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RESUMO
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Doutor em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Minas Gerais, (Brasil).
Docente na Universidade de Save - UNISAVE, Moçambique. E-mail: simialves@gmail.com
ABSTRACT
The strategic management of human resources in the public sector constitutes a contemporary
challenge for the sustainability of government programs. Strategies related to personnel
management reform are recommended by a number of practitioners, researchers, and
specialized international organizations, with the aim of governments adopt them to better
manage their employees as a means of ensuring positive results. The recommendations
propose the use of strategic approaches in human resources management based on the
modernization of their policies, inspired by the New Public Management concepts that
advocate a more efficient administration based on the practices applied by private companies.
However, questions remain about the applicability of these recommendations, as well as how
the strategic management of people, a mechanism designed primarily for private companies,
will be implemented in the public area. The essay was based on a literature and documentary
review and emphasizes the public service context in Mozambique.
INTRODUÇÃO
empreender maior agilidade, elevar a qualidade de intervenção e melhorar o desempenho dos entes
públicos, o setor público tem vindo atualmente a ser pressionado a adotar mudanças estruturais
e organizacionais e a fazer o uso de tecnologias gerencias na área de RH. Tais mudanças são
baseadas em práticas de gestão que enaltecem a elevação dos resultados por meio de
aplicação de padrões e princípios de gestão de pessoas, baseadas no alinhamento das
estratégias organizacionais com o papel que tem sido atribuído à função de RH nas
organizações. O fundamento dessa nova visão aplicada à gestão de pessoas deriva do contexto
empresarial, ao qual também são apontados como desafios da área (ULRICH, 2000), alinhar
as competências humanas às estratégias das atividades da organização, bem como prover a
capacitação dos gestores para que os mesmos atuem nesse processo.
A Administração Pública (AP) ao nível internacional tem realizado ultimamente um
esforço considerável na aproximação dos setores público e privado em termos de utilização de
modelos gerenciais, anunciados como capazes de reduzir a ineficiência, assegurar maior
flexibilidade e ampliar a efetividade das ações empreendidas. Hoje, devido à forte influência
do paradigma da New Public Management (NPM) ou Nova Gestão Pública que assenta nos
padrões e ideais do gerencialismo, procura-se adotar nos organismos públicos, técnicas e
instrumentos de gestão característicos das empresas privadas, dentre os quais a gestão
estratégica de recursos humanos ocupa também um lugar de grande destaque. Porém, existe a
percepção de que o ritmo de evolução das organizações públicas face às organizações
privadas é consideravelmente mais lento.
Quando se fala de gestão estratégica de recursos humanos refere-se à concepção e à
implementação de um conjunto de medidas que se estabelecem como políticas internamente
consistentes, cuja finalidade e garantir que o capital humano de uma determinada organização
contribua para alcançar os objetivos pretendidos (BITENCOURT, 2010; MARRAS, 2001).
As referidas medidas implicam a introdução de práticas diversas e políticas de gestão de RH
que devem operar de forma articulada entre si, assim como a sua integração com a estratégia
global que é seguida pela organização. O pressuposto principal dessa concepção é a
valorização do potencial humano, no sentido de que as pessoas são elemento-chave para o
sucesso das organizações tanto do ramo das públicas quanto do ramo privadas.
Tendo como pano de fundo a realidade descrita anteriormente, a questão da gestão
estratégica de RH assume uma importância cada vez maior nas organizações, sendo
considerada por muitos como um instrumento de grande valor para que elas consigam
alcançar um desempenho e resultados favoráveis. No que diz respeito às organizações
públicas, estas também têm vindo a introduzir práticas encaradas como de gestão estratégica
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na área de RH no seu quotidiano, embora existam várias vozes críticas quanto aos resultados
dos processos desencadeados.
