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As Ideias Políticas em Diamantina séc. XIX vistas através de seus Jornais.

“Quem mais ou menos não é bairrista? Não nego em mim esse


sentimento.” Joaquim Felício dos Santos – Diamantina
1/10/1864.

José Carlos Dias - 2019


INTRODUÇÃO – Objetivo do trabalho
Este trabalho tem por objetivo:
 Conhecer como se deu a história da implantação e desenvolvimento dos prelos em Diamantina - MG;
 Apontar as ideias, o pensamento e o embate político entre os partidos conservador e liberal que se
utilizavam desses jornais, revelando a disputa de interesses na dinâmica da vida da cidade, e como estas
contendas repercutiam em toda a Província, assim como, na Corte.
 Mostrar como era a Diamantina, cidade das letras, doutrina e luzes no século XIX, em Minas Gerais.
 Conhecer o perfil dos redatores e articulistas. O modo pelo qual se exprimiam e a erudição, e como os
editoriais e artigos refletiam o modo de viver de uma sociedade que lutava pela liberdade, por meio de
movimentos como a Inconfidência Mineira e a sedição do Mendanha contra absolutismo imperial.
 Mostrar como eram recebidas e tratadas pelos jornais locais as notícias publicadas pelos jornais de fora da
cidade.
 Identificar a estatura moral, a instrução e os costumes da população retratados pelas letras dos jornais, o
respeito por aqueles que ministravam as lentes e estavam presentes nas redações.
 Tratar do tema recorrente - a escravidão - estampada por meio de artigos dos jornais. A dubiedade de
uma sociedade que lutava por liberdade e igualdade, mas, ao mesmo tempo, tolerava a escravidão.
 Como se estabeleciam as relações da imprensa diamantinense com a administração dos intendentes,
contratadores, o sistema de justiça e a Igreja local.
 Como eram relações entre os distritos nas disputas eleitorais.
 Como foi o período pré-republicano, o posicionamento dos políticos e a maçonaria em Diamantina.
Assiste refletir que em tempo de muita desesperança, de falta de perspectivas em relação aos homens, se deve
voltar os olhares para o princípio, de modo que se possa identificar as nossas raízes, o início da caminhada, quando
a estrada ainda era apenas uma tímida e sinuosa trilha.
Em suma, o objetivo deste trabalho é conhecer um pouco a Diamantina, essa importante cidade barroca do norte
de Minas Gerais, a Atenas do Norte, que viveu seu apogeu no meado do século XIX. Diamantina de riqueza, de
mulheres e homens letrados, apresentados nas primorosas páginas de seus inúmeros jornais; suas escolas, seus
dedicados mestres, cujos alunos ali iniciados eram aprovados com distinção e mérito, e se projetavam no cenário
político e cultural da nação.
Os jornais possuíam características regionais, mas não se furtavam a apresentar notícias da Corte e do mundo. Seus
artigos iam além de si, para percorrer as folhas de seus assemelhados da capital da província e da corte.
Seus redatores eram homens públicos com cargos na política, deputados e senadores provinciais, deputados gerais
e senadores do Império, de cultura esmerada iniciadas nas excelentes escolas preparatórias da Diamantina e nas
graduações acadêmicas conquistadas nas faculdades de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro.
Nota: todos os elementos transcritos nesse trabalho foram feitos em ortografia atual; preservando-se, o máximo
possível, o estilo literário original; entretanto, alguns nomes foram preservados como escritos originalmente.
Preferiu-se manter a forma original para os nomes dos lugares como era feito na grafia do século XIX. Os artigos que
apresentam, por exemplo, a grafia ora Tejuco, ora Tijuco, foi mantida.
Critério idêntico é utilizado para os nomes próprios das personagens, preferiu-se o nome de batismo: Theophilo, ao
invés de Teófilo, ou Josephino, no lugar de Josefino etc.

 Assim se chegou ao Tijuco


Finalmente, ainda que com grandes imperfeições nenhuma coisa faço que
não seja com Deus, por Deus e para Deus; e para estar na bem-aventurança
só me falta vê-Lo, que seria maior gosto, mas não maior felicidade. (Padre
Antônio Vieira – Carta ao padre Francisco de Morais – 1653 – Maio seis -
Editora Globo)

Segundo o advogado, jurista, e político, e jornalista, e historiador, e romancista Joaquim Felício dos
Santos, no livro Memórias do Distrito Diamantino da Comarca do Serro Frio: As lavras do Tijuco até o
ano de 1729 foram consideradas como puramente auríferas, e, portanto, sujeitas ao regimento dos
superintendentes e guardas-mores das terras minerais”.
Reprodução do Mapa da Rota do “visitante” John Mawe, do Rio de Janeiro (...) ao Tijuco do Serro Frio – 1812. Este
mapa ajudou a definir a Estrada Real.
Portugal envidou todos os esforços e recursos para manter o domínio sobre a Terra de Santa Cruz.
Travou disputas sangrentas para expulsar os invasores estrangeiros em diversas áreas do território, e coibiu, por
meio da força, revoltas e revoluções do povo. Não se pode negar a bravura dos homens portugueses e brasileiros já
colonizados para preservarem suas conquistas.
Mais ainda, a Coroa incentivou, com objetivos expansionistas, desbravarem-se matas e florestas, rios e montanhas,
enfrentar bravos e resistentes nativos. Dessa forma, não cumpria o Tratado de Tordesilhas assinado com a Espanha
(1498), que dividia entre os dois países potências as terras descobertas do novo mundo. Para dar fim às disputas e
trazer paz às nações foi necessário estabelecer novos limites, formalizado pelo Tratado de Madri, (1750), 250 anos
depois da descoberta do novo continente.  
Na organização interna da colônia, Portugal impunha duras medidas administrativas e legais; nomeava pessoas
extremamente alinhadas com a Coroa para governar as capitanias e províncias; a Igreja oficial, como um ente
comum, tratava de reforçar a subordinação temporal à espiritual. Com esse direcionamento, Minas Gerais era a
província mais visada.
Na região de Diamantina, a entrada e saída de pessoas de seus limites eram controladas. Sem ordem expressa,
ninguém podia entrar ou sair de seu território. Nas rotas de acesso, foram instalados os denominados quartéis com
o controle da severa guarda nacional para fazer cumprir por meio da força, se necessário, essa ordem.
Além do que previa a Coroa, não se podia produzir por aqui nada além, tudo que fosse produzido que não fosse o
determinado era considerado de origem clandestina e seria submetido, portanto, às severidades de uma lei, que
não admitia qualquer controvérsia.
A legislação portuguesa durante os 300 anos impediu ainda a introdução de tipografias em todo território brasileiro.
Não poderia haver jornais em circulação ou a impressão de livros. As leis eram contrárias ao desenvolvimento.
Portugal evitava criar nas colônias, em especial no Brasil, centros de difusão de cultura, não estimulava a criação de
universidades ou faculdades.   O governo não queria que se espalhassem artes e ciências no Brasil, porque quanto
mais luz tivessem os colonizados, mais ainda a Coroa estaria em perigo. O absolutismo folga de manifestar-se por
regulamentar sobre tudo e a propósito de tudo. (Dr. Joaquim Felício dos Santos).
As relações morais e éticas dos indivíduos regem e organizam a sociedade, estimulam a razão. Mas, para
isso, um fator determinante precisa acompanhar: a boa educação; é a educação que confere a
transferência do saber e dos valores humanos.
Mapa da Capitania de Minas Gerais – 1777 – Mandado fazer por Antônio Noronha, Governador Capitão.

• As Escolas Públicas em Minas Gerais


Não há erro mais perigoso que o confundir o efeito com a causa. Considero
esta, a verdadeira perversão da razão. (F. Nietzsche – Crepúsculo dos
Ídolos)

Foi o rei Dom João V que por meio de carta-régia dirigida ao Governador de Minas, Dom Lourenço de Almeida, em
22 de março de 1721, que obrigou a instalação da educação pública em Minas.

“... Chegou ao conhecimento de D. João V, não se sabe como e quando, que havia por aqui uma numerosa e
crescente mocidade desamparada, indolente e sem instrução. (Artigo: Início da Instrução Pública em MG –
Suplemento Pedagógico do Minas Gerais – dez./1974).

Acervo de Zé da Sé
Carta de Dom João V à Dom Lourenço:
“Sou informado que nessas terras há muitos rapazes os quais se criam sem doutrina (educação) alguma, que como
são ilegítimos se descuidam os pais, nem as mães são capazes de lhes darem doutrina: encomendo-vos trateis com
os oficiais (vereadores) das Minas deste Povo, sejam obrigados em cada Vila a ter um mestre que ensine a ler,
escrever e contar, que ensine latim e os pais mandem seus filhos a estas escolas... “E os ditos pais pagarão também
aos ditos mestres o salário correspondente.” (Revista do Arquivo Público Mineiro, ano XX p. 126).
Em 28 de setembro do mesmo ano (1721), o governador respondeu ao rei:
“... Logo que esta frota partir chamarei os procuradores e falarei com eles que paguem mestres para
ensinar os muitos rapazes, que há; porém, receio muito que estes tomem pouca doutrina por serem
todos filhos de negros que não é possível que lhes aproveitem as luzes (conhecimentos), conforme a
experiência, que há em todo este Brasil, mas sempre se há de obedecer a V.M. Como é justo e somos
obrigados”. (O mesmo artigo no Suplemento Pedagógico do Minas Gerais).
A ausência das escolas tinha múltiplas razões. Entre elas, o pretexto utilizado pela sua não instalação era
sempre de não existirem mestres disponíveis para se instalar os educandários. Na verdade, faltava boa
vontade e interesse, e sobrava discriminação.
A instalação das escolas ficou subordinada à Administração Provincial, e esta, delegava ao Conselho Administrativo
mandar instalar as cadeiras; nomear, substituir ou demitir professores. Existiam cadeiras masculinas, femininas,
mistas; diurnas ou noturnas; agrícolas e de primeiras letras (alfabetização). Os deputados provinciais também
solicitavam à Assembleia a instalação das cadeiras.
As escolas ficavam sob a vigilância da Inspetoria Geral da Província, e esse serviço era exercido por pessoas que,
mesmo quando exigida aprovação por concurso, seriam nomeadas ou demitidas segundo critérios políticos e de
apadrinhamento.
No início da década de 1880, o ensino público em Minas Gerais consistia nos seguintes estabelecimentos:
1. 773 Escolas de instrução primária e 7 escolas normais para ambos os sexos;
2. Liceu na capital e externatos nas cidades de Campanha, Diamantina, Paracatú, Sabará e São
João del Rei, em que havia aulas dos preparatórios exigidos para a matrícula nos cursos
superiores;
3. 1 curso de farmácia na capital, dividido em três anos com seis cadeiras, compreendendo as
matérias seguintes: física, botânica, zoologia; química, mineralogia, matéria médica, toxicologia,
terapêutica e farmácia;
4. 1 pequeno liceu de artes e ofícios na cidade do Serro;
As 773 escolas primárias tinham uma diminuta frequência de 19.013 alunos. Considerando que a população da
Província de cerca de 2.500.000 habitantes, havia 1 escola para 3.200 habitantes.
 Inconformismo Mineiro e Sonhos Libertários
Para que não se possa abusar do poder é preciso que, pela
disposição das coisas, o poder freie o poder. (Montesquieu)

Minas Gerais vivia sob uma verdadeira opressão e esta despertava um sentimento de revolta aos colonos, que
clamavam por liberdade. Estas amarras desencadearam uma crença libertária que floresciam por Minas, inspirada
nos movimentos ‘liberais clássicos’ dos séculos XVII e XVIII, no mundo ocidental, mais especificamente, da
Revolução Inglesa do século XVII e sob a influência dos pensadores franceses, o enciclopedismo.
O inconformismo mineiro, já de antes, se exasperava contra as medidas contidas em decretos que exigiam pesados
tributos, além das restrições aos moradores de Minas Gerais, que, desde 1703, estavam submetidos à espoliação da
Coroa para exercerem a exploração das riquezas minerais.
O despotismo dos intendentes e administradores reais, a capitação como tributo que se utilizava de um Contrato
que chegou a exigir o extorsivo e inócuo imposto de 230$000 (duzentos e trinta mil réis) por ano para cada pessoa
que estivesse lotada no garimpo (escravos) ou de quem se ocupasse na extração dos diamantes.  Esse imposto não
considerava, por exemplo, a quantidade ou qualidade do mineral extraído.
Uma pequena lavra com reduzido números de 30 braços, e que apurasse minerais de melhor qualidade e em maior
quantidade de ouro ou diamante, pagava menos imposto que uma grande lavra com 300 braços, e que não
estivesse tendo sucesso na exploração. Além disso, no geral, nem sempre o número real de pessoas ativas nas
lavras estava apontado. Mais ainda, houve a cobrança do quinto, imposto de 20% sobre o ouro extraído e que era
recolhido pelo sistema das casas de fundição.
No Arraial do Tejuco, a partir da descoberta do diamante durante a década de 1720, a repressão atingiu o seu
máximo:
• A proibição do garimpo do ouro com a cassação das datas de concessão,
• A demarcação dos terrenos diamantinos com a prerrogativa de cessão das áreas conforme
cobrança extorsiva e discriminatória, 
• A outorga exclusiva por parte da Coroa para exploração do diamante,
• A efetivação do Real Contrato dos Diamantes (1755),
• O Livro da Capa Verde, legislação específica para os terrenos diamantinos. Os Terrenos
Diamantinos eram considerados como um Estado dentro do Estado.
A proibição do garimpo do ouro e cassação das datas levou a população da região, na casa dos milhares, a um
estado de miséria e desamparo, promovendo as migrações. Famílias inteiras, com fome, vagavam pelas estradas em
busca de lugar para recomeçarem suas vidas. E isto se prolongou por décadas a fio.
Surgem, por isso, vários movimentos libertários tendo como principal a Conjuração Mineira. Foi na Vila Rica, 1789,
que este movimento chefiado por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, acabou, entretanto, malogrado
prematuramente por uma delação ou traição, que levou ao degredo os que dela participaram e a Tiradentes à
morte atroz e para sempre, que significava morte de forca com esquartejamento e exposição das partes do corpo.
No Arraial do Tejuco,
“havia numerosos conjurados que se serviam das ideias liberais revolucionárias que ali prosperavam afinadas
diretamente com os planos da conspiração de Villa Rica e se expandiram por todo o Norte da capitania.” (Joaquim
Felício dos Santos).
Os conjurados ou inconfidentes eram liderados, nestas paragens, por José da Silva Oliveira Rolim, Padre Rolim, O
Herói do Serro, como lhe chamara Tiradentes, e ainda, pelos irmãos José Joaquim Vieira Couto e Joaquim José
Vieira Couto.
 Inconfidentes em Diamantina

Quando olhares tua imagem evoca tua sombra de criança. Quem


sabe do passado, sabe do futuro. - (Ramón Del Valle-Inclán)

Embora, sejam utilizados os dois termos para nominar o movimento, deve-se fazer a distinção entre ambos, cujos
significados, etimologicamente, são diferentes e estrategicamente foram confundidos.
Conjuração tem o significado de conspiração contra o Estado, contra o governo, e Inconfidência “falta de fé ou
infidelidade... especialmente para com o Estado ou soberano”.
O termo conjuração foi inicialmente usado para denominar o caráter do movimento político contra o governo para
em seguida ser substituído por inconfidência. Coube a Joaquim Norberto de Souza Silva escrever o primeiro livro
contando a história da Inconfidência, no qual não poupou o herói mineiro e da Pátria.
O Professor Antônio Gaio Sobrinho esclarece, tendo em mãos, seu premiado ensaio: “Tiradentes: Um Sonho
Bissecular de Liberdade” (O Alferes, BH, V. 10, Ed. especial 56-72, abr. 1992), comentando:
Dom Pedro II havia fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB – a cujas reuniões assiduamente
gostava de frequentar. Foi, então, que Joaquim Norberto de Souza Silva, em 1873, com base nos Autos da Devassa
da Inconfidência Mineira, em boa hora, decidiu escrever um livro sobre o assunto da conjuração que culminou,
como é sabido, com o enforcamento de Tiradentes. Como, porém, Dom Pedro era neto de Dona Maria I, a Louca,
que assinara a condenação do heroico ‘mineiro’ são-joanense, Joaquim Norberto, também amigo e devedor de
favores ao Imperador, não teve total isenção para tratar do problema, sem parcialidade. Por isso, carrega nas tintas
em cima de Tiradentes (e de seus companheiros); o retrato se delineia propositadamente distorcido como homem
repelente, de olhar espantado, leviano, loquaz, impudente, ressentido, exaltado e fanático. Distorção perfeitamente
adequada aos interesses da elite imperial. Apesar disso, contudo, seu livro ainda hoje é referência importante para
todos os que desejam estudar o assunto.
A conjuração passou a ser tratada como inconfidência, numa tentativa de mudar o sentido do movimento,
considerando-o como ofensa de traição. Contudo, apesar disso, não se conseguiu aplacar, de todo, o movimento,
pelo contrário, transformou-o em um sentimento.
Ainda que sufocado em seu primeiro instante, esse sentimento não se rendeu, prosseguiu inspirando outros tantos
homens até final do século XIX. A declaração de Independência do Brasil, como resposta ao absolutismo português,
não o fez desaparecer.
O Anuário de Minas Gerais (1906 – ed. nº 5) assinala:
A Diamantina tem sido a urbes augusta e sacrossanta de todos os ideais nobres e grandes. Nos tempos coloniais, o
opulento Tejuco várias vezes reagiu com indignação contra o fero despotismo da Metrópole.  A Inconfidência
Mineira teve aqui o glorioso mártir, o Padre Rolim. Por ocasião da Independência, nenhum outro povo ergueu mais
alto o estandarte glorioso da pátria livre e rediviva.
A punição de morte para Tiradentes alcançou Diamantina. Em maio de 1792, parte do corpo
esquartejado de Tiradentes foi levada para lá a fim de intimidar outros insurgentes, e ficou exposto “em
picotas de madeira... em Bandeirinhas, no termo do Tejuco (hoje Diamantina)...”.
A iníqua e selvagem sentença de Tiradentes consistia da sua “morte natural pela forca, esquartejamento
do corpo, exposição da cabeça salgada, em Vila Rica, de um quarto no povoado de Cebolas, na
Capitania do Rio de Janeiro, e a dos outros em lugares públicos da Capitania de Minas Gerais, por onde
andou pregando; demolição da sua casa de moradia em Vila Rica, salga do terreno e elevação, nele, de
um padrão amaldiçoando a memória de seu nome. E, por fim, declaração de infâmia para seus filhos e
netos, caso os houvesse.”
Após ouvir tão injusta sentença, Tiradentes a alegria delirante dos seus companheiros e os abraça, um a
um, declarando-se sinceramente contente porquanto tinham logrado salvar a vida, enquanto ele iria
perdê-la justamente porque os havia procurado arrastar no seu ideal de liberdade por amor dos
homens. E deles se despede, resignado e pensativo, e fica aguardando a hora do suplício. (Boletim da
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro (RJ) nº 1 – 1847). Cronologia da Vida de Tiradentes à Luz de
Documentos – Capitão de Fragatas L. A. de Oliveira Bello em Conferência lida na Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro – 22/04/1847).
O terror de 1792 não apagou os sentimentos liberais dos mineiros: nos brilhantes pronunciamentos dos primeiros
meses de 1822 e a desarmonia sentida entre alguns patriotas de Minas Gerais apenas indicou espírito liberal mais
exaltado e mais exigente, que, aliás, de todo serenou ao influxo de uma viagem rápida, e da presença passageira,
mas entusiástica de D. Pedro, o príncipe regente, e então já o chefe da revolução brasileira.
Durante o primeiro reinado a província de Minas fez-se notável pelo ardimento das ideias liberais pregadas na sua
imprensa, e pelos seus deputados no parlamento...
Em 1833 arrebentou à 22 de Março, na cidade de Ouro Preto, então capital da província, uma sedição...
 Movimento Político de 1842 na Província de Minas – Diamantina
Toda nossa sabedoria consiste em preconceito servis: todos os nossos usos
são apenas sujeição, coação e constrangimento. O homem nasce, vive e
morre na escravidão: ao nascer cosem-no numa malha; na sua morte
pregam-no num caixão: enquanto tem figura humana é encadeado pelas
nossas instituições. (Rousseau)

“O ano de 1842, formará uma das épocas notáveis do Brasil; e os acontecimentos, que nele tiveram
lugar, fornecerão matéria para um dos mais interessantes Episódios da história do País. Levá-los ao
conhecimento da posteridade, esses acontecimentos, consigná-los com verdade, narrá-los com
escrupulosa exatidão, é fazer um verdadeiro serviço ao País.”
Foram essas palavras que o Cônego José Antônio Marinho usou em seu livro “História do Movimento Político que
no Ano de 1842 Teve Lugar na Província de Minas Gerais” para sintetizar o movimento iniciado no dia 7 de junho
daquele ano.
O Cônego Marinho nasceu em 7 de outubro de 1803, no Brejo do Salgado, município de Januária, comarca de São
Francisco, norte da Província de Minas Gerais.
Este movimento político insurgente foi organizado pelo Partido Liberal de São Paulo e de Minas Gerais, e se
espalhou pelo país após a queda do Gabinete Liberal, e a nova ascensão do Partido Conservador. A eleição para
essa Câmara ficou conhecida como “eleição do cacete” em virtude do recurso em atos de violência ocorridos
durante o pleito.
Aqui em Minas, foi em Barbacena, e em seguida em São João del Rei, que se acenderam o estopim e se deflagrou
uma série de acontecimentos sediciosos pela Província a fora. Em Santa Luzia, os liberais protestaram nas ruas com
armas em mãos, por esse motivo tomaram o nome de luzias.
O jornal “O Brasil”, do Rio de Janeiro, em 26/07/1842, disse que em Diamantina, se reuniu no distrito de Mendanha
um grupo de jovens sediciosos que foram imediatamente batidos. Entre os chefes capturados foram encontrados
documentos concernentes ao plano de revolta.
Debeladas as insurgências armadas, as informações prestadas pelas autoridades de Diamantina ao governo
imperial, diziam confiar que a ordem pública estava mantida, estendidas a toda comarca, Serro e Conceição.
O Cônego José Antônio Marinho, em seu livro, teceu os detalhes:
Em Diamantina se sofriam o mesmo despotismo, pela maneira exercida, e com os mesmos fundamentos, Josefino
Vieira Machado, Juvêncio da Costa Rodrigues, João Gomes de Oliveira, Herculano Augusto Vieira, José Leonardo dos
Santos, João da Matta Machado (pai do Conselheiro Matta Machado) e seu irmão Pedro Alcântara Machado (ex-
deputado).
Por aqui não foram apenas prisão, as buscas e insultos, de que lançaram mão as autoridades, em virtude da
suspensão de garantias: foram também autorizadas as rodas de pau (surras) em guardas nacionais, e até mesmo o
assassinato, como acontecera a um indivíduo, mandado espingardear (fuzilar) em Tijuco-su pelo crime de ter feito
parte da reunião do Pé do Morro.
E as cabeças dos indivíduos, que organizaram, foram postas a prêmio.

Cônego José Antônio Marinho - Foi um dos chefes do Movimento de 1842

A pena de morte foi de um indivíduo da guarda nacional, acusado de participar da rebelião de Mendanha.
O Sr. João da Matta Machado ficou foragido e teve de pagar, depois, o vultoso tributo de 400$000 para que não
fosse obrigado a marchar acorrentado à prisão, em Ouro Preto.
Estes homens figuram na galeria de personalidades e grandes homens de seu tempo, sofreram amarguras e
perseguições do governo; eram insultados pelas autoridades locais. As perseguições e prisões se estenderam a
outras pessoas: o Dr. Antônio Thomaz de Godoy, professor e magistrado, foi também preso em Diamantina e assim
permaneceu por quase um ano peregrinando em cadeias da Província; foi mandado de Diamantina para o Serro,
voltou à Diamantina, em seguida para Ouro Preto, retornando depois à Diamantina.
O motivo de sua prisão foi pelo fato de ser membro influente do partido liberal e, à época, ser presidente da então
Assembleia Provincial.
E ainda: Francisco José de Vasconcelos Lessa; Sr. Joaquim Pereira de Queiroz, importante capitalista e proprietário;
o capitão Jorge Benedicto Ottoni e seu filho Honório, pelo único crime de ser, o primeiro pai, e o segundo irmão do
ex-deputado Theophilo Benedicto Ottoni, considerado chefe do movimento iniciado em Barbacena. Todos eles
foram conduzidos à cadeia com ordem para serem “espingardeados, no caso de pretenderem se evadir”!
Josephino Vieira Machado, a quem nunca se comprovou culpa alguma, foi preso por seis meses na cadeia da Vila
Conceição.

João da Matta Machado, pai do Conselheiro Matta e sua esposa Amélia Senhorinha

Antônio Thomaz de Godoy Josephino Machado Vieira

A sociedade diamantinense não se conformava com a ignomínia e vilipêndio praticado contra seus ilustres cidadãos.
Em 1844, na sede do município, depois de presidir uma inconformada missa, o Cônego Joaquim Gomes de
Carvalho, e atual pároco, são autuados por lhe constar eles insultavam o sagrado nome de Sua Majestade Imperial
& Cia, & Cia.
E, procurando-se testemunhas para confirmar as acusações, não houve uma só pessoa que quisesse jurar. Mentiris
imprudentissime! (Mentira descarada!), exclamou, raivosamente, o jornal conservador.
O Cônego Joaquim Gomes de Carvalho, ligado ao Partido liberal, foi vereador (1832) e professor de gramática latina.
Pode-se ver que a população se solidarizava com o sonho de liberdade plena, lutava com autodeterminação e
apoiava o Movimento Político de 1842.
Em 14/03/1844, o Imperador, por meio do seu Conselheiro de Estado, Manoel Alves Branco, por decreto, “impelido
pela necessidade de pacificação nacional, determinou anistiados os crimes políticos cometidos no ano de 1842 nas
províncias de São Paulo e Minas Gerais, e em perpétuo silêncio os processos que por motivos deles se tinham
instaurado”.
Durante algum tempo, a ideia de divisão da Província de Minas Gerais esteve no palco de discussões; movimentos
do sul da Província desejavam a separação. Esse desejo não ficou longe dos diamantinenses e alguns se punham
contrários, “se indagava se Diamantina tem proporções de se tornar uma Província, assim como teve para Diocese.”
(jornal A Nova Província – 4/11/1854).
 Cronologia Mineira e Efemérides de Diamantina
Todos buscam na gente a experiência de ter vivido. Mas o que
temos de melhor a dar é, sempre, a ansiedade de viver.  (C.
Lacerda)

São informações colhidas da Revista do Arquivo Público Mineiro:


 1ª Entrada no território de Minas – 1552.
 Vinda de novos sertanistas da Bahia ao rio Jequitinhonha – 1573.
 Entrada da bandeira de Fernão Dias Paes em busca de esmeralda – 1674.
 Exploração da bandeira de Bartholomeu Bueno de Siqueira, no Rio das Velhas – 1693.
 O primeiro ouro extraído no território de Minas Gerais – 1695.
 A PRIMEIRA CAPELA DO TIJUCO.  Aos três de janeiro do ano de 1709 finca-se o primeiro esteio da
Capelinha dedicada a Santo Antônio de Lisboa, no Cemitério do Burgalhau. Fizeram-na os portugueses e
paulistas Manoel Vieira Tourinho, José Antônio da Cruz, Tomás Ribeiro Mourão, Joaquim Teixeira Meneses
e Pedro Vieira de Faria. A Imagem veio de Portugal e ainda existe no Palácio Arquiepiscopal. A cobertura e
as paredes da Capelinha eram de palmas de coqueiros - 1709
 Ocupação inicial que passou a ser denominada de Arraial do Tijuco, após o bandeirante Jerônimo Correia
seguindo o rio Jequitinhonha ter descoberto uma grande quantidade de ouro nas confluências do Rio
Piruruca e Rio Grande – 1713.
 A divisão de Minas em 4 comarcas: Villa Rica, Rio das Velhas, São João del Rei (Rio das Mortes) e Serro Frio
(Villa do Príncipe) – 1714.
 Estabelecido o decreto do “quinto” – 8 de agosto de 1718.
 Separação da Província de Minas Gerais da Província de São Paulo - 1720
 Descoberta, em Diamantina, oficialmente, o diamante por Bernardo da Fonseca Lobo – 1729/1730.
 Proibido a mineração do diamante por parte dos habitantes locais, passando exclusiva exploração pela
Coroa Portuguesa / Criação da Intendência dos Diamantes - 5 de agosto de 1734.
 Efetivado o Real Contrato dos Diamantes, no Arraial do Tejuco – criado 1741.
 Criação da Ordem de São Francisco no arraial do Tejuco – 1755.
 Inconfidência Mineira (delação de Joaquim Silvério do Reis) – 1789.
 Prisão de José da Silva e Oliveira Rolim, Padre Rolim, em Diamantina, por participar na Inconfidência
Mineira – 1791.
 Execução de Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, como cabeça dos Conjurados Mineiros – 1792.
 O Arraial do Tejuco é elevado à paróquia/ freguesia - 6 de setembro de 1819.
 Primeira tipografia de Minas Gerais – Ouro Preto – 1821.
 Primeiro Jornal impresso em Diamantina, Echo do Serro – 20/05/1828.
 Nascimento de Joaquim Felício dos Santos – 1 de fevereiro de 1828.
 O Arraial do Tejuco é elevado às honras de Vila com a denominação de Villa de Diamantina – 13 de
outubro de 1831.
 Instalação da Câmara da Villa Diamantina – 4 de junho de 1832.
 A Villa de Diamantina foi elevada à Cidade – 6 de março de 1838.
 Movimento de Revolta contra a instalação do Gabinete Conservador - 1842
 Criado pela Bulla Gravissimum Sollicitudinis, do Papa Pio IX, o Bispado de Diamantina, sendo o seu 1º
Bispo efetivo D. João Antônio dos Santos – 6 de junho de 1854.
 Publicada em forma de folhetim, no jornal “O Jequitinhonha” o Livro “Memórias do Distrito Diamantino” –
Joaquim Felício dos Santos – 1868.
 Elegeu-se a Comissão Mineira do Partido Republicano para redigir a Constituição Política do futuro Estado
de Minas Gerais presidida por Dr. Joaquim Felício dos Santos e os membros Pedro Lessa, Francisco de
Paula Ferreira de Rezende – 1888.
 Instala-se solenemente, no Rio de Janeiro, o 1º Congresso da República, tendo como um dos senadores por
Minas o Dr. Joaquim Felício dos Santos – 1890.
 Morreu em Beribery Dr. Joaquim Felício dos Santos – 21 de outubro de 1895.
 Nasce em Diamantina o médico Dr. Juscelino Kubitschek, ex-presidente da República- 12 de setembro de
1902.
 O conjunto arquitetônico de Diamantina, seu centro histórico, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – 1938.
 Diamantina recebe  da UNESCO o título de Patrimônio Cultural da Humanidade – 1999.

 Diamantina – A Cidades das Letras


“A linguagem não é apenas um instrumento que o homem possui
ao lado de tantos outros; a linguagem é o que, geralmente e
antes de qualquer coisa, garante a possibilidade de se encontrar
na clareira da abertura do existente. Somente onde há
linguagem pode existir um mundo (...) Somente onde há um
mundo pode haver História.... (Heidegger, Martin)”

O valor de uma sociedade é o resultado dos valores pessoais dos indivíduos, adicionado aos valores reais cultivados
por esta mesma sociedade, moral e ética.
Quando se fala em valores, é preciso levar em conta duas coisas distintas: “- a função do conhecimento: o saber, a
posse da verdade e o esforço para alcançá-lo; - o conteúdo do conhecimento. Contrapõe-se como desvalor a
ignorância, o erro, a falta de interesse pela verdade, a ausência de esforço para alcançá-la”. (Johan Hessen)
Vivemos uma época em que se tornou hábito falar em valores, mesmo fora da ciência e da vida econômica.
Expressões tais como: valores morais e éticos, religiosos, políticos, literários etc., andam na boca de toda a gente.
Alguns, mais ou menos, os empregam sem conteúdo, poucos com ênfase e propriedade. A maioria, contudo, não
terá, talvez, a exata consciência do alcance desses importantes conceitos.
Pode-se afirmar, com certeza, que a Diamantina oitocentista era uma cidade reconhecida por prezar os verdadeiros
valores de cultura inspirados na literatura francesa, uma vez que representava a reação modernizadora contra o
atraso cultural em que estava mergulhado o país. A França serviu de guia aos homens e mulheres diamantinenses
do século XIX.
Palavras de Saint- Hilaire (botânico e naturalista austríaco, entre 1816 – 1821):
Em toda a província de Minas encontrei homens de costumes delicados, cheios de afabilidade e
hospitaleiros; os habitantes do Tijuco não possuem tais qualidades em menor grau, e, nas primeiras
classes da sociedade elas são ainda acrescidas de uma polidez sem afetação e pelas qualidades de
sociabilidade. Encontrei nesta localidade mais instrução que em todo o resto do Brasil, mais gosto pela
leitura e um desejo mais vivo de se instruir...
No Tejuco, era tão intenso e agradável surpresa encontrar livros franceses mais em voga e um numeroso
grupo de pessoas que os liam, familiarizados com preceitos da língua, a ponto de a falarem corrente
entre si. ((Auguste Saint-Hilaire – Viagem pelo Distrito e Litoral do Brasil).
Não é por acaso, portanto, que os jornais utilizam como epígrafes de autores como Voltaire, Madame de Staël.
O poeta, escritor, jornalista e político relevante, Couto de Magalhães, usando das páginas do jornal carioca “A
Atualidade”, na coluna literária assim descreveu a sua Diamantina:
A Diamantina é das cidades do interior uma das que tem mais movimento literário. Seus habitantes em contato
direto com a Corte, entregues a um gênero de comércio onde pende a felicidade da finura da inteligência, tem
reconhecimento o espírito muito desenvolvido do que era de esperar-se. Há nesse lugar um núcleo verdadeiramente
literário. O povo adora os moços de inteligência, aplaude esses esforços que tendem a arrancar o homem da
obscuridade para elevá-lo às alturas do sábio, do pensador, do artista e do poeta.
Lá não é olhada nunca com indiferença essa luz divina que Deus colocou na fronte do homem para fazer dominar o
mundo físico. O talento é recebido com entusiasmo, e a população, ilustrada e ambiciosa de justa fama recorda com
prazer o nome de seus concidadãos que se distinguindo, e registra na memória como outros tantos padrões de
glória. (A Atualidade- Ano III, Rio de Janeiro, 28/11/1861, nº 177 – editores Flávio Farnése e Lafayette Rodrigues).
- Alguns dos moços de inteligência:

Aureliano Lessa
Poeta, escritor e também jornalista, Aureliano José Lessa chamou Diamantina de “Atenas do Norte” em
razão do amor às letras e o desejo de conhecimento que fizeram da cidade o berço das luzes para o
norte da Província. Ele era um dos jovens diamantinenses admirados pela inteligência junto com José
Paulo Dias Jorge, Manoel Quintino de Araújo Meireles, João Júlio dos Santos, José Vieira Couto de
Magalhães, Theodomiro Alves Pereira, João Salomé Queiroga, e outros. Aureliano se formou em direito,
e foi colega de Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, Cardoso de Menezes e Silveira de Souza.
(Jornal do Brasil – 20/02/1946)
Seus versos, publicados esparsamente em revistas e jornais, foram reunidos em livro depois de sua
morte, em 1873, por seu irmão Francisco José Pedro Lessa, e apareceram na Tipografia da Luz com o
título Poesias Póstumas de Aureliano José Lessa. Em A História da Literatura Brasileira, Sílvio Homero
lhe dedicou 15 páginas, tantas páginas quanto a Castro Alves.
Couto de Magalhães (José Vieira):
Nasceu em Diamantina a 1 de novembro de 1837 e formou-se em direito em São Paulo em 1860.
Publicou obras literárias, era muito conhecedor da língua dos indígenas e orador de boa nota. Viajou por
diversos países da Europa e da Ásia. Foi presidente de algumas províncias e quando governava a de
Mato Grosso preparou a sua defesa e repeliu os paraguaios que a invadiram.
Foi deputado geral em várias legislaturas. A ele se deve a navegação do Araguaia, Tocantins e
Amazonas, ligando entre si três províncias centrais. Foi sempre do partido liberal e quando se proclamou
a República era conselheiro e senador eleito por Mato Grosso. Pelos seus serviços em relação à guerra
do Paraguai foi distinguido com as honras de brigadeiro.

