Você está na página 1de 13

1

Artigo Original

DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO: UM REFLEXO ACERCA DOS DESAFIOS


DA INTEGRAÇÃO DOS REFUGIADOS NO BRASIL

HUMAN RIGHTS AND EDUCATION: A REFLECTION ON THE CHALLENGES


OF REFUGEE INTEGRATION IN BRAZIL

Cibele Teles de Araújo1


Prof. Dr. Júlio Cesar de Sá Rocha1
¹Universidade Federal da Bahia
Faculdade de Direito

RESUMO

O presente artigo tem em vista trabalhar acerca dos desafios da integração dos refugiados no ensino superior no
Brasil, analisando as barreiras e as formas de acolhimento educacional para essas pessoas, como possíveis
soluções existem diversas iniciativas dentro das instituições de ensino superior que visam integrar e acolher os
refugiados, assim como, manter eles dentro da universidade minimizando os reflexos negativos que essa
problemática pode trazer. Para tanto no trabalho desenvolveu-se o método dedutivo e a revisão bibliográfica para
fazer a análise da problemática encontrada pela integração dos refugiados na educação superior, com objetivo de
explicar os conteúdos das premissas. Nesse sentido, esse método irá se adaptar melhor ao objetivo da pesquisa,
no qual busca uma resposta à problemática do tema abordado, buscando subsídios para compreensão e a
aprofundamento do tema. Assim, o presente instrumento versa analisar a melhor decisão a ser tomada nos casos
de desigualdade de direitos a educação superior e violação dos Direitos Humanos aos refugiados em situação de
vulnerabilidade para a promoção da igualdade social.

Palavras-chave: Refugiados. Ensino Superior. Inclusão. Direitos Humanos.

ABSTRACT
This article aims to work on the challenges of integrating refugees into higher education in Brazil, analyzing the
barriers and forms of educational reception for these people, as possible solutions there are several initiatives
within higher education institutions that aim to integrate and welcome refugees, as well as keeping them within
the university, minimizing the negative effects that this problem can bring. For that, the work developed the
deductive method and the bibliographical review to analyze the problem encountered by the integration of
refugees in higher education, with the objective of explaining the contents of the premises. In this sense, this
method will better adapt to the objective of the research, in which it seeks an answer to the problem of the topic
addressed, seeking subsidies for understanding and deepening the theme. Thus, this instrument deals with
analyzing the best decision to be taken in cases of inequality of rights to higher education and violation of the
Human Rights of refugees in vulnerable situations for the promotion of social equality.

Keywords: Refugees. University education. Inclusion. Human rights.

Sumário: 1. Introdução 2. Da Proteção dos refugiados no Brasil 3. Políticas Públicas


brasileira para a inclusão 4. Da integração e do acolhimento aos refugiados nas universidades
públicas brasileiras 5. Conclusão
1
Bacharel em Direito pela Faculdade de Integração do Sertão (2017). Pós graduada em Direito de Família e
Sucessões pela Faculdade Legale (2021). Aluna Especial do Mestrado na disciplina de Direitos Humanos e
Fundamentais: concentração em Direito Internacional dos refugiados (2022.2). Consultora e Mentora de
Trabalhos Acadêmicos.
2

1. INTRODUÇÃO

O estudo do presente artigo irá analisar o acolhimento educacional aos refugiados no


