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Viva suas histórias, por Marcio Kogan.

Este livro foi inspirado em um roteiro cinematográfico, sendo dividido em


três atos. Cada um desses atos é construído por histórias de pessoas que se
PRÓLOGO
cruzaram para que o Edifício Iaras fosse concebido e outras novas histórias
ganhassem vida: as suas histórias.

6 7
ATO I
O KO GA N 10
Marcio Kogan 11

Studio MK27 45

Portfólio 71

ATO I I
Projeto:
MARCIO KOGAN
O EDIFÍCIO 86
Inspiração 87
Equipe: Comunicação:
MARCIO KOGAN MARIANA SIMAS
RENATA FURL ANET TO CARLOS COSTA O Edifício 97
CAROLINA GONÇALVES NATHALIA LIMA
FERNANDA MOURA
Apartamentos 125
Imagens:
Interiores: BL ACKHAUS
DIANA RADOMYSLER Implantação e plantas 173
PEDRO RIBEIRO Branding:
LUISA VICENTINI NIRIN
Localização 191
Paisagismo: Construção e Incorporação:
SUSANA NEDEL KOPSTEIN Diferenciais 195

Paisagismo 201

ATO I I I
A KO P S T E I N 210
Pedro Kopstein 211

Kopstein 229

Portfólio 233
ATO I M A R C I O K O G A N
O KO GA N

11
Marcio Kogan Talvez essa seja a minha lembrança
mais remota de cinema. Esse filme
recebeu Lucas resume bem a his tória, até onde eu

Rachewsky
s e i, d o ê x o d o e u ro p e u d a min h a
família. Eles vieram da Moldávia, da

no Studio MK27, Romênia, da região da Transilvânia,


u m d e s s e s t e r r i t ó r i o s d o min a d o s
no Jardim Paulista, p e l o s r us s o s. Q u a l a his t ó ria d o s

Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio


em São Paulo.
Kogan?

Kogan tem décadas de experiência e


reconhecimento internacional como um dos
maiores arquitetos da atualidade. Nascido
na cidade de São Paulo, dividiu o começo
da
da carreira
carreira entre
entreaaarquitetura
arquiteturae ea sua paixão
paixão
M a rc i o Ko g a n: N a re a lid a d e e u
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos acho que perdi a opor tunidade
de s ab er mais com os meus avós.
filmes
filmes na
na década
década de
de 1980.
1980. Paixão
Paixão essa
esta que deu
deu Talvez p or s er mais mole que, nã o
dava t anto valor pr a is so, hoje eu
origem ao seu estilo único: um flerte entre o
dou. Lembro que um dia perguntei

modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico pra minha avó, quando ela já estava
com quase 10 0 anos. Eu sabia que
de um diretor. O resultado está estampado nas e l a v inh a d a re giã o d e K iev, m a s
p e r g u n t e i d e o n d e e x a t a m e n t e,
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam p er to d e qual cid a d e, e el a f alou
que er am “ dois dias d e c arro ç a”.
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal M eus avós paternos vieram depois
da Revolução Russa, eles chegaram
e elaborando projetos com extremo cuidado e c e d o a o B r a s il. O s m a t e r n o s s ã o

atenção aos detalhes e aos


acabamentos.
acabamentos. Lucas Rachewsk y: Sendo de uma fugitivos da Segunda Guerra e
família de origem judaica não vie r a m d a Po l ô nia. D e s c o b ri is s o
re ligio s a, m a s q u e m e t r a n s mi t iu r e c e n t e m e n t e, a c h a v a q u e t o d o s
um pouco da cultura e da tradição, eram fugitivos de guerra, mas meus
eu fui expos to muito cedo ao filme avós paternos vieram nos anos
“Um Violinis ta no Telhado” (1971), 20, fugindo do antis s emitis mo d a
de Norman Jewison. Revolução Russa.

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LR: O teu pai, Aron, foi um impor tante engenheiro na década de 1950.
Junto ao Waldomiro Zarzur, ele projetou o Mirante do Vale, que foi
o prédio mais alto da América L atina, e também o Edifício Racy.

MK: Ele era formado engenheiro, mas desenhava todos os projetos


com a ajuda de uma pessoa. Fez obras bem interessantes aqui em
São Paulo, como o Edifício Mirante do Vale, acho que até hoje é
o edifício mais alto da cidade e talvez uma das primeiras grandes
es truturas de concreto armado do mundo. Fez o Edifício Racy, ao
lado do Minhocão, que é superbonito. Ele também cons truiu a praça
com a es tátua do Duque de Caxias no centro. Fez bas tante coisa.

LR: Já te vi comentar que o Jacques Tati “copiou” a casa em que tu


morava, projetada pelo teu pai. É curioso pensar em duas visões sobre
uma mesma casa, em um mesmo período, em lugares tão diferentes.

MK: Eu morei numa casa que era, pra quem conhece, exatamente a
Villa Arpel do filme “M eu Tio” (1958). Eu acho que o Jacques Tati
c o piou a c a s a em qu e eu mor av a (ris os), uma c a s a in c ríve l a qui
e m S ã o Pa ul o. Er a o fin a l d o s a n o s 5 0, a f e b re t e c n o l ó gic a, a s
primeiras viagens espaciais acontecendo naquele momento. Meu pai
t entou f a zer uma c as a to d a t e cnoló gic a, como é a c as a d o filme
do Tati. Ela tinha milhões de gadgets e nada funcionava. No carro
tinha um transmissor à válvula que ficava no por ta - malas. Tinha que
ligar um botão no painel para esquentar as válvulas e, quando você
tava chegando na cas a, já ap er tava o botão para abrir a por ta da
gar a g em e t amb ém a c end er as luze s da c as a. Acont e ciam várias
coisas, iluminava todo o seu caminho até o quar to. Tinha uma época
em que passava o ônibus 51, isso era na avenida Europa, um ônibus
elétrico que tinha um ponto exatamente em frente à casa. Quando
ele brecava, emitia uma frequência que ligava a casa inteira às 3h
da manhã. Então tudo começava a funcionar (risos). Mas a casa era
genial. Até olhando algumas fotos, era incrível a sofis ticação dos
interiores. Era uma casa modernis ta radical.

14 15
LR: O Tati com as suas res s alvas e o teu pai abra çando a LR: O meu p ai me contou uma his tória de quando ele foi ao
modernidade. Dizem que o Tati entendia muito bem como Japão em agosto de 1985. Lá apresentaram pra ele o fax e aquilo “Agora você vê o que é a
genética. Eu vivi com ele
as cons truções podem afetar as pessoas que nelas habitam. foi um choque.
Tendo morado numa Villa Arpel da vida real, o que tu diria
ao Tati? MK: Quando eu tinha uns 16 anos, eu fui viajar com um monte de
primos e suas namoradas pros Estados Unidos. A gente comprou
até os 8 anos de idade.
MK: Essa pergunta é boa. Eu vivi nisso, e segui isso, não é? um carro e fez a volta p elo país inteiro. Eu e um outro primo
éramos os caçulas do grupo. Logo no começo da viagem, de
Eu acho que sou igual a ele.
madrugada, paramos num desses pianos - bares de es trada pra
comprar água e me pediram pra descer, eu era o único acordado
Ele gostava de cinema, tinha
no carro, além do motoris ta. Eu entro no piano - bar e vejo uma uma paixão pela arquitetura.
t elevis ã o em core s. Fico p ar a do como s e tive s s e vendo uma
assombração, 5 minutos sem me mexer (risos). Era realmente um engenheiro
L R : H oje e m dia e s t a m o s t ã o a c o s t um a d o s c o m a evo lu ç ã o apaixonado pela arquitetura.”
tecnológica que parece que nada mais nos choca.

MK: Q uando eu vi p ela primeira vez uma transmis s ão de um

“Talvez o Tati continuaria MK: Você sabe que tem um livro recente do Jean- Claude Carrière,
o super-roteirista que fez esse filme com o Tati. Carrière fez esse
arquivo p or e - mail, fiquei cho c a do com a quilo. Como é que
você envia um arquivo em que você es tá trabalhando aqui no
naquele apartamentinho livro pensando nele como o Gerard que tinha crescido, fazendo escritório para um outro escritório em Tóquio e o cara abre no
uma análise da vida dele e da casa. mesmo minuto. Is so era muito mágico. Q uer dizer, a gente já
dele, no subúrbio de Paris, não se assus ta muito, mas é bem incrível.
LR: Tu gos ta dessa modernidade só na arquitetura ou na vida
e estaria feliz nesse lugar. também? LR: O que te surpreende hoje? Essa mesma surpresa que tu teve MK: Tinha uma construtora, assim como o Pedro, e era apaixonado

E eu feliz agora no quando viu pela primeira vez a T V em cores? por isso. Também era a época em que surgia Brasí lia. Não só
MK: Eu era da família Arpel, não sei como era o sobrenome deles a fo rç a d a t e c n o l o gia, m a s t a mb é m d a a rquit e t ur a s urgin d o

mundo modernista.”
(risos). E tinha isso na minha casa. Chegava aquele Chevrolet, MK: Talvez nada mais me surpreenda, eu acho. Parece que tudo naquele momento. Foi um período de revolução na arquitetura,
final dos anos 50, era um acontecimento, aquele carro impecável já tá feito. principalmente no Brasil. Podemos ver hoje em dia a herança
verde - amarelo. Tinha ess a febre da indús tria automobilís tica, disso, talvez o melhor momento da arquitetura, pelo menos em
es se prazer que se p erdeu um p ouco com o temp o. Tem até LR: Tu nasceu em 1952 e eu fico imaginando quão presente era São Paulo e no Rio de Janeiro, claramente. Foi nessa época que
uma cena do filme em que eles resolvem ins t alar uma célula a profissão do teu pai na tua infância. Quais as tuas primeiras fizeram as grandes obras. Grandes no sentido de boas obras,
fotoelétrica e passa o cachorro com o rabinho pra cima, ele cor ta memórias em relação à arquitetura? da boa arquitetura.
a célula e eles ficam trancados dentro da garagem. Tudo isso
acontecia na minha casa. Tudo era assim. Você queria abrir a LR: E tu ali criança nesse universo.
cor tina, era elétrico. Hoje em dia é ridículo isso, mas na época
era tecnologia de ponta. Você abrir uma garagem com controle MK: Exatamente.
remoto? Tem que ver o que era.

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LR: Tu frequentava as obras com teu pai?
“Depois da morte dele, eu tinha
8 anos, entrei em uma vida
MK: Uma das minhas memórias mais antigas sou eu segurando
a mão dele na laje de um prédio que não sei qual era, olhando
a vis t a, m eio c o m m e d o, p o rqu e n ã o e r a um lu g a r p r a um a
criança es t ar. Es s a é uma das lembranças que eu tenho. Tem
em branco e preto. E por aí
outra história que contei esses dias numa live com os presidentes
d o h o s pit a l A lb e r t Eins t ein qu e d eixo u t o d o s e m o cio n a d o s.
foi a minha adolescência, uma “Passando na frente de
O meu pai cons truiu, ou começou a cons truir, o hospital Alber t
Eins t ein a qui e m S ã o Paul o. M e l e mb ro d e ir c o m e l e ve r o
adolescência bergmaniana.” um lugar chamado Cine Bijou,
terreno do hospital. Lembro bem disso porque olhei pra baixo que todo mundo da minha
e vi o campo do São Paulo. Eu era são - paulino, acho que agora
não sou mais (risos). Fiquei pensando: já que vou fazer essa live, época deve conhecer bem,
será que essa história é verdadeira? Fui procurar alguma imagem
do es tádio começando a ser cons truído e achei no site do São onde exibiam filmes de arte,
começou a chover e eu entrei
Paulo exatamente a minha visão. Inclusive tinha uma criança na
imagem olhando o es tádio lá do morro, onde seria o hospital.

no cinema pra me proteger.


Eu lembro que o camp o es t ava marca do, mas não tinha na da
cons truído em volta. E você vê: mesmo que por pouco tempo
isso entrou na minha alma.
Eu não sabia quem era
Bergman, eu não sabia nada.
O filme era até proibido
pra menores de 18 anos,
tinha cenas bem fortes
LR: Eu me lembro de escutar a voz da Jeanet te cantando “M e de sexo, acho que queriam
só vender mais um bilhete
Olvidaras” várias vezes. “Cria Cuer vos” (1976), do Carlos Saura,
é o filme favorito da minha mãe. As cenas iniciais de “Gritos e

e me deixaram entrar. O filme


Sussurros” (1972), do Bergman, ainda me assombram. “20 01:
Uma Odisséia no Espaço” (1978), “O Iluminado” (1980), “Blade
Runner” (1982), entre tantos outros. O cinema sempre foi muito
presente na minha casa. Acho que minha mãe pendia mais pros
me atingiu absurdamente.”
europeus, e meu pai, pros clássicos americanos, mas ele também
a dora Fellini. Como o cinema entrou na tua vida e o que ele MK: Eu acho que virei o pior aluno de uma escola pública de
mudou em ti? São Paulo, o pior aluno que já passou naquela escola. Um dia,
eu devia ter 15 ou 16 anos, es tava matando aula, eu fazia isso
MK: Bom, aí eu acho que o meu pai teve uma influência indireta. seguidamente pra andar pela cidade.

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“Eu acho que entendi MK: Depois, na época do cursinho, eu conheci o Isay (Weinfeld).
A g e n t e t inh a u m a g r a n d e e m p a t ia in t e l e c t u a l, t o t a lm e n t e
LR: S e não me engano, tem uma frase do Niemeyer
que diz: “A arquitetura não impor ta, o que impor ta é a

o significado, a importância
centralizada em Bergman, duas crianças que adoravam Bergman vida”. A ins talação “Peep” foi inspirada nela?
lá com 17 anos, quase crianças. Aí surgiu o cinema de um jeito
mais profis sional. Nós come çamos a fazer Sup er 8, tivemos
da palavra ‘arte’. O que bas tante sucesso. Depois fizemos um cur ta em 35 milímetros
chamado “Idos Com o Vento” (1983). O filme era baseado na

é arte, como isso pode orelha do livro “E o Vento Levou”. O primeiro filme da his tória
baseado numa orelha. Como não tínhamos dinheiro pra fazer o

influenciar na sua vida. filme baseado no livro inteiro, foi só a orelha (risos). Depois,
em 198 8, fizemos um long a - me t r a g em qu e p r a mim foi um

Eu era o menino que


des as tre. O Is ay não gos t a que eu fale is so, mas foi es s a a
minha sensação. Vínhamos de uma carreira vencedora de cur ta,
mas fazer um longa é muito diferente. Eu es tava nos primeiros
tava na tela com roupa anos de arquitetura e quebrei. Gastei dinheiro no filme e fiquei
6 meses sem vir ao meu escritório. Hoje em dia o escritório é

de cowboy e uma arma, muito bem estruturado, mas na época não era. Perdi os poucos
clientes de um começo de carreira. Eu não s abia se voltaria

era eu pequeno, o menino pro cinema ou pra arquitetura. Queria decidir entre os dois e
pensei: agora vou ser arquiteto 24 horas. Traumatizado, volto
MK: Minha frase predileta dele. Eu não acho que tenha
sido. Talvez tenha uma relação, quer dizer, eu nunca

Johan. Me deu um clique


pro escritório, e a vida meio que começa do zero. Fiquei de
pensei em conec tar as duas coisas, mas de fato essa
mal com o cinema, não queria mais nada, saí machucado da
relação existe. Seria uma paixão voyeurística de mostrar
experiência. Recentemente, já pelo Studio, começamos a fazer
que mudou a minha vida. alguns cur tas que têm bastante relação com a nossa arquitetura.
a vida dentro de uma casa, sem se preocupar com a
arquite tur a. Rar amente vo cê vê qual é a arquite tur a
Isso começou em 2012, decidi voltar a fazer um filme quando

Eu saí do cinema vendo


da casa. Talvez tivesse uma câmera que desse pra ver
fomos convidados pra representar o Brasil na Bienal de Veneza.
um pouco da cas a lá do jardim, o res to eram planos
Fizemos uma videoins t alação, era uma grande parede pret a
fechados e que iam mostrando um pouco, de uma forma
a vida em cores e isso cheia de visores e você enxergava o que acontecia dentro de
uma casa. De um lado era a par te social da casa e do outro
voyeurís tica que eu gos to, o que é uma casa. Eu acho
que era bem explícito, não quero mostrar a arquitetura,

mexeu com tudo o que


a par te de ser viço. Isso tinha um pouco a ver com o tema da
quero mostrar a vida. Talvez aí seja a hora em que entra
Bienal. Às vezes eu dirijo, às vezes dirijo com alguém, o Gabriel
o Niemeyer, que a arquitetura não tem imp or tância.
(Kogan) também já dirigiu. Todo mundo dirige e já fizemos uns
aconteceu comigo.” 8 ou 10 filmes, mais ou menos. Todos es tão no nosso Vimeo.
O que impor ta são os amigos, a vida, a famí lia, o que
tem em volta.

20 21
LR: Pens ando em mo dernismo, que preza p ela pureza das linhas
e pelo essencial, a ornamentação é a vida que acontece dentro da
arquitetura.

MK: Eu acho que sim. Quer dizer, a gente pensa muito na arquitetura
dessa forma. Eu penso.

“Às vezes você entrega um lugar


pra pessoa botar a vida dela
em cima, então ela é minimalista
“Não quero no primeiro dia, e um dia não
mostrar vai ser mais. Eu até sou contra
ter esse minimalismo pra sempre.
a arquitetura, Você viu o escritório como LR: Esse colecionismo surgiu quando na tua vida? Tem algum objeto

quero mostrar
da tua coleção que seja especialmente marcante?
é, a sua vida encaixada em
MK: Eu acho que já nasci com ele (risos). L á em cima tem vários.
todos os cantinhos. Você pode
a vida.”
Tem um Minion com uma história engraçada. Eu estava com a Mariana
Simas (diretora no Studio MK 27 ), nós fomos dar aula numa escola
olhar aqui e ali, a experiência em Los Angeles, ficamos lá uns dez dias. Um dia eu não aguentei
mais ficar dentro da escola e disse pra darmos uma volta — lá não
de vida, cada coisinha, atrás tem muito isso de dar uma volta no quar teirão — e descobrimos um
boliche dos anos 50. Entramos pra dar uma olhada, era bem bonito,
da minha mesa, cada coisa tinha uma máquina dessas que pegam bichinhos, essas garras. Eu
só tinha uma moeda no bolso e peguei aquele Minion. Imagino que
tem uma historinha, você nunca na his tória alguém com uma única moeda tenha conseguido
pegar um bicho desses (risos). Já botei numa caixinha de acrí lico,
pode escolher qualquer objeto ele tem uma his tória. Tem es s a coleção de desenhos que eu faço
com o Gabriel, quer dizer, aqui (na sala de reunião do Studio) é só
e eu vou contar uma história de arquitetura e design. S empre tem o trabalho de alguém que a
gente gosta. Esse quadro de um circo é da Lina Bo Bardi (aponta pro
sobre ele.” quadro na parede). Croquis que nós fomos colecionando pela vida.

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MK: Em um cer to momento, eu comecei a fazer isso com o Fellini. LR: E aí tu pecou (risos).
Depois de Bergman, e talvez antes de Tati, virou uma paixão. Eu
es tava na feira de Milão em um evento que fizeram pro escritório, MK: (gargalhada) Eu falei: Não acredito. Isso é Fellini. E era uma
e não sei se foi pra uma televisão ou jornal italiano que comentei cena, eu entrei em um filme do Fellini. As pessoas com aquelas
da minha paixão pela Itália, por Fellini e por muitas coisas de lá. roupas. Fellini puro.
No dia seguinte, eu tô lá no Salão do Móvel indo almoçar, na fila
do buf fet, e re ceb o uma mens agem da sobrinha do Fellini, que LR: Ontem passamos horas aqui no teu escritório com o Carlinhos
por vários anos foi assis tente de direção do tio. Ela falou: “ Vi sua (Carlos Cos ta, diretor de ar te do Studio MK 27). Ele nos mos trou
entrevis ta, eu quero que você venha conhecer a minha famí lia”. Aí cada detalhe, foi uma surpresa em cada canto.
eu fui pra Roma. Fui dar aula, tava com o Gabriel, e fomos conhecer
a famí lia do Fellini (risos). Você vê: então é uma coisa que leva a MK: L á em cima tem dois desenhos do Fellini, na verdade três,
outra e, de repente, eu tô dentro de um filme do Fellini. Chego lá um é frente e verso. Você conhece esse livro (aponta pro livro)?
em Roma, não é uma cidade que eu conheço bem, eles me convidam “O Livro dos Sonhos”, do Fellini. Ele desenhava seus sonhos
pra ir tomar alguma coisa em um pátio maravilhoso de um desses e só tem quatro desenhos que não es tão nes te livro, e a gente
hotéis de luxo, tava toda aquela alta sociedade decadente romana, tem dois.
e eu lá dentro do “ L a D olce Vit a”, de rep ente. Acab ei fazendo
amizade com a famí lia, foram sup ercarinhosos. M e levaram pra LR: A arquitetura é um ofício muito sério. Nós estávamos falando
ver onde o Fellini comia, onde ele gos tava de ir, o apar tamento antes sobre as ferramentas, os sof t wares, as camadas técnicas, os
dele. Eu conheço todas as fofocas, brigas de famí lia, brigas com orçamentos, e que nem sempre é fácil colocar humor em coisas
pros titutas (risos). Foi muito legal isso, muito legal. Até tem uma que exig em muit a re s p ons abilid a d e, mas eu a cho que vo c ê s
história muito engraçada, eles falaram: “Façam uma reser va à noite fazem isso muito bem nas apresentações do escritório.
nesse lugar que o Fellini adorava ir e que tem o melhor mil - folhas
do mundo. Comam macarrão à carbonara, coisas típicas romanas, MK: Sabe que eu fui dar uma aula inaugural lá no auditório do
mas não deixem de pedir o mil - folhas”. Eles foram embora, e nós Mackenzie, devia ter umas 80 0 pessoas. No final, na hora das
fomos pro res taurante. Chegando lá, tá o papa da Igreja Or todoxa perguntas, um aluno me pergunta assim: “Cadê o humor no seu
com uma comitiva enorme em volta dele. Milhões de limousines trabalho de arquitetura?”. Eu fiquei cinco minutos em silêncio. Eu
Mercedes na por ta, todo o alto escalão da Igreja Or todoxa. Na hora não soube responder. Cadê o humor numa obra? Onde tá isso?
de pedir a sobremesa, pedimos o mil - folhas e o garçom: “ Vocês Parece que o humor e a arquitetura não condizem. A não ser um
vão me desculpar, mas o papa comeu o último” (risos). Incrível, é prédio kitsch que você passa e dá risada, mas isso não é humor.
verdade essa his tória.