João Júlio dos Santos:


Foi um dos poetas do romantismo brasileiro, e é acaso um dos cantores daquele momento. Era mulato,
pobre, e quase miserável: mas era, também, cheio de talento. Viveu sufocando revoltas cruéis,
humilhado por um mundo que não o queria compreender, um mundo que ele não podia aceitar. Faleceu
antes dos trinta anos e foi sepultado na Igreja do Amparo. Vê-se que por um ou outro traço, de sua
figura ou de sua vida, João Júlio está bem próximo dos Casimiro, dos Varela, dos Alves, de todos esses
grandes inadaptados, que constituem a esplêndida dinastia dos românticos brasileiros. O poeta nasceu
em Diamantina, em 21 de agosto de 1811, e era filho de Tristão dos Santos e Anna Constança do Espírito
Santo, gente humilde e paupérrima. Aos 11 anos iniciou no Ateneu São Vicente de Paula o curso de
Humanidades. Em 1862 foi para Juiz de Fora, e logo depois para o Rio de Janeiro. Ali, ligou-se aos
rapazes que redigiam a Atualidade, publicando poesias nesse período. Em 1863 fazia os preparatórios
em São Paulo, matriculando-se na Faculdade de Direito. (Jornal “A Manhã” – Suplemento Literário –
19/11/1944).
Lobo de Mesquita
Não se pode deixar de mencionar a importância da música na Diamantina. Foi o compositor de pele
parda, cujo nome figura nas enciclopédias e dicionários internacionais da música. Foi José Joaquim
Emérico Lobo de Mesquita. No isolamento do Arraial do Tejuco, a seis meses de viagem do Rio de
Janeiro, nasceu Emérico, o maior músico mineiro do século XVIII, mulato de origem bem humilde.
Durante 20 anos foi organista da Matriz de Santo Antônio, regente da Orquestra na Igreja do Carmo,
atuando também na capela das Mercês dos Pretos, de cuja confraria fazia parte. Foi professor de música
e alferes do Terço da Cavalaria dos Pardos, organista exímio, escreveu mais de 300 obras. Do Tejuco,
passou Emérico à Vila Rica e de lá se transladou para o Rio de Janeiro, onde faleceu (1746? - 1805).
Emérico escreveu em estilo que oscila entre Pergolesi e Mozart, embora evidencie influência instrumental vinda da
Itália. Suas obras manifestam invenção melódica bem rica, habilidade na modulação, sendo de forma e completa
identificação com a mensagem do texto litúrgico. Fonte Biblioteca Nacional

João Salomé Queiroga: Juiz e desembargador, poeta e jornalista. Pré-romântico, deixou inúmeros
poemas alusivos às personagens do Serro. Conhecedor do folclore e dos costumes sertanejos publicou
‘Canhedo de Poesias Brasileiras’ (1870), ‘Arremedos ou Lendas e Cantiga Populares’, ‘Oh, Lira Meiga e
Saudosa’, ‘Maricota e o Padre Chico’ (romance/ 1871) e ‘Lendas do Rio São Francisco’, além de escrever
sobre outras lendas mineiras, como ‘O Menino Diabo’, ‘O Irmão Lourenço’ e ‘Lavadeiras do Lucas’, entre
outros.

Pedro Lessa: Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, e ali tomou parte nos intensos e vibrantes movimentos
que promove uma das gerações mais vivazes que o Brasil tem possuído. Fazia parte de turmas em que fulgiam
nomes como os de Raymundo Correia, Júlio de Mesquita, tantos outros, que deixaram indelével nome nos fastos
intelectuais do nosso país. As tendências de Pedro Lessa, entretanto, eram mais para os estudos de natureza
científicos e jurídicos do que literária, embora se revelasse ele, em todos os lances de sua vida, o humanista
apaixonado pelos velhos autores, o leitor apaixonado clássico.
... pouco depois de formado, Pedro Lessa era professor no estabelecimento em que doutorara. Sua
carreira de mestre foi comprovação dia a dia feita de sua grande proficiência jurídica. Em sua cátedra
ele facilmente se impôs como um dos homens de maior saber de nossa terra, como um intérprete exato
dos textos legais. Tais virtudes o sagraram naturalmente ao maior tribunal brasileiro. E a escolha do seu
nome para ministro do Supremo Tribunal Federal foi recebido em toda a parte com a consagração de
um valor indiscutível. ... Houve nele um juiz que amou apaixonadamente o Direito, mas um juiz que
soube conservar, com majestade inconsútil da toga, o seu profundo coração humano.
Esse apaixonado cultor do Direito continuou a vida toda como um amoroso dos seus estudos clássicos,
um devoto das letras antigas. ... Basta reler qualquer de suas páginas – mesmo uma sentença – e logo
encontramos o escritor castigado e fúlgido. Essas qualidades o levaram naturalmente à Academia
Brasileira de Letras, uma instituição em que Pedro Lessa foi uma de suas glórias.
Pedro Lessa publicou diversos livros. Lembraremos as “Teses e Dissertações”, de 1887, “Memórias
Históricas da Faculdade de Direito de S. Paulo”, para o ano 1888, um livro de interpretação do artigo 34
da antiga Constituição da República. Lembramos, também, “O Federalista”, periódico republicano que
ele redigiu em S. Paulo, em companhia de Alberto Salles, Alcides Lima, etc. Deixou outros livros sobre
assuntos jurídicos e notadamente sobre assuntos filosóficos. Era irmão de Aureliano Lessa.
Biblioteca Municipal - O Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial, do Rio de Janeiro, informou:
“... no dia 16 de janeiro (1863) a inauguração da Biblioteca do Paço da Câmara Municipal, entregando o Vereador
Bernardino da Cunha Ferreira, os volumes que agenciara para dar-se começo à biblioteca municipal, as estantes e
mesas necessárias, e duas esferas para estudos de geografia, física e astronomia. O ato foi concorrido, e a biblioteca
foi logo franqueada ao público”.
Diamantina, empório intelectual do norte de Minas. ... Na aprazível cidade de Diamantina, — "Atenas risonha da
verde e saudosa Minas, rainha dessas colinas que banha o Jequitinhonha" — distribuía o ensino daquelas duas
línguas (latim- francês) o professor Innocencio Augusto de Campos
."Atenas risonha!" Que metáfora feliz e apropriada! A cidade mineira de Diamantina, durante o decênio transcorrido
de 1870 a 1880, foi um dos mais opulentos empórios de letras e de bom gosto. Aliás, tal disposição para as coisas de
espírito não era mais do que a continuação daquilo que já se notava no "Tijuco" colonial (crisálida donde emergiu a
Diamantina atual), quando cinquenta e três anos antes, isto é, em 1817, foi essa encantadora região visitada pelo
insigne naturalista francês, grande sábio e grande amigo do Brasil, Saint-Hilaire (Augustin François César Provençal
de Saint-Hilaire), o qual, em seu livro  Voyage dans les Provinces de Rio de Janeiro et de Minas-Gerais, fixou a
impressão ali recebida nas seguintes palavras : "Encontrei em Tijuco mais ilustração do que em todo o resto do
Brasil, mais gosto pela literatura, e um amor mais vivo pela instrução". (Aurélio Pires – Homens e Factos de meu
Tempo – Brasilianas).
Durante décadas, a biblioteca pública de Diamantina foi uma entre as quatro existentes na província mineira.
A visita do famoso viajante inglês, George Gardner (médico, botânico e naturalista britânico, entre 1839 – 1841),
confirma as mesmas impressões:
O clima temperado desta região torna mais sadio seus habitantes em comparação com os sertanejos. As mulheres
são as mais belas que já vi no Brasil e os homens de mais fina raça que os das regiões baixas, mais parecendo
europeus do que habitantes de um clima tropical. (George Gardner, Viagens ao Brasil, tradução de Albertino
Pinheiro - Biblioteca Pedagógica Brasileira)
Veio à Diamantina, também, Richard Francis Burton (escritor, explorador e diplomata britânico, em
1867), que deixou o seguinte testemunho:
Os três dias que passei em Diamantina deixaram a melhor impressão possível. Os homens são francos,
as mulheres, as mais belas e gentis dentre as que tive a ventura de conhecer no Brasil. Seus colos
estavam resplandecentes de diamantes... (vê Explorations of the Highlands of Brazil).
Esteve, ainda, em Diamantina no século XIX o zoologista, botânico, geólogo e naturalista Karl Friedrich
Philip Von Martius (1817 – 1821), enviado pela Real Academia de Ciências da Baviera, e sobre a região
dos diamantes, escreveu Von Martius:
Quase parece que a natureza escolheu para a região originária dessas pedras preciosas os mais
esplêndidos campos e os guarneceu com as mais lindas flores. Tudo que havíamos visto de mais belo e
soberbo em paisagem, parecia incomparavelmente inferior diante do encanto que se oferecia aos
nossos olhos admirados. Todo o distrito diamantino assemelha-se a um jardim artificial, em cujas colinas
e vales alternam-se as cenas românticas dos Alpes com os quadros de uma natureza em idílios. (Viagem
pelo Brasil, tradução de Lúcia Furquim Lahmeyer, 2o vol., Imprensa Nacional, 1938).
Mapa Demarcação Diamantina 1776

Abaixo a transcrição do “honroso” e histórico documento no qual os cidadãos de Diamantina solicitaram ao


Governo Provisório da Província, autorização para que Diamantina pudesse ter imprimido um jornal. A data é de 30
de janeiro de 1822.
Assinam o documento muitos cidadãos. O documento foi publicado em nota explicativa pela Revista do Arquivo
Público Mineiro, em 1898. Começava, por meio desse documento, o engatinhar das aspirações de Diamantina para
ter seu próprio prelo, o que foi consolidado anos depois, 1828, com “O Echo do Serro”.
Revista do Arquivo Público Mineiro, 1898.

Alguns desses nomes:


 Manoel Vieira Couto: pai dos irmãos Joaquim José e José Joaquim Vieira Couto, companheiros do Padre
Rolim, presos na Conjuração Mineira. Era português.
 Francisco José de Vasconcelos Lessa: O Barão de Diamantina, grande fazendeiro na cidade do Serro Frio,
foi eleito vereador na primeira Câmara Municipal de Diamantina, em 1832. Participou do Movimento de
1842, foi preso ao lado do Dr. Antônio Thomaz de Godoy, Jorge Benedito Ottoni e Joaquim Pereira de
Queiroz.

Francisco José de Vasconcelos Lessa


 Pedro José Lessa: farmacêutico, pai de uma importante prole: Aureliano José, escritor e poeta; Silvério
José, médico; Francisco José, farmacêutico; José Pedro, advogado e ministro do STF.
 Luiz Agostinho Gonçalves Seichas: Foi Juiz Municipal
 Manoel Pires de Moura: foi um dos fundadores da Irmandade do Santíssimo Sacramento.
 Manoel Alves Ferreira Prado: médico, foi provedor da Santa Casa de Caridade, negociante, Cirurgião-Mor
Capitão da Guarda Nacional, vereador pelo partido conservador, e um dos fundadores da Loja Maçônica
Jequitinhonha, 1867.
 Antônio da Cunha Valle: negociante, garimpeiro e dono de escravos.
 José da Cunha Valle: negociante
 Bento de Araújo Guimarães: fazendeiro.
 Dr. José Vieira Couto:  Nasceu em 1752 em uma rica família do Arraial do Tejuco, foi um ilustre cidadão
diamantinense. Formou-se em Coimbra onde estudou ciências naturais, matemática e filosofia, 1778. São
importantes os seus estudos de mineralogia, sobre lavras, rochas e constituição do solo de Minas Gerais.
Reconhecidamente um dos maiores sábios que Minas produziram nos tempos coloniais. Autor do
importante livro “Memória sobre as Minas da Capitania de Minas Gerais, escritas em 1801”, editado pelos
Srs. Eduardo e Henrique Laemmert, em 1842, sob deliberação do Instituto Histórico e Geográfico.
 Joaquim José da Rocha: capitão da guarda.
 Francisco Antônio de Castro: professor, e tinha sua própria escola de ensino.
 Propósitos Liberais
As verdades e as quimeras.
Outras leis, outras pessoas.
Novo mundo que começa.
Nova raça. Outro destino.
Planos de melhora eras.
E os inimigos atentos,
Que, de olhos sinistros, velam.
(Cecília Meireles - Romanceiro da
Inconfidência)

O objetivo dos liberais clássicos era o de promover a liberdade individual e coletiva em todos seus aspectos. As
energias humanas deveriam ser livres para criar e produzir coisas que beneficiariam a população em geral. Na
economia, os impostos deveriam ser reduzidos, os controles e regulamentações eliminados, as indústrias deveriam
ser criadas.
Os empreendedores deveriam ser livres para competir, e criar, e promover o progresso. Uma sociedade justa,
apoiada pelos lemas da Revolução Francesa, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, de 1789.
O pensamento liberal, no Arraial do Tijuco, propugnava-se, ainda, pela eliminação da abominável escravatura (A
Mocidade, e outros) e, mais adiante, pela instalação da República (O Jequitinhonha, e outros), o melhor sistema
para coexistência da liberdade e democracia.
E ainda mais, mudar a legislação do voto e eliminar fraudes eleitorais. Nesse tempo, eram considerados eleitores os
chamados homens bons, expressão discriminatória, que objetivava conceder esse direito apenas às pessoas
qualificadas pela linhagem familiar, pela renda anual e propriedade, bem como, pela participação na burocracia
civil e militar.
Eis o teor da lei, no que tange ao direito ao voto:
Art. 91. Têm voto nestas eleições primárias:
1º) - Os cidadãos brasileiros que estão nestas eleições no gozo de seus direitos políticos.
2º) - Os estrangeiros naturalizados.
Art. 92. São excluídos de votar nas Assembleias paroquiais:
1º) – Os menores de vinte e cinco anos, nos quais não se compreendem os casados e oficiais
militares, que forem maiores de vinte e um anos, bacharéis formados e clérigos de ordem sacra.
2º) – Os filhos-família que estiverem na companhia de seus pais, salvo se servirem ofícios
públicos.
3º) – Os criados de servir, em cuja classe não entram os guardas livros e primeiros caixeiros das
casas de comércio, os criados da Casa Imperial que não forem de galão branco e os
administradores das fazendas rurais e fábricas.
4º) – Os religiosos e quaisquer que vivam em comunidade claustral.
5) – Os que não tiverem de renda líquida anual cem mil réis por bens de raiz, indústria, comércio
ou empregados.
Art. 93. Os que não podem votar nas Assembleias primárias de paróquia, não podem ser membros, nem
votar na nomeação de alguma autoridade eletiva nacional ou local.
Art. 94. Podem ser eleitores e votar na eleição dos deputados, senadores e membros dos conselhos de
província todos os que podem votar na Assembleia Paroquial. Excetuam-se:
1º) – Os que não tiverem de renda líquida anual de duzentos mil Réis de bens de raiz indústria,
comércio ou emprego.
2º) – Os libertos.
3º) – Os criminosos pronunciados em querelas ou devassa.
Art. 95. Todos os que podem ser eleitores são hábeis para serem nomeados deputados.
Excetuam-se:
1º) – Os que não tiverem quatrocentos mil réis de renda líquida, na forma dos art. 92 e 94.
2º) – Os que não professarem a religião do Estado.
Diamantina dispunha do seguinte quadro de eleitores, em 1869:

A sua população era de 20.572 habitantes, portanto, apenas ¼ da população dispunha do direito ao voto.
O Partido Liberal não se conformava com esta lei e por meio do manifesto do Centro Liberal, em 1869, apresenta
em seu programa tópicos que propunham reformular, sobremaneira, a estrutura administrativa do governo. Além
da defesa de eleições diretas, esse programa tocava em questões delicadas como a extinção da vitaliciedade do
Senado, empreender reformas institucionais que diminuíssem o poder do Governo Central e o processo de
laicização da sociedade.
Em Diamantina, O Jequitinhonha, 1868, edição nº 49, o seu redator já discutia a necessidade de modernizar o
Estado, e respondendo pretensas perguntas sobre a premência da reforma, escreveu:
Com efeito, Sr. Redator, o que significa uma reforma eleitoral em tais condições? É de censo que nós precisamos? É
de maior penalidade que nós carecemos para reformar os abusos eleitorais e extinguir essa relaxação política, que
de fato tem acabado com o sistema representativo entre nós?
O articulista respondendo a si mesmo continuou:
Quem desconhecerá que as degenerações do sistema eleitoral entre nós são fruto da imoralidade do governo, de
seus agentes, e da falta de garantias para a magistratura? De que servem as penalidades, se não há quem as façam
efetivas?  De que servem as garantias contra a prepotência do governo e da polícia? De nada, e os fatos acodem de
tropel, a história contemporânea aí está para nos convencer e é por aí que me convenço de que devemos começar a
reforma pelas leis opressoras e tirânicas, com as quais é incompatível a regularidade do sistema representativo...
Outras propostas dos liberais se direcionavam as escolas, elas deveriam ser expandidas, a ciência e o conhecimento
deveriam ser disseminados, a fim de promover o desenvolvimento humano e o bem-estar das populações. Poucos
dias depois, o mesmo O Jequitinhonha, em 29/11/1868, enumera os objetivos do programa liberal, escrevendo:
O nosso programa é, pois, em geral o que foi apresentado pela ilustrada redação da ‘Opinião Liberal’, e hoje
geralmente aceito pelo Partido Liberal do Brasil: Ei-lo:
• Descentralização: Ensino livre: polícia efetiva;
• Abolição da Guarda Nacional
• Senado temporário e eletivo;
• Extinção do poder moderador;
• Separação da judicatura da polícia;
• Sufrágio direto generalizado;
• Substituição do trabalho servil pelo trabalho livre;
• Presidente de Província eleito pela mesma;
• Suspensão e responsabilidade do magistrado pelos tribunais superiores e poder legislativo;
• Magistrado independente e incompatível, e a escolha de seus membros fora da ação do
governo;
• Proibição dos representantes da Nação de aceitarem nomeação para empregos públicos e
igualmente títulos e condecorações;
• Os funcionários públicos, uma vez eleitos, deverão optar pelo emprego ou cargo de
representação nacional;
• Lutar pela realização dessas ideias é nossa missão mais sublime sem dúvida de que servir às
ambições dos Bragança, dos Orleans ou dos Saxes-Couros.
O partido liberal não se limitou à propaganda de suas ideias pela imprensa. Instituiu na Corte as Conferências
Liberais sendo franca a admissão do público. Nessas conferências dissertavam os oradores, membros do Club
Liberal. Este clube foi fundado sob teses do programa, em meado de 1868. Os oradores eram entusiasticamente
aplaudidos pela numerosa presença de espectadores que frequentavam as reuniões.
• Liberalismo e Democracia

“As criaturas vivem de uma reputação que se empenha em embelezar


qualidades e mascarar defeitos; fazer-se de forte para ser querido quando o
que enternece é a necessidade de perdão.” (C. Lacerda)

Para o pensador português, Joaquim de Carvalho (1892 – 1958), é preciso ir além da explicação racional, é preciso
identificar quando o interesse da dominação está escondido debaixo de um discurso tecnicamente liberal e pacífico.
Muitas vezes, em tese, os liberais não enfatizavam a discussão sobre a fonte última do poder, mas se ocupavam
primordialmente da representação dos interesses dos grupos sociais e dos limites do exercício do poder. E
textualmente ele resumiu a distinção entre o liberalismo e a democracia:
Está dito e redito: o liberalismo e a democracia não são termos sinônimos. Exprimem e significam respostas diversas
e quesitos diversos da consciência política – a democracia indicando quem deve mandar legitimamente e o
liberalismo, consistindo numa rede de defesa contra o poder de quem manda. (Carvalho, Com as mãos na razão.
Obras Completas, v. VI, 1989 - p-279)
O humanista católico romano Desiderio Erasmo de Roterdã, em 1529, já se manifestava sobre o que é atitude
liberal contra uma atitude disciplinar que ele reprovava, sentenciando:
É preciso dar às crianças desde o nascimento, uma formação voltada para a virtude e as letras dentro de um espírito
liberal.
O termo liberal empregado por Erasmo não se refere apenas às artes, mas também, e principalmente, à formação
da autonomia intelectual, moral e ética.
Comandar burros ou bois é simples; formar seres livres dentro da liberdade é que é ao mesmo tempo muito difícil e
belo.  (Alain Peyreefitte – A Sociedade da Confiança – Topbooks).
• Os Propósitos Conservadores

“Somos gente muito ligada no que só acontece depois.” (C. Lacerda)

A luta entre o poder legislativo e o executivo, e a falta de apoio à política do liberal Antônio Diogo Feijó (1784 –
1843) teve como consequência a renúncia deste, em 1837, do cargo de regente do Império. Pedro de Araújo Lima o
substituiu interinamente: foi organizado novo ministério, e mudada a situação política. Surgiu assim o Partido
Conservador.

Pode-se afirmar que o programa do partido encerrava como teses principais:

1. Restrição às atribuições das Assembleias Provinciais;

2. Rigorosa observância dos preceitos da Constituição;

3. Resistência a inovações políticas, que não fossem maduramente estudadas;

4. Restabelecimento do Conselho de Estado;

5. Centralização política, toda a força a autoridade e leis de compressão as aspirações anarquizadoras para
que se restituísse e restaurasse a paz, a ordem, o progresso pautado e refletido, e a unidade do império
sob o regime representativo e monárquico, que exclusivamente conseguiria fazer a nação prosperar e
engrandecer-se.

Com essas ideias se formou a escola conservadora. Posteriormente, com a marcha dos acontecimentos, e as
questões atiradas à discussão pelo Partido Liberal, levaram os conservadores a declarar como princípios de seu
programa, consagrados pela Carta Constitucional os seguintes aforismos:

 Os atos do Poder Moderador são exequíveis sem referenda e sem a


responsabilidade, quer legal, quer moral, dos ministros. (Ensaios sobre o Direito
Administrativo, obra publicada em 1862)

 O Imperador impera, governa e administra. (Joaquim José Rodrigues Torres –


Visconde de Itaboraí)
O Poder Moderador era delegado privativamente ao Imperador, como chefe supremo da nação. A pessoa do
Imperador é inviolável e sagrada, não sujeita à responsabilidade alguma. Os seus títulos são: Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, e tem o tratamento de Majestade Imperial. 
O importante jornal O Conservador de Minas, impresso em Ouro Preto, em artigo intitulado A Paixão Política,
publicado em 24 de outubro de 1870, e assinado por M. G. da Silva Rossi, resumiu a visão do conservadorismo
mineiro, proclamando-o:
O Partido Conservador nada nega e nada suprime, a sua política consiste em reformar e transformar: nada mais,
nada menos.
E em seguida atacou e depreciou os liberais, com erudição, dizendo-lhes:
Quando o liberalismo não é anarquia, é a utopia;
quando não é a paixão, é a extravagância;
quando não é d’Holbach¹, o último termo da liberdade de crença,
é Saint-Simon², pretendendo criar um universo;
quando não é marquês de Sade³, o último termo da liberdade da moral,
é Fourrier⁴ , aspirando fundar um ‘mundinho’ ...
é Cabet⁵, expulso do paraíso da Icarie acusado de tirania até pelos seus prosélitos...
Os liberais não discutem porque são homens dos estudos frívolos e não estudos fortes.
Nunca leram nem meditaram sobre o Espírito das Leis de Montesquieu⁶,
nem sobre a história da legislação, do ilustre Pastoret⁷.

Cabe aqui, fazer uma rápida descrição dos citados por Rossi:

1 – Holbach (Paul Heinrich Dietrich) – alemão de nascimento, mas francês por formação intelectual, foi um
oponente radical da monarquia, da religião do Estado e dos privilégios feudais. Um dos intelectuais mais radicais de
seu tempo;

2 – Saint-Simon: foi um exemplo de pregador do socialismo utópico, concebia a transformação social mediante um
acordo amistoso entre a burguesia e o proletariado;

3 – Sade: o famoso marquês Sade com suas práticas sexuais deletérias promovia orgias de prazer com sevícias de
jovens que terminavam flageladas;

4 – Fourrier: defendia a tese de que se devia criar cooperativa financiada com dinheiro público ou particular onde os
trabalhadores realizariam suas atividades conforme seus interesses;

5 - Cabet: advogado e ativista de movimentos em defesa dos operários franceses. Foi um idealista republicano que
muda de posição quando assume a defesa do comunismo. Voyage en Icarie é uma obra em que ele descreve uma
sociedade fundada sob a égide comunista onde não existiam propriedades privadas para os meios de produção;

6 - Montesquieu: idealiza um Estado onde as leis devem e têm de se harmonizar com o espírito do povo e com suas
tradições;

7 - Pastoret: legislador francês cuja obra principal foi “Moyses considerado como Legislador e Moralista”, é
alinhado à Escola Clássica de Direito Penal onde se evoca a prerrogativa de ter criado a criminologia como ciência.
(Lombroso é o estereótipo de um criminoso e é criada a imagem de um indivíduo).

“A política é uma importante atividade nas sociedades humanas. Ela não apenas viabiliza a convivência social,
reduzindo as disputas violentas, mas ajuda a expandir valores da civilização, porque o homem continua o mesmo
sujeito violento desde os primórdios da civilização: faz a guerra, tortura, escraviza, fere, intimida e tiraniza.” (Prof.
José Maurício de Carvalho – Curso de Introdução à Filosofia Brasileira).
O estudo das concepções políticas é fundamental para se entender a vida de um povo e as suas consequências no
cotidiano. A riqueza ou pobreza das pessoas, e a sua dignidade de ser humano, estão ligadas, diretamente, à forma
de se fazer política.
Os conservadores eram conhecidos pela alcunha de saquarema pelo fato de que vários de seus membros residiam
no município fluminense de Saquarema, e de que lá havia se tornado o local de reuniões do partido. Em
Diamantina, os conservadores recebiam outros apelidos: ferro, testa de ferro:
Os conservadores, em Diamantina, eram chamados pejorativamente de ferro – é duro. O ferro é duro em
Diamantina significa o insulto estrepitoso, de uma caravana de rapazes ociosos do partido conquistador (liberal) de
1863, aos caracteres mais puros e sisudos do conquistado, isto é, do conservador; por outra, o candidato de ferro é
duro, na frase dos seus antagonistas, é o candidato canalha. (Jornal Constitucional – Ouro Preto, 7/12/1866).
• Os princípios do positivismo expresso no pensamento dos conservadores serranos/ diamantinenses

“A verdade é o facho luminoso da razão, a deusa do bem, a estrela que


fulgura no meio das tempestades da vida, aclarando as consciências,
espancando as trevas em que emergem os espíritos tíbios, para dirigi-los
por vias seguras, fazendo-os conhecer os abismos, entre as espessuras do
mal” (Jornal conservador, O Arauto de Minas – S. João del Rei, Nº 36 -
13/1/1885).

Dr. Edgardo Carlos da Cunha Pereira, era bacharel em direito, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, foi
chefe de polícia e juiz de direito municipal da cidade do Serro Frio. Participou ativamente da política serrana e do
norte de Minas, sendo por vezes candidato a deputado provincial; fiel aos correligionários tudo fazia para manter a
unidade do partido conservador.

Edgardo C. da Cunha Pereira – foto 1897 - geneaminas

Independentemente de servir ao quadro do partido conservador, mantinha uma relação de amizade com a família
Matta Machado, especialmente, com o Dr. Álvaro. Certa vez, contrariado, enviou uma carta ao amigo, solicitando-
lhe, inclusive, o obséquio de lhe dar publicidade nas folhas do 17º Districto, jornal diamantinense de propriedade da
família Matta Machado, a fim de dirimir as controvérsias a um mau entendimento de sua conduta. A carta tem data
de 16/7/1885 e foi publicada neste jornal, edição nº 2, em 30/7/1885.  
Eis o resumo dos acontecimentos:
Neste período, o Conselheiro Dr. João da Matta Machado fazia visitas às cidades e distritos da região para agradecer
a colaboração que recebera para sua eleição à cadeira de deputado. Quando esteve na cidade do Serro Frio, chegou
ao conhecimento do Conselheiro a notícia de que havia entrado na cidade, pouco antes de sua chegada, um escravo
acorrentado vindo da roça.
O Conselheiro, munido de sentimento de consternação, passou a um amigo uma quantia em dinheiro para que
fosse repassada ao dono deste escravo, como forma de indenização para que o “infeliz escravo” tivesse sua
liberdade alcançada. Por pedido do Dr. Matta Machado, a negociação foi feita em discreto sigilo, de modo que a
maioria da população não precisou ficar sabendo do fato.
No dia seguinte ao ocorrido, à noite, as lideranças políticas da cidade do Serro ofereceram ao Conselheiro uma
festa. O juiz, Dr. Edgardo Carlos da Cunha Pereira, foi convidado e compareceu a esta. No instante que entrava no
recinto, o Dr. João da Matta Machado, percebendo a sua presença, o saudou com entusiasmo lhe dirigindo palavras
de admiração e respeito.
O Dr. Edgardo agradecido pela deferência, retribuiu com um discurso exaltando as virtudes do Conselheiro e,
aproveitando a oportunidade, fez referência ao ato de humanidade praticado pelo Conselheiro em favor da
libertação daquele escravo, e estendeu o discurso à necessidade de se abolir a infame escravidão.
Em consequência desse discurso, os correligionários do seu partido lhe fizeram críticas afirmando que ele, como
membro do partido conservador, estaria se divorciando dos princípios de seu partido, pregando a abolição da
escravatura. O nobre juiz, depois do preâmbulo explicativo, concluiu a carta dizendo:
É bem verdade que fiz declarações abolicionistas, iguais, porém, as que tenho feito, em festins acadêmicos,
acolhidas calorosamente por adeptos de todos os credos políticos e ninguém teve ainda a originalidade de julgar-
me; por isso, incompatibilizado com o partido conservador, cuja maior glória está em ter estancado a fonte da
escravidão, proibindo o tráfico de africanos e libertando o ventre escravo. Por ser amante da ordem é que sou
contra a escravidão, que ela altera e altamente compromete, dificultando o desdobrar dos elementos estáticos, cujo
desenvolvimento constitui o progresso que os conservadores não renegam e antes almejam ORDEM E PROGRESSO.
Euzébio de Queiroz e Rio Branco começaram a fazer em torno da escravidão este círculo de ferro que há de fechá-la,
muito embora o Sr. Saraiva (um liberal) abra a questão às sugestões dos senhores de escravos. Como, pois, censurar
um conservador por ser abolicionista?
O apelo à publicidade da sua missiva a fim de marcar sua nobre posição anti-escravagista, e inserta no
jornal 17º Districto, foi recebida com simpatia pela sociedade diamantinense, assim como serrana.
Mas, não se pode deixar de observar a fundamentação do pensamento filosófico, revelado na expressão
Ordem e Progresso, escrita na carta pelo Dr. Edgardo Carlos da Cunha Pereira e posta no jornal em
letras garrafais.
Trata-se do lema do positivismo que orientou a Proclamação da República do Brasil e está expresso na
segunda e definitiva bandeira da República, instituída em 19/11/1889. “Amor por princípio, e a Ordem
por base; o Progresso por fim.” (Auguste Comte).
O pensador francês Auguste Comte se empenhou em elaborar uma classificação compreensiva de todas as ciências,
começando pela matemática e culminando na ciência social. Pode-se dizer que Comte foi um sucessor dos
enciclopedistas e nutria o respeito pela ciência e a oposição às religiões estabelecidas. Sua fase positiva é regida
pela ciência racional e a noção otimista de um estado de perfeição, alcançado por meio do processo histórico.
Tratava-se de um sintoma compartilhado por alguns pensadores do otimismo do século XIX.

• A Imprensa Livre – Princípio de Liberdade e Democracia


“Os povos recentes não têm amor pelas coisas e substituem
facilmente um saca-rolha de família por um novo, de plástico,
mais eficiente.” (C. Lacerda)

Ainda que em 1747 tenha sido criada a primeira oficina de impressão no Brasil, onde foram confeccionados os
primeiros livros e impressões, ela durou pouquíssimo tempo, por ordem expressa e peremptória da Coroa
Portuguesa. Foi Dom João, então Rei de Portugal, que ordenou a sua supressão.
A partir da publicação dessa ordem, 6/06/1747, ficaram proibidas quaisquer impressões, cominando-se de prisão e
degredo a Portugal a quem não a cumprisse. Poder-se-ia dizer, assim, que o Brasil atravessou um longo período de
trevas.   
Foram longos 300 anos, desde 1.500, de trevas até o estabelecimento da Corte lisboeta no Rio de Janeiro, em 1808,
para desencadear mudanças de longo alcance nos padrões de vida brasileira, afetando o comércio, a
industrialização e a difusão da cultura.
Em 13 de maio de 1808, aniversário do Príncipe Regente, depois, D. João VI, ficou autorizado, por decreto, a
instalação da Imprensa Régia. É essa, portanto, a data oficial da origem e instalação da imprensa brasileira. Até,
então, os prelos no Brasil ficavam limitados à impressão oficiais destinados, exclusivamente, à Secretaria de Estado
dos Negócios Estrangeiros e da Guerra.
Em 10 de setembro de 1808 surgiu da Imprensa Régia o primeiro número da Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro
jornal oficialmente impresso no Brasil. Em 5 de fevereiro de 1811, sob autorização de D. João VI, publicou-se na
Bahia o periódico A Idade de Ouro. Depois, se seguiu a Revista literária O Patriota.
Até 1820, foram estas as únicas publicações periódicas brasileiras autorizadas e não se podiam instalar qualquer
outra tipografia sem ordem expressa da Coroa.

No quadro panorâmico da imprensa periódica em Minas Gerais, um dos traços predominantes é a instabilidade.
Criada, logo após a Independência, na velha capital mineira, se irradiou, dentro de pouco tempo, para os principais
centros culturais da Província: São João del Rei, Diamantina, Pouso Alegre, Serro, Campanha, Barbacena, Mariana,
Sabará etc.
Quase toda ela fundada por padres seculares (regulares não os havia na Província) seguia orientação liberal e
militava em oposição ao governo, que mal firmava nos primórdios da organização política do País. Por isso, na
maioria, eram folhas anônimas. Tinham contra si, além das dificuldades materiais na instalação das oficinas,
supridas muitas vezes pelo engenho de hábeis artesãos locais, a incompreensão do meio social, ainda bastante
acanhado e imbuído de ingênuos preconceitos, a falta de recursos financeiros. Não podiam durar muito, como de
fato não duravam. Um decênio sequer chegava completar. Também os jornais bafejados pelo sopro do poder
tiveram vida efêmera, talvez à mingua de ideal que aos redatores lhes abrasasse o ânimo. (José Teixeira Neves –
jornal ‘A Estrela Polar – Diamantina, 1953)
A primeira tipografia de Minas Gerais, (Vila Rica – Ouro Preto), ficou pronta em 1821, no entanto, só receberia
autorização para funcionamento em 20 de abril de 1822. Lá foram impressos os primeiros jornais mineiros:
Compilador Mineiro (1823); O Universal (1825); o Compilador do Conselho (1825) e o Diário do Conselho (1825).

