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PARTE I
NORMALIDADE
ELETROCARDIOGRÁFICA
CAPÍTULO 1 E L E T R O C A R D I O G R A F I A E M A D U LT O S
CONCEITOS
FUNDAMENTAIS
SEGMENTO SEGMENTO
P-R S-T
T
P
J U
P T
INTERVALO
Q INTERVALO
P-R S-T
S
QRS INTERVALO
Q-T
! Figura 1.1
Ondas, intervalos e segmentos do ECG.
--
-
-
--
--
todas as diferenças de potencial de um circuito
--
--
--
fechado. Se Einthoven tivesse revertido a pola-
--
--
--
ridade da derivação II, passando-a para braço
--
--
--
D – perna E, os três eixos das derivações bipo- - -
--
--
-+
lares resultariam em um circuito fechado e I +
+
+0 +0
+
II
II + III seria igual a zero. Entretanto, como
III
- -
+
+
+
Einthoven fez a alteração na polaridade no eixo
+ +
+
+
+
da derivação II, a equação tornou-se:
+
+
+
I – II + III = O ou seja, II = I + III
aVR aVL
II III
-150º + + -30º
+ +
PE
! Figura 1.5
Triângulo de Einthoven. Note as posições convencio-
nadas dos pólos positivos de cada derivação.
+
aVF e os deslocarmos para o centro, paralelamente
+90º às suas posições primitivas, como na Figura 1.7,
! Figura 1.4 obteremos também uma figura triaxial.
Nas derivações unipolares periféricas (aVR, aVL e Se acoplarmos a esses três eixos os três eixos
aVF), somente um pólo, o positivo, está conectado a de aVR, aVL e aVF, formaremos um sistema
cada extremidade (braço D, braço E, perna E).O pólo hexaxial com suas respectivas polaridades e an-
negativo está conectado à central terminal, de poten- gulações, como podemos ver na seqüência A,
cial, aproximadamente, zero. A união das extremidades B, C, D da Figura 1.8.
ao centro forma uma figura triaxial. Na Figura 1.9, reproduzimos o sistema he-
xaxial para que de observem as relações de an-
gulação entre as seis derivações e suas respecti-
TRIÂNGULO DE EINTHOVEN E vas polaridades.
SISTEMA HEXAXIAL Veja que:
Por convenção de Einthoven, o pólo negativo z a derivação I é perpendicular à aVF;
do galvanômetro está ligado ao braço D, e o pólo z a derivação II é perpendicular à aVL;
positivo, ligado ao braço E, para formar a deriva- z a derivação III é perpendicular à aVR.
ção I; o pólo negativo do galvanômetro está li-
gado ao braço D, e o pólo positivo está ligado à Note, também, os pólos positivos das seis de-
perna E, para formar a derivação II; o pólo ne- rivações e seus campos eletropositivos (setas
gativo do galvanômetro está ligado ao braço E, cheias) e eletronegativos (linhas de derivação
e o polo positivo, à perna E, para formar a deri- intersectadas). Os ângulos entre as linhas de
vação III (observe, novamente, a Figura 1.3). derivação são de 30º. Todas as seis derivações
A união das extremidades do braço D, do braço estão situadas no plano vertical, que é visto de
E e da perna E forma um triângulo equilátero de- frente, por isso, chamado de plano frontal. Nes-
nominado Triângulo de Einthoven (Figura 1.5). sas linhas de derivação, projetam-se os vetores
Como visto acima, no sistema de Wilson cardíacos, resultado da atividade elétrica do co-
(aVR, aVL, aVF), o pólo positivo de aVR está ração. A projeção de um vetor no plano frontal
no braço D, o pólo positivo de aVL, no braço E, dará origem a seis projeções diferentes, uma
e o pólo positivo de aVF, na perna E, respectiva- sobre cada linha de derivação. Assim, o registro
mente a –150o, –30o e +90o (veja a Figura 1.4). das seis derivações do plano frontal (I, II, III,
A união das extremidades dessas derivações ao aVR, aVL, aVF) estuda apenas a projeção de um
centro forma uma figura triaxial. Se usarmos mesmo e único fenômeno elétrico. Daí a possi-
os lados do Triângulo de Einthoven (Figura 1.6) bilidade de calcularmos, pelas projeções obti-
Eletrocardiografia em adultos 25
A I
II III
II III
B II III
! Figura 1.6 I +
Derivações I, II e III.