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Pedro Kopstein: É aí que entra o bonequinho Se a janela que tá aqui me incomoda, se ela deveria es tar em outro
símb olo do es critório? Acho que a grande lugar. Então é totalmente movido pela felicidade, pelo prazer de
qualidade que eu vejo na tua arquitetura não f a zer e d ar is s o pr as p e s s o as. Uma vez eu d ei uma ent revis t a a
é o re s ul t a d o e s t é t ic o, m a s a c a p a cid a d e uma revis ta espanhola, não era nem de arquitetura, era de assuntos
de gerar emoção nas pessoas. Penso que a gerais, e falei que eu sou uma espécie de pros tituta, que recebe
arquitetura te deixa mais feliz. À s vezes tu dinheiro pra dar prazer pros outros. Saiu na capa da revista: “Eu sou
chega em um lugar com um projeto horroroso uma puta” (gargalhada). Mas é, se for olhar, até o meu apar tamento
e, se tu é uma pessoa sensível à arquitetura, tá longe de ser qualquer obra que a gente faz, porque acaba nem
aquilo te faz ter uma noite pior, tu te diver te “Até o jeito de projetar, pra dando tempo, e eu gas to esse tempo pra criar vida pras pessoas.
m e n o s. E o c o n t r á r io t a m b é m é v e rd a d e; É is so, mesmo relativo ao roteiro de cinema, is so de tent ar criar
p or is so que, como incorp or a dor, o nos so mim, é escrever um roteiro. emo çõ e s, s ab e? O lugar nã o s er um lugar buro crá tico, p as sivo,
foco é, claro, a execução, mas também a boa que ele traga ess a forma, às vezes um pé - direito maior, às vezes
arquitetura. A gente acredita que com is so E eu me imagino sempre um pé - direito menor, a tensão, a falta de tensão, um corredor mais
v ai cons e guir com que as p e s s o as t enham estreito, um corredor mais largo, o jeito de olhar pra fora através de
u m a v i d a m e l h o r e m a i s f e li z d e n t ro d a s dentro da obra que estamos um quadrado ou de uma bola. O tempo todo criando uma narrativa
cas as. Às vezes a p es soa se sente b em em para que a pessoa não possa ficar indiferente a isso. Ela pode até
um projeto sem s ab er exatamente por quê. desenhando. Às vezes eu gosto não saber interpretar, mas a emoção vem junto, isso também é uma
É uma sens a ção. Is so que eu vejo na missão do trabalho.
arquitetura que a gente busca. E vocês até de inventar personagens
conseguem trazer isso pro projeto. Da nie l S kow ro ns k y : Volt ando nes s e as sunto do humor, que eu
que eu vou ser pra usar nessa acho interessante. É difícil ele realmente es tar na arquitetura, mas
MK: O próprio cinema acaba trazendo muita a arquitetura é palco pra ele.
coisa pra minha arquitetura. Então o que antes obra, e ver se eu tenho prazer
era a arquitetura pro cinema, virou cinema MK: Eu acho que arquitetura é coisa séria. Eu não sei, eu acho que
pra arquitetura. de estar lá ou não.” tenho até o famoso humor judaico comigo.

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MK: O humor é uma coisa muito presente na minha vida, todos MK: Tem uma história engraçada aqui no escritório. Foi um concurso fechado LR: O Richard Feynman conta uma his tória que se chama MK: Isso é uma coisa com a qual eu sou meio obsessivo. Eu
os segundos, talvez um humor mais cínico, mais es tranho, isso para um bilionário russo em que chamaram três escritórios. Era uma casa no “O d e t o a f l owe r ”, e e u vejo muit a re l a ç ã o c o m a a rquit e t ur a. gosto do ato de desenhar. Desde o começo do estúdio, precisava
tá dentro da minha alma, mas acho que ele transborda zero pra meio do nada. Eu acho que a arquiteta que cuidava do projeto não pegou o Principalmente com a forma como eu percebo a arquitetura desenhar a planta de piso, a planta disso ou daquilo. A gente
arquitetura, zero. Arquitetura é uma coisa muito séria. Talvez até espírito do que é ser um bilionário russo. Eu falei pra ela: Por uma semana, de vocês. Por trás da pureza das linhas e da estética que impressiona foi incor p or and o d e t alhe s e mais d e t alhe s e mais d e t alhe s,
no mau sentido, ela é séria. Se eu fizer uma coisa engraçada imagina que você é uma bilionária russa. Entra no papel, como uma atriz à primeira vis ta, exis te um universo. São níveis de detalhes que até virarem projetos de 10 0 ou 20 0 folhas A0. Eu nem acho
numa obra, ninguém vai gos tar. que vai representar, mas ela falou que não conseguia. Eu disse: A zar o seu, permitem descober tas e instigam novas sensações o tempo todo. Me que isso faça uma obra ser melhor do que a outra. Tem até o
perdeu a opor tunidade de ser uma bilionária russa por uma semana (risos). fala sobre essa atenção aos detalhes em tudo que envolve o projeto. exemplo do Niemeyer que não detalhava nada, e as obras são
LR: Por isso os vídeos das apresentações de vocês têm tanto int ere s s ant e s. M as, a qui, a nos s a via g em d o e s t ú dio é uma
humor? O vídeo de apresentação do projeto das Maldivas, por via gem no det alhe, s ab e? O det alhe do det alhe do det alhe.
exemplo, é muito engraçado. A ideia de uma caixinha em que tudo é encaixado e se ajunta, e

M K : S im, e s s e é e n g r a ç a d o. Fo i p ro Wo r l d A r c hi t e c t u r e
“Quando você está o parafuso tá direitinho. A gente gosta disso, o ato de desenhar
virou a cultura do es túdio. E isso ficou cada vez pior por aqui
Fe s t i v a l, e m q u e vo c ê t e m 10 minu t o s p r a a p re s e n t a r s e u
projeto. Nós fizemos um roteiro, na verdade um PowerPoint
desenhando, não dá (risos). Quer dizer, os meus seguidores já são piores do que
eu. Isso é legal. As empresas italianas de design acabaram nos
de uma apresentação, que tinha no início um filme das pessoas
felizes nas Maldivas na primeira semana, e muito irritadas já na
pra fazer isso dentro “Tenho um amigo que é ar tis ta e tem uma opinião com a qual não
chamando pra desenhar pra eles, porque eles olhavam is so.
Eles não cos tumam chamar um arquiteto pra fazer um trabalho,
segunda (risos). Eu acho que esse lugar é feito pra você ficar
uma semana, e não duas. Quando a gente fez o projeto (Patina
da sua realidade. concordo muito. Ele vai segurar uma flor e dizer ‘Olha que linda
é‘, e eu concordo. Então ele diz: ‘Eu, como ar tista, posso ver como
mas começaram a nos chamar porque viram essa qualidade do
detalhe do desenho, do design. “Deus es tá nos detalhes”, Mies

Você tem que transpor.


M aldives), nós p ens amos muito em ter cois as diferentes pra isso é lindo, mas você, como cientis ta, desmonta tudo e torna as van der Rohe. Eu penso assim também. Essa frase é linda. Isso
não depender só do quar to e do res taurante, ou do mar. Então coisas chatas‘, e eu acho que ele é meio maluco. Em primeiro lugar, é um processo, é interessante. Fazer 10 0 peças se encaixarem

Isso é um filme,
nós propusemos uma vila, que seria não só pro hotel, mas pra a beleza que ele vê está disponível para outras pessoas e para mim perfeitamente. É um trabalho invisível e muitas vezes você olha e
outros hotéis em volta, com restaurante e pavilhões de ar te, e o também, acredito… fala: essa obra deles é simples demais, mas na verdade quando
cliente acabou comprando a ideia e fez. Então a gente brincava
e defendia nessa apresentação uma forma de você não ficar
uma peça de teatro.” Eu posso apreciar a beleza de uma flor. Ao mesmo tempo, vejo muito
você vai ver de per to não é nada simples, pois tem milhares de
detalhes. Isso é bonito, uma par te bonita do ofício. Às vezes o
entediado na segunda semana. mais sobre a f lor do que ele. Eu posso imaginar suas células, as cliente não quer pagar o que a gente tá pedindo e eu falo que o
ações complicadas por dentro, que também têm uma beleza. Quero escritório não tá cobrando pelo nome, mas de fato pelo trabalho
LR: Tem uma música do início dos anos 70 que eu gos to muito dizer, não é ap enas b eleza nes t a dimens ão, em um centímetro; que tem. O trabalho é grande; se você olhar um projeto, vai ver
chamada “Angel From Montgomer y”, do John Prine. A letra fala tamb ém há b eleza em dimensões menores, na es trutura interna, como é impressionante.
sobre os sonhos, as frustrações e o fato da vida de uma mulher n o s p ro c e s s o s. O f a t o d e qu e a s c o re s d a f l o r evo luír a m p a r a

t er simple sment e p as s a do. A músic a é int ere s s ant e p or s er atrair insetos para polinizá - la é interessante; isso significa que os LR: Nós que recebemos os arquivos vemos isso na prática.
cantada em primeira pessoa, essa ideia do Prine de se colocar insetos podem ver a cor. Isso acrescenta uma questão: esse sentido

no lu g ar d e s s a mulh er p r a c o nt ar su a his t ória. Tu c o ment a es tético também exis te nas formas inferiores? Por que é es tético? PK: Eu sou tes temunha disso também. Lembro que orcei uma
sobre o teu processo criativo na arquitetura ser influenciado Todos os tipos de ques tões interessantes que o conhecimento da m a rc e n a ria d e um p roje t o d e vo c ê s e f e c h ei c o m um a d a s
p e l o cin e m a, a c ria ç ã o d e um ro t eiro e, e s p e cia lm e nt e d e LR: Essa é a par te que tu mais gos ta nos projetos? ciência apenas acrescenta à excitação, ao mis tério e ao espanto de maiores empres as do Sul. A arquitet a respons ável enviou os
personagens que te colocam no projeto. Quando se faz uma uma flor. Isso apenas adiciona. Eu não entendo como isso subtrai.” arquivos do detalhamento e o meu contato na marcenaria me
casa, exis te um personagem definido, mas quando se trata de MK: Eu acho que isso é tudo. liga e diz: “ Pedro, dobrou o preço, eu recebi 25 plantas de
um edifício, se abre um leque de possibilidades. – Ode to a flower (tradução livre). detalhe, eu nunca tinha recebido mais de duas”.

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M K: (g arg alha d a) Te oric ament e, is s o s er ve pr a b aixar o cus to d e um
trabalho. Ele provavelmente orçou algo errado na primeira vez e um dia DS: Tu também acabou inspirando ele nessa ques tão um trabalho muito bom, é uma espiral que começa a
isso ia es tourar adiante. Mas, quando se sabe usar esses detalhamentos, acadêmica. Tu também gos ta de dar aula? subir. Cada coisinha é uma coisinha a mais, e melhor
a obra tem muito menos surpresas. e melhor e melhor, até que você chega numa situação
M K : S e u m di a v o c ê a s s is t ir a u m a a u l a d e l e, v a i r a zo a ve l m e n t e c o nf o r t á v e l. M a s q u e b r a r e s s e s 10,
PK: A gente enxerga, como cliente, essa diferença no detalhamento e é entender do que eu tô falando. Ele é muito bom nisso. 15 primeiros anos é angus tiante. Apes ar de ser feliz
muito impressionante. O envolvimento, a quantidade de horas, as reuniões Não tô falando porque é meu filho. Eu vou pra I tália em todos os momentos de arquitetura, esse início foi
pra decidir o detalhe do detalhe. Nada passa batido. E o resultado disso e dou aula com ele e com o Filipp o Bricolo, s ã o os um momento que não gos to nem de me lembrar. Foi
tudo fica maravilhoso. melhores professores que já vi. O nome é meu, mas eu triste, porque você fica ansioso que o jogo tá correndo
não faço nada. Na verdade, sou o assistente e eles dão e vo c ê t á p e rd e n d o d e 4 a 0 p r a v id a o u p r a s u a
MK: Pra se realizar uma boa obra, nós temos que passar por esse processo. show. É um show de aula incrível. Os alunos gos tam profissão, e você precisa ter paciência pra buscar os
quando eu fico desenhando com eles na mesa, como 4 gols nos últimos 10 minutos de jogo. A ansiedade
L R : D ize m qu e t e u filh o G a b rie l t e m um o lh a r muit o s ofis tic a d o p r a eu faço aqui no escritório, mas o res to é com eles. Eu te mata. Teve uns dois anos que entraram uns projetos
arquitetura e que uma das frases mais comuns dele, quando trabalhava no vou lá porque tem uns res taurantes que eu adoro, eles e fize m o s c ois a s b e m l e g ais e, d e re p e nt e, is s o t e
escritório, era: “Isso es tá inaceitável”. sabem disso (risos). joga em outro patamar. Então é muito complicado. Isso
eu acho tamb ém que tem muito a ver com o sis tema
M K : El e já n a s c e u t o t a lm e nt e c o m is s o n a a lm a. O o lh o d e l e é m ais LR: O Studio MK 27 foi fundado no final dos anos 70. aqui no Brasil de poucas obras públicas. Você vê em
sofisticado que o meu, comparando as idades. Quando tinha uns 30 anos, o São mais de 40 anos de trajetória. Isso é uma vida e, vários lugares do mundo e isso dá muita opor tunidade
olhar dele como arquiteto estava muito acima do que eu tinha nessa idade. as sim como a vida, eu imagino que tenha momentos pros jovens arquitetos. Aqui o mercado é praticamente
Teve uma época que ele trabalhou aqui no escritório, ele passava na sua felize s e ou t ros nem t anto. Fala um p ouco s obre os privado, então você depende disso. Em vários lugares
mesa, via o desenho e falava: “Isso es tá inaceitável”. E vou te falar: 90% momentos mais marcantes pra ti na his tória do Studio. do mundo, são dezenas de concursos o ano inteiro.
das vezes ele tinha razão. Um olhar mor tal, uma coisa muito sofis ticada.
MK: O começo foi muito difícil, muito, muito difícil. LR: Teve um projeto específico que foi bem marcante
PK: E vocês trocam ideias ainda? Vo c ê e s t á a p r e n d e n d o e a i n d a n ã o t e m u m b o m nessa his tória, a Casa Gama Issa.
cliente. Conciliar o seu trabalho com um bom cliente
MK: Sim, bas tante. Tem coisas que a gente faz juntos. Es tamos fazendo é ex tremamente difícil. Esse é o grande desafio, todo MK: Foi b em ne s s e momento em que a gente fez 3
uma cas a. Ele na realidade não é uma p es soa que ficaria o dia inteiro mundo que tá começando vai entender do que es tou o u 4 p roje t o s qu e tive r a m s u c e s s o. I s s o é a t é um a
fechado no escritório. Já é de uma nova geração que também não tem lá falando. Por sor te a gente acabou atravessando essa coisa engraçada: quando eu me formei, queria fazer
aquela paciência de ficar 10 anos no mesmo trabalho. Mas ele adora fazer b arreir a. Tem gente que não cons e gue. É um golp e habit ação so cial e me formei pra is so. Fui conhe cer
e gos ta muito da par te catedrática, então ele faz um pouco de projeto, de sor te, na realidade. M omentos de muita angús tia tudo que es tavam fazendo disso no mundo inteiro, fui
um pouco de aula, vai ser professor aqui e ali. Esse é o caminho que ele em que eu sabia que poderia fazer muito mais do que visitar as novas cidades francesas, era o que eu queria
acabou escolhendo. eu es tava fazendo e não tinha essa possibilidade. Um fazer. De repente, fui parar em habitações de alto luxo,
dia entra um ou outro cliente e você começa a fazer porque o des tino te faz isso.

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Toca o telefone e daí é um cliente superlegal: “Quer fazer uma Me deu um clique no momento e eu soube lidar com
casa pra mim? Nós vimos uma obra que você fez que a gente “Uma das coisas que isso muito bem. Eu tava contando isso pra um amigo
gos tou muito”. O telefone toca, e você vai por aqui, depois vai na época mesmo, e ele falou: “ Tá bom, agora você
por ali. Um des tino incrível. E aí essa casa acabou catapultando eu aprendi com o tempo vai fazer a minha cas a”. Porque ele a chava que eu
o escritório pra fora do Brasil. Foi capa de muitas revis tas. Eu não tinha essa capacidade de ouvir. E acabei fazendo.
tenho umas 50 ou 60 publicações em revis tas. Nós pegamos o é saber ouvir. Eu acho M a s é muit o l e g a l is s o. Q u a n d o vo c ê é jove m, s e
segundo lugar em um concurso megaimpor tante de arquitetura, sente acima do mundo, é difícil aprender a ter essa
então ajudou muito o escritório nesse sentido. É um cliente que que você nunca sabe ouvir humildade e entender o processo. Eu tenho o costume
foi muito incrível. Ele aprovou 100% do projeto. Já voltei a fazer de ouvir muito.
projetos pra ele e ficou 1 ano pra aprovar, mas aquele aprovaram quando você é moleque,
na hora (risos). LR: O Studio tem mais de 40 anos, mas foi em 2001 o

meio arrogante. E um dia ponto de virada e o momento em que vocês adotaram


L R : Tu m e c o nt ou um a his t ó ria qu e e u a c h o b e m re l ev a nt e, um sis tema de cocriação e trabalho cooperativo.
especialmente pra quem tá começando a trabalhar com arquitetura
ou outro ofício criativo que envolva uma relação intensa com o
eu aprendi, sabe? Logo no MK: Sim, foi essa a época da ebulição. Arquitetura
cliente. A his tória é sobre o pedido de um cliente que ajudou a
moldar a essência do Studio.
começo me pediam uma coisa é uma profissão de velho. Posso falar isso com muita
cer tez a. Vo cê aprende a fa zer o pro ce s s o de uma

MK: Após esse primeiro momento, fazíamos tudo muito asséptico,


e eu não sabia lidar com isso. forma muito demorada. Eu gosto disso. Você raramente
vai ver alguém com vinte e poucos anos fazendo um
muito branco, meio Kubrick. E um cliente falou: “Queremos uma
casa de vocês, mas não vai ter branco nenhum aqui”. E essa foi
Era: ou é isso, ou é isso. projeto incrível. Cinema também tem um pouco disso.
Tem o caso do Orson Welles, que tinha vinte e poucos
a primeira vez em que começamos a mis turar materiais naturais,
pedra, madeira, concreto. A casa acabou ficando supercharmosa,
Aos poucos fui aprendendo anos quando fez “Cidadão Kane” (1941), mas é muito
raro fazer uma obra - prima quando jovem.
e l e s m o r a m l á a t é h o j e e d e i x a m t u d o s u p e r a r r u m a d i n h o.
Gos tamos dessa fusão de uma arquitetura modernis ta asséptica
a ouvir e entendi que talvez PK: Mas foi o que o David Libeskind fez em São Paulo,

a segunda, a terceira ou
com uma coisa muito calorosa. Talvez tenha 20 anos essa história, o Conjunto Nacional é maravilhoso.
foi no começo dos anos 2000, e virou a nossa arquitetura. E vou

a quarta opção pode ser


te falar uma coisa: todo cliente que a gente levava na Casa Gama MK: Exis tem casos. Sabe quem era genial? Eduardo
Issa, a gente não pegava o trabalho; todos que a gente levava Longo, que ainda muito jovem fez obras incríveis aqui

muito melhor do que a anterior.


nessa outra casa, a gente pegava. A casa ficou muito sedutora, em São Paulo.
a outra é um museu. Quando vinha pessoal de fora, imprensa,
PK : O Fr a n k L l oyd Wr ig h t f oi p e g a r o j ei t o m ais
Então eu levava a crítica
vo cê lev av a na Gama I s s a; quando er a um cliente, lev av a na
outra. Essa casa acaba marcando a arquitetura que o escritório velhinho.
fez nos anos seguintes.
como uma oportunidade MK: As obras demoram, os processos demoram, e aí
LR: Eu considero isso uma grande lição pros novos arquitetos. fica pronto.
É uma ques tão de saber ouvir e interpretar. de melhorar alguma coisa.”

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MK: Quando você é muito jovem e faz uma obra muito
“Eu tenho essa coisa boa, eu conheço várias his tórias, você naufraga. Você

de nunca chegar
não tem maturidade pra fazer isso. É o jeito de lidar
com todo o processo, de lidar com o cliente, de lidar

em uma obra e falar:


na obra. É uma profissão que demora. Eu gos to disso,
sabe? É mais difícil de copiar, você até pode copiar um

que incrível o que


material ou alguma coisa na fachada que aparece, mas
é um processo complexo e eu não acho que se aprende

a gente fez. Eu chego


isso de um dia pro outro.

LR: Estávamos falando em humor antes e eu me lembrei


lá e falo: poderia de uma situação que aconteceu ontem enquanto

ficar melhor.”
f a zía mos um t our p e l o S t u dio. Eu t av a o lha n d o p r a
tua sala de longe e o Edu Rabin (diretor de fotografia)
tava de frente pra mim com o Carlinhos ao lado. D e
repente eu vejo o olhar do Edu encontrar um quadro
P K : To d o s o s t e u s c o l e g a s a q u i d o S t u d i o j á m e
e simplesmente entrar em cho que. Já es távamos nos
disseram: “Quando o Marcio vai depois de pronto…”.
acos tumando a ver as obras originais nas paredes do
escritório, mas aquele era um Modigliani. O Carlinhos
MK: Não é que eu tenha prazer em falar: nos s a, eu
sou muito bom. Nunca tive isso na vida, nada, zero. Eu
entendeu a situação na hora e começou a rir. Então ele
disse: “Esse (pausa dramática) não é original”. Eu achei
“Acho que eu trouxe
quero fazer melhor. Então é isso. Uma demorou 3 anos,
você vai fazer a outra, são mais 3 anos, e vai girando
uma piada maravilhosa.
do cinema o trabalho
a vida e você vai aprendendo a fazer. Até hoje em dia
acho que ainda não aprendi a fazer. Penso que is so
MK: (gargalhada) Esse quadro a gente usou em uma
cena de museu no filme “Fogo e Paixão”. Recentemente
em equipe. No cinema
seja uma coisa muito bonita da profissão.
o Is ay trouxe ele aqui e me deu de presente.
O Modigliani tava guardado no escritório dele.
tem isso de uma forma
DS: Es s a fr us t r a ç ã o d e t er minar a o b r a e p erc e b er
que poderia ter sido melhor, isso ajuda a tornar o teu
Edu a rd o Ra bin: Eu olhei o qua dro e dis s e pro
muito forte e na arquitetura
trabalho ainda melhor?
Carlinhos: tá de sacanagem.
era 'o dono e o resto'.
MK: Eu não acho que seja uma frus tração. Não me dá
o prazer que muita gente teria. Mas eu gos to disso, da
PK: Deve ser bom ter um Modigliani original.
Você vê a importância
lição que você tira. Não tem um trabalho que eu não
tenha uma crítica, que eu não ache que poderia ter feito
MK: Mas uns croquizinhos assim... lá em cima tem um
Magrit te, mas é um desenho de caneta Bic (risos).
de uma direção de
melhor. Isso é o que eu olho, acabou. Eu gos to desse
olhar. Tem muita gente que pensa: “Eu sou incrível, eu
L R : R e s g a t a n d o e s s a c o n e x ã o c o m o c i n e m a . Tu
fotografia, a importância
sou não sei o quê ”. Eu acho até ridículo (risos).
comentou da influência do cinema na tua arquitetura.
Quais são os elementos do cinema nos teus projetos?
de uma cenografia,
LR: E tu vê: o Orson Welles nunca conseguiu repetir
algo tão grandioso. de um roteiro.”

