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MATRÍCULA Nº 2578
LUANDA, 2023
SEMINÁRIO ARQUIEPISCOPAL DE LUANDA
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO
DO CURSO DE FILOSOFIA
Autor Tutor
______________________ _______________________
Xavier Lussati Sacupalica Frei António Miguel Mbuko
SEMINÁRIO ARQUIEPISCOPAL DE LUANDA
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
DECLARAÇÃO
CAPÍTULO I ...................................................................................... 8
CAPÍTULO II ................................................................................... 15
CONCLUSÃO .................................................................................. 41
In this context, both the faculty of sensitivity and understanding appear with a
dynamic different from that presented in the Critique of Pure Reason. For a reflective
judgment, if sensitivity is necessary to capture the object, its functionality ends exactly
there.
The judgment is always an act of the understanding, but what makes the judgment
of taste original is that Kant only considers the subjective effect in it.
The feeling of the sublime is reported by the imagination to both the faculty of
knowing and the faculty of desiring.
The sublime is what is great aesthetics and infinitely, supervenes when the act of
apprehending the sensible cannot be followed by the act of understanding the
imagination.
ABREVIAÇÃO
SIGLAS DESIGNAÇÃO
INTRODUÇÃO
No mundo contemporâneo, a existência humana é cheia de muitas críticas, ou seja,
ladeadas por ela. Somos confrontados por inúmeras situações das quais, algumas nos
levam a credibilidade dos fenómenos que abarcam, enquanto outras se opõem há nossa
própria vida. Tal é assim que somos convidados a refletirmos com os modernos
caminhando em particular, nos ideiais do grande filósofo Moderno Immanuel Kant.
O nosso diálogo estará grafado neste pequeno trabalho, onde cada um é inserido
à participar na contemplação de ideias kantianas, de modo à parte, na sua Crítica da
Faculdade do Juízo Estético, onde o autor irá se debater com o conceito do Belo e a sua
relação com o juízo de gosto. Haverá uma procura e conclusão do que significa “Arte”.
Nesta obra, o autor fala da filosofia teórica como sendo o âmbito do conhecimento
e da pura razão. Trata-se de conceitos estabelecidos como verdade através dos sentidos –
formas à priori – que dão ao sujeito uma informação real sem ter de passar pela
experiência da mesma. Em contrapartida fala de como a causalidade - relação
causa/efeito – permite ao sujeito criar a sua própria verdade.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
Apesar de universal cada sujeito sente de forma diferente esta satisfação dando
espaço para a imaginação e entendimento da obra.
O Sublime, procura chocar basicamente com o que todo o artista procura fazer
com as suas obras. É nesta altura que o sujeito pode transmitir a repretentação dos seus
sentimentos “sensus comunis” e das suas verdades, das suas visões de si e do mundo
que o rodeia.
O Juízo de Gosto não se trata de uma norma/regra capaz de ser explicada por
métodos científicos ou matemáticos mais sim por juízos reflexivos.
Podemos, tendo em conta o juízo de gosto, concluir que a Arte é uma produção
de liberdade, que tem um livre arbítrio que coloca razão nas suas acções.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
CAPÍTULO I
1.1 A VIDA
1
Immanuel kant nasceu em Konigsberg, cidade da Prússia Orienta (hoje a cidade
se chama Kalinimingrado e pertence a um território sob a soberania russa), em 1724, de
modesta família de artesãos, provavelmente de origem escocesa. Seu pai, João Jorge, era
seleiro, e a mãe, Regina Reuter, era dona de casa. Muito numerosa, sua família foi
duramente provada: nada menos que seis filhos marcada nesse sentido: por isso,
matriculou Immanuel no Collegium Fridericianum, dirigido pelo pastor pietista Schultz,
onde vigorava grande severidade, tanto nos conteúdos como nos métodos.
2
Kant aprendeu muito bem o Latim e mal o Grego. Não leo os grandes clássicos
da literatura e da filosofia gregas, o que, como veremos, repercutiria em sua própria
filosofia. Em 1740 matriculou-se na universidade de sua cidade natal, onde frequentou os
cursos de ciência e filosofia, terminando seus estudos em 1747.
O período que vai de 1747 e 1754 foi muito duro. Kant teve de trabalhar como
preceptor para sobreviver, uma profissão para a qual não se inclinava muito. Seus
biógrafos destacam que esse deve ter sido um verdadeiro período de miséria, dado que os
funerais de seus genitores foram realizados a custa do erário público.
Mas, apesar dessas condições desfavoráveis, Kant estudou muito nesse período.
Atualizando-se e lendo tudo o que então se escrevia, sobretudo nos campos que mais o
interessavam, como as ciências e a filosofia. Em 1755, conseguiu o doutorado e a
docência universitária, ingressando na universidade de Konigsberg na qualidade de livre-
docente.
1
Giovanni, Reale. História da Filosofia. Vol. 4, pág 347
2
Ibdem. 348
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
3
Mas perdeu, pois foi preferido outro, destinado a permanecer como total
nulidade. Recordamos o facto só para mostrar um dos traços salientes do caracter moral
de Kant. Ele tinha verdadeira aversão por qualquer forma de carreirismo, era estranho a
todas as manobras académicas e alheio a qualquer forma de adulação em relação a
protetores poderosos. E pagou inteiramente o preço de confiar sua carreira
exclusivamente a suas próprias forças, com extrema dignidade, desprendimento e
determinação.
