-as
de acordo com essas características, o que, em chinês, não é possível.
É imprescindível, então, a consulta ao dicionário, já que a construção
resulta somente do significado, da posição das palavras e do sentido do
discurso.

* Reunião de classe em 20 de março de 1826.

Ensaios sobre língua e linguagem • 183


Die grammatische Classificirung der Wörter in Substantiva, Verba
u.s.w. entsteht aus der Zergliederung des in Worte umzubildenden
Gedanken, und ist ein Hülfsmittel des Ausdrucks der Gedankeneinheit
durch auf einander folgende Wörter. Als inneres, sprachbestimmendes
Gesetz, liegt sie unerkannt in der Seele jedes Menschen, allein inwieweit
diese Classificirung Ausdruck in der Sprache erhält, hängt von der
grammatischen Natur jeder Sprache ab. Ohne dieselbe würde es
unmöglich seyn, verständlich zu reden und durch Sprache zu denken,
allein in der Anwendung derselben giebt es verschiedene Grade der
Allgemeinheit und Bestimmtheit, und zwar kommt dies auf die Form
und Art des Periodenbaues an. Denn die grammatische Form bestimmt
das Verhältniss des einzelnen Wortes zum Ganzen des Satzes. Giebt
nun eine Sprache ihren Sätzen Länge und Verwicklung, so ist eine, viele
und sogar alle Verzweigungen der grammatischen Formen verfolgende
Classificirung der Wörter nothwendig, beschränkt sie sich dagegen auf
möglichst einfache Sätze, so bedarf es nur der obersten allgemeinsten
Kategorien. Der Unterschied dieser beiden Methoden wird so gleich
deutlich, wenn man bemerkt, dass verschiedene Redetheile sowohl
das Subject, als das Praedicat eines Satzes bilden, die Rede sich aber
bei ganz einfachen Sätzen begnügen kann, mit Vernachlässigung dieser
feineren Unterschiede, nur jene allgemeineren, mehr logischen, als
grammatischen, anzudeuten.
Die Vertheilung der Wörter in bestimmte, an ihnen selbst zu
bezeichnende Classen entsteht aber, meines Erachtens, auch aus einem,
dem Menschen, dessen Welt seine Sprache ist, natürlichen Hange, die
Wörter, sie als wahre Individuen behandelnd, den Gegenständen der
Wirklichkeit ähnlich zu machen. Eine gewisse Anzahl von Wörtern
hat von Natur Substantiv- Adjectiv- oder Verbal-Bedeutung, indem
sie selbständige Wesen, Eigenschaften oder Handlungen anzeigt.
Dieselben Wörter aber können in der Sprache zugleich zu einer
andren Categorie, ein Verbal-Wort substantivisch und umgekehrt,
gebraucht werden, und eine grosse Menge von Wörtern sind von der
Art, dass sie, nur Begriffe bezeichnend, sich auf verschiedene Weise
auffassen lassen. Werden nun diese durch Bezeichnung oder auf andere
Weise einer bestimmten Classe zugewiesen, so besitzt die Sprache
wirkliche Wortclassen, denn diese sind von ihr und für sie gebildet.

184 • Wilhelm von Humboldt


A classificação gramatical das palavras em substantivos, verbos
etc. surge do ato de fragmentar o pensamento, transformando-o em
palavras, além de ser uma ferramenta para a expressão das unidades
do pensamento por meio de sequências de palavras. Essa classificação
reside imperceptível na alma do ser humano2 como uma lei interna
que determina a língua, mas o modo como ela se manifesta depende
da natureza gramatical de cada língua. Sem essa classificação, seria
impossível se expressar de modo inteligível e pensar por meio da língua,
e em sua aplicação há diferentes níveis de generalização e especificidade,
que dependem da forma e do tipo de construção do período, pois a
forma gramatical determina a relação de cada palavra com o todo da
oração. Se uma língua permite orações mais complexas e longas, é
necessária uma classificação de palavras que acompanhe muitas ou até
mesmo todas as ramificações gramaticais da oração. Caso ela se limite
a orações mais simples, são necessárias apenas as principais categorias
mais gerais. A diferença entre esses dois processos logo se torna clara,
quando se percebe que as diferentes partes da oração constituem tanto
o sujeito quanto o predicado e que orações bastante simples podem ser
suficientes para o discurso, que negligencia assim distinções mais sutis e
evidencia aquelas mais gerais de maneira mais lógica do que gramatical.
A distribuição de palavras em classes predeterminadas pelas
características das próprias palavras se deve, do meu ponto de vista,
a uma tendência natural do ser humano, cujo mundo é sua língua,
de tratar as palavras como autênticos indivíduos, e assim criar uma
semelhança com os objetos do mundo real.3 Algumas palavras
assumem naturalmente o significado de substantivo, adjetivo ou verbo,
na medida em que se referem a seres individuais, qualidades ou ações.
Essas mesmas palavras podem, no entanto, ser empregadas em outra
categoria, quando se usa, por exemplo, um verbo como um substantivo
e vice-versa. Há, no entanto, uma grande quantidade de palavras cuja
natureza permite que expressem apenas conceitos e que podem ser
utilizadas de diversas maneiras. Quando elas são incluídas em uma
classe por uma marca formal ou por outros meios, então a língua tem
verdadeiras classes de palavras, pois elas foram criadas por ela e para ela.

Ensaios sobre língua e linguagem • 185


Lässt man aber diese, soviel es das verständliche Sprechen nur
immer zulässt, unbestimmt, so bilden auch die zuerst erwähnten
nicht eigentlich grammatische Wortclassen. Denn ihre Classificirung
entspringt nur aus demjenigen, was sie darstellen. Der Unterschied
beruht auf der Materie und der Form; ein Wort mit Verbal-Bedeutung
ist darum auf keine Weise ein Verbum.
Auch da, wo eine Sprache nicht jedes Wort grammatisch
einer bestimmten Classe zuweist, müssen die Wörter dennoch eine
grammatische Geltung haben. Allein diese liegt dann entweder bloss in
ihrer materiellen Bedeutung, oder wenn diese sie zwei Classen zugleich
zuwiese, im Sprachgebrauch, wie so oft im Chinesischen, oder geht aus
der Stellung im Satz, oder gar nur aus dem Sinn der Rede hervor. Das
Wort wächst also, da es keine Bezeichnung hat, nicht äusserlich, und
da es in ganz unveränderter Gestalt verschiedenen Classen angehören
kann, gar nicht mit seiner Classeneigenthümlichkeit zusammen.
Die Grammatik ist mehr, als irgend ein anderer Theil der Sprache,
unsichtbar in der Denkweise des Sprechenden vorhanden, und jeder
bringt zu einer fremden Sprache seine grammatischen Ideen hinzu,
und legt sie, wenn sie vollkommener und ausgeführter sind, in die
fremde Sprache hinein. Denn in jeder Sprache lässt sich natürlich,
wenn man alle Momente des Gebrauches erwägt, jedes Wort eines
Satzes einer grammatischen Form zuweisen. Ganz etwas anders aber
ist es, ob derjenige es so ansieht, der nur jene Sprache kennt, und die in
eine Sprache also hineinerklärte Grammatik ist von der in ihr natürlich
liegenden sorgfältig zu unterscheiden. Wirklich in der Sprache selbst
liegt nur diejenige Grammatik, die durch Flexionen, grammatische
Wörter oder gesetzmässige Stellung ausdrücklich bezeichnet ist,
oder sich in dem Zuschnitt der Sätze und der Bildung der Rede, als
nothwendig hinzugedacht, mit Bestimmtheit offenbart.
Alles hier Gesagte bezieht sich auf die Genauigkeit des
grammatischen Ausdrucks. Der höchste Grad derselben geht aus der
grammatischen Wörterclassificirung bis in ihre letzten Verzweigungen
hervor; diese aber entsteht aus genauer Zergliederung des in Sprache zu
verwandelnden Gedanken, und einer eignen Behandlung der Sprache,
als Organs. Man berührt also hier den unmittelbaren Uebergang des
Gedanken in Worte.

186 • Wilhelm von Humboldt


Mas, se as classes permanecem indeterminadas, na medida em que
um discurso compreensível o permita, nem mesmo as primeiramente
mencionadas formam genuínas classes de palavras, pois sua
classificação deriva daquilo que elas representam. A diferença entre
esses dois tipos de classes está na distinção entre matéria e forma; uma
palavra de significado verbal não é, necessariamente, um verbo.
Mesmo nos casos em que uma língua não encaixe cada uma de
suas palavras em uma classe gramatical, elas devem ter obrigatoriamente
um valor gramatical. Esse valor pode estar simplesmente no significado
material, ou, quando o significado remete as palavras a duas classes
simultaneamente, pode estar no uso, como frequentemente ocorre no
chinês, ou então se revela pela posição sintática ou pelo sentido do
discurso. Como a palavra não recebe marca morfológica, não se junta
a outras ostensivamente, e, porque ela pode pertencer a várias classes
sem alteração formal, não estabelece uma relação com as propriedades
de sua classe.
No modo de pensar do falante, a gramática está mais invisivelmente
presente do que em qualquer outra parte da língua. Cada um leva para a
língua estrangeira seus conceitos gramaticais, aplicando-os quando eles
são mais desenvolvidos e detalhados, pois nas línguas é sempre possível
atribuir uma função gramatical às palavras de uma oração, quando se
leva em consideração todas as ocasiões de uso. Bem diferente deve ser
a perspectiva daquele que conhece somente uma língua, e é preciso
distinguir claramente uma gramática imposta a uma língua para fins de
explicação daquela que é natural à língua. Na própria língua, encontra-
se apenas a gramática, que é designada explicitamente por flexões,
palavras gramaticais ou regras de posicionamento, ou que se revela na
construção das orações e na organização do discurso, com clareza e de
modo necessariamente conceitualizado.
Tudo o que foi dito aqui diz respeito à precisão da expressão
gramatical, cujo grau mais alto se atinge pela classificação gramatical
das palavras e se estende até suas ramificações mais finas. Essas
ramificações são resultado da fragmentação precisa do pensamento, que
deve ser transformado em linguagem, e de um tratamento específico da
linguagem como órgão. Trata-se aqui, então, da transição imediata do
pensamento à palavra.

Ensaios sobre língua e linguagem • 187


Jedes logische Urtheil kann, als der Ausspruch der
Uebereinstimmung oder Nicht-Uebereinstimmung zweier Begriffe, als
eine mathematische Gleichung angesehen werden. Diese ursprüngliche
Form des Gedanken bekleidet die Sprache mit der ihrigen, indem sie die
beiden Begriffe synthetisch verbindet, den einen, als die Eigenschaft des
andren, vermöge des flectirten Verbum, das dadurch zum Mittelpunkte
der Sprache wird, wirklich setzt.
Dadurch liegt in der Sprache eine ursprüngliche, und sich von
da aus weiter verbreitende Prosopopoee, indem ein ideales Wesen, das
Wort, als Subject gedacht, handelnd oder leidend dargestellt, und eine
im Innern der Seele vorgehende Handlung, die Aussage im Urtheil
über einen Gegenstand, diesem Gegenstand äusserlich, als Eigenschaft,
beigelegt wird. Dieser, gleichsam imaginative Theil der Sprachen
befindet sich nothwendig und unabänderlich in allem Sprechen. Allein
eine Nation macht einen ausgebreiteteren, eine andre einen geringeren
Gebrauch davon. Die classischen Sprachen bilden denselben im
höchsten Grade aus, die Chinesen nehmen nur dasjenige davon, was
zum Sprechen und Verständniss unentbehrlich ist.
Die Sprachbildung kann daher bei verschiedenen Nationen zwei
sehr verschiedene Wege einschlagen. Sie kann sich hauptsächlich an
die Verhältnisse der Begriffe, als solcher, heften, sich im Ausdruck
mit Nüchternheit nur an dasjenige halten, was dessen Klarheit und
Bestimmtheit unvermeidlich erforden, und so wenig, als möglich, von
demjenigen nehmen, was der besondren Natur der Sprache, als Organs
und Werkzeugs des Gedanken angehört, oder sie kann vorzugsweise
die Sprache, als Werkzeug ausbilden, sich an ihre besondre Art, den
Gedanken darzustellen, heften, und dieselbe, in allen Beziehungen, in
welchen es thunlich ist, als eine ideale Welt der wirklichen gleich machen.
Ein Beispiel hiervon giebt die Bezeichnung des Geschlechts
an den Wörtern. Sie kann an sich wohl unphilosophisch genannt
werden; sie liegt aber in der Behandlung der Wörter als Individuen,
und der Sprache als einer eignen Welt. Es entspringen nachher aus ihr
grammatisch technische Vorzüge bei der Periodenbildung. Allein alles
dies kann nur von einem Volke geschätzt werden, das vorzugsweise von
demjenigen angesprochen wird, was die Sprache dem Gedanken, bei
der Umwandlung desselben in Worte, hinzufügt.

188 • Wilhelm von Humboldt


Todo julgamento lógico pode ser visto como uma declaração de
identidade ou não identidade de dois conceitos, como uma equação
matemática. A essa forma primordial do pensamento a língua adiciona
sua própria forma, ao combinar os dois conceitos sinteticamente,
estabelecendo uma verdadeira junção de um como propriedade do
outro por meio do verbo flexionado, que se torna, assim, o centro da
língua.4
Desse modo, existe na língua uma prosopopeia natural e expansiva,
na medida em que um ser ideal, a palavra, é concebido como sujeito e
representado como agente ou paciente, e que uma ação que acontece
no interior da alma, uma asserção feita no julgamento de um objeto, é
atribuída exteriormente como qualidade desse objeto. Esse componente,
de certo modo imaginativo das línguas, encontra-se obrigatória e
invariavelmente em toda fala. Uma nação se utiliza desse componente
de forma mais ampla, enquanto outra, de forma mais restrita. As línguas
clássicas o desenvolvem em um nível mais sofisticado, e os chineses
aproveitam apenas aquilo que é absolutamente imprescindível para falar
e compreender.
A formação da língua em diferentes nações pode seguir duas
direções bastante distintas. A língua pode se concentrar principalmente
nas relações dos conceitos como tais e, na expressão, se limitar aos
elementos que a clareza e a precisão necessariamente exigem, fazendo
uso, o mínimo possível, daquilo que caracteriza sua natureza como órgão
e ferramenta do pensamento, ou pode se desenvolver preferencialmente
como ferramenta que reflete o modo específico de representar o
pensamento e de se concentrar nas relações adequadas para criar um
mundo ideal semelhante ao mundo real.
Um exemplo desse processo é a designação de gênero nas palavras,
que pode, em si, ser vista como não filosófica,5 mas que, na verdade,
se encontra no tratamento das palavras como indivíduos e da língua
como um mundo próprio. Dessa designação surgem consequentemente
vantagens técnico-gramaticais na construção de períodos. Mas tudo
isso só pode ser valorizado por uma nação que aprecie o que a língua
acrescenta ao pensamento na transformação dele em palavras.

Ensaios sobre língua e linguagem • 189


Es würde unmöglich seyn zu sprechen, ohne wenigstens durch
ein unbestimmtes Gefühl der grammatischen Wortformen geleitet zu
werden. Man kann aber, wie ich dargethan zu haben glaube, bei einer
grossen Beschränkung des Periodenbaus auf höchst einfache Sätze, auf
einem Punkte stehen bleiben, wo eine genaue Unterscheidung derselben
entbehrlich ist, man kann gänzlich auf das System Verzicht leisten,
jedes Wort, an und für sich, und ausser der Redeverbindung, einer
grammatischen Kategorie zuzuweisen, und diese an ihm zu bezeichnen,
man kann endlich sich in seinen Sätzen so wenig, als möglich, von der
Form mathematischer Gleichungen entfernen. Wo jedoch eine Nation
nicht das vollständige System der grammatischen Formen verfolgt, da
ist der Begriff keiner einzigen genau bestimmt, denn sonst würden sich,
wie bei der Einsicht in jeden Organismus, aus dem Begriffe einer alle
übrigen entwickeln.
Die Chinesen lassen sehr oft die genaue grammatische Form
ihrer Wörter unbestimmt, sie sind aber auch nicht zu Bestimmungen
derselben, welche der Begriff nicht fordert, gezwungen. So können sie
das Verbum als blosse Copula gebrauchen, ohne Hinzufügung einer,
bei allgemeinen Sätzen, immer widersinnigen Zeitbestimmung. Sie
brauchen ebensowenig jedesmal anzudeuten, ob das Verbum activ
oder passiv gebraucht wird, und können mithin diese beiden Formen
desselben in Einer verbinden. Die classischen Sprachen bedürfen in
allen diesen Fällen besondrer Mittel, um den Begriffen die ihnen durch
die bestimmende Form entzogene Allgemeinheit wiederzugeben.
In unseren Sprachen erkennt man die Einheit des Satzes am
flectirten Verbum; so viele flectirte Verba da sind, soviel sind Sätze
vorhanden.
Die Chinesische Sprache braucht alle Wörter in dem Zustand,
in dem dieselben, abgesehen von jeder grammatischen Beziehung,
nur den Begriff ihrer Bedeutung ausdrücken, sie stehen, auch in der
Redeverbindung, alle, gleich den Sanskritischen Wurzelwörtern, in
statu absoluto.

190 • Wilhelm von Humboldt


Seria impossível falar sem ser guiado ao menos por uma vaga
intuição das formas gramaticais das palavras: conforme acredito ter
demonstrado, pode-se permanecer com frases tão simples que não exijam
uma precisa diferenciação de forma, onde houver uma forte restrição
que limita a estrutura dos períodos; pode-se dispensar completamente
o sistema de marcação gramatical de palavras individualmente, fora do
contexto sintático; pode-se, finalmente, se aproximar o máximo possível
da forma de uma equação matemática. Mas, quando uma nação não
segue o sistema completo das formas gramaticais, nenhuma dessas
formas terá seu conceito determinado com precisão, porque, se assim
o fosse, do conceito de uma se desenvolveriam os das outras, como
mostra a análise de qualquer organismo.
Os chineses, muito frequentemente, deixam a exata forma
gramatical das palavras sem determinação, visto que não são obrigados
a determiná-las quando o conceito não exige. Desse modo, podem usar
o verbo simplesmente como cópula sem acrescentar uma determinação
temporal, a qual não costuma fazer sentido em afirmações gerais.
Tampouco precisam indicar sistematicamente se o verbo está na voz
ativa ou passiva e podem, deste modo, unir essas duas formas em uma.
Em todos esses casos, as línguas clássicas precisam de meios especiais
para restituir a generalidade dos conceitos, que foi retirada pela
determinação gramatical.
Em nossas línguas, a unidade da oração é reconhecida pelo verbo
flexionado; tantos verbos flexionados existam, tantas serão as orações.
A língua chinesa emprega as palavras de uma forma que,
independentemente de qualquer relação gramatical, exprime somente o
conceito de seus significados. Elas ficam in statu absoluto até mesmo na
estrutura sintática, assim como os radicais do sânscrito.

Ensaios sobre língua e linguagem • 191


Die Chinesische Sprache kennt, grammatisch zu reden, kein
flectirtes Verbum, sie hat eigentlich gar kein Verbum, als grammatische
Form, sondern nur Ausdrücke von Verbal-Begriffen, und diese stehen
beständig in der unbestimmten Form des Infinitivs, einem wahren
Mittelzustande zwischen Verbum und Substantivum. Man bleibt
durchaus zweifelhaft, ob man das, was man nun Verbum nennt,
wirklich soll als flectirtes Verbum, als Copula des Satzes, ansehen,
oder als Praedikat desselben, bei welchem das Verbum substantivum
ausgelassen ist. Dem Geiste der Chinesischen Sprache scheint
sogar das letztere angemessener. Andre, selbst wenig ausgebildete
Sprachen, die Amerikanischen, Vaskische, Coptische, die der Südsee-
Inseln u.s.f. bezeichnen das den Satz verbindende Verbum durch
Bestimmung der Person, oft auch des Gegenstandes, der Zeit, der
transitiven, intransitiven, factitiven Form an ihm, und machen es
dadurch zum flectirten, vom blossen Verbal-Begriff verschiedenen.
Im Chinesischen trägt es keine dieser Modificationen an sich, sein
Subject, sein Complement sind abgesonderte Wörter, die Zeit ist gar
nicht, oder doch nicht als das Verbum grammatisch bezeichnende
Nebenbestimmung, sondern weil es der Sinn der Rede fordert,
angedeutet. Der ganze Satz entfernt sich, so wenig als möglich, von
der Form einer mathematischen Gleichung.
Man könnte zwar hier die Einwendung machen, daβ in fóu táo,
Vater sagt, ebensowohl ein flectirtes Verbum liegt, als in dem Englischen
they like. In der That giebt es in fast allen Sprachen, vorzüglich aber im
Englischen, einzelne ganz Chinesische Phrasen. Allein der Unterschied
ist dennoch in die Augen fallend, da like in anderen Stellungen
flectirt wird, und der Bau der ganzen Sprache an die grammatische
Classificirung der Wörter gewöhnt.
Man ist auch durchaus nicht immer sicher, wo im Chinesischen
ein Satz endigt und ein neuer beginnt, und in den Uebersetzungen
wird gewiss oft als Ein Satz angesehen, was aus zweien und mehreren
besteht. (T. p. 67. XX. 2.) Wón Woù tchî tchíng poú tsái fáng kann
übersetzt werden Die Verfassung des Wón und Woù steht geordnet
in Büchern, oder ist geordnet and steht in Büchern. Fast alle Wörter,
die man Praepositionen im Chinesischen zu nennen pflegt, sind
Verba, und bilden in ihrer Construction zwei abgesonderte Sätze.

192 • Wilhelm von Humboldt


Em termos gramaticais, a língua chinesa não flexiona o verbo;
na verdade, ela sequer tem verbo como forma gramatical, mas apenas
expressões de conceitos verbais que sempre ocorrem na forma
do infinitivo, um verdadeiro estado intermediário entre verbo e
substantivo. É difícil saber se o que se denomina verbo deve ser visto,
de fato, como verbo flexionado, ou seja, como cópula da oração, ou
como um predicado no qual o verbo-substantivo foi omitido, sendo
este último o mais apropriado para o espírito da língua chinesa. Outras
línguas, mesmo as pouco desenvolvidas morfologicamente, como as
americanas, o copta, o basco e as línguas das ilhas do Pacífico, marcam
o verbo como o elemento que conecta os componentes da oração por
meio da determinação de pessoa ou frequentemente de objeto, de tempo,
de formas transitivas, intransitivas ou factitivas, transformando-o em
elemento flexionado, assim diferenciado de um mero conceito-verbal.
No chinês não há nenhuma dessas modificações do verbo: o sujeito e
o complemento são palavras isoladas, o tempo não recebe qualquer
marcação, ou, quando recebe, ela não está no próprio verbo, mas apenas
marginalmente indicada porque o sentido assim o exige. A oração
inteira se aproxima o máximo possível de uma equação matemática.
Pode-se questionar se, em fóu táo, ‘pai disse’, há um verbo
flexionado, assim como no inglês they like. De fato, existem em
quase todas as línguas, especialmente em inglês, frases isoladas com
características típicas do chinês. Mas a diferença salta aos olhos porque
like pode ser flexionado em outras posições, e toda a estrutura da língua
está habituada à classificação gramatical das palavras.
Em chinês, não se sabe ao certo onde uma oração termina e
a outra começa, e nas traduções frequentemente se vê como uma
oração aquilo que consiste em duas ou mais (T. p.67. XX. 2).6 Wón
Woù tchî tchíng poú tsái fáng pode ser traduzido como A Constituição
de Wón e Woù se encontra organizada em livros, ou está organizada e
escrita em livros. Quase todas as palavras que se costuma denominar
preposições em chinês são verbos e formam duas orações distintas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 193


Ì thián hiá iù jìn wird (Gr. 159.) von Rémusat übersetzt: ex imperio
donare hominem, donner l’empire à un homme. Aber es ist da weder
von einer Praeposition, noch einem Dativ (einem geradezu im
Chinesischen sehr schwer auszudrückenden Casus) die Rede. Wörtlich
heisst der Satz: verfügen über das Reich, beschenken den Mann.
Dass Substantivum und Verbum nicht rein geschieden seyn
können, geht schon aus dem oben über das letztere Gesagten hervor.
Aber noch mehr trägt es zur Vermischung beider Begriffe bei, dass
dieselbe Partikel tchî, zwischen zwei Substantiva gestellt, andeutet, dass
das erste im Genitiv steht, und zwischen ein Substantivum und ein
Verbum, dass das erste, als Subject, das letzte regiert. In der That kann,
wenn man die Schärfe der grammatischen Bestimmung verlässt, das
Verbum, im Infinitiv, als Substantivum angesehen werden, und alsdann
verwandelt sich der Nominativus des Subjects in einen Genitiv, und es
giebt Sprachen, in welchen das Verbum vermittelst des Besitzpronomens
(mein Essen für ich esse) conjugirt wird. Zwar ist es merkwürdig, daß
die Chinesischen nomina, als Verba gebraucht, oft einen verschiedenen
Accent annehmen (Gr. 55.), gerade wie die zweisilbigen Englischen
Nomina im gleichen Fall (the cónduct, to condúct. Walker’s pron. dict.
16. éd. p. 71. § 492.). Allein die Wörter werden darum nicht zu Verben,
sondern nur zu Ausdrücken von Verbalbegriffen.
Dass man im Chinesischen gar nicht nach grammatischen Formen
fragen muss, beweist z. B. der Titel eines der sogenannten Vier Bücher des
Confucius, die aber nur von seinen Schülern herrühren, tchoûng yoûng.
Rémusat übersetzt denselben medium constans, l‘invariable milieu. Man
darf aber darum yoûng (constans) nicht für ein Adjectivum halten, da
es sonst, der Chinesischen Wortordnung nach, vor seinem Substantiv
stehen müsste. Was diese beiden Worte Chinesisch mit Klarheit und
Bestimmtheit anzeigen, ist das Ausharren in der Mitte, und dass die
allgemeine Idee des Ausharrens auf die Idee der Mine beschränkt ist.
Ob man aber yoûng lateinisch als perseveratio (als Verbal-Substantiv)
oder durch perseverantia. oder durch perseverare, oder gar durch
perseverant übersetzen soll, bleibt durchaus unbestimmt. Denn (T.p. 35.
II. 2.) in einer andren Stelle übersetzt Rémusat es wirklich als flectirtes
Verbum: siaò jín tchî tchoûng yoûng, parvi homines medio constant.

194 • Wilhelm von Humboldt


Ì thián hiá iù jín (Gr.159)7 é traduzido por Rémusat como: ex imperio
donare hominem, donner l'empire à un homme. Mas não há preposição
nem dativo (um caso especialmente difícil de se expressar em chinês).
Literalmente, a oração significa: ‘dispor do reino, presentear o homem’.
Com base no que foi dito anteriormente, já é possível concluir que
o substantivo e o verbo não podem ser claramente distinguidos. Mas
o que agrava essa indistinção entre os dois conceitos é que a mesma
partícula tchî, quando empregada entre dois substantivos, indica que
o primeiro está no genitivo e, quando entre um substantivo e um
verbo, que o substantivo, como sujeito, rege o verbo. Na realidade,
quando se abandona a precisão da determinação gramatical, o verbo
no infinitivo pode ser visto como substantivo, então o nominativo do
sujeito se transforma em genitivo; e existem línguas nas quais o verbo
é conjugado por meio do pronome possessivo (‘meu comer’ por ‘eu
como’). É realmente notável que os substantivos (nomina) chineses
empregados como verbos recebam uma acentuação específica (Gr.55),
assim como os substantivos dissílabos do inglês (the cónduct, to condúct.
Walker’s pron. dict., 16 éd., p.71, § 492). No entanto, essas palavras não
são transformadas em verbos, mas são simplesmente expressões de
conceitos verbais.
O fato de que categorias gramaticais têm pouca importância
no chinês é comprovado, por exemplo, pelo título de um dos livros
dos chamados Quatro livros de Confúcio (tchoûng yoûng), que se
originaram, na verdade, de seus discípulos. Rémusat o traduz por
medium constans, l'invariable milieu. Mas não se deve considerar
yoûng (constans) um adjetivo, porque, de acordo com a ordem das
palavras no chinês, ele deveria vir antes do substantivo. O que essas
duas palavras chinesas exprimem clara e certamente é a noção de
perseverança no centro, além de que a ideia geral de perseverança
se restringe ao conceito de centro. Permanece, porém, indefinido
se a tradução de yoûng para o latim deveria ser perseveratio (como
substantivo verbal), perseverantia, perseverare, ou ainda perseverant,
pois em outro lugar (T. p.35. II. 2) Rémusat traduz como um verbo
flexionado: siaò jín tchî tchoûng yoûng, parvi homines medio constant.

Ensaios sobre língua e linguagem • 195


In diesem Satz sind im Chinesischen bloss die Begriffe klein, Mensch,
Mitte, Beharren nebeneinandergestellt, die Partikel tchî zeigt an,
dass die ersten, für sich zusammengenommen, sollen mit den
letzten verbunden werden; aus der Abwesenheit einer Verneinung
geht die Uebereinstimmung des Verglichenen hervor. Mehr liegt
im Chinesischen nicht, dies reicht aber auch zum Ausdruck des
Gedanken hin. Ob aber yoûng wirklich das flectirte Verbum ist, wie
Rémusat es übersetzt, oder ob man vor den letzten Worten das Verbum
substantivum, oder, wie Rémusat bei einer andern ganz gleichen
Stelle behauptet, ein anderes Verbum ergänzen muss, so dass yoûng
zum Participium oder Infinitiv wird, davon weiss die Chinesische
Grammatik nicht, und fragt danach nicht.
Das Chinesische tá kŏ táo, sehr weinen reden, kann
valde ploravit, dixit,
valde plorans dixit,
valde plorando dixit,
cum magno ploratu dixit,
übersetzt werden, das Chinesische zeigt bloss an, dass der, von
dem die Rede ist, geweint und gesprochen hat.
Man kann hier einwenden, dass Sätze dieser Art, wenn sie auch
scheinbar verschieden aufgefasst werden können, in dem Kopfe der
Eingebornen doch nur immer einer und derselben dieser verschiedenen
Arten angehören, und dass ein geübtes Gefühl des Sprachgebrauchs
diese Art erkennt und festhält. Es bleibt aber immer eine Thatsache,
dass die Chinesischen Worte selbst nichts enthalten, was eine dieser
verschiedenen Uebersetzungen vor der andren begünstigte, und man
kann mit Sicherheit annehmen, dass, wenn irgend ein grammatisches
Verhältniss den Geist eines Volks lebendig anspricht, dasselbe auch einen
Ausdruck in seiner Sprache findet, so wie umgekehrt es ein untrügliches
Zeichen ist, dass ein solches Verhältniss die Nation nicht lebendig
getroffen hat, wenn es ihrer Sprache an einem Ausdruck dafür mangelt.
Denn da alles Sprechen darin besteht, die schweifende Unbestimmtheit
des blossen Vorstellens durch die Schärfe des articulirten Lautes zu
heften, so muss, was sich in der Seele zur Klarheit und Bestimmtheit
der Sprache erheben will, auf irgend eine Weise in ihr ein dasselbe
vorstellendes Zeichen finden.

196 • Wilhelm von Humboldt


Nessa oração em chinês, estão justapostos apenas os conceitos de
pequeno, homem, centro, perseverar, e a partícula tchî indica que
os primeiros conceitos, juntos, devem estar ligados aos últimos; a
harmonia dos elementos comparados resulta da ausência de uma
negação. Não há nada além disso em chinês, mas isso é suficiente para
a expressão do pensamento. A gramática chinesa não está interessada
nem se questiona se yoûng é realmente um verbo flexionado, como
traduz Rémusat, ou se é preciso complementar a oração antes das
últimas palavras com um verbo-substantivo, ou até mesmo inserir um
verbo, de maneira que yoûng se torne um particípio ou um infinitivo,
como propõe Rémusat em outro trecho bastante semelhante.
O chinês tá kŏ táo, ‘muito chorar falar’, pode ser traduzido como
valde ploravit, dixit,
valde plorans dixit,
valde plorando dixit,
cum magno ploratu dixit.
O chinês indica apenas que a pessoa em questão chorou e falou.
Pode-se objetar aqui que orações desse tipo, mesmo quando
interpretadas de diferentes maneiras, na cabeça do nativo pertencem a
apenas uma dessas interpretações e que um sentimento condicionado
no uso da língua reconhece e fixa essa interpretação. Mas é, sem dúvida,
um fato que as palavras chinesas não recebem marcação alguma que
favoreça uma das diferentes possibilidades de tradução. Pode-se
seguramente supor que, quando uma relação gramatical corresponde
vivamente ao espírito de uma nação, ela se manifesta na língua, do
mesmo modo que, quando falta na língua um modo de expressar
certas relações, essa ausência é um forte indício de que o espírito da
nação não foi atingido por elas. No fundo, falar consiste na fixação do
imaginar errante e impreciso por meio da acuidade do som articulado.
Tudo aquilo que na alma aspira à clareza e à precisão da língua deve
encontrar, de alguma forma, um signo que represente um conceito
correspondente.

Ensaios sobre língua e linguagem • 197


Die Chinesische Sprache besitzt nichts, was auf irgend eine Weise
eine Flexion genannt werden könnte. Ihre einzigen syntaktischen
Hülfsmittel sind Partikeln (grammatische Wörter) und die Wortstellung.
Allein auch diese beiden scheinen nicht auf die Bezeichnung der
grammatischen Formen zu gehen, sondern bestimmt zu seyn, das
Verständniss auf andere Weise zu leiten.
Das schon im Vorigen erwähnte tchî ist diejenige Chinesische
Partikel, welche sich am meisten dem Begriff eines Casuszeichens,
um nicht Flexion zu sagen, nähert. In den Worten thían tchî mîng, die
Satzung des Himmels, scheint tchî nichts als ausdrückliche Andeutung
des Genitivs, oder doch eine den Praepositionen von, de und of ähnliche
Partikel. Allein dem Subject vor dem Verbum nachgesetzt, deutet es
den Nominativ, und auf das Verbum folgend, den Accusativ an. Diese
Genitive stehen sehr häufig ohne diese Partikel, und sie findet sich
in einer Menge von Fällen, wo an keinen Genitiv zu denken ist. So
verbindet sie das Subject mit dem Verbum, das Verbum substantivum
und andre intransitive Verba mit ihrem Praedikat, das Subject mit
seinem Attribut, indem sie die Stelle des Verbum substantivum vertritt,
bildet Adjectiva, dient statt eines bestimmenden Artikels, deutet den
vom Verbum regierten Gegenstand, wenn er selbst nicht ausgedrückt
ist, alt Pronomen an, und steht als Beziehungspronomen. In allen
diesen verschiedenen Geltungen hat tchî zugleich eine trennende und
verbindende Kraft, die aber eng mit einander vereinigt gedacht werden
müssen. Indem sie sich zwischen den Genitiv und das ihn regierende
Wort stellt, zeigt sie an, dass beide Wörter, als nicht in Apposition
stehend, getrennt, aber als von einander abhängig zusammen verbunden
werden müssen. Ebenso vereinigt sie Subject und Verbum, trennt aber
vorher beide, da, ohne sie, das dem Verbum vorausgehende Wort,
den Regeln der Chinesischen Wortstellung nach, in die allgemeine
Kategorie des Adverbium fallen würde. In allen diesen Fällen wird
sie gebraucht, wo der Sinn der Rede eine verschiedene, aber mit dem
unmittelbar Folgenden auf das engste verbundene Richtung zu nehmen
beginnt. Zugleich ist diese Partikel Pronomen: wáng tchîng tchî (Gr.
134.), der König unterwirft ihn, tchî ’wíï, dies heisst. Diese Bedeutung
ist ihre ursprüngliche, und ich sehe keine andre auch da in ihr, wo sie
(als angebliches Genitivzeichen oder sonst) jene verbindende Kraft hat.

198 • Wilhelm von Humboldt


A língua chinesa não tem nada que, de um modo ou de outro, possa
ser chamado de flexão. Seus únicos recursos sintáticos são partículas
(palavras gramaticais) e a ordem das palavras. No entanto, mesmo
esses dois recursos parecem não ter a função de determinar a forma
gramatical, mas de direcionar a compreensão de outro modo.
A partícula tchî, já mencionada, é a que mais se aproxima do
conceito de marca de caso, para não dizer flexão. Em tchían tchî
mîng, ‘o estatuto do céu’, tchî parece ter apenas a função de indicar
o genitivo, podendo ser comparada às preposições von, de ou of.
Mas, quando se coloca essa partícula antes do sujeito que precede o
verbo, ela indica o nominativo e, quando depois do verbo, o acusativo.
Esse tipo de genitivo aparece com frequência sem essa partícula, que
ocorre em muitos casos em que o conceito de genitivo está ausente.
Ela tem, ainda, muitas outras funções: liga o sujeito ao verbo, o verbo-
substantivo e outros verbos intransitivos ao predicado, o sujeito ao
atributo, além de substituir a posição do verbo-substantivo, formar
adjetivos, servir como um substituto do artigo definido, indicar o
objeto regido pelo verbo, quando ele não está explícito, e de funcionar
como um pronome relativo. Em todos esses valores de tchî, que
devem ser concebidos como estreitamente ligados, existe uma força
ao mesmo tempo unificadora e separadora. Caso essa partícula esteja
entre o genitivo e a palavra que ele rege, ela indica que as duas palavras
não se encontram em uma relação de aposição, separadas, mas, sim,
em uma relação de dependência. De modo semelhante, ela liga o
sujeito ao verbo, mas primeiramente os separa porque, de acordo
com as regras sintáticas do chinês, sem ela a palavra que antecede
o verbo cairia na categoria geral de advérbio. Em todos esses casos,
ela é usada onde o sentido do discurso começa a tomar uma direção
diferente, mas estreitamente ligada ao que vem logo a seguir. Além do
mais, essa partícula é um pronome: wáng tchîng tchî (Gr.134.), ‘o rei
o subjuga’, tchî ‘wíï, ‘isso significa’. Esse é o seu significado original,
e eu não sei de nenhum outro em que ela (como suposto marcador
de genitivo ou em qualquer outra função) tenha tal força unificadora.