Em setembro de 1828, segundo lista publicada por Evaristo da Veiga, na Aurora Fluminense, existia em Minas
Gerais, nas seguintes cidades, os seguintes periódicos:
Ouro Preto: O Universal e O Teleghrafo,
São João Del Rey: O Astro de Minas e Amigo da Verdade
Diamantina (Arraial do Tejuco): Echo do Serro.
Eram jornais políticos, violentos na linguagem, e que serviam aos dois partidos monarquistas nacionais de então: o
conservador e o liberal. Entretanto, foram os jornais oitocentistas que desempenharam uma função extremamente
importante, isto é, a de formar e civilizar seus leitores, irradiando-lhes, por assim dizer, sabedoria através de
doutrinas filosóficas e políticas, divulgadas semanalmente (Rodrigo Fialho Junior) em suas poucas páginas.
Ser liberal não significava, a priori, ser contra a monarquia. Os liberais ideologicamente vão se transformando
republicanos à medida que o absolutismo imperial se aprofundava. Alguns conservadores também mudam suas
posições e se alinham juntos aos liberais e se ajustam no partido republicano.
A Coroa atuava como “poder moderador”, como detinha o monopólio da força e exigia, de todos, obediência às
suas leis e regulamentos, e para conter a violência entre os indivíduos, tornou-se poderoso. O Estado é soberano:
impõe ordens e deve exigir acatamento, mas ele existe para os indivíduos, ou os indivíduos para o Estado, ou há
uma relação tal que um não existe sem o outro?
Em diversos cantos do país, o pensamento da política de liberdade foi se transformando em bandeira e o
liberalismo acolhendo-se na mudança do regime. Portanto, em Diamantina, se percebe as lideranças, no final do
século XIX, alterando suas posições. Liberais e Conservadores se deslocavam de partidos. Exemplo: Dr. João da
Matta Machado, liberal e conselheiro da Coroa, e o Sr. Antônio Eulálio de Souza, conservador, político influente na
cidade, adversários de primeira hora, no decorrer do tempo, se encontraram no Partido Republicano.
Ainda assim, a disputa pelo poder não deixaria de existir, e para conter a linguagem agressiva extravasada pelos
periódicos o conservador, Evaristo da Veiga, pregava em seu jornal, moderação aos liberais:
Nada de jacobinismo de qualquer cor que seja. Nada de excessos. A linha está traçada é a da Constituição. Tornar
prática a Constituição que existe sobre o papel deve ser o esforço dos liberais.
Era do costume que os jornais introduzissem em suas edições epígrafes ou legendas com expressões, inclusive,
latinas e francesas, qualificando a linha de pensamento de seus redatores. Em Diamantina, como veremos mais
adiante, se vêm as duas formas.
Mas, é curioso verificar algumas mensagens utilizadas para responder a insultos, como por exemplo: O Universal de
Ouro Preto (1825), de propriedade de Bernardo Pereira de Vasconcelos. Era um jornal conservador e radical,
conhecido por servir como porta-voz de sua Majestade Imperador e de sua Corte, é introduzido em uma de suas
edições um artigo da constituição:
Artigo 179 - § 4: Todos podem comunicar os seus pensamentos por palavras, escritos, e publicá-los pela Imprensa
sem dependência de censura; com tanto que hajam de responder pelos abusos que cometerem no exercício deste
direito nos casos e pela forma que a Lei determinar.
Essa medida foi tomada como uma advertência direta aos inimigos, de então, os liberais, que insistirem em destilar
impropérios ou calúnias, por meio de seus jornais, ameaçando-lhes levar às barras da Justiça. Entretanto, esse tipo
de ameaça pouco importava e não surtia efeito algum, as contundências dos artigos de opinião prosseguiam com
vozes agudas por meio de propostas de mudanças, e de resistência.
No mesmo sentido, o Astro de Minas repete o mesmo artigo na edição 403 de 19/06/1830. O Astro de Minas
acolhia artigos de Bernardo Pereira Vasconcelos.
O Farol Paulistano
Foi o primeiro jornal paulistano que saiu pela primeira vez em 7 de fevereiro de 1827. Foi fundado por José da Costa
Carvalho, o futuro Marquês de Monte Alegre. Impresso em tipografia própria, em quatro páginas, cada uma delas
com duas colunas. Era semanário, em junho de 1827 passou a circular duas vezes por semana. O primeiro cabeçalho
inscrevia o seguinte lema: “La Liberté est une inclume queusera tous le marteaux, isto é, “A Liberdade é uma
bigorna na qual pode ser usados todos os malhos”. Este jornal saiu até 1833 (IHGSP – 1964 -Álvaro do Amaral)
 A Implantação da Imprensa em Diamantina – “O Gutemberg Mineiro”

“Pois a verdade não nos pertence e por isso mesmo temos o


dever de procurá-la, e a encontrando, proclamá-la. Nem que seja
para retificá-la depois, na busca incessante.” (C. Lacerda)

Uma das inovações que marcaram a passagem da Idade Média para os tempos modernos foi a revolução de
Gutemberg. Na Europa, nos séculos XIII e XIV, em cada 10 pessoas, menos de uma sabia ler. O domínio das técnicas
de comunicação, que pressupõe sólida instrução, é uma das condições do desenvolvimento: permite a difusão das
competências e da informação, que condicionam a inovação e o progresso.
A engenhosidade dos mineiros serranos e diamantinenses iria suprir a ausência dos recursos existentes na região
norte da Província, e a intuição aliada ao talento serviram para orientar os trabalhos de construir nestes rincões as
primeiras instalações de imprensa, os primeiros prelos.
Chamava-se Geraldo Pacheco de Mello e nasceu no velho Arraial de Santo Antônio do Itambé do Serro, nos fins do
século XVIII. Era ourives e mecânico hábil. Levado tão somente pelos seus conhecimentos nessas artes, concebeu e
levou a efeito o fabrico e montagem de um prelo, onde editou o Liberal do Serro, pequena folha aparecida em 1828.
Geraldo de Mello nunca vira máquinas nem tipos de imprimir, pois jamais saíra do obscuro arraial onde vivia, junto
às escarpas alterosas da Serra do Itambé. Em Diamantina, Geraldo de Mello foi editor do jornal O Jequitinhonha
(1860).
Quase ao mesmo tempo em que Geraldo de Mello cogitava de montar o prelo no Itambé, no Arraial do Tijuco, dois
outros patriotas, o hábil ourives Manoel Sabino de Sampaio Lopes e o jovem João Nepomuceno de Aguillar
tratavam do mesmo objeto e, lograram êxito primeiro, isto é, montaram prelo e fundição dos tipos com os quais
imprimiram o semanário Echo do Serro. (Revista do Arquivo Público Mineiro)
A Revista do Arquivo Público Mineiro praticamente repetiu o que O Jequitinhonha de 23/8/1862, em coluna
denominada ‘HISTÓRIA – Districto Diamantino ‘LXXVII’, escrita pela pena hábil de Joaquim Felício dos Santos.
O jornal informou, na ocasião, exaltando a arte de Manoel Sabino, acrescentando que “em 1832 fundava-se uma
nova tipografia, onde se publicava o Diamantino e mais tarde em 1833 e ao mesmo tempo a Tribuna do Serro e o
Exorcista”.
Diamantina teve grande importância no jornalismo oitocentista da Província, a cidade alcançou dezenas de
publicações neste período e, por lá, o brilhantismo literário ganhou expressão. As mulheres estiveram presentes
também e foram responsáveis por experiências importantes de jornalismo feminino nas Minas Gerais, fundando,
escrevendo e dirigindo seus próprios jornais.
Diante do que significava as riquezas minerais, para o local e para o Governo, Diamantina era muito importante
econômica e estrategicamente, e as discussões políticas afloradas por meio dos jornais se repercutiam pela
Província, assim como, também, na capital da Corte.
A imprensa diamantinense nasce liberal
Em 10 de janeiro de 1886, o jornal 17º Districto, inaugurou sua nova oficina gráfica: Agora com “uma excelente
máquina”. Neste glorioso dia, entre festa e comemoração, fez o primeiro impresso na nova máquina, em avulso,
contando a história da imprensa de Diamantina. No dia 29 de janeiro em sua edição nº 17, reproduziu este avulso:
... O Sr. Luiz Antônio dos Reis, que, pelos seus conhecimentos francos e vigorosos, pelas apreciações que
fez das circunstâncias especiais que se dão nesta cidade entre as empresas jornalísticas e os que se
encarregam da redação dos periódicos, mereceu gerais aplausos, sobretudo pela verdade das suas
apreciações. (O Sr. L. A. dos Reis foi editor de vários periódicos de Diamantina). Eis o ‘resumo histórico’
impresso em avulso:
Cidadãos: Desde que a nossa pátria se constituiu nação independente, as aspirações de liberdade,
sopitadas no coração do generoso povo do norte de Minas, pelo braço de ferro do despotismo,
começaram de expandir-se com entusiasmo próprio dos filhos das montanhas.
A imprensa, essa portentosa alavanca da liberdade e do progresso, não tardou a ensaiar, nesta livre
terra, os seus primeiros voos: em 1828, seis anos apenas depois do grito do Ypiranga, um periódico, o
Echo do Serro, propagador entusiasta das ideias liberais, veio à luz da publicidade, no Arraial do Tejuco,
mais tarde Villa e hoje cidade Diamantina.
O modesto e inteligente artista Manoel Sabino legou o seu nome à nossa história, fundindo os primeiros
tipos que serviram para impressão desse periódico. Logo após, o Diamantino e o Exorcista surgiram das
cinzas quentes do Echo do Serro.
Era proprietário Venâncio Ribeiro Mourão e seus impressores João Nepomuceno de Aguillar, Rodrigo
Souza Reis e Manoel Cyriaco de Abreu, então jovens patriotas, entusiastas pela liberdade de sua Pátria,
que hoje dormem o sono eterno, vivendo sempre no coração do partido liberal diamantinense;
Clementino de Campos e Mizael Felicíssimo de Aguillar, então crianças, que entre os vivos ainda
representam as gloriosas tradições dessa raça de heróis, que levantaram tão alta a bandeira liberal,
nesta nobre terra, bandeira hoje agredida e assaltada por falsos e fementidos correligionários que,
estimulados inconfessáveis, se arregimentam com os contrários, para arrancá-la do pedestal em que foi
erguida por gerações que passaram!
O Echo do Serro, o Diamantino e o Exorcista, órgãos das aspirações livres da mocidade de então, eram
impressos em uma simples prensa movida por uma roda de madeira.
Mais tarde, outro glorioso morto, Josephino (Vieira) Machado, cujo nome é e será sempre o farol que
nos guiará nas lutas contra o obscurantismo iniciou uma nova era na história da imprensa
diamantinense, criando O Jequitinhonha, redigido pelas cintilantes penas de Joaquim Felício dos Santos
e Torres, e, mais tarde, de Theodomiro (Alves Pereira), (Francisco) Corrêa Rabello e Carlos Ottoni e
impresso em prelo de madeira, verdadeira relíquia da nossa religião política, porque era o mesmo que
serviria para impressão da Sentinella do Serro, de Theophilo Ottoni.
Geraldo Pacheco de Mello, o fundador do Liberal do Serro, primeiro periódico que veio à luz na vizinha e
tradicional cidade, era o editor do novo órgão liberal, que, mais tarde, continuou a ser impresso em
prelo de ferro, desses que se chamam ‘prelo da mão’, prosseguindo na sua órbita brilhante, mas que
teve, infelizmente, um ocaso nas trevas, precedido de um caliginoso crepúsculo....
Hoje, pela primeira vez, um prelo mecânico funciona nestas paragens, iniciando um 3º período na
história da imprensa diamantinense!
Oxalá, que ele nunca sirva senão para propagar as ideias de liberdade, para defender os oprimidos,
combater pelo progresso, iluminado sempre pelos clarões da justiça e do amor à Pátria! Diamantina, 10
de janeiro de 1886.”
Prensa de Madeira – formatava os primeiros jornais

Contou o ilustre Dr. Antônio Olinto em sua coluna no jornal “A União” (RJ), edição 062, ano de 1907, que:
Antes dessas tentativas, ainda no domínio colonial, teve o Tijuco um meio de publicidade interessante e
original, que bem se pode chamar a origem da imprensa diamantina: era o “Bode Expiatório”.
Os acontecimentos locais eram assinalados e glosados por poetas satíricos, em espirituosas “décimas”
colocadas no chavelho de grandes bodes soltos pelas ruas; e a população se inteirava dos sucessos e se
divertia com os espirituosos comentários dos ferinos poetas, que bodes inocentes e vagabundos
divulgavam.
Daí o nome que lhes dava – de “Bode Expiatório”.
Um belo acervo desses jornais está preservado em sites de fácil acesso, como: Arquivo Público Mineiro,
Hemeroteca Digital Brasileira, Periódicos Mineiro na Biblioteca Nacional (por José Teixeira Neves), Biblioteca
Pública de Diamantina, Arquivos Municipais de Diamantina, além de serem abordados em vastos artigos e
publicações nacionais e dissertações; nos livros de Joaquim Felício dos Santos, nos livros de Aires da Matta
Machado, Soter Couto, Aurélio Pires e outros; nas poesias de João Nepomuceno Kubitschek e Aureliano Lessa. São
referência da historiografia de Diamantina, de Minas Gerais e do Brasil.
Mede-se bem a dimensão dessa época, e o valor dos seus homens públicos quando se recorda que a liberdade de
imprensa adornou no Brasil a verdadeira independência nacional, e há de se ressaltar, foi o fator capital para esta se
consolidar. A Liberdade não foi apenas de conveniências particulares, foi fruto das lutas de muitos brasileiros,
alguns deram-lhe o sacrifício, a vida e a dor, outros, a sua inteligência e ardor.
Em Diamantina e seus distritos, os homens e suas circunstâncias, como disse, José Ortega y Gasset, escreveram as
primeiras linhas da História de toda a região e deixaram o seu legado. Histórias que, infelizmente, escapam hoje aos
olhares desatentos. Homens públicos cujas biografias ainda não foram escritas e que, por isso, ficam desconhecidos;
e que, por isso, não são reverenciados.
• Apresentação e Formato dos Jornais Oitocentistas de Minas Gerais

“Quase diria, se não fosse o pudor de parecer exagerado, que o principal


sintoma de estar vivo é ser útil. Mas, ser útil é uma obra que exige paixão.”
(C. Lacerda)

No geral, os jornais se apresentavam em quatro páginas, divididas em três colunas, por página. Alguns não
possuíam tipografia própria. Em uma mesma tipografia eram publicados mais de um jornal. Em sua maioria eram
hebdomadários, isto é, publicava-se uma vez por semana, eventualmente, algumas publicações avulsas eram
tiradas excepcionalmente. Eram vendidos através de distribuidores ou por intermédio de assinaturas, no geral,
trimestrais. Havia, também, e é bom ressaltar, os que eram escritos à mão, isto é, manuscritos, obra do esforço
pessoal de poucos em benefício de outros.
A formatação dos impressos era de tal modo que as duas primeiras páginas eram dedicadas ao posicionamento
político; os artigos, por vezes, enfrentavam os adversários políticos e aos jornais rivais; apresentavam e solicitavam
votos para os candidatos aos cargos políticos e informavam os resultados das eleições, dando maior relevância aos
eleitos pelos partidos que lhes interessavam mais; publicavam os manifestos dos partidos ligados ao pensamento e
ideário político que lhes moviam.
Na terceira página se misturavam notícias da Corte, da Província e dos Distritos, às vezes, poesias ou se repercutiam
informações e artigos publicados em outros jornais. Muitas vezes, esses artigos eram publicados na íntegra e,
conforme a sua importância, podiam ocupar a primeira página.
A quarta e última página, no geral, era vendida a anúncios das casas comerciais e empórios, ocorrências policiais,
agradecimentos, avisos, comunicados de mudanças de domicílios, casamentos, notas de escravos fugidos e
recompensas para quem os capturassem ou fizesse denúncia, notas de falecimentos etc.
Nesta última página há avisos curiosos, em um deles o jornal comunica, tonificando em grau de ameaça: O
Comércio “Tal” solicita aos seus devedores que se apresentem à loja para quitarem suas dívidas, com pena de
terem seus nomes citados no próximo número deste jornal sob o ‘apelido de mal pagadores’.
Por vezes, os jornais iniciavam suas primeiras páginas avisando e convocando o leitor que recebeu a edição anterior
e não a devolveu, que será considerado devedor perante o jornal. Em um claro indício de que as finanças dos
periódicos dependiam muito desse pagamento.
Os jornais não tinham vida longa, alguns não conseguiam superar os primeiros exemplares. As causas principais
eram: assinantes que não cumpriam o compromisso dos pagamentos das assinaturas, a falta de papel e a escassez
de recursos financeiros para pagar os débitos assumidos com as tipografias, às vezes, a própria concorrência
provocava-lhe a derrocada.
Os jornais, entre si, por meio de artigos, estimulavam os leitores do concorrente a devolverem as assinaturas e a
suspenderem os pagamentos a pretexto de desavenças ou condenações sob o ponto de vista ideológico político,
mas com claro objetivo de minar as forças e comprometer a sobrevivência dos adversários.
O estilo das publicações e artigos era de erudição, e com gramática impecável. Destinavam-se a um pequeno, seleto
e crítico público, que possuía estudos fortes conseguidos nas capitais das províncias ou educados por mestres
particulares, que eram contratados pelas famílias mais prósperas, e que desejavam ver seus jovens preparados
adequadamente na arte das letras. Expressões latinas e em francês ornavam as frases com requinte e estilo.
Como os jornais não chegavam a todos, alguns daqueles que tinham o privilégio de recebê-los, faziam questão de
exibir sua distinção. Contava o então octogenário, Sr. Efigênio Gomes Pereira, farmacêutico e político importante da
cidade de Gouveia, à época distrito diamantinense:
Um cidadão do distrito, o fulano (dizia o nome, fazendo gestos com as mãos), querendo se exibir à população,
quando recebia a edição do jornal, fazia questão de montar em seu cavalo e desfilar na rua principal, de ponta a
ponta, em sucessivas voltas, lendo solitariamente as notícias chegadas do município ou da capital.
Expressões latinas ornavam as frases com requinte e estilo. Escreveu o Sete de Setembro:
Proh pudor! ... Repetimos a frase textual do clérigo escritor. “É até onde pode chegar à miséria do homem político.”
Em uma só coisa concordamos com o ilustre escritor, descendente da corte dos Charkons, Carlsons e Bostons, é que
afirmou com todo siso no seu aranzel: que os eleitores enviando o abaixo assinado aos candidatos à senatoria,
envolvidos no despeito a piçarra, estes os negaria o seu apoio, não lhes dando valor. Isto, aceitamos em bonas fides.
A Revista do Arquivo Público Mineiro em uma bonita publicação, edição nº 3, de 1898, faz uma bela retrospectiva
da imprensa, sobretudo de Minas, e apresentou o nome de 45 jornais publicados em Diamantina de 1828 a 1897,
nos quais incluímos outros, para registro, que foram obtidos em outras pesquisas, sobretudo, em “Anais da
Biblioteca Nacional - 1997”. São eles:
1 - O Echo do Serro (1828): foi o primeiro jornal de Diamantina, seguia uma linha liberal e era crítico ao
imperador. Legenda: “Falai em tudo a verdade a quem em tudo a deveis”. (Sá de Miranda, Francisco) - Sá Miranda
era considerado um dos mais tradicionais poetas portugueses que, com seu estilo, trouxe grande influência nos
escritos do país entre os séculos XV e XVI.
A impressão era efetuada pela tipografia ‘Patrícia Sabino’
Redator: Padre Bento de Araújo Abreu
Propriedade: Venâncio Ribeiro Mourão
Impressores: João Nepomuceno de Aguillar, Rodrigo de Souza Reis e Manoel Cyriaco de Abreu.
Correspondente na Corte: Theophilo Benedicto Ottoni
Os impressores:
 João Nepomuceno de Aguillar: foi cavaleiro da Ordem da Rosa, ordem honorífica da Corte, criada por D.
Pedro I em outubro de 1817, e suplente de Juiz Municipal.
 Rodrigo de Souza Reis: tenente-coronel da guarda nacional, comerciante de gênero e fazendas,
garimpeiro, era um dos homens mais populares de Diamantina e um dos chefes mais estimados do
partido liberal do Norte de Minas, que o distinguira sempre, elevando-o a todos os cargos de eleição até
deputado provincial.
 Padre Bento de Araújo Abreu: junto a outros vereadores, assinou a ata da primeira reunião da Câmara
Municipal da então Vila Diamantina, na data de 04 de junho de 1832.  O Padre Bento, em novembro de
1833 foi eleito deputado provincial por Diamantina. Em setembro de 1839, foi nomeado vice-presidente
pela Província de Minas Gerais.
 Venâncio Ribeiro Mourão: foi coletor de rendas gerais do município de Diamantina.
Estamos em 1822, Pedro I gritava no Ipiranga que ele e o Brasil estavam independentes de Portugal. Venâncio
Ribeiro Mourão era então um jovem de 20 anos, entusiasmado pela liberdade de sua pátria. A Maçonaria, da qual
ele fazia parte, era a maior força política da época. Venâncio e seus amigos: Teófilo Ottoni, Bernardino José de
Queiroga e João Innocêncio de Azeredo Coutinho, todos da Maçonaria, lutaram muito pela Independência. O Brasil
ficou independente a 7/9/1822, tendo a Constituinte começada a trabalhar logo depois. Mas Pedro I aplicou um
Golpe de Estado, dissolvendo a Constituinte.
A Maçonaria organizou a resistência à tirania, através de 2 jornais: "O Sentinela do Serro", fundado por Teófilo
Ottoni, na Vila do Príncipe e o "O Echo do Serro", o primeiro jornal no Arraial do Tejuco, em 1828, fundado por
Venâncio. Com a saída de Pedro I, abdicando em favor de D. Pedro II, Venâncio foi trabalhar como Coletor Provincial
de Diamantina e depois Promotor do Tesouro Nacional. Quando ocupava esse cargo, em 10 de junho de 1862, houve
uma mudança do Gabinete Ministerial do Império para um partido contrário. Foi demitido do cargo por ordem do
Consultório Cardinalício, que combatia a Maçonaria. Mais tarde foi reintegrado e aposentado. (NossaGente -
www.nggenealogia.com.br)
O Echo do Serro com galhardia, proclamou a verdadeira profissão de fé de seu redator, e que foi reproduzida pelo
jornal O Universal, ed. 342, 22/09/1829.

Quem não tem o espírito do seu século, tem dele toda a desgraça: eu quero a liberdade sem
licença, a Religião sem fanatismo, a crença sem superstição, a filosofia sem ateísmo, a
igualdade política sem saturnais, a monarquia sem despotismo, a obediência sem servidão,
a paz sem fraqueza, e o repouso sem apatia.” (Echo do Serro).
Em outubro de 1831, o Arraial do Tejuco é elevado à categoria de vila, passando a se chamar Vila de Diamantina. O
Echo do Serro encerra suas atividades para dar lugar ao periódico Diamantino, nome mais apropriado para nova
fase que se iniciava.

Eis um belo artigo que o Echo do Serro publicou e a Aurora Fluminense transcreveu em suas páginas. A clareza das
ideias e a percepção política, posição atemporal que pode ser empegada em qualquer época.
Aurora Fluminense de 7/04/1831- Rio de Janeiro

2 – O Diamantino (1831): O Diamantino seguindo a linha traçada anteriormente pelo Echo do Serro, foi
um jornal liberal. Sua legenda “Si l’homme est créé libre, il doit se gouvermer; Si l’homme a des tyrans il les doit
destroner” - Voltaire, (Se o homem é livre, ele deve se governar; se os homens são tiranos, devem ser destronados).
Fazia uma oposição dura e responsável, reconhecia os atos da administração quando fossem bons, e censurava os
que entendia serem maus. Não se alinhava aos que faziam censuras por fazer, sobretudo, àqueles que se
propunham deliberadamente a desmoralizar os jornais sérios e seus distintos escritores. Suas ideias afinavam com
outros periódicos da Província.
Em 16 de julho de 1832 o jornal O Novo Argos, de Ouro Preto, franco em suas posições liberais, era apoiador d’O
Diamantino, e o saúda:
O Diamantino, cuja publicação se havia interrompido, novamente aparece em formato maior, e impresso em belos
caracteres. O nosso Colega promete ser constante defensor da Causa da Pátria. O “Novo Argos” publica, nesta
edição, o manifesto “Traição contra o Brasil” onde condena um movimento de tentativa de empreender ao Brasil
um regime absolutista.
Outro aliado foi o Astro de Minas, de São João del Rei. Como os outros dois jornais, O Astro de Minas estava ligado à
causa da independência do país, inconformado com a submissão e o despotismo impostos pela Coroa Portuguesa, e
uníssonos, conclamavam os brasileiros a se insurgirem contra o desejo de qualquer movimento de retornar o Brasil
à condição de colônia, esperançosos por um futuro próspero da jovem nação que se desenhava.
Eram três jornais de três cidades onde a liberdade era o fundamento da autodeterminação do seu povo. Pesa,
entretanto, a tolerância com a escravidão. A escravidão no Brasil foi o pecado original da sociedade brasileira,
entranhado nos interstícios dos espíritos, e até hoje não eliminado. Naquele tempo, as próprias leis assim o
determinavam, nos dias atuais, é um fogo de húmus que arde às escondidas, surdamente, sob uma relva
aparentemente viçosa.

Outro artigo do Diamantino foi reproduzido, mais uma vez, pelo jornal O Astro de Minas, São João del Rei, Nº 607,
de 15/10/1831, na coluna Interior, quando foi feita a contundente crítica às pretensões de estabelecer uma nova
configuração expansionista do Brasil. Chama a atenção a contextualização dos fatos e acontecimentos
internacionais elaboradas pelo articulista. O artigo, também, alerta para movimentos de ruptura na Constituição,
convida o povo a se levantar contra aqueles que se opõem aos novos tempos:
Marchemos ligados com a Constituição, e todas as reformas por ela reguladas; que será o seguro meio de baquear
absolutismo, ou Petronismo...
Em outra edição o outro jornal, O Novo Argos, de 24 de julho de 1831, repercute notícia do Diamantino e publica
carta Juiz de Paz da Villa da Diamantina, Manoel Vieira Couto, defendendo-se das ofensas que lhe estariam sendo
imputadas por ter ficado do lado de um vigário em uma acusação.
Foi o jornal Diamantino, na visão de Manoel Vieira Couto que:
... em seu 1º número, imprudentemente caluniou a Autoridade Eclesiástica. O caso foi parar no tribunal, foi o vigário
julgado com criminalidade por seis votos, contra quatro. O Juiz de Paz, Sr. Manoel, descontente do resultado
promete recorrer apresentando nulidades do processo e condena à execração os julgadores do processo.

E finaliza, dramaticamente:

Desejando antes de morrer deixar o Brasil livres de horrores da anarquia... e que de resto seus dias se vê
perseguido, e obrigado, a justificar-se de crimes que só o idiotismo delirante de uma facção lhe podia
importar.
O Sr. Juiz de Paz, Manoel Vieira Couto, dava ares, contrariando o seu sobrenome, de que ficava do lado
conservador. Pode-se, assim, ver quão animados eram os jornais participando do cotidiano local, da vida da cidade.
3 – O Exorcista (1833): não há referência quanto a seus redatores, a não ser, redigidos por jovens. Mas seu
título é o indicativo de que o jornal aderia aos partidários contrários ao retorno de D. Pedro I ao trono do Brasil,
movimento que ganhou simpatizantes diante da impossibilidade do herdeiro do trono assumir em razão da pouca
idade e dos desafios de manter-se a nação unida.
O jornal O Universal publicou artigo onde O Exorcista conclamou a união de todos os brasileiros, como forma de
atingir “a felicidade do povo”, e fortalecer o grito da independência, além de confirmar a contrariedade de ver um
possível retorno de D. Pedro I ao trono:
A história de todos os tempos nos tem subministrado o conhecimento, que dá concórdia, é que depende a felicidade
do povo; a decadência dos Impérios vem sempre pela desunião. Roma, que pelo seu esforço, e bravura se fez
senhora do mundo todo, confirma esta verdade.
Na crise atual muito convém aos brasileiros a unanimidade de sentimentos, para com prontidão, e denodo ser
rebatida qualquer tentativa dos inimigos contra as nossas Instituições livres. Os sectários do despotismo não cessam
de trabalhar na obra da restauração, porém confusos, esses infelizes têm de presenciar frustrado seu negro plano.
O povo, que uma vez provou o doce pomo de liberdade, não sofre à sangue frio, que o déspota lhe espezinhe seus
direitos. São tantas, e tais as dificuldades sobre a efetividade da vinda do Duque de Bragança ao Brasil, que
julgamos a ele incapaz de superá-la; mas, se todavia, verificar-se essa funesta realidade (o que duvidamos) e
tivermos união, o resultado há de certamente causar horror, e servir de lição à todos os déspotas do Mundo.
4 – Tribuno do Serro (1833): Era um jornal de orientação liberal e sua redação estava a cargo de jovens
articulistas.
5 - O Jequitinhonha (1860), cuja primeira legenda dizia “A la loi son empire, aux hommes leur dignité”
(Uma lei de seu império, aos homens sua dignidade), circulou de 1860 a 1875, em seus dez primeiros anos de vida
seguia a linha política liberal monárquica. Após 1871, um mês depois do Manifesto Republicano, no Rio de Janeiro,
o jornal passou a defender a República. O Jequitinhonha foi o primeiro jornal republicano de Minas Gerais.
Tipografia do Jequitinhonha, à Rua Direita, nº 2
Editor: Geraldo Pacheco de Mello.
Mudou-se de local por algumas vezes, em diversos pontos da cidade: Rua Atrás das Mercês, nº 15; Rua da Quitanda,
nº 16 A; Rua do Amparo, nº 41, e por último, Rua do Macau, nº 3.
Redatores: Joaquim Felício dos Santos (que se destaca nas Minas como advogado, historiador, Senador da Corte,
professor); João Salomé Queiroga, Josefino Vieira Machado; João Nepomuceno Kubitschek, Alfredo de Santa Rita
Queiroga; João Júlio dos Santos; D. João Antônio dos Santos; Antônio Gonçalves Chaves; José Agostinho Vieira de
Matos (assuntos científicos); Félix Antônio de Souza (também, assuntos científicos); José Vieira Couto de Magalhães
(assuntos de navegação do rio São Francisco); Theophilo Benedicto Ottoni; Pedro Magalhães Pereira (economia
política).
Secretário: João Gualberto Pereira da Silva
No começo, chegou a utilizar a prensa que serviu à Sentinella do Serro, jornal de Theophilo Ottoni impresso na
vizinha cidade do Serro. Depois passou à prelo de mão e estrutura de ferro.

Theophilo Benedicto Ottoni


Retrato-pintura existente no museu cidade do Serro

Comendador Herculano Carlos de Magalhães Castro


Retrato-pintura existente na Santa Casa de Diamantina.

Foi sem dúvida o mais importante jornal de Diamantina e de longevidade superior. O seu proprietário era Josephino
Vieira Machado, o Barão de Guaicuhy, até 1869, depois se tornou proprietário o Comendador Herculano Carlos de
Magalhães Castro.
Não deixou de enfrentar críticas e ataques da imprensa local e da Corte. Na Corte, O Diário do Rio de Janeiro, jornal
conservador foi o mais contundente.
Os Anais da Biblioteca Nacional, 1997, descreve como O Diário do Rio de Janeiro se referiu ao O Jequitinhonha:
Folha política, apresenta-se como sustentáculo das ideias liberais que visam à progressiva democratização das
instituições pátrias, porém através de um radicalismo pouco caracterizado.
Por volta de 1868, evoluindo de orientação, e mais definidas suas tendências, torna-se alvo de ataques por parte da
imprensa situacionista da Corte, capitaneada pelo ‘Diário do Rio de Janeiro’. Não se intimidando, continuou
desferindo exacerbadas críticas à ação governamental.
Um dos temas abordados é a atuação do Duque de Caxias, então, Marquês, na Guerra do Paraguai. Aliás, já em
editorial de 31 de dezembro de 1861, O Jequitinhonha punha o Governo Imperial de sobreaviso sobre os
preparativos do Paraguai para invasão do Brasil.
Joaquim Felício dos Santos, sobre a Guerra do Paraguai, fez severas críticas ao Imperador D. Pedro II, e ao seu chefe
militar, o então Marquês de Caxias.
Essas críticas foram vistas com olhares de falta de patriotismo e ofensas diretas ao Imperador. Hoje, estudiosos
autores, confirmam a mesma posição apresentada pelo advogado Dr. Joaquim Felício dos Santos, e classificam
como guerra desproporcional, por motivos particulares ao Imperador.
Joaquim Felício utilizou O Jequitinhonha para publicar peças teatrais, e muitos ensaios que se tornaram depois
livros, o mais famoso de todos “Memórias do Districto Diamantino”.
Foi ele o arauto da propaganda republicana em Minas Gerais e o jornal “O Jequitinhonha” foi o primeiro órgão que
veiculou, abertamente na Província, a necessidade de se instaurar a República. Aliás, “O Jequitinhonha” foi
considerado, em 1868, como jornal subversivo.
A partir de 30 de setembro de 1868, o novo proprietário, o Comendador Herculano Carlos Magalhães, prosseguindo
a marcha evolutiva da folha, apresenta uma nova legenda:
O Jequitinhonha professa a doutrina liberal em toda a sua plenitude, propugnando pelas reformas constitucionais
radicais no sentido da Democracia Pura.
E foi, além disso, em 3 de dezembro de 1870, quando é lançado na Corte o célebre manifesto do Clube Republicano,
e O Jequitinhonha não procrastina, bem recebe a notícia, completa a sua metamorfose, a última, e em 1º de janeiro
de 1871, intitula-se “Órgão Republicano”. O comendador Herculano Carlos, em editorial, define assim a sua atitude:
Os amigos que compõem a redação d’O Jequitinhonha resolveram aderir explicitamente ao programa do Clube
Republicano, recentemente criado no Rio de Janeiro como já noticiamos. Pelo que é O Jequitinhonha Órgão do
Partido Republicano Mineiro. Há apenas franqueza.
Também, por isso, a parte principal da redação resolveu apresentar-se, assumindo a responsabilidade que lhe cabe
perante o público.
Refere-se a Joaquim e Antônio Felício dos Santos, cujos nomes, com respectivos atributos passam a figurar no
cabeçalho. Como poderemos ver mais adiante, em homenagem feita à “A Sentinella do Serro”, os dois jornais ficam
definidos como sendo os primeiros jornais de Minas Gerais a discutir e propagar ideias republicanas.
Não se erra em afirmar que Joaquim Felício dos Santos deve ser considerado como Patriarca da República em Minas
Gerais, em última instância quando, por aclamação, foi convocado para presidir os trabalhos preparatórios da
Primeira Assembleia Nacional Constituinte Republicana.

D. João A. dos Santos Dr. Joaquim Felício dos Santos Dr. Antônio F. dos Santos
1º Bispo de Diamantina Senador da República Médico e político

D. João Antônio dos Santos - A universalidade de seu conhecimento fez dele um respeitado pensador, o verbo e o
vulto do seu tempo. Suas virtudes o santificaram, seus defeitos o humanizaram, ele conduziu toda uma escola de
ministros da Igreja de Diamantina. Não vivia na dúvida.
O Professor José Carlos Rodrigues diz que, o então Padre João Antônio dos Santos, do momento do empirismo e da
sua superação consiste no fato de que a insatisfação com Genovesi e com Storchenau faz com que D. João Antônio
dos Santos elaborasse de modo autônomo a obra Esqueleto das Faculdades e Origem das Ideias do Espírito
Humano, Mariana, Tipografia Episcopal, 1847. Em sua investigação, D. João Antônio dos Santos recusou as
alternativas do idealismo racionalista e do tradicionalismo. Essa posição permitiu ao Professor José Carlos Rodrigues
concluir que D. João Antônio dos Santos, ”ao introduzir a temática da consciência e da liberdade e fundamentando a
ideia de moralidade num absoluto transcendente, contribui para que o pensamento filosófico mineiro acompanhe a
evolução nacional, ao abandonar Genovesi sem renegar os problemas modernos”. (Antônio Paim)

Antiga Igreja da Sé em Diamantina - 1724


Idealizada por D. João Antonio e construída por seus familiares a Fábrica do Biribiri e o complexo de moradas e a igreja.
D. João, Dr. Antônio e Dr. Joaquim Felício dos Santos – idealizaram a fábrica do Biribiri.

O bispo Dom João Antônio dos Santos, da diocese de Diamantina sentindo as agruras que a população mais pobre
de sua diocese passava em virtude do declínio e esvaziamento dos resultados da exploração do diamante, tomou
para si um ideal, e em 30/10/1874, iniciou a construção de uma fábrica de fiação e tecidos, junto com o seu irmão, o
jornalista, jurisconsulto, escritor e senador, Joaquim Felício dos Santos, e com o sobrinho, o médico e político,
Antônio Felício dos Santos. A Companhia recebeu o nome de Santos & Companhia, e a fábrica tomou o nome de
Fábrica de Fiação e Tecelagem Biribiri, em referência ao rio em cuja margem havia se instalado.
Além da fábrica de tecidos foi criada uma lapidação de diamantes de várias rodas, um complexo residencial com
casas e alojamento para moças chamado pensionato – ou como se refere o historiador, Domingos Antonio Giroletti,
“Convento” - e ainda uma bela igreja com o cemitério ao lado. Esse conjunto arquitetônico permanece até os dias
atuais, e a área da fazenda em que se localiza, faz parte de um novo parque estadual de Minas Gerais – Parque
Estadual do Biribiri. As máquinas foram importadas e vieram pelo Nordeste, subindo o rio São Francisco, depois, o
rio das Velhas até que “a carga desceu em jangadas até o rio Paraúna. Novamente conduzidos à tração animal,
desembarcaram em Biribiri, após percorrerem 17 léguas de estradas construídas com esta finalidade específica. O
mecânico americano Richard, que acompanhou a caravana, começou a montar as máquinas em condições adversas
de trabalho. A lentidão caracterizou o empreendimento”. (LEMOS, 1991, p. 41).
O capital da Fábrica foi de 300:000$000 (trezentos contos de réis)
Possuía 40 teares.
Possuía, também, uma Tinturaria de fios e tecidos.
Uma engomadeira a vapor.
Produzia 1.200 m de tecido por dia.
Contava com 120 operários.
Possuía uma escola noturna de 1ªs letras onde estudavam os operários e seus filhos, a igreja construída custou
12:000$000 (doze contos de réis) e o local contava, ainda, com um pequeno teatro onde eram encenadas peças
montadas exclusivamente pelos operários.
Os passos de Dom João Antônio foram seguidos depois por outros clérigos, em especial, pelo bispo de Mariana, MG.
A família Santos procurou manter a sociedade da Companhia restrita ao âmbito intrafamiliar, até que precisou
contar, em um segundo momento, com a participação de um sócio, um amigo capitalista local. Em meados de
1890, a direção da Fábrica do Biribiri, com dificuldades para saldar seus débitos provocada pela falta de capital de
giro, colocou na praça notas emitidas pela própria Companhia que equivaliam o expressivo valor de época de 5$000
(cinco mil réis), cada uma; uma moeda particular a ser trocada com seus credores locais. O assunto foi parar na
Câmara dos Deputados, que proibiu essa medida e suspendeu a emissão. Em Diamantina, duvidando-se do lastro
que as notas pudessem ter, a sociedade local deu-lhe o nome de burrusquê, uma síntese de “burros os que
acreditam...”
A Fábrica do Biribiri funcionou até o início de 1973, quando estava perto de completar 100 anos. (Dias, José Carlos –
A História Contada dos 130 anos da S. Joanense Têxtil Ltda)
O adversário contumaz d’O Jequitinhonha, o jornal conterrâneo, O Monitor do Norte - 20/06/1875 - numa nota
denominada ‘Crônica da Semana’, anunciou o fim do ‘O Jequitinhonha’:
Corre como certo que O Jequitinhonha de hoje se despede do respeitável público, e que definitivamente passa-se
desta para melhor vida, depois de ter tido uma longa existência! Teve mocidade brilhante, prestou valiosos serviços
ao país, mas infelizmente, como sucede no último quartel da vida, sofreu amarguras e contrariedades; alguns de
seus artigos já se achavam em contradição com seu programa, e pressentindo-se os assinantes, algum cheiro
jesuíta, foi despedindo a capucha, e bastava só isto para dar-lhe fim, independentemente de ter ultimamente
jogado as cristas (brigado) com o Monitor. Amigo, como somos da imprensa, sinceramente lastimamos seu
desaparecimento.
O mesmo jornal, na edição de 18/07/1875, sarcasticamente informou: O Jequitinhonha faleceu há dois dias de
ataque de jesuitismo.