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MK: O roteiro às vezes faz o filme. É uma equipe trabalhando LR: Eu gosto muito do cineasta Chris Marker e ele tem uma coleção
e a arquitetura não tinha esse sentido. Eu comecei a implantar chamada “Petite Planète”, de 195 4 a 1964, de guias de viagem.
um sis tema coletivo de trabalho aqui no Studio que exis te Cada volume é um país, são 32. Alguns enfatizam his tória, outros
até hoje e é muito for te. Uma época eu es tava começando a ar te ou política, mas todos incluem informação prática de viagem.
contratar mais gente, fomos crescendo muito devagarinho e Quais lugares não poderiam faltar no teu guia de viagens, além de
veio um pessoal, um grupo de cinco amigos, pedir emprego, São Paulo, claro?
t r a zend o um p or t fólio in c ríve l. Eu nã o p o dia c ont r a t á - l os
naquele momento e deixei de lado. Acho que um ano depois MK: Eu tenho muit a paixão p ela I tália, por to das as razõ es que
comecei a contratar um, depois outro, e entrou um pessoal mencionei. Dou aulas lá há muitos anos, tenho vários amigos no
j o v e m, m ui t o c a b e ç a, b a s t a n t e c o n h e c e d o r d o q u e t a v a p aís. Ad o ro o lu g a r, a d o ro a s p e s s o a s. Tr a b a lho c o m a l gum a s
acontecendo no mundo. Todos eles fizeram pós - graduação fábricas it alianas. Criei um amor p elo lugar. O bviamente adoro
em Barcelona. A Renata Furlanet to é uma delas, a Samanta Paris, adoro Londres, mas, recentemente, nos últimos 10 anos, a
Cafardo também. Me deu um clique de fazer o escritório virar his tória da famí lia virou o Japão. Uns 8 ou 9 anos atrás, eu resolvi
isso, sabe? Das pessoas par ticiparem. Todos os projetos do ir pro Japão e foi uma espécie de viagem interplanetária. Esse foi
escritório têm coautores. Eu nunca assino sozinho, em nenhum o sentimento, de che gar em outro planet a. Eu gos tei dis so. Um
dos casos. Isso virou uma mágica aqui dentro. Eu às vezes lugar que eu tenho empatia, não é um lugar em que eu moraria,
luto, tem que aparecer o nome de todo mundo no projeto, mas é um lugar que eu adoro visitar. Acabamos fazendo amizade,
as pessoas são coautoras, é uma outra forma de visualizar o p or c aus a d o Ga b rie l, c om vários arquit e t os ja p one s e s, fomos
trabalho. Então virou um lugar em que as pessoas par ticipam conhecendo esse trabalho brilhante que eles fazem na arquitetura
do projeto num primeiro nível, todo mundo. Obviamente que contemporânea. É um lugar que virou um objeto de desejo. Fui
o pessoal mais experiente tem mais força, mas mesmo muita todos os anos desde então. Agora com a pandemia falhei 2 anos,
gente começando tem opor tunidades nesse sentido. Isso foi mas quero voltar logo. Eu nem gos to de conhecer todo o Japão,
uma cois a bonita do cinema. Noss as obras têm muito esse gos to de ficar em Tóquio. Tem até umas brigas familiares ou com
olhar alongado da tela do cinema, uma coisa miesiana (Mies os amigos que vão junto às vezes, p orque p or mim ficava só lá
v a n d e r Ro h e). Q u a n d o eu ia e s c o lh e r qu a l fr a m e filma r, andando pela cidade. A gente sai de manhã pra ir ao museu que
quanto mais alongado, mais eu gos tava. Então eu acho que fica a 2 horas de dis tância, chega ao museu às 5h30 da tarde e o
o olhar pelo view finder, pelo visor da câmera, é o jeito de museu já tá fechado. Nunca chegamos aos lugares, porque vamos
olhar a arquitetura, a nossa arquitetura. Isso é uma coisa for te. passando por uma loja, por um café, entramos numa livraria, vamos
O ato de projetar como um roteiro. Acho que esse primeiro explorando a cidade e nunca chegamos ao des tino combinado.
momento é um roteiro, em todo o seu sentido, você poderia
escrever o projeto. E outra coisa é a luz. Você vê a mágica LR: Tu planeja ou prefere te perder pelas cidades?
da luz no cinema, isso é incrível, a luz natural, a luz ar tificial.
No longa que fizemos, às vezes o pessoal ficava fazendo a luz MK: Nas ruas eu gosto de ir caminhando, horas e horas caminhando,
por 12h, aquele cenário horrível em que se vê o pano saindo. mas você tem que planejar um pouco se não você não consegue ir
Liga a luz, plim, a mágica. Isso é muito incrível. Numa obra de jantar em nenhum lugar razoável. Eu faço algumas visitas de obras
arquitetura tem que pensar na luz natural, na luz ar tificial. Isso de arquitetura que eu gos to, dessa nova geração de arquitetos, já
é mais uma es trelinha pro capítulo emoção. Não só emoção, dos anos 70 e 80, acho incrível o trabalho deles. Sempre vamos
o aspecto de ser aconchegante, de ser agradável de se viver ver obras desses japoneses que pra mim fazem a melhor arquitetura
no lugar, a luz tem muita impor tância nisso. a t u a l. S a n a a, Nis hiz aw a, Toyo I t o, S ou Fujimo t o, Ke n g o Kum a,

38 39
J u ni c hiro Ta niz a k i, n a v e rd a d e e s s e é u m e s c r i t o r, PK: Já tomei, são incríveis mesmo. “Eu achava que tinha outro
mis t u re i u m e s c r i t o r c o m o s a rq ui t e t o s, m a s é u m
e s c r i t o r q u e e u g o s t o b a s t a n t e. Te m u m a s é r i e d e
vários nomes que es tão fazendo um trabalho incrível.
LR: A Fernanda, minha namorada, morou em Tóquio aos
17 anos, trabalhou com o Issey Miyake, e as his tórias
mundo pela frente. Então
o modernismo não era
E tem uma coisa muito interessante: são obras em que são incríveis. Ela é apaixonada por Tóquio, sempre me
nenhum ocidental moraria. Elas quebram paradigmas da diz que se sentia dentro de “Blade Runner”.
arquitetura. Fui visitar uma casa em que o chão da sala
era de terra, outra em Tóquio que o terreno tinha 32 MK: Exatamente, é “Blade Runner”. Às vezes você tá a minha praia. Depois
m , você acredita nisso? Um pouco maior do que essa
2
na rua e se sente em “Blade Runner”, naqueles lugares
sala. São espaços muito pequenos, em que você passa
p or um ambiente p ar a ir a o outro. À s vezes pre cis a
cheios de bares. Você es tá dentro do filme. E tem uma
coisa muito for te do filme que é essa mis tura bas tante
de formado, no mundo
passar por um quar to para ir a outro quar to. Quebram
todos os princípios de arquitetura e eu acho isso genial.
clara do pas s ado e do futuro. O tempo todo você tá
n o lu g a r m ais f u t uris t a d o mun d o e à s veze s t á n o
real, comecei a ter profunda
Tudo que a gente tenta fazer um pouquinho fora de um lugar mais atrasado do mundo. Isso é muito evidente.
racionalismo ocidental impecável, o cliente não aceita. É um povo tradicional que ao mesmo tempo faz coisas admiração pelo modernismo
E lá você vê isso acontecer o tempo todo. Muita gente supermodernas na par te de moda, arquitetura, ar te, é
topou o desafio de morar em uma casa experimental, muito incrível.
brasileiro e entender uma M K: N e s s e final d os anos 5 0, c ria uma arquit e t ur a
um prédio experimental.
i n c r í v e l, u m a m ú s i c a i n c r í v e l, t u d o i n c r í v e l v e m

LR: Tu já assis tiu a “Tok yo Ga”, do Wim Wenders?


LR: Vocês são fãs da geração do modernismo brasileiro.
O que mais te inspira nos projetos dessa geração e de
coisa que é muito incrível: d e s s e lu g a r. N ã o foi s ó Nie m eye r, foi muit a g e nt e
n a a rq ui t e t u r a e n a mú s i c a t a m b é m. Er a u m B r a s il
que maneira vocês mantêm esse espírito nos projetos
MK: Sim, inclusive esses dias teve uma grande polêmica do escritório? como esse lugar, o Brasil, d e s s e m o d e r nis m o c hic, o B r a sil d e J o ã o Gilb e r t o.
Foi sens acional. Comecei a ter es s a fascinação e no
que tá chegando ao fim, do prédio cápsula que es tão

totalmente isolado, um
final sou cria desse movimento. Talvez todo arquiteto
come ç ando a d emolir. N ã o queriam d eixar d e jeito MK: Quando eu tava na faculdade de arquitetura, eu
brasileiro seja filho disso. Todo arquiteto atual é filho
n e nhum, m a s e l e t e m p ro b l e m a s d e s e gur a n ç a. D a o diav a e s s e mo d er nis mo. O diav a Niemeyer, o diav a
daquele momento. Acho que o modernismo que se fez
última vez fui visitar uma des s as cápsulas. Consegui
entrar no prédio, o que é bem difícil. Você mora em
t u d o e m v o l t a d i s s o. O s p r o f e s s o r e s t i n h a m e s s a
cultura, eles queriam ensinar quase como um sis tema
terceiro mundo autêntico, no Brasil foi o grande mo dernismo da his tória. Q ue
começa com es se prédio do Minis tério da Educação

cria, em um certo tempo,


um apar tamento de uns 10 m 2 . Mas é cara de cápsula d o g m á t i c o. N a q u e l e m o m e n t o e u t a v a in t e re s s a d o
e S aúde, com a cura doria do L e Corbusier, no final
mesmo, tudo embutido, parece uma nave. n a a r q u i t e t u r a d o g r u p o i n g l ê s A r c hi g r a m, n a d o
d o s a n o s 3 0. U m a vez e u t a v a m e p re p a r a n d o p r a
grupo it aliano Sup ers tudio, cois as mais conceituais,

algo tão mágico.”


uma conferência sobre o Niemeyer, de quem eu não
LR: Aliás, no começo do teu vídeo “Daiki”, da Minot ti, mais contemporâneas, no período em que já es tavam
conhecia tão profundamente o trabalho na época, e eu
eu pensei que tu falaria “ Es tou tomando um Suntor y cons truindo o Centro George Pompidou.
ia sentar em uma mesa com todo mundo que conviveu
no b ar do hot el...”, como o Bill M urr ay em “ L os t in
com ele. Achei uma entrevis ta com o Lúcio Cos ta no
Translation” (2003), da Sofia Coppola, mas era só uma
YouTube em que ele conta que o Marcel Breuer disse a
Coca - Cola com gelo e limão.
ele que, enquanto o mundo es tava fazendo a Segunda
Guerra, o Brasil es tava fazendo essa obra incrível de
M K : ( g a r g a l h a d a ) D e f a t o i s s o a c o n t e c e. Eu n ã o
arquitetura, com uma tecnologia do futuro. E esse era
sou muito de b eb er, mas os whiskies jap ones es s ão
o prédio do Minis tério da Educação e Saúde.
incríveis, então de vez em quando eu tomo um whisk y
lá. Não sei se você já tomou, Pedro?

40 41
LR: O teu escritório é uma miscelânea de arquitetura e
ar te. Me pareceu uma declaração sobre a necessidade
M K : Sim, e s s e é um p ro c e s s o b a s t a n t e p r a ze ro s o.
Você se transpor ta pra cada lugar e, obviamente, os
“E voltando a uma pergunta
anterior, levar um pouco do prazer,
de es t armos cerc a dos de ar te na vida. Es s a rela ção arquitetos locais e as pessoas locais nos ajudam muito.
é mui t o p re s e n t e n o m o d e r nis m o b r a s il eiro. Q u ã o O escritório tem feito bas tante isso. É até curioso: uma
impor tante é a intercessão ar te e arquitetura pra ti? O vez tínhamos o projeto de uma casa em uma montanha
Edifício Iaras não ganhou esse nome à toa. com neve no Canadá. Como uns tropicalistas conseguem da felicidade do nosso trabalho
fazer isso, não é? Era inverno na nossa primeira visita e
MK: Essa é uma ótima colocação. Foi muito clássico o cliente queria que a gente visse a montanha com neve.
pra quem vai morar nesse lugar.
do modernismo a presença da obra de ar te. Uma coisa Fomos visitar o terreno, imagina a gente subindo com
muito for te do Niemeyer é ter sempre uma obra de ar te
pontuando a arquitetura. No Edifício Iaras, acontece
aqueles sapatões, não sei o nome daquilo, uma coisa
bem ridícula. Estávamos eu, a Mariana Simas e a Diana
Eu olho e gosto muito mais de falar
sobre isso do que de explicar
uma cois a bem curios a, e eu acho que é um retorno Radomysler subindo aquilo e o cara falou: “Não saia
poderoso do Studio a esse modernismo. Nós achamos da trilha”. Eu me dis traí, fui olhar a vis ta e desapareci
uma o p or t unid a d e d e c omp r ar uma d as e diç õ e s d a num buraco, tiveram que me resgatar (gargalhada). Eles
escultura “As Iaras”, que es tá na frente do Palácio da iam na frent e p or c aus a dis s o, e eu tinha qu e fic ar o prédio. Acho isso muito poderoso.
Alvorada, do Alfredo Ceschiat ti. Uma edição limitada, pres tando atenção nas pegadas pra não sair da trilha.
e m e s c a l a um p o u c o m e n o r. N ó s l ev a m o s is s o p ro Acho que desviei uns 15 cm e fui embora, de repente
É uma relação, quase um amor
Pedro, ele adorou a ideia. É uma homenagem a essa eles olham pra trás e eu sumi (gargalhada). Eles estavam
arquitetura do Niemeyer com a ar te do Ceschiat ti, que
a c ab ou s endo re s p ons ável p or várias e s cul tur as em
com medo dos tropicalistas subindo a montanha nevada.
Mas isso é o tempo todo, faz par te do nosso dia a dia.
à primeira vista, e eu dou muito valor
pra isso. Não é comum encontrar
Brasí lia. É um prêmio pela carreira, o prazer de um dia estar em
Barcelona, outro dia estar em Por to Alegre, outro no Rio
LR: O hall com a escultura de Ceschiat ti no espelho - ou na montanha nevada no Canadá, isso é muito legal.
d'água talvez seja uma das coisas mais emblemáticas esse tipo de coisa no mercado
do Edifício Iaras. LR: Como tu descreve a arquitetura do Edifício Iaras
e o que mais te impressionou no resultado atingido?
brasileiro. Eu tô te falando com
MK: É bastante emblemático, até porque essa escultura
não é tão simples de se conseguir. É uma homenagem
ao modernismo brasileiro com toda a intensidade.
M K : Eu vo u t e f a l a r a c ois a q u e m ais m e c h a m a a
atenção nesse projeto: o Pedro Kops tein. Uma pessoa
zero demagogia. Poderia inventar
qualquer outra resposta, mas aqui
com muito amor e empatia p elo nos so trabalho, que
L R : Vo c ê s p ro j e t a m p ro m u n d o t o d o. Pro j e t a r e m trat a o escritório com profundo resp eito, sem me dir
u m a cid a d e e x ig e u m c e r t o ní ve l d e c o m p re e n s ã o e s f o rç o s p r a g e n t e t e r um g r a n d e p roje t o. I s s o n o
cultural. Como funciona pra vocês esse processo de mercado imobiliário é muito raro. Es tamos envolvendo isso existe com muita força e você
e nt e n dim e nt o a c a d a cid a d e? O I a r a s é o p rim eiro muito amor, porque ele merece.
projeto do Studio MK 27 em Por to Alegre.
sabe disso perfeitamente.”

42 43
S T U D I O M K 2 7

45
Renata Furlanetto, Diana Radomysler e Pedro
Ribeiro, profissionais responsáveis pelo
Edifício Iaras, conversam sobre arquitetura,
interiores e todos os detalhes do projeto.

Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio


Kogan tem décadas de experiência e
reconhecimento internacional como um dos
maiores arquitetos da atualidade. Nascido
na cidade de São Paulo, dividiu o começo
da carreira entre a arquitetura e sua paixão
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos
filmes E N T de
na década R 1980.
E V Paixão
I S esta
T Aque deu
origem ao seu estilo único: um flerte entre o
modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico
de um diretor. O resultado está estampado nas
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal
e elaborando projetos com extremo cuidado e
atenção aos detalhes e acabamentos.

Admiradores da geração do modernismo brasileiro,


o s a rquit e t o s d o S t u dio M K 27 b u s c a m c ump rir
a t aref a d e re p ens ar e d ar continuid a d e a e s s e
movimento icônico, criando projetos que valorizam
a simplicidade formal e são elaborados com
ex tremo cuidado e atenção aos detalhes.

46 47
Renata Eu não tenho nenhum parente arquiteto e não
t inh a n e nhum a re l a ç ã o m ais e m o cio n a l c o m
Furlanetto, a a rquit e t ur a, m a s e u qu e ria e nt r a r n a FAU.

diretora
Co mo eu nã o s a bia ex a t a m e nt e o qu e f a ze r,
a chei que entrar na FAU s eria uma op ção de
s er qualquer cois a que nã o ne ce s s ariamente
arquiteta. Só que eu não entrei na FAU, entrei
na Mackenzie e assim começou a minha relação
com a arquitetura. Hoje em dia eu acho que foi
a melhor cois a que aconteceu na minha vida,
porque hoje eu tenho cer teza que eu quero ser
arquiteta.

“De uma certa


maneira, a minha vida
Lucas Rachewsk y: Renata, a foi me encaminhando
expressão que mais ouvi aqui
no Studio MK27 foi trabalho pra estar em um lugar
c o l a b o r a t i v o. I n c l u s i v e o M a r c i o
comenta sobre isso ter sido um que eu tenho muito
p onto d e vir a da pro e s critório.
Também me chamou a atenção o fato orgulho de estar,
d e t o d o mund o qu e c onhe ci a qui
es tar no Studio há mais de 10 anos. que é aqui. Fazer
M e f a l a s o b re a t u a t r a j e t ó r ia n a
arquitetura e sobre o que significa trabalhos que eu
pra ti fazer par te dessa equipe.
tenho muito orgulho
Renata Furlanet to: É verdade, eu
es tou no Studio há 20 anos. Eu não de fazer e o Edifício
sabia muito bem se faria arquitetura,
pensei em ser psicóloga, médica e Iaras, da Kopstein,
até oceanógrafa. A arquitetura caiu
na minha vida de sopetão. é um exemplo disso.”

48 49
“No final das contas,
Eu trabalhei muito com professores, então me relacionei
com a arquitetura de uma maneira muito visceral. Eu LR: Como foi voltar pra realidade brasileira até entrar LR: O Iaras é o primeiro projeto de vocês pra Kopstein

eu acho que gosto de


comecei a trabalhar cedo, não era por dinheiro, mas pro Studio? e também o primeiro em Por to Alegre. Esse desafio de
p e l o p r a ze r d e a p re n d e r a l g o q u e e u n ã o t in h a a desbravar um novo cliente e uma nova cidade é o que
R F: Q u a n d o e u vo l t ei d e B a rc e l o n a, e u t av a muit o
aprender e isso não acaba
menor ideia do que significava. Pra mim, a arquitetura, alimenta o teu trabalho criativo?
construir uma casa, era como abrir o capô de um carro perdida, porque eu não tinha muito como me relacionar
R F: N u n c a t í n h a m o s t r a b a l h a d o e m Po r t o A l e g r e,
na vida. Arquitetura é um
e falar: “Como eu conser to isso?”. A arquitetura tem com os escritórios daqui. Fui de novo trabalhar com
uma coisa criativa, que é a base, mas ela se propõe a um profe s s or, p ois a chei que s e guiria uma c arreir a então seria uma primeira experiência. Trabalhar para

pouco isso, você nunca tá


ser um objeto que vai ser usado pelas pessoas, então a c a dêmic a. Um amigo veio tr ab alhar com o M arcio, in c o r p o r a ç ã o é u m a c o is a q u e à s v ez e s t e c o l o c a
exis te uma técnica, um jeito de fazer. Exis te uma coisa eu já acompanhava um pouco do trabalho dele. Eu me numa p osição como arquiteto de ser tolhido, de ser

pronta. Você sempre está


que você tem que ir aprendendo com o tempo. Então eu lembro de uma entrevis ta que vi em que ele falou que limitado. M as tem duas coisas que diferenciam muito
sempre fui me baseando nos exemplos que eu tinha e, no Deus estava nos detalhes. Na hora eu pensei: Acho que essa parceria com a Kops tein e que fizeram o projeto

achando que tem alguma


primeiro momento, meus exemplos eram os professores. quero trab alhar com es s e cara. Porque pra mim era dar cer to. Primeiro, a Kops tein entende de arquitetura,
Por isso, a minha relação na faculdade foi muito for te, isso, não era uma coisa objetiva, era subjetiva, era uma então entende desse sonho, do desejo de fazer uma

coisa que pode melhorar


eu entrei de cabeça. Antes de sair da faculdade, eu já emoção. Pra mim faz sentido trabalhar com emoção, coisa bem feita. E eu acredito que eles querem deixar
queria ter o meu próprio escritório e logo montei um apesar de ser algo técnico, que tem um processo. Se um le ga do, eles têm um le ga do que imp or t a, nã o é

e aprender.”
com três amigas. Só que tivemos uma crise econômica não tem esse sentimento, essa visceralidade, tem o lado um negócio pura e simplesmente. Tem um outro tema
horrível e eu decidi ir embora do Brasil pra es tudar. da angústia, mas tem a sensação de você ter conseguido que pra gente foi impor tante: a Kops tein conhece para
Eu fui pra Barcelona, onde morei com dois arquitetos chegar a um lugar que pra você tava tão difícil. Pra mim qu e m e s t ã o f a ze n d o. O nt e m e s t áv a m o s f a l a n d o d o
e só fiz coisas relacionadas com arquitetura. Trabalhei é um pouco isso. Quando comecei a trabalhar com o projeto e eu até brinquei que ele nasceu em volta da
na universidade, trabalhei na Ac tar Arquitec tura, um Marcio, ele me deu muito espaço. Eu tava entrando com churrasqueira. O primeiro projeto complementar que
escritório que na época era muito fora do padrão. Não uma cabeça Barcelona, totalmente utópica, e ele tinha eu tive foi o d a ex aus t ã o d a c hur r as qu eir a, p orqu e
era sobre o ofício, mas sobre as ideias de arquitetura, uma prática que tava se consolidando. Eu lembro que a e s s a vid a e m vo l t a d o c hur r a s c o é imp o r t a ntís sim a
eu conheci um jeito de fazer completamente diferente primeira casa que eu fui visitar do escritório foi a Gama p ro g a ú c h o. O qu e p r a mim, qu e s o u it a lia n a, é a
d o qu e eu tinha a prendid o na f a cul d a d e a t é ent ã o. Issa; eu não fiz essa casa, eu não tava aqui, mas eu vi o macarronada do domingo, é o churrasco pro gaúcho.
Isso foi um divisor de águas, pois eu não queria fazer escritório nascer a par tir dali. Éramos muito pequenos, Então entramos em Por to Alegre por um caminho muito
arquitetura pelo trabalho de simplesmente cons truir e estávamos fazendo casas, mas também queríamos fazer gos toso, de entender para quem es távamos fazendo o
entender qual o projeto executivo, qual a sequência do Trabalhar aqui no Studio é isso, eu tô aqui há 20 anos e concursos. Fizemos um para a embaixada da Espanha. projeto e juntamos isso com a nossa linguagem.
processo, produzir uma coisa que depois vai pra obra eu não acho que tô pronta, assim como eu tenho cer teza Tínhamos muita vontade de sonhar e foi isso que me
e fica pronta. Eu queria fazer alguma coisa que tivesse de que o M arcio a cha que ele não tá pronto. É uma prendeu a o e s critório; a gente nã o p ar a de s onhar,
significado e pudesse de alguma maneira me trazer um busca constante de você pensar, é uma crítica, tem uma nã o p ar a d e ima ginar cois as que a g ent e nã o fez e
orgulho não por repetição, mas por pensar coisas que dor, um estresse, mas por outro lado quando a gente faz poderia fazer.
outras pessoas não tinham pensado ainda. um projeto do qual se orgulha é uma felicidade imensa.