Ensaios sobre língua e linguagem • 199


Der Redende, statt in Einem Flusse zu reden, hält, wo die Construction
eine andere Wendung nimmt, inne, und heftet, ehe er zum Folgenden
übergeht, die Aufmerksamkeit des Hörers durch den Ausruf: das! noch
einmal vorher auf das schon Gesagte. Daher wird tchî gewöhnlich
auch nur gebraucht, wo, ohne seine Dazwischenkunft, Unklarheit
oder Zweideutigkeit zu besorgen wäre. Man kann bei dem Gebrauche
von tchî oft zweifelhaft bleiben, ob das Wort, welches ihm vorausgeht,
der Nominativ oder der Genitiv ist. ’Oû poŭ yŭ jîn tchî kiâ tchoû ’ò yì
übersetzt man ego non cupio, homines addant ad me. Nichts verbietet
aber zu übersetzen: non cupio hominum additionem s. addere ad me.
Hiŏ sîng sái kiwù tchî foû übersetzt man studio natus (eine gewöhnliche
Art der Chinesischen Gelehrten sich selbst zu bezeichnen) debilis,
marcidus sum homo; es kann aber ebensowohl heissen studio natus
debilium, marcidorum sum homo. Thían tí tchî tá heisst eben so wohl,
und nur nach Verschiedenheit des Zusammenhanges, Himmel und
Erde sind gross (T. p. 47. XII. 2.) als des Himmels und der Erde Grösse.
Auch sind diese verschiedenen Uebersetzungen derselben Sätze nur
in den darin gebrauchten grammatischen Formen von einander
abweichend, kommen aber alle darin mit einander überein, dass die
der Partikel tchî nachfolgenden Worte in ihrem Begriff von den vor ihr
vorausgehenden bestimmt werden. Da nun die Sprache sie als gleich
ansieht, was der Gebrauch derselben Partikel in allen beweist, so ist
klar, dass ihre grammatische Ansicht nur auf die Begriffsbestimmung,
in der sie übereinkommen, und nicht auf die Formenbezeichnung, in
der sie verschieden sind, gerichtet ist.
Ich übergehe, der Kürze wegen, die Zergliederung andrer
Chinesischer grammatischer Wörter, sie würde aber zu dem gleichen
Resultat führen, dass diese Wörter nicht Bezeichnungen grammatischer
Formen sind, sondern mehr den Uebergang eines Theils des Gedanken
zum andern anzeigen. Von denen, welche diese Bestimmung nicht
haben, wie z. B. die sogenannten Praepositionen sind, lässt sich fast
allgemein behaupten, dass man ihren Gebrauch besser begreift, wenn
man auf ihre ursprüngliche materielle Bedeutung zurückgeht, als wenn
man sie als grammatische Bezeichnungen nimmt.

200 • Wilhelm von Humboldt


O falante, em vez de falar continuadamente, para onde a construção
toma uma direção diferente e, antes de continuar, chama a atenção
do ouvinte para o que foi dito por meio da exclamação Isso!. Por
isso, emprega-se tchî normalmente apenas onde a sua ausência
provocaria obscuridade ou ambiguidade. Quando se usa a partícula
tchî, frequentemente fica a dúvida se a palavra que a antecede está no
nominativo ou no genitivo. Traduz-se ’oû poû yû jîn tchî kiâ tchoû ’ò
yì por ego non cupio, homines addant ad me, mas nada impede que a
tradução seja non cupio hominum additionem s. addere ad me. Traduz-
se hiŏ sîng sái kiwù tchî foû por studio natus (a maneira como os sábios
chineses geralmente se autodenominam) debilis, marcidus sum homo,
mas também pode significar studio natus debilium, marcidorum sum
homo. Tchían tí tchî tá significa, ao mesmo tempo, ‘céu e terra são
grandes’ (T. p.47. XII.2), ou ‘o tamanho do céu e da terra’, conforme
o contexto. Essas diferentes traduções das mesmas orações variam
apenas quanto às formas gramaticais empregadas, visto que concordam
no que diz respeito à função de tchî, de modo que as palavras que
seguem essa partícula são conceitualmente determinadas por aquelas
que a precedem. Como a língua considera essas palavras formalmente
iguais, o que é comprovado pelo uso dessa partícula em todos os casos,
fica claro, portanto, que sua perspectiva gramatical está direcionada
para a determinação do conceito, em que elas concordam, e não para
a expressão da forma, em que elas são diferentes.
Para ser breve, não tratarei da análise de outras palavras gramaticais
da língua chinesa, porque ela levaria ao mesmo resultado, ou seja, essas
palavras não são designações de formas gramaticais, mas indicam a
passagem de uma parte do pensamento para outra. Sobre aquelas que
não têm essa função, como, por exemplo, as chamadas preposições,
geralmente se pode afirmar que sua compreensão é mais fácil quando
se retoma o significado material original do que quando se consideram
essas palavras como formas gramaticais.

Ensaios sobre língua e linguagem • 201


Die Chinesische Sprache weicht daher in dem hier betrachteten
Punkt wesentlich von allen übrigen mir bekannten flexionslosen
Sprachen ab. In diesen begleiten die grammatischen Wörter diejenigen,
zu denen sie gehören, so beständig und auf eine solche Weise, dass sie
Ausdrücke grammatischer Formen werden, und ein sichtbares Bestreben
zeigen, mit den Hauptwörtern, als Nebenlaute, zusammenzuschmelzen.
Viele von ihnen können daher als wirkliche Prae- und Suffixa,
manche beinahe als wahre Flexionen angesehen werden. Dass dies im
Chinesischen durchaus nicht der Fall ist, beweisen am deutlichsten
die zur Bezeichnung der Tempora bestimmten Wörter. Sie fehlen
weit häufiger, als sie das Verbum begleiten, sind eigentlich nichts, als
Adverbia der Zeit, und schliessen sich so wenig eng an das Verbum an,
dass einige bald vor, bald hinter demselben, bald durch mehrere Worte
von ihm getrennt stehen. Die Wortstellung ist, ohne in einer Sprache
mit andren Hülfsmitteln der grammatischen Bezeichnung verbunden
zu werden, ausser Stande, anzudeuten, in welcher bestimmten
grammatischen Form jedes Wort eines Satzes genommen werden muss,
ja nur überhaupt alle Theile des Gedanken unverkennbar zu bezeichnen.
Es fehlt ihr sogar unter diesen Umständen oft an einem festen Punkt,
von dem das Verständniss durch sie ausgehen kann. Denn wie auch
z. B. feststehen möge, dass das Subject dem Verbum vorausgehen, der
regierte Gegenstand ihm nachfolgen muss, so giebt es kein Mittel, der
Satz müsste denn bloss aus drei Worten bestehen, durch die Stellung
allein, das Verbum selbst, dies erste Glied der Kette, zu erkennen. So
fest daher auch die Wortstellung im Chinesischen ist, so reicht sie nie
allein aus, sondern man muss immer zugleich auf die Bedeutung der
Wörter und den Zusammenhang der Rede zurückgehn. Am wenigsten
kann sie die grammatischen Formen angeben, da z. B. mehr als Eine
das Subject bilden, dem Verbum nicht bloss dieses, sondern auch eine
adverbialische Bestimmung vorausgehen kann u.s.f.
Genau genommen, zeigt die Wortstellung im Chinesischen bloss
an, welches Wort das andre bestimmt. Dies wird von zwei verschiedenen
Seiten aus betrachtet, von der Beschränkung des Umfangs eines Begriffs
durch einen andren, und von der Richtung eines Begriffs auf einen
andren.

202 • Wilhelm von Humboldt


Nesse ponto, a língua chinesa diverge consideravelmente de todas
as línguas sem flexão de que tenho conhecimento. Nessas línguas, as
palavras gramaticais acompanham aquelas a que pertencem de maneira
tão constante e de tal modo que se tornam expressões de formas
gramaticais e revelam uma tendência visível de se amalgamarem, como
sons adicionais, com as palavras principais. Decorre desse fato que muitas
delas podem ser vistas como verdadeiros prefixos e sufixos, algumas
quase como verdadeiras flexões. Isso não é o caso do chinês, o que
comprovam, com bastante clareza, as palavras que indicam os tempos.
A ausência dessas palavras é mais frequente do que sua presença junto
ao verbo e elas são, no fundo, nada além de advérbios de tempo, ligando-
se ao verbo de modo tão solto, que algumas aparecem antes do verbo,
outras depois e, às vezes, até mesmo separadas por várias outras palavras.
A ordem das palavras em si, sem haver outros meios gramaticais que
estabeleçam as ligações, é incapaz de indicar a interpretação gramatical
de cada palavra de uma oração ou de caracterizar todas as partes do
pensamento de forma inequívoca. Frequentemente, falta um ponto fixo
que permita, por meio da ordem das palavras, a compreensão. Mesmo
que fosse estipulado, por exemplo, que o sujeito tem de preceder o verbo
e o elemento regido tem de segui-lo, não haveria como se identificar o
verbo, esse primeiro elo da cadeia, apenas pela ordem das palavras, a
não ser que a oração fosse composta por somente três palavras. A oração
teria de consistir em apenas três palavras. Por conseguinte, por mais que
a ordem das palavras seja fixa em chinês, ainda assim, sozinha ela não
é suficiente, sendo preciso sempre voltar ao significado das palavras e à
coesão do discurso. Não há a menor possibilidade de que ela indique as
formas gramaticais, porque mais de uma dessas formas pode funcionar
como sujeito, por exemplo, e o verbo pode ser precedido não apenas
pelo sujeito, mas também por uma locução adverbial etc.
A rigor, a ordem das palavras em chinês indica tão somente qual
palavra determina a outra. Isso pode ser visto sob dois ângulos: a limitação
da extensão de um conceito por meio de outro, e o direcionamento de
um conceito em relação a outro.

Ensaios sobre língua e linguagem • 203


Die Wörter nun, welche andere beschränkend bestimmen, gehen den
letzteren vor, die Wörter, auf welche andere gerichtet sind, folgen
diesen nach. Auf diesen beiden Grundgesetzen der Construction
beruht die ganze Chinesische Grammatik. Es steht also, nach unsrer
Art zu reden, das Adverbium vor dem Nomen oder Verbum, das
Adjectivum nach dem Adverbium, aber vor dem Substantivum, das
Subject, welchen Redetheil es ausmachen möge, vor dem Verbum,
das Verbum vor dem Worte, welches dasselbe, als seinen Gegenstand,
regiert.
In der Grammatik jeder Sprache giebt es einen ausdrücklich
bezeichneten und einen stillschweigend hinzugedachten Theil. In der
Chinesischen steht der erstere in einem unendlich kleinen Verhältniss
gegen den letzteren.
In jeder Sprache muss der Zusammenhang der Rede der Grammatik
zu Hülfe kommen. In der Chinesischen ist er die Grundlage des
Verständnisses, und die Construction kann oft nur von ihm abgeleitet
werden.8 Das Verbum selbst ist nur am Verbalbegriff kenntlich.
Dass die Chinesische Sprache sich mit einer solchen Grammatik
begnügen kann, macht der Zuschnitt ihrer Sätze. Diese sind meistentheils
sehr kurz, selbst die lang scheinenden lassen sich auf kurze zurückführen,
und dies scheint die dem Geiste der Sprache angemessenste Methode.
Der Periodenbau ist aber sichtbar nur deswegen so einfach geblieben,
weil der grammatische keinen andern erlaubt.
Eine Chinesische Redensart lässt sich bei weitem nicht immer bloss
in dem Sinne nehmen, welchen sie für sich darbietet. Sehr häufig muss
man die Bestimmung hinzufügen, die aus der vor ihr vorhergehenden
hinzukommt. So bedeutet die verbindende Partikel eûl höchst selten bloss
und. Ob sie aber und dennoch oder und deshalb übersetzt werden muss,
hängt von dem Verhältniss der mit einander verbundenen Sätze ab. Auf
dieselbe Weise werden von einander abhangende Sätze meistentheils
ohne Conjunctionen gebraucht, so dass die Art ihrer Abhängigkeit nur
aus ihrem Sinn und ihrem darin liegenden gegenseitigen Verhältniss
hervorgeht.

204 • Wilhelm von Humboldt


Logo, as palavras que determinam outras de forma restritiva
antecedem-nas, e as palavras a que se direcionam outras seguem-
nas. Nessas duas leis fundamentais de construção se baseia toda a
gramática chinesa. De acordo com os termos aqui empregados, tem-
se que o advérbio antecede o substantivo ou o verbo, o adjetivo vem
depois do advérbio, mas antes do substantivo, o sujeito, qualquer que
seja sua categoria gramatical, vem antes do verbo, e o verbo antes da
palavra que ele rege como objeto.
Na gramática de qualquer língua, existe uma parte expressamente
designada e outra a ser implicitamente acrescentada. Em chinês, a
primeira parte é infinitamente menor em comparação com a segunda.
Nas línguas, a coesão do discurso precisa ajudar a gramática.
Na língua chinesa, ela é a base da compreensão, e frequentemente a
construção da oração só pode ser deduzida a partir dela.8 O próprio
verbo só é identificado pelo conceito verbal.
O fato de que a língua chinesa pode se contentar com uma
gramática como essa se deve ao tipo de construção das orações. Em
geral, as orações são muito curtas, e mesmo aquelas que parecem mais
compridas podem ser reduzidas a orações menores. Esse parece ser
o método mais adequado para o espírito da língua. Evidentemente, a
construção do período ficou assim tão simples porque a construção
gramatical não permite outra opção.
Uma expressão em chinês nem sempre pode ser interpretada
com base em seu sentido mais evidente, sendo muitas vezes necessário
acrescentar a determinação procedente da expressão anterior. Portanto,
a partícula conectiva eûl raramente tem apenas o significado de ‘e’. Sua
tradução como ‘e no entanto’ ou ‘e por isso’ depende da relação das
orações entre si. Do mesmo modo, orações dependentes são, na maioria
dos casos, empregadas sem conjunções, de forma que a dependência se
manifesta apenas na relação semântica de interdependência.

Ensaios sobre língua e linguagem • 205


Die Chinesische Sprache stellt meistentheils vereinzelt hin, was
in andren verbunden ist. Dadurch erhalten ihre Ausdrücke mehr
Gewicht, und zwingen, bis zur Auffassung aller ihrer Beziehungen bei
ihnen zu verweilen. Die Sprache überlässt es dem Hörer, eine Menge
von Mittelbegriffen hinzuzufügen, und legt daher dem Geiste eine
grössere Arbeit auf, welche einen Theil der Grammatik ergänzen muss.
Im Volksgebrauch helfen vermuthlich die ein für allemal in einem
Sinn, den man kennen muss, ohne ihn immer aus buchstäblicher
Uebersetzung finden zu können, ausgeprägten Redensarten, von denen
es, nach Rémusats (sur les langues Tartares. p. 124) Zeugniss, eine sehr
grosse Anzahl giebt. Die Anzeige der Gedankenverbindung ist bisweilen
dergestalt, man muss mehr sagen, verschmäht, als vernachlässigt, dass
ein einzelnes Substantivum, für sich gleichsam einen Satz ausfüllend,
vorangeschickt ist, bloss um aus ihm eine in einem nachher kommenden
ausgedrückte Schlussfolge zu ziehen. So bilden die Worte (T. p. 35. II. 2.)
kiûn tsiù eûl chî tetuûng, der Weise, und (deshalb) immer Mitte, für sich
zwei verbundene Sätze, denen nun bloss folgt, dass der grosse Haufe
sich anders verhält. Rémusat übersetzt hier sapiens et semper medio stat.
Aber meine Uebersetzung enthält genau die Chinesischen Worte.
Vergleicht man das Chinesische mit andren Sprachen von dem hier
gefassten Gesichtspunkte aus, so giebt es Sprachen dreifacher Gattung.
Die Chinesische überhebt sich einer genauen, ja im Grunde aller
Bezeichnung der grammatischen Formen.
Die Indo-Germanischen und vielleicht noch andre machen diese
Bezeichnung zur Grundlage ihrer Grammatik, und ertheilen derselben
die sorgsamste Ausführung.
Die Sprachen, die nach jenen beiden Classen übrigbleiben, streben
nach grammatischen Formen und bezeichnen dieselben, erreichen aber
nicht eine vollständige und angemessene Bezeichnung, haben bald eine
mangelhafte, bald eine überflüssige und fehlerhafte.
Die Chinesische Sprache unterscheidet sich von diesen
Sprachen durch die Reinheit, Regelmässigkeit und Consequenz ihres
grammatischen Baues; durch diese Vorzüge stellt sie sich unbedingt
den vollkommensten Sprachen an die Seite, unterscheidet sich aber von
ihnen wieder dadurch, dass sie, soweit es nur immer die allgemeine Natur
der Sprache zulässt, ein dem ihrigen entgegengesetztes System befolgt.

206 • Wilhelm von Humboldt


A língua chinesa costuma dispor de modo isolado aquilo que em
outras línguas está ligado. Isso dá um peso maior às expressões e obriga
o ouvinte a ficar atento a todas as relações presentes. A língua deixa
ao ouvinte o acréscimo de vários conceitos intermediários e obriga,
consequentemente, o intelecto a realizar um trabalho mais intenso
de complementar uma parte da gramática. No uso cotidiano, muito
provavelmente ajuda o fato de certas expressões – segundo Rémusat (Sur
les langues Tartares, p.124)9 são muitas – terem um sentido fixo, único,
que se conhece e que certamente não é derivado de uma tradução literal.
A indicação das conexões do pensamento, pode-se dizer, é às vezes mais
desconsiderada do que ignorada, de tal modo que um substantivo que
em si já representa uma oração é anteposto simplesmente como base
para se tirar uma conclusão sobre um substantivo posposto. Logo, as
palavras kiûn tsiù eûl chî tetuûng (T. p.35. II. 2), ‘o sábio, e (por isso)
sempre o meio’, formam duas orações ligadas, das quais se conclui
apenas que a grande maioria se comporta de modo distinto. Rémusat
traduz por sapiens et semper medio stat, mas a minha tradução contém
exatamente as palavras chinesas.
Quando se compara o chinês com outras línguas do ponto de vista
aqui concebido, existem três espécies de línguas.
A língua chinesa dispensa uma designação precisa das formas
gramaticais.
As línguas indo-germânicas10 e talvez outras tomam essas
designações como a base da gramática e dão especial atenção a elas.
As línguas que não se enquadram em nenhuma dessas duas
classes aspiram às formas gramaticais e as designam, mas não alcançam
uma designação completa e adequada, sendo esta insuficiente ou
desnecessária e, em alguns casos, falha.
A língua chinesa se diferencia dessas línguas pela pureza, pela
regularidade e pela lógica da estrutura gramatical; devido a essas
qualidades, ela fica, sem dúvida, ao lado das línguas mais perfeitas,11
mas se distingue delas pelo fato de que, na medida em que a natureza
geral de uma língua permite, segue um sistema oposto ao delas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 207


Sie darf um so weniger mit den ungebildeten Sprachen roher
Volksstämme verwechselt werden, als diese meistentheils, wie schon
Rémusat bemerkt hat, gerade von grammatischen Bezeichnungen, ja
mitunter von grammatischen Spitzfindigkeiten wimmeln.
Die Chinesische Sprache bietet die sonderbare Erscheinung dar, sich
durch die blosse Verzichtleistung auf einen allen Sprachen gemeinsamen
Vorzug einen anzueignen, der in keiner anderen angetroffen wird.
Indem sie Vielem entsagt, was der Ausdruck hinzufügt, hebt sie gerade
den Gedanken stärker hervor, und besitzt eine in dem Grade nur ihr
eigentümliche Kunst, die Begriffe so unmittelbar an einander zu reihen,
dass ihre Uebereinstimmungen und Gegensätze nicht bloss, wie in
andren Sprachen, wahrgenommen werden, sondern den Geist, ihn mit
einer ihm neuen Kraft berührend, gleichsam zwingen, sich der reinen
Betrachtung ihrer Beziehungen zu überlassen. Es entsteht daraus, noch
selbst unabhängig vom Inhalt der Rede, ein, in anderen Sprachen in
dem Grade unbekanntes, bloss aus der Form und der Anordnung der
Begriffe hervorgehendes, rein intellectuelles Vergnügen, das vorzüglich
durch die Kühnheit bewirkt wird, lauter, gehaltvolle, selbständige
Begriffe bezeichnende Ausdrücke in überraschender Vereinzelung
neben einander hinzustellen, und Alles für sich Gehaltlose, und nur
Fügung und Verknüpfung Bezeichnende zu entfernen.
Da die Chinesische Sprache sich von den mit vollkommener
Formenbezeichnung versehenen dadurch unterscheidet, dass diese den
in der Rede verbundenen Wörtern eine bestimmte Gestalt geben, die für
sie aus dieser entspringenden Eigenschaften auf den Gedankenausdruck
mitwirken lassen, und dadurch dem blossen Gedankengehalte in ihm
allein nicht liegende Bestimmungen hinzufügen, das Chinesische aber dies
alles nicht thut, aus den Wörtern keine, durch ihre eigenthümliche Natur
auf den Gedankengehalt zurückwirkenden Wesen macht, sondern sich
bloss an den letzteren hält, und um ihn in Worte einzukleiden, so wenig,
als möglich, von der besondren Eigenthümlichkeit der Sprache leiht;
so fragt es sich, um den Gegenstand zu erschöpfen, was nun eigentlich
in der Seele dieser Zurückwirkung der Sprache durch vollständige
Formenbezeichnung auf den Gedankengehalt entspricht, und was mithin,
da wo, wie im Chinesischen, eine solche Wirksamkeit fehlt oder schwach
ist, deshalb in dem Geiste der Sprechenden vermisst werden muss?

208 • Wilhelm von Humboldt


Ela não pode ser confundida com as línguas incultas de povos
rudimentares, porque elas, como observou Rémusat, apresentam
abundância de formas e às vezes até de sutilezas gramaticais.
A língua chinesa apresenta o notável fenômeno de adquirir uma
qualidade que não se encontra em nenhuma outra língua, apenas por
renunciar a certas coisas. Ao renunciar a muito do que a expressão
acrescenta, ela destaca o pensamento de modo mais acentuado e, em um
grau que lhe é peculiar, tem a arte de justapor conceitos tão diretamente
que as convergências e as oposições dos conceitos não são simplesmente
perceptíveis, como é o caso de outras línguas, mas o espírito, atingido
por uma força nova e inédita, é forçado à pura contemplação das
relações. Disso se origina, independentemente do conteúdo do discurso,
um prazer puramente intelectual, desconhecido em outras línguas
nesse grau, que é resultado da forma e da ordenação dos conceitos e
provocado pela ousadia de justapor expressões de conceitos plenos e
independentes, de modo supreendentemente isolado, e de excluir tudo
o que não tem significado e serve apenas para juntar ou conectar.
A língua chinesa se diferencia daquelas que têm designação
completa de formas, no sentido de que elas propiciam às palavras
conectadas no discurso uma determinada configuração, a qual,
devido a essas características, influencia a expressão do pensamento
e assim acrescenta ao conteúdo do pensamento determinações que
originalmente não fazem parte dele. Como o chinês não faz nada disso,
i.e., não transforma as palavras em entidades que, por sua natureza
idiossincrática, repercutem no conteúdo do pensamento, mas a ele se
restringe e, ao revesti-lo de palavras, apenas adiciona o mínimo possível
das características da língua, então, para esgotar o assunto, deve-se
perguntar: a que equivale, na alma, essa repercussão sobre o conteúdo
do pensamento, provocada pela designação completa de formas? O que
falta, consequentemente, no espírito do falante quando essa forma de
repercussão não existe ou é fraca, como no chinês?

Ensaios sobre língua e linguagem • 209


So schwierig die Beantwortung dieser Frage ist, so möchte ich
sagen, dass die Seelenkraft, der diese Wirksamkeit angehört, die
Art der Einbildungskraft ist, welche überhaupt zur Bezeichnung
der Gedanken durch Laute antreibt. Die mit vollkommener
Formenbezeichnung versehenen Sprachen verdanken ihr Daseyn
der erhöheten Thätigkeit dieser Kraft, und wirken wiederum stärker
auf dieselbe zurück. Die Chinesische befindet sich für beides in dem
entgegengesetzten Fall.
Von da aus verbreitet sich aber der wohlthätige Einfluss eines
reichen grammatischen Formenbaues über das ganze Denksystem.
Diese so unbedeutend erscheinenden Formen erlauben, indem sie
Mittel darbieten, die Sätze zu erweitern und zu verschlingen, dem
Geiste einen freieren Schwung. Der Gedanke, der in dem Kopfe eine
ununterbrochene Einheit bildet, findet in einer, alle Wörter organisch
verknüpfenden Sprache dieselbe Stetigkeit wieder. Durch beides
verbindet ein vollendeter grammatischer Formenbau den zwiefachen
Vortheil, dem Gedanken mehr Umfang, Feinheit und Farbe zu geben
und ihn genaue und treuer darzustellen. Ausserdem aber begleitet er ihn
noch mit symmetrischer Stellung der Sprachformen und harmonischer
Lautverknüpfung, beides den Gedanken und Empfindungen der Seele
entsprechend. Einer viele Vortheile der Sprache unbenutzt lassenden
Grammatik sind diese Vorzüge wenigsten nie in gleichem Grade
erreichbar.
In dem hier Geschilderten erscheinen Gedanke und Sprache als
untrennbar in einander verwachsen. Setzt man dagegen beide einander
entgegen, so bietet der von der Einkleidung in Sprache geschiedene
Gedanke eine höhere Freiheit und Reinheit dar, da der Ausdruck
nothwendig einengt und verändert. Nun ist es zwar unmöglich,
ohne Sprache zu denken. Allein der Mensch unterscheidet doch den
Gedanken vom Wort, und geht, woraus alle innere Spracherweiterung
entspringt, hautig über die Begränzung der in jedem Augenblick
gegebenen Sprache hinaus. Wo daher die zwiefache Geistesthätigkeit,
die ihn auf den Gedanken und das Wort treibt, einmal ungleich ist,
schwächt sich die eine, indem die andere zunimmt. Hierin suche ich
den tieferen Grund der Verschiedenheit der Chinesischen und der
vollkommensten unter den Indo-Germanischen Sprachen.

210 • Wilhelm von Humboldt


Por mais difícil que seja a resposta a essa pergunta, ainda
assim, gostaria de dizer que a força da alma, à qual pertencem essas
repercussões, é uma espécie de imaginação que constitui o impulso
original para a expressão do pensamento por meio de sons. As línguas
que dispõem de designação completa de formas devem a própria
existência à atividade aumentada dessa força da alma e, por sua vez,
repercutem mais fortemente nessa força. Para o chinês vale exatamente
o oposto.
A partir dessas repercussões, a influência benéfica de uma
estrutura rica em formas gramaticais estende-se a todo o sistema
do pensamento. Essas formas aparentemente insignificantes, ao
fornecerem os meios, permitem que as orações se expandam e se
entrelacem e que o espírito seja mais dinâmico. O pensamento, que
na cabeça forma uma unidade ininterrupta, encontra em uma língua
que liga todas as palavras de forma orgânica a mesma continuidade.
Uma estrutura de gramática formalmente completa combina duas
vantagens: dar ao pensamento maior abrangência, mais refinamento
e cor, e representá-lo com mais exatidão e fidelidade. Além disso,
ela acompanha o pensamento com o posicionamento simétrico das
formas da língua e das combinações fonéticas harmônicas, ambas
correspondentes aos pensamentos e às emoções da alma. Uma
gramática que não aproveita as muitas vantagens da língua não atinge
essas qualidades, pelo menos não em um mesmo nível.
Conforme o que foi retratado aqui, pensamento e linguagem
parecem estar inseparavelmente imbricados. Quando se contrapõem os
dois, o pensamento, dissociado da roupagem da língua, oferece maior
liberdade e pureza, porque a expressão necessariamente restringe e
modifica. Mesmo que seja impossível pensar sem a linguagem, o ser
humano distingue o pensamento da palavra e frequentemente vai além
dos limites da língua que lhe é dada a cada momento, sendo desse fato
que se origina toda a expansão da língua. Quando a dupla atividade do
espírito, que leva o ser humano ao pensamento e à palavra, está desigual,
um lado enfraquece ao passo que o outro aumenta. Com base nesse fato,
procuro a razão mais profunda da diferença entre a língua chinesa e a
mais perfeita das línguas indo-germânicas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 211


Indem die erstere dem Verstande eine viel grössere Arbeit
zumuthet, als irgend eine andere von ihm fordert, ihn bloss auf die
Verhältnisse der Begriffe hinweist, ihn fast jeder maschinenmässigen
Hülfe zum Verständniss beraubt, und selbst die Construction der Worte
fast nur auf die Gedankenfolge und die gegenseitige Bestimmbarkeit
der Begriffe gründet, weckt und unterhält sie die auf das blosse Denken
gerichtete Geistesthätigkeit, und entfernt von Allem, was nur dem
Ausdruck und der Sprache angehört. Diesen Vorzug können Sprachen,
deren Grundsatz es ist,in der Construction Alles zu verbinden, und bei
denen die grammatische Form der Wörter nicht ohne bedeutenden
Einfluss auf die Darstellung der Gedanken ist, nur in einem gewissen
Grade und in einzelnen Wortstellungen erreichen.
Dieses Vorzuges ungeachtet, steht aber, meiner innersten
Ueberzeugung nach, das Chinesische den Sprachen, mit welchen es hier
verglichen wird, bei weitem nach.
Der Gedanke erhält einmal bloss durch die Sprache Deutlichkeit
und Bestimmtheit, und diese Wirkung ist nur vollständig, wenn alles
auf ihn Einwirkende auch in der Sprache einen analogen Ausdruck
antrifft. Jede Sprache, die darin zu ergänzen übriglässt, befindet sich in
dieser Rücksicht im Nachtheil.
Je mehr der Gedanke nach allen Beziehungen hin individualisirt
ist, desto mehr begeistert und bewegt er; und je mehr alle Seelenkräfte
bei seinem Ausdruck mitwirken, desto mehr wird er individualisirt. Das
letztere ist aber offenbar mehr bei den, der Chinesischen in ihrem Bau
entgegengesetzten Sprachen der Fall. Der Chinesische Styl fesselt durch
Wirkungen, die Erstaunen erregen, die Sprachen eines entgegengesetzten
Baues flössen uns Bewunderung durch eine Vollkommenheit ein, die
wir gerade für diejenige erkennen, nach welcher die Sprache zu streben
bestimmt ist.
Die Möglichkeit der Chinesischen Grammatik beruht einzig
auf der Kürze und Einfachheit ihrer Redesätze. Nun giebt es in dieser
Einfachheit einen Punkt, auf welchem die blosse Unterscheidung des
Subjects, der Copula und des Praedikats nicht mehr ausreicht, wo diese
noch bloss logischen Begriffe durch eigentlich grammatische, aus der
eigenthümlichen Natur der Sprachegeschöpfte, näher bestimmt werden
müssen.

212 • Wilhelm von Humboldt


A primeira exige do intelecto um trabalho mais intenso do que
qualquer outra exigiria; indica-lhe apenas a relação entre os conceitos,
priva-o de qualquer ajuda mecânica para a compreensão e estabelece
até mesmo a construção das palavras meramente nas sequências
do pensamento e na determinação mútua dos conceitos, desperta e
mantém essa atividade do espírito direcionada ao puro pensamento,
além de se distanciar de tudo o que pertence apenas à expressão e à
linguagem. As línguas que têm como princípio a conexão de todos
os elementos em uma construção e nas quais a forma gramatical das
palavras influencia significativamente a representação do pensamento,
atingem essa qualidade apenas até um certo grau e em determinadas
combinações de palavras.
Tenho a profunda convicção de que, a despeito dessa qualidade, o
chinês fica muito aquém das línguas com as quais foi comparado.
O pensamento recebe clareza e precisão por meio da língua, e esse
efeito se completa somente quando tudo o que lhe influencia também
encontra uma expressão analógica na língua. Qualquer língua que deixe
a desejar nesse sentido se encontra em desvantagem.
Quanto mais o pensamento é individualizado em todos os aspectos,
mais ele entusiasma e comove, e quanto mais todas as forças da alma
atuam em sua expressão, mais individualizado ele fica. Esta última
possibilidade se encontra mais nas línguas que têm estrutura oposta à
do chinês. O estilo chinês fascina pelos efeitos que provocam surpresa.
As línguas com estruturas opostas despertam admiração devido a uma
perfeição que pensamos ser aquela que a língua inevitavelmente almeja.
O potencial da gramática chinesa tem como fundamento apenas
a brevidade e a simplicidade das orações. No entanto, existe nessa
simplicidade um momento em que a mera distinção do sujeito, da
cópula e do predicado não é suficiente e esses conceitos essencialmente
lógicos devem ser mais precisamente definidos por meio de conceitos
gramaticais derivados da natureza particular da língua. A meu ver, a
língua chinesa se mantém nessa tênue linha limítrofe.

Ensaios sobre língua e linguagem • 213


Auf dieser schmalen Gränzlinie scheint sich mir die Chinesische
Sprache zu halten. Sie überschreitet sie zwar unläugbar, und darin besieht
die Kunst ihrer Grammatik, allein der Umfang und der Zuschnitt ihrer
Perioden ist immer dem Mass ihrer Mittel angepasst. Sie bleibt also
stehen, wo es den Sprachen gegeben ist, ihre Bahn weiter zu verfolgen.

214 • Wilhelm von Humboldt


Ela, sem dúvida, transgride essa linha, mas sempre ajusta a
abrangência e a organização dos períodos aos meios disponíveis, e é
isso que constitui a arte da gramática chinesa. Ela permanece parada
enquanto as outras línguas têm o potencial de avançar em sua própria
trajetória.

Ensaios sobre língua e linguagem • 215


— Comentário —

O sinologista francês Jean Pierre Abel-Rémusat, de cujo Eléments


de la grammaire chinoise (Paris, 1822) Humboldt provavelmente tomou
conhecimento apenas após o seu discurso sobre as formas gramaticais (ainda
que ele o cite na versão impressa), tinha resenhado Ueber das Entstehen der
grammatischen Formen und ihren Einfluss auf die Ideenentwicklung em 1824.
Humboldt respondeu com a carta Lettre à M. Abel-Rémusat, sur la nature
des formes grammaticales en général et sur le genie de la langue chinoise
en particulier. Esta foi publicada parcialmente em 1826, e em uma versão
completa em Paris, em 1827. Em março de 1826, no entanto, Humboldt
apresentou uma versão alemã de sua carta para a Academia, que em forma
abreviada contém o conteúdo dos primeiros três quartos da carta.
Do mesmo modo que no Surgimento das formas gramaticais, a
importância das reflexões de Humboldt sobre o chinês não reside na
classificação das línguas, apesar de à primeira vista parecer ser o objetivo
da palestra. Sua contribuição é importante porque nela Humboldt explicita
sua visão de monografia de uma língua, ou seja, fica evidente a perspectiva
estritamente estrutural do que Humboldt entende por descrição de uma
língua, que deve conceituar a gramática interna. Aqui se aprende bastante
sobre a estrutura do chinês antigo, mesmo que, do ponto de vista atual, haja
algumas imprecisões.
O principal significado do tratado sobre o chinês, no entanto, encontra-
se num nível mais geral, ou seja, no nível da filosofia da língua, ou melhor,
no nível semiótico. Trata-se da oposição entre o signo arbitrário e a
linguagem, porque o chinês, de um lado, e as línguas indoeuropeias, de outro,
representam as duas possibilidades de se tratar uma língua: como signo ou
como linguagem. Como a linguagem é “dupla”, conectando sinteticamente
pensamento e som, é possível separar essas duas partes: pode-se enfatizar
o pensamento e considerar o som de certo modo indiferente e, assim, não
manter a síntese de forma consistente, ou entender a linguagem como a
unidade sintética de pensamento e som, que é a concepção de Humboldt. Ele
considera que o tratamento não sintético da linguagem como signo, o que
caracteriza também as teorias tradicionais europeias, está sendo usado para
o chinês, até mesmo para a gramática. A ênfase no pensamento também se

216 • Wilhelm von Humboldt


torna evidente na escrita ideográfica chinesa, que, em princípio (o princípio
não é plenamente realizado), ultrapassa o som e, portanto, a conexão íntima
entre som e significado na língua (ver Sobre a escrita alfabética). Nem a língua
chinesa nem a teoria tradicional estão erradas, pois a língua é também signo
e pode ser tratada como tal. Mas é um tratamento completamente unilateral
e não apropriado à específica estrutura semiótica da língua. O que Humboldt
mostra é a “qualidade linguística” superior das línguas indo-europeias,
quando comparadas com o chinês.
A partir de 1916, quando Ferdinand de Saussure reavivou a tradicional
concepção aristotélica de arbitrariedade da língua – na realidade, ele
enfatizou acima de tudo a síntese humboldtiana entre som e pensamento –,
a discussão sobre a arbitrariedade do signo linguístico nunca cessou. Para
esta discussão, as ideias pouco conhecidas de Humboldt no que diz respeito
à estrutura semiótica da língua representam ainda contribuições importantes
a serem descobertas.

———

Ensaios sobre língua e linguagem • 217


— Notas —

1
O termo moderno é morfológico.
2
Isso mostra novamente que Humboldt está sendo guiado pelo princípio da gramáti-
ca pura, além das diferenças históricas, também advogadas por Bernhardi, a quem
Humboldt se refere com frequência. O conjunto das leis internas que determinam
uma língua é denominado “Sprachsinn”, ‘sentido da linguagem’ (ver Sobre o dual,
notas 11 e 16).
3
Essa concepção de língua, que há algumas décadas teria sido completamente inacei-
tável, tornou-se admissível depois do artigo de Roman Jakobson sobre a iconicidade
da língua, de 1964, fortemente influenciado pela semiótica peirciana.
4
Essa síntese, que junto com a articulação representa a essência da língua, manifes-
ta-se na frase na função gramatical do verbo: “Todas as outras palavras são quase
matéria morta que precisa ser relacionada, apenas o verbo é o núcleo que contém
e semeia a vida” (Ueber das vergleichende Sprachstudium, ([1820] 1960-1981), § 5;
tradução nossa). O verbo torna a enunciação lógica (Roma = arder em chamas)
numa representação com agentes dinâmicos (Roma está ardendo em chamas). Essa
ideia de Humboldt foi retomada pela gramática de valências, que coloca o verbo,
que tem o potencial de ligar os outros actantes, no centro da frase (TESNIÈRE,
1965).
5
Ver Bernhardi ([1805] 1990, p. 1293): “Masculino e feminino é uma distinção
baseada na própria natureza viva e se estende a todas as suas partes. Por isso até o
homem inexperiente compreende os conceitos com facilidade e pode aplicá-los à
própria substância” (tradução nossa).
6
A abreviação T. se refere à edição do Tchoung-Young (Chung-Yung), um dos quatro
livros clássicos confucianos, que Abel-Rémusat publicou em 1818, em Paris.
7
A abreviação Gr. se refere à gramática chinesa de Abel-Rémusat, Eléments de la
grammaire chinoise, Paris, 1822.
8
Ver Harbsmeier (1979, p. 265-266), cujo esboço do chinês clássico representa um
contraste crítico às considerações de Humboldt, mas no fundo afirma as observa-
ções deste.
9
Abel-Rémusat, Recherches sur les langues tartares, Paris, 1820.
10
O termo indo-germânico não é uma invenção de racistas alemães, como se lê com
frequência, mas primeiramente uma designação geográfica que se refere ao espaço
entre a Índia e a Germânia. Esse termo foi cunhado pelo geógrafo Conrad Malte-
Brun em Précis de géographie universelle, vol. II, Paris (1810, p. 577). De modo geral,
Humboldt prefere o termo “sânscrito” (ver Sobre o Dual).
11
Em contraposição a Sobre o surgimento das formas gramaticais, encontramos aqui
uma avaliação nova e mais positiva da língua chinesa. Isto se deve parcialmente aos
intensos estudos dessa língua por Humboldt, e parcialmente ao abandono de um
questionamento genético (“Surgimento“) em prol de um questionamento estrutu-
ralista, no qual prevalecem considerações fundamentalmente semióticas. Também

218 • Wilhelm von Humboldt


as línguas indo-europeias se aproximam, em última instância, dessa qualidade de
signo que a língua chinesa atingiu (ver Poesia e Prosa). As três categorias de línguas
se originam, então, de uma maior aproximação a um dos dois polos, de signo ou de
língua, ou de uma posição indeterminada entre esses polos.