6 - O Voluntário (1865): Jornal monarquista, com a legenda “Às Armas! Às Armas!!”, fazia laudas à Guerra
do Paraguai, incentivando o alistamento de voluntários.
Tipografia: Utilizava a tipografia Jequitinhonha – 1865 – Rua atrás da das Mercês, nº 15, formatação 4 páginas, duas
colunas, depois publica suas letras na Tipografia de Luiz Antônio dos Reis, Rua do Rosário, nº 26.   
Editor: Geraldo Pacheco de Mello
Fundador: Josephino Vieira Machado
Redator: Theodomiro Alves Pereira.
O Voluntário registrou que Diamantina enviou 100 voluntários à Guerra do Paraguai e publicou a partida dos
batalhões.
 Theodomiro Alves Pereira era advogado formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, no período de
1859 – 1863. Ainda na faculdade escreveu peças de teatro que foram por lá encenadas: A Maldição,
Gennesco, Duas Faltas e O Poeta. Foi, também, professor e diretor da Escola Normal e do Externato de
Diamantina.
Gennesco se tornou o seu mais famoso romance.
Na carreira política, pelo partido liberal, o Dr. Theodomiro foi das mais brilhantes, no plano municipal, no
provincial e do império. Começou como vereador de Diamantina, em seguida conquistou cadeira de
deputado provincial, onde seus eloquentes discursos o fizeram ocupar lugar de destaque e prestígio.
Depois, foi deputado geral pelo 17º Distrito de Minas, quando consolidou na capital do Império a
merecida fama que o precedera. Faleceu em 08/02/1911, solteiro, deixando consternação, estima e
admiração pelas suas notáveis qualidades de caráter e de inteligência. Pertencia ao quadro de irmãos da
maçonaria.
O jornal Correio Mercantil, e Instrutivo, Político, Universal, de 17/02/1867, Nº 48, na coluna literária, fez a
seguinte crítica, ressaltando as qualidades de Theodomiro Alves Pereira referente ao seu livro Gennesco:
Gennesco, trabalho de um moço que deixou um belo nome na academia de S. Paulo. Falo do Dr.
Theodomiro Alves Pereira. Gennesco é a vida acadêmica cheia de poesia e de loucuras. É um romance à
Azevedo (Álvares), o grande poeta: pertence à sua escola, à sua seiva e à sua natureza.
O Dr. Theodomiro escreve às vezes como escrevia o poeta da Lira dos Vinte Anos: muito sentimento a
transbordar do peito, imaginação incendida e vulcânica, e o estilo a correr, a bramir e espumar como água
de catadupa, e quando desce ao plano a escorrer plácida e murmurante,
Gennesco é assim. Algumas páginas, verdadeira tempestade. Outras, bonança e doçura.
Gennesco foi uma das muitas produções em prosa dos adeptos da escola byroniana. São autores
classificados como de ultraromantismo. Seus textos e versos incorporavam caraterísticas de
individualismo, pessimismo, dúvidas, desilusões. Sentimentos que buscavam se afastar da realidade.
Theodomiro foi colega, na faculdade de direito, de Álvares de Azevedo, considerado o fundador desse
estilo de poesia, além disso, teve a companhia poética de Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes
Varela. 

São Paulo - Tipografia Literária – Rua do Imperador nº 12 – 1861


Disponível em caráter de domínio público na rede mundial.
O Professor Theodomiro Alves Pereira foi, também, compositor. Diamantina ganhou dele, e de Modesto Antônio
Ferreira, a canção “É a Ti Flor do Céu”, conhecida e cantada nas serenatas, ainda hoje, pelas ruas calçadas de pedras
da cidade. Escreveu para os jornais diamantinenses, O Jequitinhonha, Voluntário e Monitor do Norte.
É a ti Flor do Céu
Theodomiro Alves Pereira
Modesto Antônio Ferreira
É a ti flor do céu que me refiro
Neste trino de amor, nesta canção,
Vestal dos sonhos meus, por quem
Suspiro.
E sinto palpitar meu coração.
Vestal dos sonhos meus, por quem
Suspiro
E sinto palpitar meu coração.
Ó dias de risonhas primaveras,
Ó noites de luar que eu tanto amei,
Ó tardes de verão, ditosa era,
Em que junto de ti amor gozei.

Não te esqueças de mim, por piedade,


Um só dia, um só instante, Um só momento.
Não me lembro de ti
Sem Ter saudade,
Nem me podes fugir
Do pensamento.
Quem me dera
Outra vez esse passado.
Essa era ditosa em que vivi.
Quantas vezes na lira debruçado,
Cantando em teu colo adormeci.

7 - O Gaio (1869): pequeno jornal. Redator José da Cunha Vale Laport


8 - O Infantor (1873): Redator: José Ferreira de Andrade Brant Junior
9 - O Estudante (1873): “Órgão republicano” e enfático adversário da monarquia. Legenda: Audaces
fortuna juvat, timidosque repellit (Virgilio) (Ao homem ousado, a fortuna estende a mão).
Tipografia:  de Luiz Antônio dos Reis  
Fundador: Olímpio Mourão.
Editores: J. Santos; R. Rabello; J.R.M. Junior; Colaboradores: L. Coelho; Achilles e Camargo, entretanto, nenhum
desses personagens assina suas colunas, ora dizendo-se *** (3 asteriscos), ou sob pseudônimo: Pigmalião Argos,
ensejando que poderiam receber represálias caso divulgassem seus nomes e suas vidas poderiam ser perturbadas
pelos adversários.
Seus artigos são acolhidos por outros jornais, em especial, pelo jornal A República, do Rio de Janeiro, que o
reproduz na íntegra, em 22/08/1873. O Estudante cuida de proclamar uma verdadeira guerra contra a monarquia:
“Ataquemo-lo com todas as forças intelectuais. Coitados! Não vês que querem comover o com súplicas é o mesmo
que querer que as pedras ouçam e que o lobo tenha sentimentos humanos para com as ovelhas.  O governo
monárquico não se importa com os males do país.
A Igreja de Diamantina também é alvo de críticas do jornal, acusando-a de jesuitismo. Esse termo percorre inúmeras
vezes as páginas dos jornais liberais da cidade, e mais à frente poderemos entender o significado. No número
abaixo, O Estudante reflete sobre a medida do Governo em trazer colonos estrangeiros para ocupação de terras,
enquanto por aqui, muitos braços permaneciam ociosos sem ter onde trabalhar.

10 – A Infância (1873): “Jornal de estudante que se publica em Diamantina, nesta província”, informou o
jornal ouro-pretano, O Mineiro, nº 18, Ano I, 3/3/1874. Tinha simpatia com as causas republicanas e por isso
recebeu críticas de outros jornais conservadores. Era um jornal de pequenas dimensões, cerca de 10 x 7 cm.  
Redator: Francisco Sá.
Teve pequena duração encerrou sua publicação depois de poucas edições. O jornal conservador Monitor Sul
Mineiro, da cidade de Campanha, a ele se referiu em críticas:
Infância, pequena folha, que tem pequenos redatores, pequenas publicações, talvez pequena circulação e está
publicando na Diamantina...

O jornal O Monitor do Norte, com humor duvidoso, sentenciou o fim do jornal: “morreu de coqueluche”.
Apesar de tímido, A Infância, foi comentado por outros assemelhados, além do que anunciou ao Brasil o grande
diamantinense Francisco Sá, que se tornou político e ministro de governo.
11 – O Catholico (1874): órgão ligado diocese diamantinense, cuja legenda era “Homem de pouca fé,
porque duvidaste” (S. Mateus), se anunciava como “Periódico consagrado aos interesses do povo”.   Foi combatido
por quase todos os jornais liberais, sobretudo pelo Monitor do Norte que era o mais hostil à igreja local.
Redatores: Padre Augusto Júlio de Almeida, Dr. José Christiano Stocker de Lima e João Ferreira Brant.
Propriedade: Padre Augusto Júlio de Almeida
Editor: Luiz Antônio Reis.
 O Padre Augusto Júlio de Almeida foi o quinto padre ordenado na diocese de Diamantina, sendo bispo D.
João Antônio dos Santos, em setembro de 1867. Exerceu o cargo de vigário geral de Diamantina e
posteriormente, bispo de Goiás (14/03/1876), do qual fez resignação em 7/01/1881. (Jornal Pharol – Juiz
de Fora). Foi Vigário Geral da Diocese de Diamantina consecutivamente por mais de 42 anos.
O Padre Augusto esteve ao lado do Bispo D. João Antônio dos Santos que na ocasião proibiu que as
procissões passassem pela Rua Direita em razão de que lá havia a Loja Maçônica Atalaia do Norte.
O Monitor do Norte acusa a Igreja de utilizar as páginas de O Catholico para solicitar que os fiéis cancelassem as
assinaturas deste jornal:
Sermão Incendiário: Reverendo Pe. Francisco Nicolau dos Santos, por ocasião da bênção do SS. Sacramento proferiu
sermão incendiário, incitando os fiéis a sedição. Motivado pela notícia de que haviam sido deportados os jesuítas. O
jornal o Monitor do Norte chama a atenção do Promotor: O clero de Diamantina enfrenta a Sociedade Maçônica,
criando o Partido Catholico e acusam os maçons de formarem o Partido Maçônico. O clero utiliza o jornal Catholico
para contrapor o Monitor do Norte. O Monitor do Norte, acusa o bispo de operar para desarticular a Educação em
Diamantina ao promover a transferência do Pe. Luiz Pinto de Almeida, vigário do Rio Vermelho. A “promoção” seria
fruto da abjuração que ele fizera publicamente à maçonaria.
O Monitor do Norte acusa estar sofrendo “guerra fria mesquinha por parte dos jesuítas. As intrigas proferidas pelos
jesuítas são consideradas as armas favoritas deste clero, que incita os católicos a devolverem as assinaturas sob a
pecha de que estariam promovendo um jornal anticatólico.”

Anais da Loja Grande Oriente do Rio de Janeiro


O Catholico, por sua vez, escreveu em suas letras, e foi reproduzido por seu parceiro de ideias e conceitos, O
Apóstolo (RJ), edição nº 111, de 30/06/1875, lê-se:
O celebérrimo porta-voz da maçom ⸫ Monitor do Norte, nº 24, em artigo medido a compasso e esquadro,
enfaticamente denominado – de fundo – traz graciosa nova de como “há pouco mais de um ano trabalha
regularmente nesta cidade a loja maçônica Atalaia do Norte, que há alguns meses antes funcionava
irregularmente, graças aos esforços de alguns irmãos dedicados”. E outras coisas e coisinhas mais que ficam para
outra ocasião. Desta vez, sim, os homens da treme ⸫ falaram bonito e aproximaram-se mais da franqueza, que eles
têm só na testa – ‘francmaçons’. Então “há alguns meses antes já funcionava irregularmente graças aos esforços de
alguns dedicados” a loja maçônica? Irregularmente por quê? Não faziam procissão no Rosário sem sacerdote, não
procuravam a igreja armados de revólveres, cacetes e machado, para arrombá-la a fim de tirar opas e tochas com
ameaça de sangue, fogo e de tudo arrasar, portanto, estava a loja sem lógica funcionando irregularmente, isto é,
sem regra da comuna! Agora, porém, é outro caso, fazem tudo que querem, discursam calorosamente, os espertos
comem os cobres dos tolos, cortam cabeças na sua vontade deles, etc. Estão regulares.
12 – O Jesuitinha (1874):  Redator Josefino Sá.
13 – O Escolar (1874): Redatores: Pedro da Matta Machado e Francisco José de Almeida Brant.
14 – A Voz da Juventude (1874): Redator: Antônio dos Santos Mourão.
 Dr. Antônio dos Santos Mourão foi um respeitado e estimado advogado e professor, dirigiu a escola
noturna. Colaborou com diversos jornais em muitos momentos, e trabalhou através de sua inteligência
pela causa abolicionista.
15 – O Echo da Mocidade (1874): Redatores: Josefino Felício dos Santos e Olímpio Mourão.
 Josefino Felício dos Santos, advogado, era filho de Joaquim Felício dos Santos.
16 - Monitor do Norte (1874): Órgão oficial da maçonaria em Diamantina, com uma legenda muito forte
“NÃO ADMITEM TESTAS DE FERRO”. Sua legenda é uma alusão ao apelido considerado pejorativo que os liberais
aplicavam aos adversários conservadores. Jornal literário, científico e noticioso.
Tipografia do próprio Monitor do Norte – Rua do Rosário, depois Rua Direita, 2   
Editores: José Sebastião Rodrigues Bago e José Leite Teixeira.
Fundador: Josephino Vieira Machado.
Propriedade da Loja Maçônica Atalaia do Norte.
Redatores: Theodomiro Alves Pereira e João Nepomuceno Kubitschek.
Colaboradores: Pedro Fernandes Pereira Corrêa, João Ribeiro de Campos Carvalho, José Eleutério de Queiroz
Amaral, José Paulo Dias Jorge, João Júlio dos Santos, Olímpio Júlio de Oliveira Mourão, Alfredo Santa Rita Queiroga,
e Victor de Paula.

Olímpio Júlio de Oliveira Mourão Mariana Correa Rabelo (esposa de Olímpio)


Foi o jornal dos mais críticos ao clero diamantinense e a quem não se alinhasse a seus pensamentos. Atacava a
todos severamente, com sarcasmos, ironias e contundências. Por vezes, usava linguagem depreciativa em humor
duvidoso. Seus adversários prediletos são: o clero, a quem denominava de “jesuíta”, o Sr. Bispo e os políticos
conservadores. Digladiava-se através de suas páginas com o jornal O Catholico. Não poupava críticas ao “O
Jequitinhonha”.
É de se notar que o Monitor do Norte e Jequitinhonha foram fundados pelo mesmo Josephino Vieira Machado,
cunhado de Joaquim Felício e do Bispo D. João Antônio dos Santos. A discrepância de ideias entre os jornais serve
por evidenciar o afastamento de Josephino V. Machado da direção do Jequitinhonha.
O Monitor do Norte tinha seus artigos e notícias repercutidas por um número significativo de jornais de fora de
Diamantina, que se identificavam com pensamento livre. Apesar dos muitos colaboradores, o anonimato prevalece
em seus artigos críticos, por isso, são combatidos sem complacência pelos ofendidos.
Jornal ‘O Domingo’ – RJ – 12/04/1874

17 - O Guarany (1877): “Órgão Democrático, declarava professar as ideias liberais em toda a sua vastidão,
considerando a monarquia ‘árvore exótica plantada no solo americano.” O Brasil foi o único país das Américas a ter
um regime monárquico.
Editor: Francisco José Ferreira
Tipografia da Rua do Carmo, nº 6. Era impresso na tipografia do Monitor do Norte
Redatores: Diversos
18 – O Itambé (1878): Redator: Olímpio Júlio de Oliveira Mourão.
19 – O Recreio Beneficente (1878) – Jornal publicado pela Sociedade Beneficente de Diamantina:
É este o título de um novo periódico que a sociedade – Recreio Beneficente – pretende publicar n’esta
cidade. Recebemos o nº avulso que se publicou e distribuiu-se no dia da instalação da mesma. Cumprimentamos aos
colegas da redação e damos nossos emboras a essa sociedade de homens honestos e sisudos, que desejam o
progresso, pugnando pelos interesses gerais. (A Mocidade – Nº 18, Ano I – 24/9/1878).
20 - A Mocidade (1878): publicação semanal – inspirava-se pela legenda “Deus, Pátria e
Liberdade”, Mme Staël (1766 – 1817), poeta e pensadora francesa que introduziu o debate do
Liberalismo Doutrinário francês com críticas ao vício do estatismo. Anunciava a dedicação às ‘Notícias do
país e do exterior’
Tipografia: Luiz Antônio dos Reis
Editor: Américo Olavo dos Reis
Redatores: Francisco Sá (no início) e José Ferreira de Andrade Brant Junior
 O Professor José Francisco Ferreira de Andrade Brant Junior, em Diamantina, foi professor de aula
prática da Escola Normal. Apesar dos artigos de cunho abolicionistas e a favor de uma ordem política com
direcionamento republicano; o jornal liberal 17º. Districto, fez críticas ao Prof. José Francisco, impingindo-
lhe a pecha de: Conservador, filho do chefe conservador desta cidade (Diamantina), Sr. Comendador José
Francisco Ferreira de Andrade Brant. O seu pai, o Comendador José Ferreira, foi vice-presidente do
Partido Conservador de Diamantina.
Em 1884, o Prof. José Ferreira Junior, foi nomeado para o lugar de 2º oficial chefe de inspetoria de secção
da Secretaria da Inspetoria Geral. Esses inspetores escolares fiscalizavam o funcionamento das escolas
e a conduta profissional dos professores. Nesta ocasião já morava em Ouro Preto. Concorreu à cadeira de
deputado provincial, para o biênio 1886 - 1887, não conseguindo ser eleito.
“A Mocidade” se apresentava com 4 páginas, divididas em duas colunas, com espaçamento de linhas superior a seus
contemporâneos, o que lhe diminuía o conteúdo. Era impresso na tipografia de Luiz Antônio dos Reis, Rua do
Carmo, nº 6. Em sua edição nº 18, ano I, de 24 de setembro de 1878, publicou um importante artigo de mais de 1
página execrando a escravatura. Iniciou o artigo exaltando o Grito da Independência para em seguida classificar:
A ESCRAVIDÃO – esta aberração da humanidade, esta transgressão da lei divina e natural, este cancro arrojado na
sociedade, existe ainda nesta parte do globo que se diz livre e só nesta parte... ser ela um verdadeiro abuso, um erro
absurdo, uma crueldade horripilante, e indignados corações patrióticos dos brasileiros que tanto honram a Pátria.
E segue relacionando as ‘consequências terríveis’ que a escravidão provocava:
Suicídios, mortes, castigos bárbaros, enfim tudo de havido, fazendo-se ainda mais da negociação da carne humana,
uma especulação lucrativa, dando-lhe troco de ouro... É horroroso, é terrível! Costume bárbaro! É tempo de acabar
não pelas galhas, mas pelos troncos, essa barbaridade que não deve existir no século que se diz das luzes...
E cobra dos deputados eleitos no último pleito, 1878, a tomarem a decisão de trabalharem para abolição,
urgentemente. E termina o editorial conclamando ‘os brasileiros e a mocidade’ para se manifestarem:
Bradem como vos cumpre... Por um Brasil brilhante, suntuoso, tendo nele se feito desaparecer a escravidão, embora
fique a Pátria a vergonha de sustentá-la por tantos anos.
O jornal dá ênfase à Sociedade Ensaios da Mocidade. Nesta época era comum ver grupos de pessoas da
comunidade se juntarem em modo de sociedade para discutir suas causas.

Francisco Sá

21 – O Norte de Minas (1878): jornal porta voz da Sociedade dos Amigos da Beneficência.
22 - A Idéa Nova (1879): “Órgão Republicano”, legenda ‘Osez! (Saint-Just) (“Desafio! - que na frase
completa acrescenta - Esta palavra contém todas as políticas de sua revolução”) - publicação quinzenal- Anunciava
que “Não admite artigos de polêmica pessoal”
Redator Chefe: Josefino Pires
Redatores: Aurélio Egydio dos Santos Pires, Francisco Sá, João Araújo e Gustavo de Almeida, eles se sucederam.
Tipografia: Luiz Antônio dos Reis.
A Idéa Nova contando parte da história do diamantinense:
No dia 17 de julho de 1870, por iniciativa caridosa do saudoso bispo de Diamantina, D. João Antônio dos Santos, foi
estabelecida nesta cidade, a filantrópica associação Patrocínio de Nª Senhora das Mercês, tendo por fim auxiliar a
emancipação dos escravos. Como se sabe, (diz A Idea Nova) foi o ainda bispo D. João que, numa pastoral célebre,
aconselhou o Imperador D. Pedro II a suprimir a escravidão no Brasil, com um golpe de estado.
Aurélio Pires, como é mais conhecido, nasceu no Serro, no dia 23 de março de 1862, e faleceu no Rio de Janeiro em
25 de fevereiro de 1937. Aos 17 anos, publicou seu primeiro artigo no jornal de estudante de Diamantina, A
Mocidade. Na mesma cidade, editou o Órgão Republicano Nova Idéa, durante o período de 1880 a 1881. Em 1894,
formou-se em farmácia pela Escola de Farmácia de Ouro Preto. No ano de 1897, mudou-se para Belo Horizonte,
cidade ainda em construção, e abriu a Farmácia Aurélio Pires, que manteve até outubro de 1903. Na capital, foi
reitor do Ginásio Mineiro, Diretor e Professor de Geografia, História e Educação Moral e Cívica na Escola Normal
Oficial. Sobre sua formação, Aurélio fez os estudos de Humanidades no Seminário de Diamantina e no Liceu Mineiro
de Ouro Preto. Chegou a iniciar o curso de medicina no Rio de Janeiro, mas devido à sua situação financeira e por
problemas de saúde agravados, teve que abandonar o sonho de ser médico. Diplomou-se em Farmácia pela EFOP
(Escola de Pharmacia de Ouro Preto) em 1894, tendo sido o orador da turma.

Aurélio Egydio dos Santos Pires

23 - O Guaicuhy (1881): Tinha como legenda “Órgão hebdomadário do Partido Liberal de Diamantina”
Editor: Luiz Antônio dos Reis
Tipografia: Luiz Antônio dos Reis, Rua do Carmo, nº 6.
Redator: João da Matta Machado (primeiro), depois, Álvaro da Matta Machado.
Secretário: José Felício dos Santos.
O Guaicuhy já nasceu gerando polêmica, desde a escolha do nome e principalmente em relação aos reais objetivos
em que se anuncia nas entranhas. Vejamos o que um de seus adversários autodenominado Serrano fez publicar no
jornal conservador ouro-pretano, Província:
Diamantina, 2 de abril de 1881
O dia de ontem, consagrado a toda sorte de puffs – nos trouxe o - Guaicuhy - Órgão, segundo a letra redonda, do
partido liberal, sendo aliás o d’uma família que tem de sustentá-lo à custa dos encantos liberais, até a desejada
eleição d’um dos seus. Não tem redator ostensivo... mas este se revela tal qual foi, é e há de ser, desde o 1º artigo
até o último anúncio do novo órgão de 1º de abril. Não tem secretário, “mas toda correspondência será dirigida ao
secretário”. Não manterá outra que não a linguagem séria que vai ter a imprensa séria na discussão de princípios
políticos e de interesse geral, e já no 1º número faz dispêndio da fazenda caseira: imundo pasquim (a Província)
torpes insinuações, esterquilínios, etc. O seu título é uma homenagem póstuma ao finado – Barão de Guaicuhy.
Entretanto, quem isso escreveu é o mesmo que, em vida do ilustre Barão, o guerreou na eleição municipal, para
tredomente (sic - traiçoeiramente) empolgar ‘o’ cadeira de presidente de vereadores! Se o prestimoso nome do
finado chefe recebe agora homenagem póstuma, é para o Órgão familiar poder receber dos encantos com que
alimentar-se até ser eleito deputado o redator, que se anuncia nas entranhas do Guaicuhy cujo destino, Órgão
hebdomadário do partido liberal da Diamantina, é traduzido pelos liberais avisados: órgão diário “mares agitur”
(mares de interesse). O título – Guaicuhy – foi assunto de larga discussão entre os familiares – e foi depois aceito
porque o nome do patriótico e finado chefe vinha se servir de isca e o letreiro “Guaicuhy” era melhor anzol de que
“Grupuary” denominação primitiva, com o qual tinha de vir à luz da publicidade o tal puff do 1º de abril. Pelo
correio seguinte analisarei tudo quanto publicou o 1º número do – Grupuary – e perguntarei: Não é uma burla ao
Partido Liberal da Diamantina, louvaminhar-se aos parentes de uma só família, e em letras cúbicas anunciar que tal
folha é Órgão do mesmo partido? Quem não o conhece que o compre. “Serrano”
O Guaicuhy tinha preocupação de manter unida a força dos liberais da Província, em artigo muito bem redigido e
repercutido pelo “A Atualidade” (Ouro Preto), em 4/11/1881, chama a atenção para o plano engenhoso dos
adversários conservadores que utilizavam propagar a candidatura de mais de um distinto liberal à cadeira de
deputado de modo que os eleitores se dividiam nesses dois nomes, ao contrário dos conservadores:
Concentravam toda votação em um único conservador, acabava, desse modo, vencendo a eleição e os dois liberais
voltavam para seus quartéis. Alerta! Alerta! Liberais. Reconhecei bem o lobo vestido de pastor ... A união faz a força.
Se desprezardes esta máxima, a risada mefistopholica* (sic) de vossos contrários vos ferirá os ouvidos, (ass.) Os
Gansos do Capitólio**.
* Mefistofélico: demônio intelectual das lendas germânicas, e personagem do Fausto no drama de Goethe.
**Gansos do Capitólio, é referente à história romana inserida por Thomas Hobbes, importante pensador inglês, na
qual o grasnar dessas aves, os gansos, denunciaram a presença de tropas celtas inimigas que ameaçavam tomar de
assalto o Capitólio. Seus gritos acordaram os soldados a tempo de preparar as defesas e repelir o ataque inimigo.
Portanto, a referência foi feita como que um alerta, ou “quem avisa amigo é”.
24 – A Voz do Povo (1881): propriedade do Sr. José Felício dos Santos que morreu em 14 de outubro de
1881, vítima de enterite. O jornal não foi interrompido, mostrando-se aliado às causas abolicionistas, mas se
classificando como periódico imparcial, publicou em janeiro de 1882 como havia ficado organizada a diretoria da
Sociedade Abolicionista, depois ratificada pelo jornal O Lábaro do Futuro, como se poderá ver mais adiante. “Órgão
literário, noticioso e imparcial, dedicado aos interesses do povo, não se admitem testas de ferro”. Bem, imparcial,
conquanto os pensamentos estivessem alinhados aos liberais. Conservadores, não se admitem.
Tipografia: Tipografia da loja Maçônica Atalaia do Norte.
Gerentes: Pedro Jorge Brandão, depois, José Sebastião Rodrigues Bago
Editor: Delfim Juventino Rolim
Redatores e colaboradores: Diversos
Secretário: José Felício dos Santos
Em fevereiro de 1882, o jornal se meteu numa controvérsia de repercussão com o Vigário, Pe. Augusto Prudêncio
da Silva, quando lhe fez severas críticas consideradas de cunho calunioso, porque seria o sacerdote pivô de
separação de um casal. A própria mulher teria denunciado o Vigário dizendo-se “roubada” por ele. O caso causou
alarme na população e foi dito que A Voz do Povo teria incitado a população a decretar: “ex abrupto a morte ou
extermínio do Padre”.
O padre, em contrapartida, utilizou-se das páginas do O Lábaro do Futuro para se defender em enérgica negação,
acusando o jornal A Voz do Povo de ter envenenado ódio gratuito, de hipocrisia e covardia.
Na mesma edição do Lábaro do Futuro, outro colega do Vigário, o Pe. Maximiano da Silva Pimentel, fez-lhe um
desagravo, classificando A Voz do Povo “de mal lançado pasquim no pelourinho”.
25 – O Lábaro (1881): “Órgão da mocidade diamantinense”, sua legenda era “C’est en forgeant qu’on
deviest forgeron” (ditado: É na prática que se leva à perfeição). Circularam poucos números, para se tornar O
Lábaro do Futuro.
Redatores: Pedro da Matta Machado, Josefino Sá e Fonseca Júnior
Colaboradores: diversos
26 – O Futuro (1881): “Literário e republicano, redigido por estudantes”, circulou apenas um exemplar
para se juntar ao O Lábaro. Redatores José Queiroz e Josino Quadros
27 - O Lábaro do Futuro (1882): “Órgão Republicano, Literário e Noticioso”, expressa a epígrafe latina:
Nihil mortalibus arduum est (Nada é impossível para humanidade), atribuída ao filósofo romano Horácio, 65 AC,
filho de escravo libertado. Foi através das letras d’O Lábaro do Futuro que surgiu a ideia para formação do Partido
Republicano do Norte, proposta por Antônio Olinto dos Santos Pires.
Tipografia: Luiz Antônio dos Reis, Rua Campos de Carvalho, nº 1.
Redatores: Zoroastro Pires, Josino de Quadros e Josefino Sá
Gerente: Epaminondas Pires
Colaboradores: Diversos espalhados por cidades e distritos, principalmente do norte mineiro.
Em seu nº 9, de 16/05/1882, publicou edição especial em homenagem à Tiradentes, narrando as condições em que
ocorreram os eventos da Inconfidência e a execução do mártir da Independência.

O jornal foi a junção dos extintos jornais O Lábaro e Futuro. Era publicado em 4 páginas, divididas em três colunas,
com espaçamento simples. Esta composição era a mais comum entre os periódicos.
O Lábaro do Futuro era um jornal ativista defendendo a causa abolicionista, dando divulgação à “Sociedade
Abolicionista” (8/01/1882). É importante ressaltar os nomes dos cidadãos que compunham a mesa diretora da
Sociedade Abolicionista; uma homenagem aos confrades:
Presidente: Sr. Antônio dos Santos Mourão
Secretários: Josino de Quadros e Antônio Efigênio de Souza
Orador: Zoroastro Pires
Tesoureiro: Propércio
Procurador: Josefino de Sá
Conselheiros:
Dr. Francisco Correa Rabello: advogado
Dr. Álvaro da Matta Machado (médico e deputado da Corte, irmão do Dr. João da Matta Machado)
João Nepomuceno Kubitschek (senador de Estado, 1º vice-presidente do Estado de Minas Gerais).
Cláudio Augusto Ribeiro de Almeida
Clementino Rabello de Campos
Manoel Ricardo Pires Camargo
José Felício dos Santos
Em 1882, o jornal, em editorial, lamenta a perda eleitoral de Joaquim Nabuco e de Leôncio de Carvalho para cadeira
de deputados da Corte. Depois de fazer uma análise crítica do pleito por meio de ponderações sobre a capacidade
de percepção dos eleitores para os méritos e valores de cada candidato, acentua:
Nabuco foi derrotado, mas não vencido, porque conserva impávido suas ideias, porque é animado pelos aplausos do
mundo civilizado, porque está presente as glórias de uma imortalidade.
Este grupo de idealistas cidadãos diamantinenses se reunia no Teatro Santa Isabel para discussão sobre política e a
necessidade de Proclamação da República. Depois, em manifestações públicas, os membros da Sociedade
Abolicionista corriam as ruas de Diamantina, em empolgados discursos, cantos e músicas e declamações de poesia.
A “Marseillaise” era tocada, e vivas a memória de Tiradentes, e outros tantos vivas à República.
Redatores:
 Zoroastro Pires, foi eloquente orador e poeta, era um dos mais dinâmicos militantes da causa
abolicionista, mas sua permanência em Diamantina foi atalhada por mudança imperiosa à Ouro Preto.
Ainda assim, manteve-se ligado aos irmãos mineiros nortistas.
Organizou, sob a presidência de Theophilo Ottoni, juntamente, com os Srs. Francisco de Sá e Josefino
Pires, seu irmão, os estatutos da Sociedade Nortista Beneficente, que tinha como “único fim beneficiar os
filhos do norte desprotegidos da fortuna”.
Recebeu o título de eleitor em 9 de janeiro de 1881, na capital de Ouro Preto, no 6º Quarteirão. Aprovado
em concurso, foi nomeado Oficial da Fazenda, em 6 de junho de 1882, por Theophilo Ottoni.
Os acadêmicos irmãos Pires foram obstinados ativistas em prol da causa abolicionista. Em Ouro Preto
faziam parte, também, das sociedades abolicionistas Club Rio Branco e Libertadora do Norte.
Recebiam uma ferrenha oposição dos conservadores que usavam o jornal ouro-pretano, Província, para
lhes dirigir impropérios e caluniadoras ofensas. Em carta aberta, os irmãos Pires pronunciam indignação e
registraram a expressão: “O vago das alusões é bojo da covardia”, referindo-se às calúnias desferidas por
seus adversários.
Zoroastro Pires usava seus versos para proclamar suas convicções. Em reuniões e manifestações públicas,
era comum vê-lo recitar “suas magníficas poesias”. Fez parte da Sociedade Artística Ouro-pretana. Era
representante do Partido Liberal Mineiro e servia a Comissão de Júri de Ouro Preto.
Zoroastro Pires pediu exoneração do cargo de 2º Oficial da Diretoria de Fazenda em maio de 1890,
provavelmente, em desgosto pelo falecimento de sua esposa e foi montar escritório próprio especializado
em causas tributárias.
 Josephino Pires: irmão inseparável, acompanhava Zoroastro a todos lugares. Não tinha o mesmo
destaque político, em razão, talvez, da proeminência do irmão. Como atividade profissional, exercia o
magistério ministrando, em Ouro Preto, aulas de filosofia, português e latim.
Talento de primeira grandeza, realçado por erudição pouco vulgar, Josephino Pires matriculara-se, depois
de um curso brilhante de preparatórios, em que se contavam os exames pelas distinções merecidas,
verdadeiramente conquistadas. ... Seu espírito puríssimo, eminentemente observador, enchera-se de
nobre indignação ante o espetáculo pungente da luta pela vida, desta luta brutal em que servem todas as
armas, desde as mais dignas até as mais ignóbeis; em que o talento é, muitas vezes, espezinhado pela
mediocridade; em que o vício triunfante tripudia, muitas vezes, sobre a virtude oprimida; em que, muitas
vezes, caracteres feitos de lama levam a palma a caracteres feitos de estrelas! (Aurélio Pires – Homens e
Factos de meu Tempo).
 Josino de Quadros: ao contrário dos irmãos Pires, ele permaneceu em Diamantina, exercendo a atividade
de professor. Prof. Josino de Quadros não era menos enfático que seus companheiros em defesa das
causas abolicionistas; era um orador eloquente.
Em um desses discursos proclama:
... que a vergonha que contaminava a nossa terra era a de vermos ainda a completa extirpação dos
escravos, promovida pelo estrangeiro e, por aqui, se permanecia insensíveis ao clamor do mundo, não se
repercutem essas atitudes.
Josino de Quadros, um militante das boas causas, prestava ações concretas como voluntário na escola
noturna, onde era responsável pela Lente de Português; participava da União Literária Republicana, era
Prof. do Liceu Diamantinense.
 João Nepomuceno Kubitschek: Professor da Escola Normal, foi secretário da Escola, Inspetor da Instrução
Pública, concursado, pertencia à maçonaria. Foi Senador de Minas e o primeiro vice-presidente do Estado
de Minas Gerais. Era tido como: 
O ‘Benjamim Constant de Minas’, incansável senador que, na vida laboriosa, tem aplicado toda a força
robusta do seu peregrino talento em proteção decidida a todos os ramos da pública administração com
acolhimento especial à causa virtual da instrução e ao problema urgentíssimo da viação férrea.
Estudou no Colégio de São Vicente de Paula, Diamantina, foi aluno do Dr. João Antônio dos Santos, depois
bispo. Iniciou seus estudos de humanidade no Curso de Humanidades no próprio Colégio.
Estudou Direito na Escola de São Paulo, sem, contudo, se formar; foi seduzido pela poesia, inclinou-se
para literatura. Publicou, ainda estudante, seu mais famoso poema:
Eurico - Hermengarda, em 1865.
Hermengarda, ousei amá-la
De Favila a nobre filha,
Das Espanha maravilha,
Mimoso esmero dos céus!
Ousei construir-lhe um templo
De adoração na minha alma,
Sonhei a vida tão calma,
Vendo o céu nos olhos seus! ... (1ª estrofe)
Ó Deus! Do abismo do nada
Por que meu ser arrancaste?
Por que no mundo o atiraste,
Com funesta prisão?
Que uma alma cristã não possa
Apagar da vida o lume,
Enterrar de um ferro o gume
Bem fundo no coração! ... (última estrofe)
Retornou à Diamantina em 1867. Em 1878 foi nomeado Promotor Público de Arassuahy, mas não aceitou
o cargo, quem sabe, não desejava se ausentar naquele momento de sua Diamantina. Mais tarde exerceu o
mesmo cargo em Diamantina. De 1883 a 1885 ocupou, em Ouro Preto, o cargo de Diretor de Instrução.
Não conseguia ficar longe por muito tempo de sua Diamantina, retornou a ela para assumir a regência da
Cadeira de Pedagogia da Escola Normal; foi fundador do Club Abolicionista; foi fundador do Club
Republicano, sendo homenageado por Saldanha Marinho, Quintino Bocayuva e Rangel Pestana, grandes
figuras republicanas.
Senador Constituinte por Minas Gerais, foi eleito para o cargo de vice-presidente do Estado. Foi Diretor de
Imprensa do Estado. Um grande diamantinense! Quando de sua morte, foram registradas inúmeras
manifestações de pesar publicadas por vários jornais do Estado.

