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A EDUCAÇÃO COMO DIREITO HUMANO NA LEGISLAÇÃO BRAILEIRA

PARA OS IMIGRANTES REFUGIADOS NA CIDADE DE BELÉM- PA

Victória Regina da Silva Santiago¹

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo geral verificar como a educação está sendo
garantida para os imigrantes e refugiadosna cidade de Belém-PA e tem por objetivos
específicos analisar os documentos que compõem a legislação voltada a educação dos
imigrantes refugiados; analisar o papel Estado no exercício do direito à educação; e
verificar os pontos positivos e negativos dentro dos documentos legislativos educacionais
para os imigrantes. Desta forma, pressupondo que a educação é fonte primordial para o
desenvolvimento da sociedade, questiona-se: como a garantia do direito à educação está
sendo assegurada para os refugiados imigrantes na cidade de Belém-Pa? Assim,
indagam-se: como a estrutura de atendimento ao imigrante é efetivada? Quais legislações e
documentos oficiais asseguram o direto à educação dos refugiados imigrantes? Quais os
pontos positivos e negativos dentro de tais documentos e legislação? Para responder essas
questões, parte-se de uma análise documental das Leis N° 13.684, de 2018, Lei Nº 13.445
de 2017 e a Lei Nº 9. 474 de 1997; os artigos 3º, 4º e 5º da Constituição Federal de 1988; e
as recomendações do Ministério Público Federal do Pará Nº 41 de 2017 e Nº 34 de 2019.
Considerou-se o período de 2 para análise histórica. Conclui-se que, apesar de constar em
seus textos legislativos, o direito à educação ainda é apenas lido, não efetivado. A falta de
políticas públicas especificas, com ações diretas, prejudicam o acesso da população
migrantes e refugiada a um direito que lhe é dado internacionalmente.

PALVRAS-CHAVE: Educação; Imigrantes; Refugiados; Direito; Legislação.

¹Graduanda do curso de licenciatura de Pedagogia na Universidade Federal do Pará.