Ensaios sobre língua e linguagem • 219


Ueber den Dualis*

Ex quo intelligimus, quantum


dualis numerus, una et simplice
compage solidatus, ad rerum
valeat perfectionem.

Lactantius de opificio dei

Unter den mannigfaltigen Wegen, welche das vergleichende


Sprachstudium einzuschlagen hat, um die Aufgabe zu lösen,
wie sich die allgemeine menschliche Sprache in den besondren
Sprachen der verschiedenen Nationen offenbart? ist einer der am
richtigsten zum Ziele führenden unstreitig der, die Betrachtung eines
einzelnen Sprachtheils durch alle bekannte Sprachen des Erdbodens
hindurch zu verfolgen. Es kann dies entweder in Hinsicht auf die
Begriffsbezeichnung mit einzelnen Wörtern oder Wörterclassen,
oder in Hinsicht auf die Redefügung mit einer grammatischen Form
geschehen. Beides ist auch vielfältig versucht worden, doch hat
man gewöhnlich nur zufällig eine gewisse Anzahl von Sprachen an
einander gereiht, und das hier durchaus nicht gleichgültige Streben
nach Vollständigkeit unberücksichtigt gelassen.
Uebersieht man die Art, wie eine grammatische Form, da ich,
meinem gegenwärtigen Zwecke gemäss, bei diesen stehen bleibe,
in den verschiedenen Sprachen behandelt, hervorgehoben oder
unbeachtet gelassen, eigenthümlich gemodelt, in Verbindung mit
andren gebracht, geradezu oder durch Umwege ausgedruckt wird,
so wirft diese Nebeneinanderstellung sehr oft ein ganz neues Licht
zugleich auf die Natur dieser Form, und die Beschaffenheit der
einzelnen, in Betrachtung gezogenen Sprachen. Es lässt sich alsdann der
besondre Charakter, welchen eine solche Form in den verschiedenen
Sprachen annimmt, mit demjenigen vergleichen, welchen die übrigen
grammatischen Formen in den nämlichen Sprachen an sich tragen,

* Gelesen an der Akademie der Wissenschaft am 26. April 1827.

220 • Wilhelm von Humboldt


Sobre o dual*

Ex quo intelligimus, quantum


dualis numerus, una et simplice
compage solidatus, ad rerum
valeat perfectionem.

Lactantius de opificio dei

Entre os variados caminhos que o estudo comparativo das línguas


tem de seguir para resolver a tarefa de mostrar como a linguagem
humana, em geral, se manifesta nas línguas das diferentes nações, o
mais bem-sucedido, sem dúvida, é aquele que equaciona um fenômeno
linguístico isolado em todas as línguas conhecidas do mundo.1 Isso
pode ser feito com relação às designações dos conceitos por palavras
individuais ou por classes de palavras, ou com relação a construções
discursivas por meio de uma forma gramatical. Já houve diversas
tentativas de ambos os procedimentos, mas na maioria dos casos só se
considerou um certo número de línguas, aleatoriamente alinhadas, e se
desconsiderou qualquer aspiração à completude, que não deveria ser
negligenciada em tal pesquisa.
Quando se considera o modo como uma certa forma gramatical
– para meus presentes fins, lidarei somente com elas – está sendo
tratada, ressaltada ou neglicenciada, modelada de maneira singular,
conectada a outras formas e expressa direta ou indiretamente, vê-
se que com muita frequência a comparação entre línguas ilumina, de
um modo inédito, não apenas a natureza dessa forma mas também as
características das línguas analisadas. Pode-se, então, estabelecer uma
comparação entre a qualidade particular que certa forma assume em
diversas línguas e a qualidade que outras formas revelam nessas línguas,

* Texto lido na Academia de Ciências em 26 de abril de 1827.

Ensaios sobre língua e linguagem • 221


und somit der ganze grammatische Charakter dieser letzteren, so wie
ihre grammatische Consequenz, beurtheilen. In Absicht der Form
selbst aber steht nunmehr der von ihr wirklich gemachte Gebrauch
demjenigen gegenüber, der sich aus ihrem blossen Begriff ableiten
lässt, was vor der einseitigen Systemssucht bewahrt, in die man
nothwendig verfällt, wenn man die Gesetze der wirklich vorhandenen
Sprachen nach blossen Begriffen bestimmen will. Gerade dadurch,
dass die hier empfohlne Verfahrungsweise auf möglichst vollständige
Aufsuchung der Thatsachen dringt, hiermit aber die Ableitung aus
blossen Begriffen nothwendig verbinden muss, um Einheit in die
Mannigfaltigkeit zu bringen, und den richtigen Standpunkt zur
Betrachtung und Beurtheilung der einzelnen Verschiedenheiten zu
gewinnen, baut sie der Gefahr vor, welche sonst dem vergleichenden
Sprachstudium gleich verderblich von der einseitigen Einschlagung
des historischen, wie des philosophischen Weges droht. Keiner, der
sich mit diesem Studium beschäftigt, und den Neigung und Talent
vorzugsweise zu einem beider Wege einladen, darf vergessen, dass die
Sprache, aus der Tiefe des Geistes, den Gesetzen des Denkens, und
dem Ganzen der menschlichen Organisation hervorgehend, aber in
die Wirklichkeit in vereinzelter Individualität übertretend, und in
einzelne Erscheinungen vertheilt auf sich zurückwirkend, die durch
richtige Methodik geleitete, vereinte Anwendung des reinen Denkens
und der streng geschichtlichen Untersuchung fordert.
Ein zweiter wichtiger Nutzen durch alle Sprachen durchgeführter
Beschreibungen grammatischer Formen liegt in der Vergleichung der
verschiedenen Behandlung derselben mit dem Cultur- und selbst dem
Sprachzustande der Nation. Ob ein gewisser Ausbildungsgrad einer
Sprache einen gewissen Culturzustand voraussetzt oder hervorbringt,
ob gewisse Eigenthümlichkeiten Afrikanischer und Amerikanischer
Sprachen nur aus dem den Völkern, die sie reden, im Ganzen
gemeinsamen Zustande mangelnder Civilisation herrühren, oder andre,
erst aufzusuchende Ursachen haben? sind Fragen von der grössesten
Wichtigkeit. Ihre Beantwortung knüpft das vergleichende Sprachstudium
an die philosophische Geschichte des Menschengeschlechts an, und
zeigt demselben einen über dasselbe hinaus liegenden höheren Zweck.

222 • Wilhelm von Humboldt


e com isso pode-se avaliar o caráter gramatical geral, bem como a
consistência gramatical. Na análise, porém, deve-se diferenciar entre
o verdadeiro uso de uma certa forma e aquele que pode ser deduzido
de seu conceito, para evitar cair numa sistematização unilateral, o que
costuma ocorrer quando se quer determinar as leis das línguas que
realmente existem por meio de conceitos abstratos. Uma vantagem
especial do procedimento aqui recomendado é que ele evita o
perigo da unilateralidade, que está sempre pairando nos estudos
comparativos das línguas, seja pelas abordagens exclusivamente
históricas, seja pelas exclusivamente filosóficas, visto que nossa
abordagem exige a mais completa descrição dos fatos, juntamente
com uma ligação aos conceitos abstratos, de modo a conseguir
uniformidade na multiplicidade e obter o ponto de vista certo para
a análise e a avaliação das diversidades particulares. Qualquer pessoa
que trate desses assuntos e que prefira, por vocação ou talento, um dos
caminhos mencionados acima, não pode esquecer que a língua, que
tem sua origem na profundidade do espírito, nas leis do pensamento
e na totalidade da organização humana, mas que se realiza, de fato,
numa individualidade particular e em manifestações singulares que
repercutem nela, exige, conduzida por uma adequada metodologia,
a aplicação combinada do pensamento puro e da rigorosa análise
histórica.2
A segunda vantagem de uma descrição das formas gramaticais em
todas as línguas é a comparação entre os vários modos como essas formas
são tratadas e o estado da cultura e da língua da nação. Se um certo
nível de desenvolvimento de uma língua pressupõe um determinado
estado cultural ou é fruto deste, se certas particularidades das línguas
africanas e americanas resultam apenas da condição comum de falta de
civilização dos povos que as falam, ou se existem outras causas ainda
desconhecidas, tudo isso são questões de suma importância. Responder
a essas perguntas implica associar o estudo comparativo das línguas à
história filosófica da espécie humana, atribuindo àquele uma finalidade
superior.

Ensaios sobre língua e linguagem • 223


Denn das Sprachstudium muss zwar allein um sein selbst willen
bearbeitet werden. Aber es trägt darum doch ebenso wenig als irgend
ein andrer einzelner Theil wissenschaftlicher Untersuchung seinen
letzten Zweck in sich selbst, sondern ordnet sich mit allen andren
dem höchsten und allgemeinen Zweck des Gesammtstrebens des
menschlichen Geistes unter, dem Zweck, dass die Menschheit sich
klar werde über sich selbst und ihr Verhältniss zu allem Sichtbaren
und Unsichtbaren um und über sich.
Ich glaube nicht, dass die oben erwähnten Fragen, auch durch sehr
vollständiges und genaues Sprachstudium, jemals werden vollständig
beantwortet werden können. Die Zeit hat sowohl von den Sprachen,
als den Zuständen der Nationen, zuviel unsrer Kenntniss entzogen, und
die übriggebliebenen Bruchstücke lassen kein entscheidendes Urtheil
zu. Allein schon meine bisherige Erfahrung hat mich vielfältig belehrt,
dass die ununterbrochen auf jene Fragen gerichtete Aufmerksamkeit
sehr schätzbare einzelne Aufklärungen gewährt, und auf jeden Fall
Irrthümern vorbaut, und Vorurtheile zerstört.*

* Herr Schmitthenner (Ursprachlehre. S. 20.) sagt: Ohne nun eine ausführliche Dars-
tellung, dass die Sprachen Amerikas und Afrikas um so unvollkommener und von
einander abweichender seyn müssen, je weniger sich die sie sprechenden Völker aus
der Dummheit des Naturlebens zu dem Lichte der Vernunft, und aus der Zerstreu-
ung der Rohheit zu der Einheit der Bildung erhoben haben, der Mühe werth zu hal-
ten, gehen wir u.s.f. Ich weiss nicht, ob viele einen so verwerfenden und die Unter-
suchung von vorn herein abschneidenden Ausspruch zu unterschreiben geneigt seyn
möchten. Ich kann nicht anders, als eine ganz entgegengesetzte Meinung hegen. Ich
will mich hier nicht auf den merkwürdigen Bau mehrerer Afrikanischen und Ame-
rikanischen Sprachen berufen. Es mag nicht jeder Sprachforscher Neigung zu einem
solchen Studium in sich fühlen, doch wird gewiss jeder, der sich auch nur oberflächli-
ch mit denselben beschäftigt hat, zugestehen, dass ihre Kenntniss von der höchsten
Wichtigkeit für das Sprachstudium ist. Allein der Culturzustand jener Völkerschaften,
namentlich der Amerikanischen, ist, und gerade in Beziehung auf den Gedankenaus-
druck, gar nicht durchgängig so, wie er in jener Stelle geschildert wird. Von den Nord-
-Amerikanischen Nationen geben die Berichte über ihre Volksversammlungen und die
mitgetheilten Reden einiger ihrer Häuptlinge einen ganz andren Begriff. Viele Stellen
derselben sind von wahrhaft rührender Beredsamkeit, und stehen auch diese Stäm-
me mit den Einwohnern der Vereinigten Staaten in enger Verbindung, so ist doch das
Gepräge der reinen und ursprünglichen Eigenthümlichkeit in ihren Ausdrücken un-
verkennbar. Sie sträuben sich allerdings, die Freiheit ihrer Wälder und Gebirge mit der
Arbeit des Ackerbaus und der Beschränkung in Häuser und Dörfer zu vertauschen,
allein sie bewahren in ihrem herumstreifenden Leben eine einfache, wahrheitlieben-
de, oft grossartige und edelmüthige Gesinnung. Man sehe Morse’s report to the Secre-
tary of war of the united states on Indian Affairs. p. 71. App. p.5. 21. 53. 121. 141. 242.

224 • Wilhelm von Humboldt


Com certeza, o estudo das línguas deve ser realizado por si próprio,
mas ele não constitui um fim em si mesmo e, como em qualquer outra
parte das pesquisas científicas, está subordinado ao objetivo mais alto
e geral do esforço total do espírito humano, a de que a humanidade
obtenha clareza sobre si própria e sobre seu relacionamento com tudo
o que é visível e invisível, que está acima e a seu redor.3
Não acredito que existam respostas completas para as questões
acima mencionadas, e até mesmo o estudo das línguas mais completo e
mais rigoroso não conseguiria providenciá-las. O tempo levou consigo
muito de nosso conhecimento, tanto das línguas quanto dos estados das
nações, e os fragmentos remanescentes não permitem uma avaliação
decisiva. Minha própria experiência, contudo, me ensinou de várias
maneiras que direcionar a atenção continuamente a essas questões pode
render explicações valiosas, evitar erros e desfazer preconceitos.*

* Afirma o Sr. Schmitthenner (Ursprachlehre, p. 20): “Se não se considerar que vale a
pena fazer uma exposição detalhada apontando que as línguas da América e da África
devem ser imperfeitas e diferentes umas das outras, menos as nações que as falam se
elevarão da tolice da vida na natureza em direção à luz da razão, e da dispersão bárbara
à unidade da cultura etc.” Não acredito que seriam muitos os que gostariam de assinar
uma declaração tão depreciativa que exclui totalmente qualquer investigação. Não tenho
como não ter uma opinião contrária. Não vou me referir aqui à curiosa construção de
várias línguas africanas e americanas. Nem todos os linguistas se sentem inclinados a tal
pesquisa, mas certamente todos os que já lidaram com essas línguas, mesmo de forma
superficial, admitem que o conhecimento sobre elas é da maior importância para o estu-
do das línguas em geral. Deve-se enfatizar que o estado cultural dessas tribos, especial-
mente das americanas, não é coerente com o descrito por Schmitthenner, sobretudo em
relação à expressão do pensamento. Os relatos sobre as assembleias tribais e os discursos
de alguns dos caciques das nações norte-americanas fornecem imagens completamente
diferentes. Muitos trechos são de uma eloquência verdadeiramente comovente e, mesmo
que essas tribos mantenham um contato próximo com os habitantes dos Estados Unidos,
é inconfundível o caráter de singularidade pura e genuína no modo de se expressar. Cer-
tamente, eles se recusam a trocar a liberdade de suas florestas e montanhas pelo trabalho
na agricultura e pelo confinamento em casas e aldeias, mas preservam em suas vidas
uma atitude simples, veraz, muitas vezes magnífica e nobre. Ver Morse, Report to the Sec-
retary of War of the United States on Indian Affairs: p. 71; App., p. 5, 21, 53, 121, 141, 242.

Ensaios sobre língua e linguagem • 225


Es ist aber hierbei nicht bloss auf den häuslichen und gesellschaftlichen
Zustand der Nationen, sondern ganz vorzüglich auf die Schicksale
zu sehen, welche ihre Sprache erfahren hat, so weit sich dieselben
aus ihrem Baue ergründen lassen, oder geschichtlich bekannt sind.
So hängt z.B. die feine und vollständige grammatische Ausbildung
der jetzt fast zu blossen Volksmundarten gewordenen Lettischen
Sprachen gar nicht mit dem Culturzustande der Völker, die sie reden,
sondern nur mit der treueren Aufbewahrung der Ueberreste einer
ursprünglichen und ehemals hoch ausgebildeten Sprache zusammen.
Endlich dürfte es nicht leicht ein besseres Mittel als die
Betrachtung derselben grammatischen Form in einer grossen Anzahl
von Sprachen geben, um zu einer vollständigeren Beantwortung der
Frage zu gelangen, welcher Grad von Aehnlichkeit des grammatischen
Baues zu Schlüssen auf die Verwandtschaft der Sprachen berechtigt? Es
ist eine eigne Erscheinung, dass das Sprachstudium zu keinem andren
Zwecke so vielfältig benutzt worden ist, ja dass sehr viele noch jetzt den
Nutzen desselben fast nur darauf zu beschränken pflegen4, und dass es
doch bisher noch durchaus an gehörig gesicherten Grundsätzen zur
Beurtheilung der Verwandtschaft der Sprachen und des Grades derselben
fehlt. Meiner Ueberzeugung nach, reicht die bisher gewöhnlich befolgte
Methode wohl hin, sehr nahe mit einander übereinstimmende Sprachen
zu erkennen, so wie, obgleich dies schon viel grössere Behutsamkeit
erfordert, die gänzliche Geschiedenheit andrer auszusprechen.

Die Sprachen von Menschen, die ihrem Ausdruck diese Klarheit, Stärke und
Lebendigkeit zu geben verstehen, können der Aufmerksamkeit der Sprachforscher nicht
unwerth seyn. Von einigen Süd-Amerikanischen Stämmen giebt Vieles Zeugniss, was in
Gilij’s saggio di storia Americana über ihre Sagen und Erzählungen verstreut ist. Wären
aber auch alle heutigen Amerikanischen Eingebornen zu einem Zustand absoluter
Rohheit und dumpfen Naturlebens, wie es gewiss nicht der Fall ist, herabgewürdigt,
so lässt sich doch auf keine Weise behaupten, dass es immer ebenso gewesen sey. Der
blühende Zustand der Mexicanischen und Peruanischen Reichs ist bekannt, und dass
mehrere Völker in Amerika einen höheren Grad der Ausbildung erlangt hatten, zeigen
die Spuren alter Cultur, die man zufällig von den Muiscas und Panos aufgefunden hat.
(A. v. Humboldt. Monumens des peuples de l’Amérique. p. 20. 72-74. 128. 244. 246. 248.
265. 297.) Sollte man es nun nicht der Mühe werth halten, zu untersuchen, ob die uns
gegenwärtig bekannten Amerikanischen Sprachen das Gepräge jener Cultur oder der
heutigen angeblichen Rohheit an sich tragen?

226 • Wilhelm von Humboldt


Nesses estudos, não é suficiente simplesmente levar em consideração
o estado econômico e social das nações, mas é preciso destacar
sobretudo o destino que suas línguas seguiram, na medida em que ele
possa ser deduzido pela estrutura das línguas ou pelos fatos históricos.
A refinada e completa construção gramatical das línguas letãs, por
exemplo, que hoje em dia se tornaram quase dialetos regionais, não
está associada ao estado cultural das nações que as usam, mas à mais
fiel preservação dos remanecentes de uma língua original, altamente
desenvolvida.
Por fim, seria difícil imaginar um método melhor do que a análise
de uma mesma forma gramatical num grande número de línguas,
para se poder responder mais precisamente à pergunta sobre o grau
de semelhança da estrutura gramatical e obter conclusões sobre o
parentesco entre as línguas. É um fenômeno interessante que, por um
lado, o estudo das línguas não tenha sido usado para qualquer outro
fim com mais frequência, que muitos até hoje se limitem à questão do
parentesco4 e que, por outro lado, ainda faltem critérios fundamentados
para a avaliação do parentesco e do grau desse parentesco entre as
línguas. Estou convencido de que o método aplicado até agora é
suficiente para reconhecer línguas convergentes e para determinar a
completa divergência entre as outras, mesmo que isso requeira muito
mais cautela. Todavia, no meio desses dois extremos, justamente
onde uma solução para essa tarefa seria mais necessária, os critérios
me parecem tão instáveis que é impossível aplicá-los com confiança.

As línguas dos povos que sabem se expressar com tanta clareza, força e vivacidade não
podem ser indignas da atenção dos linguistas. Há várias evidências de tribos da América
do Sul dispersas nas lendas e narrativas, como em Saggio di Storia Americana, de Gilij.
Mas, ainda que todos os povos indígenas americanos de hoje estivessem em um estado
de rudeza absoluta e vida natural maçante, o que certamente não é o caso, de qualquer
maneira seria impossível afirmar que tenha sido sempre assim. O estado florescente
dos impérios mexicano e peruano é bem conhecido, e que vários povos na América
tinham atingido um grau mais elevado de educação comprovam os vestígios da cultura
antiga dos Muiscas e Panos, acidentalmente encontrados (A. v. Humboldt, Monumens
des peuples de l’Amérique, p. 20, 72-74, 128, 244, 246, 248, 265, 297). Será que não valeria
a pena o esforço de investigar se as línguas americanas atualmente por nós conhecidas
ostentam o caráter daquelas culturas ou a rudeza atualmente alegada?

Ensaios sobre língua e linguagem • 227


Allein in der Mitte zwischen diesen beiden Aeussersten, also gerade
da, wo die Lösung der Aufgabe am nöthigsten wäre, scheinen mir
die Grundsätze noch dergestalt zu schwanken, dass es unmöglich ist,
sich ihrer Anwendung irgend mit Vertrauen hinzugeben. Nichts wäre
zugleich für die Sprachkunde und die Geschichte so wichtig, als die
Feststellung dieser Grundsätze. Sie ist aber mit grossen Schwierigkeiten
verbunden, und erfordert Vorarbeiten nach mehreren Richtungen
hin. Zuerst müssen noch viel mehr Sprachen, und einige genauer als
bis jetzt geschehen, zergliedert werden. Um auch nur zwei Wörter
mit Erfolg mit einander grammatisch vergleichen zu können, ist es
nothwendig, erst jedes für sich in der Sprache, welcher es angehört,
zur Vergleichung genau vorzubereiten. Solange man bloss, wie jetzt so
oft der Fall ist, der allgemeinen Aehnlichkeit des Klanges folgt, ohne
die Lautgesetze der Sprachen selbst und ihre Analogie aufzusuchen,
läuft man unvermeidlich die doppelte Gefahr, dieselben Wörter für
verschiedne, und verschiedne für dieselben zu erklären, der gröberen,
aber noch immer nicht seltenen Fälle nicht zu gedenken, dass die
verglichenen Wörter nicht in ihrer Grundform aufgenommen, sondern
grammatische Zusätze und Beugungen daran übersehen werden.*
Hierauf muss sich die Untersuchung zu den Veränderungen der
Sprachen im Laufe der Jahrhunderte wenden, um zu erkennen, welche
Eigenthümlichkeiten bloss in diesen ihre Erklärung finden. Nach der
Bearbeitung der einzelnen Sprachen, welche erst einen reinen und
brauchbaren Stoff darbietet, ist die Vergleichung derjenigen, deren
Zusammenhang nun wirklich historisch erwiesen ist, in der genauen
Abstufung ihres Verwandtschaftsgrades nothwendig, um nach diesen
Analogieen die noch unbekannten beurtheilen zu können. Endlich
aber dürfte die hier versuchte Verfolgung einzelner grammatischer
Formen durch alle bekannte Sprachen hindurch grossen Nutzen
gewähren. Denn nur auf diese Weise lässt sich prüfen, wie die in
solchen einzelnen Punkten einander ähnlichen Sprachen sich gegen
einander in andren verhalten, und wie sehr oder wenig tief der
Einfluss einzelner Formen in das Ganze des Sprachbaues eingreift.

* Eine grosse Anzahl eben so sehr nachahmenswerther, als schwer nachzuahmender,


auf genaue und vollständige Zergliederung gegründeter Wortvergleichungen finden
sich in den neuesten Boppischen, Grimmischen und A. W. v. Schlegelschen Schriften.

228 • Wilhelm von Humboldt


Uma determinação clara desses critérios seria, então, de altíssima
importância para o estudo de línguas e para a história, mas ela é, com
certeza, muito difícil e exige trabalhos preliminares em várias áreas.
O primeiro passo é a análise de muito mais línguas, e algumas delas
devem ser pesquisadas mais detalhadamente do que foi feito até agora.
Para se poder comparar apenas duas palavras com êxito, é necessário
primeiro investigar cada uma, com precisão, na língua a que pertence.
Enquanto se seguir apenas a semelhança sonora geral, como se faz
hoje em dia tão frequentemente, sem procurar as leis fonéticas da
própria língua e as analogias, corre-se inevitavelmente o duplo risco
de considerar palavras idênticas como diferentes e as diferentes
como idênticas, isso sem mencionar os casos mais graves, não menos
frequentes, nos quais não se usa a forma básica na comparação porque
os afixos gramaticais e flexionais passaram despercebidos.* O foco
da pesquisa deve se voltar para as mudanças das línguas no decorrer
dos séculos, de modo a se descobrir que particularidades podem ser
explicadas com referência a essas mudanças. Depois da análise de cada
língua, o que vai ter como resultado um material suficientemente puro e
útil, precisa-se de uma comparação entre as línguas cuja conexão esteja
historicamente confirmada, com uma gradação exata do parentesco,
para que se possa avaliar as línguas desconhecidas com base nessas
analogias. Finalmente, pode-se afirmar que a tentativa de pesquisar
formas gramaticais individuais em todas as línguas conhecidas poderia
proporcionar grandes benefícios, porque apenas dessa maneira
se pode examinar como as línguas que revelam semelhanças em
alguns momentos contrastam em outros e até que ponto a influência
dessas formas atinge a construção gramatical como um todo.

* Um grande número de comparações de palavras baseadas em decomposições preci-


sas e completas – comparações que valem a pena ser imitadas, mas que são ao mesmo
tempo difíceis de imitar – encontra-se nos últimos escritos de Bopp, Grimm e A. W. v.
Schlegel.

Ensaios sobre língua e linguagem • 229


Dass ferner, ausser diesen, die Sprachen angehenden Vorarbeiten,
ganz vorzüglich auch das aus der Geschichte zu schöpfende Studium
der Art erforderlich ist, wie die Nationen sich verzweigen, vermischen
und verbinden, versteht sich von selbst.* Nur durch die Verbindung
dieser vielfachen Untersuchungen wird es möglich seyn, Grundsätze
aufzustellen, um das in den Sprachen wirklich geschichtlich aus
der einen in die andre Uebergegangene zu erkennen. Jedes weniger
gründliche und sorgfältige Verfahren lässt immer die Gefahr übrig,
das wirklich der Verwandtschaft Angehörende mit den durch die
Zeit bewirkten Umwandlungen oder mit demjenigen zu vermischen,
was, unabhängig von einander, bloss aus ähnlichen Ursachen an
verschiedenen Orten und in verschiedenen Zeiten in ganz von
einander getrennten Sprachen ähnlich entsteht. Es folgt schon aus
dem hier Gesagten von selbst, dass bei jeder solchen Untersuchung
das grammatische Studium die Grundlage ausmachen muss. Es leistet
dabei einen doppelten Nutzen, einen mittelbaren, indem es die Wörter
zur Vergleichung vorbereitet, und einen unmittelbaren, indem es die
Uebereinstimmung oder Verschiedenheit des grammatischen Baues
prüft. Aus der letzteren Arbeit allein ergiebt sich mit Bestimmtheit,
was durch blosse Wörtervergleichungen nie gleich klar wird, ob die
verglichenen Sprachen wirklich Eines Stammes sind, oder ob sie
bloss Wörter mit einander ausgetauscht haben. Man erlangt daher
nur auf diesem Wege einen bestimmten Begriff von derjenigen
besondren Völkertrennung und Verbindung, welcher bestimmte
Verwandtschaftsgrade der Mundarten entsprechen. Doch muss man
bei allen diesen Untersuchungen den Begriff der Verwandtschaft nur
als geschichtlichen Zusammenhang nehmen, nicht aber etwa auf den
buchstäblichen Sinn des Wortes zu viel Gewicht legen. Dies letztere
führt, aus Gründen, die es hier zu weitläufig seyn würde zu erörtern,
in mehrfache Irrthümer.**

* Wie vortrefflich historische Untersuchungen dieser Art die Sprachenkunde aufzuhel-


len im Stande sind, beweisen vorzüglich Klaproth’s Tableaux historiques de l’Asie.
** Hierauf hat schon Klaproth (Asia Polyglotta.S.43.) sehr richtig aufmerksam gemacht.

230 • Wilhelm von Humboldt


Não é necessário ressaltar que, além dos trabalhos preliminares que
concernem às línguas, é imprescindível o estudo histórico no que diz
respeito às ramificações, miscigenações e vínculos entre os povos.*
Apenas por meio da conexão entre essas pesquisas variadas será
possível estabelecer princípios para descobrir o que foi historicamente
transferido de uma língua para outra. Qualquer outro procedimento
menos profundo e minucioso sempre corre o risco de confundir
fenômenos genuinamente genéticos com aqueles que são meramente
diacrônicos ou com aqueles que se originam independentemente, de
forma similar e em condições semelhantes, mas em lugares e tempos
diferentes, em línguas distantes. Do que foi dito aqui resulta quase
automaticamente que os estudos da gramática devem ser o fundamento
para essas investigações. Eles têm dupla utilidade: uma indireta, que
seria a investigação das palavras para a comparação, e uma direta, o
exame da congruência ou diferença da construção gramatical. Somente
desta última resulta, com certeza, o que não pode ser determinado pela
simples comparação de palavras, ou seja, se as línguas comparadas são
realmente da mesma família ou se apenas permutaram certas palavras
entre si. Apenas assim se consegue um conceito claro dos isolamentos
e contatos entre os povos, aos quais correspondem certos graus de
parentesco dos dialetos. Em todas essas pesquisas, todavia, deve-se
interpretar o conceito de parentesco no sentido de conexão histórica
e não dar excessiva ênfase a seu significado literal,5 o que levaria a
múltiplos erros, por motivos demasiado abrangentes para serem
discutidos aqui.**

* Os Tableaux Historiques de l‘Asie, de Klaproth, provam de modo excepcional como


são excelentes as pesquisas históricas desse tipo para desvelar os estudos de linguagem.
** Com razão, Klaproth já chamou a devida atenção para esse fato (Asia Polyglotta, p.
43).

Ensaios sobre língua e linguagem • 231


Es scheint mir hiermit, wie mit so vielen andren Punkten zu
stehen, dass man sich nemlich noch lange Zeit hindurch wird auf
einzelne Untersuchungen beschränken müssen, ehe es möglich seyn
wird, etwas Allgemeines festzustellen. Indess ist allerdings auch schon
jetzt, nur in wohl bestimmten Schranken, Allgemeines nothwendig,
nemlich einmal in demjenigen Theile, den das Sprachstudium
allerdings auch besitzt, der allein aus Ideen geschöpft werden kann, und
dann, weil es nothwendig ist, von Zeit zu Zeit zu übersehen, wie weit
man, nach dem gegenwärtigen Zustande der einzelnen Untersuchung,
in dem Anbau des Ganzen der Wissenschaft vorgeschritten ist. Nur
zwei Dinge dürfen nie und auf keine Weise zugelassen werden,
die Herleitung aus Begriffen in ein ihr nicht angehörendes Gebiet
hinüberzuführen, und allgemeine Folgerungen aus unvollständiger
Beobachtung zu ziehen.
Wenn die vollständige Beschreibung einzelner grammatischer
Formen den hier geschilderten verschiedenartigen Nutzen gewähren
kann, so folgt auch von selbst daraus, dass dieselbe nach eben diesen
verschiedenen Gesichtspunkten hin unternommen werden muss. Schon
darum glaubte ich mir diese einleitenden Betrachtungen erlauben zu
müssen, die sonst wohl hätten als eine Abschweifung von meinem
Gegenstande erscheinen können.
Dass meine Wahl bei dem gegenwärtigen Versuch gerade auf
den Dualis gefallen ist, würde, wenn es einer Rechtfertigung bedürfte,
dieselbe schon darin finden, dass unter allen grammatischen Formen
sich diese vielleicht am füglichsten von dem übrigen grammatischen
Bau, als minder tief in ihn eingreifend, aussondern lässt. Dies und dass
er sich nicht in einer zu grossen Anzahl von Sprachen findet, macht
seine Behandlung in der hier befolgten Methode leichter. Denn obgleich,
meiner Ueberzeugung nach, die Beschreibung einzelner grammatischer
Formen an allen, ohne Ausnahme, versucht werden kann, so sind einige,
wie z. B. das Pronomen und das Verbum, das letztere auch in seinem
allgemeinsten Begriff, so in den ganzen grammatischen Bau verwachsen,
dass ihre Schilderung gewissermassen die der ganzen Grammatik selbst
ist. Hierdurch vermehrt sich natürlich die Schwierigkeit.

232 • Wilhelm von Humboldt


Quanto a esse aspecto e a muitos outros, acredito que teremos
de nos satisfazer por muito tempo com estudos individuais antes que
seja possível estabelecer algo geral. No entanto, também agora, faz-
se necessária uma abordagem geral dentro de certos limites, mais
especificamente, na área que é parte integrante dos estudos linguísticos
e que só pode ser criada por ideias. De vez em quando se precisa de
uma visão geral do progresso da construção de nossa ciência por meio
da avaliação dos atuais estudos particulares. Duas coisas apenas nunca
devem ser admitidas: aplicar a dedução de conceitos a uma área à qual
eles não pertencem e fazer inferências de observações incompletas. A
descrição completa de formas gramaticais isoladas pode ter múltipla
utilidade, o que exige, consequentemente, que essas análises sejam
feitas nessas diversas perspectivas. Por isso me permiti apresentar essas
observações introdutórias, que, de outra maneira, poderiam ser vistas
como uma digressão do meu tópico.
A escolha do dual para o presente ensaio justifica-se, caso
precisasse de uma justificativa, porque ele, dentre todas as outras
formas gramaticais, pode ser mais apropriadamente destacado da
construção gramatical em geral, pois tem um efeito menos profundo
nela. Esse fator, além de o dual não ser encontrado em muitas línguas,
facilita seu tratamento com os métodos aqui seguidos. Apesar de
ter a opinião de que a descrição de formas gramaticais específicas é
possível com todas elas, sem exceção, algumas como, por exemplo,
o pronome ou o verbo, e este último até em seu conceito mais geral,
estão tão fortemente imbricadas com toda a construção gramatical
que a descrição delas resultaria numa descrição da gramática inteira.
Isso, claramente, aumenta a dificuldade.
Para a escolha do dual contribui também o fato de que a
existência dessa forma gramatical peculiar pode ser explicada tanto
pelo sentimento natural do homem pouco cultivado quanto pelo fino
sentido da linguagem mais sofisticadamente desenvolvido. Na verdade,
encontra-se essa forma, por um lado, em nações pouco desenvolvidas
como a Groenlândia, a Nova Zelândia etc., e, por outro, no dialeto ático,
o mais cuidadosamente elaborado, que a manteve.

Ensaios sobre língua e linguagem • 233


Zu der Wahl des Dualis ladet aber auch ausserdem noch ein, dass
das Daseyn dieser merkwürdigen Sprachform sich ebensowohl aus dem
natürlichen Gefühl des uncultivirten Menschen, als aus dem feinen
Sprachsinn des höchst gebildeten erklären lässt. Wirklich findet sie
sich auf der einen Seite bei uncultivirten Nationen, den Grönländern,
Neu-Seeländern u.s.f., da auf der andren im Griechischen gerade der
am sorgfältigsten bearbeitete Dialekt, der Attische, sie beibehalten hat.
Wenn man mehrere Sprachen in Rücksicht auf dieselbe grammatische
Form mit einander vergleicht, so muss man, glaube ich, die Formen auf
der niedrigsten Stufe der grammatischen Abtheilung dazu auswählen,
ohne ängstlich zu besorgen, dadurch das eng Zusammengehörende
von einander zu reissen. Man umfasst auf diese Weise einen kleineren
Umfang, und kann besser in das ganz Einzelne eingehen. Ich habe daher
den Dualis, nicht den Numerus überhaupt gewählt, ob ich gleich auf
den mit dem Dualis so eng zusammenhangenden Pluralis immer werde
zugleich Rücksicht nehmen müssen. Dennoch wird der Pluralis immer
eine eigne Ausführung erfordern.

Erster Abschnitt
Von der Natur des Dualis im Allgemeinen

Ich halte es für zweckmässig, zuerst den räumlichen Umfang


anzugeben, in welchem der Dualis in den verschiedenen Sprachgebieten
des Erdbodens angetroffen wird.*
Die Geographie fordert bei der Anwendung auf verschiedne
Gegenstände verschiedne Abtheilungen, und in der Sprachenkunde
lassen sich Asien, Europa und Nord-Afrika nicht füglich von einander
trennen.
Nehmen wir nun diesen Theil der alten Welt zusammen, so finden
wir den Dualis hauptsächlich an drei Punkten, von deren zweien er sich
weit und nach verschiedenen Richtungen hin ausgebreitet hat:
in den ursprünglichen Sitzen der Semitischen Sprachen,
in Indien,

* Es liegt in der Natur der Sache, dass die hier versuchte Aufzählung der Sprachen,
welche den Dualis besitzen, nicht vollständig seyn kann. Es schien mir aber dennoch
nothwendig sie, als eine durch weitere Forschungen zu ergänzende hier mitzutheilen.

234 • Wilhelm von Humboldt


Quando se comparam várias línguas em relação à mesma forma
gramatical, deve-se, acredito eu, escolher as formas que se encontram
no nível mais baixo da organização gramatical sem ter medo de separar
o que está estreitamente conectado. Desse modo, abrangendo uma área
menor, é possível concentrar-se bem mais nos detalhes específicos. Por
isso eu escolhi o dualis, e não o numerus em geral, mas sempre vou ter
que levar em consideração o pluralis, por causa da ligação estreita entre
essas duas formas. Mesmo assim, o pluralis sempre vai requerer uma
análise própria.