+ +
I
+
C R L
+ +
II III
+
F
! Figura 1.7
D
o
–90
o
Deslocamento das linhas de derivação para o centro, –120
o
–60
F
formando um sistema de três eixos. II III
o
–150
o
–30
R -
–90o
ser representada por uma seta. Como as forças
–120o –60o elétricas têm magnitude e direção, elas são
aVF
II (–) III quantidades vetoriais e podem ser representa-
(–) (–) das por setas. Na representação vetorial, o com-
–150o –30o
aVR aVL primento da seta indica a magnitude da força
(+) (+) elétrica, e a “cabeça”, ou “farpa” da seta, indica
I I
a polaridade da mesma.
±180o 0o
(–) (+) Por convenção, a “cabeça” da seta indica po-
sitividade elétrica. Quando a “cabeça” de um vetor
aVL aVR
(–) (–) se dirige para um determinado eletrodo (por exten-
o o
+150 III II +30 são, a uma determinada derivação), inscrever-se-á na
(+) (+)
aVF derivação uma deflexão positiva. Na derivação que
(+)
+120o +60o corresponder à cauda do vetor, inscrever-se-á uma de-
o
+90 flexão negativa.
Quando um vetor, representando uma força
! Figura 1.9
elétrica, se dirige perpendicularmente ao eixo
Sistema hexaxial de derivações periféricas do plano
frontal: três bipolares (I, II e III) e três unipolares de uma derivação, inscrever-se-á menor (ou ne-
(aVR, aVL e aVF). nhuma) deflexão em tal derivação no ECG. Por
outro lado, se o vetor se dirige paralelamente
ao eixo de uma derivação, increver-se-á maior
deflexão em tal derivação no ECG.
aVR aVL Observe em conjunto as Figuras 1.11 e 1.12,
-I+
as quais servem para ilustrar as projeções dos
vetores perpendicular e paralelamente às linhas
de derivação, exemplificando a projeção sobre
a derivação I.
+I
SOMBRAS
CILINDROS
FOCOS DE LUZ
! Figura 1.11
À esquerda, a pequena projeção da sombra do cilindro perpendicularmente à tela e, à direita, a sombra maior da
projeção do cilindro paralelamente à tela.
A - + DERIVAÇÃO I
Resposta:
Buscamos a derivação onde o complexo
QRS está mais isodifásico (deflexões positi-
va e negativa de mesmas amplitudes, ou o
mais iguais possível). Vemos que está em
B - +
DERIVAÇÃO I I. Logo, se QRS está isodifásico em I, seu
eixo estará perpendicular a essa derivação.
Assim, tal eixo poderia estar a –90o ou a
- +
+90o. Porém, como o QRS está positivo
C DERIVAÇÃO I
(maior deflexão para cima da linha de base)
! Figura 1.12 em aVF, sendo o campo de aVF positivo a
Em A, o vetor se dirige perpendicularmente ao eixo da +90o, o eixo elétrico do complexo QRS esta-
derivação I, e nenhuma deflexão é inscrita; em B, o rá a +90o.
vetor representativo das forças elétricas está em uma
posição intermediária entre A e C, inscrevendo deflexão 2| Observemos a série de cinco ECGs A, B, C,
positiva no ECG; em C, o vetor é paralelo ao eixo da D, E, da Figura 1.14, e entendamos as res-
derivação, inscrevendo uma deflexão ainda mais po- pectivas posições dos eixos dos complexos
sitiva no ECG.
QRS, ou seja, em A +60o, em B –30o, em C
–70o, em D +135o e em E –135o. Para facili-
tar, reproduzimos, novamente, o sistema
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO hexaxial, Figura 1.15.
