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PARÁ
RESUMO
O jambu que faz parte da gastronomia cultural dos paraenses como componente do pato-no-
tucupi e tacacá vem sofrendo grandes transformações com relação a sua utilização. É cultivado por
produtores periurbanos em pequenas áreas, em conjunto com outras hortaliças, sobretudo para atender
o consumo da cidade de Belém e dos principais núcleos urbanos da mesorregião do Nordeste Paraense.
Foi efetuado um levantamento histórico da utilização do jambu, das mudanças com relação e seu
emprego na culinária, para indústria de cosméticos e fármacos e nas práticas usadas pelos agricultores
periurbanos dos municípios de Ananindeua, Benevides, Santa Izabel do Pará e Santo Antônio de Tauá.
A urbanização e a especulação de terras nas áreas próximas de Belém, o surgimento de polos de
produção em outros estados e países, o processo de patenteamento para novos produtos no exterior
e uso na gastronomia nacional e internacional estão transformando o jambu em uma nova hortaliça
dos trópicos.
*
Agrônomo; Doutor em Economia Rural; Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. E-mail: homma@cpatu.embrapa.br
e homma@oi.com.br.
**
Agrônomo; Extensionista Rural da Emater - Santa Izabel do Pará. E-mail: ronaldosanchess@gmail.com e
ronaldosanches@oi.com.br.
***
Agrônomo; Doutor em Sistemas de Produção Agrícola Familiar; Analista da Embrapa Amazônia Oriental.
E-mail: menezes@cpatu.embrapa.br.
****
Agrônomo; Doutor em Agronomia; Professor Associado Universidade Federal Rural da Amazônia.
E-mail: sergio.gusmao@ufra.edu.br.
ABSTRACT
The jambu is part of the cultural cuisine of Para State as a component of the “duck-and-tucupi”
and “tacacá” has undergone major changes with respect to its use. Grown by farmers in periurban
small areas, together with other vegetables, especially to supply the city of Belem and the major urban
centers of the Northeast Para State. It was made a historical survey on the use of jambu, changes with
respect to its use in cooking, to cosmetics and medicines and practices used by farmers in periurban
districts of Ananindeua, Benevides, Santa Izabel do Para and Santo Antonio de Taua. Urbanization and
land speculation in areas near Belem, the emergence of centers of production in other states and
countries, the patenting process for new products abroad and the use in national and international
cooking can make jambu a new vegetable of the tropics.
O jambu é uma planta herbácea com 20 a 1997). Na Figura 1 (Anexo 1) tem-se algumas
30 cm de altura, com caule cilíndrico, carnoso, fotos dessa hortaliça e do seu sistema de
decumbente e ramificado. A inflorescência é em produção.
capítulo globoso terminal de coloração amarela,
com flores hermafroditas. A flor é considerada Também é conhecido como agrião-do-pará,
como sendo de autopolinização ocorrendo agrião-do-norte, agrião-do-brasil, abecedária e
quando o estilete cresce e ultrapassa as anteras jambuassu. É uma planta autóctone da América
e ao despontar no exterior os estigmas já se do Sul (Brasil, Colômbia, Guianas e Venezuela)
encontram cheios de pólen. Esse modo de onde pode ser encontrada cultivada ou
autopolinização é chamado de cleistogamia. O subespontânea.
fruto é um aquênio de tamanho reduzido, com
pericarpo de cor cinza escuro, parcialmente O jambu possui bom valor nutritivo. Por
envolvido por páleas membranosas (CARDOSO, cada 100 g de folhas, contém 89,0 g de água,
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valor energético de aproximadamente 32,0 do Sul e Sudeste, facilitando, também, na
calorias, 1,9 g proteína, 0,3 g de lipídio, 7,2 g de disseminação desta planta (BORGES, 2009).