INTRODUÇÃO

Para a maioria de nós, educação é vista como a forma de alimentarmos nossa


curiosidade mental e descobrir nossas paixões da vida: é como aprendemos a cuidar de nós
mesmos, organizamos nossas famílias, lidamos com as tarefas diárias e desafios. Logo, é
inegável que dentro de um governo democrático, essa educação fundamental seja oferecida
com qualidade e com acesso democrático a todos.
Dentro do campo educacional, a discussão efervescente sobre o direito à
educação para todos vem sendo acentuada com as novas políticas propostas pelos últimos
governos brasileiros. Essas políticas públicas, destinadas à educação, têm em seu corpo
textual várias representações no que tange à consolidação de um sistema educacional e à
possibilidade de concretização do direito à educação, como o Plano Nacional de Educação
(PNE). Assim, o Estado brasileiro vem demonstrando certo interesse em debater – apesar
de suas contradições – esta pauta que é de extrema importância para o desenvolvimento
completo da nação.
Contudo, a educação, apesar de ser um direito humano universal, e ser atendida
dentro da legislação, tanto nacional quanto internacional, sempre teve sua efetivação
enquanto política pública marcada por significativa distância entre o direito instituído na
lei e o direito de fato efetivado. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 é
um exemplo de como as referências ao papel fundamental da educação era e é visto como
uma conquista da cidadania e evolução do desenvolvimento das nações. Essa visão vem
sendo construída historicamente, e aqui no Brasil, desde a constituição Imperial de 1824,
certos aspectos do direito à educação já eram tratados em seu texto, como nos incisos 32 e
33 do artigo 171. O primeiro tratava da garantia da “instrução primária a todos os
cidadãos” e o outro do dever do então estado imperial com colégios e universidades
(BRASIL, 1824).
Desse modo, ao se tratar de educação para os imigrantes refugiados, é de
extrema importância que haja na legislação pontos que assegurem tal direito para essa
população recém-chegada aqui. A decisão de realizar uma pesquisa sobre este assunto
infere no direito à educação para todos habitantes brasileiros. Como aluna do curso de
Pedagogia, na Universidade Federal do Pará, e também como bolsista em um grupo de
pesquisa da mesma, percebo que há extrema necessidade abordar o assunto, haja vista que,
no entorno da própria universidade, encontram-se casas de abrigo para essa população de
refugiados e é perceptível que, cotidianamente, esses abrigos funcionam apenas como uma
forma de assistência paliativa. Por isso, a pesquisa que deu oportunidade à elaboração
desse texto é tão importante para a minha formação como pedagoga.
Julgo que, ao nível social, tal pesquisa pode influenciar futuros leitores ao
melhor conhecimento do assunto, tendo em vista o pouco conhecimento produzido sobre
tal assunto nos últimos anos-o que posso inferir a partir das pesquisas bibliográficas feitas
para a análise.
Esse estudo também é relevante para a Universidade Federal do Pará, posto
que a ela compete a promoção de novos conhecimentos, e, partindo das próprias políticas
educacionais que regem esta universidade, como a inclusão social - que em 05 de
novembro de 2019, criou o Processo Seletivo Especial Migrepermitindo que pessoas
refugiadas tenham a oportunidade de estudar em uma instituição de ensino pública e de
ponta-,este estudo busca promover diretamente a integração entre essas políticas e
sociedade ao redor desta.
Ademais, é inegável que, por se tratar do tema com educação, o Instituto de
Educação (ICED) e a Faculdade de Educação (FAED) podem ter proveito desta pesquisa,
tanto em nível de produção de conhecimento, quanto em perspectivas de novos debates
sobre as políticas públicas para a educação.
Enquanto a maior parte da população global permanece vivendo no país de
nascença, cada vez mais pessoas estão migrando em busca de melhores oportunidades,
especialmente de emprego, segundo relatórios da Organização Internacional para as
Migrações (OIM). O documento estimou a existência e ao menos 272 milhões de
migrantes internacionais no mundo em 2019, o que corresponde a 3,5% da população
mundial. Esse número representa um aumento de 23,2% na comparação com 2010, quando
havia 220,78 milhões de migrantes. E a necessidade de emprego é a principal razão para
pessoas migrarem internacionalmente, e os trabalhadores migrantes constituem a maioria
dos migrantes internacionais do mundo, com a maior parte deles vivendo nos países de alta
renda, como destacou o relatório. Demandas de mão de obra, crises econômicas,
urbanização, pobreza crescente, instabilidade política, projetos de desenvolvimento e
conflitos continuam alimentando o movimento global dos povos. Assim, proporcionar
serviços sociais, de saúde e educacionais básicos para as populações migrantes tornou-se
uma preocupação premente em todas as regiões do mundo.
Migrante é um termo amplo que abrange as pessoas que se deslocam de seu
lugar de residência habitual para um novo local. Grande parte da mobilidade global
envolve migração “Sul-Sul” (que nasceram nos países do sul e migram para outro país
também da região sul). Essa população não tem recebido atenção suficiente da literatura
acadêmica. Os migrantes Sul-Sul têm maior probabilidade que os migrantes Sul-Norte (que
nasceram nos países do sul e migram para países do norte) de estar sem documentos, e,
portanto, de serem trabalhadores com contratos temporários; eles são frequentemente
excluídos dos serviços sociais, de saúde e educação; e estão vulneráveis ao abuso por redes
de tráfico humano e pelos nacionais (HUJO; PIPER, 2007).
A migração Sul-Sul está presente principalmente na América Latina e no
Caribe. Na América do Sul, países como Argentina, Brasil, Chile e Uruguai têm atraído
migrantes econômicos (TEXIDO; WARN, 2013). A maioria dos estudos existentes sobre a
migração tem se concentrado nas remessas econômicas; não se tem dado atenção suficiente
às políticas sociais e especialmente às políticas educacionais para aqueles afetados pela
migração. Nos países das Américas, promete-se sempre o respeito pelo direito do migrante
à educação; no entanto, geralmente o acesso à educação é limitado.
Um dos países que, recentemente, vem enfrentando várias complicações
políticas e econômicas na América latina é a Venezuela. A crise humanitária no país desde
2013 produziu um enorme deslocamento migratório para os países vizinhos do país. De
acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), no
Brasil existem cerca de 168 mil refugiados venezuelanos, estes em sua maioria em situação
ilegal – sem reconhecimento da situação de refugiado.
A América Latina está vivenciando um dos períodos mais conturbados em sua
história: crises humanitárias, crises políticas e econômicas, revoltas populares dentre outros
fatos, que influenciam diretamente o aumento no número das imigrações advindas para o
Brasil. Historicamente, o país sempre foi visto como um país acolhedor, diante de suas
formas articuladas para o processo de migração no país. E uma vez que tais imigrantes
iniciam aqui uma nova vida, estes respondem pelas leis que o país estabelece e gozam
também dos direitos que a legislação (Constituição Federal de 1988) diz sobre eles. Logo,
um dos principais direitos, e, talvez o mais importante, diz respeito à educação.
A partir de tais fatos, neste artigo, questiona-se: como a garantia do direito à
educação está sendo assegurada, perante legislação brasileira, para os refugiados
imigrantes na cidade de Belém-Pa? Quais legislações e documentos oficiais asseguram o
direto à educação dos refugiados imigrantes? Quais os pontos positivos e negativos dentro
de tais documentos e legislação?
O estudo tem como objetivo geral: verificar como a educação está sendo
garantidaos refugiados imigrantes na cidade de Belém-PA. E como objetivos específicos,
tem-se: analisar os documentos que compõem a legislação e regulamentam o atendimento
para esses povos; entender qual o papel Estado no exercício do direito à educação; e
verificar quais os pontos positivos e negativos dentro de tais documentos e legislações.
Para tal, foi realizada uma pesquisa de análise documental, que inclui como
fontes históricas as Legislações (Nacional e Estadual), Constituição Federal de 1988 e
Recomendações do Ministério Público Federal ao Comitê de Assistência Emergencial. A
metodologia utilizada foi a análise documental dos seguintes documentos: a Leide
Assistência Emergencial n° 13.684, de 2018; a Lei de Migração nº 13.445 de 2017; a Lei
de Refugiados nº 9. 474 de 1997, todas disponíveis no site do planalto; os artigos 3º, 4º, 5ºe
6° da Constituição Federal de 1998, disponível também no site do planalto, que dispõem
sobre os direitos de educação; a recomendação nº 34/2019, do Ministério Público Federal e
a nº 41/2017 também do Ministério Público Federal do Estado do Pará, ambas encontradas
no site do próprio Ministério.
Para esta análise, foi considerado o período de 2 anos como período histórico
da pesquisa, pois em se tratando de nível local, as migrações começaram a ter um fluxo
intenso na região de Belém a partir do ano de 2017 – considerando que a primeira
recomendação do Ministério Público Federal do Estado do Pará tenha sido expedida neste
ano.
Este artigo está dividido em três seções: na primeira, aborda a estrutura do
atendimento aos imigrantes no Brasil, a nível nacional; a segunda as questões referentes
sobre o direito à educação e quais legislações e documentos regem o direito à educação dos
refugiados imigrantes no Brasil; e a terceira sobre a análise dos documentos para a
discussão posterior dos pontos positivos e negativos de tais documentos e leis.