1| Observe as deflexões de um ECG, Figura
1.13, nas derivações I, II, III, aVR, aVL e Resposta:
aVF, à direita, e explique por que o eixo do Tomemos como exemplo o entendimento
complexo QRS, seta grossa do sistema he- do traçado C. A derivação aVR tem o com-
xaxial, está a +90o. plexo QRS mais isodifásico de todos, logo,
28 Parte I Normalidade eletrocardiográfica
aVF I aVR
II III
aVR aVL
+ +
I + II aVL
+ +
III aVF
+
! Figura 1.13
o eixo de QRS deverá estar perpendicular à mesmo raciocínio para os demais traçados.
aVR, ou seja, a –60o ou +120o. Porém, ob- Uma boa norma é começar enquadrando a
servando o QRS em I e aVF, notamos que o posição do eixo de QRS em um dos diversos
seu eixo está no quadrante superior esquer- quadrantes por meio da morfologia do com-
do (já que + em I e – em aVF), logo, tal plexo QRS em I e aVF, como ilustrado na
eixo estará a –60o e não a +120o. Entretan- Figura 1.16.
to, buscando maior precisão, veremos que
o QRS é um pouco mais positivo do que 3| Observemos a Figura 1.17. Vemos à esquer-
negativo em aVR, o que faz trazer o eixo de da um eixo de QRS, posicionado entre +45o
QRS um pouco mais para o lado do pólo e +55o, correspondente ao ECG que está à
positivo de aVR, caindo em –70o. Usar o direita. Porém, nenhum dos complexos
1 2 3 R L F
A +60o
B –30o
C –70o
D +135o
E –135
o
–90o I I
o o
–120 –60
aVF
II (-) III
(-) (-)
–150o –30o a
d F
aVR aVL F
(+) (+)
I I
±180o 0o
(-) (+)
aVL aVR
(-) (-)
+150 o
III II +30o I
(+) (+)
aVF
(+)
o
+120o +60
I
+90 o
I
! Figura 1.15
Sistema hexaxial. F
F
c b F
QRS é isodifásico, o que nos impossibilita
encontrar uma derivação à qual o eixo elé-
trico do QRS seja perpendicular. Como
comprovar que o eixo elétrico de QRS está ! Figura 1.16
mesmo entre +45o e +55o?
aVF
II III
I aVR
aVR aVL
+ +
I + II aVL
30o
III aVF
+ +
+ 60o
! Figura 1.17
30 Parte I Normalidade eletrocardiográfica
–90o
–120o –60o
o
–150 –30o
(aVR) (aVL)
D1 aVR
0o
±180o (I)
+150o +30o
+120o +60o
(III) +90o (II)
(aVL)
D2 aVL
D3 aVF
! Figura 1.18
Eletrocardiografia em adultos 31
o
–90
–120o –60
o
o
–150 –30º
D1 aVR (aVR) (aVL)
o 0o
±180 (I)
+150
o
+30o
+120o +60o
(III) +90o (II)
D2 aVL (aVL)
D3 aVF
! Figura 1.19
–6 o
0
de QRS para a esquerda além dos –90o, é
–1
denominado quadrante dos eixos inde-
20
o
terminados.
Observe, na Figura 1.21, em A, o quadran-
te dos eixos normais (EN), entre 0o e +90o;
2
em B, o quadrante dos eixos desviados pa- 3 1 o
0
- +I
ra a esquerda (DE), entre 0o e –90o; em C o
±180 4 6
5
o quadrante dos eixos desviados para a
direita (DD), entre +90 e +180o e, em D,
o quadrante dos eixos indeterminados,
entre +180o e +270o.
20 o
+6
+1
0
o
z A magnitude da força elétrica do eixo mé-
+ +
dio de QRS pode ser medida usando o sis- III II
tema triaxial com os eixos centralizados
de I, II e III a partir do triângulo de Ein- ! Figura 1.22
thoven, como vimos anteriormente.
Tomamos os três eixos, façamo-los pas-
sar pelo centro elétrico do coração e os di-
vidimos, arbitrariamente, em porções DERIVAÇÃO I
iguais de milímetros, como na Figura 1.22. R1
Note-se, obteremos seis ângulos de 60o ca-
da. A seguir, observemos os complexos
QRS das derivações I e III do ECG obtido
na Figura 1.23. Na derivação I, a soma de
+4 mm
R1 e S1 é igual a +2,5 mm, isto é, +4 mm
com –1,5 mm. Marcamos esses +2,5 mm
no eixo positivo de I, como vemos na Figu-
ra 1.24. A mesma coisa fazemos com o
–1,5
S1
DERIVAÇÃO III
–90, +270o
R3
DE
D B +4,1
o
±180
0º
C A
–2,0
DD EN
Q3
+90o
0 +2,5
! –0
,1
+2
º
20
+58º
+1
II
III
! Figura 1.24