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GÁS NATURAL NO CENÁRIO MOÇAMBICANO

Aurélio Sozinho Puhereque Mevua1

Carmildo António Tarua2

Estefánia Magalhães3

Salimo Gulbano4

Sandra Abudo Começar5

RESUMO

O presente trabalho subordinado ao tema gás natural no cenário moçambicano, tem como objectivo primordial
perceber qual é a importância das descobertas de gás natural em Moçambique em termos de impacto económico
e social, bem como analisar o gás natural enquanto instrumento de desenvolvimento, fazendo no entanto um
estudo minucioso de forma sintética sobre o processo de pesquisa de hidrocarbonetos e da utilização do gás
natural no nosso ordenamento jurídico moçambicano, sem se esquecer de fazer menção do seu instituto
regulador.

Beneficiando de uma localização estratégica, o nosso país é considerado como sendo uma plataforma de entrada
nos mercados dos países da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral). Moçambique
dispõe de abundantes recursos naturais, entre os quais se destacam o potencial hidroeléctrico, reservas de gás
natural, carvão e minerais (ouro, pedras preciosas, titânio e bauxite, entre outros).

Gás é um dos principais recursos naturais que impulsionam a economia moçambicana. O gás encontra-se
principalmente na Bacia do Rovuma no norte do país na província de Cabo Delgado e no sul na província de
Inhambane. Perante este cenário, as descobertas de gás natural na Bacia do Rovuma, em Moçambique, poderão
tornar este país o terceiro maior exportador mundial de Gás Natural Liquefeito e dada à sua localização. Nesta
ordem de ideia, o nosso estudo se prende pelo facto de existir aqui a necessidade de analisar a forma como
Moçambique se pode tornar um player importante nos próximos anos.

Palavra-Chave: Gás natural; gás em Moçambique; Instituto Nacional de Petróleo.

ABSTRACT:

The present work, on the subject of Natural Gas in the Mozambican scenario, has as its main objective to
understand the importance of the discoveries of natural gas in Mozambique in terms of economic and social
impact, as well as to analyze natural gas as a development instrument, making however a detailed, synthetic
study of the hydrocarbon research process and the use of natural gas in our Mozambican legal system, without
forgetting to mention its regulatory institute.

1
Estudante da UCM-FADIR Nampula, Curso de Direito, 3º Ano, Pós Laboral, 2022
2
Estudante da UCM-FADIR Nampula, Curso de Direito, 3º Ano, Pós Laboral, 2022
3
Estudante da UCM-FADIR Nampula, Curso de Direito, 3º Ano, Pós Laboral, 2022
4
Estudante da UCM-FADIR Nampula, Curso de Direito, 3º Ano, Pós Laboral, 2022
5
Estudante da UCM-FADIR Nampula, Curso de Direito, 3º Ano, Pós Laboral, 2022
1
Benefiting from a strategic location, our country is considered to be a gateway to the markets of SADC
(Southern African Development Community) countries. Mozambique has abundant natural resources, including
hydroelectric potential, reserves of natural gas, coal and minerals (gold, precious stones, titanium and bauxite,
among others).

Gas is one of the main natural resources that drive the Mozambican economy. The gas is mainly found in the
Rovuma Basin in the north of the country in Cabo Delgado province and in the south in Inhambane province.
Given this scenario, the discoveries of natural gas in the Rovuma Basin, in Mozambique, could make this
country the third largest exporter of Liquefied Natural Gas in the world, given its location. In this sense, our
study is linked to the fact that there is a need to analyze how Mozambique can become an important player in the
coming years.

KEYWORD: Natural gas; gas in Mozambique; National Petroleum Institute

SUMÁRIO: Introdução, 1. Gás natural no cenário moçambicano, 1.1


Noções básicas, 1.2 A descoberta do gás natural em Moçambique, 1.3 Zonas de
extracção do gás natural em Moçambique, 1.4 Política de sustentabilidade para
a exploração do gás natural em Moçambique, 1.5 Impacto ambiental face a
exploração do gás natural em Moçambique, 1.6 Fases de exploração do gás
natural em Moçambique, 1.6.1 Upstream, 1.6.2 Midstream, 1.6.3 Downstream,
1.7 Importância do gás natural para a economia de Moçambique, 1.8 Aspectos
económicos, político e cultural do gás natural em Moçambique, 1.8.1 Aspectos
económico, 1.8.2 Dimensão política, 1.8.3 Aspecto sócio-cultural, 1.9
Aplicação do gás natural em Moçambique, 1.10 Enquadramento legal sobre a
exploração do gás natural no ordenamento jurídico Moçambicano,
Considerações finais, Referência bibliográfica.