Brasil no âmbito do ensino superior, verificando os parâmetros legais que garantem o direito
dessas pessoas e quais ferramentas o ordenamento jurídico pátrio poder-se-á utilizar para uma
solução harmônica da desigualdade de oportunidades a essas pessoas que se encontram em
situação vulnerável.
Desse modo, a temática irá apresentar contornos acerca das barreiras na promoção dos
direitos humanos, especialmente dos refugiados ao ensino superior que carregam as marcas de
preconceito, burocracias estatais, exploração de trabalho e insuficiência de políticas públicas
para que seus direitos sejam garantidos.
Nesse sentido, urge elucidar que o direito dos refugiados ao ensino superior, teve
como seu objetivo principal, como acompanhar o processo de vivencia da integração dos
refugiados, seus principais desafios e dificuldades desde a chegada no Brasil e o ingresso nos
cursos da instituição superior.
O objetivo geral desse artigo é analisar por meio da temática: os refugiados e as
barreiras de acolhimento e integração dentro das universidades, buscando levantar hipóteses
de solução para esses conflitos como os métodos de políticas públicas assertivas, assim como,
a aplicabilidade das normas vigentes para minimizar os reflexos negativos que essa
problemática pode trazer para o âmbito acadêmico
Além disso, analisaremos a proteção dos direitos dos refugiados como princípio
basilar, desse tema. O método de pesquisa será o método dedutivo e da técnica bibliográfica,
pois se pretende fazer uma análise das barreiras e dos desafios enfrentadas pelos refugiados
que optam pelo Brasil como país de acolhida, valendo-se principalmente do Livro dos 70 anos
da Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados - (1951-2021) da ACNUR, do Relatório
Anual de 2022 da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, artigos acadêmicos, legislações para se
chegar a determinadas conclusões.
Nesse sentido, o problema de pesquisa que norteia este artigo estabelece as formas
para minimizar os limites e desafios dos refugiados ao acesso do ensino superior em situação
de vulnerabilidade, e como podemos atuar para garantir a igualdade de direitos, no qual
devemos ter uma maior atenção em relação ao ordenamento jurídico e social para que os
conflitos sejam minimizados e tenha sua aplicabilidade efetivada.
3

O estudo acerca do acesso dos refugiados ao ensino superior é de grande importância,


pois é um tema muito recorrente na sociedade contemporânea, além disso, podemos contribuir
para um melhor atendimento e acolhimento dessas pessoas quando chegam no Brasil.
Para tanto, o artigo será dividido em tópicos, o primeiro tópico, iremos abordar sobre a
proteção dos direitos dos refugiados, analisando o papel da ACNUR e das normas acerca
dessa temática, enquanto o segundo discorreremos sobre as políticas públicas acerca da
aplicabilidade dessas normas. Por fim, no terceiro tópico iremos analisar a integração e o
acolhimento dos refugiados ao acesso as universidades públicas no Brasil.

2. DA PROTEÇÃO DOS REFUGIADOS NO BRASIL

A princípio para que possamos compreender melhor a temática aqui proposta iremos a
analisar os importantes instrumentos que contribuem para proteção dos refugiados no Brasil.
Em face às diversas vulnerabilidades que atingem diversos estratos sociais é preciso
que o direito tenha um olhar mais atento a determinados sujeitos de direito. Nesse caso,
estamos falando dos refugiados.
De acordo com Arôca (2019), a Segunda Guerra Mundial foi marcada pelo grande
número de refugiados europeus se deslocando para outros países, com isso houve a
necessidade de proteger essas pessoas que não tinha mais seus lares. Assim, o Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), no qual seu mandato inicial foi
de três anos, mas devido à crise humanitária que se alastrou foi renovada diversas vezes
permanecendo até os dias de hoje com o “órgão responsável pela proteção internacional dos
refugiados” (JUBILUT, 2007, p.27).
O ACNUR é um órgão, no qual é subsidiário da ONU e segue as normas fornecidas
pela Assembléia Geral ou pelo Conselho Econômico e Social teve papel importante, pois sua
aproximação com as autoridades locais facilitaram no avanço para a construção de normas
inclusivas.
Desse modo, em 1993 foi proposto um anteprojeto pela ACNUR ao Ministério das
Relações Exteriores e ao Ministério da Justiça, no qual foi inspirado na Declaração de
Cartagena que contém uma denominação vasta a respeito dos refugiados. Segundo Andrade
(2017), essa Declaração foi fundamental para conduzir na formulação da lei, pois ampliava os
direitos das pessoas que não foram acobertadas pela Convenção de 1951 e seu protocolo
4