Assim, o objetivo principal deste ensaio é explorar as visões contemporâneas que dão
embasamento ao uso de pressupostos da gestão estratégica nas práticas de administração de
RH e, evidenciar o contexto específico do serviço público moçambicano no que concerne à
adoção desse conjunto de medidas gerenciais. Focaliza-se, quanto à realidade nacional,
especialmente, as reformas administrativas (iniciadas em 2001) prosseguidas nas duas últimas
décadas no setor público em Moçambique, em que as influências do paradigma da NPM são,
por demais, notórias.
Na operacionalização do ensaio argumenta-se sobre se a administração pública em
Moçambique adota práticas de gestão estratégica de RH e assinala-se os marcos institucionais
que indicam as propostas de uso de modelos, instrumentos e sistemas associados à área de RH
e que se enquadram em uma perspectiva de gestão estratégica. A contribuição para a literatura
do campo em que o ensaio se insere, consiste na apresentação dos marcos institucionais que
indicam o desenvolvimento da função de RH e o rumo das transformações sofridas pelo
sistema de gestão de RH públicos num passado recente na realidade da AP moçambicana,
como resultado da reforma administrativa implantada, sob a inspiração de alguns dos
pressupostos do gerencialismo. Nessa ótica, o enfoque adotado no texto mostra-se interessante
dado que permite vincar os princípios e doutrinas do paradigma da NPM que foram
introduzidos no serviço público nacional, assim como compreender quais tem sido as
implicações para o processo e práticas de gestão de pessoal.
O ensaio se baseou em uma abordagem qualitativa, tendo se apoiado essencialmente
em uma revisão bibliográfica sobre materiais que abordam o tema proposto. De salientar que
a revisão efectuada serviu para oferecer o embasamento necessário à exploração da realidade
estudada. Para observar a possibilidade de existência de uma gestão de RH de caráter
estratégico na AP em Moçambique, foram então, observados padrões de estruturação do que
tem-se chamado de gestão estratégica de RH, à luz dos fundamentos teóricos selecionados
para a apresentação do ensaio. Para evidenciar a discussão levantada, se valeu igualmente da
realização de análise de conteúdo aplicada ao conjunto de documentos normativos
(legislação) consultados para o desenvolvimento do tema, que sinalizam quais tem sido as
opções político-institucionais e configuram as práticas adotadas para a gestão de RH no
contexto do serviço público no país.
O entendimento é de que historicamente desde 1975, a organização e o funcionamento
da máquina pública moçambicana teve uma forte influência do modelo de administração
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até a essa altura acerca da gestão das pessoas nas organizações, fortemente influenciada pelo
tradicional pepartamento de pessoal.
As abordagens teóricas referidas se dividem em duas. Uma primeira que recomendava
que a estratégia da empresa deveria determinar o desempenho desejado dos empregados, o
que por sua vez gerava sistemas de RH, como seleção, desempenho, avaliação, recompensas e
desenvolvimento. A segunda, propunha um mapa em que os interesses dos diversos
stakeholders de um lado e os fatores situacionais de outro deveriam gerar as políticas de RH,
cujos produtos gerariam consequências de longo prazo, como o bem-estar dos trabalhadores,
da organização e da sociedade (KAUFMAN, 2014, p. 201).
É precisamente nessa última visão, que os trabalhadores passaram a ser considerados
um recurso crítico e, portanto, deveriam ser envolvidos na gestão e comunicados
constantemente, o que gerou iniciativas de delegação de mais responsabilidade e autoridade e
criação de equipes de trabalho. Essa compreensão representou uma abordagem de transição
do RH que busca superar a tradicional visão de departamento de pessoal, que se caracteriza
por realizar as atividades operacionais burocráticas da organização (ALMEIDA; TEXEIRA e
MARTINELLI, 1993). Contudo, como enfatizado por diversos autores, o grande desafio
contemporâneo que se coloca ainda à gestão de RH é conseguir integrar as pessoas com as
políticas e objetivos da organização. Ou seja, o objetivo passa pelo alinhamento entre a gestão
de RH e a estratégia das organizações, ou seja, desenvolver uma gestão estratégica de
recursos humanos.