carboidratos, 1,3 g de fibra, 1,6 g de cinza, 162,0
mg de cálcio, 41,0 mg de fósforo, 4,0 mg de ferro, Os agricultores que se dedicam ao plantio
0,03 mg de vitamina B1, 0,21 mg de vitamina de hortaliças cultivam em canteiros, que no
B2, 1,0 mg de niacina e 20,0 mg de vitamina C conjunto não atinge um quarto de hectare. Do
(BORGES, 2009). elenco das folhosas, frutos ou tubérculos, os
produtores se especializam em cinco ou seis
As inflorescências apresentam maior espécies, permitindo o rodízio dos canteiros e
concentração do alcalóide sendo a sua quanto a perspectiva do mercado. O elenco de
exploração como fonte de matéria-prima para verduras cultivadas é bastante grande: jambu,
uso medicinal e cosmético, potencialmente, mais coentro, salsa, chicória regional, cebolinha,
importante que ramos e folhas. O jambu é caruru, vinagreira, hortelã, couve, alface, alfavaca,
utilizado pela Natura na composição de creme quiabo, pepino, maxixe, pimenta-de-cheiro,
anti-rugas Chronos. Inicialmente as plantas eram tomate cereja, pimentão, berinjela, espinafre,
adquiridas na Região Metropolitana de Belém. rúcula, mostarda, vagem, hortelã, manjericão,
A partir de 2004, passou a ser fornecido pelo mastruz etc.
Grupo Centroflora, fundado em 1957, de
produtores selecionados que cultivam de forma O jambu mais cultivado apresenta folha
orgânica nos municípios de Pratânia, Botucatu verde-claro com flores amarelas. Existe, o tipo
(onde efetua a secagem), Ribeirão Preto e roxinho, cuja folha é um verde mais intenso,
Jaboticabal. Várias teses de pós-graduação sobre possui ramos de cor roxa e as inflorescências com
o jambu já foram defendidas nas universidades um halo, também, de cor arroxeada.
O jambu pode ser propagado por sementes, muita umidade, tornando-as vulneráveis à ação
método mais empregado, ou por estacas de de microorganismos, levando a perdas
ramos. As sementes devem ser obtidas de plantas consideráveis, apresentando baixa germinação.
que foram deixadas no canteiro com maior
desenvolvimento vegetativo, livre de pragas e Um grama de sementes de jambu com
doenças, até o amadurecimento dos aquênios, impureza (restos culturais) tem-se 2.000
uma vez que as sementes certificadas não são sementes bem formadas. Em nível de produtor,
comercializadas no mercado. Na feira do Ver-o- não é necessário obtê-las limpas (livre de
Peso e em algumas casas comerciais do município impurezas) devido o trabalho para limpá-las, e
de Castanhal, é possível adquirir sementes para mesmo porque estas impurezas são constituídas,
venda, sem haver garantias quanto à qualidade em geral, de palea que revestem as sementes, e
física e sanitária. As inflorescências são colhidas das flores não-fecundadas, que são facilmente
e postas para secar em ambiente ventilado. Após decompostas, não prejudicando a germinação,
três a cinco dias é feita a debulha. além de facilitarem a distribuição mais uniforme
das sementes no canteiro de semeadura.
O agricultor deve tomar as seguintes
medidas para garantir sementes de boa O modo mais tradicional do plantio de
qualidade: colhe-las de plantas sadias e evitar jambu é fazer a semeadura a lanço sobre um
produzi-las na época chuvosa, pois estas retém canteiro, cobrindo as sementes com uma leve
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camada de serragem. A densidade de semeadura espaçamento de 5 cm x 5 cm x 10 cm. Um
é elevada, sendo distribuídos de um a três gramas trabalhador treinado planta cinco a seis canteiros
de impurezas por metro quadrado de canteiro. É 1,20 m x 25 m.
realizada uma cobertura alta sobre o canteiro
sementeira, com palha ou com sombrite de forma Outro processo é fazer a semeadura direta
a reduzir a radiação em até 75%. Após a fase de nos sulcos com espaçamento entre 10 cm a 15
germinação a cobertura é retirada e com 25 a 30 cm. O excesso de plantas germinadas é
dias é feito o transplantio das mudas para o transplantado para outros canteiros, ficando as
canteiro definitivo. As mudas são arrancadas da mudas distanciadas em 5 cm nos sulcos. Esta
sementeira, sendo transplantadas em forma antecipa a colheita em 10 a 15 dias.
Um dos tratos culturais utilizados durante três litros de adubo orgânico por 1 m² de canteiro,
o período da cultura é a monda que consiste em distribuídas a lanço entre as plantas.
retirar as ervas daninhas com as mãos após o
plantio nos canteiros definitivos, efetuado antes A adubação química mais comum, quando
da completa cobertura destes pelos ramos das utilizada pelos produtores, é a formulação NPK
plantas de jambu. 10-28-20, a mais comercializada no mercado
regional de insumos. Adubações foliares também
Poucos produtores utilizam adubo são feitas, usando-se 30 g de uréia e 20 g de
químico na adubação do jambu, a grande adubo foliar completo, recomendado para
maioria usa cama de frango para o cultivo. Na folhosas diluídas em 20 litros de água, com
adubação básica os canteiros são adubados, aplicações a cada 10 dias. São usados dois litros
três dias antes do transplantio, com a para cada 10 metros de canteiro.