1 Estrutura do Atendimento no Brasil

O Brasil já possuí várias instituições e leis voltadas para a questão migratória. A


Lei no 13.445/2017 (BRASIL, 2017), que institui a Lei de Migração, é considerada uma
das mais avançadas no mundo no que diz respeito à garantia de Direitos Humanos dos
migrantes. Ela substituiu a Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980 (BRASIL, 1980), mais
conhecida como Estatuto do Estrangeiro, a qual tinha por base uma forte concepção de
segurança nacional e enxergava o imigrante como uma ameaça a esta. A Lei de Migração
vigente já não percebe mais o imigrante como inimigo, mas como sujeito de direitos em
igualdade com qualquer cidadão nacional, em consonância com os princípios insculpidos
na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a Constituição Cidadã.
A Lei de Migração concede aos imigrantes uma série de prerrogativas até então
conferidas apenas aos nacionais e regula o acesso a diversos Direitos Universais previstos
na Constituição. Ela prevê, dentre outros, um processo simplificado de regularização
migratória; acesso a serviços públicos de assistência social, saúde e previdência; não
criminalização ou discriminação por razões migratórias; acesso à justiça e à assistência
jurídica integral gratuita, quando comprovada hipossuficiência; direito à educação; e
liberdade de ir e vir (GUERRA, 2017).
Rocha & Ribeiro (2018) afirmam que fluxo de venezuelanos ocorre
concomitantemente à promulgação e à regulamentação da referida Lei de Migração.
Portanto, esta experiência influenciou e ajudou na construção de um aparato legislativo
sólido e eficaz para o acolhimento de imigrantes de forma segura, ordenada e regular.
Ainda dentro da esfera legislativa, o Brasil ratificou as principais convenções sobre
o tema migratório, como as relativas ao Estatuto do Refugiado, à Convenção dos
Trabalhadores Migrantes, ao Estatuto do Apátrida e à Convenção para a Redução dos
Casos de Apátrida. Ademais, é signatário de inúmeros acordos bilaterais que dispõem
sobre o tema. Esses acordos e tratados internacionais têm um viés garantista e, cumpre
ressaltar, qualquer resposta do Estado brasileiro deverá levá-los em consideração
(ROCHA; RIBEIRO. 2018).
Segundo Rocha & Ribeiro (2018) a política de imigração no Brasil atualmente é
estruturada por quatro Ministérios, quais sejam o Ministério do Trabalho e Emprego, o das
Relações Exteriores, o da Justiça e o da Segurança Pública, por meio da Polícia Federal. O
Ministério do Trabalho e Emprego tem como principais atribuições a concessão de
autorizações de trabalho, opinar sobre prorrogação de vistos temporários, a fiscalização do
trabalho do estrangeiro e o apoio técnico e administrativo ao Conselho Nacional de
Imigração.
Ao Ministério das Relações Exteriores competem as questões relativas a vistos de
estrangeiros que se encontrem no exterior e regularização de documentos expedidos no
exterior. Já o Ministério da Justiça é responsável pelos encaminhamentos necessários para
concessão de nacionalidade, naturalização e regime jurídico dos estrangeiros, além dos
processos de reconhecimento de refugiados e de asilo político. Por fim, o Ministério da
Segurança Púbica tem seu foco voltado para segurança nacional e segurança pública. A
Polícia Federal, a ele vinculada, é responsável pelo controle migratório nas fronteiras; por
registrar todos os imigrantes que estejam em território nacional, por meio do Registro
Nacional de Estrangeiros; e por receber e protocolar pedidos de permanência, que são
encaminhados ao Ministério da Justiça.
No que diz respeito às instituições governamentais que se dedicam mais
diretamente ao tema, destaca-se, primeiramente, o Conselho Nacional da Imigração (CNIg)
– constituído por diversos Ministérios e associações de patrões e trabalhadores –, o qual
discute o viés da migração laboral e é responsável por formular a política de imigração. Já
o Observatório das Migrações Internacionais – uma Parceria entre o CNIg, a Universidade
de Brasília e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – analisa dados e
produz relatórios anuais e trimestrais sobre o assunto. Além destes, cabe, também destacar
a importância do Comitê Nacional para os Refugiados – Conare, responsável por decidir e
revisar todas as solicitações de refúgio no Brasil, bem como por definir a política brasileira
de refúgio.
Na esfera estadual, há também comitês de atenção a migrantes refugiados, apátridas
e vítimas de tráfico de pessoas. Ressalte-se que esta é uma área transversal que perpassa
diversos órgãos do Governo Federal para além dos citados e cada um deles, dentro de suas
competências, articula-se e desenvolve programas para a garantia dos direitos dos
imigrantes.
Há, entretanto, a necessidade de maior integração entre os órgãos envolvidos na
política de imigração no Brasil. Consoante relatório da Fundação Getúlio Vargas, a
integração traria dados e estatísticos mais precisos, daria mais celeridade aos processos e
aumentaria a eficácia das funções realizadas (ROCHA &RIBEIRO, 2018).
Com efeito, há uma fragmentação no monitoramento da imigração no Brasil, uma
vez que os dados são coletados em diferentes sistemas e nem sempre há um cruzamento
das informações acerca do tema nas diversas áreas correlatas. A divisão de
responsabilidades interdependentes entre os órgãos deve vir acompanhada, pois, de
plataforma integrada para coordenação das funções. Ademais, faz-se necessária a clareza
das informações e a diminuição da burocracia. Desta feita, alcançar-se-ia mais eficácia e
celeridade no processo consoante o relatório citado (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS,
2015).

