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Aluno: Daniel de Matos Guedes/ Matrícula: 21952958

Parte I -Transformações do Gueto Norte-Americano na Realidade e no


Discurso Público

Dos Distúrbios Raciais aos Dirtúrbios Sileciosos: Visões Cambiantes do


Gueto

Com a leitura da Parte I, Transformações do Gueto Norte-Americano na Realidade


e no Discurso Público, pode-se perceber de início, que os levantes raciais espalhados
pelas comunidades afro-norte-americanas das cidades do Norte traçaram uma luta contra
o autoritarismo branco e deram lugar aos disturbíos lentos de membros da comunidade
preta uns contra os outros, da rejeição maciça das escolas, da decadência social interna e
do tráfico de drogas.
Os movimentos mais importantes para a comunidade negra aconteceram no ano
de 1960, e graças a estes movimentos foi possível gerar uma esperança coletiva na
comunidade pois mudanças quanto a linguagem do debate público em relação ao gueto
foram fortemente percebidas. A questão da conexão social entre raça, classe e pobreza
foi reformulada em termos de motivações pessoais, de normas familiares e de valores de
grupo dos residentes das zonas centrais.
Mesmo que a classe média negra tenha obtido um progresso e uma expansão real,
mesmo que pouca, a probreza negra urbana ainda é intensa, mais tenaz e mais
concentrada hoje do que em 1960. Há uma grande diferença econômica, social e cultural
entre as minorias das zonas centrais enquanto o resto da sociedade alcançou níveis sem
precedentes na moderna história note-americana e desconhecidos em outras sociedades
avançadas.

Não se trata do velho gueto

O gueto dos anos 1980 é muito diferente do da década de 1950. O gueto pós-
guerra compreendia um pleno complemento de classes negras entrelaçadas por uma ma
consciência coletiva unificada e uma divisão social do trabalho. O conceito de gueto para
aquela época constituia não como sistema, mas sim como um lifeworld, ou seja, refere-se
às experiências e relações concretas de seus ocupantes.
O gueto hoje tem mudado sua composição interna juntamente com seu ambiente e
com os processos institucionais que simultaneamente o atrelam ao restante da sociedade
norte-americana e nela asseguram sua localização dependente e marginal.

Três advertências preliminares

Antes de traçar um retrato das condições sociais e da vida nas zonas centrais
contemporâneas, três advertências devem ser feitas.
Primeiro, é importante ressaltar que o gueto não é só uma entidade topográfica ou
uma agregação de famílias e indivíduos pobres. Também é considerado uma forma
institucional. Em uma definição menos complexa, o conceito de gueto pode ser
determinado como uma formação socioespacial delimitada, racial e/ou culturalmente
uniforme, baseada no banimento forçado de uma população negativamente tipificada.
O segundo ponto que deve ser levado em consideração é resistir à tendência de
tratar o gueto como um espaço estranho. É comum e equivocado ver nele apenas o que é
diferente devido a reportagens jornalísticas e nos preconceitos de raça e classe comuns
contra os negros pobres.
Já a terceira advertência diz que o gueto não sofre de “desorganização social”, um
conceito que também é considerado equivocado. Em vez disso, o termo correto seria
“diferentemente organizado”, em resposta à impiedosa pressão da necessidade
econômica, da insegurança social, da hostilidade racial e da estigmatização política.

Do gueto “comunal” da década de 1950 ao “hipergueto” dos anos 1980

A segregação obrigatória dos negros ia além de moradia, abragia também as


escolas, os empregos e à representação política, fazendo com que uma estrutura social
fosse construída em um paralelo sem correspondência com a dos brancos.
Este fato pode ser observado na década de 1980, anos em que houve um aumento
na criminalização da cidade e a maioria desses crimes foi cometidos por e contra
habitantes do gueto. A combinação da disponibilidade de armas, da expulsão
prolongadada do trabalho assalariado e da difusão do tráfico de drogas modificou as
regras do confronto masculino nas ruas, de forma que fornecem combustível à escalada
dos crimes de morte.
O meio de viver para os habitantes do gueto sofreu diversas mudanças, como as
janelas e portas das casas ou apartamentos serem protegidas por pórtidos de metal e
grandes contra ladrões pois as residências se tornaram tão inseguras quanto as ruas. Os
parques eram considerados áreas “proíbidas” após o cair da noite porque eram áreas de
gangues. As escolas também faziam partes destas zonas inseguras. Muitos
estabelecimentos públicos da zona central de Chicago organizam milícias de país que
patrulham os pátios das escolas armados com bastões de beisebol enquanto as turmas
estão em aula.
“O gueto não é um lugar para se ser criança” disse o título do livro de Kostelny e
Dubrow. Jovens criados nesse ambiente de violência experimentam enormes danos
emocionais e apresentam distúrbios pós-traumáticos de estresse semelhantes aos
sofridos pelos veteranos. É comum mães enviarem seus filhos para viver nos subúrbios
ou com a família no sul, a fim de protegê-los das brutalidades do bairro.