suplementar. Assim, conforme o autor, em 15 de julho de 1997, o projeto de lei sobre os


refugiados foi aprovado com apoio da sociedade civil e da igreja.
O trabalho da ACNUR é totalmente humanitário e apolítico, onde tem como principal
objetivo: “providenciar proteção internacional e buscar soluções permanentes para o problema
dos refugiados” (JUBILUT, 2007, p.152).
Nesse sentido, podemos analisar que no início existia uma limitação do órgão na
proteção dos refugiados, porém, conforme Jubilut (2007), com o avanço da temática as
pessoas considerados deslocados internos e os apátridas também passaram a ser protegidos.
Portanto, o ACNUR tem como papel fundamental garantir que os países tenham
ciência das suas obrigações a respeito da proteção aos refugiados e a todos os indivíduos que
buscam refúgio no nosso país.
A Declaração de Nova Iorque para Migrantes e Refugiados, segundo Gediel (2021),
reafirmou ainda mais o compromisso dos países signatários inclusive o Brasil ao acesso do
ensino superior em refúgio.
Segundo Gediel (2021) a referente à legislação brasileira sobre Refúgio apresenta os
direitos dos refugiados e cita à Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 e ao
Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967, incluindo ainda os elementos que são de
grave e generalizada violação aos Direitos Humanos.
Ainda nesse sentido, a Lei 13.445/2017 dispõe sobre o direito a educação no artigo 3º
que apresenta sobre os princípios da política migratória brasileira, dispondo em seu inciso XI
sobre a igualdade e o livre acesso do migrante a serviços, programas e benefícios sociais,
como também, a bens públicos e a educação.
O artigo 4º, inciso X, no qual assegura aos migrantes o direito a educação pública,
vedado a discriminação devido à condição migratória. Desse modo, a educação em todas as
suas esferas tem um papel importante como instrumento de inclusão e integração de
refugiados nos países de acolhida, e, por essa razão, ganha uma especial relevância acerca da
elaboração e implementação de políticas públicas ao ingresso dos refugiados as universidades
e ao reconhecimento de diplomas estrangeiros como veremos nos próximos tópicos deste
artigo científico.
Ainda nesse sentido, a Lei de Migração no artigo 3º, inciso XXI, determina a
promoção do reconhecimento e exercício acadêmico e profissional no Brasil.
Portanto, ao analisarmos a relevância desses conjuntos normativos para a proteção dos
direitos percebemos como o Estado e as universidades públicas brasileiras devem atuar para
5

que as normas sejam efetivadas e pessoas refugiadas e migrantes tenham acesso ao direito à
educação superior e a formação técnica profissional para garantir um direito igualitário para
todos.

3. POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRA PARA A INCLUSÃO DOS REFUGIADOS


NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

O acesso as universidades públicas tem uma grande importância histórica, que vai
além de simplesmente incluir estudantes das universidades, refere-se a uma luta contra a
desigualdade social que reduz o número de indivíduos nas instituições de ensino superior.
Desse modo, conforme Pereira, Gutierrez e May (2016), afirmam que nesse sentido
reinicia a democratização do acesso às universidades públicas por meio de instrumentos que
permitam condições igualitárias de concorrência para todos os cidadãos com o surgimento de
políticas públicas afirmativas.
Assim, no começo do século XXI no Brasil, segundo Guarnieri e Melo (2017), o país
iniciou um trabalho para adotar formalmente o pacto de combate ao racismo com ações
afirmativas que tivessem o objetivo de reparação de danos históricos a essas ações que eram
importantes na luta contra o racismo e contra as desvantagens relacionadas à economia e o
direito social dos brasileiros.
Com isso as políticas públicas, no qual foram legitimadas por lei federal,
incentivaram as cotas para acabar com as desigualdades presentes na sociedade e dar garantia
a todas as pessoas, independente de raça ou poder aquisitivo, para terem direito ao acesso as
universidades públicas.
Nesse sentido, em 2012 foi promulgada a Lei nº 12.711/ 2012, que tem como o
objetivo o ingresso de pessoas aos institutos federais de ensino médio e as universidades
públicas com reserva de no mínimo de 50% das vagas para estudantes que tenham renda
familiar de igual ou inferior a 1,5 salários- mínimo por pessoas e para pretos, pardos,
indígenas e pessoas com deficiência, no qual seja proporcional ao número da população com
direito as cotas ao estado onde a instituição for localizada de acordo com o último censo do
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, além de ter cursado todo ensino médio
em escolas públicas (BRASIL, 2012).
Ainda nesse sentido, além das cotas citadas anteriormente, existem outros grupos que
se enquadram nos requisitos para ingressar nas universidades através de políticas públicas,
6