Primeira seção6
Da natureza do dual em geral

Acredito ser oportuno especificar primeiro a extensão espacial na


qual se encontra o dual nas diferentes áreas linguísticas da Terra.*
A geografia exige distinções diferentes nas diferentes áreas, e no
estudo de línguas não se pode separar nitidamente Ásia, Europa e África
do Norte.
Considerando esta parte do Velho Mundo como uma unidade,
encontramos o dual predominantemente em três pontos, e a partir de
dois deles ele se estendeu por direções diferentes e longas distâncias:
(i) nas localizações originais das línguas semíticas;
(ii) na Índia;

* É da natureza da questão que a presente tentativa de enumeração das línguas que


possuem o dual não possa ser completa. Contudo, achei necessário apresentá-la aqui,
levando em consideração que deve ser complementada por futuras pesquisas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 235


in dem Sprachstamm, der auf der Halbinsel Malacca, in den
Philippinen und den Südseeinseln bisher für den gleichen gehalten wird.
In den Semitischen Sprachen herrscht der Dualis vorzüglich in
der Arabischen und hat am wenigsten Spuren zurückgelassen in den
Aramäischen. Mit dem Arabischen ist er auf Nord-Afrika übergegangen,
allein in Europa bloss nach Malta gekommen, und nicht einmal
mit den aus ihm entnommenen Wörtern in die Türkische Sprache
eingedrungen.*
Das Sanskrit hat den Dualis zunächst, doch sehr wenig, dem Pali,
und gar nicht dem Prâkrit mitgetheilt; aus dem Sanskrit aber, oder
vielmehr aus der gleichen Quelle mit ihm, hat ihn Europa erhalten
in der Griechischen Sprache, den Germanischen, Slawischen und
der Littauischen, in allen diesen in verschiedener Ausdehnung und
Erhaltung nach Mundarten und Zeiten, wie in der Folge näher bestimmt
werden wird.
Unter den übrigen Europäischen Sprachen finde ich ihn bloss in
der Lappländischen. Es ist aber merkwürdig, dass in der verwandten
Finnischen und Esthnischen, so wie in der Ungarischen, keine Spur
davon angemerkt wird. Der Dualis stammt also in Europa hauptsächlich
aus dem Altindischen.
Man spricht zwar auch von einem Dualis in der Sprache von
Wales und der Nieder-Bretagne, der sogenannten Kymrischen.** Er
besteht jedoch nur darin, dass man den Benennungen der doppelten
Gliedmassen die Zahl zwei, deren Femininum im BasBretonschen in
dieser Verbindung seine Endsylbe verliert, vorsetzt. Da dies beständig
und regelmässig zu geschehen scheint, das Wort dabei im Singular
bleibt, und der Plural eintritt, so wie es auf andre Begriffe (z. B.
Tischfuss) übergetragen wird, so liegt hierin allerdings ein Gefühl
des Dualis, und die Erscheinung verdient hier angemerkt zu werden.

* Nur gewisse einmal hergebrachte Formeln, wie die beiden alten heiligen Städte (Jeru-
salem und Mekka) machen hiervon eine Ausnahme. P. Amédée Jaubert’s Elémens de la
grammaire Turke, p. 19. § 46.
** W. Owen*s dictionary of the Welsh language. Vol. I. p.36. Gramm. Cello- Bretonne par
Legonidec. p. 42. Owen erwähnt nur des Vorsetzens de Zahl zwei, nicht der beiden an-
dren, für die Dualform allein entscheidenden Umstände. Man muss dies aber wohl nur
auf Rechnung seiner Ungenauigkeit, nicht auf die der Sprache setzen.

236 • Wilhelm von Humboldt


(iii) e na família de línguas, ainda considerada a mesma, da
península de Malaca, das Filipinas e das ilhas do Pacífico Sul.
Nas línguas semíticas, o dual destaca-se particularmente no árabe
e deixou pouquíssimos traços na língua aramaica. Com o árabe ele se
estendeu pela África do Norte, mas na Europa só chegou até Malta e
não entrou na língua turca, nem mesmo por via das palavras que o turco
tomou emprestado do árabe.*
O sânscrito influenciou muito pouco o páli, mas não transmitiu
nada ao prácrito. Foi do sânscrito, ou melhor, da mesma fonte que
ele próprio recebeu, que a Europa recebeu o dual na língua grega, nas
línguas eslavas, nas línguas germânicas e na língua lituana, mas de forma
diferente, quanto à extensão e à manutenção, em função dos dialetos e
do período, como vamos especificar mais detalhadamente abaixo.
Entre as outras línguas europeias encontrei o dual apenas no
lapão. Mas é estranho que em línguas aparentadas, como o finlandês e
o estoniano, assim como no húngaro, não haja qualquer vestígio dele.
Na Europa, portanto, o dual provém predominantemente do sânscrito.
Fala-se também de um dual na língua do País de Gales e da
Bretanha, denominada galês**, mas esse dual se restringe à prefixação
das denominações dos membros duplos com o número dois, cuja
forma feminina perde, na língua da Bretanha, a sílaba final. Como
isto parece acontecer constante e regularmente e a palavra fica no
singular mas o verbo no plural, e como também é transferido para
outros conceitos (por exemplo, pé da mesa), há sem dúvida uma
sensação de dual e esse fenômeno merece ser mencionado aqui.

* Constituem exceções apenas certas expressões, como as duas antigas cidades sagradas
(Jerusalém e Meca). Eléments de la Grammaire Turke, p. 19, § 46, de P. Amédée Jaubert.
** Dictionary of the Welsh language, de W. Owen, vol. I, p.36, e Gramm. Cello-Bretonne,
de Legonidec, p.42. Owen menciona apenas a prefixação com o número dois, não os ou-
tros dois fatores decisivos para o dual. No entanto, isso se deve apenas à sua imprecisão,
não à língua.

Ensaios sobre língua e linguagem • 237


Aber in die Zahl der Sprachen, die wirklich einen Dualis besitzen,
lässt sich darum die Kymrische nicht aufnehmen. Neuere, jedoch
noch nicht vollendete Untersuchungen machen es mir übrigens
wahrscheinlich, dass auch diese und die Gaelische Sprache in ihrem
grammatischen Bau mit dem Sanskrit zusammenhängend.
Aehnlich, wie mit Europa, ist es mit Afrika.
Es kennt den Dualis bloss im Arabischen. Das Koptische hat ihn
nicht, und ebensowenig finde ich ihn in einer der zahlreichen übrigen
Afrikanischen Sprachen, so reich auch einige, wie z.B. die Bundische, an
grammatischen Formen sind.
In der alten Welt bleibt also Asien der eigentliche Sitz des Dualis.
In den, aus demselben Stamm, als das Sanskrit, hervorgegangenen
Asiatischen Sprachen kommt der Dualis nicht vor. Nur die Malabarische
soll hiervon eine Ausnahme machen.* Ueberhaupt ist es eine
merkwürdige Erscheinung,
dass der kunstreiche und vollendete Bau der Sanskrit
Grammatik, ausser dem Sanskrit und Pali selbst, gänzlich nach Europa
übergewandert ist, die übrigen, mit dem Sanskrit zusammenhangenden
Asiatischen Sprachen aber viel weniger davon bewahrt haben. Es
erklärt sich dies zwar durch die ebenso scharfsinnige, als neblige
Annahme,** dass die hier gemeinten Eurupaeischen Sprachen
gleich ursprünglich, als das Sanskrit selbst sind, da jene Asiatischen
Sprachen aus dem Sanskrit, und zwar grösstentheils durch
Vermischung mit andren, ihren Ursprung haben, und mithin das
bei solchen Uebergängen und Umwälzungen allgemeine Schicksal
des Unterganges der grammatischen Formen getheilt haben.

* Adelung’s Mithridates. I. 211.


** Bopp’s analytical comparison of the Sanscrit cet. languages in den Annals of Oriental
literature, p. 1 u. f. und in der Recension von Grimms Grammatik in den Jahrbüchern
für wissenschaftliche Kritik. 1827. S.251. u.f.

238 • Wilhelm von Humboldt


Mesmo assim, o galês não pode ser incorporado ao grupo das línguas
que realmente possuem um dual. Aliás, pesquisas mais recentes,
contudo ainda incompletas, sugerem, a meu ver, que a língua galesa
e a língua gaélica se relacionam com o sânscrito no que diz respeito à
construção gramatical.7
A situação na África é semelhante à da Europa.
Encontra-se o dual apenas no árabe. Ele não existe na língua copta
e tampouco o encontrei em nenhuma das numerosas línguas africanas,
apesar da abundância das formas gramaticais que algumas delas têm,
como, por exemplo, a língua bunda.
No Velho Mundo, então, a Ásia permanece a verdadeira sede
do dual.
Nas outras línguas asiáticas que se originaram das mesmas
raízes que o sânscrito, o dual não existe, com a provável exceção do
malabar.* É um fenômeno de todo estranho que a sofisticada e perfeita
construção da gramática do sânscrito, fora o próprio sânscrito e o páli,
tenha transmigrado completamente para a Europa e que as outras
línguas asiáticas ligadas ao sânscrito tenham mantido muito menos
dessa gramática. Isso pode ser explicado pela brilhante bem como
nebulosa hipótese** de que as línguas europeias aqui mencionadas
se originam das mesmas raízes que o sânscrito, enquanto as línguas
asiáticas têm sua origem no sânscrito e em grande parte na mistura
com outras línguas, e por isso as formas gramaticais compartilharam o
destino do perecimento, que é comum nessas transições e convulsões.

* Ver Mithridates, de Adelung, I, p. 211.


** Ver Analytical Comparison of the Sanscrit cet. Languages de Bopp, em Annals of
Oriental Literature, p. 1, e a resenha da gramática de Grimm em Jahrbücher für wissens-
chaftliche Kritik, 1827, p. 251.

Ensaios sobre língua e linguagem • 239


Auch in Europa findet sich der reichere grammatische Bau vorzüglich
nur in abgestorbenen Sprachen, und jene Asiatischen können nicht
mit diesen, sondern müssten eher mit unsren heutigen verglichen
werden. Indess ist auch so der Vorzug in treuerer Aufbewahrung des
ursprünglichen Sprachcharakters sichtbar auf Seiten Europas, und
es giebt kein Beispiel in Asien, dass sich so viel von dem frühesten
Indischen Sprachbau so lebendig und rein im Munde eines ganzen
Volksstamms erhalten habe, wie in Europa bei den Littauern und
Letten. Dagegen ist es sehr auffallend, dass derjenige Theil der
Sanskrit-Grammatik, den man genöthigt ist, den künstlichsten und
schwierigsten, aber für die allgemeinen Sprachzwecke entbehrlichsten
zu nennen, die Buchstabenveränderung, jene empfindliche Reizbarkeit
der Laute, mit welcher fast jeder sich sogleich verändert, wie er in
andre Berührungen tritt, in den Europaeisch-Sanskritischen, auch
den frühesten, Sprachen immer wenig geherrscht zu haben scheint, da
er in mehrere der Asiatisch-Sanskritischen, man weiss nicht, ob man
sagen soll, übergegangen, oder dem ursprünglichen Lautsystem aller
dieser Völker so eigenthümlich gewesen ist, dass er sich, ungeachtet
aller Sprachumwälzungen, niemals verloren hat.
Der Zend-Sprache ist der Dualis nicht fremd. Da aber auch sie
unstreitig den Sanskritischen beizuzählen ist,* so wird hierdurch in dem
oben erwähnten dreifachen Sitz des Dualis in Asien nichts geändert.**
Bleiben wir nun hier noch einen Augenblick stehen, so sehen wir,
dass in Europa, Afrika und dem Festlande von Asien, das Malayische
Sprachgebiet ausgenommen, der Dualis hauptsächlich bloss in todten
Sprachen gefunden wird, lebend nur noch:
in Europa im Maltesisch-Arabischen, im Littauischen,
Lappländischen, und einigen Volksmundarten, bei dem Landvolk in
einigen Districten des Königreichs Polen,*** auf den Faeröer Inseln,

* Dies scheint auch Herrn Bopps Meinung. Annals cet. p. 2.


** Ueber den vergeblichen Versuch, den Dualis in die Armenische Sprache einzuführen,
sehe man Cirbied’s grammaire de la langue Arménienne. p. 37.
*** Nach der mündlichen Versicherung des Herrn Professor Puharska, durch dessen
wissenschaftliche Sendung die Polnische Regierung ein höchst seltnes Beispiel edlen
Eifers für die vaterländische Sprache und das Sprachstudium überhaupt giebt.

240 • Wilhelm von Humboldt


Também na Europa se encontra essa construção mais sofisticada
predominantemente nas línguas mortas, e as línguas asiáticas não
deveriam ser comparadas com elas, mas com as que atualmente ainda
estão em uso. Além disso, constata-se que a virtude da manutenção do
caráter original da língua se encontra visivelmente do lado europeu,
e não há nenhum exemplo na Ásia que revele a mesma fidelidade
da preservação viva e pura da construção do sânscrito mais antigo
numa inteira nação, como na Europa, com os lituanos e os letões. Por
outro lado, é um fenômeno notório que aquela parte da gramática do
sânscrito, considerada a mais sofisticada e mais difícil, mas bastante
prescindível para os fins comuns da língua, ou seja, a mudança dos
sons – essa ultrassensibilidade dos sons que provoca uma mudança
imediata quando eles entram em contato um com o outro – não
tinha muita importância nas línguas sânscrito-europeias nem nas
mais antigas. Mas essa parte da gramática do sânscrito se encontra
em várias línguas sânscrito-asiáticas e não se sabe se foi transferida
ou se era tão inerente ao sistema fonológico dessas nações que foi
preservada apesar de todas as mudanças profundas que aconteceram
nessas línguas.
A língua zenda também conhece o dual, mas, como ela sem dúvida
dever ser agrupada junto com as línguas originadas do sânscrito*, isso
não muda em nada a afirmação de que existe uma tripla sede do dual na
Ásia, conforme já mencionado**. Se nos detivermos aqui por mais um
momento, poderemos constatar que:
(i) na Europa, na África e na parte continental da Ásia,
com exceção da área linguística malásia, o dual encontra-se
predominantemente em línguas mortas. Nas línguas vivas, ele está
presente na Europa apenas no árabe maltês, no lituano, no lapão, em
alguns dialetos nas áreas rurais no Reino da Polônia***, nas Ilhas Féroe,

* Essa também parece ser a opinião do Sr. Bopp; ver Annals cet., p.2.
** No que diz respeito à vã tentativa de introduzir o dual na língua armênia, ver a Gram-
maire de la langue Arménienne, de Cirbied, p. 37.
*** Essas informações foram extraídas de uma comunicação oral do professor Puharska,
através de cuja missão científica o governo polonês dá um exemplo muito raro de dedi-
cação nobre à língua da pátria e aos estudos das línguas em geral.

Ensaios sobre língua e linguagem • 241


in Norwegen, und einigen Gegenden Schwedens und Deutschlands,
doch hier ohne mehr vom Volke verstanden zu werden, bloss im
Gebrauch als Plural;*
in Afrika im Neu-Arabischen;
in dem beschriebenen Theil von Asien in demselben und im
Malabarischen.
Da nur die Sprachen der alten Welt eine Literatur besitzen, so
kann man ihn für die Büchersprache (das Arabische ausgenommen) als
abgestorben ansehen.
Im Osten Asiens (dem dritten Punkt seiner Heimath) findet sich der
Dualis, jedoch nur in schwacher Spur, im Malayischen, mehr entwikkelt
in der Tagalischen und der ihr nahe verwandten Pampangischen Sprache
auf den Philippinen, endlich in sonst, soviel mir bekannt ist, nirgends
vorkommenden Abstufungen, auf NeuSeeland, den Gesellschafts-
und Freundschafts-Inseln. Die Mundarten der übrigen Südsee-Inseln
sind leider noch nicht grammarisch gehörig bekannt. Es ist aber sehr
wahrscheinlich, dass sie namentlich in diesem Punkte alle mit einander
übereinkommen. Die Frage, ob und wie alle diese Sprachen von der
Malayischen bis zur Tahitischen zusammenhangen? werde ich an einem
andren Orte ausführlich untersuchen.8 Hier nehme ich dieselben nur
wegen ihrer ähnlichen Behandlung des Dualis zusammen. Gänzlich
vom Malayischen Sprachstamm verschieden scheinen die Sprachen
der Eingebornen von Neu-Holland und Neu-Süd-Wales. Aber die der
um den See Macquarie herumwohnenden besitzt den Dualis,* und es
ist daher wahrscheinlich, dass er sich auch in andren Australischen
Mundarten findet.
In den Amerikanischen Sprachen erscheint diese Mehrheitsform
selten, aber an verschiedenen Punkten, fast durch die ganze
Länge des ungeheuern Welttheils; nemlich im höchsten Norden
in der Grönländischen Sprache; in sehr beschränkter Form in der
Totonakischen in dem Theile Neu-Spaniens, in dem Veracruz liegt;

* Grimms Gramm. 1. p. 814. nr. 35.


** In diesem Dialect hat der Missionar L. E. Threlkeld (ohne Bemerkung des Jahres)
in Sydney in Neu-Süd-Wales gedruckte, nach den grammatischen Formen geordnete
unter folgendem Titel herausgegeben: Specimens of a dialect of the Aborigines of New
South-Wales being the first attempt to form their speech into a written language. 4. Man
sehe den Dualis p. 8.

242 • Wilhelm von Humboldt


na Noruega, em algumas áreas da Suécia e da Alemanha, mas aqui sem
ser entendido pelo povo e usado meramente como plural*;
(ii) na África, o dual existe no árabe moderno; e
(iii) na parte já descrita da Ásia e no malabar.

Como só as línguas do Velho Mundo têm literatura, pode-se


considerar o dual como extinto na língua escrita, com exceção do árabe.
No leste da Ásia (o terceiro ponto de sua terra natal), nas
Filipinas, encontram-se fracos vestígios no malaio, porém o dual é
mais desenvolvido no tagalo e no pampango, que são proximamente
aparentadas, e, finalmente, até onde eu sei, em gradações que não
ocorrem em outros lugares, na Nova Zelândia, nas Ilhas da Sociedade
e nas Ilhas Amigáveis. Os dialetos das outras ilhas do Pacífico Sul
infelizmente não foram devidamente pesquisados. Mas é muito
provável que neste ponto elas sejam bastante convergentes. Em outra
ocasião, pretendo me deter mais demoradamente na questão sobre
a existência de um vínculo, bem como no grau do vínculo entre
essas línguas, do malaio ao taitiano.8 Faço um agrupamento delas
aqui devido às semelhanças que revelam no tratamento do dual. As
línguas dos nativos da Nova Holanda e da Nova Gales do Sul parecem
totalmente diferentes da base do malaio. Mas a da nação que mora em
volta do Lago Macquarie tem um dual,* e por isso é bem provável que
os outros dialetos australianos também tenham.
Nas línguas americanas, essa forma de pluralidade aparece raras
vezes, em pontos diferentes, mas quase na extensão inteira desse imenso
continente: no extremo norte, na língua da Groenlândia; de forma
bastante restrita, no totonaca, naquela parte da Nova Espanha em que
se encontra Veracruz;

* Ver a gramática de Grimm 1, Nr. 35, p. 814.


** O missionário L. E. Threlkeld publicou em Sidney, na Nova Gales do Sul (sem a indi-
cação do ano), conversas nesse dialeto, organizadas segundo as formas gramaticais, com
o título Specimens of a dialect of the Aborigines of New South-Wales being the first attempt
to form their speech into a written language. Ver o Dual.

Ensaios sobre língua e linguagem • 243


ferner in der Sprache der Chaymas, welche den meisten Völkerstämmen
der Provinz Neu-Andalusien gemeinschaftlich ist; so wie am
rechten Orenoko Ufer, im Süd Osten der Mission der Encamarada,
in der Tamanakischen Sprache; in sehr schwachen Spuren in
der Qquichuischen, der ehemaligen allgemeinen Sprache des
Peruanischen Reichs; endlich sehr ausgebildet in der Araukanischen
Sprache in Chili. Auch die Cherokees im Nord-Westen von Georgien
und den angränzenden Gegenden sollen einen Dualis in ihrer Sprache
besitzen.*
Man sieht aus dieser kurzen Darstellung, dass die Anzahl der
Stamm-Sprachen, welche den Dualis in sich aufgenommen haben,
sehr klein, dagegen das Gebiet, in welchem derselbe, vorzüglich in
älterer Zeit, Geltung gefunden hat, sehr gross ist, weil er gerade den
weitverbreitetsten Sprachstämmen, dem Sanskritischen und dem
Semitischen angehört. Ich muss jedoch hier noch einmal wiederholen,
dass die eben gemachte Aufzählung nicht als vollständig ausgegeben
werden kann. Ohne nur das zu erwähnen, was sich jedem Anspruch
auf Vollständigkeit im vergleichenden Sprachstudium entgegenstellt,
dass uns bei weitem nicht alle Sprachen des Erdbodens bekannt sind,
so giebt es auch von sehr vielen, im Allgemeinen bekannten, noch
keine grammatischen Hülfsmittel. Von andren sind diese nicht so
genau, dass man sich mit Sicherheit darauf verlassen könnte, dass
vorzüglich eine seltner vorkommende Form, wie die des Dualis, nicht
darin könnte unbeachtet geblieben seyn. Endlich ist es sehr schwierig,
und setzt oft eine sehr tiefe Kenntniss einer Sprache voraus, die Spuren
von Formen darin zu entdecken, die sich nicht mehr lebendig in
derselben erhalten haben. Arbeiten der gegenwärtigen Art können
und müssen daher immer Zuwächse erhalten, und ich habe mich im
Vorigen bei verneinenden Behauptungen nur darum bestimmter
ausgedrückt, um beständige einschränkende Einschiebsel zu vermeiden.

* Es beruht dies nur auf einer abgerissenen Nachricht, die Herr Du Ponceau zu der neu-
en Ausgabe von Eliot’s grammar of the Massachusetts Indian language p. XX. giebt, und
in der er sich selbst nur ungewiss ausdrückt.

244 • Wilhelm von Humboldt


na língua dos chaymas, que a maioria das nações da província de Nova
Andaluzia compartilha; na língua tamanaku, à margem direita do rio
Orinoco, no sudeste da missão de Encamarada; em fracos vestígios
no quéchua, a antiga língua geral do império peruano; e, finalmente,
muito desenvolvido, na língua araucana no Chile. Dizem que os
cheroquis, no noroeste da Georgia, também têm dual em sua língua.*
Com base nessa breve exposição, pode-se ver que o número
de línguas-ancestrais que originalmente assumiram o dual é muito
pequeno, no entanto, a área de distribuição deste, particularmente
em épocas anteriores, é muito vasta, porque ele pertence às famílias
línguísticas mais amplamente difundidas, a sânscrita e a semítica.
Devo reiterar, entretanto, que a lista das línguas aqui apresentadas não
pode ser considerada completa. Qualquer pretensão à completude
no estudo comparativo de línguas é refutada pelo fato de que nem
de longe todas as línguas da Terra são conhecidas, além do mais,
existem muitas, geralmente conhecidas, das quais não existem análises
gramaticais. Há outras línguas cujas análises não são tão exatas a
ponto de se poder confiar, com absoluta segurança, que nelas ocorrem
certas formas, especialmente uma forma mais rara como o dual, que
não deveria passar despercebida. Finalmente, é muito difícil, e muitas
vezes requer um conhecimento muito profundo de uma língua,
descobrir vestígios de formas que não estão mais vivas. Portanto,
trabalhos como este podem e devem sempre se expandir. E, em minhas
alegações negativas feitas acima, eu me expressei a esse respeito apenas
para evitar a necessidade de constantes interpolações limitantes.

* Essa informação se baseia apenas num comentário incompleto que o senhor Du Pon-
ceau teceu sobre a nova edição da Grammar of the Massachusetts Indian language, de
Eliot, p. 20, no qual ele se expressa de forma bastante vaga.

Ensaios sobre língua e linguagem • 245


Auf der andren Seite versteht es sich von selbst, dass ich nichts
verabsäumt habe, um wenigstens die, unter den gegebenen Umständen,
mögliche Vollständigkeit und Genauigkeit zu erreichen, und ich bin
so glücklich gewesen, hier auch für Ausser Europaeische Sprachen
eine bedeutende Menge von Hülfsmitteln benutzen zu können. Nur
sehr selten habe ich mich genöthigt gesehen, bei der Benutzung so
allgemeiner Werke, als der Mithridates und neuerlich Balbis Atlas
ist, stehen zu bleiben. Auch wird gewiss jeder genaue Sprachforscher
vermeiden, sich auf diese Schriften, so unverkennbar ihr Werth in
andrer Rücksicht ist, und so unentbehrlich namentlich der Mithridates
für das vergleichende Sprachstudium bleibt, bei Beurtheilung des
grammatischen Baues einzelner Sprachen zu stützen, ohne auf die
ursprünglichen Quellen zurückzugehen.
Prüft man nunmehr die verschiedene Art, auf welche die hier
aufgezählten Sprachen den Dualis behandeln, so lassen sich dieselben
im Ganzen, und einzelne Abstufungen ungerechnet, füglich in folgende
drei Classen abtheilen.
Einige dieser Sprachen nehmen die Ansicht des Dualis von der
redenden und angeredeten Person, dem Ich und dem Du her. In diesen
haftet derselbe am Pronomen, geht nur so weit in die übrige Sprache mit
über, als sich der Einfluss des Pronomen erstreckt, ja beschränkt sich
bisweilen allein auf das Pronomen der ersten Person in der Mehrheit,
auf den Begriff des Wir.
Andre Sprachen schöpfen diese Sprachform aus der Erscheinung
der paarweis in der Natur vorkommenden Gegenstände, der Augen,
der Ohren und aller doppelten Gliedmassen des Körpers, der beiden
grossen Gestirne u.s.f. In diesen reicht dieselbe alsdann nicht über diese
Begriffe, oder wenigstens nicht über das Nomen hinaus.
Bei andren Völkerstämmen endlich durchdringt der Dualis die
ganze Sprache, und erscheint in allen Redetheilen, in welchen er Geltung
erhalten kann. Es ist daher bei diesen keine besondre Gattung, sondern
der allgemeine Begriff der Zweiheit, von dem er ausgeht.

246 • Wilhelm von Humboldt


Por outro lado, é evidente que eu não negligenciei nada, de modo
a alcançar a maior plenitude e exatidão possível, considerando as
circunstâncias dadas, e fiquei muito feliz por ter a meu dispor uma
quantidade significativa de análises também de línguas não europeias.
Muito raramente me encontrei na situação de me limitar ao uso de
obras gerais, como o Mitrídates9 e o mais recente Atlas, de Balbi10. Além
disso, qualquer linguista criterioso certamente tentará evitar depender
somente dessas obras, sem recorrer às fontes originais para a análise
da construção gramatical de línguas individuais, mesmo levando em
consideracão o valor evidente das obras mencionadas, em especial o
fato de que o Mitrídates é indispensável para o estudo comparativo de
línguas.
Quando se investigam as diferentes maneiras como as línguas
acima enumeradas tratam o dual, pode-se ramificá-las, como um
todo, desconsiderando-se as gradações individuais, nas três seguintes
categorias.
Algumas dessas línguas tomam a perspectiva do dual do falante
e do ouvinte, do Eu e do Tu. Nesse caso, ele adere ao pronome e só
entra no resto da língua na medida em que a influência do pronome se
estende, e às vezes se limita apenas ao pronome de primeira pessoa no
plural, no conceito de nós.
Outras línguas criam essa forma a partir dos fenômenos que
ocorrem em pares na natureza, como os olhos, as orelhas e todos os
membros duplos do corpo, os dois corpos celestes e assim por diante.
Nessas línguas, o dual não vai além desses conceitos ou, pelo menos,
não vai além do substantivo.
Em outras nações, finalmente, o dual penetra toda a língua e
aparece em todas as partes da oração em que ele pode obter uma função.
Nessas línguas, portanto, ele não deriva de uma espécie particular, mas
do conceito geral da dualidade.

Ensaios sobre língua e linguagem • 247


Es versteht sich von selbst, dass Sprachen auch Spuren von mehr
als einer dieser Auffassungsweisen, ja von allen zugleich an sich tragen
können. Wichtiger ist es zu bemerken, dass in ursprünglich der dritten
Classe angehörenden Sprachstämmen es sich auch findet, dass einzelne
Sprachen, entweder überhaupt oder im Laufe der Zeit, den Dualis nur
in der Beschränkung der beiden ersten Classen beibehalten. Sie werden
aber in diesem Fall dennoch billig, wie ich auch hier thun werde, der
dritten beigesellt. So zeigt sich in den oben angeführten Deutschen
Volksmundarten der Dualis nur noch an den beiden ersten Personen
des Pronomen, und im Syrischen, ausser der Zahl zwei selbst, bloss an
dem Namen Aegyptens, das man sich, wie man hieraus sieht, immer als
Ober- und Nieder-Aegypten zu denken gewöhnt hatte.* Die von mir
untersuchten Sprachen vertheilen sich nun folgendergestalt in die so
eben aufgezählten Classen.
Zur ersten, wo der Dualis seinen Sitz im Pronomen hat, gehören
die oben genannten Sprachen des östlichen Asiens, der Philippinen
und Südseeinseln,
die Chaymische und die Tamanakische;
zu der zweiten, wo er vom Nomen ausgeht,
bloss die Totonakische,
und so weit ihr ein Dualis zugeschrieben werden kann, die
Qquichuische; zu der dritten, wo sich der Dualis über die
ganze Sprache verbreitet,

* Vater’s Handbuch der Hebräischen u. s. f. Grammatik. S. 121. Auch im Hebraeischen


ist der Name Aegyptens Mizraim (Gesenius Wörterbuch v. mazor) ein Dualis. Diesen
aber auf Ober- und Unter-Aegypten zu deuten, wird man einen Augenblick dadurch
irre gemacht, dass das obere, südliche einen eignen Namen, Patros (Gesenius h.v.),
führt. Auch leitet Herr Gesenius (Lehrgebäude. S. 539. §. 2.) den Dualis in Mizraim von
der, freilich aber nicht auf das Delta passenden, Zweitheilung durch den Nil ab. Allein
späteren Mittheilungen nach, neigt sich Herr Gesenius jetzt zu meiner Meinung hin,
dass die Theilung in Ober- und Unter-Aegypten der Grund der Namensform ist, und
ich werde, wenn ich auf den Hebraeischen Dualis komme, weitlaüftiger ausführen, wie
scharfsinnig er alle obige Benennungen, mit Unterscheidung der Zeit ihres Gebrauchs,
in Uebereinstimmung bringt.

248 • Wilhelm von Humboldt


É evidente que as línguas podem incorporar traços de mais de um
desses conceitos do dual, e até todos ao mesmo tempo, sendo importante
notar que, em relação às línguas originalmente pertencentes à terceira
classe, também ocorre que algumas, ora de modo geral, ora devido a
mudanças no decorrer do tempo, mantêm o dual no limite das duas
primeiras classes. Mas elas normalmente são vistas como pertencendo à
WHUFHLUDFODVVHFRPRIDUHLDTXL$VVLPRGXDOHVWiUHÀHWLGRQRVGLDOHWRV
populares alemães acima mencionados apenas nos pronomes das duas
SULPHLUDVSHVVRDVHHPVtULRjH[FHomRGRSUySULRQ~PHURdois, apenas
no nome do Egito, que, como se vê, costuma ser concebido como Alto
e Baixo Egito.* As línguas estudadas por mim se distribuem nas classes
acima mencionadas da seguinte forma:
1) à primeira classe, na qual o dual ocorre nos pronomes, pertencem
as línguas da Ásia Oriental, das Filipinas e das ilhas do Pacífico Sul, o
chayma e a língua dos tamanaku;
2) à segunda classe, na qual o dual se apoia nos substantivos,
pertencem apenas o totonaca e, na medida em que um dual possa ser
atribuído a ela, a língua quéchua;
3) à terceira classe, na qual o dual se estende por toda a língua,
pertencem:

* Ver o Handbuch der Hebräischen etc., gramática, p. 121. Também em hebraico, o nome
do Egito, Mizraim (ver Gesenius, Wörterbuch, em mazor) é um dual. Para interpretar
o Alto e o Baixo Egito, fica-se meio confuso, por um momento, pelo fato de que o Alto
Egito, meridional, tem seu próprio nome, Patros (Gesenius, Hauptversammlung). Além
disso, o senhor Gesenius (Lehrgebäude, p. 539, §2) deduz o dual em Mizraim da divisão
do país em dois pelo Nilo, mas esta, claro, não é aplicável ao delta. No entanto, de acordo
com comunicações posteriores, o Sr. Gesenius agora se inclina para a minha opinião de
que a divisão em Alto e Baixo Egito é a razão da forma do nome e, quando chegar ao
dual hebraico, exporei mais amplamente como ele consegue estabelecer uma harmonia
sutil entre as designações acima mecionadas e a distinção dos períodos de uso.

Ensaios sobre língua e linguagem • 249


die Sanskritischen,*
Semitischen,
Grönländische,
Araukanische
und obgleich in geringerer Vollständigkeit, die Lappländische.
Man erkennt in dieser, absichtlich kurz zusammengedrängten
Uebersicht, dass der Dualis in der Wirklichkeit der bekannten Sprachen
ungefähr in eben der Verschiedenheit des Begriffs und des Umfanges
auftritt, die man ihm hätte nach reiner Ideen-Zergliederung anweisen
können. Ich habe es aber vorgezogen, diese seine verschiedenen Arten
auf dem Wege der Beobachtung aufzusuchen, um der Gefahr zu
entgehen, sie den Sprachen aus Begriffen aufzudringen. Doch wird es
jetzt nothwendig seyn, die Natur dieser Sprachform auch unabhängig
von der Kentniss wirklicher Sprachen, aus allgemeinen Ideen zu
entwickeln.
Eine, doch vielleicht noch nicht ganz ungewöhnliche, allein
durchaus irrige Ansicht ist es, wenn man den Dualis bloss als einen
zufällig für die Zahl zwei eingeführten, beschränkten Pluralis ansieht,
und dadurch die Frage rechtfertigt, warum nicht auch irgend eine andre
beliebige Zahl ihre eigne Mehrheitsform besitze? Es kommt in dem
Gebiete der Sprachen allerdings ein solcher beschränkter Plural vor, der,
wenn er sich auf zwei Gegenstände bezieht, die Zweiheit bloss als kleine
Zahl behandelt, allein dieser ist, auch in diesem Fall, auf keine Weise mit
dem wahren Dualis zu verwechseln.
In der Sprache der Abiponen, eines Volksstammes in Paraguay,
giebt es einen doppelten Plural, einen engeren für zwei und mehrere,
aber immer wenige und einen weiteren für viele Gegenstände.**

* Dieser Ausdruck dürfte sich für die mit dem Sanskrit zusammenhangenden Sprachen,
die man neuerlich auch Indo-Germanische genannt hat, nicht bloss durch seine Kürze,
sondern auch durch seine innre Angemessenheit empfehlen, da Sanskritische Sprachen,
der Bedeutung des Worts nach, Sprachen kunstreichen und zierlichen Baues sind.
** Dobrizhoffer’s historia de Abiponibus. T.2.p. 166-168.

250 • Wilhelm von Humboldt


(i) as línguas sânscritas*;
(ii) as línguas semíticas;
(iii) o groenlandês;
(iv) o araucano;
(v) e, mesmo de forma menos completa, o lapão.

Nesse resumo deliberadamente curto e condensado, pode-se


perceber que o dual ocorre, dentro da realidade das línguas conhecidas,
com praticamente a mesma diversidade de conceitos e de abrangência
que poderia ter sido atribuída por meio de uma pura análise teórica.
Eu preferi, todavia, mostrar os vários tipos de dual pelo caminho da
observação empírica, de modo a evitar o perigo de derivá-los de conceitos,
impondo-os às línguas. Mas agora é necessário desenvolver a natureza
dessa forma linguística a partir de ideias gerais, independentemente do
conhecimento das línguas reais.
Uma visão talvez não totalmente incomum, mas bastante errônea,
é a que considera o dual como um plural introduzido por acaso e
limitado ao número dois, o que justifica a pergunta: por que não existe
uma forma própria de plural para qualquer outro número arbitrário?
No âmbito das línguas, existe um plural limitado que, quando se refere a
dois itens, trata a dualidade apenas como um número pequeno, mas ele
não deve ser confundido de forma alguma, tampouco nesse caso, com
o verdadeiro dual.
Na língua dos abipones, uma tribo no Paraguai, há um duplo
plural, um mais restrito para dois ou mais, mas ainda poucos objetos, e
outro mais extenso para muitos objetos**.

* Esta expressão pode ser recomendada para as línguas relacionadas ao sânscrito, que
foram recentemente chamadas de indo-germânicas, não apenas por sua brevidade, mas
também por sua adequação intrínseca, já que as línguas sânscritas, no sentido da pala-
vra, são elegantes e delicadas em sua arquitetura.
** Ver Historia de Abiponibus, de Dobrizhoffer, parte 2, p.166-168.

Ensaios sobre língua e linguagem • 251


Der erstere scheint eigentlich dem zu entsprechen, was wir Plural
nennen. Seine Bildung geschieht durch Suffixa, die an die Stelle der
Singularendung treten, oder durch beugungsartige Abänderungen
dieser, und ist, obgleich man sie nur an einer Reihe mitgetheilter
Beispiele beurtheilen kann, sehr mannigfaltig. Der weitere Plural
kennt bloss die Endung ripi. Dass in dieser der Begriff der Vielheit
liegt, geht daraus hervor, dass man, sobald dieser Begriff in der Rede
durch ein eignes Wort bezeichnet ist, die Endung ripi weglässt und
das Substantivum in den engeren Plural setzt. Dass aber ripi allein
gebraucht würde, finde ich nicht, und es ist so sehr zur Endung
geworden, dass es weder dem Singular noch dem engeren Plural
geradezu angeheftet wird, sondern durch eine eigne Veränderung der
Wortendung eine besondere Bildung eingeht. Wenigstens ist dies in
folgenden Beispielen der Fall.

Sing. Engerer Plur. Weiterer Plur.


choale, choalèc oder choaliripi,
Mensch,
ahöpegak, ahöpega, ahöpegeripi*
‘Pferd,

Die der Abiponischen sehr nahe verwandte Sprache der Mokobi*


in der Provinz Chaco besitzt diesen doppelten Plural nicht, bildet aber
den Plural aller nicht auf i ausgehenden Wörter durch Anheftung des
Wortes ipi, ohne dass dieses, wie es wenigstens nach den Beispielen
scheint, etwas an der Endung des Hauptwortes ändert; choalè, Mensch,
choalè-ipi, die Menschen. In dieser Sprache ist ipi wirklich das Wort:
viel, und es bleibt nun ungewiss, ob das Abiponische hinzugefügte r ein
Bildungsbuchstabe, oder die Weglassung eine Eigenthümlichkeit der
Mokobischen Mundart ist?