O entendimento que se tem é de que durante grande parte de sua história, a gestão de
RH ficou focada quase que exclusivamente nos aspetos administrativos da gestão dos
trabalhadores. O fator estratégico no contexto da gestão de RH surgiu nos anos mais recentes,
precisamente na década de 1990 porque se percebeu que uma organização gerida
estrategicamente pode desfrutar de vantagens competitivas de longo prazo (FISCHER, 1998).
O pressuposto fundamental que sustenta essa argumentação é que o conjunto das práticas de
RH pode influenciar o desempenho organizacional (ULRICH, 2000).
Essa mudança de paradigma, permitiu que durante essa década, a gestão de RH
entrasse numa nova era, passando a ser designada por muitos teóricos do campo como Gestão
Estratégica de Recursos Humanos (GERH). Essa nova designação representou o
reconhecimento do valor acrescentado que a função de RH desempenhava nas organizações e
a sua importância estratégica, capaz de alcançar a vantagem competitiva desejada. Ou seja,
como consideram Allen e Wright (2007, p. 93-95) de acordo com essa perspectiva os
competitivas e por esse facto, os recursos humanos das organizações podem tornar-se num
importante fonte de vantagem competitiva sustentada.
Um sistema de gestão de recursos humanos desenvolvido apropriadamente representa
um ativo invisível como assinalado por Ulrich (2000. p. 79), que cria valor quando inserido
no sistema operacional da organização, tornando-se difícil de imitar pelos concorrentes. Já
Allen e Wright, (2007) são incisivos ao argumentar que a dimensão estratégica da gestão de
recursos humanos começou a despertar um tratamento específico entre os investigadores,
essencialmente devido á confluência de duas mudanças básicas na literatura: primeiro, a
mudança na abordagem da gestão de pessoal para o conceito mais moderno de recursos
humanos; segundo, devido à reorientação dos modelos de gestão estratégica focados nos
aspetos internos da organização.
Sobre o fundamento desse modelo de gestão (ALLEN e WRIGHT, 2007; ULRICH,
2000), explicitam que a gestão estratégica de recursos humanos foi buscar as suas origens à
teoria organizacional baseada na visão dos recursos (Resource Based View). Para eles, a
perspectiva baseada nos recursos da empresa é uma área de grande influência para a gestão
estratégica de recursos humanos. A aceitação crescente dos recursos internos como fontes de
vantagens competitivas, trouxe legitimidade ao facto de as pessoas serem estrategicamente
importantes para o sucesso organizacional.
A perspectiva baseada nos recursos segundo essa compreensão enfatiza o modo como
as empresas olham para dentro de si mesmas, para os recursos que não só criam valor, mas
também são raros e difíceis de imitar e que conduzem à obtenção de vantagens competitivas.
A teoria baseada nos recursos da empresa aponta dois fatores chave que explicam a
dificuldade de imitar as estratégias de recursos humanos profundamente embebidas na
organização.
Primeiro, é difícil compreender os precisos mecanismos de interação entre as práticas
e as políticas de recursos humanos que geram valor. Para imitarem um sistema complexo é
necessário compreender a forma como os elementos interagem. As empresas concorrentes até
podem contratar os gestores de topo das empresas cujos sistemas pretendem copiar, que a
tarefa se mantém difícil, pois a compreensão do sistema traduz-se na capacidade
organizacional disseminada por muitos e não apenas por algumas pessoas.
Segundo o sistema de recursos humanos e as políticas são interdependentes,
desenvolvendo-se ao longo do tempo, não podendo ser adquiridas isoladamente pelos
concorrentes. Ao fazerem referência a este fato, Cunha e Gomes (2003) afirmam estar a
origem da gestão estratégica de recursos humanos associada a fatores diversos e destacam os
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de natureza teórica e os pragmáticos. No primeiro caso, eles referem que estão incluídos os
modelos organizacionais da organização baseados nos recursos, em que a dinâmica e a
complexidade criada pelos trabalhadores ao longo do tempo, tornam-se difíceis senão mesmos
impossíveis de imitar pela concorrência.