Anúncio da chapa na qual o Professor João N. Kubitscheck concorreu ao governo do Estado de Minas Gerais

João Nepomuceno Kubitschek, aos 21 anos


Foi tio-avô do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira

Foi um dos fundadores da loja maçônica “Atalaia do Norte”, merecendo dos seus companheiros, pela
dedicação prestimosa ao culto da caridade e da paz, as honras de “Venerável”.
Nas lutas travadas entre católicos e maçons nos dois órgãos de publicidade: O Catholico e O
Monitor do Norte, onde escrevendo, Kubitschek soube nortear-se com tática e serenidade,
golpeando e desarmando o adversário com poder de uma dialética surpreendente. E, no
mesmo jornal, ao lado de uma argumentação cerrada e irretorquível, lia-se uma estrofe, um
soneto, uma quadra perdida do poeta de “Hermengarda”. (Ilustrações Brasileira – Edição 243 -
07/08 – 1956).
O Club Abolicionista enfrentou problemas quanto ao posicionamento político de seus membros. Quando fora
fundado, entendeu a maioria dos sócios que a finalidade precípua seriam ações filantrópicas e não políticas. Tanto
assim, que faziam parte dele conservadores e liberais.
O contencioso se iniciou quando uma velha escrava solicitou ao Clube que fosse auxiliada para obter sua alforria, e,
para tanto, pedia que o Clube lhe cedesse um numerário para completar e cobrir as despesas de indenização, ao
que lhe foi negado. Entretanto, logo em seguida, vultosa quantia foi gasta para promover um baile de
congraçamento.  
Posteriormente, nas eleições em que disputaram para o mesmo cargo de deputado, o Dr. Antônio Felício dos Santos
e o Dr. João da Matta Machado, deu-se a dissensão final entre os confrades. Quem seria mais abolicionista: Dr.
Felício dos Santos ou Dr. Matta Machado? Por conseguinte, o mais qualificado mereceria os votos dos sócios.
Em decisão contestada, o Club Abolicionista fechou questão no qual deveriam todos os sócios votar pelo Dr.
Antônio Felício dos Santos. Para tanto, “os sócios seriam obrigados a receber a chapa na boca da urna” com a
inscrição do nome do Dr. Antônio Felício dos Santos. Disso, não concordaram diversos sócios do Clube e “muitos
cabalistas do Dr. Matta Machado”, seus apoiadores, na surdina arquitetavam o fortalecimento da candidatura do
Conselheiro Matta. Por esta razão sócios proeminentes se desligaram do Club.
Liberdade todos querem, todos entendem que ela seja necessária, todos a defendem. A questão é que cada um
possui a sua ideia de liberdade, quase se poderia dizer, cada um idealiza a sua e deseja vê-la florescer. Contudo, de
uma mesma árvore, apenas uma flor há de florejar.
A aspiração à abolição da escravidão era anseio da sociedade diamantinense. Por iniciativa do Bispo
Dom João Antônio dos Santos, em 17 de julho de 1870, foi fundada a associação "Patrocínio de Nossa
Senhora das Mercês", cujo fim era auxiliar a emancipação dos escravos, e se igualava com idêntica
agremiação estabelecida na cidade do Serro (02/1870), a sociedade filantrópica com nome de "Os
Obreiros da Liberdade". O objetivo comum das duas sociedades era uma expressiva antecipação da lei
do Ventre Livre, "emancipar na pia batismal e dar alimento a crianças, principalmente no sexo feminino,
nascidas de ventre escravo, no Município do Serro".
Revista Illustrada – RJ (janeiro/ 1887)

De acordo com a Câmara Municipal, realizou-se, em 11 de julho de 1870, uma reunião para fundar a
associação abolicionista de Diamantina. A ela compareceram, além de outros, o Ten-Cel. Josefino Vieira
Machado, Capitão João da Mata Machado, Capitão João Felício dos Santos, Advogado João Raimundo
de Oliveira Mourão, Comendador José Ferreira de Andrade Brant.
O artigo primeiro declara a finalidade da associação:
“Fica instituída nesta cidade de Diamantina, com o fim de auxiliar a emancipação do elemento servil,
uma pia sociedade sob os auspícios de N. S. das Mercês.”.
O Cônego Severiano de Campos Rocha relata as festividades em comemoração à Abolição da Escravidão
em Diamantina:
Junto ao alto paredão da Catedral construiu-se um luxuoso palanque reservado a pessoas gradas, das
quais a primeira era D. João (Antônio dos Santos), a quem, na hora previamente ajustada, uma
numerosa comissão composta de distintos abolicionistas foi buscar ao palácio, acompanhando-os uma
banda de músicos do Corão, do palácio para a praça.
Uma vez no seu lugar de honra, em companhia de vários sacerdotes, executado o hino nacional,
discursaram sobre o assunto do dia o Dr. Álvaro da Mata Machado, Artur Queiroga, Dr. Francisco
Rabelo, enaltecendo as peregrinas virtudes do Prelado e o muito que havia feito pela libertação dos
escravos. (Publicação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional nº 12 – Ministério da Educação).
 Rebelião Escrava de 1864 - 1865
Insurreição protagonizada por negros escravos e quilombolas na comarca do Serro, em 1864, surpreendeu
autoridades e proprietários pelo alto grau de consciência dos revoltosos, que demonstraram conhecer, por meio da
leitura e da circulação de informação oral, a controvérsia sobre o fim da escravatura nos países do Atlântico.
(Registra Isadora Moura Mota em Rebelião Escrava nos Sertões Diamantinos – Arquivo Público Mineiro.) Os
escravos dos Sertões acompanhavam a evolução da Guerra da Secessão americana cuja origem estava na causa da
abolição da escravatura naquele país.
Algumas ações abolicionistas em Diamantina:
- No dia 28 de junho de 1881, D. Mariana Joaquina da Costa, deixa em testamento livres 37 escravos.
- No dia 2 de janeiro de 1888, em homenagem ao jubileu do papa Leão XIII, houve a libertação, em
Diamantina, de 250 escravos.

João Raimundo de Oliveira Mourão

28- O Mineiro do Norte (1883): “Órgão imparcial dedicado exclusivamente aos interesses do Norte de
Minas; Bons artigos, sobre vários assuntos e interessante noticiário”. Era um jornal de pequenas dimensões.
Redatores: Antônio Olinto dos Santos Pires e Antônio dos Santos Mourão
Antônio Olinto dos Santos Pires

Foi Professor, Escritor, Presidente de Estado, Deputado, Ministro da Viação, Superintendente de Obras
contra a Seca, Diretor-geral dos Telégrafos. Nasceu no Serro. (Galeria dos Governadores de Minas
Gerais).
29 - A Verdade (1884): “Jornal, literário; Não serão publicados artigos de polêmica pessoal, nem se
admitem testas-de-ferro”. Foi através de suas letras que o Dr. Álvaro da Matta Machado, anunciou a sua saída da
redação em razão de ter de se retirar para o Rio de Janeiro com o fim de exercer a medicina na Corte.
Editor: Luiz Antônio dos Reis
Tipografia: Luiz Antônio dos Reis, Rua Tiradentes, nº 35.
Editor: Dr. Álvaro da Matta Machado até fevereiro de 1885
30 - A Voz do Século (1885): jornal de tendência abolicionista e literário
31 - Voz do Povo (1884): considerado um jornal imparcial, redigido por hábil pena. José Sebastião
Rodrigues Bago era um de seus colaboradores. Sua legenda repete do Monitor do Norte: Não se admitem testas de
ferro, sinalizando que a imparcialidade tinha um lado, não lhe interessava a companhia de conservadores.

32 – A Verdade (1885): não foram encontradas referências.


33 - 17º Districto (1885): “Órgão político, noticioso e comercial” – publicação semanal, ligados às “causas
liberais”.  Legenda: Libertas potins servitio - Tácito (Liberdade em vez de serviço). Em sua primeira edição, 12 de
julho de 1885, publicou as diretrizes e orientações políticas; iniciou assim seu editorial: “O partido liberal do 17º
distrito de Minas Gerais (Diamantina) não podia por mais tempo deixar de possuir um periódico, que fosse o órgão
de suas opiniões e defensor dos seus legítimos interesses e direitos”.
Editor: Luiz Antônio dos Reis
Diretor e principal redator: Dr. Álvaro da Matta Machado, depois sucedido por Dr. Antônio Thomaz de Godói.
Proprietário: Dr. João da Matta Machado
Colaboradores: João Luiz de Almeida e Rodrigo Gomes Ribeiro, este, aluno da Escola Militar da Corte.
A vanguarda feminina estava presente por trás das cortinas deste jornal, na qual exercem as funções de tipógrafas
uma filha e a cunhada do editor Luiz Antônio dos Reis, além de Américo Olavo dos Reis.  
Tipografia: Em 12/05/1886, inaugurou o primeiro prelo mecânico da cidade, com melhoramentos significativos nas
instalações e na paginação do jornal.
Encerrou sua publicação, em 1887, para reaparecer mais tarde com outro título em razão da mudança da
numeração do distrito eleitoral de Diamantina passar para 6º Distrito.

 Conselheiro Dr. João da Matta Machado – Foi médico e provedor da Santa Casa de Caridade de
Diamantina em dois biênios (1874 – 1878), como profissional da saúde, foi um médico reconhecidamente
diligente, cuidava dos pobres com atenção. Graduou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro,
deixando ali traços luminosos da sua aplicação. Exerceu a profissão em Diamantina. Foi médico no Rio de
Janeiro quando para lá se mudou.
Exerceu inúmeras atividades além da medicina. Foi Presidente do Banco Viação Brasil que era dono de
Linhas Férreas de Minas Gerais, cujo principal escopo era o desenvolvimento da viação férrea e fluvial do
centro do Brasil.
As propostas do Conselheiro Matta Machado miravam concorrer quanto pudesse para o desenvolvimento
industrial, agrícola e comercial do Estado de Minas. Foi crítico ao projeto que previa a mudança da Capital
da Província quando se cogitou em levá-la para longe do norte de Minas.
Dr. João da Matta Machado se viu em apuros para justificar a compra de terrenos em nome do Banco
Viação Brasil, em terras junto ao Curral del Rei, quando viu-se que a preferência do Governo da Província,
se dava pela construção da Capital nesses terrenos. O jornal O Pharol, de Ouro Preto, não lhe poupou
críticas e denúncias.
Suas atividades políticas começaram no Rio de Janeiro quando era ainda estudante de medicina, redigindo
o jornal Radical Acadêmico. Foi presidente do Partido Democrático de Diamantina (1872), e Deputado
geral (1884) - Foi Ministro de Estrangeiro, Conselheiro da Coroa (1884) – Presidente do Banco
Construtor do Brasil (1889) - Deputado Constitucional (1890), e Delegado de Polícia. Foi dono da fábrica
de lapidação, a ‘Lapidação da Formação’. Foi proprietário da ‘Fábrica de Fiação e Tecelagem Santa
Bárbara’. Na República, foi Presidente da Câmara de Deputados em 1891.
Foi preso, acusado de incitação para depor o então Vice-presidente, Marechal Floriano Peixoto, ficando
detido no Forte São João (Rio de Janeiro) em abril de 1892. Entrou para Galeria dos Mineiros Ilustres
(1907)
Recebia muitas críticas dos jornais diamantinenses e outros da Província. O jornal conservador A Província
de Minas (Ouro Preto) se referiu a ele:
17º Districto
Com este título começou a ser publicado na Diamantina, no dia 12 do corrente mês (07/1885) um novo
semanário político, cujo primeiro número recebemos. No artigo-programa declara-se órgão genuíno dos
verdadeiros liberais do distrito, em cujo número não entra o talentoso Sr. (Antônio) Felício dos Santos, que
foi eleito pelos padres a pedido de seu tio, o Bispo daquela diocese, em ódio ao gabinete Dantas. Em uma
notícia, afirma o colega que o ‘deputado conservador’ Felício dos Santos, em carta particular,
congratula-se com o Sr. Bernardino da Cunha Ferreira pela próxima ‘ascensão’ dos conservadores e em
muitas outras falas do Conselheiro Sr. Matta Machado, (destaca) que é muito mais bonito, mais hábil,
mais rico, mais liberal, mais popular e mais querido do que o Sr. Felício dos Santos. Saudando o novo
lidador, pela leitura atenta que fizemos de seus artigos, pelo espírito que deles transuda, parece que
podemos concluir que o 17º Districto é do Sr. Conselheiro da Matta Machado. Sr. Felício dos Santos,
cuidado...
Dr. Matta Machado perdeu a eleição para o Dr. Felício dos Santos à cadeira de deputado (1886).
Outro jornal que lhe fez ácidas críticas foi O Tambor, acusando de renegar a sua posição de liberal para se
inscrever no Partido Republicano. Sua resposta veio por meio de correligionário, publicada no jornal A
Ordem, de Ouro Preto (29/01/1889):
Lendo hoje no Tambor, 8 de janeiro, jornal republicano da Diamantina, um artigo em que trata de
apóstata o ex-Conselheiro, Dr. Matta Machado, venho, em nome da verdade, protestar contra
semelhante afirmação. O Radial Acadêmico, folha de que em poucos hão de lembrar no Rio, e a qual
(se) refere O Tambor, não era francamente republicano. Se nele escreviam republicanos convictos e
conhecidos, como Lopes Trovão e Miranda Azevedo... Matta Machado e Cornélio de Magalhães eram
considerados liberais. O próprio nome do jornal era o de uma fração do partido liberal, que tinha um
programa adiantadíssimo, e que medrou tão pouco como a de Reforma ou Revolução... O ex-Conselheiro,
Dr. Matta Machado não é, portanto, um renegado da república. E, se esta aceita, como deve, a
cooperação leal de todos, com que direito se quer distinguir alguns com ferrete injurioso?
O Conselheiro Dr. João da Matta Machado foi um dos responsáveis por ligar Diamantina ao resto da
Província por meio das linhas telegráficas. Em um comunicado, um correligionário lhe agradece,
afirmando que o benefício proporcionava ligar “ao mundo civilizado pelo fio do telégrafo, Diamantina
não se esquece que te deve este melhoramento. ”
Apesar das hostilidades de alguns, Dr. Matta Machado transitava bem em alguns círculos conservadores.
Os conservadores do Distrito de Gouveia, em sua homenagem, fizeram-lhe festa de dois dias para
recepcioná-lo em visita que havia feito ao Distrito, na ocasião que fora eleito deputado.
Em Gouveia, recebeu o honroso título de sócio da Sociedade de Edificadores, oferecido pela nata
conservadora local: João Alves Ferreira Piqui; Ragosino Alves Ferreira; Joaquim Alves Tayoba; Quintiliano
Alves Ferreira, o Barão de São Roberto. Neste dia pode participar da missa de corpo presente em sufrágio
da alma do major Roberto Alves Ferreira Tayoba; nesta ocasião, cumprindo-se o costume, foram
alforriados seis escravos.
Conselheiro, ministro do Estrangeiro, Dr. João da Matta Machado, foi assentado nos Conselhos da Coroa
– Diamantina a “Athenas de Minas”, como a chamou Aureliano (José) Lessa, a mais eloquente e
significativa manifestação de adesão a tão acertado apelo da Coroa. Primeiro diamantinense a alcançar a
tão elevada posição.
Presidente da Câmara em 1891. Por ter sido solidário com Deodoro da Fonseca no ato ditatorial da
dissolução do Congresso Nacional, ficou preso. Depois de anistiado, continuou a exercer seu mandato até
a morte, em 1901.
Era parlamentarista.
“Recebeu a comenda da grã-cruz de Sant’Anna.”

Dr. João da Matta Machado Capa do jornal Mequetrefe,RJ, Edições 517


retrato de 1884
34 – O Progresso (1886): Legenda “Res non verba” (Fatos não palavras).
Tipografia: Prelo da Loja maçônica Atalaia do Norte
Redator-proprietário: Antônio dos Santos Mourão
35 – Sete de Setembro (1886) – Órgão do Partido Conservador – legenda: Sub lege libertis (Liberdade
dentro da lei). Sete de Setembro de 1886 foi o dia da fundação deste jornal. Foi o único jornal com confesso viés
conservador publicado em Diamantina. Chegou a expressiva tiragem de 1100 exemplares, em março de 1887.
Mantinha uma relação estreita com o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro. Foi tão importante quanto O
Jequitinhonha, cada qual em sua época.
Tipografia do Sete de Setembro.
Editor: Delfim Juventino Rolim
Gerentes: Antônio Eulálio de Souza, Xisto Pio Fernandes e Delfim J. Rolim
Redatores: Cônego Manoel Alves Pereira, José Sebastião Rodrigues Bago, José Theodoro de Souza Lima, Xisto Pio
Fernandes de Oliveira Júnior.
Colaborador: José Afonso, primeiro telegrafista que exerceu essa atividade em Diamantina.
Tipógrafo: Américo Eulálio dos Santos
Outros Colaboradores: José Joaquim Vieira, Cônego Severiano do Campos Rocha, J. F. Souza Lima (escreveu em
folhetim ‘As Gabirobas’), Padre João Antônio Pimenta, Cândido de Sena, Leopoldo da Silva Pereira, Castelo Branco
Rolim, Couto Magalhães, Padre Carolino (Polignotus) e outros de menor participação.
Outros de relevância: Queiroz Amaral, Maria Antonieta da Silva Brito (pseudônimo: Zulma ou Botão de Rosa), A. de
Oliveira, Mariana Higina, F. C. Duarte Badaró e Rodolfo Teuto.
Fundadores: Antônio Eulálio de Souza e Bernardino da Cunha Ferreira.
 Cônego Manoel Alves Pereira, um dos principais redatores, foi deputado provincial em 1884 e geral em
1891. Participou da Assembleia Constituinte de 1891. É o sexto na lista dos primeiros padres da
Arquidiocese de Diamantina.
O Sete de Setembro assim anunciou a sua publicação:
Sete de Setembro de 1886
“Apareceu hoje à luz da publicidade o Sete de Setembro. Escolhendo este título e esta data para a aparição do
nosso jornal no campo das letras, não tivemos em vista procurar somente o título pomposo e a recordação de uma
data gloriosa. Não! Aspiramos alguma coisa mais nobre: a união e a regeneração do partido conservador do qual
será aqui o órgão o Sete de Setembro. E dizendo que o Sete de Setembro é aqui órgão do partido conservador,
temos lançado o nosso programa. A par da defesa dos interesses do nosso partido, procuraremos propagar, na
proporção das nossas forças, conhecimentos úteis e boas ideias, auxiliando quanto pudermos a nossa nascente
indústria, acoroçoando a desprezada lavoura a tentar novos meios de cultura, tentando enfim aquilo que pudermos
em benefício do norte de Minas, tão esquecido sempre pelos representantes e pelos governos que se sucedem no
poder. Conseguiremos vencer a indiferença com que são olhados aqui os jornais? Não o sabemos. Mas não tendo o
nosso jornal uma arma de arremesso, nem visando nós outro fim que não seja discutir – mas discutir com
cavalheiros – procurando desfazer as acusações que sobre nosso partido sejam atiradas sem fazermos referências a
personalidades; esperamos que usando mesmo da linguagem do povo – nem sabemos outra – conseguiremos
despertá-lo dessa apatia atrofiada, dessa descrença política que marca as mais nobres intenções e que a todas as
tentativas de regeneração atribui o interesse pessoal... Somos bastante para vencer, sim, somente carecemos de
abandonar o sistema seguido; sermos menos comodistas e mais dedicados no partido...
O Sete de Setembro, ligado às causas escravagistas, publicou nota de advertência, informando a seus leitores:
Encerrou-se em todo Império a matrícula dos escravos, às 4 horas da tarde do dia 30 de março p. passado (1887).
Pertencentes ao município de Diamantina, foram matriculados na coletoria desta cidade 2.605 e arrolados 89
sexagenários. Em 1872 matricularam-se 8.005 escravos, havendo na matrícula de hoje, uma diferença de 5.490 para
menos! Não deixamos de avisar aos leitores deste nosso periódico, por mais de uma vez, o prazo fatal de
encerramento da matrícula, assim, pois, se alguém por falta dela vê contra sua vontade livre seu escravo, queixe-se
a si. Dormientibus non succurrit lex. (O Direito não socorre aos que dormem).
O Partido Conservador, em Diamantina, em 1879, estava assim composto:
Presidente: João Ribeiro de Carvalho Amarante
Vice-presidente: Comendador José Francisco Ferreira de Andrade Brant
1º Secretário: Antônio Augusto Ribeiro Leão
Tesoureiro: Comendador Serafim Moreira da Silva
Conselheiros: Comendador Bernardino da Cunha Ferreira,
Coronel Jocelino Joaquim de Menezes,
Reverendo Pe. Manoel Alves Pereira,
Vicente José de Figueiredo e
Inocêncio Augusto de Campos (Professor)
O Partido Republicano Constitucional de Diamantina, em 1894, elegeu a seguinte diretoria com membros egressos
do partido conservador
Presidente: tenente-coronel Antônio Eulálio de Souza;
Vice-presidente: Coronel Manoel Cesar;
Secretários: Olympio Mourão e Capitão José Menezes;
Tesoureiro: João Motta;
Membros: Capitão Genésio Achilles, Tenente-coronel Antônio Rodrigues Fróes, Jocelino Joaquim da Fonseca Junior,
Arthur Queiroga, Antônio Teixeira e Catão Jardim Junior.

Tenente-coronel Antônio Rodrigues Fróes


(1889 – Foto “A Voz de Diamantina”)
Capitão Genésio Achilles
(1889 – Foto “A Voz de Diamantina”)

Edição especial em homenagem ao Comendador Bernardino da Cunha Ferreira, um dos fundadores do Sete de
Setembro.

 Comendador Bernardino da Cunha Ferreira - nasceu em janeiro de 1827 e faleceu em 30/09/1888. Foi
um dos mais destacados e controversos político diamantinense de seu tempo, Presidente do Partido
Conservador de Diamantina, presidente da União Conservadora, foi vereador, presidente da Câmara
(equivalente a prefeito), deputado provincial e deputado geral.
Promotor público, envolveu-se em denúncia de manipulação de registro de um escravo, foi processado e
absolvido por um voto de minerva em juízo. Este motivo lhe rendeu inúmeras críticas dos jornais locais e
teve repercussão nos jornais da capital da Província; defendido pelos conservadores e acusado pelos
liberais. Inúmeras vezes foi acusado de tratar cidadãos de bem com violência em razão de
divergências políticas.
O seu nome frequentou as páginas dos jornais no Rio de Janeiro que reproduziam críticas, sobretudo, d’O
Jequitinhonha.  Na Província, o jornal ouro-pretano, O Liberal Mineiro, foi-lhe um assaz crítico. Na tribuna
da câmara provincial, seus discursos eram sempre acompanhados de polêmicas, os deputados liberais
faziam apartes de censuras e muitas ironias.
Em Diamantina seu maior adversário foi o Conselheiro Dr. João da Matta Machado.
 Antônio Eulálio de Souza – foi um conservador que frequentou a direção do partido conservador
diamantinense por diversos anos. Adversário do Conselheiro Dr. João da Matta Machado, com quem
travou inúmeros embates políticos.
Em 12 de janeiro de 1886, assinou uma carta protesto, juntamente com todo diretório do partido
conservador de Diamantina, publicada pelo jornal Província de Minas, onde, com repugnância, rebate
pronunciamento do Conselheiro João da Matta Machado porque este fizera acusação aos componentes
do partido conservador local.
Fez política apenas dentro do município de Diamantina. Na década de 1890, se deslocou para o partido
republicano e se afinou com o Dr. João da Matta Machado. Foi presidente do Partido Republicano
Constitucional de Diamantina, em 1894.
Rico negociante, O Almanak Laemmert (RJ), em 1903, registrou os seus negócios:
Armazém de fazendas, ferragens, armarinho, modas, molhados, louças, calçados, arma de fogo, arreios,
materiais para construção, joias de ouro com e sem brilhantes, fábrica de lapidação, etc., etc. Casa
fundada em 1897, com filiais na cidade do Rio Manso, Capelinha da Graça e nos subúrbios da cidade, com
rancho para tropas e quartos para pastagens e boas aguadas, etc. farmácia e casa de bilhares. Compram
sempre diamantes, brilhantes, ouro em pó e velho, prata, cristais e borracha. Recebem dinheiro para
diversas casas comerciais da Capital Federal, ruas Campo Carvalho, Quitanda, e praças Afonso Pena e Luiz
de Resende, Diamantina, Minas Gerais.
36 – O Normalista (1886): “Órgão liberal e noticioso”, cuja legenda exprimia: “Instructio anima gentium”
(numa tradução livre: educação para alma das pessoas), “não se admitem artigos de polêmica pessoal”.
Editor: Augusto Nelson dos Reis
Tipografia: Luiz Antônio dos Reis
Redatores: Américo Dias, Ernesto Macário, Luiz Tito e Artur Queiroz, alunos da Escola Normal
37 - Liberal do Norte (1887): “Órgão do Diretório do Partido Liberal” – apresentava-se sob “indicado por
grande maioria dos eleitores liberais d’este município e já aceito”.
Tipografia:  Liberal do Norte.
Editor: Luiz Antônio dos Reis
Redatores: Diversos
O Liberal do Norte foi o sucessor do 17º Districto, publicou, na edição de 8 de dezembro de 1887, o Contrato de
Sociedade Mercantil de Alves, Ribeiro e Comp. – Fábrica São Roberto – Arraial da Gouvêa.
38 - Propaganda (1887): “Órgão Consagrado aos Interesses do Povo, Imparcial e Noticioso”. Embora dê o
destaque: “Redatores – Diversos”, o jornal Sete de Setembro saúda o Sr. Juquinha Brant (José Ferreira de Andrade
Brant Junior), “dizem que é o redator do Propaganda”. Edição N.º 3 – 1888 – um órgão liberal, redigido por
conservador e um republicano.
Faz uma saudação a obra do abolicionismo exclamando que é a conquista da humanidade. Entretanto, sob olhos
mais atentos, pode-se encontrar neste mesmo artigo mensagens afinadas à propriedade de escravos. Ademais, o
articulista não inscreveu seu nome ao final, prefere identificar-se com o enigmático ***.
Fundador: José Ferreira de Andrade Brant Junior
Responsável: Manoel Procópio Ribeiro Leão
Colaboradores: Leão (João ou Oscar) e Raymundo Tavares
Era um jornal progressista incentivador dos empreendimentos, com destaque para os serviços de navegação do Rio
São Francisco e da construção da via férrea Porto da Manga a Diamantina.

Manoel Procópio Ribeiro Leão


“39 - O Tambor (1889): “Órgão segundo nos consta e como era de se esperar, pelos nossos
correligionários dos municípios” - Quinto Republicano”. Animado com a Proclamação da República, publicou os
termos da Constituição.
Redator: principal, Dr. Francisco Corrêa Ferreira Rabello que “escrevia com habilidade e que pugna com energia em
nome de suas ideias republicanas”, outro redator: Dr. José Raymundo Telles de Menezes.
Direção: José Sebastião Rodrigues Bago.
Tipografia: No início se utilizou as oficinas do Sete de Setembro, depois serviu-se de oficinas próprias, na Rua
Direita.
Propriedade: José Joaquim Neto Amarantes
O Tambor, edição nº 25, 1889, foi um dos jornais que combateu a pretensão de mudança da capital da Província
para Barbacena ou São João del Rei, longe, portanto, do norte de Minas. O artigo com seu posicionamento foi
reproduzido pelo jornal ouro-pretano:“A Ordem”:
.O Tambor: Os capitalistas de Barbacena ofereceram ao Governador deste Estado, os prédios necessários para
instalação provisória da nova Capital, se para isto for escolhida aquela cidade. Não sabemos se alguém pensou em
tal mudança, afastando cada vez mais a capital do norte deste Estado; mas se isto se deu, não encontrará eco, com
certeza, em legislador algum que tenha que colaborar essa medida. (A Ordem – 1889 – ed. 5)
 Dr. Francisco Corrêa Ferreira Rabelo: foi advogado, professor de filosofia e retórica, nomeado por
concurso para professor da Escola Normal (1878); Juiz de Direito do Município de Diamantina; pertencia à
Maçonaria por meio da Loja Maçônica Atalaia do Norte (1874). Foi cunhado do Conselheiro Matta
Machado. Foi membro do Diretório Liberal de Diamantina ao lado de Olympio J. de Oliveira Mourão, Dr.
João da Matta Machado, Theodomiro Alves Pereira, Josefino Vieira Machado (Barão do Guaicuhy),
Fernando Machado Sampaio e João Raimundo Mourão.
Foi deputado Provincial (1878), e Deputado Constitucional por Minas Gerais, eleito com a expressiva
contagem de 40.847 votos (1891). Como Juiz de Direito teve conturbadas relações com advogados. Em
uma delas, suspendeu o Dr. Carlos Ottoni, colega no partido liberal, inclusive, por 30 dias do exercício da
função. O juiz, Dr. Rabello, se sentiu desrespeitado em troca de insultos durante uma controvertida
audiência, fora do tribunal, em que estava presente a disputa entre vizinhos a respeito de uma cerca de
quintal. O Dr. Carlos Ottoni não aceitou a pena imposta, entrou com processo contestando a decisão a
que ele chamou de arbitrária.
Muito inconformado, Dr. Carlos Ottoni, foi além disso, enviou uma carta pormenorizada ao Presidente da
Província descrevendo os fatos que ocorreram, e solicitou providências contra o que ele chamou de
arbítrio, violência e outras omissões. O juiz de Datas, julgando depois o processo, declarou que o Dr.
Ottoni era inocente e suspendeu os efeitos da punição.
Em outra polêmica, Dr. Rabello acabou suspenso da função de Juiz, pelo Presidente da Província, depois
de ter-se recusado a acatar ordem, determinada por Portaria, e emitida pelo governo provincial, na qual
estabelecia o pagamento de proventos a alguns servidores municipais. Além da suspensão, o Presidente
ordenou que se abrisse um processo por desacato e responsabilidade administrativa. Queixou-se o Dr.
Ottoni:
“A ilusão de que precisamos ser importantes para que nossa presença no mundo tenha mais significância
faz com que muitos abram mão de tudo que pode ser significativo a fim de chegarem a ser ilustres ou
eminentes – mas sem importância nenhuma.” (Dr. Carlos Ottoni)
João Raimundo Mourão (1889 – Foto “A Voz de Diamantina”)

 José Sebastião Rodrigues Bago: redator e colaborador dos jornais Monitor do Norte, A Voz do Povo e
Tambor; foi Procurador Fiscal da Administração dos terrenos Diamantinos; foi Oficial de Promotor de
Capelas e Resíduos (cargo da administração pública municipal encarregada de fiscalizar heranças,
impostos etc. de falecidos sem herdeiros). Homem de ideias progressistas colaborou na administração da
Santa Casa de Caridade; pertenceu ao grupo de sócios do Clube Abolicionista, estava entre os sócios que
se demitiram por discordar de ações contraditórias da direção do Clube, sobretudo em decorrência de
opções políticas em favor do Dr. Antônio Felício dos Santos em disputa eleitoral.
 Dr. José Raymundo Telles de Menezes: foi médico, nasceu na Bahia, mudou-se para Minas Gerais, residiu
em Diamantina onde fez a carreira profissional e política, deputado provincial, pelo 9º Distrito, junto com
Dr João da Matta Machado e Theotonio Magalhães. Foi deputado federal, apresentava-se como
republicano histórico puro, foi delegado de higiene de Araçuaí, casado com a Sra. Anna Telles, capitão
cirurgião-mor da Brigada Policial, foi diretor da fábrica de fiação e tecidos de Inhay, e acionista da Fábrica
São Roberto, em Gouveia. Escrevia no jornal O Tambor junto com Francisco Corrêa Rabello e João
Nepomuceno Kubitschek. Foi delegado de higiene e vacinação de Diamantina. Ao lado de Álvaro da Matta
Machado foi sócio e conselheiro fiscal da Companhia Indústria e Comércio do Norte de Minas, empresa de
desenvolvimento agrícola e industrial. Em Belo Horizonte, foi diretor da Escola de Regeneração da
Assistência e Proteção aos menores abandonados e delinquentes, e ao mesmo tempo, exercendo a
função de médico do estabelecimento. Foi fundador e diretor-presidente da “A Protectora”, sociedade de
auxílio mútuo.
Aos dezesseis dias do mez de fevereiro do anno de mil novecentos e treze... o Dr José Raymundo Telles de
Menezes, director presidente, depois de agradecer aos Srs. arcebispo de Diamantina e ao padre Deschand,
à sua acquiescencia em acceitarem o encargo de socios fundadores, collaborando ambos, efficazmente, na
confecção dos estatutos que vão ser lidos e submettidos à apreciação da assembléa, expoz claramente os
fins nobilissimos da «A Protectora», baseados no mais perfeito mutualismo e provou que o Brazil, a
exemplo da França e de outros paizes cultos, precisa desenvolver, no mais alto gráo, essa importantissima
instituição, a unica que ha de resolver com vantagem a grave questão social que se prende ao
proletariado. Declarou que, comquanto já tenham os estatutos sido approvados em sessão de seis do
corrente, vem submettel-os á ratificação da assembléa geral, podendo qualquer dos consocios apresentar
emendas e propostas... CAPITULO I DA SOCIEDADE E SEUS FINS Art. 1º Fica creada com séde nesta cidade
de Diamantina, Estado de Minas Geraes, uma sociedade de auxilios mutuos, denominada «A Protectora»,
com o fim de proporcionar a seus associados, às familias destes ou a quem estes escolherem ou
determinarem um peculio em dinheiro.
40 - O 1º de Abril (1889): Era um jornal de humor, manuscrito. Diz-se que apareceu debaixo das portas de
algumas casas. Prometia ser publicado diariamente em impressora de Marinoni. Viria substituir o jornal A
Propaganda.
41 - A Inveja (1889): Mais um jornal de jovens, era manuscrito que, sem demérito algum, circulou em
Diamantina. A ideia das letras estava entranhada nos jovens inteligentes de Diamantina.
42 - Cidade de Diamantina (1889): “Órgão dos Interesses do Norte de Minas”, mais um jornal da família
Matta Machado, de tradicional influência na política diamantinense e mineira. O jornal atravessou várias fases,
inclusive, com interrupção de atividades. Com isso, foram se sucedendo os redatores e colaboradores. A família
Matta Machado se utilizava do jornal para divulgar suas posições e ações políticas. No início, foi assim constituído:
Tipografia: A tipografia era própria, Rua Tiradentes, nº1, depois, Rua do Rosário, nº 14.
Redatores: Dr. Álvaro da Matta Machado, Dr. Pedro da Matta Machado e Prof. Arthur Napoleão Alves Pereira
Gerente: Elias Guerra.
Em 28 de setembro de 1890 inaugurou festivamente as novas instalações de suas oficinas. Esteve em lado oposto
do candidato a vice-governador, seu conterrâneo, Prof. João Nepomuceno Kubitschek, na eleição do 1º Governo do
Estado de Minas Gerais.
Numa segunda fase, teve a seguinte composição:
Redator: Oscar Leão
Colaboradores: Antônio dos Santos Mourão, Cícero Arpino, Nelson de Senna, Luiz de França, Prof. José Policarpo,
Augusto Caldeira Brant e Prof. Antônio Joaquim da Paixão.
Nesta ocasião, O Dr. Pedro da Matta Machado se afastou da redação e se eximiu de qualquer responsabilidade de
orientação do jornal.
Gerente: Cláudio Ribeiro de Almeida
Em uma terceira fase, ficou composta a administração:
Gerente: Manoel Procópio Ribeiro Leão
Redatores: Vão se sucedendo: Dr. Pedro da Matta Machado, Miguel de Almeida Teles, Prof. José Pedro Lessa,
Augusto Mário Caldeira Brant, Pedro Brant.
Nesta fase, o poeta Artur França publica suas primeiras produções. Em 1900, o jornal propõe a candidatura do
Conselheiro Dr. João da Matta Machado à presidência do Estado de Minas Gerais.
A derradeira fase, 1903, a família Matta Machado assume o jornal e define a sua administração:
Diretor: Dr. Pedro da Matta Machado
Redator: Edgar da Matta Machado
Gerente: Aires da Matta Machado
Colaborador: Aldo Delfino

Cícero Arpino Cladeira Brant

Na esfera da política nacional, em agosto de 1890, “mantendo uma atitude simpática às forças da Armada que se
sublevaram contra o governo do Marechal Floriano Peixoto, o jornal sofreu atentado à suas instalações”. Foram
quebradas caixas e danificados os tipos. (Anais da Biblioteca Nacional). O Marechal Floriano Peixoto tinha grandes
admiradores na cidade de Diamantina.
É bom lembrar, que em abril de 1892, o Conselheiro Dr. João da Matta Machado havia sido acusado de incitação
para depor o Marechal Peixoto, então vice-presidente, motivo pelo qual ficou detido no Forte São João, Rio de
Janeiro. Outra posição marcante foi o combate à ideia de mudança da capital afastada do norte de Minas.

 Dr. Álvaro da Matta Machado: foi médico formado na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Estudante aplicado sustentou tese em 21/12/1881. Nomeado Capitão Cirurgião Mor da Guarda Nacional
(1882). Médico da Santa Casa de Caridade. Iniciou-se no plano político fazendo parte da executiva do
Partido Liberal de Diamantina (1882), foi Presidente da Câmara Municipal (1883), Deputado Provincial
(1888), Senador Constituinte (1891). Como abolicionista, Membro do Club Abolicionista de Diamantina,
esteve ao lado de Zoroastro Pires, Josino Pires e outros.
Na Câmara dos Deputados Provinciais, certa vez travou um diálogo áspero com o colega e conterrâneo,
Dr. Antônio Felício dos Santos. Dr. Álvaro fazia caloroso discurso a favor da Abolição da Escravatura,
quando foi interrompido pelo Dr. Antônio Felício com a expressão de sentimentalismo puro. Com
indignação, respondeu, chamando o Dr. Felício dos Santos de cínico.

Homenagem à D. Mariana, esposa do Dr. Álvaro da Matta Machado, por ocasião de seu falecimento.

 Dr. Pedro da Matta Machado, foi advogado formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, professor de
português, jornalista, professor da Faculdade de Direito de Belo Horizonte, Presidente do Conselho de
Intendência Municipal de Diamantina, promotor de justiça da Comarca de Diamantina, senador de Minas
Gerais, Deputado Federal, colega de Juscelino Kubitschek. Fez seus primeiros estudos no Ginásio da
cidade sendo aprovado com distinção ou plenamente.