* Dobrizhoffer schreibt joale und ahëpegak, will aber mit j den Spanischen Laut dieses
Buchstabens und mit ë den Umlaut ö ausdrücken.
** Handschriftliche mir vom Abate Hervas mitgetheilte, nach Papieren des Abate Don
Raimondo de Termaier verfasste Grammatik der Mokobischen Sprache. §. 3.

252 • Wilhelm von Humboldt


O primeiro parece corresponder ao que denominamos plural. Sua
formação se faz por sufixos, que substituem o sufixo singular, ou por
alterações semelhantes às flexões desse sufixo e, embora essa formação
só possa ser julgada com base em um número limitado de exemplos,
ela é muito diversificada. O plural mais extenso é formado pela mera
desinência ripi. O conceito de multiplicidade encontrado nela se infere
do fato de que, tão logo esse conceito é designado no discurso por uma
palavra própria, se omite a desinência ripi e se coloca o substantivo no
plural limitado. Não encontrei ocorrências de ripi sendo usado sozinho,
o que o torna quase exclusivamente uma desinência, de maneira que
ripi QmR p D¿[DGD DR VLQJXODU QHP DR SOXUDO UHVWULWR PDV FULD XPD
IRUPDSDUWLFXODUDWUDYpVGHXPDPXGDQoDHVSHFt¿FDQDWHUPLQDomRGD
SDODYUD(VWHSHORPHQRVpRFDVRQRVVHJXLQWHVH[HPSORV

Singular Plural restrito Plural extenso


choale, cholèc ou choaliripi
‘homem, ser humano’
ahöpegak, ahöpega, ahöpegeripi*
‘cavalo’

O mocovi** da província do Chaco, um idioma intimamente


relacionado ao abipone, não tem esse duplo plural, mas forma o plural
de todas as palavras que não terminam em i mediante o acréscimo
da palavra ipi, sem que esta, o que parece ser o caso, pelo menos dos
exemplos, modifique algo na terminação do substantivo: choalè,
‘homem’, choalè-ipi, ‘os homens’. Nesse idioma, ipi é, na verdade, a
palavra ‘muito’, mas permanece incerto se no abipone o r adicionado é
uma letra formativa, ou se a omissão é uma particularidade do dialeto
mocovi.

* Dobrizhoffer escreve joale e ahëpegak, mas quer expressar com j o fonema espanhol
respresentado por essa letra e, com ë, o Umlaut ö.
** Manuscrito da Grammatik der Mokobischen Sprache, §3, recebido do Abade Hervás,
baseado nos documentos do Abade Don Raimondo de Termaier.

Ensaios sobre língua e linguagem • 253


Die Tahitische Sprache, welche den Dualis am Nomen nicht
unterscheidet, kennt auch diesen weiteren und engeren Plural, bezeichnet
ihn aber bloss durch eigne, vor das Substantivum gestellte und nur, ihrer
ursprünglichen Bedeutung nach, noch nicht erklärte Wörter, die man
nur uneigentlich grammatische Formen nennen könnte.*
Am bestimmtesten besitzt Mehrheitsformen für verschiedene
Zahlen die Arabische Sprache, nemlich den Dualis für zwei, den
beschränkten Plural für 3 bis 9, den Vielheits-Plural und den Plural-
Plural, in welchem von dem Plural einiger Wörter durch regelmässige
Flection ein neuer gebildet wird, für 10 und mehr oder eine unbestimmte
Anzahl. Selbst für die Bezeichnung der Einheit bedient sich das
Arabische, nemlich bei Substantiven, in deren Natur es liegt, wie bei
Thier und Fruchtgattungen, eine Vielheit unter sich zu begreifen, einer
besondren Charakteristik, welche der Singularis in andren Sprachen
nicht kennt, und macht von diesem einen Plural.** Diese Ansicht, den
Gattungsbegriff gewissermassen als ausser der Kategorie des Numerus
liegend zu betrachten, und von ihm durch Beugung Singularis und
Pluralis zu unterscheiden, ist unläugbar eine sehr philosophische, deren
Entbehrung andre Sprachen zu andren zwingt. Da aber diese Arabischen
Pluralformen nicht, wie die Abiponische, je können mit dem Dualis
verwechselt werden, so gehört ihre ausführliche Betrachtung nicht
hierher.
Der so eben als irrig angeführten Vorstellung des Dualis, die sich
auf den Begriff der blossen Zahl zwei, als einer der vielen in der Zahlreihe
fortlaufenden beschränkt, steht diejenige entgegen, die sich auf den
Begriff der Zweiheit gründet, und den Dualis wenigstens vorzugsweise
der Gattung von Fällen zueignet, welche auf diesen Begriff zu kommen
Veranlassung geben. Nach dieser Vorstellung ist der Dualis gleichsam
ein Collectivsingularis der Zahl zwei, da der Pluralis nur gelegentlich,
nicht aber seinem ursprünglichen Begriff nach, die Vielheit wieder zur
Einheit zurückführt. Der Dualis theilt daher, als Mehrheitsform, und
als Bezeichnung eines geschlossenen Ganzen zugleich die Plural und
Singular-Natur.

* A Grammar of the Tahitian dialect of the Polynesian language. Tahiti. 1823.p. 9. 10.
** Silvestre de Sacy’s Grammaire Arabe. T. 1. § 702. 704. 710., womit auch Oberleitner
(fundamenta linguae Arabicae. p. 224.) verglichen zu werden verdient.

254 • Wilhelm von Humboldt


A língua taitiana, que não distingue o dual no substantivo, também
tem o plural amplo e o restrito, mas os designa apenas antepondo ao
substantivo palavras particulares, cujo significado original ainda não foi
esclarecido, e não se pode considerá-las verdadeiras formas gramaticais.*
A língua árabe é aquela que possui as formas mais claramente
determinadas para designar o plural: o dual para dois; o plural restrito
para três a nove; o plural da multiplicidade; e o plural-plural, no qual
um novo plural é formado com base em algumas palavras por flexão
regular, para dez e mais ou para um número indeterminado. Mesmo
para a designação da unidade, o árabe recorre, no caso dos substantivos
cuja natureza sugere o conceito de pluralidade, como nas espécies de
animais e de frutas, a uma característica particular que o singular em
outras línguas não tem, transformando-o em plural.** Essa perspectiva
de ver o conceito de espécie quase fora da categoria do número e de
distingui-lo por meio da flexão do singular e do plural é, sem dúvida,
uma perspectiva muito filosófica, e a falta dela obriga as línguas a
recorrer a outros meios. Mas como essas formas plurais árabes nunca
podem ser confundidas com o dual, como acontece no abipone, uma
consideração detalhada a seu respeito não será incluída aqui.
A noção errônea do dual acima discutida, que se limita ao mero
conceito do número dois como um dos muitos contínuos na série
numérica, é oposta àquela que se baseia no conceito de dualidade, e
que atribui o dual, pelo menos preferencialmente, à espécie dos casos
que motivam esse conceito da dualidade. De acordo com essa ideia, o
dual é, por assim dizer, um singular coletivo do número dois, uma vez
que o plural apenas ocasionalmente, e não em seu conceito original,
leva a multiplicidade de volta à unidade. O dual, portanto, como uma
forma de pluralidade e como um denominador de um todo fechado,
compartilha simultaneamente a natureza de plural e de singular.

* A Grammar of the Tahitian Dialect of the Polynesian Language, Taiti, 1823, p. 9-10.
** Silvestre de Sacy, Grammaire Arabe, parte 1, § 702, 704, 710, com a qual a gramática
de Oberleitner (Fundamenta Linguae Arabicae, p. 224.) merece ser comparada.

Ensaios sobre língua e linguagem • 255


Dass er empirisch in den wirklichen Sprachen dem Plural näher steht,
beweist, dass die erstere dieser beiden Beziehungen den natürlichen
Sinn der Nationen mehr anspricht, allein sein sinnvoll geistiger
Gebrauch wird immer die letztere eines Collectiv-Singulars festhalten.
Auch lässt sich in allen Sprachen diese, als die Grundlage des Dualis,
nachweisen, wenn gleich alle im nachherigen Gebrauch allerdings die
hier getrennte, richtige und irrige, Vorstellung von ihm mit einander
vermischen, und ihn ebensogut zum Ausdruck von zwei, als der
Zweiheit machen.
Alle grammatische Verschiedenheit der Sprachen ist meiner
Ansicht nach, eine dreifache, und man erhält keinen vollständigen
Begriff des Baues einer einzelnen, ohne ihn nach dieser dreifachen
Verschiedenheit in Betrachtung zu ziehen. Die Sprachen sind nemlich
grammatisch verschieden:
a., zuerst in der Auffassung der grammatischen Formen nach
ihrem Begriff,
b., dann in der Art der technischen Mittel ihrer Bezeichnung,
c., endlich in den wirklichen, zur Bezeichnung dienenden Lauten.
Im gegenwärtigen Augenblick haben wir es nur mit dem ersten
dieser drei Punkte zu thun, die beiden andren können erst bei
Betrachtung der einzelnen Sprachen in Absicht des Dualis in Erwägung
kommen.
Durch den zweiten und dritten dieser Punkte, vorzüglich durch
den letzten erlangt eine Sprache erst ihre grammatische Individualitaet,
und die Aehnlichkeit mehrerer in diesem ist das sicherste Kennzeichen
ihrer Verwandtschaft. Aber der erste bestimmt ihren Organismus, und
ist vorzüglich wichtig, nicht bloss als hauptsächlich einwirkend auf
den Geist und die Denkart der Nation, sondern auch als der sicherste
Prüfstein desjenigen Sprachsinnes in ihr, den man in jeder als das
eigentlich schaffende und umbildende Princip der Sprache ansehen
muss.
Dächte man sich das vergleichende Sprachstudium in einiger
Vollendung, so müsste die verschiedene Art, wie die Grammatik
und ihre Formen in den Sprachen genommen werden (denn
dies ist es, was ich unter Auffassung dem Begriff nach verstehe),

256 • Wilhelm von Humboldt


O fato de que ele está empiricamente mais perto do plural nas línguas
confirma que a primeira dessas duas relações está mais de acordo com
o sentido natural das nações, mas seu uso lógico-intelectual vai ser
sempre a segunda, aquela de um singular coletivo. Além disso, em
todas as línguas esta pode ser provada como a base do dual, mesmo
que, em uso posterior, essas línguas misturem os conceitos corretos e
errôneos, aqui separados, expressando o dual tanto como número dois
quanto como dualidade.
Toda diversidade gramatical das línguas é, na minha opinião,
tripla, e não vamos conseguir um conceito completo da construção de
uma língua individual sem levar em consideração essa tripla distinção.
As línguas são gramaticalmente diferentes nestes três aspectos:
a. primeiro, na concepção das formas gramaticais, em função de
seu conceito;
b. segundo, quanto aos tipos de recursos técnicos usados para
expressar essas formas;
c. finalmente, em relação ao sons reais que servem para expressá-las.
Neste momento, estamos apenas lidando com o primeiro desses
três pontos, e os outros dois só podem ser considerados quando se
analisam as línguas individuais sob o aspecto do dual.
Apenas pelo segundo e terceiro desses pontos, particularmente
pelo terceiro, uma língua atinge a sua individualidade gramatical, e a
semelhança entre várias línguas nesse terceiro ponto é a marca mais
segura de seu parentesco. Mas o primeiro determina o seu organismo e
é especialmente importante não apenas como a força principal agindo
sobre o espírito e a maneira de pensar da nação, mas também como
a referência mais segura para o sentido da linguagem existente nela,11
o qual deve ser visto em cada uma como o princípio verdadeiramente
criador e transformador da língua.
Se se imaginasse um estudo comparativo das línguas com certo
grau de perfeição, então deveriam ser investigadas as diferentes maneiras
como a gramática e suas formas são realizadas nas diferentes línguas
(porque isso é o que entendo por concepção, de acordo com o conceito)

Ensaios sobre língua e linguagem • 257


an den einzelnen grammatischen Formen, wie hier am Dualis, dann
an den einzelnen Sprachen, in jeder im Zusammenhange erforscht,
und endlich diese doppelte Arbeit dazu benutzt werden, einen Abriss
der menschlichen Sprache, als ein Allgemeines gedacht, in ihrem
Umfange, der Nothwendigkeit ihrer Gesetze und Annahmen, und der
Möglichkeit ihrer Zulassungen zu entwerfen.
Die zunächst liegende, aber beschränkteste Ansicht der Sprache ist
die, sie als ein blosses Verständigungsmittel zu betrachten. Auch in dieser
Hinsicht indess ist der Dualis nicht gänzlich überflüssig, er trägt in der
That bisweilen zum besseren und eindringenderen Verständniss bei, wie
es der Ort seyn wird, bei seinem Gebrauche im Griechischen zu zeigen.
Diese Fälle kommen aber wohl nur im Gebiete des Styls zum Vorschein,
und wenn die sprachenbildenden Völker, wie es glücklicherweise nicht
der Fall ist, bloss das gegenseitige Verständniss zum Zweck hätten, so
wäre ein eigner Zweiheitsplural gewiss für überflüssig gehalten worden.
Wenden doch mehrere Völker nicht einmal die in ihren Sprachen
wirklich vorhandenen Pluralformen da an, wo die gemeinte Mehrheit
aus andren Umständen hervorgeht, einer hinzugefügten Zahl,* einem
Anzahlsadverbium, aus dem Verbum, wenn die Mehrheitsbezeichnung
beim Nomen, oder dem Nomen, wenn sie beim Verbum weggelassen
wird, u.s.f.

* Auf dieselbe Weise scheint Adelung (Wörterbuch v. Mann. S. 349 u.a.a.O.) es zu neh-
men, wenn man im Deutschen einige Wörter mit Zahlen im Singular verbindet, und
sechs Loth, zehn Mann u.s.w. sagt. Zum Theil ist dies auch ganz richtig, einige dieser
Redensarten sind sogar nur in der gemeinen, nicht in der edleren Sprechart geduldet,
und in allen herrscht der zufällige Eigensinn des Sprachgebrauchs, da nun z.B. zehn
Pfund, aber nie zehn Elle sagt. Gerade da aber, wo dieser Sprachgebrauch sich am meis-
ten festgesetzt hat, bei Mann, liegt, meinem Gefühl nach, eine schöne, von Adelung
nicht herausgehobene Feinheit in dem Ausdruck. Der Singular soll hier andeuten, dass
die angezeigte Zahl als ein geschlossenes Ganzes angesehen wird; darum wird das Wort
aus der unbestimmten Mehrheit des Pluralis herausgerissen. Dies ist vorzüglich in der
distributiven Redensart vier Mann hoch sichtbar, wo jede vier zusammenstehende Män-
ner als Eine Reihe gelten sollen. Ich glaubte dies bemerken zu müssen, da dieser anoma-
le Singular, wie der Dualis, eigentlich ein collectiver, ein Plural-Singular, ist, und diese
Redensarten einen Beweis abgeben, wie die Sprachen, in Ermangelung richtiger For-
men, unrichtige, aber im Augenblick des jedesmaligen Gebrauchs charakteristische, zu
Erreichung ihres Zwecks anwenden. Dem Ausdruck zehn Fuss liegt wohl etwas Andres,
nemlich die Unterscheidung des eigentlichen und des übergetragenen Begriffs von Fuss
zum Grunde, obgleich man zu diesem Behuf auch einen doppelten Plural Fusse und
Füsse unterscheidet. Eine ähnliche, mit diesen Fällen zu vergleichende Verwechslung
des Numerus kommt im Hebraeischen vor. (Gesenius Lehrgebäude. S. 538.)

258 • Wilhelm von Humboldt


com relação às formas gramaticais individuais, como o dual aqui, para
depois serem exploradas em cada língua nos contextos particulares.
Por fim, este trabalho duplo deveria ser usado para traçar um esboço
da língua humana pensada como um todo, incluindo sua abrangência,
a necessidade de suas leis e suposições, e a possibilidade de aceitação
delas.
A primeira visão da linguagem, mais restrita, é aquela que a
considera um mero meio de comunicação. Mesmo a esse respeito,
o dual não é totalmente supérfluo, podendo certamente contribuir,
em determinados momentos, para uma compreensão melhor e mais
profunda, o que será mostrado em seu uso no grego. Esses casos, no
entanto, aparecem apenas na área do estilo e, se os povos que formam
o idioma tivessem apenas a compreensão mútua como objetivo, o que
felizmente não é o caso, então um plural próprio para a dualidade
certamente teria sido considerado supérfluo. Afinal, vários povos nem
sequer aplicam as formas plurais que realmente existem em suas línguas,
procedendo a pluralidade pretendida de outros meios, como um número
acrescentado*, um advérbio numeral, uma desinência verbal, quando a
pluralidade é omitida no substantivo, ou um substantivo, quando não
há marca de plural no verbo etc.

* Parece que Adelung interpreta do mesmo modo (Wörterbuch, em Mann, p. 349, e


em outros lugares) quando em alemão algumas palavras no singular são combinadas
com números, por exemplo, sechs Lot (‘seis medida’), zehn Mann (‘dez homem’) etc. Em
parte, isso é verdade, e algumas dessas expressões são admissíveis apenas nessa forma
coloquial, mas não na forma gramaticalmente correta. Em todas reina o capricho for-
tuito do uso da linguagem, pois se diz, por exemplo, zehn Pfund (‘dez libra’), mas nunca
zehn Elle (‘dez vara’). No entanto, justamente onde esse uso da língua tem sido mais fixo,
no caso de Mann (‘homem’), meu sentimento é de que se trata de uma sutileza fina de
expressão, não ressaltada por Adelung. O singular sugere aqui que o número indicado
é considerado como um todo, portanto a palavra é tirada da pluralidade indeterminada
do plural. Isto fica bem visível na expressão distributiva vier Mann hoch (‘em quatro’),
em que cada grupo de quatro homens deve ser considerado uma série. Creio que era
preciso mencionar esse singular anômalo, pois, como o dual, ele é na verdade um co-
letivo, um plural singular, e essas locuções dão provas de como as línguas, na ausência
de formas adequadas, usam formas incorretas, mas características no momento de uso,
para alcançar sua finalidade. Em zehn Fuss (‘dez pé’), há uma diferença de base, a saber,
a distinção entre o sentido real e o figurado de pé, embora exista para esse propósito um
plural duplo, Fusse e Füsse. Uma confusão semelhante de números a serem comparados
com esses casos ocorre no hebraico (Gesenius, Lehrgebäude, p. 538).

Ensaios sobre língua e linguagem • 259


Die Sprache ist aber durchaus kein blosses Verständigunsmittel,
sondern der Abdruck des Geistes und der Weltansicht der Redenden, die
Geselligkeit ist das unentbehrliche Hülfsmittel zu ihrer Entfaltung, aber
bei weitem nicht der einzige Zweck, auf den sie hinarbeitet, der vielmehr
seinen Endpunkt doch in dem Einzelnen findet, insofern der Einzelne
von der Menschheit getrennt werden kann. Was also aus der Aussenwelt
und dem Innern des Geistes in den grammatischen Bau der Sprachen
überzugehen vermag, kann darin aufgenommen, angewendet und
ausgebildet werden, und wird es wirklich nach Massgabe der Lebendigkeit
und Reinheit des Sprachsinns, und der Eigenthümlichkeit seiner Ansicht.
Hier aber zeigt sich sogleich eine auffallende Verschiedenheit. Die
Sprache trägt Spuren an sich, dass bei ihrer Bildung vorzugsweise aus
der sinnlichen Weltanschauung geschöpft worden ist, oder aus dem
Inneren der Gedanken, wo jene Weltanschauung schon durch die Arbeit
des Geistes gegangen war. So haben einige Sprachen zu Pronomina der
dritten Person Ausdrücke, welche das Individuum in ganz bestimmter
Lage, als stehend, liegend, sitzend u.s.f. bezeichnen, besitzen also
viele besondre Pronomina und ermangeln eines allgemeinen; andre
vermannigfachen die dritte Person nach der Nähe zu den redenden
Personen, oder ihrer Entfernung von denselben; andre endlich kennen
zugleich ein reines Er, den blossen Gegensatz des Ich und des Du, als
unter Einer Kategorie zusammengefasst. Die erste dieser Ansichten ist
ganz sinnlich; die zweite bezieht sich schon auf eine reine immanente
Form der Sinnlichkeit, den Raum; die letzte beruht auf Abstraction
und logischer Begriffstheilung, wenn auch sehr oft erst der Gebrauch
gestempelt haben mag, was vielleicht einen ganz anderen Ursprung
hatte. Es bedarf überhaupt kaum der Bemerkung, dass diese drei
verschiedenen Ansichten nicht als in der Zeit fortschreitende Stufen
anzusehen sind. Alle können sich in mehr oder minder sichtbaren
Spuren in Einer und ebenderselben Sprache neben einander befinden.*

* In der Abiponischen Sprache z.B. giebt es sechs verschiedene durch beide Geschlechter
durchgehende Wörter um das Pron. 3. pers. selbständig auszudrücken. Alle endigen mit
der Sylbe ha, diese kommt aber allein nie vor, und ist auch schwerlich die Bezeichnung des
er, da sie, wenn man mit diesem sechsfachen Pronomen, wie man kann, den Begriff allein
verbindet, gänzlich verschwindet. Für das Besitzpronomen hingegen giebt es eine einfa-
che Bezeichnung, die jedoch oft ausgelassen wird, so dass alsdann der Mangel der Besitz-
bezeichnung zur Anzeige des Possessivum 3. pers. wird. Dobrizhoffer. l. c. T. 2. p. 168-170.

260 • Wilhelm von Humboldt


A linguagem não é um mero meio de comunição, mas a impressão
do espírito e da visão de mundo dos falantes, a sociabilidade é um
recurso indispensável para seu desenvolvimento, mas nem de longe é a
única meta para que ela funcione. Essa meta encontra seu ponto final no
indivíduo, na medida em que este pode ser separado da humanidade.
Aquilo que pode, portanto, mover-se do mundo exterior e do interior do
espírito para a construção gramatical das línguas pode ser incorporado,
aplicado e desenvolvido nelas, e será realmente realizado de acordo com
a vivacidade e a pureza do sentido da linguagem e da peculiaridade de
sua visão.
Aqui, no entanto, há uma diferença marcante. A linguagem
tem traços em si que mostram que sua formação se fundamenta
preferencialmente na visão de mundo sensorial, ou no interior dos
pensamentos, onde a visão de mundo já foi processada pelo trabalho
do espírito. Assim, algumas línguas acrescentam aos pronomes de
terceira pessoa expressões que designam o indivíduo em determinadas
posições, como estando em pé, deitado, sentado etc., logo, elas têm
muitos pronomes particulares, mas lhes falta um pronome geral; outras
multiplicam a terceira pessoa para designar a proximidade ou distância
para com as pessoas que falam. Outras, finalmente, têm um ele puro
como mero contraste do eu e do tu, agrupado numa única categoria. O
primeiro desses pontos de vista é completamente sensorial; o segundo
refere-se a uma forma sensorial imanente e pura, o espaço;12 o último
é baseado na abstração e na divisão lógica de conceitos, embora muitas
vezes apenas o uso possa ter cunhado algo que talvez tenha uma
origem completamente diferente. Não é necessário observar que esses
três pontos de vista diferentes não devem ser entendidos como etapas
progressivas cronológicas. Todos podem estar em uma só língua, lado a
lado, em manifestações mais ou menos visíveis.*

* Na língua abipone, por exemplo, há seis palavras diferentes para ambos os gêneros,
que expressam o pronome de terceira pessoa de modo independente. Todas terminam
com a sílaba ha, mas esta nunca ocorre sozinha e dificilmente pode ser vista como de-
signação para ele, visto que desaparece completamente quando o conceito sozinho se
conecta com esse pronome sêxtuplo, o que é possível. Para o pronome possessivo, ent-
retanto, há uma forma simples, que é frequentemente omitida, de modo que a falta de
um elemento que expresse posse se torna a indicação do possessivo da terceira pessoa
(Dobrizhoffer, loc. cit., parte 2, p. 168-170).

Ensaios sobre língua e linguagem • 261


Der Begriff der Zweiheit nun gehört dem doppelten Gebiet des
Sichtbaren und Unsichtbaren an, und indem er sich lebendig und
anregend der sinnlichen Anschauung und der äusseren Beobachtung
darstellt, ist er zugleich vorwaltend in den Gesetzen des Denkens, dem
Streben der Empfindung, und dem in seinen tiefsten Gründen
unerforschbaren Organismus des Menschengeschlechts und der Natur.
Zunächst hebt sich, um von der leichtesten und oberflächlichsten
Beobachtung auszugehen, eine Gruppe von zwei Gegenständen
zwischen einem einzelnen und einer Gruppe von mehreren von selbst,
als im Augenblick übersehbar und geschlossen, heraus. Dann geht die
Wahrnehmung und die Empfindung der Zweiheit in den Menschen
in der Theilung der beiden Geschlechter und in allen sich auf dieselbe
beziehenden Begriffen und Gefühlen über. Sie begleitet ihn ferner in
der Bildung seines und der thierischen Körper in zwei gleiche Hälften
und mit paarweise vorhandenen Gliedmassen und Sinnenwerkzeugen.
Endlich stellen sich gerade einige der mächtigsten und grössesten
Erscheinungen in der Natur, die auch den Naturmenschen in jedem
Augenblick umgeben, als Zweiheiten dar, oder werden ab solche
aufgefasst, die beiden grossen, die Zeit bestimmenden Gestirne, Tag und
Nacht, die Erde und der sie überwölbende Himmel, das feste Land und
das Gewässer u.s.f. Was sich der Anschauung so überall gegenwärtig
zeigt, das trägt der lebendige Sinn natürlich und ausdrucksvoll durch
eine ihm besonders gewidmete Form in die Sprache über.
In dem unsichtbaren Organismus des Geistes, den Gesetzen des
Denkens, der Classification seiner Kategorieen aber wurzelt der Begriff
der Zweiheit noch auf eine viel tiefere und unsprünglichere Weise: in
dem Satz und Gegensatz, dem Setzen und Aufheben, dem Seyn und
Nicht-Seyn, dem Ich und der Welt. Auch wo sich die Begriffe drei- und
mehrfach theilen, entspringt das dritte Glied aus einer ursprünglichen
Dichotomie, oder wird im Denken gern auf die Grundlage einer solchen
zurückgebracht.
Der Ursprung und das Ende alles getheilten Seyns ist Einheit. Daher
mag es stammen, dass die erste und einfachste Theilung, wo sich das Ganze
nur trennt, um sich gleich wieder, als gegliedert, zusammenzuschliessen,
in der Natur die vorherrschende, und dem Menschen für den
Gedanken die lichtvollste, für die Empfindung die erfreulichste ist.

262 • Wilhelm von Humboldt


O conceito de dualidade agora pertence à dupla área do visível e do
invisível e, como ele se apresenta à visão sensorial e à observação externa
de forma viva e estimuladora, prevalece ao mesmo tempo nas leis do
pensamento, na busca de sensação e no organismo fundamentalmente
impenetrável da espécie humana e da natureza.
Primeiramente, para partir de uma observação mais simples e
superficial, um grupo de dois objetos se destaca de um único e um grupo
de vários é visível e imediatamente marcado como um grupo fechado.
Então, a percepção e a sensação de dualidade nos seres humanos passa
para a divisão dos dois sexos e para todos os conceitos e sentimentos
que se referem a essa divisão. Além do mais, a dualidade acompanha
o homem na composição do seu corpo e do corpo dos animais em
duas metades iguais, com pares de membros e de órgãos dos sentidos.
Finalmente, alguns dos mais poderosos e imponentes fenômenos
da natureza, que também estão à volta dos homens selvagens a cada
momento, representam-se na dualidade, ou são percebidos como tal,
como os dois grandes astros que definem o tempo, dia e noite, a terra e
a abóboda celeste que a envolve, a terra firme e as águas etc. O que está
onipresente na visão é transmitido para a língua pela sensação vívida, de
maneira natural e expressiva numa determinada forma.
Mas no organismo invisível do espírito, nas leis do pensamento, na
classificação de suas categorias, o conceito da duplicidade está enraizado
de uma maneira muito mais profunda e originária: na tese e antítese, no
pôr e tirar, no ser e não ser, no eu e o mundo. Mesmo nos casos em que
os conceitos se triplicam ou multiplicam, o terceiro elemento surge de
uma dicotomia original ou é frequentemente reduzido, no pensamento,
a essa base.
A origem e o fim de todo ser dividido é a unidade. Portanto,
pode-se imaginar que a primeira e mais simples divisão, em que o todo
se separa para se unir novamente de forma organizada, prevalece na
natureza, e para o pensamento do homem é a mais iluminada, para a
sensação, a mais agradável.

Ensaios sobre língua e linguagem • 263


Besonders entscheidend für die Sprache ist es, dass die Zweiheit in
ihr eine wichtigere Stelle, als irgendwo sonst, einnimmt. Alles Sprechen
ruht auf der Wechselrede, in der, auch unter Mehreren, der Redende
die Angeredeten immer sich als Einheit gegenüberstellt. Der Mensch
spricht, sogar in Gedanken, nur mit einem Andren, oder mit sich,
wie mit einem Andren, und zieht danach die Kreise seiner geistigen
Verwandtschaft, sondert die, wie er, Redenden von den anders Redenden
ab. Diese, das Menschengeschlecht in zwei Classen, Einheimische und
Fremde, theilende Absonderung ist die Grundlage aller ursprünglichen
geselligen Verbindung.
Es hätte schon können oben bemerkt werden, dass die in der Natur
äusserlich erscheinende Zweiheit oberflächlicher und in innigerer
Durchdringung des Gedanken und des Gefühls aufgefasst warden
kann. Es wird genug seyn, nur an einiges Einzelne in dieser Beziehung
zu erinnern. Wie tief die bilaterale Symmetrie der Menschen- und
Thierkörper in die Phantasie und das Gefühl eingeht, und zu einer der
Hauptquellen der Architektonik der Kunst wird, ist neuerlich von A.
W. v. Schlegel auf eine überraschend treffende und höchst geistvolle
Weise gezeigt worden.* Der in seiner allgemeinsten und geistigsten
Gestaltung aufgefasste Geschlechtsunterschied führt das Bewusstseyn
einer, nur durch gegenseitige Ergänzung zu heilenden Einseitigkeit
durch alle Beziehungen des menschlichen Denkens und Empfindens
hindurch.
Ich erwähne aber mit Absicht dieser zwiefachen, oberflächlicheren
und tieferen, sinnlicheren oder geistigeren Auffassung erst hier, da sie
vorzüglich da eintritt, wo die Sprache auf der Zweiheit der Wechselrede
ruht. Es ist im Vorigen nur die ganz empirische Erscheinung hiervon
angedeutet worden. Es liegt aber in dem ursprünglichen Wesen
der Sprache ein unabänderlicher Dualismus und die Möglichkeit
des Sprechens selbst wird durch Anrede und Erwiederung bedingt.

* Indische Bibliothek. B. 2. S. 458.

264 • Wilhelm von Humboldt


É especialmente crucial para a linguagem que a dualidade ocupe
nela uma posição mais importante do que em qualquer outro lugar.
Toda conversa baseia-se no diálogo, em que, mesmo sendo com várias
pessoas, o falante sempre conceitua os ouvintes como uma unidade.
O homem fala, mesmo em pensamento, com outro ou consigo como
se fosse com outro, e assim determina os círculos de seu parentesco
intelectual, separando aqueles que falam como ele daqueles que falam
de modo diferente. Essa separação que divide a humanidade em
duas classes, nativos e estrangeiros, é originalmente a base de toda a
convivência social.
Poderia ter sido registrado acima que a dualidade apresentada
exteriormente na natureza pode ser vista como superficial ou como uma
penetração íntima do pensamento e da emoção. Creio ser suficiente
lembrar apenas alguns exemplos dessa relação. Recentemente, foi
demonstrado por A. W. v. Schlegel, de maneira surpreendentemente
impressionante e altamente espirituosa, como a simetria bilateral
do corpo humano e do corpo animal penetra profundamente na
imaginação e no sentimento, tornando-se uma das principais fontes da
arquitetura da arte.* A diferença de sexo, concebida em sua forma mais
geral e mental, leva à consciência de uma unilateralidade – a ser sanada
por uma complementaridade mútua –, que penetra todas as relações
humanas do pensamento e do sentimento.13
Propositalmente menciono essa dupla concepção da dualidade
somente aqui, mais superficial ou mais profunda, mais sensorial
ou mais intelectual, uma vez que ela ocorre particularmente onde
a língua se apoia na dualidade do diálogo. Anteriormente, fiz
alusão apenas à manifestação empírica.14 No entanto, na essência
original da língua, há um dualismo inalterável e a possibilidade
de falar, em si, é condicionada pelo cumprimento e pela resposta.

* Indische Bibliothek, vol. 2, p. 458.

Ensaios sobre língua e linguagem • 265


Schon das Denken ist wesentlich von Neigung zu gesellschaftlichem
Daseyn begleitet, und der Mensch sehnt sich, abgesehen von allen
körperlichen und Empfindungs-Beziehungen, auch zum Behuf
seines blossen Denkens nach einem dem Ich entsprechenden Du, der
Begriff scheint ihm erst seine Bestimmtheit und Gewissheit durch das
Zurückstrahlen aus einer fremden Denkkraft zu erreichen. Er wird
erzeugt, indem er sich aus der bewegten Masse des Vorstellens losreisst,
und, dem Subject gegenüber, zum Object bildet. Die Objectivität
erscheint aber noch vollendeter, wenn diese Spaltung nicht in dem
Subject allein vorgeht, sondern der Vorstellende den Gedanken wirklich
ausser sich erblickt, was nur in einem andren, gleich ihm vorstellenden
und denkenden Wesen möglich ist. Zwischen Denkkraft und Denkkraft
aber giebt es keine andre Vermittlerin, als die Sprache.
Das Wort an sich selbst ist kein Gegenstand, vielmehr, den
Gegenständen gegenüber, etwas Subjectives, dennoch soll es im Geiste
des Denkenden zum Object, von ihm erzeugt und auf ihn zurückwirkend
werden. Es bleibt zwischen dem Wort und seinem Gegenstande eine
so befremdende Kluft, das Wort gleicht, allein im Einzelnen geboren,
so sehr einem blossen Scheinobject, die Sprache kann auch nicht vom
Einzelnen, sie kann nur gesellschaftlich, nur indem an einen gewagten
Versuch ein neuer sich anknüpft, zur Wirklichkeit gebracht werden.
Das Wort muss also Wesenheit, die Sprache Erweiterung in einem
Hörenden und Erwiedernden gewinnen. Diesen Urtypus aller Sprachen
druckt das Pronomen durch die Unterscheidung der zweiten Person
von der dritten aus. Ich und Er sind wirklich verschiedene Gegenstände,
und mit ihnen ist eigentlich Alles erschöpft, denn sie heissen mit andren
Worten Ich und Nicht-ich. Du aber ist ein dem Ich gegenübergestelltes
Er. Indem Ich und Er auf innerer und äusserer Wahrnehmung beruhen,
liegt in dem Du Spontaneität der Wahl. Es ist auch ein Nicht-ich, aber
nicht, wie das Er, in der Sphäre aller Wesen, sondern in einer andren, in
der eines durch Einwirkung gemeinsamen Handelns. In dem Er selbst
liegt nun dadurch, außer dem Nicht-ich, auch ein Nicht-du, und es ist
nicht bloss einem von ihnen, sondern beiden entgegengesetzt.

266 • Wilhelm von Humboldt


Até o pensamento é essencialmente acompanhado pela inclinação
à existência social e, para além das relações corporais e emocionais,
o homem anseia por um tu apropriado ao eu para os propósitos do
mero pensamento. O conceito parece alcançar certeza e determinação
apenas quando é refletido na mente alheia. Ele é criado ao se libertar
da multiplicidade movimentada do imaginário e se apresentar como
objeto perante o sujeito. Essa objetividade fica ainda mais completa
se a divisão não acontecer apenas no sujeito, mas o indivíduo que
imagina realmente vir o pensamento além de si, o que só é possível
em um ser diferente, que imagina e pensa da mesma forma. Mas entre
pensamento e pensamento não há outro mediador além da linguagem.
A palavra em si não é um objeto, ao contrário, perante os objetos
ela é algo subjetivo, mas o objeto deve ser criado na mente do pensador
e repercutir neste. Permanece entre a palavra e seu objeto um estranho
abismo; a palavra, nascida sozinha no indivíduo, se assemelha muito a
um simples pseudo-objeto, e a língua não pode ser trazida à realidade
pelo indivíduo; isto só pode acontecer socialmente, apenas na medida
em que uma tentativa ousada se associa a outra. A palavra deve, portanto,
se tornar uma entidade, e a língua deve ganhar extensão num ouvinte
capaz de dar respostas. Essa arquitetura fundamental das línguas se
expressa no pronome, por meio da distinção entre a segunda e a terceira
pessoa. Eu e ele são objetos realmente diferentes, e com eles tudo está
completamente coberto, pois eles significam, em outras palavras, eu e
não-eu. Mas tu é um ele contraposto ao eu. Como eu e ele baseiam-se na
percepção interior e exterior, no tu reside a espontaneidade da escolha.
Tu também é um não-eu, não como ele, na esfera de todos os seres, mas
em outra esfera, em que ações em comum produzem efeito. No ele se
encontra, então, além do não-eu, também um não-tu e não é apenas
justaposto a um deles, mas aos dois.