2 As Legislações sobre Educação para Imigrantes e Refugiados


Inicialmente a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1793), fruto do
contexto da Revolução Francesa, no séc. XVIII, afirmava em seu artigo XXII: Artigo XXII
- A instrução é a necessidade de todos. A sociedade deve favorecer com todo o seu poder o
progresso da inteligência pública e colocar a instrução ao alcance de todos os cidadãos
(DECLARAÇÃO, 1793). Após, já no século XX, a Declaração Universal dos Direitos do
Homem (1948), no artigo XXVI, reafirma:

1.Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução
superior, está baseada no mérito (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
1948).

A partir desses dispositivos a educação passa a ser considerada o componente


fundamental dos direitos humanos, tanto o é que foi tema de debate na Conferência
Mundial sobre Direitos Humanos, no ano de 1993, em Viena. No documento, Declaração
de Viena, a educação está vista como princípio fundamental para o entendimento dos
demais direitos humanos e deverá incluir a paz, a democracia, o desenvolvimento e a
justiça social, conforme definidos nos instrumentos internacionais e regionais de Direitos
Humanos. Para Benevides (2016), a educação em Direitos Humanos é essencialmente a
formação de uma cultura de respeito à dignidade humana através da promoção e da
vivência dos valores da liberdade, da justiça, da igualdade, da solidariedade, da
cooperação, da tolerância e da paz. Nesse sentido, pode-se afirmar que o direito à educação
também está reconhecido juridicamente no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais (1966), ratificado pelo Brasil em 1992, através do Decreto de Lei Nº
591. Em seu art. 13 é afirmado:

Artigo 13. [...] §1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de


toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá visar ao pleno
desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e a
fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais.
Concordam ainda que a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar
efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a
amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou
religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção
da paz §2. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem que, com o objetivo
de assegurar o pleno exercício desse direito:
1. A educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos.
2. A educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação
secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e tornar-se acessível a
todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação
progressiva do ensino gratuito.
3. A educação de nível superior deverá igualmente tornar-se acessível a todos,
com base na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e,
principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito.
4. Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de base
para aquelas pessoas não receberam educação primária ou não concluíram o
ciclo completo de educação primária.
5. Será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede escolar em
todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema adequado de bolsas de
estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente.
6. Os Estados-partes no presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade
dos pais e, quando for o caso, dos tutores legais, de escolher para seus filhos
escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades públicas, sempre que
atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados pelo Estado, e
de fazer com que seus filhos venham a receber educação religiosa ou moral que
esteja de acordo com suas próprias convicções.
7. Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser interpretada no sentido
de restringir a liberdade de indivíduos e de entidades de criar e dirigir
instituições de ensino, desde que respeitados os princípios enunciados no
parágrafo 1º do presente artigo e que essas instituições observem os padrões
mínimos prescritos pelo Estado (BRASIL, 1992, texto digital).

E por fim, a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), no art. 205, assegura
que:

Art. 205 - a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho.