Dr. Pedro da Matta Machado


Homem de reconhecidos valores morais e preocupado com as causas da cidade, quando presidente da
Câmara Municipal, equivalente a prefeito, cedeu o seu subsídio no valor de 3:000$000 (três contos de
réis) como auxílio para uma escola profissional fundada na cidade, o Gymnasio do Norte. Em Diamantina
foi diretor da fábrica de tecido do irmão Dr. João da Matta Machado, foi viticultor, quando produziu vinho
de qualidade reconhecida utilizando a uva do tipo Isabella. Quando transferiu sua morada para Belo
Horizonte montou seu próprio escritório, e prestou concurso para docente da Escola de Direito, tendo
sido aprovado. Esteve à frente na construção da Nova Capital. Coube a ele, inclusive, proferir o discurso
em saudação aos poderes públicos do Estado, por ocasião da instalação solene da Nova Capital, no caráter
de orador oficial da digna Comissão de Festejos Populares. Nessa importante peça oratória, confirmavam-
se os excelentes dotes intelectuais do ilustre mineiro diamantinense.
Foi candidato à presidência do Estado. Foi membro do Clube Abolicionista de Diamantina. Era o irmão
caçula, entre os homens, da dinastia de João da Matta Machado, tendo como irmãos: o Conselheiro,
médico, Dr. João da Matta Machado, o ilustre médico e político Dr. Álvaro da Matta Machado, e o
comerciante Augusto da Matta Machado.
Seu nome aparece em inúmeros jornais do Estado, sem ter sido jamais maculado a sua honra. Grande
orador na tribuna da Câmara Estadual.
 Arthur Napoleão Alves Pereira: “foi farmacêutico diplomado em Ouro Preto, possuía uma farmácia em
Diamantina, em sociedade com seu irmão Gasparino. Foi professor de História Natural, Física e Química
da Escola Normal de Diamantina. Mudou-se para Belo Horizonte em 1907, quando se festejava a
promulgação da Constituição Mineira. Em Belo Horizonte exerceu os cargos de Inspetor Técnico e Inspetor
Regional de Ensino.” Foi membro do Club Abolicionista.
Edgar da Matta Machado
 Edgard da Matta Machado (nome literário Edgard Matta) nasceu em Ouro Preto a 21 de outubro de 1878
e faleceu em Diamantina a 26 de fevereiro de 1907, com apenas 28 anos de idade. Filho do Conselheiro
João da Matta Machado e de Luiza Henriqueta Bessa da Matta Machado.
Poeta e prosador participante do movimento estético e literário denominado Simbolismo.
Pronunciou a palestra Tijuco — lendas e tradições, no dia 19 de setembro de 1900, nos salões
do Clube das Violetas, em Belo Horizonte, Minas Gerais, época em que fazia parte do grupo,
constituído naquela cidade, que se intitulou de Jardineiros do Ideal. (Fonte: por Fernando da
Mata Machado)

Aires da Matta Machado


 Aires da Matta Machado Era (como o filho mais velho) conhecido como Aires. Nasceu em
Diamantina em 1880. Era filho de Augusto da Matta Machado. Foi funcionário público que
teve ascensão grande; foi Fiscal e depois inspetor de rendas. Chegou ao cume, ao final da
carreira funcional.
Fez o curso primário e o ginásio em Diamantina. Morou em uma chácara a uma distância
aproximada de três quilômetros de Diamantina chamada "Mil Oitavas". Aires se mudou para
Belo Horizonte em 1924, com a família quase toda constituída. (Genealogia Nossagente)
43 – A República (1890): Outro jornal que se posicionou contra à ideia da mudança da capital do Estado.
Proprietário: José Augusto de Menezes
Redatores: Olímpio Júlio de Oliveira Mourão, depois Catão Gomes Jardim e Artur Queiroga.
 Catão Gomes Jardim: O engenheiro Catão Gomes Jardim foi o responsável pelo Passadiço da Gloria, um
dos principais símbolos da cidade de Diamantina. A construção data de 1878. O passadiço ligou as duas
casas onde funcionavam o educandário e o orfanato.
À época, os estabelecimentos eram supervisionados pelas Irmãs da Ordem de São Vicente de Paula e a
construção causou polêmica. O objetivo real da obra foi reduzir o contato das jovens educandas com o
mundo externo. Fez parte do quadro de oficialato do Exército Imperial.
Jornal Pharol (RJ) 23/04/1911

44 - O Ensaio (1890): outro jornal de pequeno formato. Redatores: Gabriel Corrêa, Joaquim Pereira,
Leonardo Ulisses e José Serrano de Oliveira.
45 – O Operário da Luz (1891): epígrafe: Luz... Luz... mais Luz (Goethe): Órgão literário e noticioso.
Operário da Luz, acaba de sair à luz na cidade de Diamantina, O número primeiro, que temos à vista, está bem
escrito e nitidamente impresso. (O Estado de Minas – Ouro Preto Nº. 122, Ano II, 17/01/1891)
Redatores: os Srs. Salvador Lopes, João Leão, A. Caldeira, J. J. Vieira e A. de Mattos.
João Leão – foi Presidente do Pão de Santo Antônio

46 – O Infantil (1891): Redatores: José Corrêa Rabello e José Jorge

José Corrêa Rabello

 José Corrêa Rabelo: Foi engenheiro e cientista: inventou um motor de propulsão na Europa e
nos EUA. Criou também um novo modelo de paraquedas, recebendo uma comenda da
Aeronáutica pelo feito. Foi poeta como toda a família inteira, publicando em 1914 um livro de
sonetos. Filho de Francisco Ferreira Corrêa Rabello e Gabriela Antonina Matta Machado.
(Genealogia GenteNossa)
47 - A Troça (1891): Redator: Rodrigo Teófilo Gomes Ribeiro.
48 – Ensaio Infantil (1891): publicado quinzenalmente.
Redatores: João Edmundo e Cícero Arpim Caldeira Brant e Francisco de Sales Corrêa Mourão.
Tipógrafos: José d’Assunção Belga e Joaquim Cardoso de Andrade.
Colaboradores: Antônio Cícero de Menezes, Jacinto Leite Junior, Beraldo Americano de Souza e João Fausto de
Aguiar.
Diretor: Cláudio Augusto Ribeiro de Almeida.

Cícero Arpim Caldeira Brant


Bacharel, foi diretor do Grupo Escolar de Diamantina

Grupo Escolar de Diamantina, hoje sede da Prefeitura Municipal –


Acervo de Nélio Lisboa

Francisco de Sales Corrêa Mourão

 Francisco de Sales Corrêa Mourão: Teve como mestra na infância sua ditosa mãe, provecta
educadora de muitas gerações. Em Ouro Preto, terminou brilhantemente o curso de
humanidades, graças aos sólidos princípios que recebera no regaço materno.
Matriculou-se na Faculdade Livre de Direito de Belo Horizonte, transferindo-se depois para São
Paulo, onde pouco se demorou, voltando à capital mineira, em cuja escola bacharelou-se, em
1904. Regressando à Diamantina, ocupou o cargo de Fiscal Federal do ensino junto ao Colégio
Diocesano. Ingressando na magistratura, foi promotor na sua cidade natal, no Serro e Dores
do Indaiá.
49 – Lanterna (1892): Foi um jornal manuscrito.
O que eram os jornais manuscritos?
Dentre as características das publicações manuscritas, importa destacar sua forma de produção: muitos
jornais eram feitos em formato in quarto, como os livros, com uma média de quatro páginas, podendo
conter ilustrações ou não. Em sua maioria, tentavam reproduzir o formato de apresentação dos jornais
impressos, dividindo os textos em colunas ou redigindo-os em letra de fôrma (caso de O Tiro, de 1896).
Para que houvesse um número razoável de exemplares, os jornais manuscritos contavam, geralmente,
com amanuenses, pessoas que eram responsáveis por copiá-los manualmente. Em alguns casos, é
possível notar, inclusive, a intervenção posterior de revisores (O Liberal, 1864), com correções e
inserções em diferentes caligrafias.
Os jornais eram quase sempre gratuitos e, muitas vezes, apresentavam as notícias em forma de verso,
recurso que servia para compensar a impossibilidade de reprodução em massa: o verso facilitava a
memorização e a difusão oral dos conteúdos entre seus leitores. Dessa forma, os jornais manuscritos são
testemunho de um interessante cruzamento entre a cultura oral e a cultura escrita do século XIX.
Cabe, ainda, ressaltar que a maior motivação para a criação desses periódicos era de cunho político.
Seus redatores veiculavam críticas à sociedade, preconizavam a adesão ao Partido Liberal, tratavam de
abolicionismo e outros temas ligados à construção da cena pública.
O caso mais emblemático é o do jornal A Justiça (1894), produzido pelos presos políticos da Revolta da
Armada (1893-1894) encarcerados na quinta galeria da Casa de Correção. “O periódico circulava entre
os próprios prisioneiros e seu título se apresenta invertido, em uma forma irônica de indicar que a justiça
estava de pernas para o ar.” (Biblioteca Nacional – site www.bn.gov.br)
50 – O Azorrague (1892): “Órgão imparcial”, jornal manuscrito. “Tipo pasquim, contra o Major Francisco
Xavier de Paula Abreu, comandante do 4º. Batalhão de Brigada Policial, e contra A Lanterna.” (Ano II, nº. 9)
Propriedade: João Simões
Oficina e redação: Travessa da Rua Direita, nº 2
51 – O Diamantinense (1892); “Órgão literário e dos interesses do comércio”
Proprietário: Farmacêutico Augusto Alves de Campos Nelson
52 – Polyanthea (1892): Teve apenas uma “única edição em homenagem à memória de Washington
Tolentino Monteiro, por seus colegas e amigos Jeremias Batista, Antônio Cícero de Menezes, Francisco de Sales
Corrêa Mourão, João Fausto de Aguilar e David Gomes Jardim (engenheiro)”.

Antônio Cícero de Menezes

53 – Actualidade (1892): “Periódico político, literário e noticioso”


Editor: José Augusto Farnezzi
Gerente: Manoel Ferreira de Aguiar Soares
54 – Tribuna do Norte (1893): Redator: Professor Rodrigo Theophilo Gomes Ribeiro.
Foi o primeiro jornal surgido no distrito de Gouveia. Apoiou a candidatura de João Nepomuceno Kubitschek à vice-
presidente de Minas Gerais.
 Professor Rodrigo Theophilo Gomes Ribeiro: era natural de Diamantina, talentoso poeta. Publicou o
Recreio Literário, um opúsculo mensal. Este pequeno livro saiu com 56 páginas em seu primeiro número e
apresentou uma coleção de versos do Professor Rodrigo Theophilo. Em 1891 ele fundou, em Peçanha, o
jornal Echo da Matta. Foi um dos fundadores da União Operária Beneficente, em 7 de janeiro de 1894, em
Diamantina. Fez parte da primitiva organização do Arquivo Público Mineiro.
O Echo da Matta apresentava a ousada epígrafe: "Liberdade, igualdade, fraternidade. – “Elles parecem grandes
porque estamos de joelhos. Levantemo-nos”!
Em agosto de 1893, a Câmara Municipal de Diamantina adquiriu a tipografia da Tribuna do Norte tendo em vista a
criação do órgão oficial do município o jornal “O Município”.
55 – O Ensaio Infantil (1893): Redatores: João Edmundo, Cícero Arpim Caldeira Brant e Joaquim Cardoso
de Andrade.
56 – O Operário (1893): Redator: Olímpio Neto Caldeira
57 – O Aprendiz (1893): “Órgão literário, noticioso e crítico”. Sua legenda era “A imprensa é a força
porque ela é a inteligência, (Vitor Hugo)”.
Tipografia: Utilizava as oficinas do Cidade Diamantina. Redação à Rua Campos de Carvalho, nº 2.
Redatores: Nelson Coelho de Senna, José Jorge, depois também João Leão e João Paulino.
Colaboradores: Antônio dos Santos Mourão, Mariana Higina, Olímpio Neto Caldeira, Gabriel Corrêa Rabello, José
Augusto Neves (Professor, jornalista e escritor) e Sebastião Perpétuo.
O jornal Monitor Sul-Mineiro de Campanha, se referiu amistosamente: “O novo e distinto colega não merece o
nome que tem, pois começa mostrando que aprendeu bastante e que pode doutrinar o povo”

 Dr. Nelson Coelho de Senna: nasceu no Serro Frio, estudou humanidades em Diamantina (1891 – 93), em
cuja Escola Normal se diplomou, seguiu para São Paulo onde se formou em ciências jurídicas e sociais, pela
Faculdade de Direito de São Paulo. Foi membro do Conselho Superior de Instrução do Estado de Minas
Gerais. Foi um dos fundadores d’O Aprendiz. Além disso, escreveu para inúmeros jornais de Minas e de
outros Estados.
58 - Tribuna do Povo (1893): Jornal periódico do distrito da Villa da Gouvêa é registrado pelo “Minas
Gerais em sua edição nº 83 de 1893. Tinha o viés conservador.
Em 1898, no Distrito de Gouveia, os políticos conservadores mudam de convicção, e passa a predominar o
pensamento republicano, o Partido Republicano Mineiro. A direção do partido estava entregue às figuras de
destaque, isto é, industriais, comerciantes e proprietários de terra e garimpo.
Nesse tempo, já era falecido o Barão de São Roberto, Quintiliano Alves Ferreira, talvez fosse ele, o maior
representante do pensamento conservador do distrito. Faleceu em junho de 1895, e Gouveia lhe deve inestimáveis
serviços, fundou ali diversos estabelecimentos de lapidação de diamantes, fábrica de fiação e tecelagem, fábrica de
chapéus, mostrando sempre constante no trabalho, e de gênio empreendedor. (Jornal “O Comércio de São Paulo –
nº. 700 – 9/07/1895).
Apesar disso, não se encontra registro do seu nome como dirigente ou membro efetivo de qualquer partido
existente em sua época. Não desempenhou cargos públicos de qualquer ordem.

Quintiliano Alves Ferreira


Estava assim constituída a diretoria do Partido Republicano, em Gouveia:
Presidente: Carlos José Ribas
Secretário: Major Leonel Alves Ferreira
Tesoureiro: Heitor Plácido Fernandes
Membros: Ivo Martins da Silva; o Delegado, Ten. Coronel Serafim Líbano Horta, e Antônio Pereira de Almeida.
59 – O Município (1894): Órgão Oficial do Governo Municipal; publicava, principalmente, o diário da
Câmara Municipal da sede e dos distritos, e as ações do executivo. Entretanto, por vezes, os artigos impressos
abordavam temas referente à República.
Tipografia: Própria, Rua Dr. Joaquim Felício, depois na Rua Tiradentes.
Encarregado de Oficinas: Virgínio de Campos Nelson
Redatores: Sucederam-se na redação: Arthur Queiroga, Gennesco Aquiles Alves Pereira, Olímpio Mourão, Teodósio
de Souza Passos, Cláudio Ribeiro de Almeida, José Augusto Neves.
Colaboradores: Antônio dos Passos Mourão, Abílio Maia, Clélia Rabello, Djanira Passos, Zalóide Passos, Artur França,
João Camelo, Cônego Severiano de Campos Rocha, Leopoldo de Miranda, Cícero Brant, Luiz Delfino.
Na edição 76, 29 de junho de 1896, publicou extenso artigo em homenagem ao Marechal Floriano Peixoto, que
havia falecido um ano atrás. A primeira página estampou uma poesia enaltecendo suas virtudes, “À Memória do
Marechal de Ferro, Floriano Peixoto, Salvador da Pátria e Consolidador da República”. As páginas seguintes não
foram diferentes.
Nesta mesma edição, publicou a nota:
Faleceu, no dia 26 do corrente (junho de 1896) no vizinho arraial da Gouvêa, o farmacêutico Joaquim
Alves Tayoba... de fama justa de bom e profundamente honrado. O Sr. Joaquim exerceu cargos públicos
sob manifestações dos conterrâneos em que a alma do povo tributava-lhe homenagem leal à pureza de
seu nobre espírito.
60 – A União (1894): Órgão do Club Literário Campos Carvalho – Redator Oscar Augusto Leão
 As Mulheres na Imprensa Diamantinense
As mulheres estiveram presentes também nas redações diamantinenses. Além de algumas colaboradoras dispersas
por alguns jornais, foram estas folhas especificamente produzidas por e para as mulheres:
61 – Esperança Diamantinense (1899)
Redatora-chefe: Maria Mercedes Corrêa de Oliveira Mourão  
Redatoras: Djanira Passos, Clélia Corrêa Rabello, Heloisa Passos, Maria Josefina de Medeiros e Marianna Higyna de
Miranda.

Maria Mercedes Corrêa de Oliveira Mourão

62 – A Voz Feminina (1899): Órgão dos direitos da mulher – Literário e noticioso; “O femmes c’est a tort
qu’on vous nomme timid, Á la voix de vos coeurs, vous êtes intrépides” (Ó mulheres é errado que vossos nomes
sejam timidez, introduzam as vozes dos vossos corações, vocês são corajosas).
Iniciou a sua circulação em 21 de abril de 1900, com periodicidade quinzenal. Era um jornal bem elaborado,
contendo diversas seções, literatura etc. Mantinha correspondentes em outras cidades: Belo Horizonte, Ouro Preto,
Montes Claros, Curvelo, Teófilo Otoni e Serro.
Redatoras:  Clélia Corrêa Rabello, Zélia Corrêa Rabello e Nícia Corrêa Rabello.
 Zélia Corrêa Rabello: era membro do Conselho de Instrução do Estado de Minas. Ligado às causas da
emancipação das mulheres o programa do jornal estabelecia:
Estamos em uma época dessas de transição em que as ideias tendem a se renovar. Constitui hoje uma
questão séria no mundo social a mulher. Questiona-se, pensa-se, medita-se se ela deve ser emancipada,
se deve ter o mesmos direitos dos homens. Luta do sim e do não! Lutemos pelo primeiro.
Em outra ocasião, conclama:
Instruamo-nos; ilustremos o nosso espírito; preparemos o campo de ataque pelo jornalismo. Supramos a
arma necessária a esta batalha, e que nos falta – o talento – por muita coragem e muito trabalho. Seja
nossa melhor tática: marchar lenta e vagarosamente; se não alçarmos a vitória a posteridade a
alcançará.

Nícia Corrêa Rabello


Por fim, uma homenagem à cidade do Serro e aos serranos. Número extraordinário da SENTINELA DO SERRO, 12 de
outubro de 1831, ano de sua fundação. O Sentinela do Serro foi dos primeiros jornais a serem publicados em Minas
Gerais.

Foi o “Sentinella do Serro” o jornal que ousou utilizar o verbo inflamado do grande patriota, Theophilo Benectido
Ottoni, que transpôs as fronteiras da Província e ecoou pelo Brasil afora e contribuiu, eficazmente, para o advento
do 7 de abril (1831 - O imperador do Brasil, Dom Pedro I, é obrigado pelo exército a abdicar em favor de seu filho,
que recebe o nome de Dom Pedro II).
Eis como se pronunciou a folha serrana sobre as instituições vigentes, em sua edição de 25 de junho de 1831:
É pois mister sacrificarmos alguma coisa de nossas opiniões; isto protesta fazer o redator da Sentinella
do Serro. Somos de opinião que se deve lentamente republicanizar a Constituição do Brasil, cerceando as
fatais atribuições do poder moderador, organizando em assembleias provinciais os conselhos de
província, abolindo a vitaliciedade do Senado, e isto desde já.
Queremos termos mais incisivos? Impossível resposta da Lei. “A pessoa do Imperador é inviolável e
sagrada”, prescrevia a Constituição do Império. A Sentinella do Serro, malgrado a reserva prometida,
acaba sendo processada e encerra sua publicação por força das circunstâncias.
Noticiando o seu desaparecimento, assim se expressa a insuspeita “Aurora Fluminense”, dirigida por Evaristo da
Veiga, nº 616, de 13 de abril de 1882. Há na declaração uma certa condescendência ou ironia, mas a verdade é que
os valores humanos e talentos políticos de Theophilo Ottoni desde cedo eram reconhecidos. Assim dizia:
A Sociedade Promotora da Vila do Príncipe donde emanara a circular sobre reformas constitucionais
suspendeu as sessões e o mesmo aconteceu com a publicação da Sentinella do Serro, cujas doutrinas
duramente republicanas tinham desagradado muito à população.
O seu redator, moço de talento e probidade, é um desses homens exclusivos que admitem prosperidade,
liberdade, ventura para o país, senão sob forma de governo que ele supôs a melhor; e pretende que os
costumes, os prejuízos, os hábitos, os interesses tudo aí se acomode à sua maneira de pensar.
Entusiasta de boa-fé, ele merece a estima dos homens de bem, mas o seu jornal pregando doutrinas
exageradas, e contrárias ao nosso Pacto Fundamental, era em extremo perigoso.
Theophilo Ottoni, não obstante a magnitude da sua obra, especialmente a sua atuação em defesa da ordem pública
em emergências críticas, somente ocupou funções eletivas. O Imperador fez-lhe Senador porque seu nome já vinha
figurando em cinco listas tríplices, das quais, em três, no primeiro lugar. Preteri-lo mais uma vez seria abusar
demasiado da opinião pública.
Respirava-se para os serranos, desde cedo, ares republicanos. Em Minas Gerais, os jornais “A Sentinella do Serro” e
“O Jequitinhonha” foram onde primeiro se propagou a ideia republicana. A Sentinella do Serro, implicitamente e O
Jequitinhonha de modo explícito.
 Valores Filosóficos da Política em Diamantina

“Por isso entendo, também, nada neste mundo deve impedir que os mais
encarniçados adversários se entendam em torno de soluções objetivas para
problemas concretos.” (C. Lacerda)

A imprensa, em Diamantina, era exercida por cidadãos bem-nascidos, honrados o que lhes davam direito à vida
pública. Contra essa constatação nada de reparos se pode fazer. Todavia, havia uma constante hostilidade entre
esses cidadãos, e podiam ser lidas, em seus jornais, inúmeras referências consideradas caluniosas, adjetivadas por
expressão de ofensas à honra, de parte a parte.
Palavras ácidas respondendo-se ou fazendo ataques, eram:
Oh, miseráveis caluniadores que, para conseguirem seus depravados fins, de tudo lançam mão,
chegando até a deturparem, envenenarem um fato...!
Ou, de outro modo:
Ocultos sob a capa do anônimo protegidos, sem dúvida pela irresponsabilidade ‘do testa de ferro’,
procuram manchar-me, ferindo desalmadamente a dignidade de um homem, pobre...

O Testa de ferro poderia ser o juiz, o delegado, a administração do município, contudo, invariavelmente, eram os
conservadores articulistas de jornais. Neste caso específico, o testa de ferro, era o redator do jornal que acusara o
reclamante. Como se pode entender isso?
Vamos recorrer a Michel Foucault, em seu último livro, A Coragem da Verdade (aula de 8 de fevereiro de 1984 -
wmf martins fontes). Nesta aula, Foucault falou a respeito da parresía, mencionando a definição enunciada por
Eurípedes:
Parresía é o direito de falar, o direito de tornar publicamente a palavra, de certo modo, para exprimir
sua opinião numa ordem de coisas que interessam a cidade.
Mas acrescenta que na democracia, de certo modo, a “parresía é perigosa para a cidade”. Sendo uma liberdade
concedida a cada um, e por meio dela tem-se a liberdade, de dizer o que é ou pensa, conforme à sua vontade
particular; o que satisfaz aos seus interesses ou suas paixões; o de cada um de falar, tanto os bons e quanto os maus
oradores; os homens interessados por si mesmos, ou os homens devotados à cidade; o discurso verdadeiro e o
discurso falso; as opiniões úteis e as opiniões nefastas ou nocivas.
Tudo isso, imbricado no jogo da democracia, cria enfrentamentos e discussões cujos objetivos se confundem com as
necessidades da ‘Cidade’ e seus ‘interesses pessoais’. E cita Platão, quando ele fala, utilizando a imagem do barco
no livro VI da República:
... por meio da parresía, pode-se criar uma barafunda de todos os oradores que se enfrentam, tentam
seduzir o povo e se apossar do leme; quais são os que serão escutados, quais são os que serão
aprovados, seguidos e amados?
Os que agradam, os que dizem o que o povo deseja, os que o lisonjeiam. E os outros, ao contrário, os
que dizem ou tentam dizer o que é verdadeiro e bom, mas não agradam, não serão ouvidos. Pior, eles
suscitarão reações negativas, irritarão, encolerizarão. E o discurso verdadeiro deles os exporá à
vingança ou punição.
Em suma, ainda que cada jornal propugnasse os seus ideais, e estampassem em suas legendas epígrafes
portentosas e inteligentes motes, e se referissem aos aspectos democráticos do exercício dos direitos de liberdade,
e do direito para que cada cidadão pudesse optar, pelo livre arbítrio, e pudesse decidir seu próprio destino, e ainda,
a liberdade de professar sua religiosidade sem a tutela do Estado, no interesse do povo, o modo de fazê-lo era
dúbio.
Ainda que compreensível o inconformismo de ver as precárias condições de um município tão rico, mas somente
olhado pela ganância do Estado e o desdém dos políticos da Corte, que deixavam a população em estado de
desarrimo.
No momento de traduzir esse inconformismo, não é o que se depreende; as contendas travadas não se atinham
somente às diferenças ideológicas, pelo contrário, versavam por disputas de cargos públicos existentes, e ou, sobre
a distribuição dos terrenos diamantinos, do direito à lavra e, por fim, à vingança política.
Pedidos de anulação de eleições sob acusação de vícios de conduta e coerção de eleitores para que votassem nesse
ou naquele partido, estampavam inconformados artigos. E a parresía de Eurípedes perdia a sua nobreza para dar
lugar à preocupação de Platão.
O Guarany – 1878, confirma o interesse por cargos, uma chaga que prevalece desde o início até para sempre no
país:
De longos anos que existe grande descontentamento da parte de muitos liberais desta Paróquia, que se
acham habilitados para exercerem todo e qualquer emprego público, e que, entretanto, nunca são
chamados a exercê-los nas poucas e raríssimas vezes que o capricho imperial se dignou de chamar ao
poder o grande partido liberal.
O digníssimo Diretório deve imitar aos conservadores que, quando estão no poder (isto quase sempre)
tratam logo de empregar os seus correligionários, a fim de que eles também gozem de ascensão do seu
partido e tenham interesses em conservarem-se sempre unidos para dar forças uns aos outros nas
ocasiões de perigo e lutas eleitorais.
O 17º Districto avança na linha das perseguições políticas e constata que os dois partidos, liberal e conservador, têm
muitas semelhanças, para depois afirmar:
Convencidos da sua inferioridade numérica, nos distritos do norte de Minas, como em todo o império, os
nossos adversários ameaçam, ostensivamente, vencer pelo terror e pela violência.
A derrubada continua, todos os dias, a expelir dos cargos públicos, os nossos correligionários ainda os
mais zelosos cumpridores de seus deveres: carcereiros, agentes de correio, professores de instrução
primária e secundária, nomeados por concursos, porteiros de repartições públicas, agentes fiscais,
devidamente afiançados, têm sido sacrificados, diariamente e em massa, aos ódios partidários do poder.
Está patente a intenção formada de dividir o país em – vencedores e vencidos.
O Lábaro do Futuro, em 25 de março de 1882, sentencia:
Com a reforma eleitoral vemos hoje confundirem-se os partidos, que outrora batiam-se em terrenos
radicalmente opostos. A Fraternidade de cada um deles quer falar-se do partido liberal, quer
conservador era por si mesmo evidente.... Com a reforma tudo se mudou: houve completa
metamorfose.
Chama atenção, porém, O Jequitinhonha, edição 45, 1861, quando dá um tom contraditório às convicções
antiescravagistas, e afirma a semelhança entre as partes, o que não se poderia esperar de um jornal que se apoiava
na importante posição ideológica do Dr. Joaquim Felício dos Santos e seu irmão, o Bispo D. João Antônio dos
Santos:
Felizmente já vivemos em um tempo muito diferente daquele em que nossos inimigos políticos
caluniando o partido liberal procuravam persuadir aos ignorantes de que ele pregava a insurreição e a
liberdade da escravatura.
Um sorriso de desdém seria a resposta a semelhante calúnia; porque se há interesse na conservação da
escravatura no Brasil, ninguém põe em dúvida que esse interesse seja partilhado por um e outro lado
político: se um deles for acusado de pretender a liberdade dos escravos a única ilação a deduzir-se é que
ele é mais generoso do que o outro, porque sacrifica à sua convicção de interesse.
Desejamos, é verdade, a abolição, mas que ela marche prudentemente, como deve caminhar todo o
progresso estável e duradouro... Dai ao escravo a esperança, fazei-lo antever a liberdade através do
sacrifício de seus vícios e paixões, e vê-lo-eis marchando sua senda do progresso, a máquina que à custo
se morria à força do azorrague (açoite) converter-se-á em um ser que pensa, que tem uma aspiração, e
que deseja vê-la realizada...
Tudo faz crer que essa manifestação fora feita pelo Dr. Antônio Felício dos Santos que foi um abolicionista, ma non
troppo.

Em outro artigo, O Jequitinhonha, acusa os conservadores de uma prática vexaminosa:


Os cabalistas conservadores continuam a lançar mão de todos os recursos para granjearem partistas
(sic). Agora se lembram de avexar os que lhes devem quantias e que com eles não querem votar. Isso é
muito feio! Imitem o cavalheirismo dos liberais.
 “Por trás de um liberal, há um grande conservador”

“... é que o ‘ser’ não é produto do pensamento, como se diz em “O que é Metafísica? (Heidegger)
Entretanto, o ser não é intemporal, mas se dá historicamente, ou se faz histórico. (Geschlachtet)”
(Benedito Nunes - Hermenêutica e Poesia, O pensamento poético – cap. VII – Editora UFMG).
As ideias políticas e o pensamento no Brasil oitocentista andavam confusas, numa enorme semelhança às ideias do
país do presente (2016). Palavras altissonantes, frases mentirosas e promessas vãs. Os políticos, conservadores e
liberais, liam e rezavam, afinal, na mesma cartilha; extraíam, aparentemente, interpretações diferentes, mas as
práticas dos dois eram semelhantes.
No fundo o objetivo era o poder e o receio de que as revoltas e revoluções existentes desde a década de 1820
viessem a perturbar o ordenamento político vigente. Serve como maior exemplo o escravismo, a pior das condições
humanas, era tolerado pelos dois partidos.
Os liberais, em discursos e propósitos não aprovavam, se contrapunham à escravidão, mas não se ofendiam com os
donos de escravos. Interessante perceber que esse alinhamento de ideias e opiniões não foi exclusivo dos
conservadores e liberais brasileiros.
Nos Estados Unidos da América, essa atitude estava presente, também.
Abraham Lincoln, considerado como aquele que promoveu a abolição americana, mas não se escandalizava com os
fazendeiros, donos de escravos. Em uma carta a uma amiga, em 24/08/1855, discutindo as divergências políticas,
escreveu:
Você sabe que aborreço a escravidão; e admite-lhe plenamente a iniquidade em abstrato. Até aí não há
nenhum motivo de controvérsia. Mas você diz que, a renunciar ao seu direito legal a um escravo –
particularmente por ordem de quem não está interessado pessoalmente nele -, você preferiria ver a
União dissolvida. Não sei de ninguém que esteja ordenando a abdicação desse direito, com absoluta
certeza, eu não estou”. (Edmundo Wilson – 11 Ensaios, Cia das Letras).
Como disse Francisco José de Oliveira Viana:
Nada mais conservador que o liberal no poder.
E aí, tem razão o Prof. José Moreira de Souza quando sugere a pesquisa do emblemático jornalista, político e
maçom, Bernardo Pereira de Vasconcelos, para explicar essa amorfófita posição. O Sr. Bernardo, dono do radical
jornal ‘O Universal’, publicado em Ouro Preto, resumiu sua trajetória de conveniências, num discurso cuja síntese é:
"Sou Conservador. Fui Liberal." Segue trecho do discurso:
Fui liberal, então a liberdade era nova no país, estava nas aspirações de todos, mas não nas leis, nas
ideias práticas; o poder era tudo; fui liberal. Hoje, porém, é diverso o aspecto da sociedade: os princípios
democráticos tudo ganharam e muito comprometera; a sociedade, que então corria o risco pelo poder,
corre agora o risco pela desorganização e pela anarquia. Como então quis, quero hoje servi-la, quero
salvá-la, e por isso sou regressista. Não sou trânsfuga, não abandono a causa que defendi no dia de
seus perigos, da sua fraqueza, deixo-a no dia em que tão seguro é o seu triunfo que até o excesso a
compromete.
Os Proprietários de escravos e de terras estavam assustados com o momento em que resultara tantas revoltas
sociais. Com a abdicação do Imperador D. Pedro I, em favor de seu filho Pedro II, de pouca idade, o trono real
estava sem ocupante monárquico. O restabelecimento dessa autoridade era visto como a solução para a crise
política que se vivia.
Surgiu, então, o Partido Regressista (conservador mais radical), agora mais forte e com pretensões definitivas de
estancar as conquistas que vinham acontecendo, e exigia o retorno do regime monárquico, sob a égide de restaurar
o ordenamento, o status quo imperial. Cogitava-se, inclusive, a possibilidade do retorno de D. Pedro I, agora Duque
de Bragança.
O jornal O Diamantino, em repúdio a essa intenção, publicou a decisão da Câmara Municipal da Vila Diamantina
com seguinte edital prometendo punir quem fizesse movimento político para retorno de D. Pedro I. Eis o teor da
decisão:
A Câmara Municipal desta Vila faz público, que foram aprovados pelo Excelentíssimo Presidente em Conselho os
seguintes Artigos de Posturas para este município.
Art. 1º - São perturbadores da Ordem, e a tranquilidade pública:
1º - Todos os que em lugares públicos, ou em ajuntamentos, ou em reunião de três, ou mais pessoas insinuarem a
conveniência, e necessidade da volta do Duque de Bragança.
2º - Os que pela mesma maneira exagerarem as forças do Partido, que pretende, e trama a volta do mesmo Duque,
ou disserem, que o atual Governo não tem forças para opor-lhe resistência, ou que convém a mudança do mesmo
Governo.
3º - Os que seduzirem os Militares, Guardas Nacionais, e Permanentes para desertarem de seus Corpos, ou os
persuadirem para não tomar armas contra qualquer Governo intruso, com especialidade contra a Restauração do
Duque de Bragança, ou contra a sua volta como pessoa particular.
Art. 2º - Todos os que contravierem os presentes Artigos incorrerão em penas de multa de oito dias de prisão, e nas
reincidências em trinta dias de prisão, e 60U rs. de multa, e sendo cativos em cinquenta açoites. E para constar se
mandou passar presente, que será publicado, e afixado nos lugares mais públicos.
Vila Diamantina, 9 de setembro de 1833
O Presidente – João Pires Cardoso
O Secretário – José Rodrigues Duarte (Reproduzido pelo Jornal “A Verdade” (RJ), edição nº 237 – 1833).
O Sr. João Pires Cardoso foi presidente da Câmara Municipal de Diamantina em 1832 e Intendente do Diamante.
Entretanto, nesse tema não havia controvérsia, tanto para os conservadores, bem como, para os liberais, os polos
se atraíam, era preciso repor a ordem. No entanto, não bastava acabar com a anarquia, era preciso fortalecer a
autoridade do poder central e pôr um fim aos movimentos que levavam o povo às ruas. Como dizia o próprio
Bernardo Pereira de Vasconcelos: "É preciso parar o carro da revolução".
Em síntese, era importante considerar o novo Imperador, D. Pedro II, maior de idade, para assumir logo o trono, e
isso:
Interessava, a conservadores e a liberais, empenhados em impedir que outras camadas da população
viessem a participar de uma nova organização do Estado brasileiro, tarefa que deveria caber às elites
políticas.
 Abolição -
O discurso de Rui Barbosa, em 7/02/1893, em visita que fez à sua terra natal, dá a grandeza da abolição da
escravatura e, com júbilo, comemora o feito. Mas, aproveita também, para reafirmar que a abolição fora uma
conquista de toda a nação brasileira. O discurso foi interrompido várias vezes por aplausos de seus conterrâneos.
Eis um trecho:
...Vai por cinco anos. Era 1888. Corriam os últimos dias de abril. Poucos me deram dados, para respirar
estes ares, a cujo oxigênio se formou a minha paixão pela liberdade. Eu vinha só com minha fé, a única
força que a natureza não me recusou, a companheira fiel das minhas provações, viático de um caminho
acidentado.
A atmosfera do Império e da escravidão oprimia-nos, abafadiça, de todos os lados. Os partidos
monárquicos brigavam, enfezados, na rixa de lagartos (risos; aplausos), na raiva preguiçosa de velhos
estélios coriáceos, à luz de uma publicidade indiferente, ou hostil, como os raios do sol que acariciam o
torrão próspero, mas flagelam a estepe escalvada, no silêncio. No marasmo, na solidão moral da Pátria,
calcinada por uma esterilidade maldita.  (Aplausos).
...Daí, a treze dias a abolição estava consumada. Não por obra da caridade imperial. Não! O consórcio
do Império com a escravidão, indignamente denunciado pelo Sr. Joaquim Nabuco ainda na derradeira
fase da propriedade servil, nunca se dissolveu, senão quando a dinastia sentiu roçarem-lhe o peito as
baionetas da tropa, e a escravaria em massa tomou a liberdade por suas mãos nos serros livres de São
Paulo. (Aplausos).
A re-humanização (sic) da raça negra no Brasil não é um ato de munificência da esposa do Conde d’Eu.
É, pelo contrário, uma conquista materialmente extorquida aos príncipes pela rigidez dessa opinião
batalhadora e irredutível, que se viu ameaçada nos atos mais cristãos de beneficência abolicionista, por
uma ignóbil lei dos últimos dias da realeza, com calceta de ladra. (Sensação).
Esse ultraje sacrilégio. Irrogado à divina natureza em suas aspirações mais puras, cominado ao
apostolado emancipador nos seus impulsos mais santos, não pode transformar-se facilmente em louros
para a Coroa Real, que o vibrou. (Bravos).
(...) A abolição desarmara da maior das forças a autocracia imperial, cuja estúpida centralização tinha
feito das nossas províncias, meros compartimentos da casa do Rei”.  (Famosos Discursos Brasileiros,
Tomo I Editora Edigraf Ltda. 3ª Edição – Set./1959).
Decreto Imperial que declarou extinta a escravidão