INTRODUÇÃO

O processo de formação de gás natural é constante na natureza. Entretanto, devido aos actuais
padrões de movimentação da crosta terrestre, que estão mais lentos, a velocidade de criação
do gás natural tem caído vertiginosamente, dificultando a renovação das reservas. Por isso,
classifica-se o gás natural como um recurso não renovável.

O gás natural, dessa forma, tem sido um dos recursos naturais mais utilizados como fonte de
energia para o desenvolvimento económico. Ele tem contribuído para a segurança energética e
produção de riquezas dos países, além de possuir diversas possibilidades de uso e vantagens
relacionadas.

Moçambique é considerado um dos países do continente africano com um grande crescimento


ao longo das duas últimas décadas na indústria extractiva e mineira. A descoberta de gás
natural em Moçambique, em particular no norte de Moçambique, mais precisamente na Bacia
do Rovuma, revelou-se uma das descobertas mais importantes do mundo nas últimas décadas.

2
A exploração de gás natural em Moçambique está em curso há alguns anos. Contudo, foi com
a descoberta das reservas na Bacia do Rovuma que o potencial de transformação do sector e
da estrutura da economia moçambicana foi despoletado.

1. GÁS NATURAL NO CENÁRIO MOÇAMBICANO

1.1 Noções básicas

O gás natural é conhecido pelo homem desde a Antiguidade, principalmente em lugares onde
ele era expelido naturalmente para a superfície. Sua descoberta é datada entre 6000 e 2000 a.
C., no actual território do Irã.6

O Gás Natural é o combustível fóssil mais limpo e eficiente. É produzido tanto em associação
com o petróleo (gás associado) como de forma independente (gás não-associado). Comparado
ao petróleo, o consumo comercial de Gás Natural é um fenómeno ainda recente.7

O gás natural é um combustível fóssil, não renovável e comparadamente mais limpo do que
outros do seu tipo, emitindo poucos resíduos após sua queima. Ele pode ser encontrado em
reservatórios no subsolo dos continentes (onshore) e oceanos (offshore), cuja composição é
uma mistura de hidrocarbonetos leves, principalmente o metano.8

Define-se o gás natural como a parte do petróleo que se encontra em forma de gás ou em
solução nas condições de temperatura e pressão dos reservatórios, mas que em condições
atmosféricas apresenta-se no estado gasoso.

1.2 A descoberta do gás natural em Moçambique

A pesquisa de hidrocarbonetos (petróleo e gás) em Moçambique começou em 1904, quando


os primeiros exploradores descobriram em Moçambique bacias sedimentares espessas em
terra. A fraca tecnologia e a falta de fundos impediram tentativas de pesquisa anteriores.9

6
LYRA, Mariana, Recursos Naturais: Gás Natural, in Revista Política Hoje, 1ª Edição, volume 23, p. 151
7
FGV ENRGIA, Gás natural, Cadernos, Rio de Janeiro, 2014, p. 15
8
LYRA, Mariana, Recursos Naturais: Gás Natural, in Revista Política Hoje, 1ª Edição, volume 23, p. 152
9
AMA1 & ENI, Relatório de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o Projecto de Gás Natural Liquefeito
(GNL), Moçambique, 2012, p. 6
3
A primeira descoberta de gás natural em Moçambique teve origem a 1961, em Pande, à qual
se seguiram as descobertas dos jazigos de Buzi e Temane. Estas descobertas foram declaradas
como não comerciais, vários projectos tendo sido estudados, até ao ano de 2000 em que a
conhecida empresa Sul Africana Sasol assumiu um compromisso por 25 anos de comprar 120
milhões de GJ (Gigajoules) a de gás natural para consumo próprio e comercialização na
África do Sul.10

Este compromisso permitiu viabilizar o projecto de produção de gás natural a partir dos
jazigos de Pande (2008) e Temane (2004) e a construção de um gasoduto de 865 km entre
Temane, na Província de Inhambane e Secunda, na África do Sul, que permitiu ao país tornar-
se o maior produtor e exportador de gás natural da África Austral.11