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LR: De que forma essa linguagem se traduz no com todas as suas vísceras, estrutura, ar- condicionado,
empreendimento? elétrica, hidráulica. Claramente é um produto que es tá
sendo muito b em cuidado. Então não é só sobre ter
“Quando fazemos casas
R F: O e difício v ai t e r um a quin a d e v idro n a s a l a,
que é completamente interligada com a varanda. Essa
um projeto le gal, mas sobre como cons truir de uma
maneira não só eficiente, mas de qualidade. Às vezes
para diferentes pessoas,
relação do dentro com o fora, essa não limitação, essa eu me confundo, pois escuto o Pedro falando: “ Vamos
expansão que vem do modernismo, é uma coisa que tá fazer isso, isso tem que durar, se eu morasse aqui faria tem um prazer nessa
intrínseca em como pens amos os espaços. Por outro assim”. E ali a gente percebe que tem um valor, como
lado, nunca teríamos pos to a cozinha na frente e, de se ele es tivesse fazendo pra ele mesmo. É nesse ponto relação, pessoalmente
repente, a gente coloca a cozinha e a sala pra melhor que a gente se parece também: cada vez que fazemos
vista, pois é ali que a vida da família vai se dar. Criamos
a possibilidade dessa cozinha estar ligada com a sala e
um projeto, é como se estivéssemos fazendo pra gente.
Temos que tomar milhares de decisões, e muitas vezes
eu me envolvo muito com
ligada com a varanda, então você pode comer dentro
ou fora. São vários momentos em que você vê ali, que
tomamos essas decisões dentro de um universo do que
consideramos que é bom e fazemos com esse cuidado.
os clientes. Entramos num
pra gente fez todo sentido, pois o Pedro Kops tein nos É esse processo e esse cuidado que dão tão cer to com
disse “Eu acho que vocês precisam pres tar atenção no a Kops tein. nível de intimidade muito
churrasco”, e foi ótimo.
LR: A arquitetura é muito racional, mas ela mexe com grande, e isso tem que ser
LR: Vocês sempre fizeram muitas cas as, mas de uns uma das coisas mais impor tantes na vida das pessoas
anos pra cá começaram a projetar edifícios. que é a moradia, e tu fala muito sobre emoção. Também
sobre esse cuidado com a qualidade, pois a arquitetura,
com um certo respeito, não
RF: Nós temos um background muito grande de casas,
já fizemos muitas para muitos clientes. Nós entramos
principalmente em se tratando de edifícios, ela fica.
Como funciona pra ti essa f luidez entre as cidades e
dá pra você olhar com crítica
muito na intimidade de cada um. A arquitetura, pra mim, os projetos, como é o teu processo em relação a essas
faz sentido quando aquele que vai usar se reconhece mudanças culturais? necessariamente. Não que
ali. Estamos fazendo uma base que passa a ter valor no
momento em que for usada, em que tiver um significado RF: Eu me sinto superprivilegiada. Na primeira vez em você não tenha que impor
pra quem tá usando. Eu acho que é impor tante dentro que morei fora, conheci um mundo que eu não tinha a
d e s s as rela çõ e s t ent ar ent end er o client e, fa zer um
t r a b a lho qu e, p r a e l e, s eja o m e lho r p os síve l, p ois
menor ideia do tamanho que poderia ter. Tem uma coisa
de você conhecer os lugares, de passar pelos car tões
limites às vezes, mas você
pra um e pra outro as respos tas são diferentes. O que
pra um pode ser muito impor tante, pra outro não. Às
postais, mas tem outra: as pessoas que teoricamente são
iguais a você, vivem de jeitos tão diferentes, pensam de
vê que existem jeitos diferentes
veze s é difícil qu a n d o a g e nt e f a z um p ré dio, p ois jeitos tão diferentes de você. Então pra mim isso é muito
não temos um usuário final que nos guia, e eu acho pr a zeros o, p o d er conviver com p e s s o as e ent end er de viver e que não tem certo
que a Kops tein fez es se trabalho de ir guiando es s a jeitos diferentes, aprender algo que eventualmente eu
conversa e criando esse produto do qual temos muito não teria parado pra pensar, com pontos de vis ta tão ou errado. Pra mim, viajar
orgulho, tanto em termos es téticos de projeto quanto diversos e que são válidos, que fazem sentido.
de experiência, que foi muito boa. Porque o projeto é
um projeto, agora o prédio será um prédio cons truído
fez isso se expandir.”

52 53
Comecei fazendo casas, e a gente detalha muito, vai lugares do mundo. E isso de entender o que a gente
a t é a ú l t im a c o n s e q u ê n cia, e n t ã o a p re n di o o fí cio fazia do detalhe da por ta, da borracha, o pivô que vai
nu m a e s c a l a m e n o r. Q u e r dize r, f iz l o j a, f iz c a s a, na p or t a, t amb ém tivemos que abrir a nos s a cab e ça
q u e a p a r e n t e m e n t e s ã o c o i s a s m e n o s c o m p l e x a s, em termos de especificação e dar conta de um monte
LR:
“Sem o cliente ajudar,
A arquitetura tem uma grande
m a s qu e t ê m t o d a e s s a qu e s t ã o d e t e r um a p e s s o a de outras ques tões que não eram só arquitetura, mas
complexidade, são muitas camadas a serem
por trás e is so cria uma complexidade. A linguagem também explicar pras pessoas como fazíamos aquilo.

tiramos um 6 ou 7, mas 10
resolvidas. As soluções não são rápidas, tudo
vai mudando, não queremos fazer as mesmas coisas, Fomos cons truindo um vocabulário técnico bem mais
leva tempo, do início até a entrega final da
temos que prototipar coisas que nunca fizemos, então elaborado, pois não tínhamos os nossos fornecedores

a gente só tira quando


obra. E nesse tempo o relacionamento com o
tem isso de você se atirar às vezes em algo que não de sempre ao nosso lado. Não é fácil, tem um trabalho
cliente tem que funcionar.
tem 10 0% de cer teza de que vai dar cer to. Mas fomos m e i o d e f o r mi g u i n h a, d e i r c r i a n d o e s s e c o l c h ã o
c o ns t r uin d o t o d a e s s a cul t ur a d e c o m o f a ze m o s o s
nos s os proje tos, d e como a g ent e cons t rói, como a
pr a que eventualmente tudo a conte ç a com a mesma
qualidade e o mesmo controle que a gente tem aqui.
R F: A gente tem uma cois a meio guerreir a tem um bom cliente por trás.
Isso que faz a diferença quando
de querer que as cois as deem cer to, talvez
gente detalha, dentro desse universo um pouco mais Essa é a grande ques tão: como que, de longe, vamos
seja até meio ingênuo, mas acreditamos que
“protegido”. De repente, começamos a trabalhar fora ter controle? E es se t amb ém é um dos pre conceitos

projetos dão mais certo do que


a s c ois a s s e mp re p o d e m d a r c e r t o. E t e m
com questões completamente diferentes, tanto culturais que caíram com a pandemia. Antes da pandemia, eu
cois as que não dã o, nem tudo dá cer to de
quanto cons trutivas. Tem uma caracterís tica brasileira já fazia reunião de um projeto nas M aldivas com um

outros e nesse sentido o projeto


fato, mas p elo menos temos a sens a ção de
de ter cer ta f lexibilidade, de sempre achar que você cliente de Singapura, que tinha 11 horas de diferença.
que tentamos, de que fizemos a nossa par te.
tem algo pra aprender, você para e escuta o que os S empre tivemos uma ne ces sidade de controle muito

da Kopstein, em Porto Alegre,


O Marcio fala muito isso, que o sucesso de um
outros es tão falando. Começamos em projetos que não grande para garantir o que queríamos, por outro lado,
projeto es tá relacionado tanto com a equipe
neces s ariamente deram cer to, com p es soas que não tivemos que ir descobrindo como nos comunicar com

vem sendo uma oportunidade


que vai construir quanto com a equipe que vai
eram tão visionárias e de pouquinho em pouquinho, essas pessoas. A linguagem do desenho é universal,
projetar junto com a gente e, principalmente,
criando es s a cultura de como fazer projeto fora, do então muitas vezes você pode não entender o que a

muito boa, porque é uma porta


com o cliente.
que é impor tante, de como a gente salvaguardava as p es soa tá falando, mas, quando vo cê desenha, todo
ques tões de arquitetura que são mais impor tantes pra mundo entende. Par ticularmente eu acho isso tudo uma
nós, o que era difícil e o que não era, de encontrar
e m c a d a lu g a r c o m o p o d e m o s n o s re l a cio n a r c o m
d elícia, dá um friozinho na b arrig a. N o come ço eu
viajava com o M arcio, depois comecei a ir sozinha e
que tá muito bem aberta
o q u e e s t á a c o n t e c e n d o. N ó s t e m o s u m a s i t u a ç ã o
superprivilegiada no Brasil: temos fornecedores que
de repente você es tá em Dubai, depois pegando um
avião pra Singapura, no outro dia em um workshop em
na cidade, e não poderia
s ã o muit o b o ns. U m d os gr a n d e s p re c o n c eit os qu e
c a í r a m p r a mim é q u e a q u i n ã o s e c o n s t ró i b e m.
Beirut. Eu nunca tinha viajado tanto sem despachar a
ba ga gem, me senti muito do mundo. Eu tô indo pra
ser com um cliente melhor.”
O Brasil é um dos melhores lugares para se cons truir, Beirut e tô levando uma mala de mão (risos). Tem coisas
p ois tem uma mão de obra ar tes anal e muito, muito que vo cê aprende e é is so que me move: aprender.
boa, o que não necessariamente acontece em outros É muito gos toso.

54 55
LR: O elemento água é bem presente no projeto, o que é
interessante porque cria outras perspec tivas através dos
reflexos.
LR: Qual aspecto da arquitetura do Iaras te dá mais orgulho? Por trás disso, tem um esforço, tem uma luta ali, tanto com
o calculis ta quanto com o próprio cliente em inves tir num
RF: Exato, você vê essa brisa na hora em que passa. Tem
R F: A s ala é s ens a cional. Tem uma e s trutur a muito s ofis tic a da, caixilho — vamos usar um minimalis ta para ter menos peso
algo de introspecção que a água traz. Vai ficar incrível.
que não tem viga, então conseguimos manter uma proporção entre e jus tamente diluir mais essa diferença dentro e fora. Na
os andares superajus tada, que foi muito pouco alterada. A altura hora em que aquelas por tas es tiverem aber tas, essa sala
LR: Vocês têm uma preocupação com o todo, trabalham o
do pré dio pr a tic ament e nã o mudou do ant eproje to pro proje to emendada na varanda, vai ser incrível. O quar to do casal
arquitetônico e os interiores como uma coisa só e isso faz
executivo; isso envolve muito trabalho e inves timento na es trutura. também é maravilhoso na quina de vidro, porque também é
toda a diferença na integração e na es tética dos projetos.
A ideia de ter os caixilhos do piso ao teto, a quina de vidro que se uma situação difícil de você ter em um prédio, vai remeter
abre e a vis ta emoldurada pelas lajes com cer teza é um dos pontos muito a uma sensação de casa. E também tem o muxarabi
RF: Eu acho essencial, a gente não consegue dissociar uma
mais for tes do projeto, e essa emoção é uma questão de proporção. que prote ge os quar tos. S empre tr ab alhamos com e s s a
coisa da outra. Antes fazíamos os interiores quase junto com
ques tão do filtro de luz, de como deixamos essa luz entrar
o projeto de arquitetura, porque a equipe era muito menor.
sem perder a privacidade, como você percebe a passagem
do dia pela sombra que vai se projetar, isso é uma coisa
que vai ser bonita e diferente da sala. A sala eu acho que
Separamos de um jeito diferente, principalmente porque
es tá mais franca, mais potente. O quar to você pode fechar
essa relação entre o ex terior e o interior é tão for te que
e s e s entir mais prote gido, mas tem uma cois a de vo cê
não tem como você pensar em um acabamento interno sem
não es tar totalmente isolado do que tá acontecendo fora
que é legal.
“Quando comecei aqui pensar no ex terno. Começa pelos acabamentos e depois

“O fato de termos conseguido eu atendia o cliente


não tem como você projetar o jeito de uma pessoa viver
se você não sabe qual o layout da sala, quantas pessoas
LR: Essa é uma característica das casas que vocês projetam,
segurar a proporção do é interessante ver isso em um edifício.
e sabia como ele dobrava
ela vai receber. Tem mil coisas que precisamos saber para
qu e s t õ e s b á sic a s c o m o: o n d e e u c o l o c o a t o m a d a? Eu

prédio, mantido essas linhas RF: É, isso vai ser muito gostoso do prédio. E tem toda uma
a camiseta, desenhava
pre ciso s ab er qual o layout pr a colo c ar no lugar cer to.
Como eu projeto a luz? Não tem como separar a luz que
área lá embaixo em que tivemos uma primeira parceria com
horizontais, me dá a certeza a Susana Nedel (paisagis ta). Eu adorei trabalhar com ela.
a gaveta pra ele. Do jeito
v ai e s t a r d e nt ro d a c a s a c o m a luz qu e v ai e s t a r fo r a.
Tudo bem, a do jardim é um pouco separada, mas quantas
Tem isso de ser dentro e fora, então dependemos um pouco
de que, quando a pessoa do cenário ex terno. A Susana foi muito delicada, entendeu
que a gente acredita,
vezes temos a mesma parede que es tá na sala e sai pela
varanda e tem um programa ali que não faz sentido você
a arquite tur a, ela entende e tem s ensibilida de. N ã o foi
entrar na sala, vai ver a vista um desenvolvimento difícil, quando ela trouxe o primeiro
não tem uma linha entre
iluminar uma coisa sem iluminar a outra? Não conseguimos
enxergar diferente, não conseguimos fazer diferente. Dentro
p ro j e t o, j á f i c a m o s f e lize s . A S u s a n a é p u r a e m o ç ã o.
emoldurada. Eu acho que essa O paisagismo não pode ser uma coisa muito controlada,
uma coisa e outra,
do escritório, hoje em dia, a gente sofis ticou isso. Hoje
temos uma equipe dedicada aos interiores, levando a um
e ela foi conseguindo criar panos de fundo que não es tão
é uma emoção que muitas limitados ao prédio, ela expandiu isso ao muro e ficou muito
é até difícil separar
nível de detalhamento e sofis ticação muito maior do que
uma e quip e d e arquite tur a p o d e fa zer, p ois tá olhando
bom. Nós já tínhamos sugerido o espelho - d’ água no hall
pessoas não vão nem entender, e quando a Susana trouxe o do acesso interno ficamos na
o escopo aqui dentro
outras coisas. A equipe de arquitetura muitas vezes es tá
preocupada com outras questões que são mais relacionadas
dúvida em ter dois, mas ficou tão bonito que resolvemos
mas que elas vão ter.” manter, a composição funcionou.
entre o departamento de
à casa ficar em pé, à estrutura. Então o nível de sofisticação
dos interiores também demanda uma exper tise. Pra gente
é legal, nas casas, nos projetos corporativos, nos hotéis,
arquitetura e interiores.” nem conseguimos mais fazer separado.

56 57
LR: Vocês têm essa paixão pelo modernismo brasileiro A vida social que acontece na frente e a privada atrás.
e de cer t a forma vo cês fazem uma releitura des s e Tem uma organização de programa que pra mim tá
modernismo. Como tu descreve a arquitetura do Iaras? bem dis tribuída e eu espero que as pessoas cur tam.
Por ou t ro l a d o, t em e s s as áre as c omuns c om uma
RF: Pra mim a arquitetura do I aras é muito franca. chegada que é poética, em que você passa pela água
Ela é simples até. Na hora em que olhamos a planta e na entrada e de repente nesse hall não tem nada a
organizamos o programa, naturalmente a sala veio pra não ser um espelho - d’água e uma escultura linda. Tem
frente e o vidro também. Quando criamos a varanda, uma coisa de emoção. É um pouco minimalis ta, pois
os elementos horizontais foram se constituindo. E daí não colocamos nenhum adereço, não tem rodapé, não
essa coisa de você ir separando e escalonando, mas tem rodateto, tentamos ter planos de materiais muito “É claro que eu acho bonito,
ao mesmo tempo mantendo uma harmonia na fachada. claros e contínuos. Tentamos não criar uma sequência
Eu não sei descrever muito bem. de materiais muito elaborada. Pensamos nessa paleta é claro que eventualmente tem
de materiais de um jeito que ela possa se reproduzir
tanto na fachada quanto nos interiores. Exis te uma coisas que temos que adaptar,
“Primeiro sempre pensamos conexão do concreto, da es trutura que aparece com
o reve s tim e nt o d a m a d eir a e c o m a e s qu a dria d e mas eu acho que conseguimos
na planta, olhamos de dentro pra a l u mínio, c a d a u m c u m p r in d o o s e u p a p e l e a li,
claramente, você lê o papel de cada elemento. criar um apartamento que
fora. Eu me coloco naquele lugar.
LR: Eu percebo que vocês preferem falar muito mais vai ser muito gostoso
Pra mim é um lugar em que eu sobre as emoções e o impacto desejado de um projeto
do que da arquitetura em si. de morar, que vai ser muito
gostaria de morar, começa daí.”
R F: Pr a mim a gr a n d e e x p e riê n cia t e m sid o e s s e bem construído, que tem uma
p ro c e s s o. Co mo v a mos e nt r a r e m uma cid a d e e m
que nunca cons truímos e levar uma arquitetura qualidade não só subjetiva,
e m qu e a c re dit a m o s p a r a p e s s o a s qu e ain d a n ã o
conhecemos bem? Então a gente tenta entrar de um mas também objetiva.
jeito delicado. Foi um privilégio ter essa opor tunidade
de trabalhar com um cliente que é tão sensível a essas Tem um investimento grande
ques tões, porque também é emotivo no sentido de
que quer fazer algo que tenha um valor que não seja feito. Espero que as pessoas
simplesmente financeiro, mas que também tenha um
Eu a cho que é uma arquite tur a que tem conceitos valor subjetivo por trás, de felicidade, das pessoas curtam e que quem for morar
modernis tas for tes, como tem essa relação dos es t arem b em lá dentro, es t arem felizes, gos t arem,
m a t e riais e s t a re m muit o c l a ro s, e nt ã o a e s t r u t ur a valorizarem, entenderem, darem a impor tância que lá seja muito feliz.”
d e c o n c r e t o e s t á a p a r e c e n d o, o s p i l a r e s e s t ã o a gente tá dando pra aquilo. Eu acho que esse é o
aparecendo. Tem uma coisa muito explícita de criar sucesso do projeto. Do mesmo jeito que damos muita
o programa que é mais privado, a cozinha que tem impor tância pro que fazemos e temos uma dedicação
um reves timento de fachada mais fechado e a s ala muito grande, foi proporcionado pra gente trabalhar
que pode ser mais integrada, que é completamente com uma equipe que se junta conosco nesses valores,
aber ta. Ele tem uma organização muito objetiva do capitaneado pelo cliente. É um trabalho que me dá
que tá pra trás e do que tá pra frente. muito prazer.

58 59
Tive que parar a arquitetura naquele momento e tentar Como não fui atrás dessa his tória pra saber quem eu
D i a n a R a d o m y s l e r : N a v e rd a d e
Diana Radomysler, eu fui pra arquitetura sem ter muita s al v ar meu p ai e a me t alúrgic a d el e, cois as que eu sou, de onde eu venho, qual é essa his tória? Então eu
sei muito pouco e o que sei, não tenho cer teza o quanto
diretora de no ç ã o d o qu e er a arquit e t ur a. Eu não entendia nada, nem de uma, nem de outra, então
foram anos difíceis. O meu marido conheceu amigos eu inventei, isso é es tranho pra mim.
g o s t a v a d e d e s e nh a r, g o s t av a d e

interiores, e Pedro matemática e achei que a única do Marcio que alugavam uma casa todo final de ano na
Praia Vermelha. Eles nos convidaram pra ir lá e assim Pe dro Rib eiro: Eu sou p or tuguês, sempre quis
faculdade que poderia gerar algum
Ribeiro, gerente interesse pra mim era arquitetura. conheci essa turma, entre eles o Marcio. Nós tivemos arquitetura; nunca foi algo que tive outra opção, isso
sempre foi muito claro. Em determinado momento, os
de projetos
uma ligação imediata, foi uma amizade que ficou muito
for te entre as famí lias. Eu sou muito mais nova do que meus pais me deram um livro do Gaudí, pra mim aquilo

e arquiteto o M arcio (risos) e os meus filhos s ão muito menores


do que o dele; o Gabriel passava a noite cuidando dos
era arquitetura. Passou um tempo e eles me deram um
livro do Niemeyer e gos tei ainda mais. A par tir daí foi

de interiores. meus filhos. Foi uma sinergia de amizade mesmo. Ele uma carreira normal, da escola de ar tes fui pra escola
de arquitetura, cada vez com maior empenho. Trabalhei
virou pra mim e falou: “ Você é um desperdício. Não
quer voltar pra arquitetura?”. Tudo o que eu queria era em vários escritórios lá até que um dia tive uma visão,

voltar pra arquitetura, porque eu odiava o que es tava um chamado qualquer pro Brasil, um país que eu nem

f a zendo. At r avé s do e s critório vol t ei pr a c á, e s t av a gos tava, não conhecia, tinha preconceito até. Eu vim,

tendo o meu terceiro filho; desmamei ele com 6 meses p or uma coincidência das coincidências de cidi s air

o mais rapidamente possível e vim trabalhar aqui. Aqui do escritório e passada uma semana eu já es tava aqui

é a minha escola, é onde aprendi tudo, onde me formei em São Paulo na entrevis ta de emprego; foi uma coisa

e, dep ois de 27 anos, já tenho aquela plaquinha de muito rápida. Eu passei por outros escritórios antes,
Eu sempre gos tei, desde pequena,
imobilizado da firma, sabe? Já faço par te do mobiliário mas aqui me acolheram de um jeito e fizeram eu me
de passear com os meus pais pela
(risos). d e s envol ver d e uma ou t r a maneir a. Eu er a b as t ant e
cidade. Sou filha única, meus pais
tímido, muito mais do que sou agora, então foi uma
são es trangeiros. Eu sou a primeira
LR: Achei bonita a origem da tua relação com a cidade evolução muito grande aqui, me nutriram de um jeito
gera ção de brasileiros da famí lia.
vir da his tória dos teus pais e fiquei curioso: de onde que eu cresci uma outra pessoa.
Eles iam pro centro da cidade
eles vieram?
comigo contar um pouco da história,
DR: Olha que bonitinho.
v e r o s p ré di o s q u e p a re c i a m u m
DR: O meu pai era da Bélgica e a minha mãe se dizia
pouco com os da cidade onde eles
aus tríaca, mas na verdade ela era romena. Ela assumiu
moravam, de onde vieram. Eu tinha
a invasão aus tro - húngara com muito orgulho, se dizia
u m a l i g a ç ã o c o m a c i d a d e, u m a
aus tríaca.
ligação com os prédios, era par te
do jeito que os meus pais contavam
LR: O tema origem me interessa muito, de onde vieram
a his tória deles pra mim. Então eu
as nos s as famí lias e o quanto es s a origem e cultura
a cho que o int ere s s e p ela cid a d e
inf luenciam quem somos. Conversei com o M arcio e
veio daí. Tive um início de carreira
o Kops tein sobre isso também. Eu acho que sei muito
b e m c o n t ur b a d o, e u e s t av a n a
pouco sobre a minha, menos do que deveria.
f a cul d a d e e as sim qu e me for mei
meu pai ficou muito doente. Como
DR: Com cer teza, eu tenho is so t amb ém. M eus pais
Lucas Rachewsk y: Diana e Pedro, s ou filha únic a, d e re p ent e me vi
morreram, eu sou filha única, a minha mãe era filha
vocês formam o núcleo de interiores n u m a m e t a l ú r g i c a, e m I t a q u e r a,
ú n i c a e e u n ã o t e n h o p r a q u e m p e r g u n t a r. F i c o
do Studio MK 27. Contem um pouco com pessoas dizendo que não
p e n s a n d o: c o m o n ã o p e r g u n t e i t u d o i s s o a n t e s?
da his tória de vocês na arquitetura. re c e biam ord ens d e uma menina.