assim como os negros, jovens de baixa renda, indígenas e deficientes, os refugiados e


imigrantes também possuem esse direito referente ao princípio da igualdade que consta na
Constituição Federal para o acesso as universidades públicas no Brasil.
Portanto, analisamos que o Estado vem se movimentando para garantir o acesso e o
direito de inclusão através de políticas públicas inclusivas, dando prioridade aos menos
favorecidos. Assim, conforme o Livro dos 70 anos da Convenção relativa ao Estatuto dos
Refugiados:
A experiência da CSVM em desenhar e criar modelos de acesso a cursos de
graduação para pessoas refugiadas passa por uma chave essencial para sua
efetividade e sua eficácia: a ação afirmativa. Isso significa que as pessoas refugiadas
devem ser tratadas desigualmente para que possam exercer e gozar seu direito de
acesso à universidade em igualdade de condições com as demais pessoas. As ações
afirmativas foram avalizadas internacionalmente pela Conferência da ONU contra o
Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em
Durban, na África do Sul, em 2001, e implementadas no Brasil por diferentes
normas federais, incluindo a área educacional (RODRIGUES, 2021, p.269).

Com isso, podemos observar que a Cátedra Sergio Vieira de Mello tem um importante
papel para a inclusão das pessoas refugiadas às universidades através das políticas públicas
afirmativas que ajudam essas pessoas terem seus direitos garantidos.
Ainda, segundo Rodrigues (2021), não basta apenas ter um sistema diferenciado para
ingressar os refugiados às universidades. É importante uma política igualitária que
mantenham essas pessoas nas instituições através do sistema de bolsas de permanência, no
qual seja comprovada a necessidade do refugiado, além de bolsas que remunerem os
estudantes que auxiliem os refugiados no processo de aprendizagem.
Nesse contexto, o Relatório Anual da Cátedra Sergio Vieira de Melo (2022), aponta
que:
Para muitas pessoas, a falta de recursos para aportar em alojamento, alimentação e
transporte dificultam ou impossibilitam a permanência na universidade. Para evitar
um aumento na evasão, algumas universidades têm apoiado os estudantes em
diversas frentes, como auxílio financeiro, bolsas de estudo, auxílio moradia, vagas
em residência estudantil, apoio com auxílio transporte, entre outros. Pensando nessa
integralidade das ações, a UFBA mantém um Programa de Assistência e Apoio aos
Estudantes de Baixa Condição Socioeconômica. A UNISANTOS, por sua vez, tem
projeto de acompanhamento dos discentes, com contatos com os alunos e os
coordenadores dos cursos em que estão matriculados a fim de diagnosticar formas
de auxiliá-los (RODRIGUES, 2022, p. 259).

Assim, podemos perceber como essas ações afirmativas tem um papel fundamental na
inclusão social para que esses direitos tenham efetividade e que os direitos dos refugiados
tenham aplicabilidade, pois existe um grande desequilíbrio social acerca do acesso ao ensino
7

superior e os refugiados fazem parte dessa parcela de pessoas vulneráveis do nosso país em
direitos e oportunidades.
De acordo com o Rodrigues (2021), uma jovem descendente de família árabe foi
vítima de discriminação por um professor francês, no qual foi retratado no filme “O orgulho”
que mostra exatamente essa barreira estrutural, no qual no Brasil infelizmente ainda não é tão
exposta como na França e em outros países da Europa, dificultando, assim, o acesso e a
permanência dos refugiados nas instituições de ensino superior de forma igualitária.
Desse modo, no próximo tópico iremos analisar as formas de integração e acolhimento
dos alunos refugiados dentro das instituições de ensino superior, verificando os principais
desafios dessas pessoas e os instrumentos de enfrentamento da desigualdade nas
universidades públicas.

