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1. RESUMO
A qualidade do ovo é de suma importância para o desempenho econômico da
avicultura de postura. Os ovos perdem a qualidade a partir do momento em que são
postos pelas aves, portanto é de suma importância produzir ovos com melhor
qualidade possível e manter ao máximo a qualidade original até que ele chegue ao
consumidor. A idade da poedeira é um importante fator a ser considerado na criação
de codornas, pois exerce influência direta sobre a qualidade, composição e tamanho
do ovo, visto que, com o avanço da idade da ave ocorre redução na taxa de postura
e alterações nos constituintes do ovo, principalmente gema, albúmen, casca e sua
condutância. Porém a literatura referente a interação da qualidade do ovo e
condutância com a idade da codorna é bastante limitada. Portanto o presente trabalho
investigou a relação da idade da codorna japonesa (Coturnix coturnix japonica) com a
qualidade dos ovos e condutância da casca. No total foram utilizados 160 ovos
coletados de uma granja comercial de postura localizada em Mogi das Cruzes (SP).
Os ovos foram distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado, onde 120
ovos foram utilizados para a análise de qualidade e 40 ovos para condutância da
casca, sendo considerado nos experimentos quatro idades da codorna (2, 3, 5 e 8
meses). Na avaliação da qualidade do ovo (primeiro experimento) foram analisados o
peso do ovo, comprimento e largura dos ovos, porcentagem de casca, espessura da
casca, unidade Haugh, porcentagem de gema, porcentagem de albúmen, relação
gema/albúmen e gravidade específica. No segundo experimento avaliou-se a
condutância, espessura e porosidade da casca. Ovos mais pesados e mais compridos
foram obtidos em aves com 8 meses de idade, já ovos mais largos foram observados
em codornas com 2 meses. Menor unidade Haugh foi obtida em aves mais velhas
com 8 meses. O peso específico e a porcentagem de casca aumentaram
significativamente entre 2 e 8 meses, sendo que as demais idades não diferenciaram
das demais estudadas. A porcentagem de gema e albúmen, relação gema/albúmen,
condutância, espessura e porosidade da casca não foram influenciados
significativamente pela idade da codorna. Pelos dados obtidos conclui-se que a idade
da codorna poedeira tem influência sobre a qualidade do ovo, mas não sobre a
condutância da casca.
Palavras-chave: Coturnix coturnix japônica, idade, ovo
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2. INTRODUÇÃO
Durante muitos anos a coturnicultura foi considerada como atividade alternativa
para pequenos produtores (SOUSA et al., 2012), entretanto, a atividade antes de
subsistência tem apresentado nas últimas décadas um desenvolvimento bastante
acentuado e passou a ocupar um panorama de atividade altamente tecnificada, com
resultados promissores aos investidores e produtores (PASTORE et al. 2012).
A subespécie de codorna mais difundida no país é a Coturnix coturnix japonica,
ave destina a produção de ovos que apresenta diversas características positivas
(PASTORE et al., 2012).
O papel da coturnicultura no Brasil é indiscutível, como demonstrado pelo seu
acelerado crescimento nas últimas décadas. Esse efeito pode ser notado pelo
crescimento da produção, pelo aumento no número de empresas de expressão
nacional, bem como, pelo aumento significativo no consumo de ovos.
O ovo de codorna é um alimento completo e equilibrado em nutrientes, de preço
acessível, sendo uma fonte confiável de proteínas, lipídeos, aminoácidos essenciais,
vitaminas e minerais (SEIBEL et al., 2010). A qualidade do ovo atinge o seu máximo
no momento da postura, já a perda de qualidade é um fenômeno inevitável, que
acontece de forma contínua ao longo do tempo e que pode ser agravado por diversos
fatores como as condições de temperatura, umidade, tempo de armazenamento e
manipulação durante a estocagem. Entretanto, a idade da ave é outro fator, não
menos importante, que deve ser considerado na qualidade dos ovos, pois pode
exercer grande influência na qualidade interna e externa dos ovos e na condutância
da casca (MAIORKA et al., 2003).
A importância da casca se demonstra por diversas funções, como por exemplo:
promover trocas gasosas entre o interior do ovo e o ambiente, evita perda de umidade
em excesso (ARAÚJO; ALBINO 2011). Portanto, qualquer defeito ou alteração na
casca pode comprometer a conservação e consequentemente a utilização do ovo.
De modo geral, em aves, com o envelhecimento do animal os pesos do ovo e
da gema aumentam significativamente e observa-se diminuição da porcentagem do
albúmen. Logo, a idade da ave é considerada um fator de grande importante, pois
pode exercer forte influência na qualidade interna e externa dos ovos. A condutância
da casca também apresenta importância, pois representa a capacidade da casca em
realizar trocas de gases, com o ambiente sendo esse processo influenciado pelo
comprimento, área e número dos poros (LA SCALA., 2003).
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3. OBJETIVO
O presente trabalho teve como objetivo elucidar a influência da idade de
codornas japonesas (Coturnix coturnix japonica) na qualidade interna e externa dos
ovos e condutância da casca.