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LR: Diana, antes da tua entrada no Studio, exis tia um
PR: Então essa relação foi muito gratificante, cada ano PR: É um humor meio crítico, uma cois a as sim meio
depar tamento específico de interiores?
que passa eu me sinto mais à vontade. Havia coisas que ácida e não convencional.
eu não dizia, que eu tinha vergonha, e, no primeiro dia
DR: O Marcio não existia antes da minha entrada (risos).
que vim, a Mariana Simas fez a minha entrevista e disse: DR: A gente não faz muitos amigos com o nosso senso
Quando eu entrei aqui, tinha o Marcio e duas pessoas.
“Pedro, a vaga que temos é de interiores” (coisa que de humor (risos).
Eram dois arquitetos e ele. O M arcio almoçava atrás
eu nunca tinha trabalhado), “mas, se a Diana perguntar,
do computador, ele não falava com ninguém, era todo
diz que você gos ta muito de interiores e é interiores PR: Mas as pessoas gostam de nós de algum jeito (risos).
quietinho, super tímido. Foram dois que mudaram muito
que você quer fazer”. Eu disse: Interiores será.
a o longo dos anos: es s e a qui tinha uma nuvenzinha
LR: Um projeto arquitetônico é um cas amento entre
preta que se desanuviou e o outro que saiu de trás do
DR: Ela falou isso (risos)? arquiteto e cliente, precisa ter identificação e respeito
comput a dor. O es critório dobrou quando eu entrei,
pra funcionar, é um processo complexo de muitos anos
e l e c o n t r a t o u d u a s m e ni n a s a o m e s m o t e m p o, n o
P R : Po r 8 a n o s e u g u a r d e i e s s e s e g r e d o (r i s o s). e com muitas variáveis. Como vocês filtram os projetos
me s mo dia. N ós ér amos qua t ro, nã o er a na d a. N ós
Eu nu n c a t inh a t r a b a lh a d o e a c h ei b o m p r a minh a do escritório?
trabalhávamos de uma forma muito diferente, cada um
formação. Aqui tem uma coisa que na Europa não existe
tinha os seus projetos, cuidava do início ao fim, até
muito, os outros arquitetos com quem eu trabalhei eram DR: Nós temos um setor comercial que faz esse
que, em um determinado momento, percebemos que
sempre branco, branco, branco, esculpido na mesma primeiro contato com o cliente e avalia se nós realmente
es távamos fazendo um trabalho ex tra de gra ça, que
mas s a, monomas s a, monoma terial, mono cor. E a qui somos pro cliente e se o cliente é pra gente. M as é
era essa par te dos interiores. Não era completo, mas
no Brasil, especialmente no M arcio, há esse cuidado um cas amento sem namoro, até brincamos outro dia
sempre desenhamos todo o mobiliário fixo, era algo que
c o m o s int e rio re s, a mis t ur a d a t ex t ur a, d a s c o re s, que deveríamos passar um mês juntos antes de aceitar
vinha com o projeto. Eu percebi e falei pro Marcio: Não
dos materiais, da luz, o mobiliário brasileiro, que é um projeto. A gente brinca aqui que consegue chegar
tem ninguém que entende melhor os nossos espaços do
riquíssimo. Então achei que era uma boa escola. Hoje até a nota 7, o cliente leva pra 9 ou leva pra 4. Tem
que a gente, é um erro não fazer isso completo, não
em dia não penso em voltar. Aqui tenho contato com cons e quências ótimas e cons e quências muito ruins.
ter esse produto como um todo. A par tir daí eu saí da
mais clientes, consigo estar presente em mais projetos, O Pe dro Kops tein é um que sob e a nos s a not a, mas
arquitetura propriamente dita e criei toda uma equipe.
pois a minha par ticipação é mais cur ta e tardia. tem gente que não, e vo cê só p erceb e is so dep ois.
Acho que há uns 10 ou 12 anos a gente vem fazendo
O projeto já es tá em andamento, tem menos chances Agora, quando flui, é uma delícia, mas não dá pra saber
isso. Eu quis dar essa mesma qualidade que tínhamos
d e s er c anc ela do, ent ã o eu t enho cont a to com uma antes. Na primeira conversa, tá todo mundo tentando
na arquitetura, com arquitetos desse mesmo nível de
variedade maior de clientes e colegas. seduzir o outro. Tanto o cliente quer nos seduzir pra
exper tise, pros interiores. Hoje nós temos uma equipe
f a ze r o p ro j e t o d e l e q u a n t o n ó s q u e re m o s. J á n o s
muito coesa, muito afinada.
DR: Sabe por que eu contratei o Pedro? Porque ele riu s entimos lis onje a dos de ele vir nos pro cur ar, ele já
de uma piada minha. Como ele tinha senso de humor, t á reverenciand o o t r a b alho qu e a g ent e f a z, ent ã o
LR: E vocês são obsessivos com detalhamento.
eu achei que todo o resto a gente daria um jeito. Nosso nesse momento tá tudo lindo; é depois que começam
senso de humor é parecido. os problemas, como um casamento.
DR: Somos todos obsessivos aqui.

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PR: É, eu acho que esse resultado final, essa magia, bolar alguma cois a especial. O espaço do lobby era
só se dá com esse rigor de detalhe, com esse controle um dos mais interessantes, aquele em que poderíamos
total, só funciona assim. Não é só a proporção, só o criar alguma emoção. A solução tradicional seria algum
acabamento, são coisas ínfimas que muita gente não vê, e s p a ç o p a r a s e n t a r, um s of á e um a m e s a, qu e é o
mas ao olhar o todo você sente uma emoção. que se vê normalmente. É algo que tem um uso muito
pequeno ou nulo nesses espaços, então pensamos em
LR: Eu gosto de pensar que são interiores que impactam usar aquele vazio como a emoção do lugar. Acho que
p or e s s a a p arent e simp licid a d e. Aos p ou cos v amos isso foi uma das primeiras coisas e criamos uma série
descobrindo os detalhes, tem uma questão de passagem de opções.
do tempo.
DR: O que a gente quis foi ajudar nesse legado que
PR: N ós temos um vo cabulário, uma linguagem que o Pedro tá tentando fazer no Sul. Ele realmente quer
é copiável, mas são muitos fatores em um só espaço contribuir para que a arquitetura volte a se juntar ao
que fica difícil reproduzir. A marcenaria até pode ser mercado imobiliário e transformar isso na qualidade
parecida, talvez a cadeira seja a mesma, mas o todo, que tinha nos anos 50 e 60 com a imigração. Q uem
a proporção do espaço, o comprimento, o caixilho, os leu “São Paulo nas Alturas” conhece bem essa história.
acabamentos, já não é tangível, é mais difícil. E nesse legado, uma das coisas mais impor tantes desse
período é a junção da ar te com a arquitetura. Todos
L R : Q u a l f oi o p o n t o d e p a r t id a d o s in t e r io re s d o os prédios tinham ou um painel, ou um mural, ou uma
Iaras? Exis tiu briefing específico ou criaram com mais escultura. Tinha uma comunhão entre ar te e arquitetura
liberdade? e a gente quis trazer isso pra esse projeto, pra esse
legado que o Pedro quer deixar lá. Como ele não quis
DR: O Pe dro Kops tein tem uma cois a generos a com uma escultura muito moderna, que nós demos opções
os arquitetos, ele adora arquitetura, tem um respeito também, quis uma mais clássica, nós saímos em busca.
enorme. Ele não te passa um briefing, ele deixa você Passamos por algumas, até que encontramos.
voar.
PR: Fomos visit ar uma loja p erdida, no meio de um
PR : Q u a n d o a g e n t e e n t r a n o p ro j e t o, e l e j á e s t á galpão feio, cheio de plás tico, e ela tava ali, já com
e m a n d a m e nt o, a e quip e n o s m o s t r a o p ro du t o e m um brilho, p are cia a es colhida, a cer t a p ar a a quele
desenvolvimento e temos que dar os nossos inputs, nós lugar. S ó quisemos dar um palco pra es s a es cultura
respondemos àquilo que já es tá: a proporção, algum que é es se plano de água, es se plano de p edra, um
material que já foi decidido. O nosso projeto é sempre mármore vivo, para ela ganhar ainda mais des taque.
uma resposta àquilo que está sendo feito. Não tínhamos O hall é completamente vazio e o único elemento é a
um briefing do cliente ou da equipe de arquitetura, o es tátua com a devida iluminação, bem sutil.
que é muito bom, nós temos autonomia. Tínhamos que

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DR: Es se esp elho - d ’ água, que remete ao Palácio da El a t inh a um a p a re d e d e m a d eir a n a t ur a l, s e m s e r P R : S e m d ú v i d a ( r i s o s ). O s o u t r o s e s p a ç o s s ã o
A l vor a d a, ond e a gr and e e s cul t ur a e s t á. Re alment e pintada de branco, e uma parede de pedra. Teve essa igualmente impor tantes, mas o hall não tem uma função
r e m e t e, é u m a m e m ó r i a, u m a h o m e n a g e m a o q u e casa e ao mesmo tempo uma outra que foi cons truída tão específica a não ser criar esse ícone, esse momento
Niemeyer fez com o Ceschiat ti e agora estamos fazendo um p ou quinho d e p ois, qu e em p rin cípio s eria t o d a impor tante do projeto. Todo o res to foi cuidado com o
com a Kops tein. branca, mas na hora em que cons truíram e os tijolos mesmo carinho — o salão de fes tas, a par te ex terna, a
estavam lá ficou tão gostoso. A par tir disso começamos piscina, a brinquedoteca —, mas o hall realmente foi o
PR: Em paralelo, a Susana, paisagis ta, es tava fazendo a usar os materiais como eles eram mesmo, a verdade momento de brilhar.
um p roje t o q u e ain d a n ã o t ính a m o s v is t o. Q u a n d o do material, o tijolo, a madeira, a pedra começaram
vimos, a c hamos muit o b onit o, nós fizemos um l a g o a ser incorporados no projeto e percebemos que ali DR: É a alma, não é? Eu acho que a alma do projeto
or to gonal, uma cois a cons truída, e ela fez na p ar te e s t av a a ve rd a d e d a s c ois a s, e r a o n d e c o m e ç av a a é esse hall, e tem esse percurso até chegar nele. Uma
ex t erna contígua a o e s p a ço um la go, uma cur v a d e ficar com alma mesmo. O projeto tem uma outra alma outra coisa que eu acho engraçada nesse prédio é que
água. Achamos lindo esse dialeto entre o orgânico, o quando você tem o elemento como ele é. E acho que ele é todo feito em função de churrasqueira, o que pra
natural e o cons truído pelo homem. Foi ao acaso e o um a c ois a qu e t o d o mun d o diz d a s n o s s a s c a s a s é nós em São Paulo não é tão comum. A base do projeto
resultado foi muito bonito. que essa per feição das linhas não as torna frias, que é onde vamos colocar a churrasqueira. Tem o salão em
nossos projetos são aconchegantes, que eles abraçam que também o mais impor tante era ter a churrasqueira,
DR: A água é um elemento for te e essa sensação de realmente. As cas as, os prédios e os escritórios têm ti ve m o s qu e a p re n d e r muit o s o b re c hur r a s qu eir a s.
você es tar entrando quase que em um museu, em um um calor mesmo que é da materialida de que é feit a Quero ser convidada agora.
espaço que você faz uma reverência, tem o silêncio, pra isso. A ideia é essa, a gente não tá criando uma
tem a água e tem essa luzinha que ilumina “As Iaras”, escultura, estamos fazendo um lugar para se viver bem, LR: E a planta dos apar tamentos? A Renata enfatizou
eu acho que é muito poético. para se trabalhar bem. b a s t a n t e o im p a c t o d a s a l a q u e s e a b re p r a v is t a.
E vocês, o que acham?
LR: Quando falamos em modernismo, muita gente se L R : O I a r a s t e m t a m b é m g r a n d e s a b e r t ur a s, mui t a
assusta em relação à frieza, mas a arquitetura de vocês entrada de luz natural, uma for te relação entre ex terior DR: É uma planta muito bem resolvida, todos os espaços
é muito quente, aconchegante. Isso es tá diretamente e interior. Como vocês percebem o fluxo do projeto? s ã o b o n s . Ó b v i o q u e a s a l a q u e s e a b re p r a e s s e
ligado à materialidade e aos mobiliários. Como vocês infinito da vis ta é espetacular, pois o espaço dela não
pensam nessas intenções e contras tes? DR: O que o prédio tem de interessante é que ele se se res tringe ao prédio, então realmente a sensação é
abre pr a vis t a numa tr ans p arência. Ele é tot almente outra. Isso é uma coisa que a gente preza muito aqui: a
DR: Eu acredito que sim. O escritório teve um período t r a n s p a re n t e p a r a o n d e t e m a v is t a e e l e t e m u m a qualidade do espaço, independentemente do tamanho.
em que só fazíamos casas brancas e a brincadeira era película de privacidade na par te de trás, onde é a vida Tem que ter qualidade, se não tiver qualidade, a gente
com tex turas, eram diferentes tex turas, mas era sempre privada mesmo. Ele parece dois “Us”: um deles é essa nã o faz. To dos os esp a ços ali, mesmo os que s ã o o
branco. Na verdade foi um cliente que fez a gente sair permeabilidade com a vista e a natureza, e o outro tem mínimo neces s ário, têm uma qualidade de vida boa.
desse lugar que já conhecíamos; ele queria muito usar o acolhimento, onde você se recolhe. Mas eu acho que É um proje to re dondinho pro esp a ço que tínhamos,
uma pedra natural e essa casa foi um turning point. o grande “tchan” é o nosso hall (risos). bem redondinho.

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PR: Gente menos (risos). É, eu também tenho esse sentido DR: Um chato igual (risos).
PR: Eu acho que a planta é muito clara, as par tes sociais
de curiosidade. Acho que vejo até em demasia, vejo até
de cozinha e sala se viram pra vista, pra ex tensão dessa
demais os defeitos, por vezes isso me cansa, porque por PR : I gu a l (ris o s). A c a s a c o ns t rói - s e à vo l t a d e um
varanda, os espaços ganham esse ex tra da varanda que
vezes não vejo as coisas bonitas, vejo as coisas que estão t a p e t e, p o r veze s o int e rio r v ai dit a n d o o qu e e s t á
es tá ime diat amente à frente. Para trás a divis ão dos
mal. fora, porque é impor tante pra ele. Ele é incansável e
dormitórios, eles são mais privados, o muxarabi cobre
isso passou para nós.
integralmente essa fachada. Tem essa dualidade entre o
DR: É o lado por tuguês (risos).
espaço social e os espaços de dormir. Pra mim, quando
DR: Nossa, o Marcio é incansável.
eu olho a planta hoje, ela é muito, muito clara, parece
PR: É esse lado que é bom, pois eu acho que tô na função
que, cada centímetro, tudo tá na proporção cer ta.
cer ta de ver incansavelmente onde dá para melhorar. PR: Exigente, persis tente, e nós somos braços, pernas
e tudo mais pra fazer a visão dele contra tudo e todos,
DR: Nosso medo é alguém pôr a mão ali que não seja

“Mas acho que a arte,


acreditando que vai ser melhor e diariamente vemos
a gente, né, Pedro?
que ele tá cer to.

PR: Nos interiores privativos, sim, e vai ser, né? as exposições, as pinturas DR: Ele não para nunca. Às vezes a gente fala: Não

e as esculturas, não há
mos tra mais pro M arcio (risos). Porque ele não para,
DR: Isso vai ser duro. Quando a gente dá o filho pra
ele sempre acha mais um lugarzinho pra melhorar, não
adoção é um drama.

um momento em que
tem fim.

LR: Tudo que a gente cria vem de alguma influência.

eu não guarde uma


L R : U m a vez p e rgun t a r a m p ro cin e a s t a J e m Co h e n
As pessoas que têm um trabalho mais interessante, pra
quando ele acha que um filme tá pronto. Ele diz que
mim, são aquelas com a capacidade de trazer inspiração

ideia pra usar em uma


nun c a, e é p or is s o qu e e l e f a z o p róximo, s emp re
de diversas fontes fora do seu ofício específico. O que
t e nt a n d o t e r min a r o qu e e l e c o m e ç ou. Vou f a ze r a
inspira vocês além da arquitetura?

marcenaria, pra usar


m e s m a p e rgunt a p r a vo c ê s: qu a n d o a c h a m qu e um
projeto tá realmente pronto?
DR: Não é o Niemeyer que fala que o impor tante não
é a arquitetura, é a vida? Eu acho que a vida é mais em uma combinação de DR: Nunca.
impor tante que a arquitetura, então definitivamente o
s e r c urio s o n a v id a é o qu e m e e m o cio n a, é e s t a r materiais em um projeto.” PR: Tem um momento em que eu preciso abandonar o
atento. Eu não passo por um lugar, eu não passo por
projeto (risos).
nada, na minha vida, sem prestar atenção e tirar alguma
Então eu não paro, não há um segundo em que eu não
coisa disso. A minha inspiração tá no prazer de viver as
tente tirar alguma coisa pra usar em um projeto. A minha D R : Eu s o f ro, e u f i c o s o f re n d o ain d a. Pr a mim o s
coisas que es tão em volta. Eu sou uma pessoa curiosa,
maio r ins pir a ç ã o a c a b a p o r s e r, a qui no e s c rit ó rio, o proje tos s ã o muito filhos. Eu t enho uma cois a meio
tô sempre atenta ao que tá acontecendo, por onde eu
Marcio e a Diana. Há uns anos eu desenhava uma mesa p a s sio n a l. O M a rcio à s veze s b rig a c o mig o, n ã o é
tô passando, o que as pessoas estão sentindo, o que eu
e e l e s diziam “ Es tic a mais um p ou c o, p õ e mais t rint a p es soal, mas pra mim é p es soal, tudo é p es soal. Eu
tô vendo. Eu tenho duzentos milhões de interesses, tudo
centímetros pra essa proporção”, e isso vai nos moldando. preciso achar uma brecha e me apaixonar. Eu sou assim,
me interessa, eu não sei dizer o que não me interessa.
Hoje em dia eu já olho pra uma coisa cur ta e digo: Não, o meu primeiro namorado ainda é o meu namorado,
Da comida à ar te, cinema, música, roupa, gente. Gente
faltam trinta centímetros. E quando o Marcio dizia, nunca então fica difícil isso (risos). Tem uma cer ta dificuldade
menos, né, Pedro? (risos)
tá bom, é sempre mais um pouquinho, o tapete mais cinco de passar pro próximo. Eu passo pro próximo, mas eu
centímetros, e hoje me tornei parecido. fico mantendo todos os outros, é bem difícil.

68 69
P O R T F Ó L I O

71
Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio
Kogan tem décadas de experiência e
reconhecimento internacional como um dos
maiores arquitetos da atualidade. Nascido
na cidade de São Paulo, dividiu o começo
da carreira entre a arquitetura e sua paixão
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos
filmesSnaTdécada
U DdeI 1980.
O Paixão
M Kesta
2 que
7 deu

origem ao seu estilo único: um flerte entre o


modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico
de um diretor. O resultado está estampado nas
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal
e elaborando projetos com extremo cuidado e
atenção aos detalhes e acabamentos.

73
Edifício Vertical Itaim “Vertical Itaim é um edifício urbano
contemporâneo, de apenas 13
São Paulo - Brasil andares que, tanto pelo uso dos
materiais como pelas soluções
arquitetônicas de planta e fachada,
cria uma arquitetura versátil
PROJETO 2011
e dinâmica, confortável e funcional
CONCLUSÃO 2014
pros moradores, com grande
integração de espaços
e com o exterior.”

Arquitetura: Studio MK27


Autor: Marcio Kogan
Coautora: Carolina Castroviejo
Equipe de Projeto: Carlos Costa, Fabiana
Stucchi, Fernanda Palmieri, Laura Guedes,
Mariana Simas, Oswaldo Pessano

– Marcio Kogan

74 75
Casa Rampa “O projeto da Casa Rampa privilegiou
a continuidade espacial entre interior
São Paulo - Brasil
e exterior, o uso preciso de materiais
naturais e brutos e, sobretudo,
a possibilidade de expor de forma
delicada a belíssima coleção
PROJETO 2011
de arte como verdadeiros elementos
CONCLUSÃO 2015
arquitetônicos para organização
dos percursos.”

Arquitetura: Studio MK27


Autor: Marcio Kogan
Coautora: Renata Furlanetto
Interiores: Diana Radomysler
Equipe de Projeto: Carlos Costa, Eduardo Glycerio,
Eline Ostyn, Fernanda Neiva, Laura Guedes, Mariana
Ruzante, Mariana Simas

– Marcio Kogan

76 77
Caledonian Somosaguas “O projeto Somosaguas é um
metaprojeto. A ocupação da quadra
Madri - Espanha
urbana de uma forma permeável
pros pedestres pode ser replicada
em qualquer lote urbano e em qualquer
cidade. Cada quadra poderia
PROJETO 2011
abrigar diferentes equipamentos
CONCLUSÃO 2017
de uso comum. O projeto pretende
potencializar as formas de vida
em coletividade na cidade.”