4
O que interessava a Kant eram o saber e a pesquisa, não a carreira, nem a fama
ou as riquezas, como o demonstram ainda outros acontecimentos interessantes. Em 1778,
na qualidade de ministro, o barão von Zedlitz Ihe ofereceu uma cátedra em Halles, onde
o estipêndio era o triplo e os estudantes muito mais numerosos do que em Konigsberg.
Mas ele recusou, não desistindo de sua recusa nem mesmo quando o ministro, para
convencê-lo, ofereceu-lhe também outro cargo.
Kant obedeceu. Não se retratou de suas idéias, mas calou-se, sustentando ser esse
seu dever de sudito e argumentando que, se é verdade que a mentira nunca deve ser dita,
não é menos verdadeiro que a verdade nem sempre deve ser abertamente proclamada.
Trata-se de um episódio que não agrada a muitos de seus biógrafos, mas que é
coerente com a personagem. O outro acontecimento tem dimensão histórica mais
acentuada. O criticismo transcendental vinha sendo interpretado e desenvolvido no
3
Ibdem. 348
4
Ibdem. 349
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sentido de um idealismo espiritualista, especialmente por obra de Fichte, que Kant havia
ajudado muito no início da carreira.
5
Esse desdobramento, que envolveria o criticismo e o transformaria radicalmente,
era fatal: o Iluminismo jáse havia esgotado, nascia um novo clima cultural e, nesse clima,
como veremos, o criticismo transcendental devia necessariamente se desenvolver em
sentido idealista. Kant lutou durante certo tempo, mas depois, compreendendo
provavelmente que aquela interpretação de seu pensamento era inexorável, fechou-se em
hermético silêncio.
Os anos da velhice foram os piores para Kant, atingido pelo maior mal que pode
ocorrer a um homem de estudos: tornou-se quase cego, perdeu a memória e a lucidez
intelectual. E extinguiu-se em 1804, reduzido quase que a uma vida vegetativa.
O riquíssimo anedotário que floresceu sobre ele o mostra em seus traços mais
característicos: nunca se afastou das proximidades de Konigsberg, era prussianamente
metódico, muito escrupuloso e extremamente apegado aos hábitos; mantinha o despertar
matinal sempre a mesma hora (às cinco!) e sempre é mesma hora, com regularidade
cronométrica, o passeio da tarde; era sempre pontualíssimo as aulas e sempre fiel a seus
deveres.
Em uma carta famosa, Herder o descreve muito hem: testa larga, como que
construída de propósito para pensar; sempre sereno, arguto e erudito; aberto a todas as
instâncias da cultura contemporânea, Kant sabia valorizar tudo e tudo canalizava "para
um conhecimento sem preconceitos da natureza e para o valor moral dos homens".
Esta última afirmação é a que melhor resume Kant que, falando de si mesmo, nos
diz a mesma coisa com palavras um pouco diferentes, na conclusão de sua Crítica da
razão pura: "Duas coisas enchem o espírito de admiração e de reverência sempre nova e
crescente, quanto mais frequente e longamente o pensamento nelas se detém: o céu
estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim".
6
E essa afirmação, "o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim",
foi inscrita inclusive em seu túmulo. Com efeito, ela constitui a marca mais autêntica
tanto do homem como do filósofo Immanuel Kant.
5
Ibdem. 349
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Ibdem. 350
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
1.2 OBRAS
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A riquíssima produção de Kant divide-se em dois grandes grupos de escritos: os
"pré-críticos" e (como já acenamos) os chamados "críticos", ou seja, aqueles em que Kant
expõe sua filosofia "crítica", já perfeitamente delineada e madura.
A série dos escritos pré-críticos termina com a Dissertação de 1770, que marca a
aquisição parcial daquele ponto de vista que, aprofundado nos anos seguintes, levará em
1781 à formulação perfeita do criticismo transcendental, que se desdobra depois em todos
os seus aspectos nas obras posteriores.
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Ibdem. 350
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19. 1783: Prolegómenos a toda metafísica futura que queira se apresentar como
ciência;
20. 1784: Ideias de uma história universal doponto de vista cosmopolita;
21. 1784: Resposta a pergunta: 0 que e' o Iluminismo?
22. 1785: Fundamentação da metafísica doscostumes;
23. 1786: Princípios metafísicos da ciência danatureza;
24. 1788: Crítica da razão prática;
25. 1790: Crítica do juízo;
26. 1793: A religião nos limites da pura razão;
27. 1795: Pela paz perpétua;
28. 1797: A metafísica dos costumes;
29. 1798: 0 conflito das faculdades;
30. 1802: Geografia física;
31. 1803: A pedagogia;8
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
A história da filosofia não poderia se ocupar dele a niio ser marginalmente. Com
efeito, nos escritos pré-críticos substancialmente oscila entre o empirismo e o
racionalismo e niio individua uma nova linha a seeuir. Entre os muitos sinais indicativos,
no âmbito das conspícuas oscilações que se encontram nesses escritos, recordaremos um
bastante significativo, e até quase emblemático.
10
O conhecimento intelectivo é, ao contrário, a faculdade de representar os
aspectos das coisas que, por sua própria natureza, não são captados com os sentidos. As
coisas como são captadas pelo intelecto são noumeni (do grego noein, que quer dizer
"pensar" e me reapresentam as coisas sicut sunt (como são).