Quando condições desumanas de vida, crises ambientais, fome, conflitos de toda


ordem, discriminação de toda e qualquer natureza, deslocam milhares de pessoas em busca
de um lugar melhor para viver ou para tentar escapar da morte é que muito tenta valer-se
da garantia dada pelo direito internacional dos direitos humanos, que garante a toda pessoa
o direito de abandonar o país em que se encontra, do mesmo modo que lhe é garantido o
direito de regressar ao seu país (KÖCHE, 2015, p.26).
Köche (2015, p. 26) afirma que:

Em termos de direito internacional, não é possível assegurar o direito


correspondente de entrar no território de um determinado Estado. Isso significa
dizer que posso abandonar qualquer país, sem que isso signifique que posso
ingressar em qualquer país, devendo obter autorização deste para poder entrar e
permanecer em seu território. Universalmente falando, não nos é garantido o
direito à livre circulação internacional.

Porém, a ninguém é dado o direito de ignorar a proteção da legislação


constitucional dada a todo migrante que escolhe o Brasil para viver. O caput do artigo 5º da
Constituição Federal diz que os direitos fundamentais são assegurados aos “brasileiros e
estrangeiros residentes no País” (BRASIL, 1988). Assim, orientando-se pelo princípio da
dignidade da pessoa humana, dito no artigo 1º, III, e pelos direitos fundamentais contidos
no referido dispositivo constitucional, conjuntamente com os princípios da isonomia e
universalidade, nossa constituição atribuiu direitos fundamentais a todos os seres humanos,
independentemente de nacionalidade. Com base nisso, é possível concluir-se que toda e
qualquer pessoa, seja brasileira ou estrangeira residente no país, é titular de direitos
fundamentais. Então, o que de fato dizem as leis próprias dos refugiados e imigrantes
criadas a partir da constituição?
O Brasil tem uma legislação de refúgio considerada moderna, partindo do princípio
que a Lei de Refugiados (Lei nº 9. 474 de 1997) tenha conceitos bem ampliados para o
reconhecimento desse povo, em comparação a outros países mais rígidos como o Estados
Unidos da América. Em seus artigos 43º e 44º, podemos encontrar:

Art. 43º - No exercício de seus direitos e deveres, a condição atípica dos


refugiados deverá ser considerada quando da necessidade da apresentação de
documentos emitidos por seus países de origem ou por suas representações
diplomáticas e consulares.
Art. 44º - O reconhecimento de certificados e diplomas, os requisitos para a
obtenção da condição de residente e o ingresso em instituições acadêmicas de
todos os níveis deverão ser facilitados, levando-se em consideração a situação
desfavorável vivenciada pelos refugiados.

Ao se encarar a falta de condições dos refugiados, o Estado brasileiro entende que é


preciso facilitar o ingresso dessa população nas instituições de ensino – embora esta lei não
fale sobre educação especificamente e com clareza. A análise documental feita constatou
as seguintes disposições nas legislações que guiam o atendimento aos refugiados
imigrantes no Brasil:

Quadro 1: Textos da Legislação para a Educação


LEI/ O QUE DIZ SOBRE A EDUCAÇÃO PARA OS
DOCUMENTO REFUGIADOS/ IMIGRANTES?
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil: § 4° promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação;
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações
Constituição internacionais pelos seguintes princípios: § 2° prevalência dos
Federal de 1988 direitos humanos;
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade [...]
Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Art. 5º, § 2º Caberá à Comissão Intergovernamental de
Financiamento para a Educação Básica de Qualidade [...] revisar
as ponderações aplicáveis entre diferentes etapas, modalidades e
tipos de estabelecimento de ensino da educação básica, o limite
proporcional de apropriação de recursos pelas diferentes etapas,
modalidades e tipos de estabelecimento de ensino da educação
LEI 13.684 DE básica e a parcela da complementação da União a ser distribuída
2018 para os fundos por meio de programas direcionados à melhoria da
qualidade da educação básica, bem como respectivos critérios de
distribuição;
Art. 7º, § 4º Fica a União autorizada a aumentar o repasse de
recursos para os fundos estaduais e municipais de saúde, de
educação e de assistência social dos entes afetados, na forma
fixada pelo Poder Executivo federal, após a aprovação do crédito
orçamentário para essa finalidade.
Art. 3º §11º - acesso igualitário e livre do migrante a serviços,
LEI 13.445 DE programas e benefícios sociais, bens públicos, educação,
2017 assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço
bancário e seguridade social;
Art. 4 §10º - direito à educação pública, vedada a discriminação
em razão da nacionalidade e da condição migratória;
Art. 77 § 2º - promoção de condições de vida digna, por meio,
entre outros, da facilitação do registro consular e da prestação de
serviços consulares relativos às áreas de educação, saúde, trabalho,
previdência social e cultura;
Art. 14. O CONARE será constituído por: § 5 - um representante
do Ministério da Educação e do Desporto;
Art. 43º - No exercício de seus direitos e deveres, a condição
atípica dos refugiados deverá ser considerada quando da
necessidade da apresentação de documentos emitidos por seus
LEI 9.474 DE países de origem ou por suas representações diplomáticas e
1997 consulares.
Art. 44º - O reconhecimento de certificados e diplomas, os
requisitos para a obtenção da condição de residente e o ingresso
em instituições acadêmicas de todos os níveis deverão ser
facilitados, levando-se em consideração a situação desfavorável
vivenciada pelos refugiados.
Fonte:Constituição Federal (1998); Lei de assistência Emergencial (2018); Lei de Migração (2017);
Lei de Refugiados (1997).