4. METODOLOGIA
O presente projeto foi realizado no laboratório multidisciplinar da Fundação
Municipal de Ensino Superior de Bragança Paulista - FESB, no período constituído
entre maio de 2017 a abril de 2018. Foram realizados dois experimentos no período,
sendo que no primeiro foi realizado a análise de qualidade interna e externa dos ovos
de codornas. Já no segundo foi avaliado a condutância da casca dos ovos.

5. DESENVOLVIMENTO
5.1. Experimento 1 - Análise da qualidade interna e externa dos ovos
No total foram utilizados 120 ovos oriundos de uma granja comercial localizada
em Mogi das Cruzes - SP. A coleta dos ovos foi realizada em um único dia por meio
de amostragem aleatória (30 ovos) em diferentes lotes de codornas com as seguintes
idades: 2 meses (início da postura), 3 meses (pico de postura), 5 meses (pós-pico de
produção) e 8 meses (próximo ao descarte do lote). As amostras foram transportadas
da granja para o laboratório da faculdade. O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente casualizado, com 4 idades da codorna (2, 3, 5 e 8 meses) e 30
repetições, sendo considerado um ovo uma repetição. O esquema da análise de
variância para qualidade dos ovos está apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Esquema da ANOVA para análise de qualidade dos ovos.


Fonte de Variação Graus de Liberdade
Idade 3
Resíduo 116
Total 119

5.1.1. Análise de qualidade dos ovos


Os 120 ovos foram identificados individualmente e submetidos às análises de
qualidade de ovo, de acordo com os seguintes parâmetros: peso do ovo, comprimento
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e largura dos ovos, peso e porcentagem de casca, espessura da casca, unidade


Haugh, peso e porcentagem de gema, peso e porcentagem de albúmen, relação
gema/albúmen e gravidade específica.

5.2. Experimento 2 - Análise da condutância da casca


Na mesma granja foram obtidos no total 40 ovos de codornas japonesas de
postura. A coleta dos ovos foi realizada em um único dia por meio de amostragem em
diferentes lotes de codornas com as seguintes idades 2, 3, 5 e 8 meses.
O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com 4 idades da
codorna e 10 repetições, sendo considerado um ovo uma repetição. O esquema da
análise de variância para qualidade de casca está apresentado na Tabela 2.

Tabela 2. Esquema da ANOVA para análise de condutância de casca.


Fonte de Variação Graus de Liberdade
Idade 3
Resíduo 36
Total 39

5.2.1. Análise da condutância, porosidade e espessura da casca


Os ovos coletados foram submetidos as análises de condutância, porosidade e
espessura da casca. A condutância da casca foi determinada pela metodologia
descrita em La Scala et al. (2003). Portanto foram utilizados 10 ovos por idade da
codorna, os quais foram alojados em um mesmo dessecador por seis dias.
Diariamente, no mesmo horário, os ovos foram pesados individualmente em balança
digital com 0,01g de precisão para se obter a perda de massa dos ovos do período.
Após o término da coleta dos dados para condutância da casca, os mesmos
ovos foram utilizados para a contagem de poros. Os dados obtidos foram
posteriormente utilizados para o cálculo da correlação com a condutância e
porosidade.
O número de poros das cascas foi avaliado na região equatorial dos ovos
utilizando-se o método adaptado de Rahn et al. (1979).