4. DA INTEGRAÇÃO E DO ACOLHIMENTO AOS REFUGIADOS NAS


UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS

A temática sobre refugiados e imigrantes é um dos temas mais abordados nas


pesquisas científicas, onde o assunto mais abordado se refere ao trabalho dessas pessoas no
Brasil. Porém, para que essas pessoas tenham acesso ao trabalho precisam ter qualificação e a
grande maioria dos refugiados encontra-se em situação de vulnerabilidade e necessitam de
acolhimento no país que elas escolhem recomeçar suas vidas.
Desse modo, conforme os estudos de Moreira:

Alguns problemas colocados pelos refugiados são também enfrentados pela


população local, uma vez que se relacionam a questões estruturais mais amplas
relacionadas à realidade socioeconômica do país. Todavia, as dificuldades com que
se deparam os refugiados são agravadas, por se tratar de uma população estrangeira,
o que gera maiores empecilhos para garantir o acesso e a concretização de direitos
no Brasil (MOREIRA, 2014, p. 95).

Assim, podemos perceber que os desafios socioeconômicos só vêm crescendo cada


vez mais nos últimos anos no Brasil. Os problemas sociais, como, por exemplo, educação,
atendimentos básicos de saúde, trabalho, entre outros setores são pautas da sociedade atual,
sendo de estrangeiros ou não, elas não podem ser deixadas de lado.
Entretanto, quando delimitamos os estrangeiros nesse contexto podemos analisar
dificuldades e obstáculos ainda maiores quando nos referimos às condições de vida, pois
quando os imigrantes chegam ao Brasil já com diplomas de ensino superior, alguns até com
8

pós- graduação, esses documentos não são reconhecidos no país e com isso os imigrantes
acabam assumindo cargos divergentes das suas respectivas áreas de conhecimento. Dessa
forma, existe o obstáculo para essas pessoas terem acesso às universidades para regularizarem
seus diplomas ou ingressarem em um novo curso superior.
Assim, conforme Giroto e Paula (2020), a legislação brasileira abrange documentos
oficiais que protegem os estrangeiros na validação de diplomas e reconhecimento de pós-
graduação em cursos que são concluídos em outros países. A Resolução CNE/CES Nº 1, de
28 de janeiro de 2002 “estabelece normas para a revalidação de diplomas de graduação
expedidos por estabelecimentos estrangeiros de ensino superior” (BRASIL, 2002, p.1).
Nesse sentido, esse documento aponta em seu parágrafo segundo que:

São suscetíveis de revalidação os diplomas que correspondam, quanto ao currículo,


aos títulos ou habilitações conferidas por instituições brasileiras, entendida a
equivalência em sentido amplo, de modo a abranger áreas congêneres, similares ou
afins, aos que são oferecidos no Brasil (BRASIL, 2002, p. 1).