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Ibdem. 350
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Ibdem. 351
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
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Não são, como se afirma, propriedades das coisas, ou seja, realidades
ontológicas (o newtoniano Clarke os havia considerado até mesmo atributos divinos), e
nem sequer simples relações entre os corpos (corno queria Leibniz): eles são as formas
da sensibilidade, ou seja, as condições estruturais da sensibilidade.
Espaço e tempo desse modo se configuram não como modos de ser das coisas, e
sim como modos com os quais o sujeito capta sensivelmente as coisas. Não é o sujeito
que se adequa ao objeto ao conhecê-lo, mas vice-versa, o objeto é que se adequa ao
sujeito. Esta é a "grande luz", ou seja, a grande intuição de Kant, que agora devemos ver
em seu pleno desabrochar na Crítica da razão pura.
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Ibdem. 351
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
CAPÍTULO II
2.1 Etimologia da Estética
Etimologicamente, Estética é um termo originado “do grego clássico aisthesis,
referindo-se a conhecimento sensível, através dos sentidos, das sensações”12. Em
concordância com Martins, Pontes esclarece que o termo estética – aisthetique – embora
tenha surgido do termo aisthesis, não se referia, a princípio, à arte, apenas ao sensível.
Embora tenha raízes fortemente marcadas pela filosofia, ligada à concepção de belo
nas artes, ao longo da história da humanidade essa ciência passou por inúmeras
transformações, fazendo com que o seu conceito se ampliasse, principalmente na
contemporaneidade.
E isso foi devido a um fator principal: a arte já não é mais lida e apreciada dentro de
cânones como ocorria séculos atrás. Ao romper com os padrões estéticos voltados a um
ideal de belo, a arte possibilita ao indivíduo retratar a sociedade por diferentes meios,
expor a sua subjetividade e conhecimento sem se preocupar com tais padrões, o que lhe
possibilita tomar consciência da própria realidade e a superá-la.
Nessa perspectiva, Martins ressalta que essa é uma nova forma do indivíduo propor
o seu modo de estar e viver no mundo. É comum ouvir-se, especialmente entre os
profissionais da medicina e da psicologia, a seguinte assertiva: ‘estou atendendo (ou
tratando de) um caso muito bonito’.
Ora, será que beleza a que se refere o profissional se encontra em um corpo (ou
mente) enfermo? Não. A beleza, aí, reside na relação que ele mantém com um fenômeno
que deve ser decifrado.
Ela consiste no prazer experimentado por ele ao vencer um desafio imposto pela
doença: compreendê-la e atuar sobre ela de forma correta. Sob todo o seu equipamento e
raciocínio lógico e científico, subjaz um sentimento da situação que ele interpreta como
belo13.
12
Martins, 2011, p. 312
13
Duarte, 1981, p. 31-32
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
Dessa maneira, o objeto vai sendo teoricamente criado, enquanto que o concreto real
é aquele objecto que não depende do primeiro, por existir efetivamente na realidade: O
conteúdo da obra de arte é a experiência que o indivíduo faz de si mesmo na ampla riqueza
de sua vida na sociedade e da sua existência como parte e movimento do desenvolvimento
da humanidade.
No prazer estético, o sujeito receptivo imita aquele movimento que recebe a sua
forma objetiva na criação da individualidade da obra de arte: uma ‘realidade’ que, no
sentido da diferenciação, é mais intensa do que a experiência obtida na própria realidade
objetiva e que, precisamente nesta intensidade, revela imediatamente a oculta
essencialidade real14.
14
Lukás, 1978, p. 292
15 Pareyson, 1993, p. 62.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
1) Ao belo chega-se por intuição ou noésis, não por raciocínio discursivo ou dianóia;
2) Os objectos belos existem por participação na forma da beleza em si;
3) O belo, como todo e qualquer modelo platónico, é autónomo na sua essência e na
sua finalidade;
4) É uma estética hierarquizada, subindo de plano em plano até alcançar, pelo amor,
o arquétipo da beleza em si. Pela sua natureza, o belo faz parte da ideia suprema
do mundo inteligível, o bem, pelo que a noção socrática de kalocagathie, apesar
de formalmente separada em Platão, mantém uma aproximação essencial: kalos,
bem, kagatos, belo, kalocagathie, o que é bem é também belo. Por exemplo, no
Hípias Maior pode ler-se em 297 a que é inadmissível que o “belo não seja bom
ou que o bom não seja belo”, ou ainda em 297 a está explícita a questão sobre se
o belo é o agente ou a causa do bem. Interessante notar que a cidade que o filósofo
da academia expõe na sua obra, Politeia, República, é denominada de Kalipólis
(cidade bela) e nela se deverá viver bem política e socialmente.
16
PLATÃO, A República, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1990.
17
Timeu, Instituto Piaget, Lisboa, 2004
18
Sofista, in Diálogos IV, Europa-América, Mem Martins, (s/d), p 36-96.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
Esta inteligibilidade platónica do acto criador faz-nos entender a arte como uma cópia
das cópias, é certo, ela dá-se no mundo sensível, mas é também criadora graças a uma
possessão divina, o que nos permite afirmar que, em última análise, a arte é uma cópia do
mundo divino.
“Estes cursos são consagrados à estética; sendo o seu objecto o vasto reino do belo,
tendo eles precisamente a arte e mesmo a arte bela por domínio.