No que se refere aos fatores pragmáticos os autores explicam que nesses surgem os
processos de descentralização da tomada de decisão e a orientação para as competências
chave. É seguindo esse entendimento que Cunha e Gomes (2003) referem que os últimos anos
foram prodígios em produzir uma série de práticas de gestão destinadas, por um lado, a
atribuir cada vez mais tarefas e responsabilidades aos indivíduos colocados na base da
organização e por outro lado, a concentrar os esforços da organização nas competências em
que é realmente especialista, libertando-se das competências periféricas. Eles salientam além
disso, que os autores que, nos processos de descentralização da tomada de decisão, existe uma
maior implicação e motivação dos trabalhadores na medida em que são chamados a participar
em algumas das decisões. No entanto, os programas de empowerment podem significar que a
gestão de recursos humanos se veja destituída de algumas das suas responsabilidades
A esse respeito vários autores referem que os RH devem assumir um novo papel
dentro das organizações, cujo centro não está nas tradicionais atividades tais como o apoio
administrativo, a contratação ou as remunerações, mas sim em proporcionar soluções que
enriqueçam o valor da empresa perante os clientes, os investidores e os próprios
trabalhadores. Sobre isso Ulrich (2000) argumenta ainda que na maior parte das empresas, os
RH são essencialmente os “polícias” das políticas e dos regulamentos, tratam da papelada
envolvida na contratação/despedimento, gerem a burocracia dos benefícios e administram as
recompensas. Mesmo que a gestão de topo dê mais importância a determinadas áreas como
por exemplo o recrutamento e a formação, continua a sentir-se que as suas atividades estão
desligadas do real trabalho da organização.
Essa nova agenda proposta por Ulrich (2000) refere especificamente que os Recursos
Humanos podem ajudar a criar valor organizacional se seguirem quatro vias: i) devem tornar-
se parceiros da gestão de topo e dos gestores de linha na execução da estratégia. Não devem
ser os RH a definir a estratégia, mas sim a equipa de executivos da qual os RH são membros;
ii) devem tornar-se peritos no modo como o trabalho é organizado e executado, garantindo a
eficiência administrativa, reduzindo os custos e garantindo a qualidade; iii) eles devem ser os
defensores dos trabalhadores, representando vigorosamente as suas preocupações à gestão de
topo e ao mesmo tempo garantir a sua contribuição e empenhamento para com a organização
e; iv) os RH devem ser agentes de mudança continua.
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Posto isso, na seção a seguir faz-se uma apresentação sobre as concepções da gestão
estratégica embasadas nos pressupostos da NGP, que buscaram incorporar algumas das ideias
desenvolvidas no campo empresarial e transferidas para à administração pública.
se organização mais flexível, orientada para resultados, focalizada no interesse dos utentes, e
transparente, porque aberta à prestação de contas e controle social.
Pode-se perceber, que a ideia é o abandono do modelo tradicional de gestão de RH
assente no sistema de carreira baseado em regras e regulamentos, num contexto específico da
gestão dos RH, inspirado na NPM, a qual visa reformar os regimes de emprego público
baseados na nomeação, procurando a sua aproximação a um sistema de gestão do emprego
vigente no sector privado que tem por base quatro pilares fulcrais: contratação,
competitividade, resultados e desempenho. Em relação às práticas de gestão de RH
consideradas inovadoras que têm sido aplicadas destacam-se a remuneração por habilidades,
avaliações de desempenho tipo 360 graus, formação de equipes e gestão por competências
encaradas como de condão estratégico (WORLAND e MANNING, 2005).
A lógica passou a ser conduzida por uma preocupação central que se resume na
definição de objetivos cujo cumprimento dependia da sua prossecução. As consequências
dessa concepção não podiam deixar de se refletir no corpo de funcionários da AP. É o próprio
modelo de recrutamento e, sobretudo de planeamento das carreiras que foi colocado em crise,
uma vez que se apresenta como desadequado e inapto a cumprir os objetivos gizados pela
NPM.