5.2.2. Correlação entre condutância, porosidade e espessura da casca


O estudo da relação entre as variáveis condutância, porosidade e espessura
da casca, foi realizada pela correlação de Pearson (5%).
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5.3. Análise estatística


Os dados obtidos nos experimentos foram analisados por meio do
procedimento PROC GLM do programa SAS 9.2 (2008) e em caso de diferença
significativa, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (α = 5%). Os dados
foram submetidos ao teste de Cramer-von Mises para normalidade dos erros e ao
teste de Brown-Forsythe para homocedasticidade das variâncias, onde todos os
requisitos foram atendidos.
Para as análises de correlação entre as variáveis condutância, porosidade e
espessura da casca foi utilizado o procedimento PROC CORR.

6. RESULTADOS
Os resultados para os parâmetros unidade Haugh, peso específico,
comprimento, largura e peso dos ovos em quatro idades diferentes estão
apresentados na Tabela 3. Pelos resultados apresentados da tabela observa-se que
a idade da matriz influenciou significativamente todos os parâmetros de qualidade de
ovos descritos.

Tabela 3. Valores médios para peso de ovo (PO), comprimento do ovo (CO), largura
do ovo (LO), unidade Haugh (UH) e peso específico (PE) em diferentes idades da
matriz de codornas.
Parâmetros Analisados
Idade
PO CO LO UH PE
(meses)
(g) (mm) (mm) (g/cm³)
2 11,01 b 32,01 b 25,20 a 87,74 a 1,068 b
3 11,12 b 32,20 b 25,04 b 87,00 a 1,071 a
5 11,29 b 32,43 b 25,37 b 86,22 ab 1,070 ab
8 12,28 a 33,84 a 25,92 b 82,85 b 1,069 ab
P <0,0001 <0,0001 0,0003 0,0045 0,0226
CV 7,91 1,09 3,16 6,34 0,44
Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si pelo teste
de Tukey (5%).

O peso médio dos ovos de aves mais velhas com 8 meses de idade foi
significativamente maior em comparação com a média das demais idades, as quais
não diferiram entre si. No presente experimento observa-se que, em média, o peso
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dos ovos aumentou com o avançar da idade das aves, entretanto diferenças
significativas somente foram detectadas no 8º mês de idade.
Para os parâmetros comprimento e largura, nota-se que ovos mais compridos
ocorreram em aves com 8 meses, diferindo significativamente das demais idades. Já
para largura, codornas novas com 2 meses produziram ovos significativamente mais
estreitos em comparação com as demais idades.
Aves mais velhas (8 meses) produziram ovos com menores valores de unidade
Haugh em comparação com os ovos produzidos aos 2 e 3 meses de idade. Verifica-
se que com o passar da idade das codornas a qualidade interna dos ovos diminui, fato
verificado pela queda do índice Haugh.
Com relação ao peso específico, maiores valores foram observados em ovos
produzidos por matrizes próximas ao pico de postura (3 meses), diferindo
significativamente de ovos de codornas em início de produção (2 meses), mas não
diferindo das demais idades.
Os resultados para os parâmetros porcentagem de gema, albúmen, casca,
relação gema/albúmen e espessura de casca em quatro idades diferentes (2, 3, 5 e 8
meses) estão apresentados na Tabela 4. Pelos resultados apresentados da tabela
observa-se que a idade da matriz influenciou significativamente somente a
porcentagem de casca.

Tabela 4. Valores médios para porcentagem de gema (PG), porcentagem de albúmen


(PA), porcentagem de casca (PC), relação gema/albúmen (GA) e espessura de casca
(EC) em diferentes idades da matriz de codornas.
Parâmetros Analisados
Idade
PG PA PC GA EC
(meses)
(%) (%) (%) (mm)
2 30,82 a 61,16 a 7,92 b 0,5097 a 0,249 a
3 31,16 a 61,07 a 8,40 a 0,5204 a 0,253 a
5 30,49 a 61,20 a 8,30 ab 0,5003 a 0,254 a
8 30,97 a 61,03 a 8,01 ab 0,5104 a 0,248 a
P 0,8703 0,9957 0,0043 0,8833 0,3405
CV 15,93 4,59 7,12 23,58 6,46
Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si pelo teste
de Tukey (5%).
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Os parâmetros porcentagem de gema e albúmen, relação gema/albúmen e


espessura da casca não foram influenciados significativamente pelo fator idade da
codorna.
Maior porcentagem de casca foi obtido em aves com 3 meses de idade,
diferindo significativamente de codornas com 2 meses, não diferindo das demais
idades estudadas (5 e 8 meses).
Na Tabela 5, estão apresentados os valores médios para a condutância,
espessura da casca e porosidade da casca obtidos no segundo experimento. Não
houve diferença significativa entre as idades para todos os parâmetros estudados.