Rua da Quitanda – Diamantina – Minas Gerais

“Por bando de” 1º de março de 1734, foi proibido “as negras ou mulatas forras ou cativas, andarem com tabuleiros
pelas ruas ou lavras, sendo-lhes permitido venderem os gêneros comestíveis nos arraiais e nos lugares que para
esse fim lhes forem marcados, sob pena de duzentos açoites e quinze dias de prisão”.
No Arraial do Tijuco, o Intendente designou a rua, que por essa razão foi chamada da Quitanda, denominação que
até hoje ainda conserva. “Só aí é que se podia fazer o pequeno mercado das quitandeiras.” (Joaquim Felício dos
Santos – Memórias do Distrito Diamantino).
 O Monitor do Norte, a voz da maçonaria em Diamantina

“A democracia não é um privilégio. A democracia é um


compromisso.” (C. Lacerda)
No período oitocentista o pensamento das elites intelectuais, influenciadas pelo positivismo e cientificismo,
fomentavam uma nova moral social e cívica. No Brasil, utilizando-se dessa doutrina social, o positivismo contribuiu,
subsidiariamente, para a abolição da escravatura e para a implementação da República.
Nos intramuros da maçonaria, tais pensamentos tiveram grande acolhimento, em discussões, e na difusão destes
novos ideais, em um particular, no ataque à Igreja, acusada de jesuitismo, que, concomitantemente, acusava a
maçonaria de seita profana e diabólica.
Em Diamantina, os jornais liberais, especialmente os ligados à maçonaria, acusavam a Igreja de jesuitismo, e esse
termo era associado ao domínio do Jesuítas na formação da sociedade portuguesa, nesta imagem representava
tudo o que era atrasado, de mal e de imoral; retrato da corrupção e do passado, sendo o oposto dos ideais de
progresso, e a Inquisição, como um instrumento de forte natureza coercitiva utilizado pela Igreja.
O anticlericalismo combatia principalmente o poder da Igreja, tanto no plano religioso como no temporal,
enxergando nele um forte caráter de dominação.
 O Papel da Maçonaria na Independência
Já é bem reconhecida a participação da Maçonaria em inúmeros acontecimentos políticos do Brasil. O Senador
Arnon de Mello fez um discurso confirmando este fato na Proclamação da Independência.
Certo que D. João VI, como mais tarde D. Pedro I, facilitou e acelerou a Independência, os excepcionais
serviços prestados à causa não só da nossa emancipação como também do nosso desenvolvimento, a
que deu grande impulso.
Mas seria injusto deixar de reconhecer, por exemplo, a extraordinária contribuição, para a
Independência, da Maçonaria, na qual jovens brasileiros se integravam quando, formados em Coimbra,
iam aperfeiçoar seus estudos na Universidade de Montpellier, na França, e, daí trazendo as ideias
libertárias dos filósofos e pensadores franceses, passavam a propagá-las.
Antes da instalação oficial no Brasil, em 1801, da Maçonaria, filiada ao Grande Oriente da França, já
havia por aqui sociedades como a dos Cavaleiros da Luz na Bahia. A revolução de 1817 em Pernambuco
e a convocação da Constituinte de 1823 foram inspiradas e estimuladas pela Maçonaria, cujo
liberalismo e republicanismo se conformaram com a permanência da Monarquia para melhor assegurar
a conquista da Independência. (Arnon de Mello – Senador da República – Participação do Poder
Legislativo na Evolução do Brasil – Biblioteca do Senado Federal).
Joaquim Felício dos Santos em seu livro Memórias do Distrito Diamantino, publicado inicialmente em forma de
folhetim, nas páginas d’O Jequitinhonha, identificou que a Maçonaria se ajustava aos ideais da Independência:
“.... a maçonaria oferecia o tipo de uma sociedade organizada sobre princípios diferentes da sociedade civil: sua
base fundamental era a igualdade dos homens”.
E afirma, em seguida, que “a inconfidência mineira tinha sido dirigida pela maçonaria. Tiradentes e quase todos os
conjurados eram pedreiros livres”. E, continua em seguida dizendo que em Diamantina, foi o Pe. Rolim o primeiro
iniciado, depois, os irmãos Vieira Couto.
Não há registros históricos que confirmem ser isso uma verdade, conquanto, nos autos da devassa não se
encontrem nenhum registro, além do que, a maçonaria mineira rejeita esta possibilidade.
Não se tem notícias de que esses diamantinenses chegaram a fundar no Arraial do Tejuco alguma loja maçônica,
mesmo porque o tempo não permitiria.
Logo que a devassa acontece, foi o Pe. Rolim preso, julgado e degredado à África e os irmãos José Joaquim e
Joaquim José Vieira Couto presos pela Coroa, o primeiro em Lisboa e o outro na Vila Rica. E mais, afirmam alguns
que os conjurados tiveram tempo suficiente para destruir qualquer documento relacionado. Quando Padre Rolim
consegue sua anistia, e retorna à Diamantina, mas já não era o mesmo, doente e moribundo, sem prestigio, e
condenado ao ostracismo social.
Mas o ‘pensamento livre’, pode-se dizer assim, não se afastou do Tijuco, ainda que a Loja Atalaia do Norte somente
fosse fundada em 1873, quase 100 anos após o movimento conjurado, sob a presidência de Joaquim Honorato
Pereira da Silva, e logo possuía 36 membros.
Há referências de que a primeira loja maçônica teria sido fundada em 1867, sem regulamentação, sob a
denominação de Jequitinhonha e que esta teria sido absorvida pela Loja Atalaia do Norte e que, enfim, esta foi a
primeira Loja Maçônica de Minas Gerais. Há, ainda, menção a outra, do mesmo período, a Loja União
Diamantinense. (Jorge Lasmar – Diamantina de Dona Sara, São João da Chapada e do Padre Belchior - Editora Del
Rey – MG - 2011).

Boletim do Grande Oriente do Brasil – Jornal da Maçonaria Brasileira


Nº 4 – 7º Ano – Abril de 1874

O antagonismo, liberais versus conservadores, não prosperava nos alicerces da história da maçonaria
diamantinense, pelo contrário, estavam lado a lado, e arrastando-se neste movimento as vertentes anticlericais. Os
liberais e a maçonaria, como linha de pensamentos não eram movimentos necessariamente iguais, mas se juntavam
no front de combate à Igreja e ao Estado monárquico, absolutista e, em alguns casos, ao conservadorismo.
O jornal O Monitor do Norte, como já dito, órgão oficial da maçonaria, ele mesmo inscrevia em sua legenda, foi o
maior adversário da Igreja de Diamantina, na década de 1870, confrontando-se com o Senhor Bispo João Antônio
Felício. Em quase todos as suas edições, a contundência de suas críticas era avassaladora, e repercutiam pelos
jornais da Província que publicavam seus artigos, muitas vezes, na íntegra.
O jornal ouro-pretano Diário de Minas, 23 de julho de 1874, publicou:
Lê-se no Monitor do Norte: Em todos os paquetes ultimamente chegados da Europa abordam em nossas
praias centos de padres e frades, que têm sido ultimamente enxotados da Europa.
Estes malandros, quais aventureiros que procuram riquezas na Austrália e Cabo da Boa Esperança,
procuram o Brasil para explorar a ignorância e fanatismo da maioria de seus habitantes. Além da
sebosa sotaina, trazem também caixotes de sagradas relíquias, rosários, verônicas e bentinhos....  É a
milícia de Pio IX, e que merece cuidados da parte do Governo.
Por cá nos acontece outro tanto, acrescenta a Família Maçônica, e então desembarcam na praia do
Peixe, trazem uma cara! Cada qual parece um daqueles terríveis da Calábria.
Os artigos do Monitor do Norte não vinham assinados, presumem-se, com o intuito de se protegerem, os
articulistas da perseguição da população francamente sob a influência da Igreja. Isso não impedia de serem
repudiados e incitados a mostrarem suas faces:
Ad perpetuam rei memoriam (para eterna lembrança do fato), declaro que tenho a responder às
miseráveis correspondências, ou antes, pasquinadas, impressas no Monitor do Norte, porque não parece
bem combater com anônimos, que pelo estilo e modo argumentar não passam de vis especuladores e
perturbadores da ordem pública. Sejam de quem for esses artigos, peço ao seu autor que os assine, sob
pena de passar por um grande embusteiro e mentiroso, indigno da sociedade que infelizmente o acolheu
em suas plagas.
Considere o anônimo que nos profanos, temos direito a maior publicidade das coisas, e que não temos
costumados a envolver nossas opiniões no sombrio manto das trevas.
Assine, e terá a devida resposta também documentada, pelos habitantes desta freguesia e de qualquer
outra localidade por onde chame à terreno. Assinado, O Vigário, João Baptista Pimenta.
 Fundadores da Loja Maçônica Atalaia do Norte
“Sob a inexorável máscara de sua fatalidade cronológica, o tempo nada
mais é do que estes versos de Baudelaire:  Relógio! deus sinistro, hediondo,
indiferente, Que nos aponta o dedo em riste e diz: RECORDA!” (Ivan
Junqueira – Baudelaire, Eliot, Dylan Thomas – Três Visões de Modernidade –
Record – 2000).

Os homens que fundam a Loja maçônica diamantinense exerciam posições relevantes na sociedade.
Relação dos cidadãos diamantinenses fundadores da loja maçônica Atalaia do Norte, a fonte é o site da própria loja;
suas atividades, afazeres e profissões foram resultados das pesquisas deste trabalho:
30/08/1873
 Augusto Afonso Caldeira Brandt – contratador de diamantes
 Júlio Fergoutte – comerciante de origem francesa, dono de Padaria, dono da escrava de nome Maria,
africana que mandou libertar após se mudar para o Rio de Janeiro.
 Pedro Maria da Silva Brandão – Advogado, alternou a sua residência entre Diamantina e Ouro Preto,
colaborou com a Santa Casa de Misericórdia, 2º suplente de delegado de polícia, inspetor geral dos
terrenos diamantinos, deputado provincial por vários mandatos, foi um conservador muito combatente,
redator do jornal conservador O Constitucional e d’A Província de Minas nos quais reproduzia muito
artigos dos jornais diamantinenses, sobretudo O Monitor do Norte. Há registros de que ele, quando residia
em Diamantina, foi membro do partido liberal.
 Teodósio de Souza Passos – redator do jornal O Município
 Antônio Lopes de Figueiredo – Major 8ª Cia da Guarda Nacional, industrial de fábrica de cigarros e
curtume, comerciante com loja de fazendas de tecidos e outras, esteve em apuros quando lhe foi
imputado a emissão de “vales” que supriam a falta de moeda corrente de baixo valor, membro do partido
liberal, correu o risco de ser preso.
 João Batista de Mello Brandão Júnior: dono de lavras de diamantes, principalmente a Lavra do Lomba.
 Presidente: Joaquim Honorato Pereira da Silva – Escrivão do cartório de órfãos, tenente-coronel, sócio da
Sociedade Amor ao Progresso, membro do partido liberal.
Em 1874, a irmandade estava composta:
Diretoria:
Agostinho José Pires Júnior
Antônio Pires Mendes e
Elisardo Emygdio De Aguiar
 Membros:
 Dr. Theodomiro Alves Pereira – Advogado formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, professor de
geografia e história da Escola Normal, teatrólogo, delegado suplente de polícia, deputado geral, era o
orador da loja, membro do partido liberal.
 João Nepomuceno Kubitschek – Grande político diamantinense – 1º vice-presidente de Minas, professor e
diretor da Escola Normal e Externato, inspetor geral de instrução pública, deputado provincial e senador
de Minas. (Vide descrição anterior).
 João Theodoro Fernandes – professor da 2ª cadeira de agrimensura da Escola Normal, Capitão de
batalhão da Guarda Nacional, diretor da Imprensa da Província, membro do partido liberal e depois
republicano.
 Theophilo Soares Pereira da Silva – Eleitor qualificado, juiz de paz no Rio Preto, 2º escrivão de órfãos e
gerente da Coletoria de Rendas de Diamantina, membro do partido liberal.
 Simplício Antônio Teixeira Serrão – Procurador pelo distrito de Gouveia, promotor público.
 Serafim José Meneses – 1º Juiz substituto nomeado.
 Manoel Cesar Pereira da Silva –Abastado comerciante e prestigioso chefe político, tenente, capitão,
major, tenente-coronel da Guarda Nacional, 2º suplente de juiz municipal, oficial depositário público,
diretor de obras públicas, juiz de paz, membro do partido liberal e depois do partido republicano
constitucional.
 Claudino Barbosa da Silva Leal
 Felisberto Caldeira Alves Sampaio – Negociante.
 Procópio Gomes Ribeiro – Promotor de festas, porteiro da Câmara (eleito), alfaiate dono da Oficina de
Alfaiate, procurador da Santa Casa de Misericórdia, membro do partido liberal.
 Francisco José Alves Sampaio
 João Evangelista Caldeira – Advogado, juiz de paz, inspetor geral dos terrenos diamantinos, coletor de
rendas, membro do partido liberal, depois do partido republicano mineiro.
 Antônio Augusto Ribeiro Leão – Tabelião, membro da União Conservadora de Diamantina, partido
conservador, sócio da Sociedade Amantes dos Prazeres.
 Augusto Kubitschek – Irmão de Sr. João Nepomuceno Kubitschek e do Coronel Justiniano Fernandes de
Azevedo.
 Rodrigo de Souza Reis – Tenente Coronel, dono de garimpo na Chapada de São João, sócio de Felisberto
Caldeira, comprador e dono de escravos, 2º delegado suplente, vereador, presidente da Câmara, sócio da
Sociedade de Mineração, importador de máquina da Europa, tabelião, membro do partido liberal.
 Aureliano Caldeira Brant – Capitão, foi combatente da guerra do Paraguai, coletor de rendas,
administrador da Recebedoria, comandante de destacamento em Rio Pardo, foi delegado de polícia na
cidade de Theophilo Ottoni, foi pessoa polêmica e esteve presente em alguns incidentes de graves
repercussões, membro do partido liberal.
 Dr. Francisco Correia Ferreira Rabello – Advogado, redator de Jornal O Tambor, promotor público,
professor de filosofia e retórica da Escola Normal e Externato, deputado provincial (1868/1869), deputado
federal, morreu no exercício do mandato (1892), juiz municipal e de órfãos, membro do partido liberal,
depois republicano.
 Sebastião Fernandes Pereira Correia – Membro do corpo de júri da cidade, membro do partido liberal,
depois republicano.
 Josefino Roiz de Oliveira Costa
 José Leite Teixeira – Negociante, escrivão, tenente coronel da guarda nacional, secretário do jornal
Monitor do Norte, colaborador da Santa Casa de Misericórdia.
 Agostinho José Lopes – Conceituado artista ourives, ganhou prêmio na exposição de Ouro Preto, Rio de
Janeiro e participou da Exposição Internacional de Londres com o trabalho de uma corrente de relógio em
ouro de fios puxados criada por ele mesmo. Pertencente a uma família quase toda de artistas, foi um dos
irmãos responsáveis pela regularização da Loja Maçônica Estrela Oriente 2, na cidade do Serro.
 José Luiz Igreja – Português, curador de interditos, colaborador da Santa Casa de Misericórdia, tendo sido
irmão de mesa.
 Manoel José de Oliveira –
 Antônio Nascimento Moura – Escrivão de coletoria, sócio da Sociedade União Beneficência, irmão da
Ordem 3ª de São Francisco, colaborou na regularização da Loja Maçônica Estrela do Oriente 2, na cidade
do Serro.
 Josefino Vieira Machado – Barão de Guaicuhy, cunhado dos irmãos D. João e Joaquim Felício - Industrial,
empreiteiro de obras públicas, sócio de empresa de transporte fluviais, dono de lavras e negociante de
diamantes, vereador, membro do partido liberal no qual exerceu a presidência. Foi fundador e proprietário
de vários jornais.
 A Maçonaria vista pelo jornal O Jequitinhonha

“O passado é um luxo de proprietários. Onde poderia eu conservar o meu?


Não se pode colocar o passado no bolso; preciso ter uma casa, arrumá-lo
nela. Só possuo meu corpo; um homem inteiramente sozinho, só com seu
corpo, não pode reter as lembranças; elas passam através dele.” (Jean-Paul
Sartre – A Náusea).
Em 1864, o Vaticano, em âmbito mundial, decidiu empreender uma campanha dirigida contra os seus inimigos. Essa
campanha inicialmente visava combater o modernismo. O veículo utilizado foi a bula papal "Syllabus" (1864)
promulgada pelo papa Pio IX, no qual ficou constituída uma série de medidas relacionadas a vários pontos da
filosofia moral e direito público. Em linhas gerais, essa doutrina postulava a infalibilidade do papa, combatia a
secularização e o anticlericalismo. Um dos principais inimigos visados era a maçonaria.

No Brasil, a questão era delicada, tendo em vista que uma parte significativa e influente do clero pertencia a
maçonaria. A partir daí, alguns padres maçons começaram a ser perseguidos e punidos por seus superiores.
Instalava-se a controvérsia, e se espalhava pelo país à fora. O principal conflito entre a Igreja brasileira e a
maçonaria ocorreu em 1872.
Conhecido como “Questão Religiosa”, o dissenso surgiu quando D. Pedro II mandou prender, processar e
sentenciar dois bispos pela posição que tomaram, sem autorização, contra a maçonaria.  Embora fosse
maçom, D. Pedro II teria agido não em represália ao ataque, mas em razão do posicionamento dos
clérigos sem prévia permissão real. Tal permissão era uma exigência do Padroado Real, que consistia no
privilégio eclesiástico concedido por Roma ao imperador brasileiro e segundo o qual ele, e não os bispos,
era o chefe titular da Igreja no Brasil. (Ralph Della Cava – Milagre em ‘Joaseiro’ – Cia das Letras).
A partir das prisões dos clérigos muitos bispos passaram a condenar às claras a maçonaria. A leitura de
Nóbrega informa que oito dos quinze bispos existentes entre 1872 e 1875 escreveram cartas pastorais
atacando a maçonaria ou em prol dos colegas; ao que tudo indica quatro bispos ficaram em silêncio. Os
outros três, a fonte não revelou a posição assumida. Todavia, mais da metade do episcopado brasileiro
veio a público contra a maçonaria.
O jornal O Jequitinhonha, ligado ao Bispo Dom João Antônio dos Santos, definia a maçonaria como “seita ímpia,
seita excomungada por tantos papas”. Essa posição constrangia seu irmão o Dr. Joaquim Felício, que por lealdade
ao irmão, se ausentou d’O Jequitinhonha e rompeu com o cunhado Josephino Vieira Machado- Barão de Guaicuhy
(membro da Loja Maçônica Atalaia do Norte).  
Em 23 de junho de 1872, o mesmo jornal, indignado com a ascensão da maçonaria aos cargos importantes da Corte,
publicou, repetindo o jornal carioca Jornal do Commercio, o artigo ‘Ao povo Maçônico – Um Novo Irmão em Cristo’
no qual denuncia e lista, em nominata, as pessoas ligadas à maçonaria no Conselho de Ministros e na Administração
do país:
Na sessão do Senado de 21 do mês corrente, o distinto advogado do mosteiro de São Bento e grão-
mestre de S. Gregório Magno, o legítimo chefe do Partido Liberal, Sr. Conselheiro Zacarias de Góes e
Vasconcelos, fechou em seu discurso com as ‘memoráveis’ palavras:
Se me achasse na Câmara, e há tempo não houvesse abraçado a causa liberal (QUE FAMOSO LIBERAL!)
teria, neste momento, feito guerra ao Gabinete do Sr. Visconde do Rio Branco, em quem, desde que S.
Exª deu espetáculo de presidir lojas maçônicas para prosseguir o poder espiritual, eu que me prezo
católico, não posso mais ver no nobre presidente do Conselho, um ministro sério.

Risum teneatio, amici! (Contereis os risos, amigos!) Quem ler estas palavras há de supor que, pela
primeira vez no Brasil, o cargo de grão-mestre da ordem maçônica é exercido por um homem de Estado.
Veja o público os nomes dos antecessores do nobre Visconde de Rio Branco, e fique sabendo que
nenhum deles foi homem sério:

- Conselheiro José Bonifácio de Andrade e Silva (28/3 a 14/9/1822)


- S. M. o Imperador D Pedro I, sob o título de Guatimozim (14/9/1822 a 1831)
- Conselheiro José Bonifácio de Andrade e Silva (3/11/1831 a 1838)
- Visconde de Albuquerque (13/11/1838 a 1850)
- Marquês de Abrantes (17/5/1850 a 1863) este foi antecessor de Zacarias no lugar de provedor da
Santa Casa de Misericórdia.
- Barão de Cayru (5/11/1863 a 1865)
- Conselheiro Joaquim Marcelino de Brito (9/4/1865 a 1870)
- Visconde de Rio Branco (eleito 17/3/1870),
- e o 9, é o próprio Sr. Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcelos.
Do grande Oriente do Passeio, que depois reuniu-se ao do Lavradio, foi grão-mestre o Visconde do
Uruguai, de quem o Sr. Zacarias foi ‘in illo tempore’ (naquele tempo) colega de ministério. D’entre os
nove grão-mestres acima apontados, foi o Imperador do Brasil, e oito ministros de Estado. Ficou o Brasil
sabendo que nenhum deles tinha a seriedade do Sr. Zacarias, único estadista desta terra...
Do Grande Oriente dos Beneditinos, que vai agora reunir-se ao do Lavradio, é o grão-mestre, o
Conselheiro Joaquim Saldanha Marinho. O Sr. Zacarias acaba também de passar-lhe diploma de homem
pouco sério, ou sem seriedade alguma.
Entre os grão-mestres honorários e grão-mestre adjuntos da maçonaria brasileira figuram hoje - o
Duque de Caxias, - o Marechal de Bittencourt e - o Visconde de Sapucahy (honorários), - o Barão de
Angra e o Dr. Félix Martins (adjuntos). Entre os grãos mestres adjuntos e altas dignidades que têm tido a
maçonaria desde a independência até hoje, tem figurado os seguintes homens cuja seriedade não
admite o ilustre advogado de conventos.
- Antônio Carlos, - Martins Francisco, - José Clemente Pereira, - Cônego Januário, - Gonçalves Ledo, -
Bernardo Pereira Vasconcelos, - Frei Francisco de Mont’Alverne, - Frei S. Carlos, - Frei Sampaio, -
Marquês de Barbacena, - o Regente Feijó, - Visconde de Cayru, - Honório Hermeto (depois Marquês de
Paraná), - Visconde de Itaboray, - Evaristo Ferreira da Veiga (a quem a maçonaria decretou a maior
cerimônia fúnebre de que rezam os seus anais), - Marquês de Mont’Alegre (Costa Carvalho), - Visconde
de Jequitinhonha (Montezuma) Vergueiro, - Theophilo Ottoni, - Visconde de Inhaúma (a quem sucedeu o
Dr. Félix Martins), - Francisco José Furtado (a quem sucedeu o Barão de Angra).
É importante não deixar de reconhecer o intenso e continuado trabalho feito por uma parcela significativa do clero
brasileiro em favor da luta pela Independência, bem antes de sua proclamação e também depois dela. O
sentimento por parte do clero à liberdade, que tanto o distanciou do clero da América Espanhola, integrou-o em
todos os movimentos da Independência, que ostentam, entre seus mártires e heróis, numerosos padres.
Eles não se restringiam à palavra dos púlpitos nem aos escritos, mas se afirmavam na ação, combatendo até pelas
armas e no exercício de cargos legislativos e executivos. Muitos dos manifestos em favor da Independência foram
redigidos por padres.
 O Jesuitismo em Diamantina

“A bola que lancei quando brincava no parque ainda não tocou no chão.”
(Dylan Thomas, “Se brilham os faróis”).

O pensamento liberal era o que predominava nos jornais de Diamantina e uma das discussões existente era a
premente necessidade de afastamento da Igreja local da vida civil da cidade; exigia-se a separação do poder
espiritual do poder político.
A intromissão em assuntos no poder temporal exercida pelo Bispo Dom João Antônio dos Santos e de todo o clero,
na visão dos liberais diamantinenses, constituía-se em usurpação de competências. O jornal Monitor do Norte foi o
mais exigente e crítico em relação a isso, mas não o único. As expressões jesuítas e jesuitismo introduzidas nos
artigos, com cunho pejorativo, podem ser encontradas em quase todos os jornais.
O jornal O Estudante (1873 – ed. 11), publicou extenso artigo intitulado “A ameaça Jesuítica, reclamava da posição
assumida por parte do clero, junto aos leitores do jornal, orientando para que fossem canceladas as assinaturas, e
consequentemente perturbando as suas finanças.
- A ameaça de alguns jesuítas para devolverem as suas assinaturas, por motivos que já dissemos no nº 9
deste jornal, que se efetuou envergonharam-se de seu vil projeto. Não, jesuítas nunca procureis
ignomínias para sepultar a seus contrários, mas sim, debatei, escrevei, refutei; pois para isso tendes a
palavra, a mão e grandes inteligentes. Pois por esse meio será honroso o combate.
Com forças iguais, será gloriosa a vitória!
Mas dizem eles, ‘não queremos sujar-nos com tão vil canalha, é nos grande ignomínia sustentar
polêmica com os ímpios’. Pesemos suas palavras. Dizem eles, que é grande ignomínia refutar-nos. Sim, é
grande ignomínia refutar-nos da maneira que fazem, a saber: com a maledicência e excomunhão.
Por meio da maledicência, os jesuítas exageram os defeitos dos seus adversários; e dão-lhe os epítetos
os mais imerecidos, como, inimigos de Cristo, ímpios, blasfemadores, hereges, etc., etc., etc.
Por meio da excomunhão pretendem restabelecer a idade média, que um só oceano ou ameaça de
excomunhão faziam vacilar o trono do Rei, e a vontade dos povos, de maneira que os povos e Reis eram
bonecos de cera nas suas mãos.
Ah! É esse o modo de refutar que é ignominioso. Portanto, jesuítas, deixai essas armas antiquadas e que
já estão enferrujadas, e tomai as armas do século XIX, do século das luzes; estas armas são jornais,
escolas do povo. Se pretendei vencer-nos, usam deste modo de refutar; porque os teus adversários se
confessarão vencidos e submissos prostrarão aos teus pés, chamando – viva o jesuitismo!
Se usardes da maledicência e calúnia, não nos vencereis, porque, enquanto colheres para seu partido 30,
40 iniciarão no campo inimigo; mais ainda te chamarão - covardes! Portanto, jesuítas, escolhei o
combate da pena.
A queixa maior contra a Igreja diamantinense era o modus faciendi utilizado para impor as suas ideias. A fala de
Cristo, “Dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, era ignorada, na visão dos contrários, por aqueles
que detinham a prerrogativa de fazê-lo.
Utilizando-se do concílio de Trento (1545 - 1563), em que ficou canonizada a expressão “a hierarquia foi instituída
por Deus”, e afirmava que essa hierarquia é composta de bispo e padres e, por conseguinte, podiam imputar
anátema a quem negasse esta verdade.
“Deus é confiada à instituição da Igreja, como monopólio.”
Estas afirmações de hierarquia não são gratuitas; nelas repousavam uma convicção de uma autoridade sem
concessões e com direito exclusivo sobre quase tudo.
E, como não poderia ser diferente, esta posição era combatida com veemência por meio de artigos dos jornais com
palavras de enfrentamento, ora verdadeiras, ora em ilações descabidas.
Pesavam, assim, aos padres, acusações de intromissão na política; ao bispado a interferência em demissões e
nomeações de párocos não e ou alinhados ao pensamento da prelazia do Palácio; aos fiéis a indicação ou obrigação
de votarem em candidatos que convinha ao clero, e mais, acusações de que vigários teriam autorização para
negociar indulgências e missas em troca de votos. Tudo isso estava exposto em artigos e avisos nas colunas dos
jornais, inclusive graves imputações e suspeitas da utilização das confissões para intimidações políticas.
O jornal Monitor do Norte generalizou e pôs em suas letras:
Acostumados a tomar parte em negócios políticos dos Reinos e Impérios desde idades remotas, embala-
se a ideia de que no Brasil, melhor do que em outro país da Europa, por ser um Império novo, podia ele
reinar, dominar, e governar, pondo em prática as artimanhas em (que) é useiro; mas infelizmente para
ele o Imperador do Brasil, embora tarde, pode subtrair a terrível influência, e compreender, que em vez
de ser uma verdade o antigo ditado de que – o clero e a nobreza são sustentáculos do trono – isto não
era mais do que uma mentira infame, uma burla; e que a hipocrisia com hábito de monge, que se
introduzia nos paços reais e imperiais à título de confessor da rainha, conselheiro do rei e preceptor dos
príncipes, nada era mais do que infernal demônio que postando-se debaixo do trono somente procurava
ocasião azada para derrubá-lo.
Quem mais insinuante do que um chamado ministro de Cristo? - Ninguém.
Na visão destes a pregação “jesuítica” promovia o obscurantismo, o egoísmo, a superstição e a ignorância da
população, tendo sempre por máxima: Crê e faz o que digo; e não imites o que faço. Veja-se o poema abaixo para
aquilatar o nível de inconformismo e devassidão:
A Obra do Diabo
Um dia... pôs o diabo
Meditar sobre o abismo,
Coçando o ígneo rabo
Ideou o jesuitismo.
Eureca! Bradou contente
Achei o mal: de repente
Estourou. O fogo em chama
Iluminou lhe a figura...
E bordava cada flama
Sinistra caricatura.
O Diabo foi inventor
Do seu colega no mal.
É exato: como autor,
Bateu palmas ao rival.
As bruxas cantaram coro...
Dispara o mundo um estouro,
Sinal de grande alegria.
Os cascavéis chacoalharam,
E depois... pôs-se a pensar
Nas cores, nos fins, nos meios.
Qual o modo de acabar
Sua obra sem receios?
A sua observação
Deu-lhe da coisa um borrão.
Isto é, uma sotaina,
Olhar de terna clemência,
Tempestade que se amaina,
Vício cheio de inocência.
Sem assinatura
Jornal Monitor do Norte (21/03/1875 nº 15 pág. 4).
Os tais dos "jesuítas" no dizer de Castro Alves; "Os vândalos sublimes do Cordeiro, os Átilas da fé", são
recursos arcaicos para combater todo o colonialismo. À época os jesuítas eram pura lembrança. No
século XVIII, o marquês de Pombal já havia expulsado os jesuítas e, em seguida, a própria Igreja
extinguiu essa ordem. Jesuíta torna-se metáfora”, explicou o Professor José Moreira de Souza.
O Prof. Antônio Gaio Sobrinho, reforça a explicação do Prof. José Moreira de Souza:
Em meados do século XVIII, o ensino jesuítico, na opinião de seus adversários, estava envelhecido,
petrificado e anquilosado, incapaz de atender às necessidades novas, advindas com a era do Despotismo
Esclarecido.
Em Portugal, entre outras razões adversas, intervinham ainda, para tornar mais acirrada essa
campanha tenaz contra o jesuitismo, dois elementos de propaganda contra eles: o monopólio do ensino
que eles exerciam desde 1555, quando D. João III lhes confiou a direção do Colégio das Artes, e a miséria
econômica e intelectual do reino, pela qual esses religiosos eram apontados como os principais
responsáveis...
Por esses e outros motivos, em 1759, o Marquês de Pombal, todo poderoso ministro de D. José I,
conseguiu o banimento dos jesuítas, ‘como se nunca houvessem existido nos meus reinos e domínios,
onde tem causado tão enormes lesões e tão grandes escândalos’. No Brasil, o decreto de expulsão foi
executado em abril de 1760.” (Histórias da Educação em São João del Rei, ano 2000, FUNREI).

 Os Felício dos Santos e Matta Machado

A GUERRA que aflige com os seus esquadrões o Mundo, / É o tipo perfeito


do erro de filosofia. (Fernando Pessoa – Ficções do Interlúdio).

O Jequitinhonha, em 1/11/1862, edição Nº. 5, Ano II, acirrou a animosidade entre as famílias (Felício) dos Santos e
Matta Machado com origem nas disputas políticas entre os Drs. Antônio Felício dos Santos e João da Matta
Machado; embora ambos se proclamassem liberais e estivessem presentes em algumas associações políticas no
plano municipal, militavam, porém, com ideias divergentes.
Publicou o jornal, então, um “poema”, não somente com figuras de linguagem ceivadas de ironias, mas também,
dando os nomes dos bois.
MACHADO
Machado de ferro e aço,
Quando pilhas um cachaço
Ai, fazes golpes mil:
Agora perdeste o pulo,
Pois fizeste um golpe nulo,
Embora com fino ardil.
Machado bem considera,
Já não é quem dantes era
Do Serro a pesada Cruz:
A CANDIDEZ é perdida,
É negrume a tua vida,
Tensa a forma de avestruz.
Machado, sentido! Tento!
Evita golpes ao vento,
Olha bem, tem reflexão:
Lembra pois que teu cunhado,
Que fizeste teu soldado,
Não é teu brinquedo, não.
Machado, (fatalidade!)
Vê que por tua vontade,
Sobrevêm-te um furacão:
Perdeste, Machado, a cunha:
Tal desastre quem supunha?
Machado, tu vais ao chão.
Machado, não tem corte,
Do despeito n’transporte
Te criaste um CABRON:
Perdeste o olho, coitado!
E teu cabo já quebrado,
É lenha de alto tom.
Desculpas com tanto enredo,
Com tanto horror, tanto medo,
T’assegura as posições?
Machado, e o consistório?
Vais perder o responsório...
Ah! Quantas satisfações!
Machado, ferro brutesco,
Se esqueceu do parentesco,
Em que colocado está:
Do crime, que ao outro acusa,
É ele mesmo que usa,
De que se arrependerá.
Machado todo orgulho,
Quer ser astro luminoso
Do credo conservador:
Mas por fim ficar provado,
Que o serrano eleitorado
Não confessa seu fulgor.
Chapinha de pelotica,
Do Rio manda, e explica,
Ser essa a combinação:
Tomou fogo de caixeta,
O sal Sybilla careta,
Assim provou a eleição.
Queira o triste queixoso,
Dar ao LAGARTO mimoso,
Assento Provincial:
Também Caldeira galhardo,
Valente Rio Pardo,
Entrava no CARNAVAL.
Que belas CARICATURAS,
Pitorescas CRIATURAS,
O MANDÃO não escolheu!
Um bando de mascarado,
Desta sorte fabricado,
E gente de peito seu.
Que pobre cabeça tonta!
Nem pode fazer mais conta,
Não sabe mais calcular:
Então ficavas contente,
Qu’Herculano, teu parente,
Na chapa pudesse entrar?
Mas um lugar lhe compete,
- Os seis se fizeram sete –
Oh que bolas d’estupor!
Não faz mal a concorrência,
Uma vez qu’essa Excelência
Se diga – Conservador.
Querubim tem dignidade,
Sermãozinho falsidade,
E mente o Campos Doutor:
Doutor Pedro, ess’alma pura,
Protege a candidatura,
Do parente, com ardor.
Que reserva! Que despeito!
Em honra de seu proveito!
Doutor Pedro ficou só:
Não pode levar a poda,
Porque p’ra fora da roda,
Toca o Machado à cipó.
Eis o Machado em apuros,
Da razão saltando os muros,
Namorando seu Thomás
Ao LAGARTO trança o braço,
Ao progresso dando um passo,
À moda – BALÃO – SEM – GÁS.
E vós, ó Conservadores,
Redobrai vossos temores,
Recebi meu verso vero dó,
O oneroso CRUZEIRO:
Esmaga o partido inteiro,
O transforma em leve pó.
Poeta Sem Nome.
 Conservadores e Liberais nos Distritos – Gouveia e Datas
Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o que eu suponho,
Corre um rio sem fim.
(Fernando Pessoa/ Cancioneiro)

As disputas entre os conservadores e liberais se deslocavam, também, para os certames distritais. Os liberais eram
os francos vencedores das disputas eleitorais na sede do município, mas não tinham unanimidade nos distritos e
arraiais, onde os resultados dos pleito se dividiam.
- Um caso interessante aconteceu entre as comunidades de Gouveia e Datas.
A Gouvêa, sede do distrito, e a Dattas, um de seus arraiais, travavam disputas de secessão; Gouveia, na ortografia
atual, detinha hegemonia, e Datas lutava por sua autonomia.
“A rivalidade envolvia, em princípio, aspectos menores, quase um bairrismo”, como afirmou o Prof. José Moreira de
Souza, e que se iniciara a partir de 1842, mas que tinha o seu auge na concorrência no campo da política. Uma
disputa que levou anos para ser resolvida institucionalmente, e para que a rivalidade entre as comunidades
perdesse substância.
As competições políticas entre os dois lugares contaminavam as populações que se hostilizavam com apelidos
depreciativos. Os nascidos em Gouveia eram chamados de Cobu (prenda culinária) e aos de Datas eram chamados
de Broa (referente a um tipo de pão de milho).
Em Gouveia predominava o partido conservador, conduzido pela família Alves Ferreira, tendo no deputado
provincial Roberto Alves Ferreira Tayoba Junior, seu maior expoente político, que exerceu o mandato durante a 21ª
Legislatura, 1876 - 1878. Roberto Tayoba era industrial, dono de lavras e escravos; comercializava alugando ou
vendendo, e comprando escravos.
Seu pai, o major Roberto Alves Ferreira Tayoba, foi vereador na Câmara Municipal de Diamantina, e foi substituto
do administrador dos Terrenos Diamantinos. No período em que esteve na interinidade do cargo de administrador
dos Terrenos Diamantinos (1856) se envolveu em polêmica que repercutiu na Câmara Provincial, tendo sido
acusado de ter compactuado com o povo invasor da lavra da Lagoa Seca, à margem do rio Jequitinhonha, do qual
resultaram pelo menos seis mortes. A lavra pertencia ao liberal João Ferreira de Aguiar. Razão que, na visão dos
deputados do partido liberal, norteou, ao fim, o evento.
O major Roberto Tayoba morreu em julho de 1885, aos 73 anos, noticiou o jornal de Ouro Preto, A Província de
Minas, órgão do Partido Conservador.
O prestígio da família Alves Ferreira se estendia à Corte; Quintiliano Alves Ferreira, o mais empreendedor da família,
possuía o título de Barão de São Roberto. Para sua lapidação de diamantes, com 18 rodas, foi concedido o título de -
Imperial - e pode desse modo, incluir a palavra Imperial em sua razão, ficando com a seguinte denominação:
Lapidação Imperial Vitória Augusta. O barão de São Roberto participava de vários empreendimentos industriais,
com destaque para fábrica de fiação e tecidos de algodão,Companhia Industrial São Roberto, sob a razão de
Sociedade Mercantil Alves, Ribas, Ribeiro e Companhia.