Ensaios sobre língua e linguagem • 267


Hierauf deutet auch der oben angeführte Umstand hin, dass in
vielen Sprachen die Bezeichnung und die grammatische Bildung des
Pronomen der dritten Person in ihrem ganzen Wesen von den beiden
ersten Personen abweicht, der Begriff desselben bald nicht rein, bald
nicht in allen Beugungsfällen der Declination vorhanden ist.
Erst durch die, vermittelst der Sprache bewirkte Verbindung
eines Andren mit dem Ich entstehen nun alle, den ganzen Menschen
anregenden tieferen und edleren Gefühle, welche, in Freundschaft, liebe
und jeder geistigen Gemeinschaft die Verbindung zwischen Zweien zu
der höchsten und innigsten machen.
Ob, was den Menschen innerlich und äusserlich bewegt, in die
Sprache übergeht, hängt von der Lebendigkeit seines Sprachsinnes
ab, mit welcher er die Sprache zum Spiegel seiner Welt macht. In
welchem Grade der Tiefe der Auffassung dies geschieht, liegt in der
mehr oder minder reinen und zarten Stimmung des Geistes und der
Einbildungskraft, in welcher der Mensch, auch ehe er noch zum klaren
Bewusstseyn seiner selbst gelangt, unwillkührlich auf seine Sprache
einwirkt.
Der Begriff der Zweiheit, als der einer Zahl, also einer der
reinen Anschauungen des Geistes, besitzt aber auch die glückliche
Gleichartigkeit mit der Sprache, welche ihn vorzugsweise geschickt
macht, in sie überzugehen. Denn nicht Alles, wie mächtig es auch sonst
den Menschen anrege, ist hierzu gleich fähig. So giebt es nicht leicht
einen mehr in die Augen fallenden Unterschied unter den Wesen, als den
zwischen Lebendigen und Leblosen. Mehrere, vorzüglich Amerikanische
Sprachen gründen daher auf ihn auch grammatische Unterschiede,
und vernachlässigen dagegen den des Geschlechts. Da aber die blosse
Beschaffenheit, mit Leben begabt zu seyn, nichts in sich fasst, das sich
innig in die Form der Sprache verschmelzen liesse, so bleiben die auf
sie gegründeten grammatischen Unterschiede, wie ein fremdartiger
Stoff, in der Sprache liegen, und zeugen von einer nicht vollkommen
durchgedrungenen Herrschaft des Sprachsinns. Der Dualis dagegen
schliesst sich nicht nur an eine der Sprache schlechterdings nothwendige
Form, den Numerus, an, sondern begründet sich, wie oben gezeigt
worden, auch im Pronomen eine eigene Stellung. Er bedarf daher nur in
der Sprache eingeführt zu werden, um sich in ihr einheimisch zu fühlen.

268 • Wilhelm von Humboldt


Isso já é indicado pelo fato, acima mencionado, de que em muitas
línguas a representação e a formação gramatical do pronome da
terceira pessoa diferem totalmente, em sua essência, dos pronomes
das duas primeiras pessoas, e o conceito de terceira pessoa às vezes
não é puro ou não está presente em todas as instâncias da declinação.15
Apenas na conjunção do eu com o outro, mediada pela língua,
formam-se todos os sentimentos mais profundos e mais nobres que
estimulam o ser humano em sua totalidade, e que em amizade, em amor
e em cada comunidade intelectual tornam a conexão entre dois a mais
elevada e mais íntima.
Se aquilo que emociona os seres humanos interior e exteriormente
passa ou não à linguagem depende da vitalidade de seu sentido
linguístico, vitalidade esta que lhes permite fazer da língua o espelho
de seu mundo. O grau de profundidade da concepção com que isto
ocorre resulta da disposição mais ou menos pura e delicada do espírito
e da imaginação com que o ser humano, mesmo antes de atingir a
clara conscientização de si mesmo, involuntariamente atua sobre sua
língua.
O conceito de dualidade, como o de um número, isto é, uma
noção pura do intelecto, também possui uma feliz equivalência na
linguagem, o que o deixa particularmente apto para entrar nela; porque
nem tudo, ainda que estimule o homem poderosamente, é igualmente
capaz de fazê-lo. Assim, não há diferença entre os seres que chame mais
atenção do que aquela entre o ser vivo e o sem vida. Várias línguas,
particularmente línguas americanas, usam essa diferença como a base
de suas distinções gramaticais, negligenciando a de gênero. Mas, como a
mera condição de estar vivo não contém nada em si que permita se fundir
intimamente com a forma da língua, então as diferenças gramaticais
fundamentadas nela permanecem na língua como uma substância
estranha e comprovam um domínio que não foi totalmente impregnado
pelo sentido linguístico. O dual, por outro lado, não somente se conecta
apenas a uma forma imprescindível da língua, o número, mas, como foi
mostrado acima, também estabelece sua própria posição no pronome.
É, portanto, apenas necessário introduzi-lo na língua para que ele se
sinta em casa.

Ensaios sobre língua e linguagem • 269


Indess kann es auch bei ihm, und giebt es in der That in
verschiedenen Sprachen einen nicht zu vemachlässigenden Unterschied.
Es waltet nämlich in der Bildung der Sprachen, ausser dem schaffenden
Sprachsinn selbst, auch die überhaupt, was sie lebendig berührt, in
die Sprache hinüberzutragen geschäftige Einbildungskraft. Hierin ist
der Sprachsinn nicht immer das herrschende Princip, allein er sollte
es seyn, und die Vollendung ihres Baues schreibt den Sprachen das
unabänderliche Gesetz vor, dass Alles, was in denselben hinübergezogen
wird, seine ursprüngliche Form ablegend, die der Sprache annehme. Nur
so gelingt die Verwandlung der Welt in Sprache, und vollendet sich das
Symbolisiren der Sprache auch vermittelst ihres grammatischen Baues.
Zu einem Beispiel kann das Genus der Wörter dienen. Jede
Sprache, welche dasselbe in sich aufnimmt, steht, meines Erachtens,
schon der reinen Sprachform um einen Schritt näher, als eine, die
sich mit dem Begriff des Lebendigen und Leblosen, obgleich dieser
die Grundlage des Genus ist, begnügt. Allein der Sprachsinn zeigt
nur dann seine Herrschaft, wenn das Geschlecht der Wesen wirklich
zu einem Geschlecht der Wörter gemacht ist, wenn es kein Wort giebt
das nicht, nach den mannigfaltigen Ansichten der sprachbildenden
Phantasie, einem der drei Geschlechter zugetheilt wird. Wenn man dies
unphilosophisch nannte, verkannte man den wahrhaft philosophischen
Sinn der Sprache. Alle Sprachen, die nur die natürlichen Geschlechter
bezeichnen, und kein metaphorisch bezeichnetes Genus anerkennen,
beweisen, dass sie entweder ursprünglich, oder in der Epoche, wo sie
diesen Unterschied der Wörter nicht mehr beachteten, oder über ihn in
Verwirrung gerathend, Masculinum und Neutrum zusammenwarfen,
nicht von der reinen Sprachform energisch durchdrungen waren,
nicht die feine und zarte Deutung verstanden, welche die Sprache den
Gegenständen der Wirklichkeit leiht.
Auch bei dem Dualis kommt es daher darauf an, ob er nur als
empirische Wahrnehmung der paarweis in der Natur vorhandenen
Gegenstände in das Nomen, und als Gefühl der Aneignung und
Abstossung von Menschen und Stämmen in das Pronomen, und mit
diesem gelegentlich in das Verbum übergegangen, oder ob er, wirklich
in die allgemeine Form der Sprache verschmolzen, wahrhaft mit ihr
Eins geworden ist.

270 • Wilhelm von Humboldt


Mas existem diferenças referentes ao dual nas variadas línguas
que precisam ser levadas em consideração, porque, na formação das
línguas, não atua apenas o criativo sentido da linguagem, mas também
a imaginação operosa, que leva tudo o que a toca para a língua.16 Nesse
processo, o sentido da linguagem nem sempre é o princípo dominante,
ainda que devesse ser, e a perfeição em sua construção vai impor às
línguas a lei inalterável de que tudo o que é levado a essa construção
deve abandonar a forma original e adotar aquela da língua. Somente
desta maneira pode suceder a transformação do mundo em língua, e só
assim a simbolização da língua é consumada também por meio de sua
construção gramatical.
O gênero das palavras pode servir como exemplo. Na minha
opinião, qualquer língua que incorpore o gênero está um passo mais
perto da forma pura da língua do que uma que se contente com
o conceito de vivo e sem vida, embora este seja a base do gênero. O
sentido da linguagem somente revela seu domínio quando o sexo
dos seres é realmente transformado em gênero de palavras, quando
não houver nenhuma palavra que não esteja associada a um dos três
gêneros, de acordo com as múltiplas visões da imaginação que atuam
na formação da linguagem. Quando se chamava isto de não filosófico,
não se conhecia o verdadeiro sentido filosófico da linguagem. Todas as
línguas que só referem os sexos naturais e não reconhecem um gênero
metaforicamente designado provam que, originalmente ou na época
em que já não observavam essa diferença de palavras, ou quando a
confundiam e misturavam masculino e neutro, não eram vigorosamente
imbuídas da pura forma da língua e não entendiam a interpretação sutil
e delicada que a língua empresta aos objetos da realidade.
Também seria relevante distinguir, no dual, se ele reflete apenas
uma percepção empírica dos objetos existentes na natureza em pares,
fazendo parte do substantivo, ou se ele apresenta um sentimento de
apropriação e rejeição de pessoas e tribos, fazendo parte dos pronomes
e, assim, ocasionalmente do verbo, ou se ele realmente se fundiu na
forma geral da língua, tendo se tornado verdadeiramente um elemento
integrante dela. A sua inclusão em todas as partes da língua pode
ser uma marca disso, mas esse fato por si só não pode ser decisivo.

Ensaios sobre língua e linguagem • 271


Als ein Kennzeichen hierfür kann allerdings seine durchgängige
Aufnahme in alle Theile der Sprache gelten, doch für sich kann dieser
Umstand allein nicht entscheidend seyn.
Dass der Dualis sich schön in die Angemessenheit der Redefügung
einpasst, indem er die gegenseitigen Beziehungen der Wörter auf
einander vermehrt, auch für sich den lebendigen Eindruck der Sprache
erhöht, und in der philosophischen Erörterung der Schärfe und
Kürze der Verständigung zu Hülfe kommt, dürfte wohl schwerlich
bezweifelt werden. Er hat darin dasjenige voraus, wodurch sich jede
grammatische Form in der Schärfe und Lebendigkeit der Wirkung
vor einer Umschreibung durch Worte unterscheidet. Man vergleiche
nur die Stellen Griechischer und Römischer Dichter, wo von den, auch
als Nachbarsterne in die Augen fallenden Tyndariden, oder sonst von
Brüderpaaren die Rede ist. Wieviel lebendiger und ausdrucksvoller
stellen die einfachen Dualendungen
kρατερόφρονε γείνατο παᑖδε
oder
μινυνθάδίω δὲ γενέσθην
bei Homer die Zwillingsnatur dar, als die Ovidische Umschreibung
es thut,
at gemini, nondum coelestia sidera, fratres,
ambo conspicui, nive candidioribus ambo
vectabantur equis.
Es vermindert diesen Eindruck nicht, dass in der ersten der
angeführten und andren ähnlichen Homerischen Stellen gleich auf den
Dualis der Pluralis folgt. Wenn das Bild einmal mit dem Dual eingeführt
ist, wird auch der Plural nicht anders gefühlt. Es ist vielmehr eine
schöne Freiheit der Griechischen Sprache, dass sie sich das Recht nicht
entziehen lässt, den Plural auch als gemeinschaftliche Mehrheitsform zu
gebrauchen, wenn sie nur, da wo es der Nachdruck erfordert, den Vorzug
der eignen Bezeichnung der Zweiheit behält. Dies aber weitläuftiger
auszuführen, und zu erforschen, ob auch bei den vorzüglichsten
Griechischen Schriftstellern durchgängig ein so feines und richtiges
Gefühl für den Dualis herrscht, wird es erst am Ende dieser Abhandlung
bei der besondren Betrachtung des Griechischen Dualis möglich seyn.

272 • Wilhelm von Humboldt


Ninguém pode duvidar que o dual se encaixa adequadamente na
arquitetura do discurso, multiplicando as relações recíprocas entre as
palavras e aumentando por si a impressão de vitalidade da língua, e
que ele, na discussão filosófica, auxilia na nitidez e na brevidade do
discurso.
Ele leva vantagem no que distingue, em termos de nitidez e
vivacidade de efeito, uma forma gramatical de uma paráfrase com
palavras. Basta comparar trechos nas obras dos poetas gregos e romanos
em que há referência aos Tindáridas, que também chamam atenção
como estrelas vizinhas, ou quando se fala de irmãos gêmeos. Mais
animadas e expressivas são as simples desinências do dual em Homero,17
que representam a natureza gêmea, como em

kρατερόφρονε γείνατο παᑖδε


ou em

μινυνθάδίω δὲ γενέσθην,
do que a paráfrase de Ovídio, em

at gemini, nondum coelestia sidera, fratres,


ambo conspicui, nive candidioribus ambo
vectabantur equis.18

Essa impressão não diminui diante do fato de que, na primeira


citação e em outros trechos semelhantes em Homero, o dual é
imediatamente seguido pelo plural. Uma vez que a imagem é
introduzida com o dual, o plural não é sentido de modo diferente. Trata-
se, na verdade, de uma bela liberdade da língua grega, que não se priva
do direito de usar o plural como uma forma coletiva de pluralidade,
contanto que mantenha uma forma específica que expresse a dualidade
onde a ênfase a exigir. Mas expor isto mais detalhadamente, de modo a
explorar se nos escritores gregos mais requintados há consistentemente
um sentimento fino e correto para com o dual, somente será possível ao
final deste tratado, quando da análise particular do dual grego.

Ensaios sobre língua e linguagem • 273


Nach allem bis hierher Gesagten scheint es mir nicht nothwendig,
noch diejenigen zu widerlegen, welche den Dualis einen Luxus und
Auswuchs der Sprachen nennen. Die Ansicht der Sprache, welche
dieselbe mit dem ganzen und vollen Menschen und dem Tiefsten in
ihm in Verbindung setzt, kann dahin nicht führen, und mit dieser allein
haben wir es hier zu thun. Ich beschliesse daher hier den allgemeinen
Theil dieser Untersuchungen, und werde in den folgenden zu der
Betrachtung der einzelnen Sprachen nach den, weiter oben in Absicht
der Behandlung des Dualis abgetheilten drei Classen übergehen.

274 • Wilhelm von Humboldt


Depois de tudo o que foi dito aqui, parece-me que não é necessário
refutar aqueles que consideram o dual um luxo e um excesso das línguas.
A visão da língua, que a vincula ao ser humano por inteiro e com o que
há de mais profundo nele, não pode levar a esse tipo de julgamento, e
é somente com essa visão que estamos lidando aqui. Encerro, portanto,
aqui a parte geral destas investigações e passarei, nas seguintes, à análise
das línguas individuais de acordo com as três classes do dual acima
estabelecidas para esse fim.

Ensaios sobre língua e linguagem • 275


— Comentário —

Enquanto o tratado sobre a língua chinesa dá destaque a uma questão


superior (semiótica e filosófica) e, deste modo, mostra o caminho que um
dos tipos de monografia deveria tomar, ou seja, concentrar-se em línguas
individuais, Humboldt aqui dá um exemplo do segundo tipo de monografia, a
de uma única categoria linguística em todas as línguas.
Esse modo de abordar a questão revela, neste discurso, a imensa extensão
do conhecimento linguístico de Humboldt, que, como afirma seu irmão
Alexander no prefácio à obra sobre o kawi, tinha um conhecimento mais
profundo e mais abrangente sobre a estrutura de uma grande quantidade
línguas do que qualquer contemporâneo seu.
Tais investigações têm, acima de tudo, a tarefa de mediar entre a
gramática geral, pura e filosófica, e a gramática histórica e empírica das
línguas individuais, i.e., elas devem impedir tanto o vício do sistema da
gramática filosófica quanto o contentamento com a busca completa dos fatos
da gramática empírica.
“Criar unidade na diversidade”. Com essa descrição de Kant da função
da síntese, Humboldt descreve o conceito desse empreendimento, ou seja,
não se trata apenas de colocar diferentes casos individuais sob o conceito
imutável de dual, mas de formar algo novo, o concreto geral, a partir da
combinação do puro conceito e das manifestações individuais. A primeira
parte do ensaio, portanto, apresenta os fatos históricos em uma visão geral
das línguas do mundo, e a segunda desenvolve o dual com base em ideias
gerais; juntas, elas cumprem a intenção de Humboldt.
Humboldt dá duas razões bastante superficiais por que ele escolheu
o dual. A razão mais profunda, que está explicitada no início, é que o dual
serve tão bem para a conclusão das coisas por meio de uma única combinação
simples e fixa, ou seja, que essa forma gramatical, em particular, simboliza o
tema básico de Humboldt da união do separado, a síntese, na qual a perfeição
se fundamenta.
Mais claro do que todos os outros discursos sobre a língua, o discurso
sobre o dual estabelece explicitamente uma conexão com as primeiras
tentativas de Humboldt de fundação da síntese no âmbito sexual, cuja forma
sublime, a conversa, tem como fim a fusão linguística entre eu e tu. Isso dá

276 • Wilhelm von Humboldt


a Humboldt a oportunidade de elaborar muito claramente a consagração da
síntese linguística na dimensão pragmática.

———

Ensaios sobre língua e linguagem • 277


— Notas —

1
Ver Ueber das vergleichende Sprachstudium ([1820] 1960-1981).
2
Esse trecho reitera a intenção de Humboldt de criar uma linguística que mediaria
entre o filosófico e o histórico-empírico na investigação sobre as línguas, e também
revela, portanto, a lacuna existente entre a linguística e o paradigma da chamada
linguística histórico-comparativa, que estava se estabelecendo no século XIX e que
não só se orientava cada vez mais histórica e empiricamente, como também reduziu
o histórico ao diacrônico.
3
A legitimidade da autonomia de toda ciência (incluindo as ciências naturais), em
razão do “objetivo mais alto e geral do esforço total do espírito humano”, a qual tam-
bém caracteriza o conceito de universidade de Humboldt, inclusive em sua forma
organizacional, perdeu sua credibilidade sob as condições pós-modernas, segundo
o diagnóstico de Lyotard (1979). Sem querer decidir sobre esta última questão rela-
tiva à teoria das ciências, a orientação de Humboldt para com os últimos fins da raça
humana parece ser a de um corretivo, tanto em relação ao indiferentismo e relativis-
mo cultural (e outros) em que anything goes, como contra a arrogância cultural, que
Humboldt critica mais adiante, no comentário sobre Schmitthenner.
4
Essa unilateralidade do questionamento linguístico se intensificou ainda mais no
século XIX, quando foi praticamente igualada à linguística, uma tendência incen-
tivada pelo sucesso das obras de Grimm, Bopp e A. W. v. Schlegel. Para Humboldt,
tratava-se apenas de uma das possíveis questões relativas à “arquitetura” das línguas.
5
Aqui Humboldt adverte contra entender o conceito de parentesco biologicamente,
ou seja, racista, uma tendência já emergente em sua época.
6
As demais seções previstas não foram escritas. No manuscrito, há apenas o título
da segunda seção: “Sobre as línguas em que o dual aparece preferencialmente como
uma forma pronominal.”
7
A suposição de Humboldt de que as línguas celtas são línguas indo-europeias foi
plenamente confirmada pela área de estudos indo-europeus.
8
Esse é o tema da obra sobre a língua kawi; ver também Ueber die Sprache der
Südseeinseln (“Sobre as línguas do Pacífico Sul”).
9
J. C. Adelung e J. S. Vater, [1806-17] 1970.
10
Adrian Balbi, Atlas ethnograpique du globe ou Classification des peuples anciens et
modernes d’apres leurs langues, Paris, 1826.
11
O “sentido da linguagem” é universal (todos os seres humanos o têm) e aberto à
diversidade (as pessoas o têm em diferentes graus e de diferentes formas). Essa ex-
pressão é, obviamente, formada por analogia ao sensus communis, de Kant (1963, p.
156). Nem um nem outro deve ser interpretado em termos biológicos.
12
A questão da relação entre o espaço como uma forma pura de intuição e o pronome
pessoal é contemplada em Ueber die Verwandtschaft der Ortsadverbien mit dem Pro-

278 • Wilhelm von Humboldt


nomen in einigen Sprachen ([1829] 1960-1981) (“Sobre o parentesco dos advérbios
de lugar com os pronomes em certas línguas”).
13
Aqui Humboldt estabelece uma explícita conexão com seu ensaio Ueber den
Geschlechstunterschied, publicado em Horen, em 1795 (“Sobre a diferença de gê-
nero”). Bernhardi, a fonte fiel de Humboldt para a gramática pura, escreve sobre o
dual: “A ligação entre homem e mulher, falante e ouvinte, gerou uma forma tão ab-
rangente, mas ela não é de modo algum necessária” (BERNHARDI, [1805] 1990,
p.128).
14
A passagem sobre o diálogo, que vai até “não é apenas justaposto a um deles, mas aos
dois” e que Humboldt levou para o trabalho posterior Über die Verschiedenheiten
des Menschlichen Sprachbaus ([1830-35] 1960-1981), contém o núcleo da filosofia
da linguagem de Humboldt, a síntese semântico-pragmática da língua, que é reto-
mado no § 14 da introdução à língua kawi.
15
Essa questão continua a ser discutida em Ueber die Verwandtschaft der Ortsadverbien
mit dem Pronomen in einigen Sprachen ([1829] 1960-1981).
16
A relação entre o sentido da linguagem e a imaginação, em Humboldt, pode ser
determinada de tal maneira que o sentido da linguagem, enquanto força da síntese
da espontaneidade (mente) e da receptividade (sensação), tome o lugar sistemático
da imaginação kantiana. Como para Humboldt a imaginação está mais próxima ao
sensorial, o sentido da linguagem, para ele, não coincide com a imaginação, mas
pode ser considerado, no máximo, como a sua forma menos sensorial. O sentido
da linguagem, portanto, corresponde ao “espírito” (de cujo trabalho ele é o “órgão”),
que é algo não sensorial, mas que consideramos suficientemente físico para ser ca-
paz de aparecer. Cabe ao sentido da linguagem formar a língua de maneira que fique
o mais semelhante possível (simbólico) ao organismo do pensamento a priori (Ver
Sobre o surgimento das formas gramaticais).
17
Odisseia, 11, v. 299: “[que a Tindáreo] deu dois filhos de ânimo rijo”; e 11, v. 307:
“Deu à luz dois filhos, mas tiveram vida curta” (Trad. de Frederico Lourenço, 2011).
18
Metamorfoses, 8, v. 372.: “Ora, os dois irmãos gêmeos, que ainda não eram astros
celestes, ambos notáveis, ambos montados em cavalos mais brancos que a neve”
(Trad. de Domingos Lucas Dias, 2017).

Ensaios sobre língua e linguagem • 279


Charakter der Sprachen.
Poesie und Prosa

Ich habe bis hierher einzelne Punkte des gegenseitigen Einflusses


des Charakters der Nationen und der Sprachen berührt. Es giebt aber
zwei Erscheinungen in den letzteren, in welchen nicht nur alle am
entschiedensten zusammentreffen, sondern wo sich auch dermassen
der Einfluss des Ganzen offenbart, dass selbst der Begriff des Einzelnen
daraus verschwindet, die Poesie und die Prosa. Man muss sie
Erscheinungen der Sprache nennen, da schon die ursprüngliche Anlage
dieser vorzugsweise die Richtung zu der einen oder andren oder, wo
die Form wahrhaft grossartig ist, zur gleichen Entwicklung beider in
gesetzmässigem Verhältniss giebt und auch wieder in ihrem Verlaufe
darauf zurückwirkt.1 In der That aber sind sie zuerst Entwicklungsbahnen
der Intellectualität selbst und müssen sich, wenn ihre Anlage nicht
mangelhaft ist und ihr Lauf keine Störungen erleidet, nothwendig aus
ihr entspinnen. Sie erfordern daher das sorgfältigste Studium nicht nur
in ihrem Verhältniss zu einander überhaupt, sondern auch insbesondere
in Beziehung auf die Zeit ihrer Entstehung.
Wenn man beide zugleich von der in ihnen am meisten concreten
und idealen Seite betrachtet, so schlagen sie zu ähnlichem Zweck
verschiedene Pfade ein. Denn beide bewegen sich von der Wirklichkeit
aus zu einem ihr nicht angehörenden Etwas: die Poesie fasst die
Wirklichkeit in ihrer sinnlichen Erscheinung, wie sie äusserlich und
innerlich empfunden wird, auf, ist aber unbekümmert um dasjenige,
wodurch sie Wirklichkeit ist, stösst vielmehr diesen ihren Charakter
absichtlich zurück. Die sinnliche Erscheinung verknüpft sie sodann
vor der Einbildungskraft und führt durch sie zur Anschauung eines
künstlerisch idealischen Ganzen. Die Prosa sucht in der Wirklichkeit
gerade die Wurzeln, durch welche sie am Daseyn haftet, und die
Fäden ihrer Verbindungen mit demselben.3 Sie verknüpft alsdann auf
intellectuellem Wege Thatsache mit Thatsache und Begriffe mit Begriffen
und strebt nach einem objectiven Zusammenhang in einer Idee.

280 • Wilhelm von Humboldt


O caráter das línguas:
poesia e prosa

Até o momento, toquei em pontos específicos da influência mútua


do caráter das nações e das línguas. Há, porém, dois fenômenos nestas,
a poesia e a prosa, nos quais não apenas todos esses pontos convergem
de maneira mais decisiva, como também a influência do todo é revelada
de tal modo, que até mesmo o conceito de individual desaparece
neles. Deve-se denominá-los fenômenos da linguagem, uma vez que
a predisposição original desta dá preferência ao desenvolvimento de
um ou de outro, ou, onde a forma é verdadeiramente magnífica, dá
o mesmo desenvolvimento a ambos, numa relação regular, além de
ter efeito no curso desse desenvolvimento1. Mas, na realidade, esses
fenômenos são primeiramente trajetórias de desenvolvimento da própria
intelectualidade e devem, necessariamente, caso sua predisposição não
seja deficiente e seu curso não sofra distúrbios, desencadear-se a partir
dela. Eles exigem, consequentemente, um estudo o mais cuidadoso
possível não somente da relação em si, mas especialmente do tempo de
sua formação.
Ao observá-los pelo lado mais concreto e ideal, percebe-se que
percorrem caminhos diferentes para uma finalidade semelhante, pois
ambos partem da realidade e se movimentam em direção a algo que
não lhes pertence: a poesia conceitua a realidade em sua manifestação
sensorial, o modo como esta é sentida externa e interiormente, mas
não se preocupa com aquilo que a torna realidade e rejeita esse seu
caráter intencionalmente.2 Em seguida, a poesia vincula a manifestação
sensorial à imaginação e conduz, por meio desta, à visão de um todo
artisticamente ideal. A prosa procura, na realidade, as raízes através das
quais ela adere à existência e as linhas de suas conexões com esta.3 Depois,
ela combina intelectualmente fato com fato, conceitos com conceitos e
aspira a um contexto objetivo em uma ideia. Traça-se aqui um esboço das
diferenças entre os dois fenômenos da linguagem, de como essa diferença
se expressa no espírito em conformidade com seu verdadeiro ser.

Ensaios sobre língua e linguagem • 281


Der Unterschied beider ist hier so gezeichnet, wie er nach ihrem wahren
Wesen im Geiste sich ausspricht. Sieht man bloss auf die mögliche
Erscheinung in der Sprache und auch in dieser nur auf eine, in der
Verbindung höchst mächtige, aber vereinzelt fast gleichgültige Seite
derselben, so kann die innere prosaische Richtung in gebundener und
die poetische in freier Rede ausgeführt werden, meistentheils aber nur
auf Kosten beider, so dass das poetisch ausgedrückte Prosaische weder
den Charakter der Prosa noch den der Poesie ganz an sich trägt und
ebenso in Prosa gekleidete Poesie. Der poetische Gehalt führt gewaltsam
auch das poetische Gewand herbei und es fehlt nicht an Beispielen, dass
Dichter im Gefühle dieser Gewalt das in Prosa Begonnene in Versen
vollendet haben. Beiden gemeinschaftlich, um zu ihrem wahren Wesen
zurückzukehren, ist die Spannung und der Umfang der Seelenkräfte,
welche die Verbindung der vollen Durchdringung der Wirklichkeit
mit dem Erreichen eines idealen Zusammenhanges unendlicher
Mannigfaltigkeit erfordert, und die Sammlung des Gemüthes auf die
consequente Verfolgung des bestimmten Pfades. Doch muss diese wieder
so aufgefasst werden, dass sie die Verfolgung des entgegengesetzten
im Geiste der Nation nicht ausschliesst, sondern vielmehr befördert.
Beide, die poetische und prosaische Stimmung müssen sich zu dem
Gemeinsamen ergänzen, den Menschen tief in die Wirklichkeit Wurzel
schlagen zu lassen, aber nur, damit sein Wuchs sich desto fröhlicher über
sie in ein freieres Element erheben kann. Die Poesie eines Volkes hat
nicht den höchsten Gipfel erreicht, wenn sie nicht in ihrer Vielseitigkeit
und in der freien Geschmeidigkeit ihres Schwunges zugleich die
Möglichkeit einer entsprechenden Entwicklung in Prosa verkündet. Da
der menschliche Geist, in Kraft und Freiheit gedacht, zu der Gestaltung
von beiden gelangen muss, so erkennt man die eine an der andren, wie
man dem Bruchstück eines Bildwerks ansieht, ob es Theil einer Gruppe
gewesen ist.

282 • Wilhelm von Humboldt


Caso se veja apenas uma manifestação possível na língua, e também
aqui apenas um lado seu numa conexão mais potente, embora
individualmente quase indiferente, então a intenção interior prosaica
pode ser concretizada em discurso lírico e a poética em discurso livre,
mas na maioria dos casos somente à custa de ambas, de modo que o
prosaico expressado poeticamente não carrega o caráter da prosa nem
o da poesia inteiramente, assim como acontece com a poesia vestida de
prosa. O conteúdo poético induz forçosamente à vestimenta poética e
não faltam exemplos de poetas que, sentindo essa força, concluíram
em versos o que começaram em prosa. O que ambas têm em comum,
para voltar à verdadeira essência de cada uma, é a tensão e o alcance
das forças da alma, estas exigidas para estabelecer um vínculo entre a
penetração total da realidade e a obtenção de uma conexão ideal de
multiplicidade infinita. Elas também compartilham a concentração do
ânimo no prosseguimento coerente de cada percurso em particular.
Esse prosseguimento, porém, deve ser compreendido de tal maneira
que um percurso não exclua o seu oposto no espírito da nação,
mas o estimule. Ambas, a ambiência poética e a prosaica, devem se
complementar no conjunto, tornando o ser humano profundamente
enraizado na realidade, mas apenas para que seu crescimento possa se
elevar mais contente sobre ela, como um elemento mais livre. A poesia
de um povo não terá alcançado o zênite se ela não anunciar ao mesmo
tempo, em sua versatilidade e na maleabilidade livre de seu impulso, a
possibilidade de um desenvolvimento correspondente na prosa. Como
o espírito humano, concebido na força e na liberdade, deve alcançar
a formação de ambas, então se reconhece uma na outra, assim como
se reconhece, olhando para o fragmento de uma escultura, se este foi
parte de um conjunto.

Ensaios sobre língua e linguagem • 283


Die Prosa kann aber auch bei blosser Darstellung des Wirklichen
und bei ganz äusserlichen Zwecken stehen bleiben, gewissermassen nur
Mittheilung von Sachen, nicht Anregung von Ideen oder Empfindungen
seyn. Dann weicht sie nicht von der gewöhnlichen Rede ab und
erreicht nicht die Höhe ihres eigentlichen Wesens. Sie ist dann nicht
eine Entwicklungsbahn der Intellectualität zu nennen und hat keine
formale, sondern nur materielle Beziehungen. Wo sie den höheren
Weg verfolgt, bedarf sie, um zum Ziele zu gelangen, auch tiefer in
das Gemüth eingreifender Mittel und erhebt sich dann zu derjenigen
veredelten Rede, von der allein gesprochen werden kann, wenn man sie
als Gefährtin der Poesie auf der intellektuellen Laufbahn der Nationen
betrachtet. Sie verlangt alsdann das Umfassen ihres Gegenstandes
mit allen vereinten Kräften des Gemüths, woraus zugleich eine
Behandlung entsteht, welche denselben als nach allen Seiten Strahlen
aussendend zeigt, auf die er Wirkung ausüben kann. Der sondernde
Verstand ist nicht allein thätig, die übrigen Kräfte wirken mit und
bilden die Auffassung, die man mit höherem Ausdruck die geistvolle
nennt. In dieser Einheit trägt der Geist auch, ausser der Bearbeitung
des Gegenstandes, das Gepräge seiner eignen Stimmung in die Rede
über. Die Sprache, durch den Schwung des Gedanken gehoben, macht
ihre Vorzüge geltend, ordnet sie aber dem hier gesetzgebenden Zwecke
unter. Die sittliche Gefühlsstimmung theilt sich der Sprache mit und die
Seele leuchtet aus dem Style hervor. Auf eine ihr ganz eigenthümliche
Weise offenbart sich aber in der Prosa durch die Unterordnung und
Gegeneinanderstellung der Sätze die, der Gedankenentwicklung
entsprechende logische Eurhythmie, welche der prosaischen Rede
in der allgemeinen Erhebung durch ihren besondren Zweck geboten
wird. Wenn sich der Dichter dieser zu sehr überlässt, so macht er die
Poesie der rhetorischen Prosa ähnlich. Indem nun alles hier einzeln
Genannte in der geistvollen Prosa zusammenwirkt, zeichnet sich in
ihr die ganze lebendige Entstehung des Gedanken, das Ringen des
Geistes mit seinem Gegenstande. Wo dieser es erlaubt, gestaltet sich
der Gedanke wie eine freie, unmittelbare Eingebung und ahmt auf
dem Gebiete der Wahrheit die selbstständige Schönheit der Dichtung
nach.

284 • Wilhelm von Humboldt


A prosa, no entanto, pode permanecer na mera representação
do real e nos fins puramente externos e, em certa medida, apenas na
comunicação de coisas, e não estimular ideias ou sensações. Nesse caso,
não se desvia do discurso corrente e não alcança a altura de sua própria
essência. A prosa não pode, então, ser considerada um caminho para
o desenvolvimento da intelectualidade e não tem nenhuma relação
formal com ela, mas apenas material. Onde ela tenta seguir o caminho
mais alto, precisa de meios que penetrem mais profundamente no
ânimo, a fim de alcançar seus objetivos, e se eleva a esse discurso
refinado, do qual só se pode falar quando se vê a prosa como uma
companheira da poesia na trajetória intelectual das nações. Ela deve,
nesse caso, abranger seu objeto com todas as forças unificadas do
ânimo, o que resulta num tratamento que mostra esse objeto como
algo que emite raios para todos os lados sobre os quais ele possa
exercer um efeito. A mente analítica não trabalha sozinha, as outras
forças contribuem e formam uma concepção que, para usarmos uma
expressão mais elevada, pode ser chamada plena de espírito.4 Nessa
unidade, o espírito também carrega, além do processamento do
objeto, um traço de seu próprio ânimo no discurso. A língua, elevada
pelo impulso do pensamento, afirma seus méritos, mas se subordina
ao fim que a rege. O sentimento moral se comunica com a língua e
a alma brilha para além do estilo. No entanto, de uma forma muito
singular revela-se em prosa, através da subordinação e da justaposição
das frases, a euritmia lógica do desenvolvimento do pensamento, que,
proporcionada ao discurso prosaico, eleva-o de modo geral para um fim
especial. Se o poeta se entrega demais a essa euritmia lógica, ele torna
a poesia semelhante à prosa retórica. Como tudo aqui mencionado
colabora com a prosa espirituosa, retrata-se nela toda a gênese viva
do pensamento, a luta do espírito com seu objeto. Onde este permite,
o pensamento aparece como uma inspiração livre, imediata e imita a
beleza autônoma da poesia no campo da verdade.

Ensaios sobre língua e linguagem • 285


Aus allem diesem ergiebt sich, dass Poesie und Prosa durch
dieselben allgemeinen Forderungen bedingt sind. In beiden muss ein von
innen entstehender Schwung den Geist heben und tragen. Der Mensch
in seiner ganzen Eigenthümlichkeit muss sich mit dem Gedanken nach
der äusseren und inneren Welt hinbewegen und, indem er Einzelnes
erfasst, auch dem Einzelnen die Form lassen, die es an das Ganze
knüpft. In ihren Richtungen aber und den Mitteln ihres Wirkens sind
beide verschieden und können eigentlich nie miteinander vermischt
werden. In Rücksicht auf die Sprache ist auch besonders zu beachten,
dass die Poesie in ihrem wahren Wesen von Musik unzertrennlich ist,
die Prosa dagegen sich ausschliesslich der Sprache anvertraut. Wie
genau die Poesie der Griechen mit Instrumentalmusik verbunden war,
ist bekannt und das Gleiche gilt von der lyrischen Poesie der Hebräer.
Auch von der Einwirkung der verschiedenen Tonarten auf die Poesie
ist oben gesprochen worden. Wie poetisch Gedanke und Sprache seyn
möge, fühlt man sich, wenn das musikalische Element fehlt, nicht auf
dem wahren Gebiete der Poesie. Daher der natürliche Bund zwischen
grossen Dichtern und Componisten, obgleich die Neigung der Musik,
sich in unbeschränkter Selbstständigkeit zu entwickeln, auch wohl die
Poesie absichtlich in Schatten stellt.
Genau genommen lässt sich nie sagen, dass die Prosa aus der
Poesie hervorgeht. Auch wo beide, wie in der Griechischen Literatur,
historisch* in der That so erscheinen, kann dies doch nur richtig so
erklärt werden, dass die Prosa aus einem, durch die ächteste und
mannigfaltigste Poesie Jahrhunderte lang bearbeiteten Geiste und in
einer auf diese Weise gebildeten Sprache entsprang. Beides aber ist
wesentlich verschieden.

* Eine sehr geistvolle und von tiefer und gründlicher Lesung der Alten zeugende Ueber-
sicht des Ganges der Griechischen Literatur in Absicht auf Redefügung und Styl giebt
die Einleitung zu Bernhardy‘s wissenschaftlicher Syntax der Griechischen Sprache.

286 • Wilhelm von Humboldt


Resulta de tudo isso que poesia e prosa estão condicionadas
às mesmas exigências gerais. Em ambas, um impulso interno deve
levantar e carregar o espírito. O homem com toda sua particularidade
deve mover-se com o pensamento ao mundo exterior e interior e,
capturando algo individual, deixar o individual tomar a forma que o
conecta ao todo. Em suas trajetórias, entretanto, e quanto aos meios de
seu efeitos, ambas são diferentes e nunca deveriam ser misturadas. Com
relação à língua, é particularmente importante observar que a poesia é
inseparável da música em sua verdadeira essência, enquanto a prosa se
confia exclusivamente à língua. A precisão com que a poesia dos gregos
foi associada à música instrumental é conhecida, e pode-se dizer o
mesmo da poesia lírica dos hebreus. Acima já se falou da influência das
várias tonalidades sobre a poesia. Por mais poéticos que o pensamento
e a linguagem sejam, o ser humano não se sente na verdadeira área da
poesia se o elemento musical estiver ausente. Portanto, a aliança natural
entre grandes poetas e compositores, apesar da tendência da música de
se desenvolver com autonomia ilimitada, tem o efeito, talvez deliberado,
de eclipsar a poesia.
Na verdade, nunca se pode dizer que a prosa se origina da poesia.
Mesmo onde ambas aparecem historicamente* juntas, como na literatura
grega, isso somente pode ser explicado corretamente considerando-se
que a prosa emanou de um espírito formado pela poesia mais genuína
e variada durante séculos e de uma linguagem assim desenvolvida.
Mas ambas são significativamente diferentes. O germe da prosa grega,
como o da poesia, já estava originalmente no espírito grego. Por meio
da individualidade desse espírito, ambos, intactos em sua essência,
correspondem um ao outro no que diz respeito a seu caráter singular.
A poesia grega já mostra o voo abrangente e livre do espírito, que cria a
necessidade da prosa.