Tabela 5. Condutância, espessura e porosidade da casca de ovos de linhagens


comerciais de codornas japonesas em função da idade.
Porosidade da
Idade Condutância Espessura da casca
casca
(meses)
(mg H2O/d/Torr) (mm) (nº de poros/cm²)
2 1,15 a 0,208 a 17,4 a
3 1,28 a 0,209 a 21,0 a
5 1,37 a 0,194 a 26,9 a
8 1,20 a 0,213 a 18,9 a
Valor de P 0,2600 0,2850 0,4467
CV (%) 88,45 10,76 18,67
Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna, diferem entre si pelo teste
de Tukey (5%).

Na Tabela 6 estão apresentados os resultados das correlações entre os


parâmetros condutância, espessura e porosidade da casca. A relação entre
porosidade e condutância apresentou correlação significativa (P = 0,004), positiva e
moderada (r = 0,470).

Tabela 6. Matriz de correlação entre a porosidade, condutância e espessura da casca


do ovo de matrizes de codornas japonesas (r = coeficiente de correlação e P = valor
de probabilidade).
Condutância Espessura Porosidade
r = -0,005 r = 0,470
Condutância 1,000
P = 0,976 P = 0,004

r = 0,108
Espessura 1,000
P = 0,518

Porosidade 1,000
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a idade da matriz exerce influência na qualidade dos ovos,
alterando os parâmetros peso, comprimento e largura dos ovos, unidade Haugh,
gravidade específica e porcentagem de casca. Entretanto não altera os parâmetros
relacionados a condução de gases pela casca.
Devido a escassa quantidade de trabalhos relacionando a qualidade e
condutância de ovos de codorna com o fator idade da ave, e devido à grande
quantidade disponível de informações para espécies como galinhas e perus,
normalmente os últimos são utilizados como modelos de comparação. Portanto,
notam-se discrepâncias entre os resultados obtidos com os disponíveis na literatura.
Como são espécies diferentes talvez apresentem particularidades na relação
qualidade do ovo e idade.
O panorama descrito demonstra a importância de mais pesquisas com
codornas relacionando os fatores idade da ave e condutância e qualidade do ovo. Os
trabalhos são fundamentais pois poderão confirmar a mesma tendência de relação
dos fatores idade e qualidade obtidos com outras espécies, ou consolidar novos
efeitos específicos para a codorna japonesa.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, W.A.G; ALBINO, L.F.T. Importância da qualidade da casca do ovo em
matriz pesada. In: ARAÚJO, W.A.G; ALBINO, L.F.T., ed. Comercial Incubation -
Incubação Comercial. Kerala: Transworld Research Network, 2011. p.123-138.

LA SCALA, N. Aspectos físicos da incubação. In: MACARI, M.; GONZALES, E. (Eds.)


Manejo da incubação. 2.ed. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia
Avícolas, 2003. p.97-124.

MAIORKA, A.; LUQUETTI, B.C.; ALMEIDA, J.G.; MACARI, M. Idade da matriz e


qualidade do pintainho. In: MACARI, M.; GONZALES, E. (Eds.) Manejo da
incubação. 2.ed. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas,
2003. p.362-377.
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PASTORE, S. M.; OLIVEIRA, W. P.; MUNIZ, J. C. L. Panorama da coturnicultura


no Brasil. Revista Eletrônica Nutritime. v.9, p.2041-2049, 2012. Disponível em:
http://www.nutritime.com.br/arquivos_internos/artigos/180%20-
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RAHN, H.; AR, A.; PAGANELLI, C.V. How bird eggs breathe. Scientific America.
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SAS Institute. SAS user’s guide: statistics. 6.ed. Cary: Statistical Analysis System
Institute, 2008.

SEIBEL, N.F.; BARBOSA, L.D.N.; GONÇALVES, P.M.; SOUZA-SOARES, L.A.D.


Qualidade física e química de ovos de codornas alimentadas com dietas
modificadas. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v.64, n.1, p.58- 64, 2005.

SOUSA, M.S.; SOUZA, C.F.; INOUE, K.R.A.; TINÔCO, I.F.F.; MATOS, A.T.;
BARRETO, S.L.T. Características físico-químicas e microbiológicas de dejetos
de codornas alojadas em baterias. Tecnologia & Ciência Agropecuária, v. 6, n.1,
p.53-56, 2012.

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