A bacia de Moçambique, com 300.000 km2, possui uma densidade de cerca de um furo por
8.000 km2 em terra, e de um furo por 17.000 km2 no mar, enquanto que a bacia de Rovuma,
com 60.000 km2 possui uma densidade de u furo por 17.000 km2 em terra e nenhum furo no
mar. Em 1961, o Campo de Gás de Pande, descoberto pela Gulf Oil, foi o primeiro campo a
ser descoberto no país. Este foi seguido pelos campos de gás de Búzi e Temane em 1962 e
1967, respectivamente.

A actividade de pesquisa no Bloco Pande e Temane por outro operador levou mais tarde à
descoberta do Campo de Gás de Inhassoro, todos localizados na Província de Inhambane, no
sul de Moçambique.

Entre 1990 e 2003, foram realizadas nos campos de Pande e Temane actividades de pesquisa
e perfuração de oito poços pioneiros (seis em terra e dois em alto mar).

1.3 Zonas de extracção do gás natural em Moçambique

A partir de 1948, as companhias internacionais de petróleo e gás entraram em Moçambique e


iniciaram pesquisas extensivas em terra e mais limitadas em alto mar. Os recursos de gás em

10
MGA & PLMJ, Uma parceria de valores, Petróleo e Gás em Moçambique: Mpstream e Midstream,
Moçambique, Abril, 2010, p. 1
11
MGA & PLMJ, Uma parceria de valores, Petróleo e Gás em Moçambique: Mpstream e Midstream,
Moçambique, Abril, 2010, p. 1
4
terra na Província de Inhambane têm sido explorados desde 2004. O gás natural é exportado
para a África do Sul e também é usado para abastecer o mercado local de Moçambique.12

Nas Províncias de Sofala e Inhambane, as actividades de pesquisa (sísmica e /ou de


perfuração) foram realizadas nos Blocos M-10 e Sofala em 1998 e 2007 pela Arco e Bang,
respectivamente.

Estes dois blocos foram já adquiridos e mantêm-se as actividades de pesquisa sísmica e de


perfuração dentro dos blocos 16 e 19 e M-10 e Sofala, nas Províncias de Sofala e Inhambane.
Para a Área A em terra firme, na Província de Inhambane, foi proposta a realização de
aquisição sísmica seguida de perfuração de poços pesquisa.

A pesquisa de hidrocarbonetos na Província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, e


especificamente nos Distritos de Mocimboa da Praia e Palma, começaram na década de 1980
por empresas francesas e americanas, e os resultados foram posteriormente analisados pela
Artumas.13

Em 2008, a Artumas levou a cabo a aquisição sísmica e perfuração de poços de pesquisa para
confirmar se existiam ou não hidrocarbonetos em quantidades comercialmente viáveis no
Bloco Terrestre da Bacia do Rovuma.

O gás natural foi encontrado num poço perfurado em Mocímboa da Praia (MOC-1). Este
Bloco foi adquirido pela AMA1, que realizou actividades de pesquisa semelhantes ao longo
dos últimos anos.

Na Bacia do Rovuma em alto mar, as actividades de pesquisa foram realizadas recentemente


por vários de operadores em blocos em alto mar, nomeadamente: AMA1 (Área 1), eni (Área
4), Statoil (Áreas 2 e 5) e Petronas Carigali Mozambique Rovuma Basin Limited (PCMRB)
(Áreas 3 e 6). Foram descobertas quantidades de gás comercialmente significativas nas Áreas
1 e 4.14

12
AMA1 & ENI, Relatório de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o Projecto de Gás Natural Liquefeito
(GNL), Moçambique, 2012, p. 7
13
AMA1 & ENI, Relatório de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o Projecto de Gás Natural Liquefeito
(GNL), Moçambique, 2012, p. 7
14
AMA1 & ENI, Relatório de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o Projecto de Gás Natural Liquefeito
(GNL), Moçambique, 2012, p. 6
5
1.4 Política de sustentabilidade para a exploração do gás natural em
Moçambique

A política económica do Estado é dirigida à construção das bases fundamentais do


desenvolvimento, à melhoria das condições de vida do povo, ao reforço da soberania do
Estado e à consolidação da unidade nacional, através da participação dos cidadão, bem como
da utilização eficiente dos recursos humanos e materiais.15

As descobertas de gás natural realizadas até à data estão entre as mais significativas dos
últimos vinte anos.