Considerando “o carácter superficial deste nome, não se pode deixar de querer forjar
um, novo, como o de calística. Mesmo este mostra-se insatisfatório, porque a ciência que se tem
em vista não examina o belo em geral, mas unicamente o belo artístico. Quanto a nós, se
preferimos ficar com o nome de estética, é porque, apenas como nome, é-nos indiferente e que,
19
D`HONT, Jacques, Heguel, Edições 70, Lisboa, 1984.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
além disso, passa, daqui em diante, tão bem na linguagem corrente que, enquanto nome, pode ser
conservado. Todavia, a fórmula que, com rigor, convém à nossa ciência é filosofia da arte e, mais
exactamente, filosofia da arte bela.”20
Hegel apresenta a análise do acto de produção pela noção de génio como a força
do Espírito Absoluto que atravessa o artista e que, pela subjectividade deste, se objectiva
na obra de arte, sendo a inspiração como uma violência que atravessa o artista e o impele
à produção. Passamos a citar:
“O imitar é congénito no homem (e nisso difere dos outros viventes, pois, de todos, é ele
o mais imitador e, por imitação, aprende as primeiras noções), e os homens se comprazem no
imitado”22.
“Sendo, pois, a imitação própria da nossa natureza, aqueles que no início tinham as
melhores disposições naturais progrediram, pouco a pouco, e deram origem à poesia, procedendo
desde os mais toscos improvisos.
20
HEGEL, Aesthetik, Cours d’Esthétique, I, trad. Jean Pierre Lefebvre e Veronika von Schenck, Aubier,
Paris, 1995, p 5-6.
21
HEGEL, Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Epítome, Vol. III, Edições 70, Lisboa, 1992.
22
Poética IV, 1448 5-9.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
"A imitação funciona no sistema aristotélico como o traço diferencial que distingue as
artes — belas artes e artes utilitárias — da natureza, então é necessário dizer que a expressão
‘imitação da natureza’ tem por função tanto distinguir como coordenar o fazer humano e a
produção natural"23.
Por isso, o fim da poiésis é o produto, a obra, tendo esta um estatuto de facto, isto
é, de exterioridade e autonomia relativamente àquele que a produziu, o que justifica que
no quarteto causal aristotélico o artista seja a causa eficiente da obra.
23
O.c., tradução portuguesa, p. 70.
24
Ética a Nicómaco, VI, 1139b.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
É este princípio que está subjacente na noção de tragédia como imitação de acções
e de vida.
A fábula aparece, assim, como uma intriga de ficção, como uma re-presentação
de uma acção real ou possível. Esta dimensão do mythos dá origem à poesia que “é algo
de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o
universal, e esta, o particular”26.
De acordo com as regras enunciadas por Aristóteles, uma tragédia, para ter
qualidade, deve integrar:
25
Poética 1454a – 11-13
26
Ibdem 1451 b
21
A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
“Seis partes constitutivas (merê) que fazem com que ela seja isto ou
aquilo: a fábula (mythos), os caracteres (ethê), a elocução (léxis), o pensamento (dianoia), o
espectáculo (opsis) e o canto (melopeia)"27.
Por esta racionalidade, que nela está presente, a obra de arte guardará sempre a sua
relação com o espírito através desse seu elemento formal que a regulamenta pela
inteligência.
Jacques Maritain, aponta ainda o paralelismo tomista entre a prudência e a arte: tal
como a virtude da prudência orienta a acção, também a arte, enquanto virtude, orienta a
produção. Assim, a arte é a correcta determinação das obras a fazer, isto é, a recta regra
que faz com que o mestre de artes produza os objectos produzíveis.
Nessa perspectiva, para que a arte fosse verdadeira, justa, algo bom e perfeito,
deveria representar o mundo real (mundo das ideias). Considerava que a arte é bela se a
mesma representa o justo, o verdadeiro, o perfeito. Ou seja, o belo, a princípio, não era
relacionado à arte, pois fazia parte do mundo das ideias.
Desse modo, ao estabelecer essa distância entre o belo e a arte, Platão entendia
também que a arte, para ter as qualidades citadas anteriormente, deveria representar a
perfeição, portanto, manifestar o mundo das ideias que ele tanto defendia. É por isso que
27
Ibdem 1450a 7-9
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
alguns teóricos vão dizer que a estética para Platão era algo justo, verdadeiro, perfeito, e
não a criação humana ou imitação.
A relação entre a arte e o belo é análoga à existente entre o género (por ex. animal) e
a espécie (por exemplo, homem). A arte é uma techné (género) especificada ao nível
estético pelo belo (espécie).
Esta analogia coloca-nos face a uma outra questão: como liga Tomás de Aquino esta
visão genérica da arte à visão específica do Belo?
Visão e audição, na boa tradição helénica, são os dois sentidos máxime cognosciviti,
aqueles que, oferecendo uma intuição sensível, abrem, pela abstração e pelo discorrer, a
inteligência à contemplação da beleza.
28
MARITAN, Jacques, Art et Scolastique Desclé de Bouwer, Paris, 1947, p. 40.
29
ibdem p. 195.
30
Discours inaugural du II congrès international d`esthétique et science de l`art, Paris, 1937.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
Num segundo sentido, muito mais actual desina «toda a reflexão filosófica sobre a
arte».33 O mesmo é dizer que o objecto e o método da Estética dependerão da forma como
se definirá a arte.