Nesses termos, enfatiza-se uma GERH que está ancorada na adaptação de técnicas,
instrumentos e métodos oriundos do setor privado empresarial ao setor público que se
fundamentam na lógica de mercado, supondo-se esses mecanismos permitirão flexibilidade e
uma melhor gestão dos RH, mais profissional, mais eficiente e mais sensível às condições e
mudanças externas e, sobretudo, focada na eficiência e eficácia das organizações da AP
(WORLAND e MANNING, 2005).
No seguimento e aplicação dessas propostas de realinhamento das estruturas da AP, a
área de RH nas organizações públicas tem adquirido uma grande valorização (LAVELLE,
2006) se posicionando como fulcral para o desempenho organizacional, ou seja, a área de RH
tem ganhado um estilo de gestão gerencial que promove o alcance dos objetivos e metas
propostos nas agendas governamentais com maior eficácia. Pode-se dizer que a orientação
gerencial referida se configura numa das iniciativas administrativas de impacto significativo
que conduz à modernização da componente de RH ao nível da AP com a finalidade de que
esta última venha a cumprir o seu papel perante a sociedade com maior eficácia. Em outras
palavras, a chamada modernização administrativa implica a rejeição das formas tradicionais
da gestão pública e da organização do trabalho, uma vez que o seu enfoque é na promoção de
práticas gerenciais trabalho consideradas mais flexíveis, bem como a introdução de modernas
técnicas de gestão do pessoal.
Evidências sobre a adoção dessas práticas podem ser encontradas em trabalhos de
vários autores (LAVELLE, 2006; YEGANEH e SU, 2008; VERMA e DEWE, 2008; CHOW,
2004; KOGA, 2007; MOTHERSELL et al., 2008), que relatam respectivamente as
experiências de análise de múltiplos casos de reformas que estão voltadas à implantação das
ideias da NPM, assim como discussões que envolvem práticas adotadas em países como o
Irão, Inglaterra, Hong-Kong, Japão e EUA.
No caso do trabalho realizado por Lavelle (2006, p. 218), que analisou o Relatório
Mundial do Setor Público de 2005, ele observou que os exemplos mais conhecidos dessa nova
gestão pública podem ser encontrados em países como a Austrália, Nova Zelândia e Reino
Unido. O autor menciona que na Irlanda e na Nova Zelândia, a questão da antiguidade no
cargo já não é mais considerada como único fator de progressão ou promoção para níveis
mais altos, enquanto na África do Sul, existe uma grande dificuldade na retenção de talentos,
devido à crescente competitividade no setor privado, que oferece melhores oportunidades de
carreira.
Em sua discussão, Yeganeh e Su (2008) que investigaram a situação do Irão, asinalam
que as organizações públicas são mais preocupadas com temas relacionados à gestão de
Recursos Humanos do que a maioria das pequenas e médias empresas, que caracterizam pela
gestão familiar e que não dependem de políticas formais de Recursos Humanos para sua
gestão, e apesar disso, a GRH no setor público iraniano ainda está na fase de gestão de pessoal
e pouca atenção é dada à eficiência organizacional.
Discorrendo sobre a realidade bitânica, Verma e Dewe (2008, p. 105) explicam que o
Governo Britânico vem mostrando interesse na valorização dos Recursos Humanos, e
apresentam como evidencia de sua afirmação, que 2003 o Departamento de Comércio e
Indústria criou a Contabilização de Pessoas para influenciar as organizações públicas a
apresentarem um relatório sobre o desempenho da área em quatro dimensões: a dimensão e a
composição da força de trabalho; emprego de práticas de motivação, formação e
desenvolvimento de pessoal; e remuneração. Segundo os autores, o governo inglês acredita
que a competência e o empenho dos trabalhadores são importantes para a criação de valor
para as organizações.