O objectivo deste Projecto consiste em promover a pesquisa, o desenvolvimento e produção


sustentáveis destes recursos em Moçambique, através da extracção, processamento e
exportação destes importantes recursos de gás natural descobertos em alto mar, na Bacia do
Rovuma.

O Projecto representa para Moçambique uma oportunidade económica que pode ser
transformadora para a economia de Moçambique, contribuindo para que o país se torne num
dos países líderes mundiais exportadores de gás natural liquefeito, podendo gerar:16

 receitas fiscais substanciais e participação nos lucros para Moçambique, contribuindo


substancialmente para o Produto Interno Bruto (PIB) do País;
 entrada cambial significativa de mercados externos e abastecimento de gás para o
desenvolvimento industrial e doméstico em Moçambique;
 melhorias da infra-estrutura e da qualidade de vida para a população Moçambicana;
 possibilidade de transferência de tecnologia e de conhecimento a longo prazo,
trazendo desenvolvimento económico e melhorando a qualidade de vida das suas
populações;
 oportunidades de emprego directo e indirecto para os moçambicanos; e
 investimento externo directo significativo a longo prazo.

15
Nº 1 do art. 96 da CRM
16
AMA1 & ENI, Relatório de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o Projecto de Gás Natural Liquefeito
(GNL), Moçambique, 2012, p. 8
6
1.5 Impacto ambiental face a exploração do gás natural em Moçambique

No ordenamento jurídico moçambicano, a realização de um processo de Avaliação de


Impacto Ambiental (AIA) é uma exigência legal nos termos da Lei Ambiental, para quaisquer
actividades que possam ter impactos directos ou indirectos sobre o ambiente.17

Essas actividades são reguladas pelos:

 Decreto nº 45/2004, de 29 de Setembro, que aprova o Regulamentos de Avaliação de


Impacto Ambiental;
 Decreto nº 42/2008, de 4 de Novembro, que altera alguns artigos do Decreto nº
45/2004; e
 Decreto nº 56/2010, de 22 de Novembro que aprova o Regulamento Ambiental para as
Operações Petrolíferas.

Os processos de avaliação do impacto ambiental requeridos para as actividades ou


desenvolvimentos relacionados com petróleo, gás e recursos minerais são controlados por
regulamentos específicos.18 Os moldes da avaliação do impacto ambiental para cada caso,
assim como as demais formalidades, são indicados em legislação específica.19

Neste contexto, o processo de avaliação do impacto ambiental para este projecto cumpre:

 O Regulamento Ambiental para Operações Petrolíferas, aprovado pelo Decreto nº


56/2010, de 22 de Novembro;
 O Regulamento sobre Operações Petrolíferas aprovado pelo Decreto nº 24/2004, de 20
de Agosto; e
 O Regulamento de Licenciamento de Instalações e Actividades Petrolíferas, aprovado
pelo Diploma Ministerial n.º 272/2009 de 30 de Dezembro.

1.6 Fases de exploração do gás natural em Moçambique

As primeiras fases dessa cadeia compreendem a identificação de reservas de gás e a


comprovação através da perfuração de poços, para posterior produção; em que se retiram água

17
Cfr. art. 3 da Lei nº. 20/1997, de 1 de Outubro
18
Cfr. Art. 2 do Decreto n.º 45/2004, de 29 de Setembro
19
Cfr. nº 2 do art. 16 da Lei n.º. 20/1997, de 1 de Outubro
7
e hidrocarbonetos em estado líquido do gás natural. Posteriormente, o gás natural é conduzido
a Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGN), onde ocorre a desidratação e
fraccionamento do recurso, originando três subprodutos: o gás natural processado, o gás
liquefeito de petróleo (GLP) e a gasolina natural.