Basta referir-nos ao Fédon (100, E) para medir a distância que separa as duas obras:
na origem de toda a beleza, diz Platão, deve haver «uma primeira beleza que pela sua
presença torna belas as coisas que designamos por belas, qualquer que seja o modo como
se faz essa comunicação».34
Pode dizer-se até que a Estética no dia em que Sócrates soube responder a Hípias, que
o Belo não era um atributo particular de mil e um objectos; sem dúvidas homens, cavalos,
vestuários, virgem ou lira, são coisas belas; mas, acima de tudo isso, existe a Beleza em
si.35
É pela ascese dialética em direcção a ideia do Belo que seremos conduzidos ao amor
platónico, único garante a beleza ideal, pela graça dessa «história caseira», como dizia
Alain. O Fédon e o Fedro irão comprovar a experiência do convivium.
Eis pois a receita: para saber o que há de verdadeiramente belo nesta terra é necessário
primeiro fazer o vazio mental e limpar o espírito de tudo o que ele contém de inexato ou
de insuficiente. É preciso, portanto, fazer abstração de todos os erros prévios e tentar
reencontrar a nossa ingenuidade primitiva.
31
Cf. Nesse sentido, a I parte da C.R.Pura: A «Estética» transcendental, estudo da percepção do espaço e
do tempo como forma a priori da nossa sensibilidade.
32
Ibid II congrès international d`esthétique.
33
Revue d`esthétique, I ano, nº1, Texto de apontamento 1948.
34
Platão, Fédon 100, E.
35
Cf. Raymond Bayer, La methode de L`esthétique, in Essais Sur la methode en esthétique, Flammarion,
1952.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
É verídico que o Banquete reúne vários convivas, que farão todos o elogio do Amor
em termos poéticos e floridos. Sócrates é o último a falar e contar-nos a história de uma
profetisa de nome Diótima, que lhe diz que o amor é contraditório: feito do desejo daqiulo
que não se possui e do gosto por aquilo que se não é, o amor decepcionada está cheio de
esperança, e o amor agonizante renasce das suas cinzas.36
O iniciado procurará amar um belo corpo, depois inspirar-se-á desse amor para amar
todos os belos corpos. O amante sentirá, em seguida a inanidade de um amor das simples
formas sensíveis e será atraído depois pela alma daquele que é objecto do seu amor.
36
Banquete (convivium), Fedro e Fédon. Cf. Também República, Platão (1430-350), edição portuguesa,
Guimarães Editores, Lisboa.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
CAPÍTULO III
3.1 Passemos ao Belo, conceito fundamental e central da Estética.
Como será este conceito abordado e entendido por Aristóteles? O seu estudo será
feito, pelo estagirita, pela e na razão poiética? A resposta a esta última questão, do interior
do universo aristotélico, é negativa. Em Aristóteles, o belo possui, como o bem, um valor
cósmico ou metafísico, não sendo, no entanto, conceitos idênticos.
Coloquemos então a questão das relações entre o bem e o belo, questão que, em
Platão, não se colocava. Em Aristóteles, essa questão irá desembocar numa estética do
bem através do belo moral.
Pela análise das três espécies de bens: cósmico, prático e útil, Aristóteles aproxima
o bem moral do belo, sendo este a síntese de algo moral porque desinteressado, virtuoso.
Uma acção desinteressada, virtuosa, é, não apenas boa, mas também bela, na medida em
que o desinteresse, que lhe é intrínseco, revela-se fora do objectivo da acção.
Assim, a beleza ou o belo, para Aristóteles, não está na acção mas no desinteresse
em si, isolado, génese e origem da própria beleza. De que modo? Pela acção moral que
contém as duas dimensões. Por um lado, o agente da acção que age bem, tendo em vista
uma finalidade, e por outro lado a acção em si que pode ser bela quando não tem
finalidade.
Daqui o facto de o bem implicar uma acção (domínio da razão prática) e o belo
uma contemplação (domínio da razão teórica, objecto da razão cognoscente). Se, para
Platão, como vimos, o belo é um arquétipo, do qual as coisas belas participam, e o qual
se alcança pela ascese filosófica, pela via do amor, em Aristóteles o belo é ideal mas é à
razão, encarnada num corpo, que cabe extrair, pela abstracção, o belo da obra.
37
Diccionário da Academia, p. 352.
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
3) O artifex possui um habitus operativus boni, porque sendo a arte uma virtude do
intelecto prático leva necessariamente ao bem, entendido como perfeição do
objecto produzido, a obra de arte. Fazemos notar que a arte é uma capacidade,
uma habilidade, que é referida à subjectividade do fazer, do produzir, do criar.
A estética pretende descrever e explicar seu objeto próprio: certa relação com o
mundo, assim como a práxis artística em cujo produtor se objetiva essa relação. Ocupa-
se, pois, de certos fatos, processos, atos ou objetos que só existem pelo e para o homem,
e que justamente por isso se consideram valiosos ou portadores de um poder especial: o
estético.
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Por essa dimensão axiológica de seu objeto, a estética se distingue das ciências
naturais, embora sua atenção possa coincidir com elas em um mesmo objeto: a natureza.
Mas o belo natural que interessa à estética não é o natural que existe em si antes ou
independentemente do homem, justamente o que interessa às ciências naturais, mas sim
a natureza que se constitui esteticamente por ele.
Não exclui aquilo que já foi amplamente estudado sobre a estética no percurso da
humanidade (em particular, o sensível), mas deve considerar novas relações estéticas com
a realidade. Nesse pensamento, o concreto da realidade entendido aqui é teórico e não
uma mera reprodução do real. Com efeito, a estética não tem uma explicação estética,
mas abstrata, conceitual.