Arquitetura: Studio MK27


Autor: Marcio Kogan
Coautora: Suzana Glogowski
Arquitetura Local/ Engenheiros: Caledonian,
Henrique Lopez Granado
Equipe de Projeto: Carlos Costa, Elisa Friedmann,
Giovanni Meirelles, Laura Guedes, Mariana Simas,
Tamara Lichtenstein
– Marcio Kogan

78 79
Edifício FM10 “O Studio MK27 foi o vencedor
do concurso fechado para transformar
Barcelona - Espanha o interior do edifício comercial
já existente em um edifício residencial
de alto padrão. O edifício é um ponto
marcante na cidade. Contrariando
PROJETO 2012 a implantação padrão de edifícios
CONCLUSÃO 2017 ao redor de rotatórias com curvatura
paralela, o Francesc Macià 10,
ou FM10, projeta-se de forma convexa
pra cidade. É um edifício valente.”
Arquitetura: Studio MK27
Autor: Marcio Kogan
Coautores: Beatriz Meyer, Diana Radomysler,
Suzana Glogowski, Pedro Ribeiro
Arquitetos Locais: Ricard Mercadé e Aurora
Fernandez Arquitectes
Equipe de Projeto: Carlos Costa, Eduardo Gurian,
Laura Guedes, Mariana Simas, Samanta Cafardo,
Tamara Lichtenstein – Marcio Kogan

80 81
Casa Sentosa “O projeto de design de interiores
da Casa Sentosa procurou equilibrar
Singapura - Malásia a materialidade e as proporções
de uma casa existente, intervindo
cirurgicamente em cada canto. Como
de costume nos projetos do Studio
PROJETO 2017 MK27, a decoração é uma mistura
CONCLUSÃO 2020 de peças contemporâneas e vintage.”

Arquitetura e Interiores: Studio MK27


Autores: Marcio Kogan, Diana Radomysler
Coautor: Pedro Ribeiro
Equipe de Projeto: Carlos Costa, Laura Guedes,
Leticia Amado, Mariana Simas, Nathalia Lima,
Oswaldo Pessano

– Marcio Kogan

82 83
Patina Maldives “O hotel nas Maldivas proporcionará
um espaço acolhedor para que
Maldivas
as pessoas vivam a luz, liberem
a criatividade, ampliem sentimentos
naturais em um estado de sonho.
Um caleidoscópio de atmosferas
PROJETO 2016
organizado de maneira ascendente:
CONCLUSÃO 2021
do privado ao público, do isolamento
ao pertencimento, da simplicidade
à sofisticação.”

Arquitetura: Studio MK27


Autor: Marcio Kogan
Coautora: Renata Furlanetto
Interiores: Diana Radomysler
Coautor de Interiores: Pedro Ribeiro
Equipe de Projeto: André Sumida, Carlos Costa, Carolina
Klocker, Diego Solano, Eduardo Glycerio, Elisa Friedmann,
Gabriela Chow, Gustavo Ramos, Giovanni Meirelles, Julia
Pinheiro, Lair Reis, Laura Guedes, Luciana Antunes, Renato – Marcio Kogan
Perigo, Regiane Leão, Renata Scheliga, Ricardo Ariza,
Marcio Tanaka, Mariana Ruzante, Mariana Simas, Samanta
Cafardo, Suzana Glogowski, Tamara Lichtenstein, Thauan
Miquelin

84 85
ATO I I I N S P I R A Ç Ã O
O EDIFÍCIO

87
A arquitetura moderna brasileira
é fonte de inspiração do Edifício Iaras.
O movimento ganhou força a partir
da Semana de Arte Moderna de 1922,
Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio
fazendo com que um novo estilo
Kogan tem décadas de experiência e
de pensar e inovar arquitetonicamente
reconhecimento internacional como um dos
fosse desenvolvido. Uma de suas
maiores arquitetos da atualidade. Nascido
principais características é a premissa
na cidade de São Paulo, dividiu o começo
de unir formas simples para construções
da carreira entre a arquitetura e sua paixão
surpreendentes. O design inovador
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos
A R Q U I T E T U R A privilegia funcionalidade e valorização
filmes na década de 1980. Paixão esta que deu
M O D E R N A dos ambientes, adaptado à cultura
origem ao seu estilo único: um flerte entre o
essencialmente brasileira.
modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico
de um diretor. O resultado está estampado nas
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam O concreto aparente é um dos elementos mais marcantes
da arquitetura modernista, imposta por Le Corbusier
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal
durante a Revolução Industrial. De rápida execução, fácil
e elaborando projetos com extremo cuidado e manutenção e alta durabilidade, mantém-se até hoje como
um dos símbolos do movimento moderno mundial, que
atenção aos detalhes e acabamentos.
pode ser visto na fachada do Edifício Iaras. Assim como o
Muxarabi, elemento clássico da arquitetura árabe, trazido
ao Brasil durante o período colonial, que é muito utilizado
por sua beleza e funcionalidade, pois adapta-se muito
bem ao clima brasileiro, gerando conforto térmico e um
ambiente intimista.
AS IARAS

A S I A R A S

A escultura emblemática de Alfredo Ceschiatti, que


dá nome ao edifício, está disposta como ponto focal
em seu hall. A obra foi escolhida pelo Studio MK27
como uma das simbologias mais claras da arquitetura
modernista, que consiste em inserir a arquitetura na
arte e a arte na arquitetura.

90 91
AS IARAS

92
92 93
“A obra selecionada pro edifício da Kopstein, 'As Iaras',
tem uma de suas versões sobre o espelho-d’água do
Palácio da Alvorada. Em nosso projeto, ela também
flutua sobre um plano-d’água, preenchendo o vazio do
hall de forma delicada e elegante.”

- Studio MK27

“Como dois bons amigos, vamos caminhando pela


vida. Eu, absorvido pela Arquitetura, inventando
formas, brincando com o concreto armado; ele, o
nosso Ceschiatti, a fazer suas esculturas. Essas mulheres
lindas, barrocas, cheias de curvas, que seu talento cria
pro mármore. Como gosto de vê-las!”

- Oscar Niemeyer, sobre a obra de seu colaborador


e amigo Alfredo Ceschiatti.

“Ceschiatti flagra e imortaliza — por meio de uma visão


extremamente pessoal — momentos de alta poesia,
tensão e forte conotação plástica, em que a pulsação
rítmica continua sempre latente.”

- Sheila Leirner, crítica sobre a obra “As Iaras”.

94 95
O E D I F Í C I O

97
FACHADA
FACHADA

Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio


Suas histórias são únicas.
Kogan tem décadas de experiência e
Incomparáveis.
reconhecimento internacional como um dos
Extensões do seu ser,
maiores arquitetos da atualidade. Nascido
do seu jeito de viver.
na cidade de São Paulo, dividiu o começo
Representam as suas vontades,
da carreira entre a arquitetura e sua paixão
seus caminhos, seus momentos.
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos
filmes na década de 1980. Paixão esta que deu
origem ao seu estilo único: um flerte entre o
Elas revelam a sua personalidade
modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico
e preenchem seus espaços.
de um diretor. O resultado está estampado nas
E é nesses espaços,
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam
onde a vida se projeta,
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal
que as suas histórias são marcadas
e elaborando projetos com extremo cuidado e
para se tornarem eternas.
atenção aos detalhes e acabamentos.
DETALHE DA FACHADA

100
100 101
FACHADA

102
102 103
JARDIM DE ACESSO
ACESSO INTERNO

104
ACESSO AO HALL DE ENTRADA

106
HALL SOCIAL
HALL SOCIAL

108
ACESSO AO SALÃO DE FESTAS
ACESSO INTERNO

110
SALÃO DE FESTAS
SALÃO DE FESTAS

112
SALÃO DE FESTAS
SALÃO DE FESTAS

114
PISCINA COBERTA
PISCINA INTERNA

116
PISCINA EXTERNA
PISCINA EXTERNA

118
ACADEMIA
FITNESS

120
BRINQUEDOTECA E PLAYGROUND

122
122 123
A P A R T A M E N T O S

125
LOREM IPSUM DOLOR SIT AMET

Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio


Kogan tem décadas de experiência e
reconhecimento internacional como um dos
maiores arquitetos da atualidade. Nascido
na cidade de São Paulo, dividiu o começo
da carreira entre a arquitetura e sua paixão
O lugar onde você cria
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos
memórias, vive momentos
filmes na década de 1980. Paixão esta que deu
e constrói suas histórias
origem ao seu estilo único: um flerte entre o
com prazer e sofisticação.
modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico
de um diretor. O resultado está estampado nas
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal
e elaborando projetos com extremo cuidado e
atenção aos detalhes e acabamentos.

127
APARTAMENTO GARDEN - SALAS DE ESTAR E JANTAR E VARANDA
APARTAMENTO TIPO S01

Apartamento Garden
3 suítes, apartamento
de 355,21 m 2

128
128 129
APARTAMENTO GARDEN - SALA DE ESTAR
APARTAMENTO TIPO S03

APARTAMENTO TIPO S02


130
130 131
APARTAMENTO GARDEN - SALAS DE ESTAR E JANTAR
APARTAMENTO TIPO S03

132
132 133
APARTAMENTO GARDEN - ÁREA EXTERNA
APARTAMENTO TIPO S05

Sugestão de projeto. O apartamento não é entregue com piscina e paisagismo.


134
134 135
APARTAMENTO TIPO - SALA DE ESTAR

Apartamento Tipo
3 suítes, apartamentos
de 233,13 m 2

136
136 137
APARTAMENTO TIPO - SALAS DE ESTAR E JANTAR E VARANDA

138
138 139
APARTAMENTO TIPO - SALA DE ESTAR

140 141
APARTAMENTO TIPO - COZINHA

142
142 143
APARTAMENTO TIPO - SALAS DE ESTAR E JANTAR

144
144 145
APARTAMENTO TIPO - SALA DE ESTAR E VARANDA

146
146 147
APARTAMENTO TIPO - SUÍTE MASTER

148
148 149
APARTAMENTO TIPO - SUÍTE MASTER

150 151
APARTAMENTO ANDAR ÚNICO - SALAS DE ESTAR E JANTAR

Apartamento Andar Único


4 suítes, apartamento
de 460 m 2

Sugestão de planta.
152
152 153
APARTAMENTO ANDAR ÚNICO - SALA DE ESTAR

154
154 155
APARTAMENTO ANDAR ÚNICO - SUÍTE MASTER

156
156 157
APARTAMENTO COBERTURA - SALA DE ESTAR

Apartamento Cobertura
4 suítes, apartamento
de 476,42 m 2

COBERTURA S07
158
158 159
APARTAMENTO COBERTURA - VARANDA

Sugestão de projeto. O apartamento não é entregue com toldo.


160
160 161
APARTAMENTO COBERTURA - SALA DE ESTAR

162
162 163
APARTAMENTO COBERTURA - SUÍTE MASTER

164
164 165
APARTAMENTO COBERTURA - SUÍTE

166
166 167
APARTAMENTO COBERTURA - COZINHA

168
168 169
APARTAMENTO COBERTURA - TERRAÇO

170
170 171
I M P L A N T A Ç Ã O

E P L A N T A S

173
28
01 _ ACESSO SOCIAL
26
02 _ ACESSO DE SERVIÇO
29 03 _ ACESSO DE VEÍCULOS
27 04 _ PORTARIA
23 22 21
05 _ PAINEL DE MEDIDORES

06 _ SUBESTAÇÃO

25 20 07 _ COPA DE FUNCIONÁRIOS
IMPLANTAÇÃO 24 19
08 _ APARTAMENTO DO ZELADOR

09 _ CIRCULAÇÃO DE SERVIÇO
18
10 _ HALL SOCIAL
11 _ JARDIM DE ACESSO E ESPELHO-D’ÁGUA
17 16 15
12 _ ESTAR EXTERNO E LAREIRA
08 13 13 _ SALÃO DE FESTAS

14 _ LAVABOS (SALÃO DE FESTAS)

10 15 _ COPA DE APOIO (SALÃO DE FESTAS)


TÉRREO
16 _ DEPÓSITO (SALÃO DE FESTAS)
14
07 09 17 _ DML

18 _ CIRCULAÇÃO DE LAZER
19 _ DEPÓSITO CONDOMINIAL

20 _ BRINQUEDOTECA
06 05 04
21 _ SAUNA SECA
12
11 22 _ SAUNA ÚMIDA
23 _ SALA DE MASSAGEM

24 _ LAVABOS (LAZER)

25 _ VESTIÁRIO

03 26 _ ACADEMIA

27 _ PLAYGROUND
02 01
28 _ PISCINA COBERTA

29 _ PISCINA EXTERNA

RUA COMENDADOR RHEINGANTZ


, 610.

174 175
BOX 22

08

BOX 21

BOX 1 BOX 20
BOX 27 06 BOX 23
05
IMPLANTAÇÃO 06
BOX 19
BOX 2
BOX 26 BOX 24

BOX 3 BOX 18
BOX 25
04
07
BOX 4 BOX 17
03 03
SUBSOLO 01
BOX 5 BOX 16
01 _ GERADOR
02 _ LIXEIRA

03 _ ACESSO SOCIAL AOS APARTAMENTOS BOX 6 BOX 15

04 _ ACESSO DE SERVIÇO

05 _ SALA DE MÁQUINAS DA VENTILAÇÃO


BOX 14
06 _ SALA DE MÁQUINAS

BOX 10

BOX 12

BOX 13
BOX 11
BOX 9
BOX 8
BOX 7
07 _ ACESSO DE VEÍCULOS TÉRREO
01
08 _ ACESSO DE VEÍCULOS AO SUBSOLO 02
02

176 177
BOX 28 BOX 51

04 05

BOX 29 BOX 50

IMPLANTAÇÃO BOX 30 BOX 54 BOX 52 BOX 49

BOX 31 BOX 48
BOX 55 BOX 53

BOX 32 BOX 56 BOX 47


03
SUBSOLO 02
BOX 33 BOX 46
01 _ BICICLETÁRIO 02 02
02 _ ACESSO SOCIAL AOS APARTAMENTOS

03 _ ACESSO DE SERVIÇO
BOX 34 BOX 45
04 _ RESERVATÓRIO INFERIOR

05 _ ACESSO DE VEÍCULOS AO SUBSOLO 01

BOX 35 BOX 44

BOX 43

BOX 36

BOX 39

BOX 40
BOX 38

BOX 42
BOX 37

BOX 41
01

178 179
DORMITÓRIO
DE SERVIÇO
3,61 M2 SUÍTE MASTER
33,10 M2

BANHO DE
SERVIÇO SUÍTE 2 SUÍTE 1
2,18 M2
16,25 M2 16,25 M2

ÁREA DE
SERVIÇO
9,60 M2

HALL DE SERVIÇO

CIRCULAÇÃO

HALL LAVABO
SOCIAL

JANTAR
A PA R TA M E N T O ESTAR

GARDEN
121,82 M2

COZINHA
23,15 M2
ÁREA SOCIAL
99,06 M2

GA R DE N
VARANDA

355,21 m²

180 181
BANHO DE DORMITÓRIO DORMITÓRIO BANHO DE
SERVIÇO DE SERVIÇO DE SERVIÇO SERVIÇO
2,18 M2 3,61 M2 3,61 M2 2,18 M2

SUÍTE 1 SUÍTE 2 SUÍTE 2 SUÍTE 1


16,25 M2 16,25 M2 16,25 M2 16,25 M2

SUÍTE MASTER SUÍTE MASTER


33,10 M2 33,10 M2

HALL DE SERVIÇO
ÁREA DE ÁREA DE
SERVIÇO SERVIÇO
9,60 M2 9,60 M2
CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO

HALL HALL
LAVABO LAVABO
SOCIAL SOCIAL

JANTAR JANTAR
A PA R TA M E N T O ESTAR ESTAR

COZINHA COZINHA
23,15 M2 23,15 M2

ÁREA SOCIAL ÁREA SOCIAL


99,06 M2 99,06 M2

TIP O VARANDA VARANDA

233,13 m²

182 183
DORMITÓRIOS BANHO DE ÁREA DE
DE SERVIÇO SERVIÇO SERVIÇO
6,49 M2 3,28 M2 15,06 M2

HALL DE SERVIÇO
COZINHA
31,01 M2

ESCRITÓRIO SUÍTE 3 SUÍTE 2 SUÍTE 1


11,85 M2 15,84 M2 15,84 M2 25,16 M2

CIRCULAÇÃO
24,02 M2
ADEGA

ROUPARIA
2,43 M2
HALL
CHURRASQUEIRA
LAVABO SOCIAL

JANTAR

A PA R TA M E N T O

ÁREA SOCIAL
174,90 M2
SUÍTE MASTER
ESTAR 89,68 M2

AN DAR ÚN I C O VARANDA VARANDA

460 m²
*SUGESTÃO DE PLANTA.

184 185
DORMITÓRIOS BANHO DE ÁREA DE
DE SERVIÇO SERVIÇO SERVIÇO
6,49 M2 3,28 M2 15,06 M2

HALL DE SERVIÇO

COZINHA
27,87 M2

ESCRITÓRIO SUÍTE 3 SUÍTE 2 SUÍTE 1


11,85 M2 15,84 M2 15,84 M2 25,16 M2

DESPENSA

CIRCULAÇÃO
23,95 M2
ADEGA

ROUPARIA
CHURRASQUEIRA

2,43 M2
HALL
LAVABO SOCIAL

JANTAR

A PA R TA M E N T O

ÁREA SOCIAL
184,83 M2
SUÍTE MASTER
ESTAR 89,10 M2

AN DAR ÚN I C O VARANDA VARANDA

460 m²
*SUGESTÃO DE PLANTA.

186 187
DORMITÓRIO BANHO DE ÁREA DE
DE SERVIÇO SERVIÇO SERVIÇO
3,09 M2 2,27 M2 13,03 M2

HALL DE
SERVIÇO

SUÍTE 1
21,61 M2

SUÍTE 3
18,66 M2 SUÍTE 2
COZINHA
19,08 M2
21,73 M2

CIRCULAÇÃO
27,83 M2

LAVABO

ADEGA

HALL
SOCIAL

TERRAÇO
48,60 M2
A PA R TA M E N T O
ESTAR

SUÍTE MASTER
77,75 M2

ÁREA SOCIAL
CHURRASQUEIRA/JANTAR 151,36 M2

VARANDA

C O B E R TUR A
476,42 m²

188 189
L O C A L I Z A Ç Ã O

191
192

EDIFÍCIO IARAS
O BAIRRO BELA VISTA

RUA ANITA GARIBALDI AVENIDA CARLOS GOMES

Situado na zona central de Porto Alegre, o Bela


Vista é um dos bairros mais nobres da Capital.
A área é localizada no alto de uma elevação,
característica responsável pela vista incomparável

que dá origem ao seu nome.

Por ocupar um dos pontos mais privilegiados


da cidade, o bairro proporciona uma excelente
qualidade de vida aos seus moradores, oferecendo

CLUBE GRÊMIO NÁUTICO UNIÃO


RESTAURANTE LE BATEAU IVRE
segurança, conforto, lazer e a comodidade de

HOSPITAL MÃE DE DEUS


BANCA DO HOLANDÊS
PADARIA JEAN PIERRE

COLÉGIO ANCHIETA
THE PUBLIC MARKET
ZAFFARI PEDRO IVO

realizar todas as atividades cotidianas a pé.

SHOPPING ZAFFARI
FARMÁCIA PANVEL
PRAÇA DA ENCOL

BANCA 43
Comendador Rheingantz, 610.

192 193
D I F E R E N C I A I S

194 195 195


O Edifício Iaras possibilita que você viva
suas histórias de forma única a partir
de diferenciais exclusivos pensados para
transformar a experiência de morar.

DIFERENCIAIS

_ Áreas condominiais totalmente mobiliadas


_ Esquadrias em alumínio anodizado
_ Muxarabis em alumínio
_ Fachada em concreto aparente
_ Laje com tratamento para atenuação acústica

_ Vidros com tratamento termoacústico (área


íntima com vidros insulados e área social com
vidros com tratamento de conforto térmico)
_ Ampla varanda
_ Piscina coberta com revestimento em pedra
natural - Travertino Romano
_ Gestão de água - sistema coletivo com água
quente privativa e condominial

196 197
MOBILIÁRIO ASSINADO

As áreas sociais do Iaras são preenchidas com um Banco Mocho - Sérgio Rodrigues

tipo exclusivo de conforto. O mobiliário presente Poltrona Diz - Sérgio Rodrigues

nos espaços do edifício possui design assinado por


renomados arquitetos, criando uma atmosfera de
bem-estar autoral e único.

Mesa Pétala - Jorge Zalszupin

Poltrona Zanine H - Zanine Caldas

198 199
P A I S A G I S M O S U S A N A N E D E L

201
Susana Nedel: Cresci com a
Susana Nedel m i n h a m ã e a m a n d o p l a n t a r, e u

assina o projeto es tudava a tabuada em cima de um


p é de p es s e gueiro ou da frut a da

paisagístico e s t a ç ã o. A f a mí lia d a minh a m ã e


era de colonos alemães, meus pais
do Edifício Iaras. n a s c e r a m e m M o n t e n e g r o, m a s
morávamos em Cama quã, em uma
áre a nã o coloniz a d a p or it alianos
Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio ou alemães. Como não tinha acesso

Kogan tem décadas de experiência e a comprar fruta fresca, minha mãe


plantava. M eu pai plantava arroz e

reconhecimento internacional como um dos ela plantava hor ta, pomar. A origem
d o m e u g o s t o p o r e s t a r n o m e io
maiores arquitetos da atualidade. Nascido d o ve rd e f oi e s s a, s e m p re m o rei
em casa. Lembro que na época eu
na cidade de São Paulo, dividiu o começo Na entrevista para Lucas Rachewsk y, g o s t a v a m a i s d a c o l h e i t a, c o l hi a

ela revela suas inspirações nos moranguinho. Q uando criança,


da carreira entre a arquitetura e sua paixão eu vivia com as minhas pernas
elementos que compõem o universo
e s fo l a d a s, p ois s e mp re s ubia n a s
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos de par ticularidades do projeto.
ár vores.

filmes E N T de
na década R 1980.
E V Paixão
I S esta
T Aque deu
origem ao seu estilo único: um flerte entre o
modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico
de um diretor. O resultado está estampado nas LR: A tua rela ção de proximidade

obras que Kogan e o Studio MK27 assinam com a natureza é de infância, mas
quando tu percebeu que essa seria

pelo mundo, valorizando a simplicidade formal a tua profissão?

e elaborando projetos com extremo cuidado e SN: Tu vê como as cois as s ão: eu


tinha essa relação com a natureza lá
atenção aos detalhes e acabamentos. na infância e depois por acaso casei
com um agrônomo. Ele trabalhava
em uma empresa, mas tinha vontade
d e f a z e r p a i s a g i s m o. C o m e c e i a
trilhar esse caminho de fazer feiras
d e plant as junto com ele. L embro
L u c as Ra c hews k y : Sus ana, me q u e o lh ei o c u r r íc ul o d o s c u r s o s
conta sobre a tua trajetória e a tua p ar a d e cidir o qu e f a zer e s ó me
relação com jardins. achei na arquitetura.
LR: Como se dá o teu processo hoje em dia, com toda
a tecnologia que temos disponível?

SN: As pessoas me diziam: “ Tu vai fazer arquitetura


p a r a f i c a r s ó d e s e n h a n d o f l o r z i n h a? ”. E l a s n ã o S N : Eu s e m p re c o m e ç o o s p ro je t o s d e s e nh a n d o à

e n t e n di a m a c o m p l e x i d a d e q u e p o d e e nv o l v e r u m mã o, criando em cima das plant as b aixas. D ep ois a

projeto paisagístico. Como eu já tinha essa experiência, nos s a e quip e come ça o pro ces so de mo delagem no

quando chegou nas cadeiras específicas de paisagismo, c o m p u t a d o r. A s f e r r a m e n t a s d i s p o n í v e i s f a c i l i t a m

de finalização de projeto, eu sabia muito bem o que muito o t r a b alho, ajud am a visualiz ar o proje to nos

p erguntar para me ajudar. Eu cos tumo dizer que me mais diversos ângulos, conseguimos aprimorar e

p a g am pr a f a zer o que eu amo. Fico me diver tindo detalhar cada vez mais, mas p es soalmente eu nunca

escolhendo as coisas, pesquisando, desenhando. ligo o computador, me sinto melhor desenhando à mão
mesmo.