incorporação de, aproximadamente, 30 litros de
cama de frango (um carrinho de mão), para Se o solo estiver “fraco” decorrente de
cada canteiro de 1,20 m x 25 m. O custo de sucessivos plantios, aplicam 4 kg de calcário
3 m³ é de R$ 108,00, entregue na propriedade dolomítico para um canteiro de 1,20 m x 25 m e
e corresponde a 40 carrinhos de mão ou 45 deixam em descanso por 30 dias.
sacos de ráfia com 2/3 de sua capacidade total
de enchimento. O ciclo da cultura vai entre 45 a 50 dias
após sua semeadura. A limpeza de ervas daninhas
É efetuada uma adubação complementar após o plantio nos canteiros é efetuada de modo
após o transplantio, sendo usada a proporção de manual, arrancando-as individualmente.
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5.4.1 Irrigação
No período sem chuvas são feitas duas adaptado na extremidade, ligadas diretamente na
irrigações diárias. Com a fonte de água mais comum tubulação de recalque. Alguns empregam
os poços semi artesianos. Usam-se motobombas microaspersão comercializada no mercado local em
elétricas e mangueiras plásticas com um chuveiro sistema de fitas plásticas para irrigação.
As principais pragas que atacam os agroquímicos tanto para a sua saúde e dos
canteiros com jambu são a paquinha (Neocurtilla consumidores pela não-observância com relação
hexadactyla), lagartas, ácaros etc. O controle aos prazos mínimos exigidos para consumo. Os
desta é feita com iscas, efetuando-se a mistura agrotóxicos utilizados não são permitidos pela
de 20 ml inseticida (geralmente Parathion legislação e não há utilização de Equipamentos
metilico) para um quilo de farelo de trigo, de Proteção Individual (EPI).
colocando uma colher de sobremesa por metro
quadrado de canteiro à noite. Entre as doenças destacam-se a ferrugem
( Puccinia sp.), carvão ( Tecaphora sp.),
O combate as lagartas é efetuado com nematóides do gênero Meloidogyne, etc. O
aplicação dos inseticidas Decis (30 ml/20 litros controle da ferrugem é efetuado com o fungicida
de água) ou Folisuper ou Mentox (20 ml/20litros Dithane (50 ml/20 litros de água) e pode efetuar
de água). Quanto ao ataque de ácaros é utilizado até 3 pulverizações e o fungicida Amistar (20
o Tamaron um inseticida organofosforado ml/ 20litros de água); estes fungicidas são
sistêmico (30 ml/ 20 litros de água) e o Agritoato aplicados separadamente. Alguns produtores
400 CE (40 ml/20 litros de água). utilizam produtos misturados como Tamaron (30
ml) mais Dithane (30 ml) em 20 litros de água.
O controle do nematóide é efetuado Quanto ao ataque do carvão que produz galhas
mediante rotação de cultura e exposição de solo distribuídas nos caules, pecíolos, folhas e
do canteiro a luz solar revirado com a enxada. pedúnculos florais os produtores eliminam as
plantas doentes e fazem outro plantio com
Verifica-se que muitos produtores não sementes sadias.
apresentam cuidados na aplicação de
5.6 PRODUÇÃO
5.6.1 Pós-colheita
5.8 CONSUMO
6 CUSTO DE PRODUÇÃO
7 CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. José Edmar Urano de Carvalho informações sobre a pizza de jambu. Ao Dr.
(Embrapa Amazônia Oriental) pelas suas Moacyr Bernardino Dias-Filho (Embrapa
contribuições históricas. Ao Dr. Edowardo Amazônia Oriental) e aos produtores
Muneaki Shimpo (Emater Benevides) pelo apoio entrevistados de Ananindeua, Benevides, Santa
entre os produtores. Ao Dr. Fabrício Khoury Izabel do Pará e Santo Antônio de Tauá.
Rebello e ao Dr. Osvaldo Ryohei Kato pelas
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16).
Figura 1 - Na parte superior: horta periurbana de pequeno produtor em Santa Izabel do Pará e inflorescência
de jambu. Na parte do meio canteiro plantado e arranquio de jambu para comercialização. Na parte
inferior maços de jambu comercializado e cuia de tacacá (agosto 2011).
Fotos: Antônio José Elias Amorim de Menezes.