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Quando tenho a minha frente uma figura simples, uma cor ou a combinação de
duas cores, um rochedo real ou uma ressaca do mar na praia, e tento encontrar para eles
uma abordagem estética, devo, antes de mais nada... humanizá-los;
Desse modo, viabiliza-se pela primeira vez a sua abordagem estética, realiza-se a
condição básica de uma visão estética, mas a atividade estética empenhada ainda não
começou, uma vez que permaneço no estágio do simples vivenciamento empático com a
imagem animizada...
Sua análise será produtiva. A imagem externa do rochedo representado não vai
somente exprimir-lhe a alma, como também concluir essa alma com valores
transgredientes ao seu possível autovivenciamento; ela receberá o bem estar estético.
Graças ao Belo-em-si, simples, puro, sem mistura, e não maculado pelas carnes
humanas, pelas cores e por toda a sorte de futilidade mortais, o homem alcansará o
absoluto.
Teatro, Escultura, Arquitetura, São, pelo contrário, artes que participam mais do
pricípio supremo: a beleza define-se em todas as situações pela medisa e hamonia, isto
é, por uma satisfação que não se poderá qualificar senão de estética.
Não, a arte para Platão, encontra-se numa busca espontânea, natural, sâ e sincera; a
arte é uma descoberta. Trata-se de encontrar a harmonia ou de reencontrar o esplendor
que todos nós possuímos escondido nas profundezas da nossa preexistência.
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Para Platão, o Belo não é uma dádiva ao nível da vida. Não existe no mundo terrestre.
Por isso, é preciso tentar proceder o mais possível a partir das essências ou ideias, é
necessário participar nos arquétipos dos objectos a fim de poder sentir a sua beleza
profunda.
A essência da arte está no paradigma, no padrão do Belo eterno que ilumina o mundo
estético do mesmo modo que o sol ilumina o mundo terrestre. O Belo-em-si é intangível,
mas é dele que é preciso nos aproximarmos o mais possível.
O Belo é o esplendor da verdade e do Bem. A beleza nos seres será a «sua simetria e
sua medida», pois a vida é forma e a forma é beleza38.
38
Cf. Enéadas, I, VI, 1.
39
Loponte, 2017, p. 434
30
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Ter contacto com essa diversidade leva o indivíduo a ampliar a sua relação com o
outro, as interpretações da realidade a sua volta, além de elevar o seu conhecimento
cultural.
Queremos aqui enumerar quatro possibilidades interessantes para se utilizar a estética
na educação:
1. Toda leitura do mundo é estética, pois o indivíduo, a partir de suas
experiências de vida constrói sentidos e significados da realidade a sua volta,
ampliando o seu conhecimento de mundo e o aprendizado.
2. Ao se relacionar com o outro, o indivíduo constrói um olhar estético, isto é, a
relação entre o professor e o aluno precisa ser afetuosa, respeitosa, cordial e
dialógica.
3. A linguagem enquanto estética, isto é, sem linguagem não há como o
indivíduo se comunicar e participar enquanto sujeito histórico, pois é
impossível dissociar linguagem da experiência do indivíduo com a leitura e a
escrita.
4. A estética da alteridade. Significa dizer que a construção do olhar do sujeito
na relação com o outro é estética, pois envolve a sensibilidade.
O objecto por ele criado só tem sentido na relação social entre ele e o próprio homem.
É por isso que a arte não apenas expressa emoções, mas representa a realidade humana,
materializada no objeto estético.
Vai lhe dizer que na educação, a arte pode desempenhar importante papel ao
proporcionar ao estudante o desenvolvimento de sua capacidade criadora e,
consequentemente, que possa potencializar a sua percepção de mundo.
Por meio da arte o estudante jovem ou adulto objetiva a sua realidade na criação
estética, uma vez que essa criação, entendida como trabalho humano, carrega uma
consciência crítica da vida desse sujeito.
Em outras palavras, a arte humaniza e transforma não apenas o real, retratada no
objeto artístico, mas proporciona ao estudante a compreender melhor o seu meio cultural,
importante para questionar a sua própria realidade.
3.2.2 Formação das ideias inglesas.
Hume, Locke, Hutcheson, formulam algumas hipóteses sobre a Beleza. «Se não
tivéssemos em nós o sentimento da Beleza, diz este último, acharíamos os edifícios, os
jardins, o vestuário, as equipagens úteis, mas nunca poderíamos achá-los belos».
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Foi em 1756, que Burke apareceu com a obra Philosophical Inquiry Into Origin of
our Ideas of the Sublime and the Beautiful, e diz que o gosto é o juíz infalível do Belo. O
Belo emana do instinto social e o sublime do instinto de concervação.
A causa eficiente do Belo será, portanto, «um sentimento de prazer positivo que faz
nascer o amor que acompanha o relaxamento dos nossos músculos e dos nossos nervos».
Pelo contrário, o sublime está ligado à tensão, ao hypertonus muscular e nervoso.
Para Hume, «é belo, aquilo que representa as relações entre o espectador e os seus
semelhantes».40
A ideia de finalidade está na base de toda a teoria do juízo reflexivo, ponto de partida
essencial para a compreensão da estética kantiana.
Crítica do Juízo. Pois é uma obra inteiramente original e que não se vincula de forma
alguma a leituras de segunda mão.41
Onde Kant mostra em nove pontos a maneira como tentou conciliar nesta obra as suas
duas críticas, ou melhor, «unir numa totalidade as duas partes da filosofia».42
40
Cf. Basch, Essai critique sur l`esthétique de Kant, p. 618.