É notável a evolução que o país teve em relação aos seus textos, desde 1997. As
especificidades quem foram sendo criadas nas leis seguintes, permitiram que os imigrantes
e refugiados tivessem os seus direitos expressos legalmente. Contudo, as duas últimas leis
(dos imigrantes, de 2017, e de assistência emergencial, de 2018) foram criadas a partir das
várias deslocações que a crise em países como a Venezuela trouxeram para o Brasil,
demonstrando assim, que o país não possuía até então, políticas que fossem suficientes
para assegurar de fato todos os direitos que os imigrantes e refugiados têm aqui.
Em Belém, no Estado do Pará, o fluxo migratório de refugiados venezuelanos
aumentou consideravelmente a partir de 2017. Segundo dados expostos no site da
ACNUR, cerca de 450 refugiados venezuelanos vieram para a capital do Pará no ano de
2019. Assim, partindo das leis que dispõem sobre os direitos desses povos, o Ministério
Público Federal do Estado do Pará, fez recomendações ao Comitê de Assistência
Emergencial, em 2019 e 2017. Dentro de tais recomendações, podemos encontrar
disposições sobre a carência de assistências, tanto gerenciais quanto financeiras. Tais
recomendações expressam preocupação pelo atendimento aos povos que aqui chegam, com
um olhar mais cuidadoso sobre como manter as condições mínimas de saúde e
acolhimento. Na recomendação nº 41 de 2017, o Ministério Público pouco revela em seu
texto, partes referentes especificamente à educação. Em uma pequena parte, a
recomendação aos excelentíssimos Chefe da Casa Civil da Governadoria do Estado do
Pará, Secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Secretária de Estado de
Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda pede que:

Construam rede de atenção e apoio, e política de imigração consistente no Estado


do Pará, conjuntamente com órgãos federais e municipais, para atendimento às
demandas humanitárias dos imigrantes venezuelanos e de outros em situação de
vulnerabilidade, que estejam no Estado. (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
DO ESTADO DO PARÁ, 2017)

Isso mostra o quanto o Estado ainda estava entendendo a situação em que se


encontrava visto que o fluxo de migrações começou a aumentar nesse ano, como já dito.
Em sua última recomendação, a de Nº 34 de novembro de 2019, que está assinada pelo
prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, o Ministério Público traz um texto mais detalhado, e
mais ciente do que precisa para o atendimento na capital. Essa recomendação pede ao
Comitê de Assistência Emergencial que crie grupos de trabalho (GT’S) para vários ramos
do atendimento. E um deles é sobre educação:

2) constituam Grupos de Trabalho – GT's nas áreas de Saúde/WASH, Educação,


Documentação e Abrigamento, para discussão de políticas de atendimento para
migrantes e monitoramento de sua implementação, com a definição de fluxos de
atendimento, sendo composto, no mínimo, pelas seguintes instituições: [...] GT
DE EDUCAÇÃO: Secretaria Municipal de Educação (SEMEC), Secretaria
Estadual de Educação (SEDUC), Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e
Educação Profissional e Tecnológica (SECTET), Universidade Estadual do Pará
(UEPA), Universidade Federal do Pará (UFPA), Instituto Federal do Pará (IFPA),
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Sociedade Civil;
(MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DO ESTADO DO PARÁ, 2019).

Nesta última recomendação, é interessante se notar como as definições de funções


estão dispostas. Entretanto, mesmo com os discursos nas legislações, que sempre buscam
integrar tudo, e que, defendem a igualdade de todos, na prática, os resultados são bem
diferentes dos que propostos constitucionalmente. Isso pode ser diagnosticado a partir das
recomendações. Se as leis de fato tivessem políticas públicas suficientes para executá-las,
não seria preciso o ministério público tecer em várias recomendações a criação de grupos
de trabalho para tratar do assunto.

3 Os Pontos Positivos e Negativos

O reconhecimento do direito à educação, no plano interno e internacional, tem sido