Fábrica de Lapidação em Gouveia – Família Alves Ferreira – 23/09/1880 - Jornal Gazeta de Notícias - RJ
Fábrica de Chapéus em Gouveia – Família Alves Ferreira 8/11/1892 - Jornal O Pharol – RJ

Notícia retirada do Diário Oficial pelo jornal Diário de Notícias (RJ) – 1880
Aponta que Quintiliano Alves Ferreira (10) foi “agraciado” com o título de Barão de São Roberto.

Fábrica de Fiação e Tecidos – Família Alves Ferreira - Jornal Liberal do Norte – 8/12/1887
Publicação dos Estatutos da Cia Industial São Roberto
Eleição em Gouveia – 1862

Cronstadt: ilha da caribenha, próximo a Venezuela

A relevância política de Gouveia era atestada por artigos de jornais. Em 1850, o Jornal do Commercio, RJ, publicou a
notícia de o “Arraial da Gouvêa, incluindo Dattas havia mais de 4 mil almas. É tão povoado, que dá 14 a 16 eleitores,
mesmo pela lei de 19 de agosto...”
Em 1890, na edição 23, de 12/02, o jornal ouro-pretano ‘A Ordem’, faz loas ao Sr. Roberto Alves Ferreira Tayoba
Junior, quando publicou a seguinte notícia:
Há mais de um ano, portanto desde muito tempo antes da revolução de 15 de novembro, o nosso
distinto amigo, Sr. Roberto Alves Tayoba Júnior, residente na Gouvêa (Diamantina), trabalha
acuradamente n’um projeto de Constituição para Minas Gerais, tendo em vista o princípio federativo e a
autonomia dos municípios.
Aguardamos com interesse a publicação do trabalho deste nosso inteligente amigo, cujos sentimentos
patrióticos e elevado caráter há muito apreciamos devidamente. Realizada essa publicação, daremos do
projeto do digno mineiro, Sr. Roberto Tayoba, notícia desenvolvida, como requer o assunto de tal
magnitude e oportunidade.
Roberto Alves Ferreira Tayoba Junior foi assassinado em sua cidade Gouveia, no dia 1 de junho de 1890.
A visão política conservadora de Gouveia tem pronúncia acentuada por ocasião do movimento liberal sedicioso
ocorrido a partir 1842, em Santa Luzia. Nesta ocasião, foi destacado um batalhão do então distrito a fim de auxiliar
as forças do governo imperial. Esse batalhão foi comandado pelo tenente-coronel Luiz José de Almeida e teve
destacada participação para debelar a insurgência dos liberais daquela localidade.
Sob as ordens do barão de Caxias, o tenente-coronel Luiz José de Almeida, agiu com rigor e contundência, sendo
alvo de críticas de seus adversários. Ao final das contendas, o próprio barão de Caxias determinou, através de
ordem de dia, que o batalhão de Gouveia, sob o comando do tenente-coronel, permanecesse no local enquanto,
outros batalhões de cidades prósperas foram deslocados para outras cercanias.
O jornal “O Universal”, de 30 de novembro de 1840, publicou que o tenente-coronel havia chegado à Santa Luzia “a
testa de um numeroso grupo que trouxe daquele arraial e o que queria era impor terror”.

À guisa de ilustração, se pode ver que os soldados da guarda nacional de Gouveia presentes no confronto, com
desejo de liquidar os adversários, dão o grito: “morram os chimangos”. Os conservadores davam esse epíteto
depreciativo de “chimangos” ( ave rapina do sul do país) àqueles indivíduos membros do partido liberal moderado
do Rio Grande do Sul adeptos à monarquia. Por isso, o jornal se refere “os liberais, os amigos do trono do Sr. D.
Pedro II...”.
Outro jornal, “O Brasil: Vestra res agitur”, RJ, de 22 de setembro de 1842, apresenta a mesma forma, informou a
participação do batalhão de Gouveia.

O coronel Luiz José de Almeida andava às turras com o que os jornais publicavam a seu respeito, acusando-o das
práticas belicosas costumeiras que utilizava,e por isso, responde ao jornal O Universal conforme carta que enviou
ao jornal O Brasil:
Em Datas predominava o partido liberal ligado ao Conselheiro Dr. João da Matta Machado e seus irmãos. Era chefe
do partido local o Sr. Serafim Libaneo Horta e tinha como outros líderes, os Srs. José Queiroga e Raymundo Mourão.
O arraial se encheu de regozijo quando da vitória do Dr. Matta Machado para a Câmara de Deputados, vencido o
também médico, Dr. Antônio Felício dos Santos.
O jornal 17º Districto, jornal dos Matta Machado, registrou o fato, em lauto, dizendo que quase todas as casas do
arraial se iluminaram e a população inteira foi à rua para festejar o ocorrido.
Desse modo, quando o Conselheiro Matta Machado foi em visita aos distritos, foi Datas onde mais se festejou a sua
chegada. Uma comitiva de 47 cavaleiros do arraial se juntou para acompanhá-lo na cavalgada, desde o Serro. E
muitos outros se uniram a estes, quando a caravana já se aproximava do arraial.
E o jornal 17º Districto hiperboliza gravando que, ainda longe, uma grande nuvem de poeira anunciou que a tropa
que conduzia Dr. João da Matta Machado chegava mais próximo, e a rua se encheu outra vez de pessoas e
correligionários para recebê-lo. E a comitiva foi homenageada com todas as pompas, foguetórios e, por meio de
discursos, os líderes do partido liberal local saudaram a ilustre visita.
Datas lutava por sua independência política frente à Gouveia, e para tanto na necessidade de se tornar Paróquia e,
alternativamente, se transformar em Freguesia. O partido conservador se movimentava em tentativas e artifícios
para brecar esse plano. Essa luta desde antes já existia.
O partido liberal, quando no poder, em 1848, para diminuir a supremacia gouveana, fez transferir a Paróquia de
Gouveia para Paraúna, alegando que Gouveia não dispunha de padre regular e que sua igreja era de pequenas
dimensões, incompatíveis às honras de uma Paróquia. Colocava que a população de Paraúna tinha de percorrer
muitas léguas para chegar à Gouveia e que Gouveia não tinha população suficiente.
O que consta, na visão dos conservadores gouveanos, era exatamente o inverso, isto é, a intenção era dificultar o
deslocamento dos conservadores, em maior número residentes em Gouveia, diminuindo o número de eleitores
votantes, e assim os liberais lograrem êxito nos pleitos eleitorais.
Datas solicitava ao bispado transformá-la em Paróquia, ao que o bispo não concordava, mas se omitia em
apresentar a justificativa claramente, e por isso, as lideranças locais acusavam ao bispo de estar comprometido com
os conservadores gouveanos. Os habitantes de Datas recorriam, também, à Câmara Provincial para atingir o seu
intento, por meio da aprovação de projeto para lhe conferir o status de Freguesia.
Na Câmara, se travava grande discussão e os deputados liberais, na ocasião em maioria, estavam dispostos a votar
favoravelmente ao projeto.
Dr. Bernardino da Cunha Ferreira, diamantinense, deputado pelo partido conservador, foi o que mais se opôs a ideia
e usou dos mais diversos argumentos, na tribuna, contra o projeto.
Em favor de Datas estavam os deputados Paraíso, Galvão, Washington, Olímpio e durante os debates outros
deputados liberais se sucederam em apartes contrários ao Dr. Cunha Ferreira. O calor da discussão aconteceu desse
modo, como registrou o Diário de Minas de 16/10/1866, Nº 101, propriedade de J. F. de Paulo Castro:
O Sr. Cunha Ferreira observa que não é a primeira vez que se propõe – elevação do distrito de Datas à
freguesia, sendo por esse fim desmembrada da paróquia da Gouvêa, município de Diamantina; o que a
assembleia não tem admitido, ou adotado, por não militar razão alguma de utilidade em favor de
semelhante medida: Está convencido que se for, como deve ser, ouvido o respectivo diocesano (D. João
Antônio), este com justiça há de confirmar o que ele orador acaba de dizer... (não aprovação do
projeto).
O Sr. Cunha Ferreira (continuando) diz que pode uma pessoa ter partido político, e que isso não exclui a
moderação, e nem disse o contrário de S. Exc.ª Revma. sabe que ele pertence ao partido liberal, vota
com ele, e até votou na saturnal de 9/08/1863, que passou com o nome de eleição livre, e é por isso
mesmo, e porque ele orador confessa e proclama as virtudes, saber e ânimo justiceiro de S. Exc.ª Revma.
que o que mesmo há de, com imparcialidade e verdade que presidem a todos os seus atos, informar se
convém, se há utilidade para serviço religiosos, que se eleve à paróquia o referido distrito.
Quando ele orador, sustenta que projeto em discussão, arma política, que tende a enfraquecer a
paróquia da Gouvêa, onde o partido dominante nunca pode vencer, nem mesmo com força armada e
policial, como aconteceu na última eleição de eleitores.
Prosseguindo mostra o orador que o projeto é meramente um jogo para as eleições futuras, cifra-se na
operação seguinte: diminuir o número de eleitores de uma freguesia conservadora, e nada mais;
acrescenta que é luxo ou vaidade do partido liberal, porque ele para vencer no 6º Distrito não precisa
nem criar de novas freguesias, e nem de suprimir, como atualmente – e que é sempre governo que faz,
como bem quer, as eleições no país. Sobre a distância entre o Arraial de Datas e a sede da freguesia, que
é o Arraial da Gouvêa, é ela de légua pequena, e nesta parte ele orador não pode ser contestado pelo
autor do projeto.
O Deputado Cunha Ferreira prosseguiu invocando a atenção da Assembleia que a criação da Freguesia do Rio
Manso em cidade, e parte do seu território para o Rio Preto, ocorreu sem reclamos da população e nem mesmo
audiência prévia do bispo diocesano. Mencionou que se Gouveia pertencesse ao partido liberal não se discutiria
pelo 6º Distrito e por seu representante, se parte da população que não excedia de 6.000 almas seria retalhada.
E a discussão se alongou e os dois lados se fizeram presentes. Questionando a ilegalidade, o deputado Cunha
Ferreira, acusou a falta de apensos ao projeto da representação dos habitantes e a aprovação do prelado.
Sr. Galvão (interpela o Sr. Cunha Ferreira): - O nobre deputado parece que não quer a freguesia de Datas, porque a
da Gouvêa fica pequena.
Sr. Cunha Ferreira: - não é por isso, é porque é um mal que...
Sr. Washington: - Mal político?
Sr. Cunha Ferreira: - a maioria já se pronunciou, bem que poucas palavras, e por apartes. Sei, diz o orador, que
advogo uma causa...
Sr. Washington: - Perdida.
Sr. Cunha Ferreira: -   que tem que passar, como tem passado outras, que...
Sr. Olímpio: - temos recriminações.
Sr. Cunha Ferreira: - São verdades. Sabe, pois o orador que já perdendo o seu tempo, mas não se importará com
isso, porque menos para constar, ficará consignado nos anais da presente seção...
Sr. Washington: - um protesto.
A discussão seguiu adiante, com o deputado Cunha Ferreira pronunciou a assertiva:
Que em Datas possui apenas uma igreja, a do Espírito Santo e que a Nossa Senhora do Rosário estava
por ser finalizada há 8 anos; que a sua população que outrora florescente, hoje estava em crescente
decadência; que em tempos passados não se encontrava ali uma única casa fechada; que tinha
comércio e no presente se dá o inverso e que as casas estão em ruínas, existem muitas fechadas.
A população tem-se transferido para o município de Conceição, às margens do rio Cipó, e outras
localidades diamantinas, em busca de serviços.
O deputado Galvão afirmou que existem em Datas 24 eleitores, e que isso corresponde a 12.000 almas. Mas, o
deputado Cunha Ferreira ironizou refutando que isso é o inverso, Gouveia é que tinha 21 eleitores e não 24, e que
além disso possuía lavoura, criação de gado, com aumento natural, o que não acontecia com Datas que se ocupa
exclusivamente da mineração.
E que Gouveia e Diamantina se assemelhavam, têm características parecidas em termos de mineração, agricultura e
criadores; a população era estável. O deputado Cunha Ferreira recebeu o apoio do colega C. Alvim, a quem
agradeceu, e finalizou conclamando a minoria a votar contra o projeto que elevava Datas à paróquia.
Foi apresentado o requerimento para criação da Paróquia de Datas – 1º de outubro de 1866. Um mês depois, sob a
lei nº 1357 de 6 de novembro de 1866, o Presidente da Província, Sr. Joaquim Saldanha Marinho, decretou a
elevação à categoria de Paróquia o Distrito de Datas, compreendendo o Distrito de Pouso Alto, do município de
Diamantina, e todos os direitos e deveres relativos.
É importante colocar que no século XIX havia na sociedade gouveana as mesmas virtudes e vícios que existiam em
todos os lugares do país, e como Aristóteles disse: “o fogo arde tanto aqui quanto na Pérsia, mas o que se pensa
varia diante de nossos próprios olhos.
O tempo de eleições era o momento das diferenças se pronunciarem, os ânimos se exaltarem, e as formas e
modelos empregados remetiam a comportamentos, muitas vezes, condenáveis de ambos lados. Gouveia com sua
veia Conservadora e Datas Liberal. Datas estava alinhada aos liberais diamantinenses, enquanto Gouveia, se
propugnando conservadora, era oposição à sede, e assim sendo sujeita as discriminações. Todas as eleições neste
período foram atribuladas.
Nas eleições de 1863, houve a necessidade do emprego da força, ocorreu o roubo da urna, e novas eleições e novas
“compressões” e ameaças, utilizando-se de “meios compatíveis com o proceder dos dominadores, ou antes dos
destruidores do voto livre, foram empregados em elevada escala, e infrutíferos foram.
O que não obteve a baioneta da polícia, os Nemesios e Cardinos¹, eliminações na Freguesia de Gouveia, em 1863,
alcançou a supressão desta, e retalhamento d’aquela. Tudo sancionado pelo Governador da Província, Sr. Saldanha.
Em Datas, nenhum conservador animou-se a votar”. (O Conservador – Ouro Preto – 13/04/1867).
¹ - O autor do artigo pode ter se referido sobre aqueles que fazem ‘jogos públicos (Nemeu) de modo sujo (Cardina).
 O Direito Penal – Pena de Capital

“... se nos limitássemos a conceber o homem submetido a uma lei (qualquer


que ela fosse), esta lei devia ter em si qualquer interesse que o estimulasse
ou constrangesse, uma vez que, a lei, ela não emana de sua vontade, mas
sim que a vontade era legalmente obrigada por qualquer outra coisa a agir
de certa maneira.” (Fundamento da Metafísica dos Costumes – I. Kant).

Mantendo a relação de Metrópole e Colônia, no Brasil reverberavam as ordens jurídicas portuguesas ou as


denominadas Ordenações do Reino. Primeiramente foram as Ordenações Afonsinas, até 1.514, em seguida as
Ordenações Manuelinas, até 1.569, e por fim, as Ordenações Filipinas cujos princípios influenciaram as legislações
até a Proclamação da República.
Durante o período colonial e imperial, as ordenações não conseguiam ter seu pleno emprego no Brasil, ora em
decorrência da estrutura organizacional dos tribunais, tanto físicas e operacionais, ora porque faltavam juízes,
promotores e advogados, e escrivães. A escusa do exercício da função de Juiz Municipal era frequente com
alegações diversas, mas que na realidade expunha o constrangimento social e político para desempenhar as
atribuições de modo imparcial, como exige a função.
De muito tempo luta a Câmara Municipal da cidade Diamantina com repetidas nomeações de Juiz
Municipal, e com tanta infelicidade que jamais obteve a existência de um proprietário, pois que todos se
escusam; e apenas um ou outro cidadão aceita este cargo interinamente. Agora, porém ausentando-se
Luís Agostinho Gonçalves Seixas, que exercia interinamente, e achando-se fora do país José Joaquim
Neto escolhido por V.Exa., passou esta Câmara a nomear alguns cidadãos, que se achavam nas
circunstâncias da Lei, e todos se escusaram pretextando um moléstia, outros ignorância de práticas
judiciais, e desta sorte inexiste no Termo um de Juiz Municipal.
A Câmara reclama a V.Exa. providências a respeito, podendo certificar desde já a V. Exa., que tem
esgotado todos os meios ao seu alcance, até mesmo os persuasórios. A Câmara certa em que o defeito é
da Legislação, foi ver ao mesmo tempo a V.Exa., que não tem empregado meios de coação por não
encontrá-los autorizados por lei, além de que entende que qualquer nomeado têm fáceis maneiras de se
subtrair ao exercício deste cargo, ainda quando constrangido a aceitar, pois nada é mais fácil do que
lançar-se de suspeito em todas as causas, dar parte de doente e por essas razões, a Câmara espera que
V. Exa. a instrua sobre o que deve fazer em tão crítica posição a fim de que não padeça a administração
da justiça.”  (Arquivo Público Mineiro, PP 1/33 Cx. 74, 20/6/1838).
Além disso, as dificuldades eram acrescidas pelos arranjos que ocorriam na sociedade, por meio dos avanços dos
aventureiros em busca das ambicionadas riquezas, em função da precária formação educacional e, ainda, pelas
enormes distâncias entre as comunidades: tudo isso dificultava o exercício da justiça.
Outras razões que fizeram com que as ordenações sofressem significativas adaptações era a necessidade de agir
rapidamente para sufocar as rebeliões e na caracterização peculiar dos delitos cometidos na colônia.
As Ordenações receberam seus nomes considerando o período do reinado em que foram promulgadas, sendo
assim, Ordenações Afonsinas correspondeu ao reinado de D. Afonso V, (1514); Ordenações Manuelinas
correspondentes ao reinado de D. Manuel I, (1.603); as Ordenações Filipinas porque foram promulgadas no período
de dominação espanhola cujo trono da Espanha era ocupado por Felipe II.
As Ordenações Filipinas foram utilizadas na fundamentação para a Constituição de 1.824, e somente substituídas
integralmente a partir de 1916.
As Ordenações apresentavam cinco livros que correspondiam: a organização judiciária; as competências dos setores
administrativos; as relações da Igreja com o Estado; o código de processo civil; o código de processo comercial. Na
compilação de seus artigos, serviram-se para fundamentar, subsidiariamente, em primeiro plano, do Direito
Romano e, em plano inferior, pelo Direito Canônico.
Elas se sucederam buscando, essencialmente, dar lugar às inúmeras leis que iam sendo promulgadas no decorrer de
cada período e nas necessárias atualizações temporais de qualquer legislação.
É de se destacar a importante participação do período administrativo do Marquês de Pombal, a partir de 1.769, no
qual foram adaptadas às Ordenações Filipinas, novos critérios de interpretação, integração e aplicação das normas
jurídicas.
Foi através da denominada Lei da Boa Razão, cujo objetivo principal era conferir à boa razão princípios de direito
natural e das gentes. Foram incorporadas às leis os atos e costumes das sociedades suprimindo-se as chamadas
glosas (notas explicativas) e opiniões (doutrinas).
Durante o período oitocentista, portanto, prevaleceram no Brasil as Ordenações Filipinas; o código penal estava
contido no Livro V e se fundamentava especificamente nos preceitos religiosos. Os crimes e delitos eram tipificados
como pecados e ofensas morais, e os objetivos principais eram punir as heresias, as apostasias e feitiçarias. Atingia,
também, àqueles que praticavam o benzimento sem a chancela dos votos clericais.
As penas aplicadas eram severas e cruéis: açoites, degredo, mutilações, queimaduras e, a mais severa, a pena de
morte. Tinham a premissa de difundir o temor horripilante pelo castigo, bem como, marcar indelevelmente àqueles
que, sendo condenados, servissem de exemplo permanente.
Eram aplicadas preferencialmente em espaços públicos, nos troncos; da pena deveriam resultar cicatrizes físicas e
morais para sempre. Era costume escolher um ponto mais alto da cidade, os chamados Morro da Forca.
Poderia, ainda, serem aplicadas as chamadas penas perenes, entre elas a prisão perpétua.
Nos casos de pena capital, os corpos poderiam permanecer expostos, suspensos para que putrificassem lentamente
até que se despencassem ao solo para que se recolhessem depois apenas os ossos, que era realizado pela Confraria
da Misericórdia, ocasião feita apenas uma vez por ano. A única reserva que se fazia é que a pena capital precisava
ser homologada pela Coroa.
Havia, também, as penas infamantes, as que confiscavam-se os bens dos condenados e que os submetiam aos
galés, serviços públicos forçados. Como não havia critérios firmes, dependiam da austeridade e severidade de cada
tribunal ou juiz. Por isso, toda sorte de pena eram aplicadas particularmente, não sendo elas aplicadas,
necessariamente, de modo homogêneo para o mesmo delito.
A partir de 1822, acompanhando a Independência, o código penal recebeu mudanças importantes, influenciadas
pelos ares liberais vindos dos Códigos Francês e Napolitano, e da doutrina de Bentham (Jeremy), no qual era
apregoado que o direito está contido na moral e a função do castigo não é a vingança, mas a prevenção do crime.
Todos devem desfrutar de iguais direitos e oportunidades.
Essas mudanças vinham ao encontro dos clamores populares para que fossem abolidas práticas desumanas e para
que se dessem fim à barbaridade. Foram os pensadores iluministas que orientavam uma nova ideologia, um
comportamento mais humano aplicado à justiça e contrário a arbitrariedade; onde houvesse essencialmente a
prevalência da razão.
E mais uma vez, liberais e conservadores se enfrentavam. A pena de morte era o mote da discussão. As alegações
para manutenção dessa pena eram pueris. O conservador Bernardo Pereira de Vasconcelos entra em cena alegando
que essas penas eram:
... necessárias, tendo em vista a ausência de estabelecimentos correcionais”.
A pena de morte, “até é vergonhoso que uma associação qualquer, uma cidade, e pior, uma nação,
julgue que a sua segurança depende da aniquilação de um ou mais indivíduos, que pode prender, meter
em cadeias e que se acha hábil para levar aparatosamente ao patíbulo. Não é necessidade. É ódio.
Mas, quanto aos escravos? Em relação aos escravos, a conversa era outra: “Tendo em vista que para
estes, o elemento vil da população nacional, não existe direito nem leis, não tendo ainda os cativos
medo da morte pois não gozam a vida tal qual os homens livres. Daí, a necessidade e a possibilidade de
se manter a pena capital para o elemento servil”. (Discurso de Bernardo Pereira de Vasconcelos, na
Câmara).
Os liberais respondem do outro lado através do deputado baiano Antônio Pereira Rebouças, liberal e abolicionista,
que se destacou na oposição à pena de morte afirmando que essa pena estava direcionada aos escravos; começou
pelo direito natural, invocou o direito divino sobre a vida e terminou invocando a constituição, aludindo o
fundamento jurídico:
Os escravos não podem assaz prezar a vida, porque assaz não a gozam; se para alguém a morte é
menos repressiva é para eles, que sem nenhuma esperança se insurgem e morrem brutalmente; os
suicídios mais frequentes são os deles; que creem na transmigração, creem que morrendo passarão
desta para sua terra.
Faça-se para os escravos uma ordenança separada; e por eles não façamos tamanho mal aos cidadãos,
aos homens livres. Ninguém pode tirar a vida do homem, que não a deu nem pode reparar; tirá-la é
contra o Poder Divino, está fora do poder humano; nenhum legislador pode decretar a pena de morte.
Um caso de condenação à pena capital ocorreu em Diamantina, em 1837, quando foi julgado Fortunato
Africano (escravo vindo da África), escravo de José Nunes de Sant’Anna, acusado de ter cometido
homicídio de Ernesto Crioulo (escravo nascido no Brasil), escravo de Antônio da Cunha Valle. O crime
ocorreu na Serra denominada Lomba, em quilombo em que com outros se achavam.

O caso foi a julgamento presidido pelo juiz de Paz, sendo o réu condenado à pena última pelo júri de Diamantina.
Protestando contra a sentença, foi solicitado novo julgamento.

Um novo julgamento ocorreu na Capital, Rio de Janeiro, sendo a pena modificada para galés perpétua. O delito foi
provado por testemunhas de ouvir, e por informantes que assistiram, e por confissão do réu... as circunstâncias
agravantes referidas no art. 192 do Código Criminal, e antes a morte foi cometida por ter o ofendido acometido ao
réu com uma faca, e o ter ferido na cabeça, como consta do processo. (Correio Oficial (RJ) – 13/09/1837).

O mesmo Correio Oficial informou anteriormente que em Diamantina, em abril de 1836, havia sido condenado à
pena capital o escravo de nome Ernesto, pertencente ao Padre Luiz da Encarnação Rangel. Não se conseguiu saber
se a pena foi executada.

Finalmente, no dia 16 de julho de 1858 foi enforcado, em Diamantina, o réu de nome Archanjo, registrou o jornal O
Caracter (MG).

Esse tipo de pena ofendia os conceitos civilizados da sociedade diamantinense. O Jequitinhonha 12/02/1864 - Ano
IV – Nº 141 se pronuncia quanto a pena capital, veementemente contrário:
O deputado Viriato acaba de propor a abolição da pena de morte e sua substituição pela de pena de
galés. Não é de hoje que se clama contra essa pena bárbara, e que revive entre nós o absolutismo e
superstição de outras eras.
Sem justificação no racionalismo, sem base na consciência repelida pelos moços, censurada pelos
velhos, a pena de morte é uma dessas excrescências que mancham o código que as contém, e desonram
o povo que as aplaude. Sem fim correcional, sem ideal, sem alcance sobre o crime – era de esperar que
um dia ou outro alguém se levantasse e no próprio corpo legislativo apregoasse a grande necessidade
de seu desaparecimento.
É um grande triunfo para o partido liberal riscar essa pena triste: lavar nas águas lustrais do liberalismo
a mancha sangrenta que o passado deixou; e arrancar esse véu de luto que levava o abatimento à
fronte da liberdade. Essa proposta simboliza um desses grandes fatos que clareiam uma situação, e
mostram à sociedade seu verdadeiro caminho. É um grande ato de virilidade política.
A Convenção, a Revolução de 48 em Paris fizeram da abolição dessa pena um grande exemplo de
gêneros a política: e a fraternidade estendeu-se ao mundo seus braços amigos.
A proposta há de passar – militam em prol – a natureza humana, a doutrina de grandes criminalistas, e
a voz eloquente de Hugos, de Lamartine, de Rebouças e tantos outros: ela é apoiada pelo grande nome
da nação, que não pode entender o que seja direito quando a violência última, e a mão do carrasco
sufocam numa garganta de um homem o derradeiro grito de arrependimento: passará porque é uma
ideia generosa a entronização da equidade e o triunfo da liberdade no direito, o que quer dizer –
programa da mocidade, aspiração da escola do futuro.
O partido liberal, pode, pois, contar duas grandes vitórias, dessas que não passam e significam épocas –
a escolha de Theophilo Ottoni e a proposta do deputado Viriato: é a liberdade que entra pela Sibéria e a
monarquia que foge para a Turquia. (Diamantina, 2/02/1864)
Ainda que o entusiasmo com a proposta apresentada, a abolição da pena de morte chegou apenas a partir da
Constituição de 1.891, além das penas de galés e a de banimento judicial. Transcrevemos abaixo o capítulo onde
aparece o nome de dois diamantinenses assinando o respectivo artigo da Constituição:
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 24 DE FEVEREIRO DE 1891) –
Abolição da Pena de Morte
Nós, os representantes do povo brasileiro, reunidos em Congresso Constituinte, para organizar um regime
livre e democrático, estabelecemos, decretamos e promulgamos a seguinte:
Art. 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade,
nos termos seguintes:

§ 20 - Fica abolida a pena de galés e a de banimento judicial.

§ 21 - Fica, igualmente, abolida a pena de morte, reservadas as disposições da legislação


militar em tempo de guerra.
João da Matta Machado - 1º. Secretário
Deputados participantes pelo Estado de Minas Gerais
- Dr. Pacífico Gonçalves da Silva Mascarenhas,
- Gabriel de Paula Almeida Magalhães,
- João das Chagas Lobato, idem - Antônio Jacob da Paixão,  
- Alexandre Stockler Pinto de Menezes,  
- Francisco Luiz da Veiga,  
- Dr. José Cândido da Costa Senna,  
- Antônio Affonso Lamounier Godofredo,
- Álvaro A. de Andrade Botelho,
- Feliciano Augusto de Oliveira Penna,
- Polycarpo Rodrigues Viotti,  
- Antônio Dutra Nicácio,  
- Francisco Corrêa Ferreira Rabello,  
- Manoel Fulgêncio Alves Pereira,
- Astolpho Pio da Silva Pinto,  
- Aristides de Araújo Maia,
- Joaquim Gonçalves Ramos,
- Carlos Justiniano das Chagas,
- Constantino Luiz Paletta,  
- Dr. João Antonio de Avellar,
- José Joaquim Ferreira Rabello,
- Francisco Álvaro Bueno de Paiva,
- Dr. José Carlos Ferreira Pires
- Manoel Ferraz de Campos Salles
- Senador pelo Estado de Minas Gerais
- Antonio Olyntho dos Santos Pires   
• Mensagem Final
Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despediu-se, e o reino acabou.
(Fernando Pessoa – O Andaime – Ficções do Interlúdio).

Diamantina,
Das ruas de pedras, das montanhas, das gentes.
“Oxalá que a Universidade, um dia, faça reviver em pensamento,
E em vida, o inquietante desafio,”
A cultura e as tradições da Diamantina.
Do muito nobre e brilhante Districto do Tejuco e Villa!
A cultura latente, pacificamente guardada nos corações.
Escondida nas reminiscências,
Referente a um tempo de glórias que precisam ser redivivas.
E possa ela expandir-se, outra vez, ruidosamente,
Lembranças da alma,
E do brilho do ouro e do diamante,
E que está escondido nas lavras da poesia e do conhecimento.
Jovens, animem-se, alimentem suas almas,
Retornem às trilhas do descobrimento,
E não se conformem com o mundo alheio e incompreensivo.

 Homenagens
Aproveito a oportunidade para fazer homenagem especial aos versados Professores:
A quem sempre faço referência, Professor Antônio Gaio Sobrinho, ele exerceu enorme influência no meu apreço
pela história e por aqueles que a construíram. Professor Gaio, seus livros e suas aulas são de inesquecíveis
memórias e contribuíram para moldar meu amor à cultura barroca e a formação teológica. O Professor Gaio me
ouve sempre, com silêncio respeitoso, às minhas inúmeras impropriedades e carinhosamente me afaga com
corretivos ensinamentos.
E ao grande Professor José Alencar Ávila de Carvalho, de saudosa memória, me fez viajar pelos interstícios dos
sentimentos barrocos, da boa conversa, da orientação dos pensamentos, na bondade e mansidão de um bom
mestre, que me conduziram à apreciação de Räissa e Jacques Maritain.
• Agradecimento
Agradeço, penhoradamente, ao Ilustre e grande Professor José Moreira de Souza, que ao tempo, nos provocou o
desafio de estudar o comportamento político conservador e liberal dessa, outrora importante cidade de Diamantina
e seus belos Distritos. O Sr. colaborou enormemente com suas observações e orientações.
O Professor José Moreira de Souza, gouveano de estirpe, sociólogo de reconhecida importância, não somente em
Minas, é um autor citado em inúmeras referências de produções acadêmicas, quando se estuda Minas Gerais.
É o atual Presidente da Comissão Mineira de Folclore.
Espero não o ter decepcionado muito, sou há muito tempo seu admirador, quisera, em outros Momentos e
Processos, ter tido a oportunidade de conviver mais
proximamente; sua simplicidade, e sua paixão por Minas Gerais, e por sua gente, é exemplo para muitos outros.
Muitíssimo obrigado.
Não se deve perder o sentido lúdico, isto é, o gosto de fazer por gosto o que outros chamam simplesmente o
cumprimento do dever.

Niterói, 2019.
José Carlos Dias
Bibliografia:
• Hemeroteca Digital – Biblioteca Nacional Jornais e Revistas de Minas Gerais, Rio de Janeiro
• Arquivo Público Mineiro – Jornais do Século XIX – Jornais de Diamantina
• Neves, José Teixeira - Periódico Mineiro na Biblioteca Nacional – Anais da Biblioteca Nacional
• Anuário de Minas Gerais
• Os Programas dos Partidos do 2º Império – A. Brasiliense - 1878
• Pinho Tavares, Maria dos Anjos – Raízes da Memória – Um pouco de história
• Santos, Joaquim Felício dos - Memórias do Distrito Diamantino – Coleção Dimensões do Brasil –
MEC
• Gaio, Antonio Sobrinho – Saojoanidades Um passeio histórico e turístico por São João del Rei –
Slogan Comunicação e Marketing
• Russel, Bertrand – História do Pensamento Ocidental – A aventura das ideias dos pré-socráticos
a Wittgenstein - Ediouro
• Antônio Gaio Sobrinho – São João del Rei através de documentos – UFSJ
• Peyrefitte, Alain – A Sociedade da Confiança – Ensaio sobre as Origens e a Natureza do
Desenvolvimento – Editora Liberal
• Carvalho, José Maurício de – Curso de Filosofia à Filosofia Brasileira – Editora UEL
• Gaio, Antonio Sobrinho – História da Educação em São João del Rei
• Dias e Gaio, José Carlos e Antonio Sobrinho – A História dos 120 Anos da São Joanense
• Lacerda, Carlos – A casa do meu Avô – Editora Nova Fronteira
• Cecília Meireles – Antologia Poética – Editora Nova Fronteira
• Nietzsche, Friedrich Wilhelm N – Crepúsculo dos Ídolos ou A Filosofia a Golpes de Martelo – USP
• Lasmar, Jorge – A Diamantina de Dona Sara, São João da Chapada e do Padre Belchior – Editor
Jorge Lasmar
• Stein, J. Stanley – Origens e Evolução da Indústria Têxtil – Editora Campus
• Carvalho, José Maurício de – História da Filosofia e Tradições Culturais, Um Diálogo com
Joaquim Carvalho – Epicurus, Coleção Filosofia
• Mota de Souza, Carlos Aurélio – Antologia de Famosos Discursos Brasileiros – Edigraf
• Foucault, Michel – A Coragem da Verdade – wmf martins fontes
• Wilson, Edmund – 11 Ensaios, Literatura, Política, História – Companhia das Letras
• Pessoa, Fernando – Ficções do Interlúdio – Companhia das Letras
• Nunes, Benedito – Hermenêutica e Poesia, O pensamento poético – Editora Humanas
• Sartre, Jean-Paul – A Náusea – Editora Nova Fronteira
• Rebello Filho, Antonio Dias – Carlos Lacerda meu Amigo – Record
• De Souza, José Moreira – Cidade: Momentos e Processos
• Cava, Ralph Della – Milagre em Joaseiro – 3ª edição, 2014 - Cia das Letras
• Almanak Laemmert – 1861 - 1870
• Reis, Maria de Lourdes Dias – O Jequitinhonha e a Guerra do Paraguai
• Carvalho, Joaquim - Com as Mãos na Razão. Obras Completas
• Pires, Aureliano – Homens e Factos do meu Tempo – Brasilianas Eletrônica - Cia Editora Nacional
– 1939
• Sodré, Elaine Leonara de Vargas - O papel da administração judiciária na construção do Estado
Nacional (Minas Gerais, 1833-1843) – Simpósio Nacional de História – Julho de 2015.
• Furtado, Júnia Ferreira – “O Livro da Capa Verde – Regimento Diamantino de 1771 e a Vida no
Distrito Diamantino no Período da Real Extração” – ANNABLUME - Setembro de 1996.
• Marinho, Cônego José Antônio – História do Movimento Político que no Anno de 1842 teve
lugar na Província de Minas Gerais – 1844.
• Silva, Clarete Paranhos da – O Desvendar do Grande Livro Natureza.
• Tavares, Maria dos Anjos de Pinho Tavares – Percurso Genealógico de Portugal ao Brasil – As
origens da família Pinho e Tavares.
• PAIM, Antônio. A filosofia Brasileira. Lisboa: Ministério da Educação, 1991.

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