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JOÃO PESSOA
2019
JOSÉ PEDRO DA CUNHA MOTA JUNIOR
JOÃO PESSOA
2019
Kant define a experiência estética como puramente contemplativa. Destarte, não é
passível de ser fundada em conceitos. Precisamos, contudo, observar em que tipo de relação,
segundo o filósofo, se desenvolve este ato contemplativo. Portanto, para perfeito
entendimento de como se desenha a estética kantiana, sob o prisma de sua Crítica da
Faculdade do Juízo, é fundamental a previa compreensão do conceito de “desinteresse”.
O que garantiria uma experiência estética legítima, é que este ato seja desinteressado,
ou seja, é necessário que ele seja livre de qualquer relação de utilidade ou interesse entre o
observador e o objeto. Quando lemos um livro de Machado de Assis pelo prazer inerente ao
próprio ato, esta atividade é genuinamente estética. O que não ocorreria caso a atividade tenha
qualquer interesse além do que oferece no instante da prática em si. Esta mesma atividade
perderia seu predicado estético caso envolvesse qualquer conveniência que não o ato reflexivo
em que se dá a contemplação, verbi gratia, a leitura da mesma obra com pretensões
acadêmicas, seja a produção de fichamentos, análise de estilo literário ou outra qualquer
preocupação que não o prazer proporcionado pelos sentidos.
Suplantado este conceito fundamental, nos debruçamos sobre o juízo de gosto, que na
Analítica do Belo, é apresentado como estético, em contraponto ao juízo de entendimento.
Este seria objetivo, lógico, de natureza meramente teórica, configurando-se como juízo
determinante. Por outro lado, o juízo de gosto é reflexivo e imaginativo, independe de
conceitos ou regras, valorizando apenas a relação subjetiva entre o ser cognoscente e o ser
cognoscível, e as sensações dadas pelos sentidos, sempre pautadas pelo desinteresse. A
qualidade estética de determinado objeto, que nos levará a determinado juízo de gosto, não
está no que ele objetivamente é ou apresenta ser, física ou conceitualmente, mas sim naquilo
que ele representa de subjetivo, que só pode se dar em sua relação particular com o sujeito
que o observa.
Corrobora para o fortalecimento desta assertiva, que este encontro do sujeito com o
Belo, passa por um jogo entre as faculdades de imaginação e entendimento, jogo que pode ser
experimentado por outro observador, tendo o mesmo sentimento partilhado. Concebendo
assim, a suposta universalidade, e diferenciando o juízo de gosto, do que seria uma juízo de
preferência, não universal.
Por fim, precisamos contrapor o conceito de Sublime ao de Belo. Enquanto este está
arraigado em sua relação com o objeto, o Sublime consegue exceder este limite, relacionando-
se com emoções mais intensas ou violentas, envolvendo então a razão. Ele não se prende ao
objeto e um eventual prazer estético consonante à percepção de beleza. Mas sensibiliza
através de uma lista não exaustiva de sentimentos, como medo, angústia, aflição e etc. Como
afirma Kant, o Sublime comove, enquanto o Belo atrai. Interessante observar que o
romantismo é o primeiro movimento que rompe com a adoração do Belo, predominante na
Arte Clássica, dando protagonismo ao Sublime.