Desse modo, podemos analisar que as universidades dependendo da sua localidade


serão designadas a analisar habilitações, títulos e o currículo do candidato que solicitar a
regularização do documento acadêmico com o objetivo de conceder o reconhecimento do
diploma.
Ainda, segundo Giroto e Paula (2020), o Ministério da Educação publicou a Resolução
nº 3, 22 de junho de 2016 “dispõe sobre normas referentes à revalidação de diplomas de
cursos de graduação e ao reconhecimento de diplomas de pós-graduação stricto sensu
(mestrado e doutorado), expedidos por estabelecimentos estrangeiros de ensino superior”
(BRASIL, 2016, p.1). Esse documento refere-se a uma versão atualizada que promove
serviços aos imigrantes que possuem curso de graduação, assim como, inclui políticas
públicas para os estrangeiros com diplomas de mestrado e doutorado.
Com isso, a lei nacional garante que os diplomas de graduação, mestrado e doutorado
“poderão ser declarados equivalentes aos concedidos no Brasil” (BRASIL, 2016, p.1). Desse
modo, esses documentos quando julgados por universidades brasileiras.
Segundo Giroto e Paula (2020), quando os imigrantes ou refugiados passam por
situações de motivos de desastre natural ou por guerra ou condições precárias para sair de
seus países e que tenham perdido seus documentos no decorrer do trajeto ou devido a
catástrofes, apenas a revalidação do diploma de graduação ficam amparadas por esse
documento, conforme o terceiro parágrafo do artigo oitavo a seguir:
9

Refugiados estrangeiros no Brasil que não estejam de posse da documentação


requerida para a revalidação, nos termos desta Resolução, migrantes
indocumentados e outros casos justificados e instruídos por legislação ou norma
específica, poderão ser submetidos à prova de conhecimentos, conteúdos e
habilidades relativas ao curso completo, como forma exclusiva de avaliação
destinada ao processo de revalidação (BRASIL, 2016, p.3).

Desse modo, para sistematizar e ajudar nos processos de revalidação de diploma de


graduação, mestrado e doutorado, segundo Cardoso (2017), foi criado em março de 2017 a
Plataforma Carolina Bori que tem como objetivo reunião e divulgação para o inicio do
processo de reconhecimento e /ou revalidação dos diplomas de pessoas que concluíram seus
cursos fora do Brasil.
Ainda nesse sentido, segundo o Relatório Anual da Cátedra Sergio Vieria de Mello –
CSVM (2022), eles criam procedimentos de revalidação especifica para os refugiados para
que essas pessoas continuem seus estudos, como também, tenham direito a vagas de emprego
que sejam compatíveis com a formação profissional do seu país de origem.
O Relatório da CSVM (2022) aponta que existe a dificuldade dos refugiados que não
possuem seus documentos que foram perdidos ao saírem dos seus países de origem. O artigo
14, da Portaria Normativa nº22, de 13 de dezembro de 2016, do Ministério da Educação,
afirma que as pessoas refugiadas no Brasil têm o direito de terem seus processos de
revalidação de diplomas facilitados, a fim de que essas pessoas tenham suas oportunidades
acadêmicas resguardadas.
Ainda, conforme o Relatório CSVM (2022), os estados de São Paulo (Lei
n°16.685/2018), Rio de Janeiro (Lei n°8.020/2018) e Paraná (Lei n°19.830/2019) aprovaram
leis estaduais que dão o direito de isenção de taxas de pagamentos para os refugiados
revalidarem seus diplomas nas universidades públicas. Porém, em outras universidades estão
atuando com a atividade do Advocacy juntamente com os Conselhos Universitários ou
representantes políticos locais e estaduais com a iniciativa de ajudar aumentar ainda mais o
benefício da gratuidade para a revalidação do diploma para essas pessoas.
Desse modo, podemos analisar como esses instrumentos são fundamentais a inclusão
de pessoas refugiados e para que eles tenham seu direito à educação garantida, pois ele faz
parte dos Direitos Humanos de qualquer cidadão e deve ser resguardado, especialmente a
essas pessoas que saem de seus países de origem sem nenhuma perspectiva e chegam ao
Brasil com o intuito de recomeçar suas vidas e precisam de oportunidades para que isso
aconteça.
10

Outro ponto importante analisado foi o crescimento entre 2017 a 2022 de diplomas

revalidados pelas instituições de ensino da Catedra Vieira Sérgio de Melo.


Fonte: CSVM – Relatório Anual 2022

A dificuldade em relação à língua portuguesa é uma das maiores dificuldades dos


estrangeiros que chegam a nosso país, pois essa é um dos requisitos para o diploma seja
revalidado e tem caráter de exclusão, onde muitos não conseguem ser aprovados.