Já Chow (2004, p. 629) destaca que as constantes reformas das organizações públicas
em Hong Kong levaram à flexibilidade e à adoção de algumas das melhores práticas de RH de
organizações ocidentais, devido à grande concentração de multinacionais no país, o que
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recomendações que são apregoadas pelo modelo da NPM. Pode-se dizer, particularmente no
que se refere à área de RH, como adiante é destacado que e o fator humano como um
pressuposto para a excelência organizacional e introdução de melhoria na prestação dos
serviços públicos é ainda uma questão retratada apenas nos dispositivos legais, havendo muito
poucos casos que indicam uma efectiva aplicação prática do modelo de gestão de RH baseada
nos pressupostos do gerencialismo.
dos resultados. A flexibilidade seria promovida como um fator de melhoria dos serviços por
meio da criação dos Balcões de Atendimento Único (BAÙ). A formação profissional pela
efetivação de reformas no Sistema de Formação em Administração Pública – SIFAP
instituído em 1994, concretizadas pela criação do Instituto de Formação em Administração
Pública e Autárquica – IFAPA em 2001, assim como pelo Instituto Superior de
Administração Pública – ISAP em 2004 (AWORTWI, 2010). Eles foram encarados como
meio de desenvolvimento de uma gestão profissional, não no sentido da gestão dos
profissionais, mas na profissionalização da gestão. No que se refere à melhoria dos resultados,
a reforma vincou a importância de se considerar os RH sob a perspectiva estratégica, no
intuito de articular as aptidões e qualificações individuais e grupais com os objetivos e metas
organizacionais do setor público, promovendo-se a valorização do potencial dos RH com
vistas a elevar a qualidade de sua prestação e geração de resultados estratégicos das ações
públicas.
Nesse contexto, a partir da década de dois mil passa-se de concepções baseadas numa
vertente mais técnica da intervenção da administração de pessoal para uma vertente que
atribui um papel estratégico à gestão de RH na AP, para a materialização dos programas e
projetos governamentais. Feijó (2009) também corrobora esse entendimento, referindo que
nessa época, em Moçambique a função pessoal adquiriu novo estatuto deixando de limitar-se
ao tratamento jurídico-administrativo do processamento de salários, ficheiros de pessoal e
cumprimento tanto quanto possível de diplomas legais e convenções laborais, para então
seguir de certo modo as ideias e proposições de práticas que advogam o alcance de
desempenhos superiores através das pessoas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como já foi referido, há aspectos da gestão que inibem ainda uma cultura de medição
da performance organizacional orientada para os resultados, partindo-se de baixo para cima,
com a avaliação do desempenho dos funcionários, tendo por base os resultados decorrentes
dos objetivos que são definidos em cada período (geralmente um ano) e as competências
previamente estabelecidas (entende-se que as competências requeridas aos funcionários
públicos não estão alinhadas às estratégias das organizações públicas nacionais), o que não
tem favorecido a avaliação criteriosa, realística e oportuna não só dos dirigentes superiores e
intermédios, mas também dos demais funcionários mediante a aferição dos resultados obtidos
em matéria de eficácia, eficiência e qualidade, bem como das capacidades de gestão
evidenciadas, até chegar à avaliação dos serviços.
Salienta-se esse entendimento é possibilitado pela leitura crítica das principais
directrizes que informam a tendência de aplicação dos pressupostos gerencialistas na AP
nacional. Mas, é preciso reforçar sobre as críticas apresentadas não existem ainda estudos
aprofundados que se ocuparam tanto da avaliação de grande parte dos pressupostos da NPM
no contexto moçambicano quanto da avaliação sobre os resultados e impacto da utilização da
gestão de pessoas como uma questão fundamentalmente estratégica. Estudos futuros são
necessários para descortinar se existe uma gestão estratégica de RH nas organizações e sua
relação com os resultados das ações públicas e o contributo da gestão por objetivos no
desempenho do setor público.
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