* A introdução do livro de Bernhardi sobre a sintaxe científica da língua grega, cujo


objetivo é a análise da construção e do estilo, traz uma visão bastante aprimorada do
percurso da literatura grega, com uma leitura profunda e minuciosa de obras antigas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 287


Der Keim zur Griechischen Prosa lag, wie der zur Poesie, schon
ursprünglich im Griechischen Geiste, durch dessen Individualität
auch beide, ihrem Wesen unbeschadet, einander in ihrem
eigenthümlichen Gepräge entsprechen. Schon die Griechische Poesie
zeigt den weiten und freien Aufflug des Geistes, der das Bedürfniss
der Prosa hervorbringt. Beider Entwicklung war vollkommen
naturgemäss aus gemeinschaftlichem Ursprung und einem beide
zugleich umfassenden intellectuellen Drange, der nur durch äussere
Umstände hätte an der Vollendung seiner Entwicklung verhindert
werden können. Noch weniger lässt sich die höhere Prosa als durch
eine, noch so sehr von dem bestimmten Zwecke der Rede und
feinem Geschmack geminderte Beimischung poetischer Elemente
entstehend erklären. Die Unterschiede beider in ihrem Wesen üben
ihre Wirkung natürlich auch in der Sprache aus und die poetische
und prosaische haben jede ihre Eigenthümlichkeiten in der Wahl der
Ausdrücke, der grammatischen Formen und Fügungen. Viel weiter
aber, als durch diese Einzelnheiten werden sie durch den in ihrem
tieferen Wesen gegründeten Ton des Ganzen auseinandergehalten.
Der Kreis des Poetischen ist, wie unendlich und unerschöpflich auch
in seinem Innren, doch immer ein geschlossener, der nicht Alles in
sich aufnimmt oder dem Aufgenommenen nicht seine ursprüngliche
Natur lässt; der durch keine äussere Form gebundene Gedanke kann
sich in freier Entwicklung nach allen Seiten hin weiter bewegen,
sowohl in der Auffassung des Einzelnen, als in der Zusammenfügung
der allgemeinen Idee. Insofern liegt das Bedürfniss zur Ausbildung der
Prosa in dem Reichtum und der Freiheit der Intellectualität und macht
die Prosa gewissen Perioden der geistigen Bildung eigenthümlich. Sie
hat aber auch noch eine andere Seite, durch welche sie reizt und sich
dem Gemüthe einschmeichelt: ihre nahe Verwandtschaft mit den
Verhältnissen des gewöhnlichen Lebens, das durch ihre Veredlung in
seiner Geistigkeit gesteigert werden kann, ohne darum an Wahrheit
und natürlicher Einfachheit zu verlieren. Von dieser Seite her kann
sogar die Poesie die prosaische Einkleidung wählen, um gleichsam die
Empfindung in ihrer ganzen Reinheit und Wahrheit darzustellen.

288 • Wilhelm von Humboldt


A poesia e a prosa nasceram, de modo completamente natural, de uma
origem em comum e de um ímpeto intelectual abrangendo ambas, cujo
desenvolvimento pleno somente por circunstâncias externas poderia
ter sido impedido. A prosa sofisticada não pode ser explicada como
o resultado de uma mistura de elementos poéticos, limitada por fins
específicos da fala e do bom gosto. As diferenças entre ambas, em sua
natureza, exercem efeito também na linguagem, e tanto a linguagem
poética quanto a prosaica têm suas características particulares na
escolha das expressões, das formas gramaticais e das contruções.
Entretanto, elas se encontram bem mais distantes entre si quanto
ao som do todo, instituído em sua essência mais profunda, do que
em relação a esses detalhes. O círculo poético, infinito e inesgotável
também em seu interior, é sempre fechado, não toma tudo para si
mesmo ou não revela sua natureza original naquilo que fica gravado.
O pensamento, não sendo limitado por qualquer modelo externo,
pode mover-se num desenvolvimento livre para todas as direções,
tanto na concepção do individual como na sintetização de uma ideia
geral. Nesse sentido, a necessidade de formação da prosa reside na
riqueza e na liberdade da intelectualidade e torna a prosa singular em
certos períodos da formação intelectual. Mas ela também tem outro
lado, pelo qual ela seduz e encanta o ânimo: sua íntima afinidade com
as circunstâncias da vida ordinária, podendo esta ser intensificada em
sua espiritualidade com o refinamento da prosa, sem perder a verdade
e a simplicidade natural. Desta perspectiva, até a poesia pode escolher
a vestimenta prosaica para retratar a sensação em toda sua pureza e
verdade.

Ensaios sobre língua e linguagem • 289


Wie der Mensch selbst der Sprache, als das Gemüth begränzend und
seine reinen Aeusserungen entstellend, abhold seyn und sich nach
einem Empfinden und Denken ohne ein solches Medium sehnen
kann, ebenso kann er sich durch Ablegung alles ihres Schmuckes,
auch in der höchsten poetischen Stimmung, zu der Einfachheit der
Prosa flüchten. Die Poesie trägt ihrem Wesen nach immer auch eine
äussere Kunstform an sich. Es kann aber in der Seele eine Neigung zur
Natur im Gegensatz mit der Kunst, jedoch dergestalt geben, dass dem
Gefühl der Natur übrigens ihr ganzer idealer Gehalt bewahrt wird,
und dies scheint in der That den neuern gebildeten Völkern eigen
zu seyn. Gewiss wenigstens - und dies hängt zugleich mit der bei
gleicher Tiefe weniger sinnlichen Formung unsrer Sprache zusammen
- liegt dies in unserer Deutschen Sinnesart. Der Dichter kann
alsdann absichtlich den Verhältnissen des wirklichen Lebens nahe
bleiben und, wenn die Macht seines Genies dazu hinreicht, ein ächt
poetisches Werk in prosaischer Einkleidung ausführen. Ich brauche
hier nur an Göthe‘s Werther zu erinnern, von dem jeder Leser fühlen
wird, wie nothwendig die äussere Form mit dem inneren Gehalte
zusammenhängt. Ich erwähne dies jedoch nur, um zu zeigen, wie aus
ganz verschiedenen Seelenstimmungen Stellungen der Poesie und
Prosa gegen einander und Verknüpfungen ihres inneren und äusseren
Wesens entstehen können, welche alle auf den Charakter der Sprache
Einfluss haben, aber auch alle wieder, was uns noch sichtbarer ist, ihre
Rückwirkung erfahren.
Die Poesie und Prosa selbst erhalten aber auch jede für sich eine
eigenthümliche Färbung. In der Griechischen Poesie herrschte, in
Gemässheit mit der allgemeinen intellectuellen Eigenthümlichkeit, die
äussere Kunstform vor allem Uebrigen vor. Dies entsprang zugleich
aus ihrer engen und durchgängigen Verknüpfung mit der Musik,
allein auch vorzüglich aus dem feinen Tact, mit welchem sie die
inneren Wirkungen auf das Gemüth abzuwägen und auszugleichen
verstanden. So kleidete sich die alte Komödie in das reichste und
mannigfaltigste rhythmische Gewand. Je tiefer sie oft in Schilderungen
und Ausdrücken zum Gewöhnlichen und sogar zum Gemeinen
hinabstieg, desto mehr fühlte sie die Nothwendigkeit, durch die
Gebundenheit der äusseren Form Haltung und Schwung zu gewinnen.

290 • Wilhelm von Humboldt


Como o próprio homem pode rejeitar a linguagem como um meio
que delimita os sentimentos e atraiçoa suas enunciações puras e ansiar
por um sentir e pensar sem tal meio,5 do mesmo modo ele pode fugir,
no mais elevado ânimo poético, para a simplicidade da prosa ao abrir
mão de qualquer adorno da linguagem. Em sua essência, a poesia
sempre carrega também uma forma de arte externa. No entanto, na
alma pode haver uma tendência à natureza em contraste com a arte,
mas de tal forma que o sentimento da natureza é preservado em todo o
seu conteúdo ideal, o que parece ser característico das recentes nações
cultas. Pelo menos isso com certeza reside na nossa maneira alemã
de sentir – e também depende da profundidade e da formação menos
sensorial da nossa língua. O poeta pode, então, deliberadamente
permanecer perto das circunstâncias da vida real e, se o poder de sua
genialidade é suficiente, realizar um trabalho autenticamente poético
numa vestimenta prosaica. Aqui eu só preciso mencionar o Werther,
de Goethe, no qual cada leitor vai sentir como a forma externa está
relacionada necessariamente ao conteúdo interno. No entanto, só
menciono isso para mostrar como, a partir de disposições da alma
muito diferentes, podem surgir posições justapostas da poesia e da
prosa e combinações entre suas essências interiores e exteriores, que
tudo isso tem um impacto no caráter da língua, além de ter um efeito
retroativo, o que para nós é mais visível.
A poesia e a prosa também recebem, cada uma, uma coloração
particular. Na poesia grega, de acordo com a peculiaridade intelectual
geral, a forma exterior da arte prevaleceu acima de tudo. Isso se originou
de sua conexão próxima e consistente com a música, porém ainda
mais do fino tato com que ela conseguiu equilibrar e igualar os efeitos
internos na alma. Assim, a antiga comédia se vestiu com o mais rico
e variado traje rítmico. Quanto mais ela descia para o comum e até
para o vulgar em descrições e expressões, mais ela sentia a necessidade
de ganhar postura e impulso com a rigidez da forma externa.

Ensaios sobre língua e linguagem • 291


Die Verbindung des hochpoetischen Tones mit der durchaus
praktischen, altväterlichen, auf Sitteneinfacheit und Bürgertugend
gerichteten Gediegenheit der gehaltvollen Parabasen ergreift nun, wie
man lebhaft beim Lesen des Aristophanes fühlt, das Gemüth in einem
sich in seinem Tiefsten wieder vereinigenden Gegensatze. Auch war
den Griechen die Einmischung der Prosa in die Poesie, wie wir sie
bei den Indiern und Shakespeare finden, schlechterdings fremd. Das
empfundene Bedürfniss, sich auf der Bühne dem Gespräch zu nähern,
und das richtige Gefühl, dass auch die ausführlichste Erzählung,
einer spielenden Person in den Mund gelegt, sich von dem epischen
Vortrage des Rhapsoden, an den sie übrigens immer lebhaft erinnerte,
unterscheiden musste, liess für diese Theile des Dramas eigne
Sylbenmasse entstehen, gleichsam Vermittler zwischen der Kunstform
der Poesie und der natürlichen Einfachheit der Prosa. Auf diese selbst
wirkte aber dieselbe allgemeine Stimmung ein und gab auch ihr eine
äusserlich kunstvollere Gestaltung. Die nationelle Eigenthümlichkeit
zeigt sich besonders in der kritischen Ansicht und der Beurtheilung
der grossen Prosaisten. Die Ursach ihrer Trefflichkeit wird da, wo wir
einen ganz andren Weg einschlagen würden, vorzüglich in Feinheiten
des Numerus, kunstvollen Redefiguren und in Aeusserlichkeiten
des Periodenbaues gesucht. Die Zusammenwirkung des Ganzen, die
Anschauung der inneren Gedankenentwicklung, von welcher der
Styl nur ein Abglanz ist, scheint uns bei Lesung solcher Schriften,
wie z.B. der in diese Materie einschlagenden Bücher des Dionysius
von Halikarnass gänzlich zu verschwinden. Es ist indess nicht zu
läugnen, dass, Einseitigkeiten und Spitzfindigkeiten dieser Art der
Kritik abgerechnet, die Schönheit jener grossen Muster mit auf diesen
Einzelnheiten beruht, und das genauere Studium dieser Ansicht führt
uns zugleich tiefer in die Eigenthümlichkeit des Griechischen Geistes
ein. Denn die Werke des Genies üben doch ihre Wirkung nur durch
die Art, wie sie von den Nationen aufgefasst werden, aus und gerade
die Einwirkung auf die Sprachen, mit der wir es hier zu thun haben,
hängt vorzugsweise von dieser Auffassung ab.

292 • Wilhelm von Humboldt


A combinação de tons altamente poéticos nas substanciais parábases,
completamente práticas, tradicionais e dirigidas à simplicidade moral
e à virtude, toma a alma num antagonismo reunido na profundidade
desta, como se sente vividamente na leitura do Aristófanes. Os gregos
não estavam familiarizados com a interferência da prosa na poesia,
como a encontramos nos indianos ou em Shakespeare. A perceptível
necessidade de se abordar a conversa no palco e o correto sentimento
de que até mesmo a narrativa mais detalhada, colocada na boca de
um ator, deve ser distinta da apresentação épica do rapsodo (com a
qual, aliás, sempre teve uma vívida semelhança), levou ao surgimento,
nesta parte do drama, de uma forma prosódica própria, quase como
um mediador entre a forma artística da poesia e a simplicidade
natural da prosa. Nesta, entretanto, atuou a mesma atmosfera geral,
o que lhe conferiu uma configuração externamente mais artística.
Essa peculiaridade nacional fica particularmente evidente na reflexão
crítica e na avaliação dos grandes escritores de prosa. Deve-se procurar
a causa dessa excelência em lugares onde seguiríamos um caminho
completamente diferente, como nas sutilezas de número, figuras de
falas artísticas e em elementos externos da construção dos períodos. A
interação do todo, a visão do desenvolvimento interno do pensamento,
do qual o estilo é apenas um reflexo, parece-nos desaparecer na leitura
desses textos escritos, como nos livros de Dionísio de Halicarnasso.
Mas não se nega que, desconsiderando certas visões unilaterais e
sofismas desse tipo de crítica, a beleza dos grandes padrões também
se apoia nesses detalhes. Um estudo mais preciso dessa abordagem
nos leva, ao mesmo tempo, mais profundamente à peculiaridade do
espírito grego porque as obras do gênio exercem seu efeito apenas pelo
modo como elas são percebidas pelas nações, e precisamente a atuação
sobre as línguas com que estamos lidando aqui depende sobretudo
dessa perceção.

Ensaios sobre língua e linguagem • 293


Die fortschreitende Bildung des Geistes führt zu einer Stufe, wo
er, gleichsam aufhörend zu ahnden und zu vermuthen, die Erkenntniss
zu begründen und ihren Inbegriff in Einheit zusammenzufügen strebt.
Es ist dies die Epoche der Entstehung der Wissenschaft und der sich
aus ihr entwickelnden Gelehrsamkeit und dieser Moment kann nicht
anders, als im höchsten Grade einflussreich auf die Sprache seyn. Von
der, sich in der Schule der Wissenschaft bildenden Terminologie habe
ich schon oben gesprochen. Des allgemeinen Einflusses aber dieser
Epoche ist es hier der Ort zu erwähnen, da die Wissenschaft in strengem
Verstande die prosaische Einkleidung fordert und eine poetische ihr
nur zufällig zu Theil werden kann. In diesem Gebiete nun hat der
Geist es ausschliesslich mit Objectivem zu thun, mit Subjectivem nur
insofern, als dies Nothwendigkeit enthält; er sucht Wahrheit und
Absonderung alles äusseren und inneren Scheins. Die Sprache erhält
also erst durch diese Bearbeitung die letzte Schärfe in der Sonderung
und Feststellung der Begriffe und die reinste Abwägung der zu Einem
Ziele zusammenstrebenden Sätze und ihrer Theile. Da sich aber
durch die wissenschaftliche Form des Gebäudes der Erkenntniss und
die Feststellung des Verhältnisses der letzteren zu dem erkennenden
Vermögen dem Geiste etwas ganz Neues aufthut, welches alles Einzelne
an Erhabenheit übertrifft, so wirkt dies zugleich auf die Sprache ein,
giebt ihr einen Charakter höheren Ernstes und einer, die Begriffe zur
höchsten Klarheit bringenden Stärke. Auf der andren Seite erheischt
aber ihr Gebrauch in diesem Gebiete Kälte und Nüchternheit und in
den Fügungen Vermeidung jeder kunstvolleren, der Leichtigkeit des
Verständnisses schädlichen und dem blossen Zwecke der Darstellung
des Objectes unangemessenen Verschlingung. Der wissenschaftliche
Ton der Prosa ist also ein ganz anderer, als der bisher geschilderte. Die
Sprache soll, ohne eigne Selbstständigkeit geltend zu machen, sich nur
dem Gedanken so eng, als möglich, anschliessen, ihn begleiten und
darstellen. In dem uns übersehbaren Gange des menschlichen Geistes
kann mit Recht Aristoteles der Gründer der Wissenschaft und des auf
sie gerichteten Sinnes genannt werden.

294 • Wilhelm von Humboldt


O avanço da formação do espírito conduz a um estágio em que
ele aspira, como se estivesse parando de intuir e suspeitar, a fundar o
conhecimento e a unificar sua mais alta representação. Essa é a época
do surgimento da ciência e da erudição que evolui a partir dela, e esse
momento não pode deixar de ser altamente influente na linguagem.
Acima já falei da terminologia que se desenvolve na escola da ciência.
Mas aqui é o lugar certo para mencionar a influência geral dessa época,
porque a ciência, em termos restritos, exige a vestimenta prosaica e
apenas por acaso uma vestimenta poética será parte dela. Nesta área, o
espírito lida exclusivamente com a objetividade, mas com subjetividade,
apenas na medida em que esta se faça necessária. Ele busca a verdade
e a separação de todas as aparências exteriores e interiores. Assim,
por esse processo a língua recebe a nitidez final na especialização e na
determinação dos conceitos e o mais puro equilíbrio das frases e suas
partes, que aspiram a um único objetivo. Enquanto a forma científica da
edificação do conhecimento e a determinação da relação deste último
com o potencial de reconhecimento do espírito abre algo completamente
novo, que supera o individual em termos de sublimidade, este ao
mesmo tempo atua na língua, proporcionando-lhe um caráter de maior
seriedade e de uma potência que eleva os conceitos ao mais alto nível
de clareza. Por outro lado, no entanto, o uso da língua nessa área requer
frieza e sobriedade e, nas estruturas, a ausência de qualquer enlace
que prejudique a facilidade de compreensão e que seja inadequado ao
mero propósito de representação do objeto. Portanto, o tom científico
da prosa é bastante diferente do descrito até agora. A linguagem, sem
afirmar sua própria autonomia, deve se conectar ao pensamento o
mais estreitamente possível, acompanhá-lo e apresentá-lo. No curso do
espírito humano que conhecemos, Aristóteles pode justificadamente ser
chamado o fundador da ciência e do sentido dirigido a ela. Embora essa
ambição tenha evidentemente surgido muito mais cedo e o progresso
tenha sido gradual, somente com ele se conseguiu chegar à perfeição
do conceito. Foi como se o conceito tivesse subitamente irrompido de
uma claridade até então desconhecida, revelando uma lacuna definitiva
entre a apresentação e a metodologia de investigação de Aristóteles e a
de seus antecessores mais imediatos, a qual não pode ser explicada por
um desenvolvimento gradual.

Ensaios sobre língua e linguagem • 295


Obgleich das Streben darnach natürlich viel früher entstand und die
Fortschritte allmählich waren, so schloss es sich doch erst mit ihm
zur Vollendung des Begriffes zusammen. Als wäre dieser plötzlich in
bis dahin unbekannter Klarheit in ihm hervorgebrochen, zeigt sich
zwischen seinem Vortrage und der Methodik seiner Untersuchungen
und der seiner unmittelbarsten Vorgänger eine entschiedene, nicht
stufenweis zu vermittelnde Kluft. Er forschte nach Thatsachen,
sammelte dieselben und strebte, sie zu allgemeinen Ideen hinzuleiten.
Er prüfte die vor ihm aufgebauten Systeme, zeigte ihre Unhaltbarkeit
und bemühte sich, dem seinigen eine auf tiefer Ergründung des
erkennenden Vermögens im Menschen ruhende Basis zu geben.
Zugleich brachte er alle Erkenntnisse, die sein riesenmässiger Geist
umfasste, in einen nach Begriffen geordneten Zusammenhang. Aus
einem solchen, zugleich tief strebenden und weitumfassenden, gleich
streng auf Materie und Form der Erkenntniss gerichteten Verfahren, in
welchem die Erforschung der Wahrheit sich vorzüglich durch scharfe
Absonderung alles verführerischen Scheins auszeichnete, musste bei
ihm eine Sprache entstehen, die einen auffallenden Gegensatz mit der
seines unmittelbaren Vorgängers und Zeitgenossen, des Plato, bildete.
Man kann beide in der That nicht in dieselbe Entwicklungsperiode
stellen, muss die Platonische Diction als den Gipfel einer nachher
nicht wieder erstandenen, die Aristotelische als eine neue Epoche
beginnend ansehen. Hierin erblickt man aber auffallend die
Wirkung der eigenthümlichen Behandlungsart der philosophischen
Erkenntniss. Man irrte gewiss sehr, wenn man Aristoteles mehr von
Anmuth entblösste, schmucklose und unläugbar oft harte Sprache
einer natürlichen Nüchternheit und gleichsam Dürftigkeit seines
Geistes zuschreiben wollte. Musik und Dichtung hatten einen grossen
Theil seiner Studien beschäftigt. Ihre Wirkung war, wie man schon
an den wenigen von ihm übrigen Urtheilen in diesem Gebiete sieht,
tief in ihn eingegangen und nur angeborne Neigung konnte ihn zu
diesem Zweige der Literatur geführt haben. Wir besitzen noch einen
Hymnus voll dichterischen Schwunges von ihm, und wenn seine
exoterischen Schriften, besonders die Dialogen auf uns gekommen
wären, so würden wir wahrscheinlich ein ganz anderes Urtheil über
den Umfang seines Styles fällen.

296 • Wilhelm von Humboldt


Ele pesquisou fatos, coletou-os e queria alçá-los a ideias gerais. Testou
os sistemas construídos antes dele, comprovou sua insustentabilidade e
se esforçou em dar ao seu uma base fundada em uma análise profunda
da capacidade cognitiva humana. Ao mesmo tempo, juntou, em uma
estrutura ordenada por conceitos, todo o conhecimento que seu colossal
espírito abrangia. Assim, a partir de um método tanto ambicionado à
profundidade quanto à abrangência, dirigido rigorosamente à matéria
e à forma do conhecimento, de modo equilibrado, um método em que a
exploração da verdade se distinguisse primorosamente pela separação
rigorosa de toda a aparência sedutora, dever-se-ia desenvolver uma
linguagem que expusesse um forte contraste com a do seu antecessor
imediato e contemporâneo, Platão. Não se pode, na verdade, colocar
ambos no mesmo período de desenvolvimento, deve-se considerar
a dicção platônica como o apogeu de uma época irrecuperável e
a aristotélica como uma nova época. Aqui, no entanto, se vê de
forma acentuada o efeito do tratamento peculiar do conhecimento
filosófico. Foi certamente um erro grave querer atribuir à linguagem
de Aristóteles, despojada de graça, sem adornos e sem dúvida muitas
vezes dura, uma sobriedade natural e quase uma pobreza espiritual de
sua parte. A música e a poesia ocuparam grande parte de seus estudos.
Elas penetraram profundamente em seu espírito e somente uma
inclinação inata poderia tê-lo conduzido a esse ramo da literatura,
como se percebe nas poucas avaliações dessa área que sobraram.
Nós ainda dispomos de um hino seu cheio de dinamismo poético e,
se seus escritos esotéricos, especialmente os diálogos, tivessem sido
preservados, provavelmente teríamos um julgamento muito diferente
da dimensão de seu estilo.

Ensaios sobre língua e linguagem • 297


Einzelne Stellen seiner auf uns gekommenen Schriften, besonders
der Ethik zeigen, zu welcher Höhe er sich zu erheben vermochte. Die
wahrhaft tiefe und abgezogne Philosophie hat auch ihre eignen Wege,
zu einem Gipfel grosser Diction zu gelangen. Die Gediegenheit und
selbst die Abgeschlossenheit der Begriffe giebt, wo die Lehre aus ächt
schöpferischem Geiste hervorgeht, auch der Sprache eine mit der
inneren Tiefe zusammenpassende Erhabenheit.
Eine Gestaltung des philosophischen Styls von ganz
eigenthümlicher Schönheit findet sich auch bei uns in der Verfolgung
abgezogener Begriffe in Fichte‘s und Schelling‘s Schriften und, wenn
auch nur einzeln, aber dann wahrhaft ergreifend, in Kant. Die Resultate
factisch wissenschaftlicher Untersuchungen sind vorzugsweise nicht
allein einer ausgearbeiteten und sich aus tiefer und allgemeiner
Ansicht des Ganzen der Natur von selbst hervorbildenden grossartigen
Prosa fähig, sondern eine solche befördert die wissenschaftliche
Untersuchung selbst, indem sie den Geist entzündet, der allein in ihr zu
grossen Entdeckungen führen kann. Wenn ich hier der in dies Gebiet
einschlagenden Werke meines Bruders erwähne, so glaube ich nur ein
allgemeines, oft ausgesprochenes Urtheil zu wiederholen.
Das Feld des Wissens kann sich von allen Punkten aus zum
Allgemeinen zusammenwölben und gerade diese Erhebung und
die genaueste und vollständigste Bearbeitung der thatsächlichen
Grundlagen hängen auf das innigste zusammen. Nur wo die
Gelehrsamkeit und das Streben nach ihrer Erweiterung nicht von
dem ächten Geiste durchdrungen sind, leidet auch die Sprache und
alsdann ist dies eine der Seiten, von welcher der Prosa, ebenso wie vom
Herabsinken des gebildeten, ideenreichen Gespräches zu alltäglichem
oder conventionellem, Verfall droht. Die Werke der Sprache können
nur gedeihen, so lange der, auf seine eigne sich erweiternde Ausbildung
und auf die Verknüpfung des Weltganzen mit seinem Wesen gerichtete
Schwung des Geistes sie mit sich emporträgt. Dieser Schwung
erscheint in unzähligen Abstufungen und Gestalten, strebt aber immer
zuletzt, auch wo der Mensch sich dessen nicht einzeln bewusst ist,
seinem angeborenen Triebe gemäss nach jener grossen Verknüpfung.

298 • Wilhelm von Humboldt


Passagens singulares em seus escritos, especialmente na Ética, mostram
até que ponto ele foi capaz de se elevar. A filosofia verdadeiramente
profunda e pura também tem suas próprias maneiras de chegar a um
cume de grande dicção. A solidez e mesmo a completude dos conceitos,
nos quais o ensinamento emerge de um espírito genuinamente criativo,
também dão à língua uma sublimidade que combina com a profundidade
interna.6
Uma formação do estilo filosófico de beleza bastante particular pode
ser encontrada igualmente na busca por conceitos puros nos escritos de
Fichte e Schelling e, raras vezes, mas verdadeiramente comovente nos
escritos de Kant. Os resultados de estudos científicos baseados em fatos
não são apenas capazes de uma prosa elaborada que se desenvolve de
uma visão profunda e geral da totalidade da natureza por si mesma, mas
tal prosa promove a investigação científica enquanto inflama o espírito
que, por si, pode levar a grandes descobertas. Se mencionasse aqui as
obras de meu irmão nessa área, acredito que estaria somente repetindo
uma avaliação comum, frequentemente pronunciada.
O campo do conhecimento pode se arquear de todos os pontos
em direção ao geral, e precisamente esse arco e o processamento
mais preciso e completo das fundações factuais estão relacionados
de forma mais estreita. Mas onde a erudição e o esforço por sua
ampliação não são permeados pelo genuíno espírito, a linguagem
também sofre. Então, é a partir desse aspecto, entre outros, bem como
do rebaixamento da conversa educada e imaginativa, que a prosa
está ameaçada por deterioração banal ou convencional. A obra da
língua só pode florescer enquanto o impulso do espírito, direcionado
a seu próprio desenvolvimento e à conexão da totalidade do mundo
com sua essência, elevá-la juntamente consigo. Esse impulso aparece
em inúmeras gradações e formas, mas, por fim, sempre se esforça,
mesmo quando o homem não está ciente disso individualmente,
de acordo com seu impulso inato para essa grande ligação.

Ensaios sobre língua e linguagem • 299


Wo sich die intellectuelle Eigenthümlichkeit der Nation nicht kräftig
genug zu dieser Höhe erhebt oder die Sprache im intellectuellen
Sinken einer gebildeten Nation von dem Geiste verlassen wird, dem
sie allein ihre Kraft und ihr blühendes Leben verdanken kann, entsteht
nie eine grossartige Prosa oder zerfällt, wenn sich das Schaffen des
Geistes zu gelehrtem Sammeln verflacht.
Die Poesie kann nur einzelnen Momenten des Lebens und
einzelnen Stimmungen des Geistes angehören, die Prosa begleitet den
Menschen beständig und in Aeusserungen seiner geistigen Thätigkeit.
Sie schmiegt sich jedem Gedanken und jeder Empfindung an, und
wenn sie sich in einer Sprache durch Bestimmtheit, helle Klarheit,
geschmeidige Lebendigkeit, Wohllaut und Zusammenklang zu der
Fähigkeit, sich von jedem Punkte aus zu dem freiesten Streben zu
erheben, aber zugleich zu dem feinen Tact ausgebildet hat, wo und wie
weit ihr diese Erhebung in jedem einzelnen Falle zusteht, so verräth
und befördert sie einen ebenso freien, leichten, immer gleich behutsam
fortstrebenden Gang des Geistes. Es ist dies der höchste Gipfel, den die
Sprache in der Ausbildung ihres Charakters zu erreichen vermag und
der daher, von den ersten Keimen ihrer äusseren Form an, der breitesten
und sichersten Grundlagen bedarf.
Bei einer solchen Gestaltung der Prosa kann die Poesie nicht
zurückgeblieben seyn, da beide aus gemeinschaftlicher Quelle fliessen.
Sie kann aber einen hohen Grad der Trefflichkeit erreichen, ohne
dass auch die Prosa zur gleichen Entwicklung in der Sprache gelangt.
Vollendet wird der Kreis dieser letzteren immer nur durch beide zugleich.
Die Griechische Literatur bietet uns, wenn auch mit grossen und
bedaurungswürdigen Lücken, den Gang der Sprache in dieser Rücksicht
vollständiger und reiner dar, als er uns sonst irgendwo erscheint. Ohne
erkennbaren Einfluss fremder gestalteter Werke, wodurch der fremder
Ideen nicht ausgeschlossen wird, entwickelt sie sich von Homer bis
zu den Byzantinischen Schriftstellern durch alle Phasen ihres Laufes
allein aus sich selbst und aus den Umgestaltungen des nationellen
Geistes durch innere und äussere geschichtliche Umwälzungen.

300 • Wilhelm von Humboldt


Nos momentos em que a particularidade intelectual da nação não é
forte o suficiente para se elevar a essa altura, ou naqueles em que a
linguagem, na decadência intelectual de uma nação culta, é abandonada
pelo espírito a que ela deve sua força e sua vida florescente, nunca
surge uma grande prosa, ou decai, quando as criações do espírito se
reduzem à coleta acadêmica.
A poesia pode pertencer apenas a momentos singulares da vida e
das disposições individuais do espírito, a prosa acompanha o homem
constantemente em todas as manifestações de sua atividade intelectual.
Ela se aconchega a cada pensamento e sensação e, quando se desenvolve
em uma linguagem com determinação, brilhante clareza, vivacidade
flexível, eufonia e harmonia, com a capacidade de se elevar de cada
ponto a uma aspiração mais livre, mas ao mesmo tempo desenvolve
um fino tato para perceber onde e até que ponto ela tem direito a essa
elevação em cada caso, ela revela e amplia um curso livre, leve, sempre
igualmente cauteloso, progredindo do espírito. É o cume mais alto que
a linguagem pode alcançar na formação de seu caráter e que, portanto,
requer, desde os primeiros brotos de sua forma externa, bases mais
amplas e seguras.
Numa tal configuração da prosa, a poesia não pode ser deixada
para trás, visto que ambas fluem de uma fonte comum. Ela pode
alcançar um alto grau de excelência sem que a prosa também chegue
ao mesmo desenvolvimento na língua. O círculo da língua é sempre
concluído por ambas ao mesmo tempo. A literatura grega nos oferece,
embora com grandes e lamentáveis lacunas, o curso da linguagem a
esse respeito de forma mais completa e pura do que em qualquer outro
lugar. Sem uma influência visível de elaborados trabalhos estrangeiros,
o que não significa que ideias estrangeiras tenham sido excluídas, ela
se desenvolve de Homero aos escritores bizantinos, com todas as fases
de seu curso oriundas unicamente de si própria e das transformações
do espírito nacional devido a convulsões históricas internas e externas.

Ensaios sobre língua e linguagem • 301


Die Eigenthümlichkeit der Griechischen Volksstämme bestand in
einer, immer zugleich nach Freiheit und Obermacht, die aber auch
meistentheils gern den Unterworfenen den Schein der ersteren erhielt,
ringenden volksthümlichen Beweglichkeit. Gleich den Wellen des
sie umgebenden, eingeschlossenen Meeres, brachte diese innerhalb
derselben mässigen Gränzen unaufhörliche Veränderungen, Wechsel
der Wohnsitze, der Grösse und der Herrschaft hervor und gab dem Geiste
beständig neue Nahrung und Antrieb, sich in jeder Art der Thätigkeit
zu ergiessen. Wo die Griechen, wie bei Anlegung von Pflanzstädten, in
die Ferne wirkten, herrschte der gleiche volksthümliche Geist. So lange
dieser Zustand währte, durchdrang dies innerliche nationelle Princip
die Sprache und ihre Werke. In dieser Periode fühlt man lebendig
den inneren fortschreitenden Zusammenhang aller Geistesproducte,
das lebendige Ineinandergreifen der Poesie und der Prosa und aller
Gattungen beider. Als aber seit Alexander Griechische Sprache
und Literatur durch Eroberung ausgebreitet wurden und später, als
besiegtem Volke angehörend, sich mit dem weltbeherrschenden der
Sieger verbanden, erhoben sich zwar noch ausgezeichnete Köpfe und
poetische Talente, aber das beseelende Princip war erstorben und mit
ihm das lebendige, aus der Fülle seiner eignen Kraft entspringende
Schaffen. Die Kunde eines grossen Theils des Erdbodens wurde nun
erst wahrhaft eröffnet, die wissenschaftliche Beobachtung und die
systematische Bearbeitung des gesammten Gebietes des Wissens war,
in wahrhaft welthistorischer Verbindung eines thaten- und eines
ideenreichen ausserordentlichen Mannes, durch Aristoteles Lehre
und Vorbild dem Geiste klar geworden. Die Welt der Objecte trat
mit überwiegender Gewalt dem subjectiven Schallen gegenüber und
noch mehr wurde dieses durch die frühere Literatur niedergedrückt,
welche, da ihr beseelendes Princip mit der Freiheit, aus der es quoll,
verschwunden war, auf einmal wie eine Macht erscheinen musste,
mit der, wenn auch vielfache Nachahmungen versucht wurden,
doch kein wahrer Wetteifer zu wagen war. Von dieser Epoche an
beginnt also ein allmähliches Sinken der Sprache und Literatur.

302 • Wilhelm von Humboldt


A peculiaridade dos povos gregos consistiu numa agilidade popular que
sempre lutou, ao mesmo tempo, pela liberdade e pela superioridade,
mas que também, na maioria dos casos, manteve a aparência da
primeira para os subjugados. Assim como as ondas do mar fechado
que os circunda, essa agilidade trouxe, dentro dos mesmos limites
moderados, incessantes transformações, mudanças de residência, de
tamanho, de domínio e deu constantemente ao espírito novo alimento
e ímpeto para se ocupar dos mais variados tipos de atividade. Onde
os gregos tiveram influência a distância, como no estabelecimento
de novas cidades fora do país, o mesmo espírito popular prevaleceu.
Enquanto esse estado durou, esse princípio nacional interno penetrou
na língua e em suas obras. Nesse período, sente-se vividamente a
progressão do nexo interno de toda a produção intelectual, o vívido
entrelaçamento da poesia com a prosa e de todos os gêneros de
ambos. Mas quando, desde Alexandre, a língua e a literatura grega
se propagaram através das conquistas e, mais tarde, pertencendo à
nação derrotada, fundiram-se com a do vencedor que dominava o
mundo, ainda havia excelentes cabeças e talentos poéticos, porém o
princípio animador estava morto e com ele a criação viva originária
da abundância de seu próprio poder. Somente nessa época se abriu
verdadeiramente o conhecimento de grande parte do mundo, a
observação científica e o processamento sistemático de toda a área do
conhecimento evidenciou-se ao espírito, pelos ensinamentos e pelo
exemplo de Aristóteles, um homem extraordinário que reuniu uma
autêntica combinação histórico-mundial de ideias e de atividades.
Com uma força dominante, o mundo dos objetos defrontou-se com
o som subjetivo, tendo este sido ainda mais suprimido pela literatura
mais antiga, que, por ter seu princípio animador desaparecido
junto com a liberdade que o originou, apareceu como uma força
com a qual nenhuma emulação real poderia ser empreendida,
embora tenha havido várias tentativas de imitação. A partir dessa
época, começa um declínio gradual da linguagem e da literatura.