formalmente admitido pelo Brasil no decorrer de sua história. O país é signatário de
tratados internacionais que garantem a todos, indistintamente, o direito humano à
educação, tendo também o constituinte originário previsto este tão importante direito no
âmbito da Constituição Federal de 1988. A prática, no entanto, às vezes revela que a
concretização deste direito é falha aos nacionais e estrangeiros que aqui residem, haja vista
o direito à educação depender de políticas públicas que o implementem eficazmente.
No contexto das migrações contemporâneas, que estão a trazer novos desafios para
muitas cidades brasileiras, é elementar trazer à tona a importância da concretização fática
do direito à educação àqueles que desejam ter o Brasil como novo detentor de toda a sua
esperança de uma vida melhor. Assim, após a análise dos documentos, é fácil perceber a
fragilidade das leis quando não existem políticas públicas o suficiente para assegurá-las.
A implementação do direito à educação é um dever do Estado. Portanto, não pode
depender somente à boa-fé dos agentes, mas, sobretudo, da organização de programas e
ações que permitam maior segurança e certeza na sua concretização fática. Direitos que
não se concretizam não são direitos; são apenas texto de lei sem qualquer valor prático – e
é exatamente isso que se pretende combater no que toca ao direito à educação dos
estrangeiros imigrantes no Brasil. Para além de uma mera previsão em textos de lei, visa-se
a concretude.
Destacam-se como pontos positivos para a educação, os artigos que, mesmo com
leis implementadas tão recentemente, abrem possibilidades para a assistência estudantil.
Assim, o direito à educação sendo garantido, influencia diretamente nos processos sociais
que envolvem esses refugiados imigrantes. Outro ponto positivo, é observado quando, o
financiamento para tal área é lembrado, como na Lei Nº 13.864 de 2018. É imprescindível
que, para a articulação e realização dos itens propostos nas Leis, haja recurso suficiente
(apesar da lei não supor como faria a distribuição dos recursos e nem de onde seriam as
fontes destes) para a sua plena execução.
Os aspectos negativos referem-se tanto quanto a já mencionada falta de políticas
públicas quanto ao não nomeamento das entidades responsáveis da gestão de cada área
(educação, saúde, acolhimento dentre outras descritas nas leis). Na recomendação Nº 34 de
2019, pode-se identificar a falta de preparo e organização do Estado em relação a isso:
ainda pretende-se criar grupos de trabalho para discutir as ações propostas. Isso é no
mínimo angustiante. Ao pensar que esses povos, uma vez aqui alocados em casa de apoio -
como oferece a Fundação Papa João Paulo II, a FUNPAPA, que recebe apoio do governo
municipal – ainda carecem de assistências definitivas de educação, de um plano que
garantam sua inserção em um ambiente escolar, é perceptível o quanto a necessidade de
políticas públicas organizadas e eficazes é cada vez maior.
As Secretarias de Educação, tanto estadual quanto municipal, ainda não possuem
planos de inclusão específicos para o atendimento dessa população. Várias notícias no site
da FUNPAPA e da própria Secretaria Municipal de Educação, SEMEC, durante o período
histórico utilizado para a pesquisa, mostraram que as crianças venezuelanas recebiam
atendimento especializado nos espaços dos abrigos, e que teria sido criado uma
coordenação de educação na SEMEC com atendimento especializado para esses imigrantes
presentes nos abrigos. Porém, não foi encontrado na pesquisa, algum documento oficial
que realmente comprove que tenha esta coordenação. Dispensamos nesse artigo, a
necessidade de ir até a SEMEC para buscar mais informações como esta, visto que a
pesquisa feita para a elaboração deste artigo é apenas de cunho introdutório.
Assim, outro aspecto negativo se contém na fragilidade do acesso às leis como um
todo. Ao chegar na capital, partindo de experiência própria, é notável que muitos
venezuelanos ainda se encontram nas ruas. E, supostamente, desconhecem seus direitos
enquanto residentes do Brasil. Com isso, a lei pode até garantir os direitos, mas não facilita
o acesso ao saber desses direitos, por parte dos imigrantes que aqui chegam. Na pesquisa
realizada, nenhum texto em espanhol ou inglês, que contenha os direitos e deveres dos
migrantes e refugiados foi encontrado disponível na internet.
O Estado brasileiro,em que pesa os desafios da universalização de direitos em
sociedades desiguais e discriminatórias, busca pela realização plena do direito humano à
educação. Para isso, deve incluir, além do acesso em si, duas outras preocupações: os
direitos humanos na educação e os direitos humanos através da educação. Pela definição
contemporânea da realização desse direito, ele se realiza se todas as suas dimensões –
disponibilidade, acessibilidade, aceitabilidade e adaptabilidade – forem protegidas,
realizadas e promovidas de maneira conjunta. Assim, essa realização se condiciona
também à manutenção do que está sendo ensinado e à existência de um ambiente que
respeite e promova os direitos humanos.
Diante de tantos pontos, fragilidades e futuras discussões, o papel do Estado é
racionalizar a gestão da educação pública para estes imigrantes e refugiados, buscando
cumprir os objetivos que tem as Leis e a Constituição de assegurar os direitos à educação a
esses povos.