41
OP. Cit., cap. X, p. 255
42
Trad. Gibelin, Vrin, p. 17.
32
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43
O juízo de gosto não é, pois, nenhum juízo de conhecimento, por conseguinte não é
lógico e sim estético, pelo qual se entende aquilo cujo fundamento de determinação não
pode ser senão “subjectivo”.
Toda a referência das representações, mesmo a das sensações, pode porém ser
objectiva (e ela significa então o real de uma representação empírica); somente não pode
sê-lo a referência ao sentimento de prazer e desprazer, pelo qual não é designado
absolutamente nada no objecto, mas no qual o sujeito se sente a si próprio do modo como
ele é afectado pela sensação.
Vê-se facilmente que se trata do que faço dessa representação em mim mesmo, não
daquilo em que dependo da existência do objecto, para dizer que ele é “belo” e para provar
que tenho gosto. Cada um tem que reconhecer que aquele juízo sobre a beleza, ao qual se
mescla o mínimo interesse é muito faccioso e não é nenhum juízo de gosto puro.
Não se tem que simpatizar minimamente com a existência da coisa, mas pelo contrário
ser a esse respeito completamente indiferente, para em matéria de gosto desempenhar o
papel de juiz.
Na verdade o agradável parece ser em muitos casos idêntico ao bom. Assim se dirá
comummente: todo o deleite (nomeadamente o duradouro) é em si mesmo bom; o que
aproximadamente significa; ser duradouramente agradável ou bom é o mesmo. Todavia
podesse notar logo que isto é simplesmente uma confusão falsificadora de palavras, já
que os conceitos que propriamente são atribuídos a estas expressões de nenhum modo
podem ser intercambiados.
43
VÉRTICES, Campos dos Goytacazes/RJ, v.14, n. 3, p. 103-115
33
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1. Juízo do Gosto;
2. Juízo do Gosto sob o aspecto da quantidade;
3. Juízo do Gosto examinado do ponto de vista da relação;
4. Juízo do Gosto segundo a modalidade;
44
Pareyson, 1993, p. 64.
34
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comum. «É belo aquilo que é reconhecido sem conceito como objecto de uma satisfação
necessária».
3.3 O SUBLIME
O Sublime é em função da finalidade que só existe para o Belo, objecto de uma
satisfação, o sublime por definição não atingido «senão ideias de razão» e nenhum
«objecto da natureza» e, por isso mesmo, não podendo estar «em nenhuma forma
sensível». O sublime é apreendido em si, como contrário à fidelidade.
Para Kant, a arte é uma criação consciente de objectos, produzindo nos que os
contemplam a impressão de terem sido criado sem intenção, à semelhança da natureza.
A estética de Hegel, diz um dos seus exegetas, como a sua filosofia em geral, foi a
mais célebre e a mais profundamente admirada na Europa.45
Para Hegel, a Beleza é a aparição sensível da ideia: o conteúdo da arte é a ideia; a sua
forma, a configuração sensível e imaginativa.
46
Schopenhauer nos adverte que cada coisa tem a sua beleza própria, mas uma
hierarquia conduz-nos da matéria a vida e dos seres vivos ao homem: «É a beleza humana
que representa a objectivação mais perfeita ao nível do mais alto grau onde ela é
reconhecível».
É necessário compreender que para Schopenhauer «dizer que uma coisa é bela, é
dizer que é o objecto da nossa contemplação estética». Em síntese, a crítica da razão pura
apresenta questões em relação ao conhecimento e a epistemologia. A crítica da razão
prática inclina-se as questões éticas.
45
I. Knox The Aesthetic Theories of Kant, Hegel and Schopenhauer, p.79.
46
VECCHIOTTI, Icilio, Schopenhauer, Edições 70. Lisboa, 1990.
35
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Para Kant dizer que algo é belo, não cria um conhecimento. Desta forma não pode
ser universalizado porque a ideia de beleza é subjectiva, quando encontramos algo que
declara belo inclina-se a universalizá-lo para que os demais também o considerem como
belo, porém pode houver revolta quanto a unanimidade de sua beleza.
O que pode causar agrado para uns pode não causar para outros, a complacência, ou
seja, tendência frequente em concordar com outra pessoa procurando agradá-la ou
tentando ser agradável.
Para Kant Belo é aquilo que encanta, agradável é aquilo que deleita e bom é aquilo
que causa estima e aprovação.48
47
Duarte, 1981, p. 31-32)
48
Esta frase, como as anteriores, oferece problemas de concordância gramatical. Veja a respeito, na ed.
Da Acad., I, p. 517.
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Quando nos encantamos com a beleza de algo, é possível ainda afirmar o Belo como um
objecto de prazer, porque ele não tem conceito, não tem intenção, não tem finalidade.49
50
Kant, em observação a estética, também analisou que seria sublime, por meio do
sublime o homem descobre que a própria destinação é adequar-se as ideias da razão.
Portanto, o Sublime é propriamente o sentimento do destino metassensível do homem, ou
seja, que faz o homem refletir.
51
O belo é limitado e possui forma, e o sublime é ilimitado e não possui forma. O
Belo é um prazer positivo, ele agrada por si mesmo, está conectado com a imaginação e
atinge o individual; O sublime é um prazer negativo, porém, possui constante estima, ele
está conectado com a razão e atinge o colectivo. O belo está nas coisas e o sublime nos
indivíduos.
