Você está na página 1de 10

Filosofia – EM – Aula 12

Bons estudos!

ESTÉTICA E FILOSOFIA DA ARTE


Lição 1 de 1

ESTÉTICA E FILOSOFIA DA ARTE

Quem de nós já não ouviu falar ou mesmo entrou


em um instituto de estética corporal e facial
sabendo que ali encontraríamos um bom corte de
cabelo ou um tratamento de pele?
Expressões também, tais como: “fulano não tem senso estético” ou “esta cor de parede não
acompanha a estética da casa“etc, são moeda corrente nas conversações cotidianas. Podemos
observar que nesses usos da palavra estética está presente a relação com a beleza, ou pelo
menos a algo aprazível. Saindo do uso comum do termo, na arte, enquanto campo de estudos de
sua origem, das características formais que assume etc., encontramos o termo, por exemplo,
como um conjunto de características que compõem um estilo em determinadas épocas: estética
clássica, estética moderna, estética realista etc. Neste momento de nossa aula, veremos como a
estética se situa no campo da filosofia, na verdade, como parte da filosofia que estuda
racionalmente o “belo” e os efeitos que suscita nos homens.

No Hípias maior, Sócrates resumiu seu diálogo sobre a beleza com o seguinte provérbio grego:
“Toda beleza é difícil.” A principal dificuldade filosófica pode ser entendida da seguinte forma:
como conciliar a beleza como ideia objetiva com o prazer subjetivo suscitado pelas coisas belas?
No Banquete de Platão, a conciliação é obtida por meio de Eros, recaindo o acento sobre a
experiência de beleza e o prazer por ela suscitado. O alinhamento platônico entre beleza e Eros
foi contrariado pela definição mais objetivamente inclinada de Aristóteles na Metafísica, onde se
sustenta que “as principais formas de beleza são a ordem e simetria, e a definição clara”. As duas
diferenças de ênfase, já evidentes nas filosofias gregas da beleza, persistiram até e para além de
Kant na distinção entre enunciados subjetivos e objetivos de beleza.
A definição objetiva de beleza prevaleceu na filosofia medieval, na qual a beleza era classificada
como um dos transcendentais, ou aqueles atributos, incluindo o Uno, o Bom e o Verdadeiro, que
se harmonizam com todos os gêneros. São Tomás de Aquino descreve suas famosas três

“condições” de beleza como sendo: integritas ou perfeição; devida proporção ou harmonia


(consonantia); e, por último, brilho ou claridade (claritas). Essas condições permitem que a
beleza seja “conversível” com os outros transcendentais: integritas com o Uno, consonantia com
o Bom e claritas com o Verdadeiro.

Na filosofia moderna, a concepção transcendental da beleza veio a ser subsequentemente


combinada por Leibniz com a experiência de prazer; suscitou-se, então, a ideia de que “uma
perfeição objetiva obscuramente percebida suscitava um prazer subjetivo”. Para o racionalismo de
tipo leibniziano, a beleza consistia em “perfeição” ou na “unidade de um múltiplo”. Entre as
percepções, somente há diferença no grau de distinção e de clareza: aquele que chamamos
conhecimento sensível, um conhecimento confuso em relação ao conhecimento intelectual. Ora,
o conhecimento do belo, que pertence à esfera sensível, não passa de um conhecimento
confuso da perfeição dos objetos, um conceito confuso da perfeição. Compreende-se, então,

por que alguns teóricos da arte consideram justificada a universalidade dos juízos estéticos: ela
tem um fundamento objetivo, ou seja, a perfeição do objeto confusamente percebida. Como
fundamento da intuição do belo, deve haver, portanto, um conceito, mesmo que confuso, do
objeto considerado belo. Esses comentadores afirmam, também, que o conhecimento estético

tem relação com o sentimento, mas o sentimento também é determinado por uma qualidade
objetiva: da perfeição do objeto confusamente conhecida.

Leibniz

O empirismo também nega toda diferença específica entre conhecimento sensível e


conhecimento intelectivo, mas em benefício da sensibilidade, e reduz tudo a conhecimento
sensível. Assim, até a intuição do belo deveria reduzir-se à pura sensibilidade. E, de fato, o juízo
estético, o juízo com o qual afirmo “esta coisa é bela”, baseia-se, segundo os empiristas, apenas
na impressão subjetiva, na impressão fisiológica produzida pela coisa bela.
Imannuel Kant

Já Imannuel Kant encontrava-se, desde a década de 1760, muito familiarizado com ambas as
explicações de beleza. Suas reflexões pré-críticas e a explicação do conceito de estética
desenvolvida em seu livro Lógica enfatizam o lado objetivo de beleza. Na referida obra, ele
posiciona-se ao lado dos que, como ele, identificam a perfeição como base para a beleza e
consideram que a experiência de prazer no belo resulta da percepção sensível, subjetiva, de tal
perfeição. Por sua vez, a perfeição compreende a “harmoniosa união” de “diversidade e unidade”.
É em sua Crítica do Juízo que Kant promove uma crítica do juízo estético, abandonando, com
isso, a posição perfeccionista com que compactuava até então.
O ponto de partida da Crítica do Juízo é, como em suas duas outras Críticas, o exame da
seguinte questão: como são possíveis juízos estéticos com valor universal? Tal como na Crítica
da Razão Pura, Kant buscará uma mediação entre empirismo e racionalismo. Sua análise dos

juízos do belo na “Analítica do belo” mostra que eles não se coadunam com as explicações
subjetivas (empirismo) ou objetivas de beleza (racionalismo).