CONCLUSÃO

Segundo Martine (2007), a imigração gera uma série de efeitos econômicos


positivos, dentre os quais o alívio da escassez de mão-de-obra em setores essenciais nos
quais os nativos não querem trabalhar. Ela também pode aumentar a produtividade e
moderar a inflação, como ocorreu no setor tecnológico dos Estados Unidos na década de
1990, de modo que os imigrantes contribuem para melhorar a qualidade de vida e baratear
seu custo no local de destino.
Assim, a imigração, por si só, não deve ser vista apenas como um problema, uma
vez que traz alguns benefícios. Para além de ser um processo natural, que tende a aumentar
com a globalização e o aumento do fluxo de capitais e mercadorias, a imigração cumpre
um importante papel no mercado de trabalho interno, pois os imigrantes preenchem
espaços vazios na cadeia produtiva nacional não ocupados por trabalhadores nacionais
(MARTINE, 2005).
Por óbvio que a imigração também apresenta diversos desafios aos países
receptores, tais como pressão nos sistemas públicos, maior competição no mercado de
trabalho e tensões que surgem devido às diferenças culturais, religiosas e linguísticas. No
entanto, o ponto de partida para a criação de políticas migratórias eficazes é precisamente a
revalorização dos aspectos positivos da migração e a redução gradual dos seus efeitos
negativos.
Globalmente, 7,1 milhões de crianças refugiadas em idade escolar, 3,7 milhões –
mais da metade – não frequentam a escola, segundo o site a Agência da ONU para os
Refugiados (ACNUR, em português), em um relatório divulgado pelo United Nations High
Commissioner for Refugees (UNHCR, em inglês) em 4 de setembro.
O relatório SteppingUp: Educação para Refugiados em Crise, mostra que, à medida
que as crianças refugiadas crescem, as barreiras que as impedem de acessar a educação se
tornam mais difíceis de superar: no mundo, apenas 63% das crianças refugiadas
frequentam a escola primária, em comparação com 91%. E relação à educação secundária,
o número de adolescentes com acesso ao segundo grau chega a 84% contra apenas 24%
dos refugiados.
“A escola é onde os refugiados têm uma segunda chance”, disse Filippo Grandi,
Alto Comissário da ONU para Refugiados. “Estamos falhando com os refugiados, não lhes
dando a chance de aprender as habilidades e conhecimentos necessários para investir em
seu futuro. Precisamos investir na educação de refugiados ou pagar o preço de uma
geração de crianças condenada a crescer incapaz de viver de forma independente,
encontrar trabalho e contribuir plenamente com suas comunidades”, acrescentou Grandi.
Ao se tratar da educação que, legalmente, é um direito assegurado no Brasil, fluxo
migratório venezuelano em Belém tem uma característica bastante peculiar, pois grande
parte dele é indígena, em sua maioria de etnia indígena Warao. Não há relatos anteriores de
deslocamentos de indígenas em situação de refúgio para o território nacional. Indígenas e
não indígenas demandam políticas educacionais separadas dadas as suas diferenças
culturais e necessidades específicas. Essas diferenciações têm por consequência a
adequação de planos educacionais comespaços de valorização à cultura indígena,
entretanto ainda há uma carência de políticas consistentes e específicas para a sua efetiva
inserção social.
A educação assegurada em lei para os que aqui residem, pouco é vista em prática
quando se trata dos imigrantes refugiados que chegam ao país. Libâneo (2001) afirma que
as práticas educativas não se restringem à escola ou à família. Elas ocorrem em todos os
contextos e âmbitos da existência individual e social humana, de modo institucionalizado
ou não, sob várias modalidades. Entre essas práticas, há as que acontecem de forma difusa
e dispersa, são as que ocorrem nos processos de aquisição de saberes e modos de ação de
moda não intencional e não institucionalizado, configurando a educação informal.
Diante disso, penso que, mesmo em ambientes tão diferentes, esses imigrantes
ainda conseguem educar parte da sua família com valores e aprendizagens de vida
cotidiana. Portanto, as instituições responsáveis pela assistência desses povos aqui em
Belém precisam elaborar medidas levando tal situação em primeiro lugar, respeitando suas
culturas diferentes. Mas, apesar disso, eles precisam se adequar aos paramentos
legislativos, sociais e políticos em que agora estão envolvidos. E isso só pode ser entendido
por eles a partir do conhecimento dado sobre a sociedade em que estão inseridos.
É fácil perceber na cidade de Belém, como esses imigrantes ainda são excluídos e,
por consequência, marginalizados pela própria sociedade. Assim, julgo necessário que a
educação tenha o poder de fazer a mudança dentro dos olhares da sociedade – não só
tornando os imigrantes mais instruídos socialmente, como também moldando a sociedade
mais receptiva para o acolhimento dos imigrantes refugiados.
Portanto, tendo o Brasil um título de país acolhedor, é essencial que além das leis
que asseguram o direito da educação para os imigrantes e refugiados e o dever do Estado
para com essa educação, a educação é fundamental para a transformação dessa nação. Os
países que não valorizam a ética, o trabalho e a educação em geral, apresentam economia
frágil, os rendimentos são inferiores, refletindo em todo segmento, como habitação, saúde,
qualidade e expectativa de vida. As nações que priorizam e valorizam a educação têm, com
esse objetivo, maneiras concretas de ascensão profissional-econômica através do esforço
em anos de estudo e trabalho. O contrário ocorre nos países que não valorizam a educação,
a maioria visa uma mudança de vida sem dedicação e esforço, quer uma ascensão a partir
de prêmios lotéricos, no ramo artístico e esportivo.
Com base nas afirmações anteriores, conclui-se que para o melhor desenvolvimento
do país, tais legislações precisam sair do papel e serem implementadas com políticas
públicas eficazes e que comtemplem todos os que delas precisem, tornandoessa população
instruída de conhecimento e que lhe permitam exercer a cidadania dignamente.

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