Ensaios sobre língua e linguagem • 303


Die wissenschaftliche Thätigkeit wandte sich aber nun auf die
Bearbeitung beider, wie sie aus dem reinsten Zustande ihrer Blüthe
übrig waren, so dass zugleich ein grosser Theil der Werke aus den
besten Epochen und die Art, wie sich diese Werke in der absichtlich
auf sie gerichteten Betrachtung späterer Generationen desselben,
sich immer gleichen, aber durch äussere Schicksale herabgedrückten
Volkes abspiegelten, auf uns gekommen sind.
Vom Sanskrit lässt sich, unserer Kenntniss der Literatur desselben
nach, nicht mit Sicherheit beurtheilen, bis auf welchen Grad und Umfang
auch die Prosa in ihm ausgebildet war. Die Verhältnisse des bürgerlichen
und geselligen Lebens boten aber in Indien schwerlich die gleichen
Veranlassungen zu dieser Ausbildung dar. Der Griechische Geist und
Charakter gieng schon an sich mehr, als vielleicht je bei einer Nation der
Fall war, auf solche Vereinigungen hin, in welchen das Gespräch, wenn
nicht der alleinige Zweck, doch die hauptsächlichste Würze war. Die
Verhandlungen vor Gericht und in der Volksversammlung forderten
Ueberzeugung wirkende und die Gemüther lenkende Beredsamkeit.
In diesen und ähnlichen Ursachen kann es liegen, wenn man auch
künftig unter den Ueberresten der Indischen Literatur nichts entdeckt,
was man im Style den Griechischen Geschichtschreibern, Rednern und
Philosophen an die Seite stellen könnte. Die reiche, beugsame, mit allen
Mitteln, durch welche die Rede Gediegenheit, Würde und Anmuth
erhält, ausgestattete Sprache bewahrt sichtbar alle Keime dazu in sich
und würde in der höheren prosaischen Bearbeitung noch ganz andere
Charakterseiten, als wir an ihr jetzt kennen, entwickelt haben. Dies
beweist schon der einfache, anmuthvolle, auf bewundrungswürdige
Weise zugleich durch getreue und zierliche Schilderung und eine ganz
eigenthümliche Verstandesschärfe anziehende Ton der Erzählungen des
Hitôpadêša.
Die Römische Prosa stand in einem ganz andren Verhältnisse zur
Poesie, als die Griechische. Hierauf wirkte bei den Römern gleich stark
ihre Nachahmung der Griechischen Muster und ihre eigne, überall
hervorleuchtende Originalität. Denn sie drückten ihrer Sprache und
ihrem Style sichtbar das Gepräge ihrer inneren und äusseren politischen
Entwicklung auf. Mit ihrer Literatur in ganz andre Zeitverhältnisse
versetzt, konnte bei ihnen keine ursprünglich naturgemässe Entwicklung

304 • Wilhelm von Humboldt


A atividade científica, entretanto, dirigia-se agora ao processamento de
ambas, no estado mais puro de florescimento em que permaneceram,
de modo que foram herdadas por nós, ao mesmo tempo, grande parte
das obras das melhores épocas e a maneira como essas obras se refletem
nos estudos voluntariamente dirigidos a elas, elaborados por gerações
posteriores da mesma nação, sempre inalterada, mas suprimida por
destinos internos e externos.
Do sânscrito, de acordo com o conhecimento que temos de sua
literatura, não se pode transmitir um julgamento seguro sobre o grau
e a extensão em que a prosa se desenvolveu. Na Índia, no entanto, as
condições da vida social e burguesa pouco ofereceram em termos de
motivação para esse tipo de desenvolvimento. O espírito e o caráter
grego já se dirigiam por si próprios, mais do que talvez fosse o caso de
qualquer outra nação, a congregações em que a conversação, se não era
a única finalidade, era, não obstante, o tempero principal. As audiências
no tribunal e as assembleias exigiam uma eloquência que gerou
convicção e atuou nos ânimos. Aqui e em situações similares podem
ser encontradas as causas de não se descobrir nos remanescentes da
literatura indiana, nem hoje nem no futuro, nada que possa se equiparar
aos historiadores, oradores e filósofos gregos no que diz respeito ao estilo.
A língua rica, maleável, provida de todos os recursos por meio dos quais
o discurso recebe solidez, dignidade e elegância, preserva visivelmente
todos os germes consigo e teria desenvolvido, numa elaboração prosaica
mais elevada, aspectos de caráter completamente diferente daqueles
que conhecemos. Isso foi comprovado pelo encanto das narrativas do
Hitôpadêša, que atraem pelas descrições tanto admiravelmente fieis
como delicadas, pelo tom simples e gracioso e pela singular nitidez do
pensamento.7
A prosa romana tinha uma relação com a poesia muito diferente
da grega. Entre os romanos atuavam, de modo igualmente forte, a
imitação dos padrões gregos e sua própria originalidade, que brilhava
por toda parte, porque os romanos imprimiram em sua língua e
claramente no estilo a marca de seu desenvolvimento político interno
e externo. Com uma literatura deslocada para circunstâncias temporais
completamente diferentes, não havia nela qualquer desenvolvimento
natural original, como percebemos entre os gregos desde a época de

Ensaios sobre língua e linguagem • 305


statt finden, wie wir sie bei den Griechen vom Homerischen Zeitalter an
und durch den dauernden Einfluss jener frühesten Gesänge wahrnehmen.
Die grosse, originelle Römische Prosa entspringt unmittelbar aus dem
Gemüth und Charakter, dem männlichen Ernst, der Sittenstrenge und
der ausschliessenden Vaterlandsliebe, bald an sich, bald im Contraste
mit späterer Verderbniss. Sie hat viel weniger eine bloss intellectuelle
Farbe und muss aus allen diesen Gründen zusammengenommen der
naiven Anmuth einiger Griechischen Schriftsteller entbehren, die bei
den Römern nur in poetischer Stimmung, da die Poesie das Gemüth
in jeden Zustand zu versetzen vermag, hervortritt. Ueberhaupt
erscheinen fast in allen Vergleichungen, die sich zwischen Griechischen
und Römischen Schriftstellern anstellen lassen, die ersteren minder
feierlich, einfacher und natürlicher. Hieraus entsteht ein mächtiger
Unterschied zwischen der Prosa beider Nationen und es ist kaum
glaublich, dass ein Schriftsteller wie Tacitus von den Griechen seiner
Zeit wahrhaft empfunden worden sey. Eine solche Prosa musste um
so mehr auch anders auf die Sprache einwirken, als beide den gleichen
Impuls von derselben Nationaleigenthümlichkeit empfiengen. Eine
gleichsam unbeschränkte, sich jedem Gedanken hingebende, jede Bahn
des Geistes mit gleicher Leichtigkeit verfolgende und gerade in dieser
Allseitigkeit und nichts zurückstossenden Beweglichkeit ihren wahren
Charakter findende Geschmeidigkeit konnte aus solcher Prosa nicht
entspringen und ebenso wenig eine solche erzeugen. Ein Blick in die
Prosa der neuern Nationen würde in noch verwickeltere Betrachtungen
führen, da die Neueren, wo sie nicht selbst original sind, nicht vermeiden
konnten, verschieden von den Römern und Griechen angezogen
zu werden, zugleich aber ganz neue Verhältnisse auch eine bis dahin
unbekannte Originalität in ihnen erzeugten. Ich begnüge mich nur
mit der Bemerkung, [dass] was die Verschiedenheit des Verhältnisses
betrifft, in welches Prosa und Poesie sich gegen einander stellen und
dadurch auf den Geist zurückwirken, immer nur eines in einer Nation
und Sprache vorhanden seyn kann. In einem Stamme von Sprachen aber
lässt sich in den einzelnen desselben diese Verschiedenheit in grösserem
Umfange übersehen und stellt sich dann den Fortschritten der Bildung
im Laufe der Jahrhunderte gemäss in organischer Entwicklungsfolge dar.

306 • Wilhelm von Humboldt


Homero e por meio da influência constante dos cantos mais antigos. A
grande e original prosa romana nasce diretamente da alma e do caráter,
da seriedade viril, do rigor moral e do exclusivo amor pela pátria, ora
em si, ora no contraste, com deterioração posterior. Ela tem muito
menos de uma mera cor intelectual e, por todas essas razões, deve ser
privada da ingênua formosura de alguns escritores gregos, que nos
romanos só se manifesta no espírito poético, uma vez que a poesia é
capaz de levar a alma a qualquer tipo de estado. Em geral, em quase
todas as comparações que se pode estabelecer entre os escritores gregos
e romanos, os primeiros aparecem menos solenes, mais simples e mais
naturais. Isso cria uma substancial diferença entre a prosa de ambas
as nações e seria difícil acreditar que um escritor como Tácito tenha
sido verdadeiramente aceito como tal pelos gregos de seu tempo. Como
ambas as nações receberam igual impulso de uma mesma característica
nacional, essa prosa tinha de produzir efeitos variados sobre a língua.
Tal maleabilidade quase irrestrita, aberta para qualquer pensamento,
que acompanha cada trajetória do espírito com a mesma facilidade
e que especialmente nesta mobilidade universal não repeliu nada,
tendo desta maneira encontrado seu verdadeiro caráter, não poderia
originar tal prosa nem poderia ser por ela gerada. Uma apreciação da
prosa das novas nações levaria a considerações ainda mais complexas,
uma vez que os mais novos, onde não são propriamente originais, não
puderam evitar ser atraídos diferentemente por romanos e gregos,
mas ao mesmo tempo criaram relações completamente novas e uma
originalidade até então desconhecida. Eu me contento somente com
a observação de que, no que concerne à distinção da relação em que
prosa e poesia se opõem, afetando assim o espírito, só pode existir
uma em cada nação e em uma língua de cada vez. Em uma família de
línguas, é possível conhecer essa diferença em cada uma das línguas
que a compõe, num âmbito maior, e seguir o progresso da formação
no curso dos séculos, de acordo com o desenvolvimento orgânico.

Ensaios sobre língua e linguagem • 307


Die Grundlage bleibt immer die dem ganzen Stamme eigenthümliche
äussere Form, das gemeinsame Bestreben der übereinkommenden
intellectuellen Eigenthümlichkeiten. Die Verschiedenheit bilden
innerhalb dieses Gemeinsamen die Charaktere der einzelnen Nationen und
das Zeitalter, in welchem jede den Grad der Geistigkeit erreicht, aus welchem
Poesie und Prosa hervorblühen. Hierzu wende ich mich daher jetzt.
Vorher aber muss ich noch eines andren, im Vorigen nicht
betrachteten Verhältnisses der Poesie zur Prosa gedenken, nemlich
der Beziehung beider auf die Schrift. Es ist seit den meisterhaften
Wolfischen Untersuchungen über die Entstehung der Homerischen
Gedichte11 wohl allgemein anerkannt, dass die Poesie eines Volkes noch
lange nach der Erfindung der Schrift unaufgezeichnet bleiben kann
und dass beide Epochen durchaus nicht nothwendig zusammenfallen.
Bestimmt, die Gegenwart des Augenblicks zu verherrlichen und zur
Begehung festlicher Gelegenheiten mitzuwirken, war die Poesie in den
frühesten Zeilen zu innig mit dem Leben verknüpft, gieng zu freiwillig
zugleich aus der Einbildungskraft des Dichters und der Auffassung der
Hörer hervor, als dass ihr die Absichtlichkeit kalter Aufzeichnung nicht
hätte fremd bleiben sollen. Sie entströmte den Lippen des Dichters oder
der Sängerschule, welche seine Gedichte in sich aufgenommen hatte;
es war ein lebendiger, mit Gesang und Instrumentalmusik begleiteter
Vortrag. Die Worte machten von diesem nur einen Theil aus und waren
mit ihm unzertrennlich verbunden. Dieser ganze Vortrag wurde der
Folgezeit zugleich überliefert und es konnte nicht in den Sinn kommen,
das so fest Verschlungene absondern zu wollen. Nach der ganzen Weise,
wie in dieser Periode des geistigen Volkslebens die Poesie in demselben
Wurzel schlug, entstand gar nicht der Gedanke der Aufzeichnung.
Diese setzte erst die Reflexion voraus, die sich immer aus der, einer
Zeit hindurch bloss natürlich geübten Kunst entwickelt, und eine
grössere Entfaltung der Verhältnisse des bürgerlichen Lebens, welche
den Sinn hervorruft, die Thätigkeiten zu sondern und ihre Erfolge
dauernd zusammenwirken zu lassen. Erst dann konnte die Verbindung
der Poesie mit dem Vortrag und dem augenblicklichen Lebensgenuss
loser werden. Die Nothwendigkeit der poetischen Wortstellung und das
Metrum machten es auch grossentheils überflüssig, der Ueberlieferung
vermittelst des Gedächtnisses durch Schrift zu Hülfe zu kommen.

308 • Wilhelm von Humboldt


A base continua sempre a ser a forma externa característica dessa
família, o esforço comum das concordantes particularidades
intelectuais. A diversidade é formada, dentro desse esforço comum,
pelos caracteres de cada nação e pela idade com que cada uma alcança
o grau de desenvolvimento intelectual de que a poesia e a prosa
florescem. Volto-me, então, agora para ele.8
Antes disso, no entanto, tenho de relembrar algo não considerado
anteriormente no relacionamento entre a poesia e a prosa, ou seja, a
relação de ambas com a escrita. Geralmente se reconhece, desde os
magistrais estudos de Wolf sobre a gênese dos cantos de Homero,9
que a poesia de um povo pode permanecer ágrafa por um longo
tempo depois da invenção da escrita e que esses dois períodos não
coincidem necessariamente. Destinada a glorificar a presença do
momento e a participar na observância de ocasiões festivas, a poesia
nos primeiros tempos estava tão intimamente ligada à vida e surgiu
tão espontaneamente, ao mesmo tempo, da imaginação do poeta e da
recepção do ouvinte, que o intencional registro frio não deveria ter
permanecido estranho a ela. Ela emanava dos lábios do poeta ou da
escola de cantores que acolheu seus poemas. Era uma apresentação
animada, acompanhada de canto e música instrumental. As palavras
eram apenas uma parte da apresentação e estavam inseparavelmente
ligadas a ela. Essa apresentação inteira foi transmitida aos períodos
seguintes e não se poderia pensar em querer dissociar o que foi tão
firmemente entrelaçado. A ideia de registro sequer surgiu nesse período
de vida intelectual do povo em que a poesia estava enraizada. O registro
pressupõe, antes de tudo, uma reflexão, que sempre se desenvolve a
partir da arte, que por um tempo foi apenas praticada de modo natural.
Também pressupõe um maior desdobramento das condições da vida
burguesa, o qual evoca o sentido para separar as atividades e deixar
suas realizações trabalhar continuamente juntas. Só então a conexão da
poesia com a apresentação e com o instantâneo prazer da vida pode
ser mais solta. A necessidade da posição poética da palavra e a métrica
tornaram supérfluo, na maioria dos casos, auxiliar a transmissão por
meio da memória escrita.

Ensaios sobre língua e linguagem • 309


Bei der Prosa verhielt sich dies alles ganz anders. Die
Hauptschwierigkeit lässt sich zwar meiner Ueberzeugung nach hier
nicht in der Unmöglichkeit suchen, längere ungebundene Rede dem
Gedächtniss anzuvertrauen. Es giebt gewiss bei den Völkern auch bloss
nationelle, durch mündliche Ueberlieferung aufbewahrte Prosa, bei
welcher die Einkleidung und der Ausdruck sicher nicht zufällig sind.
Wir finden in den Erzählungen von Nationen, welche gar keine Schrift
besitzen, einen Gebrauch der Sprache, eine Art des Styls, welchen
man es ansieht, dass sie gewiss nur mit kleinen Veränderungen von
Erzähler zu Erzähler übergegangen sind. Auch die Kinder bedienen
sich bei Wiederholung gehörter Erzählungen gewöhnlich gewissenhaft
derselben Ausdrücke. Ich brauche hier nur an die Erzählung von
Tangaloa auf den Tonga-Inseln zu erinnern*. Unter den Vasken gehen
noch heute solche unaufgezeichnet bleibenden Mährchen herum, die,
zum sichtbaren Beweise, dass auch und ganz vorzüglich die äussere
Form dabei beachtet wird, nach der Versicherung der Eingebornen
allen ihren Reiz und ihre natürliche Grazie durch Uebertragung in
das Spanische verlieren. Das Volk ist ihnen dergestalt ergeben, dass
sie ihrem Inhalte nach in verschiedene Classen getheilt werden.Ich
hörte selbst ein solches, unserer Sage vom Hamelnschen Rattenfänger
ganz ähnliches erzählen; andere stellen, nur auf verschiedene Weise
verändert, Mythen des Hercules und ein ganz locales von einer
kleinen, dem Lande vorliegenden Insel** die Geschichte Hero‘s und
Leander‘s, auf einen Mönch und seine Geliebte übertragen, dar.
Allein die Aufzeichnung, zu welcher der Gedanke bei der frühesten
Poesie gar nicht entsteht, liegt dennoch bei der Prosa nothwendig und
unmittelbar, auch ehe sie sich zur wahrhaft kunstvollen erhebt, in dem
ursprünglichen Zweck. Thatsachen sollen erforscht oder dargestellt,
Begriffe entwickelt und verknüpft, also etwas Objectives ausgemittelt
werden. Die Stimmung, welche dies hervorzubringen strebt, ist eine
nüchterne, auf Forschung gerichtete, Wahrheit von Schein sondernde,
dem Verstande die Leitung des Geschäfts übertragende.

* Mariner. Th. II.S.377.


** Izaro in der Bucht von Bermeo.

310 • Wilhelm von Humboldt


No que diz respeito à prosa, tudo era muito diferente. Estou
convicto de que não se deve considerar como principal dificuldade a
impossibilidade de confiar textos sem ritmo e métrica à memória. Sem
dúvida, os povos têm uma prosa nacional preservada pela tradição oral,
na qual a vestidura e a expressão certamente não são acidentais. Nas
narrativas de nações que não têm nenhuma escrita, encontramos um uso
da linguagem, uma espécie de estilo, que mostra evidentemente que elas
passaram de narrador para narrador com pequenas mudanças apenas.
As crianças também costumam usar conscienciosamente as mesmas
expressões ao repetir narrativas. Basta relembrar o conto de Tangaloa,
nas ilhas de Tonga*.10 Entre os bascos ainda hoje circulam tais contos
não preservados por escrito, que, como afirmaram os falantes nativos,
perdem todo seu encanto e sua graça natural na versão para o espanhol,
o que constitui uma evidência visível de que também a forma externa é
especialmente observada. O povo é tão dedicado a esses contos que eles
são classificados por seu conteúdo em categorias diferentes. Eu mesmo
ouvi um, muito semelhante ao nosso Flautista de Hamelin. Outros
representam, apenas com mudanças na forma, os mitos de Hércules,
e há um bastante local, de uma pequena ilha**, que conta a história
de Hero e Leandro, transferida para um monge e sua amante. Mas a
preservação por escrito, que a poesia mais antiga sequer cogita, existe na
prosa de forma necessária e imediata, ou seja, em seu propósito original,
antes mesmo de ela se elevar ao verdadeiramente artístico. Os fatos
precisam ser pesquisados e apresentados, os conceitos, desenvolvidos
e vinculados, quer dizer, algo objetivo deve ser verificado. A atmosfera
que se procura criar deve ser sóbria, orientada à pesquisa, uma que
separe a verdade das aparências e que empregue a razão na gestão das
operações. Essa atmosfera, portanto, rejeita primeiro a métrica, não
exatamente por causa da dificuldade de suas algemas, mas porque suas
necessidades não podem se fundamentar nela, e a universalidade da
razão, que pesquisa e conecta em todas as direções, não se sujeita a uma
língua confinada por uma forma associada a certas sensações.

* Mariner, Th., II, p. 377.


** Ilha de Izaro, na Baía de Bermeo.

Ensaios sobre língua e linguagem • 311


Sie stösst also zuerst das Metrum zurück, nicht gerade wegen der
Schwierigkeit seiner Fesseln, sondern weil das Bedürfniss darnach in
ihr nicht gegründet seyn kann, ja vielmehr der Allseitigkeit des überall
hin forschenden und verknüpfenden Verstandes eine, die Sprache
nach einem bestimmten Gefühle einengende Form nicht zusagt.
Aufzeichnung wird nun hierdurch und durch das ganze Unternehmen
wünschenswerth, ja selbst unentbehrlich. Das Erforschte und selbst
der Gang der Forschung muss in allen Einzelnheiten fest und sicher
dastehen. Der Zweck selbst ist möglichste Verewigung: Geschichte soll
das sonst im Laufe der Zeit Verfliegende erhalten, Lehre zu weiterer
Entwicklung ein Geschlecht an das andere knüpfen. Die Prosa begründet
und befestigt auch erst das namentliche Heraustreten Einzelner aus
der Masse in Geisteserzeugnissen, da die Forschung persönliche
Erkundigungen, Besuche fremder Länder und eigen gewählte
Methoden der Verknüpfung mit sich führt, die Wahrheit, besonders
in Zeiten, wo andere Beweise mangeln, eines Gewährsmannes bedarf
und der Geschichtschreiber nicht, wie der Dichter, seine Beglaubigung
vom Olymp ableiten kann. Die sich in einer Nation entwickelnde
Stimmung zur Prosa muss daher die Erleichterung der Schriftmittel
suchen und kann durch die schon vorhandene angeregt werden. In der
Poesie entstehen durch den natürlichen Gang der Bildung der Völker
zwei, gerade durch die Entbehrung und den Gebrauch der Schrift zu
bezeichnende, verschiedene Gattungen,* eine gleichsam vorzugsweise
natürliche, der Begeisterung ohne Absicht und Bewusstseyn der
Kunst entströmende und eine spätere kunstvollere, doch darum
nicht minder dem tiefsten und ächtesten Dichtergeist angehörende.

* Unübertrefflich gesagt und mit eignem Dichtergefühl empfunden ist in der Vorrede
zu A. W. v. Schlegel's Râmâyan die Auseinandersetzung über die früheste Poesie bei
den Griechen und Indiern. Welcher Gewinn wäre es für die philosophische und
ästhetische Würdigung beider Literaturen und für die Geschichte der Poesie, wenn
es diesem, vor allen andren mit den Gaben dazu ausgestatteten Schriftsteller gefiele,
die Literaturgeschichte der Indier zu schreiben oder doch einzelne Theile derselben,
namentlich die dramatische Poesie zu bearbeiten und einer ebenso glücklichen Kritik
zu unterwerfen, als das Theater anderer Nationen von seiner wahrhaft genialen
Behandlung erfahren hat.

312 • Wilhelm von Humboldt


O registro escrito se faz desejável por esse projeto, até mesmo
indispensável. O que é pesquisado e até mesmo o curso da
investigação devem ser firmes e confiáveis em todos os detalhes. A
própria finalidade é a maior perpetuação possível: a história deve
manter o que de outra maneira seria passageiro no percurso do tempo,
e o ensino deve criar um vínculo entre uma geração e outra com o
propósito do desenvolvimento. A prosa também justifica e fortalece o
surgimento de indivíduos da massa nos produtos do espírito, uma vez
que a pesquisa leva a indagações pessoais, visitas a países estrangeiros
e a métodos de vinculação selecionados pelo próprio indivíduo; a
verdade, especialmente em tempos em que faltam outras provas,
é uma garantia necessária, e o historiador, como o poeta, não pode
deduzir seu reconhecimento do Olimpo. O ânimo para a prosa em
desenvolvimento em uma nação deve, portanto, procurar facilitar a
escrita e pode ser estimulado pelo que já existe. Na poesia, no curso
natural de formação das nações, surgem dois gêneros distintos,
precisamente caracterizados pela privação e pelo uso da escrita:*
um como se fosse natural, emanando do entusiasmo sem intenção
nem consciência da arte, e um posterior, mais artístico, mas não
menos pertencente ao mais profundo e verdadeiro espírito poético.

* Redigida de modo inigualável e com um sentimento poético próprio é a discussão


sobre a poesia mais antiga dos gregos e indianos, que está na introdução do Râmâyana11,
de A. W. v. Schlegel. Haveria um grande lucro para a apreciação filosófica e estética de
ambas as literaturas e para a história da poesia, se esse autor, dotado mais do que qual-
quer outra pessoa para esse empreendimento, assumisse a tarefa de escrever a história
da literatura indiana ou, pelo menos, versasse sobre algumas partes, especialmente a
poesia dramática, e a submetesse a uma crítica igualmente feliz, como a que recebeu o
teatro de outras nações por sua abordagem verdadeiramente genial.

Ensaios sobre língua e linguagem • 313


Bei der Prosa kann dies nicht auf dieselbe Weise und noch weniger
in denselben Perioden statt finden. Allein in anderer Art ist dasselbe
auch bei ihr der Fall. Wenn sich nemlich in einem für Prosa und Poesie
glücklich organisirten Volke Gelegenheiten ausbilden, wo das Leben
frei hervorströmender Beredsamkeit bedarf, so ist hier, nur auf andere
Weise, eine ähnliche Verknüpfung der Prosa mit dem Volksleben, als
wir sie oben bei der Poesie gefunden haben. Sie stösst dann auch, so
lange sie ohne Bewusstseyn absichtlicher Kunst fortdauert, die todte
und kalte Aufzeichnung zurück. Dies war wohl gewiss in den grossen
Zeiten Athens zwischen dem Perserkriege und dem Peloponnesischen
und noch später der Fall. Redner wie Themistokles, Perikles und
Alcibiades entwickelten gewiss mächtige Rednertalente; von den
beiden letzteren wird dies ausdrücklich herausgehoben. Dennoch sind
von ihnen keine Reden, da die in den Geschichtschreibern natürlich
nur diesen angehören, auf uns gekommen und auch das Althertum
scheint keine ihnen mit Sicherheit beigelegte Schriften besessen zu
haben. Zu Alcibiades Zeit gab es zwar schon aufgezeichnete und
sogar von Andren, als ihren Verfassern gehalten zu werden bestimmte
Reden; es lag aber doch in allen Verhältnissen des Staatslebens jener
Periode, dass diese Männer, welche wirklich Lenker des Staates waren,
keine Veranlassung fanden, ihre Reden, weder ehe sie dieselben
hielten, noch nachher niederzuschreiben. Dennoch bewahrt diese
natürliche Beredsamkeit gewiss ebenso wie jene Poesie nicht nur
den Keim, sondern war in vielen Stücken das unübertroffne Vorbild
der späteren kunstvolleren. Hier aber, wo von dem Einflusse beider
Gattungen auf die Sprache die Rede ist, konnte die nähere Erwägung
dieses Verhältnisses nicht übergangen werden. Die späteren Redner
empfiengen die Sprache aus einer Zeit, wo schon in bildender und
dichtender Kunst so Grosses und Herrliches das Genie der Redner
angeregt und den Geschmack des Volkes gebildet hatte, in einer
ganz andren Fülle und Feinheit, als deren sie sich früher zu rühmen
vermöchte. Etwas sehr Aehnliches musste das lebendige Gespräch in
den Schulen der Philosophen darbieten

314 • Wilhelm von Humboldt


Na prosa, isso não pode ocorrer da mesma maneira e menos ainda
nos mesmos períodos. Porém, ainda que de outra maneira, o mesmo
também se aplica a ela. Numa nação alegremente disposta para a
prosa e a poesia, onde a vida necessita de uma eloquência de fluxo
livre, há uma ligação semelhante entre a prosa e a vida popular,
como encontramos na poesia, mencionada acima, porém de outra
maneira. Também a prosa, enquanto permanece sem consciência da
arte deliberada, repele o morto e frio registro por escrito. Esse era
certamente o caso nos tempos áureos de Atenas, entre as guerras
persas e a guerra do Peloponeso, e mais tarde. Oradores como
Temístocles, Péricles e Alcibíades desenvolveram poderosos talentos
para a oratória, o que é explicitamente acentuado para os dois últimos.
Não obstante, seus discursos não foram preservados até nossos dias,
visto que os que constam nos historiadores são obviamente desses
últimos, e tampouco a Antiguidade parece ter conservado qualquer
discurso escrito que possa ser associado a eles com segurança. Na
época de Alcibíades, já havia discursos escritos, inclusive os que
foram destinados a serem apresentados por pessoas outras, que não
os autores. No entanto, em todas as circunstâncias da vida no Estado
desse período, esses homens, que eram realmente líderes do Estado,
não encontraram qualquer razão para escrever seus discursos, nem
antes da apresentação nem depois. Todavia, essa eloquência natural,
assim como a poesia da época, seguramente preserva não só o germe,
como também foi em muitas instâncias um modelo insuperável para
a posterior, mais artística. Aqui, ao se falar da influência de ambos
os gêneros na língua, uma consideração mais detalhada dessa relação
não poderia ser ignorada. Os oradores posteriores receberam a língua
de uma época em que o gênio dos oradores tinha sido inspirado e
o gosto do povo formado por grandiosas e maravilhosas obras nas
artes plásticas e na poesia, com mais abundância e requinte do que
as épocas passadas poderiam se vangloriar. Algo muito semelhante
deve ter apresentado a conversa animada nas escolas dos filósofos.

Ensaios sobre língua e linguagem • 315


— Comentário —

Como Humboldt deixou claro em seu primeiro discurso na Academia,


depois da análise da estrutura das línguas, o objetivo maior da pesquisa
linguística é o estudo das línguas em sua formação, pois o caráter destas
só pode ser depreendido do uso: “Ele é [...] como o espírito, que se forma
nativamente em uma língua e a anima, como um corpo formado por ele”
(Über die Verschiedenheiten des menschlichen Sprachbaus, p.172 ([1830-35]
1960-1981).
Na introdução ao kawi, depois de lidar principalmente com a estrutura
gramatical, o “organismo” das línguas, Humboldt dedica ao caráter um longo
capítulo, cuja última parte apresentamos aqui e para a qual tudo se encaminha:
poesia e prosa são para Humboldt os pontos finais do desenvolvimento
linguístico, a cristalização do caráter, que ele vê particularmente nos gregos,
numa perfeição que nunca mais foi atingida. Todo o eros de Humboldt, como
filósofo da linguagem, se direciona a esse ponto, o que é confirmado pelo
fato de que nenhum outro capítulo da introdução ao kawi é estilisticamente
tão bom quanto esse texto, que August Böckh, com uma intuição certeira,
leu na comemoração da Academia, em 9 de agosto de 1835, como legado de
Humboldt.
Nenhum texto foi tão solicitado quanto esse legado de Humboldt.
Quando houve uma tentativa similar, esta foi rejeitada e acusada de não
se conformar aos padrões das ciências (exatas). O próprio Humboldt já se
ocupou dessa crítica, quando ele investigou a questão da possibilidade de um
estudo científico da individualidade, que não pode ser apresentada de forma
completa, mas apenas de modo aproximado, e cujo contorno só pode ser
sentido e intuído. Para ele, é preciso ousar a tentativa de coletar detalhes com
inúmeros detalhes, visto que a exploração das línguas é recompensada por
reflexões mais elevadas. Tal empreendimento contradiz as convicções teórico-
científicas da maioria da comunidade de linguistas, que resiste bravamente a
esse desejo, limitando-o à vida privada.
No entanto, tal como acontece com todos os processos de repressão,
essa comunidade não se sente muito à vontade e, como perspicazmente
observou um linguista francês, caracterizando a típica vida dupla linguística,
durante a semana os linguistas fazem pesquisa linguística e aos domingos

316 • Wilhelm von Humboldt


leem poemas, aproximando-se assim privada e acientificamente do uso da
ferramenta que aberta e cientificamente investigam. A tarefa que Humboldt
atribuiu aos linguistas, o estudo da linguagem na interseção de textos, em que
a separação dos estudos linguísticos e literários é neutralizado, é de fato uma
imposição à qual a ciência linguística, 150 anos após esse discurso póstumo
de Humboldt, caso os sinais não sejam ilusórios, não se resume mais. Disso
talvez não dependa apenas a saúde mental dos linguistas, como também o
futuro da linguística.

———

Ensaios sobre língua e linguagem • 317


— Notas —

1
Poesia e prosa são manifestações do potencial da língua cujo surgimento real, no
entanto, não se fundamenta em uma determinação unilateral e naturalmente ne-
cessária, estabelecida pela estrutura linguística. Em Humboldt, não há relações
de determinação unilaterais e naturalmente necessárias, mas apenas casamentos
históricos entre efeitos e repercussões: a estrutura linguística pode inspirar um uso
particular, mas esse estímulo também deve ser aceito pelas nações e indivíduos que
falam a língua, e a aceitação congênita das possibilidades estruturais de uma língua
é uma jogada de sorte (Ueber das vergleichende Sprachstudium, [1820] 1960-1981).
Por outro lado, dificuldades e obstáculos que certas estruturas linguísticas impõem
podem ser superados (como no caso do chinês – Sobre o surgimento das formas
gramaticais), ou potenciais favoráveis podem permanecer adormecidos (como no
caso do sânscrito).
2
Essa ideia está associada a um ensaio estético de Humboldt anterior a este discurso,
Über Göthe’s Hermann und Dorothea, de Goethe, em que ele, completamente imerso
no discurso da dialética, escreveu de forma radical: “Ele [o artista] deve eliminar em
nossa alma cada memória da realidade e manter apenas a imaginação intensa e viva”
(1954, p.126).
3
Ver também a contraposição entre o poeta e o historiador em Ueber die Aufgabe des
Geschichtsschreiber ([1821] 1960-1981): o sentido de realidade caracteriza os escri-
tores da prosa.
4
Ver Ueber das vergleichende Sprachstudium ([1820] 1960-1981), § 21: o “uso oratório
da linguagem” exige “forças inteiras do homem” em contraste com o uso prosaico,
em sentido mais estrito, ou seja, aquele do cotidiano, que Humboldt denomina “uso
operacional”.
5
Esse anseio se encontra igualmente na base da concepção chinesa de língua, assim
como na concepção tradicional de língua, segundo a qual se pode pensar indepen-
dentemente da língua, e uma escrita logográfica constitui uma possibilidade (Ver
Sobre a escrita alfabética).
6
Nesse último apogeu do desenvolvimento da prosa, dissipa-se de forma extrema
não só a subjetividade, como também a sensorialidade da língua (ela não mais afir-
ma uma autonomia própria), de modo que a expressão “sublimidade”, no sentido de
Kant, alcança precisamente a impressão estética que ela produz: “pois o verdadei-
ramente sublime não pode estar contido em qualquer forma sensorial, mas alcança
somente as ideias da razão, que [...] são estimuladas e despertadas na alma” (KANT,
1956, p. 76). A linguagem em que a prosa científica se baseia, cuja subjetividade e
sensorialidade ela deixa para trás, porém sem jamais ser capaz de se desvencilhar
completamente delas, torna-se, em uma aproximação infinitesimal de seu último e
mais alto nível de desenvolvimento, um signo indiferente, mas que, ao mesmo tem-
po, em sua extrema devoção ao objeto, ao pensamento, atinge novamente a função
da imagem mais elevada, a imagem da verdade. Essa é também a razão pela qual o
chinês e o grego são semelhantes nesse nível mais elevado de perfeição. O chinês, no
entanto, não toma o desvio pela língua.

318 • Wilhelm von Humboldt


7
Essa coleção indiana de fábulas foi publicada por A. W. v. Schlegel (Bonn, 2
volumes, 1829/1931).
8
A discussão, aqui anunciada, sobre a pergunta de como as nações e as idades influ-
enciam a língua de uma tribo, é o tema da abrangente seção da introdução à língua
kawi, que aborda a “força da língua para se desenvolver propiciamente”.
9
Prolegomena ad Homerum, de F. A. Wolf (Halle, 1795), estabelece a filologia de
Homero. A concepção de Humboldt da cultura grega é essencialmente influenciada
pela concepção de seu amigo Wolf.
10
Essa narrativa, que Humboldt extrai de W. Mariner, An Account of the Native Tongues
of the Tonga Islands in the South Pacific Ocean (London, 1817), é interpretada em
Ueber die Sprache der Südseeinseln ([1828] 1960-1981).
11
Schlegel publicou dois livros do Ramayana, além do Mahabharata, o segundo
grande épico indiano, em uma tradução para o latim (Bonn, 1829-38, 3 volumes).

Ensaios sobre língua e linguagem • 319


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Referências bibliográficas • 321


Os tradutores

Hans Theo Harden é Professor no Departamento de Línguas


Estrangeiras e Tradução na Universidade de Brasília e Professor
Emérito da National University of Ireland. Recebeu seus dois graus de
mestrado pela Universidade Livre de Berlim (Magister Artium) e pela
Universidade de Aston em Birmingham (Master of Philosophy), e fez seu
doutorado (Dr. phil) na Universidade Livre de Berlim. Atua nas áreas
de Alemão como Língua Estrangeira, Modalidade, Semântica, Filosofia
da Linguagem e Estudos de Tradução. Suas publicações incluem os
livros Kleine deutsche Partikellehre, com Harald Weydt, Elke Hentschel
e Dietmar Rösler, The Semantic Field of the German Modal Particles
‘überhaupt’ and ‘eigentlich’,  Die subjective Modalität in der zweiten
Sprache, Angewandte Linguistik und Fremdsprachendidaktik, Einführung
in die germanistische Linguistik, com Elke Hentschel, e a tradução para o
português de Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte, de Hegel,
com Maria Campos.

Orlene Lúcia de Saboia Carvalho é Professora Associada na


Universidade de Brasília, no Departamento de Linguística, Português
e Línguas Clássicas, com mestrado na Universidade de Brasília e
doutorado na Universidade Livre de Berlim, Alemanha. Dedica-se à
pesquisa na área de Linguística, com ênfase em Linguística Aplicada,
atuando principalmente no ensino de português como segunda
língua ou língua estrangeira e nas áreas de lexicografia, lexicologia e
terminologia. Publicou Lexicografia bilíngue Alemão/Português: teoria
e aplicação à categoria das preposições, Ensino de Português para surdos:
caminhos para uma prática pedagógica, com Heloísa Salles, Enilde
Faulstich e Ana Adelina Ramos, Gramática Brasileña para hablantes
de español e Dicionários escolares: políticas, formas, ambos em parceria
com Marcos Bagno.

322 • Wilhelm von Humboldt


Sobre o livro

Formato 16cm x 23cm


Tipologia Minion Pro
Baramond
:LOKHOP YRQ +XPEROGW   IRL R PDLV RULJLQDO GRV
ILOyVRIRV GD OLQJXDJHP GH VHX WHPSR (QTXDQWR VHXV
SUHGHFHVVRUHVGHVGHD$QWLJXLGDGHFOiVVLFDVHSUHRFXSDYDPFRP
DUHODomRHQWUHSHQVDPHQWRHOLQJXDJHP+XPEROGWLQWURGX]LX
XPWHUFHLURHOHPHQWRDFXOWXUDGHXPSRYR TXHHOHFKDPRXGH
´QDomRµ GHVORFDQGRDVVLPRIRFRGRLQGLYtGXRSDUDDVRFLHGDGHH
PDLVDPSODPHQWHSDUDWRGDDHVSpFLHKXPDQD$FRPSOH[LGDGH
GHVHXSHQVDPHQWRWHPGHVDILDGRRVHVWXGLRVRVGHVGHHQWmRHQmR
IRUDPSRXFDVDVFRQWURYpUVLDVTXHHOHVXVFLWRX6HXOHJDGRQR
HQWDQWRpLQHJiYHOHSRGHVHUDSUHHQGLGRQRWUDEDOKRGDTXHODV
SHVVRDVTXHDWpRVGLDVGHKRMHVHGHGLFDPDLQYHVWLJDUROXJDUGD
OtQJXD QD YLGD SVtTXLFD GRV LQGLYtGXRV H QR LPDJLQiULR
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