LR: Fora do universo das plantas, o que inspira a tua


criação?

SN: Tento imaginar cada trabalho de uma forma muito


individual. Se eu disser que a inspiração foi essa ou
a quela, vou e s t ar mentindo. Eu tenho muitos liv ros,
tenho até medo que um dia a minha es tante des abe.
Q u a n d o e s t o u um p o u c o e m b a n a n a d a c o m a l gum a
fo r m a, e u p e s quis o e d a qui a p ou c o e n c o nt ro um a
solução que nem es tava esperando.

LR: Tu entrou na faculdade de arquitetura com a cer teza


de que faria jardins?
“Estou constantemente
pesquisando, acumulando
S N: E x a t a m e nt e, a nt e s m e s mo d e m e fo r m a r, eu já
fazia projetos para casas. Na época, vendemos o nosso
carro e compramos uma Kombi. Comprávamos plantas e
fazíamos as feiras de verde. Uma vez eu estava fazendo referências, então
um jardim na rua, modelando um canteiro, e uma colega
de faculdade me viu. Ela parou o carro do meu lado e
eu caí no chão bem na hora. Ela ria muito, é engraçado
as criações acabam
ver uma p es soa caindo quando não é sério, mas ela
t a mb é m fic o u s ur p re s a a o m e ve r e m p l e n a Ca r l o s
acontecendo naturalmente. LR: Quais são os critérios que tu leva em consideração
nos teus jardins?

Cada projeto tem a sua


Gomes to da embarra da. Eu a doro colo car a mão na
terra e modelar os canteiros. O jardineiro não tem curso
S N : Eu a c r e d i t o q u e a q u e s t ã o d o s s e n t i d o s s e j a
de modelagem, então tu dá um exemplo e mostra o que
particularidade.”
fundamental. O que a pessoa vai enxergar a par tir das
tu quer na prática.
diversas perspectivas e qual vai ser o convite de cada
canto do jardim. Planejar de acordo com os ângulos de
visão de cada espaço.

204 205
“Eu sempre digo que me
SN: Desper tar as emoções, a sensação de bem - es tar,
“Gosto muito de apelar de privacidade, o confor to térmico, es tar no meio da sinto realizada quando as
natureza em um ambiente urbano. Gosto de movimento,
aos sentidos, de criar perceber o vento, a passagem do tempo. Isso é o que
pessoas entram no jardim
me dá prazer, acho muito bonito.

um paisagismo que seja LR: Um jardim tem o poder de ressaltar a arquitetura


e perguntam: ‘O que a
visual, sonoro e olfativo.” e a capacidade de criar cenários inesperados.
Normalmente o teu trabalho começa a par tir de uma Susana fez aqui?’. Quanto
arquitetura definida. Como é o desafio de criar dentro
de uma cer ta limitação? menos ficar demonstrado,
S N: É uma ques tã o de s ab er us ar a limit a çã o a s eu
f avo r, d e c o mp re e n d e r a a rquit e t ur a p ro p o s t a e a s
melhor. Não gosto
emoções que ela provoca. Eu es tudo muito o projeto,
interpreto as intenções e vou adicionando o meu olhar
de deixar a sensação
a par tir disso. Nunca imaginei que fosse gostar tanto de
trabalhar com um escritório renomado como o Studio de algo fabricado.”
M K 27. O p ais a gis m o é u m a re s p o s t a à a rq ui t e t u r a
propos ta; eu cos tumo ter bas tante liberdade para criar
SN: Gos to de criar um habitat natural, dar privacidade,
e propor um diálogo, e com eles não foi diferente. Foi
confor to térmico, como se fosse um bosque. Claro que
uma experiência muito positiva.
nem sempre é possível, exis tem limitações e também o
gos to de cada cliente, mas no caso do I aras a cre dito
LR: Pessoalmente, eu gos to de paisagismos em que a
que conseguimos trazer essa percepção de uma
natureza parece tomar conta, como se perdêssemos o
natureza livre. Gos to de pensar em todas as camadas,
controle ao longo do tempo. O improviso e a surpresa
nos det alhes, no a cabamento, no ref lexo, no som, no
das formas fazem par te do teu trabalho?
cheiro, pra mim tudo impor ta. O meu atual marido, que
é engenheiro, às vezes me diz “Susana, isso é frescura”,
e eu respondo “Mas eu sou 1.0 0 0% movida à frescura”.

206 207
L R : U m d o s gr a n d e s d e s t a qu e s d o I a r a s é o p ais a gis m o d a
entrada, com uma esp é cie de lago sinuoso que conduz até o
hall. Além disso, o projeto arquitetônico tem grandes aber turas
e a conexão dentro e fora é permanente.

SN: Eu tinha que criar uma forma de chegar ao vão central, um


caminho que não fosse bobo, que revelasse novos ângulos e te
fizesse perceber os diferentes ref lexos. É uma ques tão de ter
tempo de olhar, de não ser tão óbvio, das pequenas surpresas.
Por ser um espaço aber to, achei interessante acrescentar esse
espelho - d’ água com uma forma mais natural.

“Para mim, é importante


que a água seja um
A água acabou se tornando um elemento muito presente
elemento vivo e reflita no projeto, assim como o fogo da lareira ex terna e do
braseiro do salão. O fogo e a água representam muito

a natureza, as nuvens, a vid a. E olha qu e engr a ç a d o: qu and o eu a p re s ent ei


es s a prop os t a, a Diana Ra domysler e o Pe dro Rib eiro

os pássaros, que tenha o lh a r a m c o m um a c e r t a s ur p re s a, e u s e nti qu e tinh a


algo, então eles disseram: “Nós também colocamos um

o movimento do vento
e s p e lh o - d ’ á gu a n o int e rio r d o h a ll ”. S e e u s oub e s s e
dis so antes, talvez me sentiria inibida em colocar. No
fim todos gos taram e concordamos em manter, foi uma
e uma sonoridade agradável.” c o i n c i d ê n c i a i n c r í v e l. S o b r e a s g r a n d e s a b e r t u r a s,
quando vi pela primeira vez, tive a cer teza de que não
deveria interferir com elementos que tirassem a sensação
de limp eza. Os vidros ajudam a res s alt ar a ve get a ção
através dos ref lexos. Essa relação do vidro, da água e
do verde funciona superbem. No térreo os espaços são
permeáveis e a vegetação emoldura o projeto.

208 209
ATO I I I P E D R O K O P S T E I N
A KO P S T E I N

211
Pedro Kopstein, Pedro Kopstein: Meu lado paterno
veio da Moldávia pros assentamentos

diretor. judaicos que fizeram no interior do


Rio Grande do Sul, em Philippson.
Meu bisavô Aron Kopstein, nome do
meu terceiro filho, veio pro primeiro
assentamento em 1909.

Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio


Kogan tem décadas de experiência e
reconhecimento internacional como um dos
maiores arquitetos da atualidade. Nascido
na cidade de São Paulo, dividiu o começo
da carreira entre a arquitetura e sua paixão
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos
filmes E N T de
na década R 1980.
E V Paixão
I S esta
T Aque deu
origem ao seu estilo único: um flerte entre o
modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico
de um diretor. O resultado está estampado nas
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal O rabino da colônia era avô do

e elaborando projetos com extremo cuidado e Benjamin Steinbruch e meu bisavô


e r a a u x i l i a r d o r a b i n o. M e u a v ô

atenção aos detalhes e acabamentos. D avid, qu e foi um a p e s s o a muit o


impor tante na minha vida, com quem
eu convivi muito, nasceu lá. Minha
avó nasceu em uma dessas colônias
também, só que na Argentina, numa
colônia chamada M oisés Ville.
O lado da minha mãe veio de
L u c a s Ra c h ews k y : Pe dro, qual a Varsóvia; meu avô em 1933 e minha
his tória da tua famí lia? avó em 1939.
LR: Os desafios, o sofrimento, as his tórias de sobrevivência, é D epois ele conseguiu fazer um prédio térreo e mais
difícil entender hoje o que nossas famílias passaram em busca de u m a n d a r, d e p o is t é r re o e m a is d o i s a n d a re s . Em
uma vida melhor. A empresa que carrega o nome da tua famí lia 195 6 m e u p a i p a s s o u n a U ni v e r s i d a d e Fe d e r a l d e
e foi fundada pelo teu avô David fez 80 anos. Tu deve ter muito Medicina em Por to Alegre. O filho entrar na faculdade
orgulho em levar es s a his tória adiante. M e fala sobre como a de medicina foi um orgulho incrível pra uma famí lia
Kops tein começou. tão humilde, e como o meu pai é filho único vieram
t o d o s p r a c á, e l e s m o r av a m n a r u a H e nriqu e Dia s,
PK: O meu avô nasceu em 1918 em uma famí lia muito simples. no Bom Fim.
A mãe dele morreu quando ele era jovem e ainda pré -adolescente
ele se mudou para Rio Grande, onde fez as mais variadas coisas.
O meu pai se formou e foi es tudar na Inglaterra; além
Foi frentista de posto de gasolina, cobrador de ônibus ou bonde,
d e m é di c o t a m b é m f o i p ro f e s s o r d a U ni v e r s id a d e
eu não s ei, is so devia s er final da dé c a da de 1920 ou início
Federal por muitos anos. Meu avô passou a ter
dos anos 3 0, e também trabalhou no por to. Algumas his tórias
um p ou c o mais d e c o nfo r t o e c o ns e guiu fic a r c o m
ele me contou quando eu era criança e outras adulto, então dá
uma embaralhada. Eu tenho um pouco de dúvida, mas sei que “Meu avô não tinha alguns dos imóveis que cons t ruía. Ele tinha a quela
preocupação de um cara que por muitos anos não teve
ele morava em Rio Grande e conhe ceu a minha avó, que era

condições de não
nada, de não arriscar tudo e ter algo pra renda, caso
arg entina e tinha s e mud a do com a f amí lia pr a Pelot as. Ele s
alguma cois a nã o fos s e b em. D ur ant e muitos anos,
se casaram em 1936 e meu pai nasceu em 1938. A minha avó
eu almo cei to dos os dias na c as a dele e nós íamos
es tá viva até hoje, com 102 anos. Eram um casal muito simples,
meu avô era mascate. Ele tinha uma bicicleta com uma pequena
trabalhar e com juntos pro escritório, que na época ficava no bairro
Menino Deus, na esquina da Getúlio com a Barão do

o pequeno capital
c arre t a e vendia as cois as em pres t a çõ es. To do dia ele dava
Triunfo. Eu fui muito, muito próximo dele, uma pessoa
um dinheirinho pra minha avó ir à feira. Ela sempre foi muito
que eu tenho uma admiração muito grande, tanto que
econômica e juntou ao longo do tempo o suficiente pra ele fazer
uma carretinha de tecidos e aquilo foi uma evolução. A minha “Então eu acho que que tinha começou o nome do meu primeiro filho é David. Isso foi uma
condição, quando eu conheci a minha esposa, disse:
avó contava uma his tória sobre o meu avô voltar pra casa depois

a Kopstein nasceu a empreender em Porto


O nos so primeiro filho vai s e chamar David, p ois é
de um dia inteiro trabalhando na chuva e colocar o dinheiro pra
muito impor tante pra mim homenagear o meu avô. Um
secar, tinha até pulga mor ta no meio do dinheiro; não devia ser
dia, caminhando juntos, ele me contou a his tória de
fácil. Ele sempre foi muito trabalhador e foi juntando dinheiro
até fazer a primeira casa; quando ela ficou pronta, um amigo ou
da necessidade de Alegre fazendo pequenos um dos primeiros edifícios que fez em Por to Alegre,
na Avenida B as tian, e s quina com a Ge túlio Vargas:

um homem trabalhador edifícios. Sendo uma


parente acabou comprando. Ele fez uma segunda casa e vendeu
“Imagina um terreno desses numa esquina como essa
também. Minha avó tá velhinha pra esse nível de detalhe e meu
hoje, ao lado de um Zaffari, a torre maravilhosa que
avô infelizmente faleceu, então eu não sei exatamente quando que
ele pôde dizer: “Agora vou fazer uma casa sem ter que vender de prover a esposa pessoa muito correta eu teria feito, e na época fiz vários prédios pequenos,
pois o elevador era caro”. O terreno era tão barato,
a minha”. Não tenho cer teza de quantas casinhas ele tinha feito,

e o filho e acabou e honesta, começou


apesar do endereço, mas o elevador era caro, por isso
mas sei que ele conseguiu, foi fazendo até deixar de ser mascate.
edifícios pequenos, pra economizar no elevador. As
coisas foram mudando, hoje em dia o elevador é barato
virando uma empresa.” uma história de sucesso.” e o terreno é tudo.

214 215
LR: Quando tu passou a trabalhar na empresa?

PK: Eu entrei na empresa em 1998, aos 17 anos. Na


época o meu avô tinha um terreno na Cidade Baixa e
esse foi o primeiro prédio de que par ticipei. Depois PK: Eu acredito que sim, na ques tão da seriedade e
“Pra mim o binômio da empresa
fizemos um, dois e mais alguns prédios. Eu me lembro do comprometimento. Quando acontece alguma coisa,
b e m d e qu a n d o a s gr a n d e s c o ns t r u t o r a s c h e g a r a m estamos sempre lá, a gente atende e responde. Eu acho é fazer projetos de alto padrão,
a Po r t o A l e gre, s e nã o m e e n g a n o foi a Cy re l a e m que isso é uma coisa do meu avô e do meu pai, tudo
20 06 ou 20 07, e eu p ensei que ficaria muito difícil tem que ser correto. Claro que o alto padrão não era sempre ir melhorando esse
competir com uma empresa desse por te, uma empresa o foco do meu avô, ele fazia apar tamentos menores.
que a gente respeita e admira muito. Na época pensei
que deveríamos tentar achar um nicho onde a gente
O alto padrão é aquela coisa da minúcia, do detalhe,
do cliente com um nível de exigência altíssimo, e nós
padrão com boa arquitetura,
p u d e s s e, a p e s a r d o n o s s o t a m a nh o, s e r p e rc e bid o
como algo diferenciado. Foi aí que resolvemos migrar
temos que fazer jus à exigência do cliente.
uma arquitetura internacional
pro alto padrão e virou a chave da empresa. Eu só fiz L R : O t e u p ai s e g uiu o c a min h o d a m e di cin a. El e
edifícios residenciais, nós até fizemos alguns imóveis chegou a trabalhar na empresa em algum momento? com a brasilidade dos grandes
comerciais para uso da família, mas nunca incorporamos
um e difício comercial. M igr amos pro al to p a drã o e PR: Meu avô teve um câncer em 1992, foi bem sério, arquitetos brasileiros, e ao
acabei me apaixonando, virou um tipo de hobby com e meu p ai a c a b ou ind o p r a emp re s a. El e t r a b alhou
trabalho, uma paixão pela arquitetura, pelos detalhes.
É um trabalho bem difícil, pois é um negócio feito à
vários anos na Kops tein, mas não chegou a incorporar,
meu pai nunca cons truiu. Então a empres a ficou uns
mesmo tempo ter essa questão
mão e nós temos uma preocupação muito grande em
como atender os clientes da melhor forma possível.
6 ou 7 anos sem cons truir. Quando eu entrei, meu pai
continuava trabalhando na par te dos imóveis que temos
da qualidade da execução
e eu voltei a cons truir. Eu a cho que no s e gundo ou
LR: Essa obsessão pela qualidade e pelo atendimento terceiro prédio que es távamos fazendo meu avô veio da obra e do atendimento
é uma herança do David? a falecer.

ao cliente. Essa é a motivação


da Kopstein.”

216 217
“Nós continuávamos
Eu sou apaixonado por Nova Iorque, que pra mim é
a cidade mais incrível do mundo, tudo de bom tá lá.

fazendo o mesmo tipo


Quando eu viajo, sempre visito empreendimentos, vou
LR: O teu aprendizado foi com a mão na massa.
estudando, conhecendo novos arquitetos. Esses tempos

de projeto, a mesma
e u d e s c o b r i um p roje t o n a Á f r ic a d e um a rq ui t e t o
PK: Exato, porque tínhamos a empresa, o meu irmão
c h a m a d o D avid Adjaye. Ent rei no I ns t a gr a m d e l e e
mora no ex terior desde os 16 anos, o meu pai tinha

arquitetura, e eu entendi
achei espetacular, vi que ele tinha um projeto incrível
a carreira na medicina, então não tinha ninguém pra
no Soho e fui lá conhecer. Eu já fico louco de vontade
seguir, foi natural pra mim. Meu pai sempre foi muito

que não poderia ficar


de trazer o Adjaye pra cá. Agora es tamos começando
b a c a na c o mig o, s e eu quis e s s e t e r sid o m é dic o ou
a in c o r p o r a r e m S ã o Pa ul o e l á e s s e tip o d e c ois a
advogado, eu teria todo o supor te tamb ém. Q uando

atrás do meu cliente.


é m ais ó bvia, a t é e m fun ç ã o d e p l a n o dire t o r, qu e
entrei na Kops tein, não tinha ideia se a quilo seria a
aqui é muito restritivo. Em São Paulo é mais expansivo,
minha vida; entrei pra conhecer, ver o que era e depois

Acho que o empresário


entã o s e cons e gue t r a zer um arquit e to d e for a com
d e cidir o que f a zer d a vid a, nã o s a bia o que f aria.
s oluçõ e s diferente s, mas tomar a que s eja pr a Por to
Tinha demandas, opor tunidades, e tinha o meu pai e

tem que fornecer aquilo


Alegre, que é a minha cidade; eu amo Por to Alegre,
meu avô ali dentro naquele momento. Quando comecei
é onde crio os meus filhos e pretendo ficar, não me
a cons truir, meu avô ainda era muito ativo, até ficar

que o cliente quer e não


imagino saindo daqui. Mas que maravilha que possam
doente. Ele adorava ir às obras, ia todos os dias, era
vir arquitetos como o David Adjaye e outros grandes
uma pessoa muito cativante. Eu também gos to de ir à

o cliente comprar o que


arquitetos do mundo pra cá. Tomara que seja a Kopstein
obra, me esforço pra ir to dos os dias, às vezes não
que traga eles, mas, se forem outras incorporadoras,
consigo, mas eu tento. Lembro que naquela época eu

tem disponível.”
ótimo, porque eu acredito que a concorrência qualifica.
che gava na obr a e os mes tres vinham falar comigo:
Tenho a minha suspeita de qual projeto começou esse
“ O s e u D a v i d j á e s t e v e a q u i ”, “ O s e u D a v i d é
movimento de elevar ainda mais o padrão arquitetônico
mar avilhos o”. Foi um p rivil é gio t er tid o uns 6 anos
de Por to Alegre, mas não vou citar nomes (risos). Acho
junto com ele na empres a. Eu a doro o que eu fa ço,
que is so puxa to do mundo pra cima. É maravilhoso,
essa coisa de escolher um terreno e fazer um prédio.
nos desafia a melhorar, todo mundo ganha e qualifica
a cidade. Ganha a produção local, ganha a produção
LR: Eu acompanho o teu trabalho de per to há quase
de fora, o incorporador, que também tem que melhorar
10 anos e vi mudanças bem significativas na tua forma
pra trazer coisas novas e trabalhar com esses arquitetos,
de abordar os empreendimentos ao longo do tempo.
ganha o cliente e ganha a cidade.

PK: Muita coisa mudou e muita coisa es tá mudando.


LR: O que te fez perceber que tu precisava mudar e
O nível do alto padrão es tá aumentando, o cliente tá
virar a chave da empresa novamente ao trazer arquitetos
muito exigente, não tem aceitado coisas do passado.
como o Isay e o Kogan?
Tem uma produção arquitetônica muito bonita em Por to
Eu s e n t i e s s a v ir a d a d e c h a v e d o c li e n t e e v i q u e
A l e gre n o s úl tim o s a n o s, c ois a s b a s t a nt e v a ria d a s,
PK: Chegou um momento em que todo mundo es tava pre cis av a correr a t rás. Como vou come ç ar a correr
es téticas diferentes. Talvez a gente tenha tido muitos
v i a j a n d o e t e n d o m ui t a s e x p e r i ê n c i a s, a s p e s s o a s a t r á s? Tr a ze n d o u m a g r a n d e a rq ui t e t u r a p r a Po r t o
a n o s d e um a l t o p a d r ã o m ais h o m o g ê n e o, q u a n d o
p as s ar am a fo c ar mais em ex p eriências e menos no Alegre, pois é um cliente que es tá acos tumado a ver
tudo era pas tilha e granito. Hoje temos várias coisas,
objeto. Eu comecei a perceber isso nos clientes que e s s a a rq ui t e t u r a n a s s u a s v ia g e n s, e re f o r mul a n d o
a rquit e t os m a r avilho s os d e Po r t o A l e gre e gr a n d e s
sentavam comigo. Es se cara que viajava tinha várias processos construtivos, pois não adianta ter uma grande
nomes da arquitetura como o Isay, o Kogan e o Casas.
ex p eriências le gais, o c arro, o hotel, o res t aur ante, arquitetur a e p e c ar em ques tõ es de qualida de. Is so
Quanto mais diversidade e mais nomes de fora, melhor.
mas o apar tamento que ele morava em Por to Alegre pra mim tem sido o foco, uma obsessão, sacudir, virar,
não tinha incorporado nada disso. mexer a empresa pra que tenha processos cons trutivos
mais eficientes.

218 219
LR: A quê tu a tribui uma cida de s er tã o resiliente e ter es s a
capacidade de se reinventar, como é o caso de Nova Iorque?

PK : N ov a I o rqu e é uma fê nix. Eu a c ho qu e s ã o a s p e s s o a s.