Segundo Miguel Reale, diz que o sublime não está nas coisas sensíveis somente nas
ideias da razão, a verdadeira sublemedade se encontra no espírito de quem julga e a quem
que ao adimirar algo sublime despreze a imaginação, e ainda diga que a potência da
imaginação é inapta para as ideias da razão; e afirma que o sentimento do sublime deve
ser a estima da nossa própria destinação, já que somos seres racionais, das observações
de Kant.
49
MARCUSE, Herbert, A Dimensão Estética, edições 70, Lisboa, 1999.
50
Kant, I. (2012). Crítica da faculdade do juízo (Trad. V. Rohden y A. Marques) (3a. ed.). Rio de Janeiro:
Forense Universitária. [ Links ]
51
https/Youtube, 20 de Dezembro de 2022. 16:30
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A IDEIA DO BELO E DO GOSTO. UM ESTUDO ESTÉTICO-EPISTEMOLÓGICO NOS DIAS DE HOJE, À LUZ DE IMMANUEL KANT.
Antes de tudo é preciso convencer-se inteiramente de que pelo juízo de gosto (sobre
o belo) imputa-se a qualquer um o comprazimento no objecto, sem contudo se fundar
sobre um conceito (pois então se trataria do bom); e que esta reivindicação de
universalidade pertence tão essencialmente a um juízo pelo qual declaramos algo belo,
que sem aí pensar aquela universalidade, ninguém teria ideia de usar essa expressão, mas
tudo o que apraz sem conceito seria computado como agradável, com respeito ao qual se
deixa a cada um seguir a sua própria cabeça e nenhum presume ao outro adesão ao seu
juízo de gosto, o que entretanto sempre ocorre no juízo de gosto sobre a beleza.
52
Posso denominar o primeiro de gosto dos sentidos, o segundo de gosto da reflexão:
enquanto o primeiro profere meramente juízos privados, o segundo por sua vez profere
pretensos juízos comummente válidos (públicos), de ambos os lados, porém, juízos
estéticos (não práticos) sobre um objecto simplesmente com respeito à relação da sua
representação com o sentimento de prazer e desprazer.
52
KANT, Immanuel, Crítica da Faculdade do Juízo, Imprensa Nacional Casa-da-Moeda, Lisboa, 1992.
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53
Mas de uma “validade universal subjectiva”, isto é, estética, que não se baseia em
nenhum conceito, não se pode deduzir a validade universal lógica, porque aquela espécie
de juízos não remete absolutamente ao objecto.
54
Só e unicamente os juízos sobre o bom, ainda que determinem também o
comprazimento num objecto, possuem universalidade lógica, não meramente estética;
pois eles valem em relação ato objecto, como conhecimento do mesmo, e por isso para
qualquer um.
55
As faculdades de conhecimento, que através desta representação são postas em
jogo, estão com isto num livre jogo porque nenhum conceito determinado as limita a uma
regra particular de conhecimento. Portanto, o estado do ânimo nesta representação tem
que ser o de um sentimento do jogo livre das faculdades de representação numa
representação dada para um conhecimento em geral.
Ora, a uma representação pela qual um objecto é dado, para que disso resulte em
geral conhecimento, pertencem “a faculdade da imaginação”, para a composição do
53
Ibdem, p. 105.
54
Ibdem, p. 108.
55
Ibdem, 111.
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CONCLUSÃO
Em guisa de conclusão, apraz-me dizer que a origem de toda beleza, deve haver
uma primeira beleza que pela sua presença torna bela as coisas que designamos por belas,
qualquer que seja o modo como se faz essa comunicação. O Belo não era um atributo
particular de mil e um objetos; sem dúvida, homens, cavalos, vestuário, virgem ou lira,
são coisas belas; mas, acima de tudo isso, existe a beleza em si.
Entretanto, Kant discorda de padrões que determinam o que seja belo, pois, para
ele, esse termo não precisa ser regido por regras, por estar relacionado a objetos da
natureza, portanto, não precisa ter conceito para agradar alguém. Dessa afirmação,
ressalta que todo juízo de gosto emitido pelo indivíduo nessa perspectiva é estético, pois
envolve o seu sentimento, e não o conceito do objeto analisado.
Afirma que: a beleza para a qual deve ser procurado um ideal não tem de ser
nenhuma beleza vaga, mas uma beleza fixada por um conceito de conformidade a fins
objetiva; consequentemente, não tem de pertencer a nenhum objeto de um juízo de gosto
totalmente puro, mas ao de um juízo de gosto em parte intelectualizado.
Portanto, ao refletir sobre o belo e a arte, Kant compreende que não há uma ciência
do belo, pois não há dados científicos que comprovem o que algo pode ser belo ou não.
Em adição a essa afirmação, pontua que arte não é ciência, portanto, o juízo de gosto não
é científico. Compreende a arte como técnica artística – artes do fazer – e, nesse sentido,
fica claro a sua afirmação de que arte é criação humana, porém, pode ser encontrada na
natureza, pois, como dito anteriormente, não há regras para aquilo que é arte.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade do Juízo. Tradução de Valério Rohden e
António Marque. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.
OSBORNE, Harold. Estética e Teoria da Arte. 9ª ed. São Paulo: Cultix, 1993.
Hegel, F (2001). Cursos de estética. (Trad. M. A. Werle) (2ª. ed.). São Paulo:
EDUSP.
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