Por mais que haja comunicação via “portunhol” (resultado em grande medida de um
louvável esforço de comunicação intercultural, sobretudo em regiões de fronteira),
há obviamente notáveis diferenças entre os dois idiomas que impedem a inserção
socioeconômica de quem não domina a língua. Daí que o aprendizado do idioma é
essencial para restaurar e reforçar a dignidade do migrante (RODRIGUES, 2021,
p.268).

Nesse sentido, existem projetos em algumas instituições de ensino da CVSM que


ajudam os refugiados a ter acesso à língua portuguesa de forma gratuita para que essas
pessoas tenham sua dignidade restaurada. Segundo CVSM (2022, p.17) “O ACNUR incentiva
que cada vez mais IES se envolvam nesta atividade, bem como mais vagas sejam
disponibilizadas. Em 2022, 25 universidades ofereceram cursos de português para mais de
2.500 pessoas”.
Assim sendo, podemos concluir que todas as iniciativas das instituições têm um papel
relevante, analisamos que todas as ações contribuem para o acolhimento dos estudantes
refugiados através da rede de apoio, no qual a universidade engloba várias atividades para a
inclusão e integração dessas pessoas na sociedade.

5. CONCLUSÃO
11

Feitas essas considerações, ao longo de toda explanação discorreu-se acerca de


algumas questões que envolvem os refugiados e seu acesso as universidades públicas, aonde
vem evoluindo ao longo dos anos decorrentes das iniciativas dentro das instituições de ensino
em que o sujeito se encontra. Dito isto, as universidades, são uma das principais pontes de
apoio para que essas pessoas que saíram de seus países de forma forçada possam ser
incluídas.
Apresentamos o papel relevante da ACNUR como órgão de proteção no processo de
inclusão dos refugiados dentre outras normas e a Declaração de Nova Iorque para Migrantes e
Refugiados, que reafirmou ainda mais o compromisso dos países signatários inclusive o Brasil
e que é de extrema importância a ajuda do Estado para que a proteção desses direitos seja
eficaz no ordenamento jurídico.
Desse modo, podemos perceber ao longo desse estudo que a educação é um
instrumento de integração, no qual fornece aos refugiados a oportunidades de inclusão no país
de acolhida, criando vínculos sociais. O acesso à educação, especialmente, ao ensino superior
é de grande relevância, pois a sua ausência prejudica e dificulta a inserção dos refugiados ao
mercado de trabalho, que encontrem uma moradia e condições dignas de sobrevivência.
Um passo importante do processo de integração é a revalidação do diploma, pois com
esse caminho facilitado possibilita a continuidade na educação dessas pessoas e promove a
inserção no trabalho, porém mesmo resguardado em lei a revalidação do diploma ainda
continua sendo um grande desafio para os refugiados que chegam ao Brasil.
Com isso, a democratização no atendimento educacional aos estudantes refugiados é
um dos instrumentos válidos no processo normativo federal com intuito de atender e garantir
a permanência desses alunos em situação de refúgio na universidade.
Assim, a educação é um dever de todos conforme previsto na Constituição Federal e a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei 9.394/96, assim o atendimento deve ter
uma melhora, pois existe a necessidade da compreensão entre as línguas, as formas de
comunicação e a interação entre os demais estudantes devem ter sempre uma maior atenção
para que esse acolhimento e integração sejam efetivos, pois não é em todas as instituições que
temos esse suporte de atendimentos aos estudantes refugiados, assim essa promoção de
qualificação das pessoas que irão acolher esses alunos é de grande relevância.
Portanto, realizar um novo olhar nas condições reais das pessoas refugiadas é muito
importante, pois além da estrutura, é necessário atentar para uma comunicação assertiva entre
aluno e professor possibilitando uma construção de uma sociedade igualitária para todos.
12

REFERÊNCIAS

ANDRADE, José H. Fischel de; MARCOLINI, Adriana. A política brasileira de proteção e de


reassentamento de refugiados: breves comentários sobre suas principais características. Rev.
bras. polít. int., Brasília, v. 45, n. 1, p. 168- 176, June 2002.