Nova Iorque tem um catalisador, algo de puxar, não sei se dá
pra dizer as melhores, mas pessoas muito especiais pra cidade.
Tenho muitos amigos lá e vejo que exis te um foco nos objetivos
LR: Na tua visão, qual o papel do incorporador em relação às Iorque, lendo muito sobre a cidade durante a pandemia, e tinha em comum, seja no trabalho, seja nas relações sociais. É uma
cidades? O que a arquitetura representa pra ti? Como ela impacta especialis tas que diziam que Nova Iorque ia acabar, que Londres cidade despida de preconceitos. Como quase ninguém é nova -
a vida das pessoas? ia acabar, Hong Kong ia acabar, os grandes centros urbanos iriam iorquino — to d o mund o vir a nov a - iorquino —, nã o int ere s s a
a c a b a r, m a s n e s s e a n o e u fui p r a l á du a s veze s e a cid a d e t á muito a religião, as op çõ es p es soais, e is so faz a cida de ser
PK: O incorporador deve escutar para onde a sociedade quer cheia de vida, os restaurantes estão lotados, o mercado imobiliário, tão maravilhosa. Tu atrai grandes pessoas, mentes brilhantes em
c a min h a r. À s v eze s e u v e j o c o is a s q u e a c h o e x t re m a m e n t e os bairros f lorescendo novamente, o Upper Eas t Side do qual as um lugar que es tá focado em resultados, em objetivos. Eu acho
es túpidas, como a ideia de esp alhar as cida des. Em um p aís pessoas tinham saído e agora voltaram. São bairros que tu desce e que aqui ainda se tem preconceitos e is so gera muito atraso.
que tem tanto pra gas tar com saneamento, com transpor te, por tem a lavanderia, tem o cafezinho, tem vida. Uma vez eu ouvi uma Em lugares como Nova Iorque, as p es soas vão criando novas
que vamos espalhar as pessoas? Em Por to Alegre, por exemplo, frase, não lembro onde, mas achei perfeita: “País rico não é aquele demandas; demandam cada vez mais e melhor, e os empresários
tem o 4º Dis trito, que é espetacular. Por que não levar vida pra onde o pobre vai trabalhar de carro, mas onde o rico vai trabalhar vão atendendo. Seja o incorporador, seja o dono do restaurante,
lá? Do 4º Dis trito e do centro se vai caminhando ou pedalando d e t r ans p or t e cole tivo”. É tu ent r ar em um t rem a bs olu t ament e quaisquer que sejam os anseios, eles vão sendo atendidos.
pra qualquer lugar da cida de — pra Carlos Gomes, pra Nilo diversificado que é o retrato do tecido social da sociedade. Tem o
Peçanha, pro Moinhos de Vento, onde quer que seja a empresa CEO da empresa lendo jornal, mandando e -mails, tem o entregador, LR: Q uando eu morei em Sydney, em 20 05, tive es s a mesma
em que a pessoa trabalha. Então, por que pensar em abrir um tem de tudo e to do mundo junto no me smo tr ans p or te cole tivo s ens a ç ã o. Claro que hoje muit a cois a mudou, mas o que me
b airro novo ainda mais long e? N ã o v amos fa zer sis t emas d e rápido e eficiente, ninguém perde tempo, não congestiona a cidade. atrai nesses lugares são as relações baseadas no princípio do
metrô, não tem dinheiro pra isso, mas no centro e no 4º Dis trito No Brasil temos coisas que são aberrações, em algumas cidades comerciante, na troca de valor, onde ninguém tá interessado na
o esgoto tá pronto, a luz tá pronta, faz uma ciclovia mais bem americanas também: estacionamentos que são maiores que o prédio. tua vida privada.
feita, melhora o transpor te, desafoga a cidade, vai fazer bem Estive recentemente em Los Angeles e achei a cidade horrível, tudo
pra s aúde das p es soas. Pra mim, ficar horas em transp or te é é tão dis tante. Adoro fazer tudo caminhando, conhecer a cidade, PR: Exatamente, as opções da pessoa que tá interagindo contigo
horrível, independentemente se é público ou privado; são duas de carro as cois as pas s am e eu não vejo, então faço tudo a p é. são irrelevantes; se ele tem interesses em comum contigo, tu vai
horas do teu dia que tu deixa de es tar com os teus filhos, com a Resolvi caminhar num sábado de manhã por Beverly Hills meio sem conviver, vai ser teu amigo, indep endentemente de qualquer
tua esposa, que tu deixa de ter um momento de lazer. A pandemia destino e me dei conta, quando cheguei às casas famosas, de que as coisa. O princípio do comerciante é uma relação em que todo
trou xe is s o p ar a as p e s s o as, trou xe muito s ofrimento, muit as ruas não tinham calçada. Eu andava no meio da rua, daqui a pouco mundo quer ganhar, não tem uma coisa de canibalismo em que
vidas perdidas, mas também coisas boas como valorizar o tempo passava um carro e eu pulava pra cima da grama. A cidade é tão alguém t em que p erd er. D eixando cois as p e quenas d e la do,
de ficar juntos, o tempo em famí lia. Quanto me cus ta deixar de inóspita que ela te joga pro meio da rua. Eu fui em um shopping podemos ganhar juntos.
es tar uma hora com a minha esposa, com os meus filhos, com que tinha 2 andares de lojas e 5 andares de es tacionamento. Isso
os amigos, pr a fic ar uma hor a em um conges tionamento? Eu é o reflexo da cidade que expulsa as pessoas, todo mundo mora LR: Essa capacidade de obser var movimentos culturais, de ouvir,
acredito que o setor público tem que olhar para isso e o setor superdis tante, precisa do carro pra tudo. Que bacana quando se d e criar e t r ans formar a re alid a d e a o re dor é f as cinant e e é
privado também, para onde a sociedade quer caminhar. Inclusive chega em um lugar em que o shopping é ao ar livre, tudo é aber to, assim que eu percebo o Kogan e o Isay, eles são firs t - handers.
o atual prefeito tem um projeto maravilhoso pro centro da cidade. tu caminha da tua casa até lá. Co m o in c o r p o r a d o r, t u é um f a cili t a d o r d e s s e p ro c e s s o d e
Eu me lembro em abril do ano passado, eu apaixonado por Nova transformação?

220 221
PK: Eu me lembro de ver a tua entrevis ta com o Isay e ele dizer LR: Ainda sobre es s a busca pela boa arquitetura, tu
que a sua grande vir tude é ser um grande ouvinte. Por que o pesquisa e viaja com frequência, e eu vejo que tu não
Is ay não diz que é o es tilo ou a inspira ção? Porque is so não separa muito os teus hobbies do teu trabalho, as viagens
impor ta, não interessa se é clássico, se é californiano ou francês, de vinho ou em famí lia das de visitas aos projetos que
não exis te is so. Ele escut a porque quer ver como po de fazer tu admira.

“Pra mim, tudo é arquitetura com que as pessoas vivam melhor e sejam mais felizes, que é o
objetivo de todo mundo. Quando eu sento com o Isay ou com PK: Minha vida hoje não separa mais trabalho e lazer,

e eu realmente me considero o Marcio, eu passo pra eles o que eu tô enxergando da cidade, tudo emaranhou. Eu tô no escritório eventualmente a
do terreno, da região, da demanda dos clientes, e vejo que o lazer, fazendo alguma coisa de um hobby, e às vezes

mais como um facilitador. objetivo deles é fazer com que essas pessoas tenham prazer e tô numa viagem que hiper trofiou demandas e trabalho
vivam melhor. Eu gos to muito de música clássica, pois tem um metade do dia, entro numa ligação, sou superdisponível.

Trabalhei com muitos nível de per feição que te faz perceber que junto com a beleza Me adapto bem, viajo, fico dois dias e volto. E como não
tem o sofrimento para se chegar naquele nível. Quando vejo um conheço as coisas, tenho que aprender, e nesse ponto

arquitetos maravilhosos projeto do Kogan ou do Isay, percebo esse esforço pra se atingir eu talvez me considere um second - hander. M eu jeito
a per feição nas proporções. Es tamos fazendo um projeto com o de aprender é obser vando, conhecendo pessoalmente.

na minha vida, mas considero Isay na Consolação, em São Paulo, e eu vejo quanto trabalho se Claro que hoje a gente consegue ver no celular, tem
teve pra atingir as proporções. Quando falamos sobre o projeto, o Pinteres t, o Ins tagram dos grandes arquitetos, das

um privilégio estar em mais ele jamais menciona es tilo, ele fala da proporção. E agora tem incorp oradoras que a gente a dmira, mas nada igual
o Iaras com o Marcio Kogan, o primeiro projeto dele em Por to a f a ze r u m a v is i t a g ui a d a e m u m e m p re e n dim e n t o

de um projeto com o Marcio Alegre, e é a mesma coisa. Tu admira as proporções e não tem de s s e s. Eu tive a op or tunida de de e s t ar com vários
absolut amente nada que tu tenha que fazer mais do que uma desses arquitetos internacionais, de marcar um café, e

Kogan e o Isay Weinfeld. cur va de 90 graus pra ir de um lugar ao outro. É inacreditável eles me receberam superbem. Todo mundo gosta muito
como tudo encaixa, não tem um quar to que es teja desalinhado do Brasil, é um lugar maravilhoso; eu sou apaixonado

Quando vemos que arquitetura com outro, os corredores, tudo es tá no lugar. É genialidade? pelo nosso país. Não tem um grande arquiteto que não
Sim, m a s e u a c h o q u e t e m um a in c o nf o r mid a d e c o m a n ã o tenha vontade de vir pro Brasil e eu acho curioso que

é tudo, entendemos um pouco perfeição da forma e do resultado. E é isso que vai fazer aquela São Paulo, com tanta riqueza, tanto de tudo, não tenha
famí lia ser mais feliz ali dentro. A arquitetura é um catalisador o desfile arquitetônico que se vê em Nova Iorque, em

como funciona a cabeça deles, de sentimentos e emoções e isso me faz ser apaixonado por ela. Mônaco, em Singapura. Por que não? Tem tudo pra ter.
Outra coisa que eu adoro em Nova Iorque é o valor que a cidade Em Nova Iorque eu fui visitar o 56 Leonard do Herzog

eles são muito autorais.” dá pra arquitetura; tu vê um anúncio de um apar tamento sendo & de M euron; nã o tive a op or tunida de de conhe cê -
vendido e no anúncio diz: “ Vendo um Emer y Roth” (um arquiteto los, mas o projeto é uma coisa espetacular. Ver esses
por quem sou apaixonado), ou “ Vendo um Rosario Candela”. São projetos me faz sonhar, seria maravilhoso ter algo assim
arquitetos que morreram há 70 ou 80 anos e os nomes deles no Brasil. Vou pesquisando, conhecendo e sonhando
vêm antes mesmo de dizer o endereço. “ Vendo um Emer y Roth pra ir subindo a régua, essa é a minha ideia.
na 80 com a Park Avenue”. Começa o anúncio reverenciando o
arquiteto; lá o cliente diz: “Eu quero morar em um Emer y Roth”.

222 223
LR: Quais são os principais pilares de um empreendimento da LR: A ex pres s ão “alto p a drão” foi us a da em demasia nos LR: Por to Ale gre pare ce finalmente es t ar em um
Kops tein? últimos anos. Na tua vis ão, o que faz um empreendimento m o m e nt o d e evo lu ç ã o. Pr a o n d e t u vê a cid a d e
ser alto padrão hoje? indo?
PK: O sonho de todo incorporador é sair da commodit y, mas o
que é commodit y? Se todo mundo fizer apar tamentos de luxo com PK: É um conjunto de soluções que só se viabilizam em um PK: Eu morei 30 anos na Zona Sul e não acredito
grandes arquitetos, vira commodit y? Então o que eu faço é tentar empreendimento de valor de metro mais caro, pois não se qu e s eja p r a l á, nã o s ei ex a t a m e nt e p r a o n d e a
achar “ água limpa” ou “ água mais limpa” pra gente trabalhar. trata apenas do revestimento, mas das soluções arquitetônicas cidade vai crescer, mas na minha lógica acho o 4º
Nosso foco é o alto padrão, é poder fazer projetos diferenciados e de engenharia. Por exemplo, uma coisa minha nos projetos é Distrito maravilhoso. Enxergo tanto uma revitalização
e ter liberdade arquitetônica e de memorial descritivo. Isso é um não aceitar vaga de estacionamento no térreo. Eu gostaria que do centro — tem que resolver os problemas que
quebra - cabeça e tu acaba tendo que ficar em lugares de escassez nem precisassem de vagas de estacionamento, como em Nova a gente s ab e quais s ã o — quanto do 4º Dis trito.
de ofer ta pra fazer um produto mais esp ecial. O meu foco, e Iorque, mas aqui no Brasil ainda precisa. Então, é um conjunto Vejo gente que trabalha comigo e mora na Zona
eu devo passar ao menos uma ou duas horas por dia nisso, é o de soluções que vão desde a localização especial, o terreno, S ul fic a r 1h3 0 o u 2h n o t r a ns p o r t e p ú b lic o p r a
envolvimento com o terreno. É difícil responder a essa pergunta, a caminhabilidade da região. Eu já deixei de comprar terrenos v i r a o e s c r i t ó r i o e o m e s m o t e m p o p r a v o l t a r,
mas o t er reno é c om c er t ez a um d e s s e s pil are s. O merc a d o por achar que não tinham boa caminhabilidade, mesmo tendo p ois as p e s s o as s e lo comovem na hor a do rus h.
mudou muito, há alguns anos as pessoas queriam morar em um uma boa vista, pois tudo é qualidade de vida. Tem que juntar Se morassem no 4º Dis trito, es tariam a 5 minutos
edifício de um apar tamento por andar e não davam tanta atenção vários pontos, como se fosse uma checklis t: uma localização daqui. Tu consegue criar um modo de vida em que
para as áreas condominiais. Hoje vemos sucessos incríveis de e s p e cial, a p os sibilid a d e d e s e t e r uma p ro gr a ma ç ã o d e as pessoas vão andar de bicicleta ou a pé. Imagina
empreendimentos em lugares não tão óbvios, porque eles têm coisas caminháveis, ter um público com interesse em pagar que coisa maravilhosa tu ter um público de renda
o clube, têm toda uma es trutura pro morador. No nosso caso, por soluções arquitetônicas e de engenharia que vão desde menor que mora no 4º Dis trito, em apar tamentos
buscamos um lugar que tenha exclusividade, em que seja possível cavar um andar de subsolo a mais, que é uma das coisas mais pelo mesmo valor da casa em que moram hoje, mas,
fazer boa arquitetura, ter um memorial diferenciado e em que caras da obra, pra não ter es tacionamento no térreo, pra se ao invés de sair às 5h30 da manhã pra chegar às
eu consiga colocar um bom programa de lazer. Esses critérios ter vãos livres, um memorial de especificação de materiais 8h, ele pode ficar com os filhos, brincar, levar no
tornam o terreno uma equação bastante complicada. É uma busca impor tantes, as esquadrias que no passado eram algo que colégio e sair de casa às 7h45 da manhã.
muito dura e às vezes inglória, pois muitas vezes tu dedica dois me incomodava e hoje subimos muito o padrão das linhas e
anos a um terreno que tem inúmeros problemas de herdeiros, dos fornecedores também. Fazendo um check de todos ou LR: Eu fico impressionado como tem pessoas contra
vizinhos que não se dão bem, ques tões familiares. Por isso, eu quase todos os itens, conseguimos ter um prédio que vai ser a densidade, a liberdade e a diversificação de uso
dedico boa par te do meu tempo resolvendo essa equação. de fato alto padrão. e a ver ticalização da cidade.

224 225
“Sou muito intenso em
“Eu acredito muito no
tudo que faço e, como
urbanismo e quanto mais
tudo na vida, isso tem
densa a cidade, mais ela PK : Po r q u e o G o o g l e t á f a ze n d o um a s e d e gig a n t e
e m N ov a I o rqu e e nã o f a z n o m eio d o n a d a? Pois a s o lado bom e o ruim.”
atrai grandes mentes, pessoas querem es tar lá. Por to Alegre, pra mim, tem um
plano diretor pavoroso, uma cidade baixa que expuls a
e atraindo grandes mentes as pessoas pros arredores e faz com que fiquem horas
no carro, quando na verdade deveríamos ter um plano
ela atrai desenvolvimento.” diretor totalmente flexível, principalmente pra habitação
popular, que seriam as pessoas mais beneficiadas. Quem
for cons truir apar tamentos populares no 4º Dis trito não
deveria ter res trição de índice, pois vai beneficiar muita
gente. É isso que eu acredito nas cidades, felizmente hoje
nós temos um prefeito que pensa assim, exis te um grupo
de pessoas que pensa assim, mas exis te uma oposição na PK: Também teve a questão da disciplina. Durmo muito cedo pra
cidade pra esse tipo de projeto. Parece que querem que poder acordar cedo; quando chego em casa, às 7h da manhã já
as pessoas tenham que ficar horas no trânsito, justamente fiz 2 horas de exercícios, então eu acordo às 4h30 pra poder
quem mais precisaria dessa proximidade. Agora vamos fazer entre 1h30 e 2h de exercício, chegar em casa, dar café da
lanç ar o I ar as na Comenda dor Rheingant z e eu vejo o manhã pras crianças, tomar banho, levá - las pro colégio e chegar
exemplo do bairro Bela Vista, que era um bairro de casas ao escritório às 8h15 da manhã. É uma coisa meio cirúrgica pra
que não tinha nenhum ser viço, depois tudo começou a não deixar ninguém impor tante de fora, especialmente os filhos,
virar prédio e passou a ter restaurantes, mercados, coisas que crescem muito rápido. Olho fotos antigas do David, meu filho
maravilhosas, farmácias, salões de beleza, academias de mais velho, e vejo que virou um gurizão. Esse arrependimento
bairro. O bairro fica autossuficiente e as pessoas podem não vou ter, eu fico muito com eles. Evito compromisso social
andar a pé. em dia de semana em Por to Alegre, não saio pra jantar com os
amigos pra ficar com meus filhos e minha esposa em casa. Tem
LR: Recentemente o espor te transformou a tua vida por que saber dizer não pra conseguir manter as prioridades.
completo.

226 227
K O P S T E I N

229
Nossa paixão pela arquitetura é o que
nos mantém conectados com o motivo de
Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio seguirmos em frente: o bem-estar das pessoas.
Buscamos criar projetos autorais e únicos
Kogan tem décadas de experiência e
que transformam vidas, contam histórias e
reconhecimento internacional como um dos se adaptam aos desejos dos nossos clientes,

maiores arquitetos da atualidade. Nascido inspirando, assim, o prazer de viver bem.

na cidade de São Paulo, dividiu o começo


A nossa trajetória tem início com o sonho de
da carreira entre a arquitetura e sua paixão David Kopstein, fundador da empresa. Como

pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos um visionário, em 1958 expandiu horizontes
até Porto Alegre, para onde levou um novo
filmes na década de 1980. Paixão esta que deu
olhar sobre a arquitetura da cidade.
origem ao seu estilo único: um flerte entre o
Desse ímpeto pela inovação, construímos um
modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico
legado de empreendimentos contemporâneos
de um diretor. O resultado está estampado nas com alto padrão de qualidade, envolvendo o
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam cuidado de profissionais especializados e a
dedicação na busca de fazer sempre o melhor
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal
para os nossos clientes.
e elaborando projetos com extremo cuidado e
atenção aos detalhes e acabamentos. O re s u l t a d o d e s s e e m p e n h o n ã o p o d e r i a
ser outro: somos reconhecidos como uma
referência absoluta no segmento com mais
de 600 mil m² edificados, que dão vida a
uma sólida história marcada pelo trabalho
rigorosamente qualificado.

231
P O R T F Ó L I O

233
“Pra mim o binômio da
empresa é fazer projetos
de alto padrão, sempre ir
melhorando esse padrão
Fundador e mentor do Studio MK27, Marcio
Kogan tem décadas de experiência e
com boa arquitetura, uma
reconhecimento internacional como um dos arquitetura internacional
maiores arquitetos da atualidade. Nascido com a brasilidade dos
na cidade de São Paulo, dividiu o começo grandes arquitetos
da carreira entre a arquitetura e sua paixão
brasileiros, e ao mesmo
pelo cinema, o que o levou a dirigir diversos
tempo ter essa questão
filmes na década de 1980. Paixão esta que deu
origem ao seu estilo único: um flerte entre o da qualidade da execução
modernismo brasileiro e o olhar cinematográfico da obra e do atendimento
de um diretor. O resultado está estampado nas ao cliente. Essa é a
obras que Kogan e o Studio MK27 assinam
motivação da Kopstein.”
pelo mundo, valorizando a simplicidade formal
e elaborando projetos com extremo cuidado e
atenção aos detalhes e acabamentos.

Pedro Kopstein

235
Parreiras 153

Porto Alegre - Brasil

As ideias de icônicos arquitetos


convergiram para dar vida a um
empreendimento que combina design
PROJETO 2020
e brasilidade em uma atmosfera
CONCLUSÃO 2024
de pura sofisticação. O Parreiras
153 é um projeto leve, elegante
e atemporal, criado com elementos
típicos da arquitetura contemporânea
Arquitetura: Studio Ronaldo Rezende
Autores: Raul e Ronaldo Rezende brasileira. Um respiro de naturalidade
Interiores: João Armentano
Paisagismo: Susana Nedel Arquitetura de em meio à vida urbana.
Jardins
Equipe de Projeto: Jarbas Milititsky, Simon
Engenharia, Elétrons Instalações Ltda.

236 237
Varanda

Porto Alegre - Brasil

Isay Weinfeld assina um empreendimento


cercado de bem-estar e emoção por
PROJETO 2019 todos os lados. Um projeto único, que
CONCLUSÃO 2023 expressa o estilo de uma das maiores
referências da arquitetura mundial em
parceria com Sandra Ling, paisagista
renomada que agrega naturalidade
Arquitetura: Isay Weinfeld ao conceito de conforto sofisticado
Autor: Isay Weinfeld
Interiores: Isay Weinfeld do empreendimento.
Paisagismo: Sandra Ling
Equipe de Projeto: Pedro Dias, Alan Chu,
Eduardo Chalabi, Danilo Zamboni, Monica
Cappa, Danilo Hideki, Cristiano Kato, Sophia
Lin, Lucas Jimeno, Carolina Miranda, Nina
Ketelars, Leonardo Borgheresi, Nara Diniz ,
Joara Pereira, Ananda Nunes, Ronaldo
Rezende e Raul Rezende, Estádio 3

238 239
Germano 70

Porto Alegre - Brasil

O ápice do bem viver é estar


em um lugar que valoriza todos
os seus pontos altos: do conforto
PROJETO 2018
ao bem-estar. O Germano 70 é
CONCLUSÃO 2021
a materialização do que há de melhor
em todos os aspectos: a localização
privilegiada, no coração de Porto
Alegre, e o projeto arquitetônico
Arquitetura: Pedro Gabriel e Marcelo Bonini
Autores: Pedro Gabriel e Marcelo Bonini e de interiores contemporâneo
Interiores: Zeca Amaral
Paisagismo: Tellini Vontobel e pautado pelo conforto.
Equipe de Projeto: Elétrons Instalações Ltda.,
Simon Engenharia, Jarbas Milititsky

240 241
Sommet

Porto Alegre - Brasil

Projetado para ser a definição


dos seus sonhos, o Sommet
PROJETO 2015 é um empreendimento referência
CONCLUSÃO 2018 em alto padrão, exclusividade
e sofisticação. O projeto arquitetônico
do empreendimento foi inspirado
na sofisticação dos hotéis de luxo,
Arquitetura: César Ciancio Arquitetura criando uma ambiência de conforto
Autor: César Ciancio
Interiores: Susi Ribeiro e Wagner Maciel e qualidade incomparável.
Paisagismo: Tellini Vontobel
Equipe de Projeto: Elétrons Instalações Ltda.,
Lab Engenharia, Theophilo Mattos Neto

242 243
Apogée

Porto Alegre - Brasil

Um empreendimento onde é possível


encontrar conforto, sofisticação
PROJETO 2012 e bem-estar em cada espaço. O Apogée
CONCLUSÃO 2017 possui diferenciais que transformam
a experiência de viver em espaços
pensados para os encontros mais
especiais da vida, dos momentos alegres
Arquitetura: César Ciancio Arquitetura com amigos aos ambientes relaxantes
Autor: César Ciancio
Coautor: BG Arquitetura para se encontrar consigo mesmo.
Interiores: César Ciancio e BG Arquitetura
Paisagismo: Tellini Vontobel
Equipe de Projeto: Tellini Vontobel, Lab.
Engenharia, Theophilo Mattos Neto,
Álvaro Lemos

244 245
Rua Comendador Rheingantz, 610 - Bela Vista - Porto Alegre

246 247
248

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