Despovoamento, exclusão e colapso organizacional do gueto

Enquanto o gueto de 1950 tinha uma superpopulação como resultado do influxo de


migrantes negros provinientes do sul,o gueto contemporâneo tem sofrido um constante
despovoamento devido famílias de melhor posição econômica se mudarem em busca de
ambientes mais compatíveis. Além disso, muitas residências foram destruídas por
incêndios criminosos e abandono dos programas de renovação urbana, que derrubaram
mais moradias que construíram.
Todavia, a mudança drástica que acarretou no despovoamento do gueto foi o
acentuado declínio da população empregada, causado por dois fatores que se reforçaram
mutualmente: o contínuo êxodo de famílias negras em situação de mobilidade ascendente
e o crescente desemprego dos que ficaram para trás.
Isso tudo aconteceu pois no final da grande guerra, todos os negros foram
forçosamente relegados ao mesmo enclave social comprimido e não tiveram escolha
senão coexistir nele. A desconcentração da comunidade afro-norte-americana dispersou
as instituições do gueto e aumentou suas diferenciações para manter o padrão
predominante de segregação racial. As novas moradias públicas foram exclusivamente
construídas em áreas de gueto para que somente os mais pobres tolerassem morar.

Malandragem e sobrevivência na economia informal

As estratégias de sobrevivência variam em função dos recursos sociais,


econômicose culturais dos lares pobres, bem como de sua composição. Muitos
moradores do gueto, a fim de levantar a renda necessária para atravessar um período de
escassez, frequentemente penhoram bens, dão pensão, vendem seus cupons de ajuda
alimentar ou raspam suas poupanças, apesar da maioria dos adultos não possuir
poupança ou ao menos condições de manter uma conta corrente. A última estratégia de
sobreviência envolve ampla fama de atividades ilegais que vão do jogo e do crime com
agressão, passando pelo roubo com arma branca e pela venda de mercadoria roubadas,
até o assalto à mão armada, a prostituição e o tráfico de drogas.
Os jovens que estão envolvidos nestes meio ilícitos, são pegos por uma falsa
sensação de pequeno negócio empresaiado no qual podem empregar seus únicos ativos
vailiosos: a força física e um conhecimento funcional do mundo das ruas. Porém, o
impacto geral da economia das drogas sobre as comunidades do gueto é terrivelmente
destrutivo. Pode causar violência desenfreada, solapar a disposição dos jovens para
trabalhar por baixos salários (o que causa o interesse deles por meios alternativos),
causar também um ambiente pouco saudável e minar as relações familiares.

As raízes econômicas e políticas da hiperguetização

As causas da hiperguetização das zonas centrais envolvem uma complexa e


dinâmica concatenação de fatores econômicos e políticos que se desdobram por todo o
período do pós-guerra, a qual desmente a trama simplista e de curto prazo apresentada
pela narrativa da “underclass”. A causa mais óbvia é a transformação da economia norte-
americana de um sistema “fordista” fechado, integrado, centrado na fábrica, que abastecia
um mercado de massa uniforme, para um sistema mais aberto, descentralizado e
intensivo em serviços, montado para atender a padrões de consumo crescentemente
diferenciados. O segundo fator é a segregação racial e a concentração da pobreza negra
via políticas de habitação. O terceiro fator é a redução do miserável Estado de Bem-Estar
norte-americado. Por fim, o quarto fator é o “encolhimento planejado” e a marginalidade
política do gueto.
Desinvestimento empresarial, crescimento polarizado e segmentação racial no
mercado de trabalho de baixos salários: No todo, a polarização da estrutura ocupacional e
de salários, a decadência dos empregos e o endurecimento da segumentação racial a
base do mercado de trabalho têm reduzido efetivamente as opções de trabalho dos
negros do gueto, empurrando-os cada vez mais para o único setor de emprego a que eles
têm pronto acesso: a economia informal irregular das zonas centrais.
Segregação racial e a concentração da pobreza negra via políticas de habitação: O
fato dos negros pobres estarem concentrados no hipergueto nos anos de 1980 se dá pela
tolerância do governo com a permanente segmentação racial do mercado habitacional
que torna mais difícil para os negros pobres mudar-se do Centro das cidades, por conta
do aumento artificial do custo da casa própria e dos aluguéis nos bairros afro-norte-
americanos periféricos. Além disso, as moradias inadequadas e de qualidade inferior,
construídas pelo Estado para as pessoas de baixa renda foram deliberadamente
colocadas no Centro.
Redução do miserável Estado de Bem-Estar norte-americado: O recuo do Estado
de Bem-Estar durante as décadas de 1970 e 1980 é outra importante causa política de
contínua deterioração das oportunidades de vida dos moradores do gueto. Ao contrário da
popular retórica neoconservadora, aquelas décadas não foram um período de expansão e
generosidade da previdência, mas de retração geral. A taxa de efetividade dos programas
governamentais é mais baixa nas cidades centrais, ou seja, nestes locais, a capacidade
de mantes os benefícios acima da linha da pobreza é significantemente mais baixa.
Sacrificando a zona central: “encolhimento planejado” e a marginalidade política do
gueto: O colapso das instituições públicas no Centro das cidades e a promovida
marginalidade da população do gueto são criação de uma política que fragmentou a
esfera pública, enfraqueceu a capacidade política dos negros e estimulou o êxodo para o
setor privado de todos os que poderiam dar-se a esse luxo, deixando as frações mais
pobres da classe trabalhadora afro-norte-americana apodrecer no purgatório social do
hipergueto.

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