ARÔCA, Rebecca Alves. LIMITES DO VISTO HUMANITÁRIO NO BRASIL: O Caso do


Acesso à Educação Superior. Porto Alegre, 2019.

BRASIL. Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002. Promulga a Convenção sobre o Estatuto


dos Apátridas. Diário Oficial, Brasília, DF, 22 mai. 2002.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro
de 1996.

BRASIL. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 24 mai. 2017. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm. Acesso em: 20 de
Nov. de 2022.

BRASIL. Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a implementação do


Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 22 jul. 1997. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9474.htm. Acesso em: 18 nov. 2022.

BRASIL. Resolução CNE/CES nº 1, de 28 de janeiro de 2002. Estabelece normas para a


revalidação de diplomas de graduação expedidos por estabelecimentos estrangeiros de ensino
superior. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 28 jan. 2002.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES012002.pdf. Acesso em: 12
dez. 2022.

BRASIL. Resolução nº 3, de 22 de junho de 2016. Dispõe sobre normas referentes à


revalidação de diplomas de cursos de graduação e ao reconhecimento de diplomas de pós-
graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), expedidos por estabelecimentos estrangeiros
de ensino superior. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 22 jun.
2016. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?
option=com_docman&view=download&alias=44661-rces003-16- pdf&category_slug=junho-
2016-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 12 dez. 2022.

CARDOSO, D. MEC divulga o Censo da Educação Superior de 2016. In: Correio


Braziliense. Brasília, 2017.

CSVM. Cátedra Sérgio Vieira de Mello. Relatório Anual 2022. Brasília, 2022.
13

GEDIEL, José Antônio Peres. Políticas Públicas Educacionais e Inclusão de Migrantes nas
Universidades Brasileiras. Refúgio, Migrações e Cidadania, p. 109, 2021.

GIROTO, Giovani; PAULA, Ercília Maria Angeli Teixeira. Imigrantes e refugiados no


Brasil: uma análise sobre escolarização, currículo e inclusão. Rev. Espaço do Currículo
(online), João Pessoa, v. 13, n. 1, p. 164-75, 2020.

GUARNIERI, Fernanda Vieira; MELO-SILVA, Lucy Leal. Cotas universitárias no Brasil:


análise de uma década de produção científica. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v.
21, n. 2, p. 183-193, 2017.

JUBILUT, Liliana Lyra. O direito internacional dos refugiados e sua aplicação no


ordenamento jurídico brasileiro. São Paulo: Método, 2007. p. 152.

MOREIRA, J. B. Refugiados no Brasil: reflexões acerca do processo de integração local.


REMHU, Rev. Interdiscip. Mobil. Hum., Brasília, v. 22, n. 43, p. 85-98.

NAÇÕES UNIDAS. Propósitos e Princípios da ONU.

PEREIRA, Thiago Ingrassia; GUTIERREZ, Daniel; MAY, Feranda. O acesso à universidade


pública em debate. In: SCHERER-WAREN, Ilse; PASSOS, Joana Célia dos (org.). Ações
afirmativas na universidade: abrindo novos caminhos. Florianópolis: UFSC, 2016. p. 185-
213.

RODRIGUES, GILBERTO M.A. ACNUR. Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados. 70 Anos da Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados - (1951-2021) )
perspectivas de futuro / Organizadores: André de Carvalho Ramos; Gilberto M. A. Rodrigues;
Guilherme Assis de Almeida – Brasília: ACNUR Brasil, 2021, p. 258-278.

SIMÕES, G. da F.. Uma análise da proteção internacional aos refugiados no âmbito da ONU.
A ONU aos 70: contribuições, desafios e perspectivas. Boa Vista, Editora da UFRR, 2016, p.
852-883. p. 867.

Você também pode gostar