QUALIDADE Aquilo que “apraz sem interesse algum”.

QUANTIDADE Aquilo que “apraz universalmente” sem um conceito.

A “forma de finalidade num objeto ... percebida nele


RELAÇÃO
independentemente da representação de um fim”.

Aquilo que, sem conceito, é o objeto de uma


MODALIDADE
“satisfação necessár”.

Em cada caso, Kant distingue o belo das explicações dominantes de beleza que se apoiavam
numa base de perfeição ou de um sentido (empirismo). Kant rejeita a tese empirista porque ela

não explica como pode o juízo estético ser compartilhado por todos. O juízo estético tem
pretensão de universalidade, de objetividade. Dizer “tal coisa é bela” e “tal coisa me agrada” não
é o mesmo, mas a tese empirista não explica essa diferença. A constatada insuficiência da tese
empirista dá origem a primeira asserção kantiana sobre o juízo estético: o belo é objeto de um

prazer desinteressado.

Do caráter desinteressado do prazer estético decorre a segunda característica: belo é aquilo que
agrada universalmente, e Kant acrescenta: sem conceito. Esse acréscimo, justificado pela
insistência no prazer que move o juízo estético, prazer e não conceito, abre caminho para a

terceira característica: a beleza é a forma da finalidade de um objeto na medida em que é


percebida sem a representação de um objeto. A quarta característica do juízo estético é a
necessidade já implícita na universalidade. Kant apresenta a natureza da beleza em termos da
negação da sensibilidade e do conceito, ou em termos de formulações paradoxais, como a de
conformidade a um fim sem um fim.

Essa abordagem levou Kant a enfrentar algumas novas dificuldades com o conceito de beleza. Ao

distinguir beleza de qualquer conteúdo, racional ou sensível, limitou severamente seu âmbito. Se
o conteúdo sensível desempenhasse qualquer papel, então o belo deixaria de ser belo para ser
apenas agradável; se o conceito estivesse envolvido, então o belo seria convertido, com extrema
facilidade, no racional. Se pudessem existir, tais belezas seriam “dependentes” e contrastariam

com as belezas “livres”, que “nada representam” e, rigorosamente falando, não podem sequer ser
artefatos.

Vamos nos deter um pouco na segunda e na terceira características. “Universalidade sem


conceito” (quantidade), “finalidade sem objetivo” (relação) são expressões aparentemente

contraditórias, nas quais reside, contudo, o aspecto mais original da ética kantiana, ou, como ele
próprio diz, “a chave da crítica do gosto”. O juízo estético é determinado por um sentimento, não
pelo conceito confuso da coisa, pelo conceito objetivo da coisa bela – nesse ponto, Kant
concorda com os empiristas –; mas o sentimento, o prazer estético, é determinado por um

conhecimento, é o prazer de um conhecimento, é o senso da harmonia entre a imagem sensível


do objeto e nosso intelecto em geral.
O prazer estético é certamente a apreensão da inteligibilidade do objeto, mas tal apreensão
advém da consciência da harmonia de nossas faculdades: da imaginação com o intelecto.
Compreende-se, portanto, a expressão “finalidade sem objetivo”, uma vez que perceber uma
finalidade sem objetivo significa perceber que uma coisa tem um sentido, uma inteligibilidade,

sem saber precisamente a qual ideia ela corresponde. O sentido, a finalidade, é percebido por
meio do sentimento da harmonia entre nossas faculdades. Daí o sentimento de plenitude, de
satisfação que caracteriza a apreensão do belo: porque todas as nossas faculdades entram em
jogo.

Como a beleza é o modo como o homem sente a finalidade do real, compreende-se que, para
Kant, a beleza da natureza seja tão importante: o céu estrelado lhe revelava a inteligibilidade do
real tanto quanto a lei moral. Kant revela-se menos sensível à beleza artística, embora não deixe
de abordá-la.
Na estética do século XVIII, além do belo, também se falava muito do sublime. Kant já associara
os dois conceitos nas Observações sobre o sentimento do belo e do sublime, e volta a falar
deles na Crítica do Juízo. Sublime é “aquilo que é absolutamente grande”, ou seja, “aquilo que é

grande além de toda comparação”. Absolutamente grande é aquilo em relação ao qual todas as
outras coisas são pequenas, e só o infinito pode ser assim. Ora, o infinito não pode ser objeto de
conhecimento porque não pode ser dado na experiência: de certa forma, é pressentido pelo
Juízo diante de certos espetáculos naturais que superam todos os poderes de nossa imaginação

(altas montanhas, o oceano durante a tempestade) porque projetamos neles aquela grandeza
absoluta que só é própria do suprassensível, e que está em nós enquanto pessoas morais,
pertencentes ao mundo inteligível.

A influência da definição de Kant de beleza foi enorme, em parte por causa de sua habilidade em
significar tudo para todos. Para os idealistas alemães, assinalou a tentativa de unir os domínios
da natureza e da liberdade, e ocupou um papel de destaque em Schiller, Schelling e Hegel. No
final do século XIX e começo do século XX, o foco da terceira crítica sobre a pureza do juízo do
belo encareceu-a aos olhos dos neokantianos, e, depois da II Guerra Mundial, foi usada pelo

crítico Clement Greenberg, entre outros, como justificação teórica para a arte abstrata. Como
resultado, a definição de Kant de beleza continua a servir como ponto de partida para muita
reflexão filosófica sobre o belo e talvez menos a despeito de suas incongruências e deficiências
do que por causa delas.

Você também pode gostar