Após esse processo, inicia-se a fase mais crítica, que é o transporte do produto em estado
líquido e gasoso. Por fim, o gás natural é distribuído, principalmente através de gasodutos,
para o consumidor final (indústrias, residências, comércios, etc.).20

A produção do Gás Natural é feita basicamente seguindo-se uma estrutura semelhante à da


cadeia do petróleo, e é igualmente dividida em três segmentos: upstream, midstream e
downstream.21

1.6.1 Upstream

Esta fase consiste em identificar um ambiente que possa ser utilizado na exploração do
petróleo e também envolve o transporte até às refinarias, local onde eles passam para a fase
que nos interessa: midstream.

A exploração é o processo de pesquisa de acumulação de hidrocarbonetos, tanto em bacias


terrestres (onshore) como em bacias marítimas (offshore). Produção é o processo de
extracção, recuperação e processamento do Gás Natural em escala comercial.22

A fase de exploração é tipicamente caracterizada por alto grau de risco, principalmente ligado
à incerteza da descoberta de uma jazida em áreas com conhecimento geológico ainda limitado
e, portanto, com elevados investimentos e custos operacionais.

As etapas de mapeamento e processamento geológico e geofísico (G&G), que antecedem a


perfuração de poços de exploração, contribuem para reduzir o risco e aumentar a taxa de
sucesso nas buscas por novas jazidas. Deve-se observar que, neste caso, o conceito de
produção limita-se ao “conjunto de operações coordenadas de extracção de petróleo ou Gás
Natural de uma jazida e de preparo para sua movimentação”.

20
LYRA, Mariana, Recursos Naturais: Gás Natural, in Revista Política Hoje, 1ª Edição, volume 23, p. 154
21
FGV ENRGIA, Gás natural, Cadernos, Rio de Janeiro, p. 15
22
FGV ENRGIA, Gás natural, Cadernos, Rio de Janeiro, p. 16
8
1.6.2 Midstream

Esta fase compreende as actividades de transporte e estocagem de Gás Natural. Em países


produtores de gás natural liquefeito, este segmento também compreende a liquefacção,
transporte por navios e a regaseificação do gás natural liquefeito nos mercados compradores.

A escolha da forma de movimentação do gás entre a jazida produtora e o mercado consumidor


é uma questão estratégica para a indústria do gás natural.

O gás natural liquefeito, pode ser transportado por longas distâncias e está geralmente
associado ao transporte marítimo por navios metaneiros. Outra modalidade usada para o
transporte de gás natural é o gasoduto em alta pressão.23

Esta etapa é a essencial no processo de produção de petróleo. É nela que a matéria-prima é


produzida em algum item que possa ter relevância para o consumidor

1.6.3 Downstream

Compreende as actividades de distribuição e vendas ao consumidor final de gás natural. Ou


seja, os produtos são enviados para os locais onde serão vendidos ao consumidor final.

Após a etapa de transporte, inicia-se o processo de distribuição, a partir do recebimento do gás


nos chamados citygates, que são instalações de redução e controle de pressão, medição e
odorização do gás natural. A partir dos citygates, o gás natural é direccionado através de
tubulações aos diversos segmentos do mercado: industrial, comercial, residencial e geração de
electricidade.24

1.7 Importância do gás natural para a economia de Moçambique

Nos dias actuais, a matéria-prima é usada na indústria petroquímica, para a produção de


solventes, como redutor siderúrgico e muito mais. Essa utilização em larga escala é possível
porque o gás natural é um combustível que queima completamente, sem deixar resíduos.

23
FGV ENRGIA, Gás natural, Cadernos, Rio de Janeiro, p. 19
24
FGV ENRGIA, Gás natural, Cadernos, Rio de Janeiro, p. 20
9
Moçambique pode tornar-se uma das maiores economias em África quando a produção de gás
natural no norte atingir o seu pico em 2028, ano em que a economia deverá crescer em 24%
ao ano, e metade do PIB de Moçambique virá do gás natural.

Portanto, Moçambique deve desenvolver políticas específicas de utilização do gás, políticas


que promovam o comércio intra-regional dos recursos do gás, políticas de gestão do gás e que
promova políticas que potenciem o desenvolvimento industrial e zonas delimitadas em que o
gás possa ser fornecido a várias indústrias.

1.8 Aspectos económicos, político e sócio-cultural do gás natural em


Moçambique

1.8.1 Aspectos económico

Na perspectiva económica, poderemos salientar que com a concessão da exploração de gás


natural, permitirá a Moçambique aumentar significativamente o seu produto Interno Bruto
(PIB), assim como gerar receita directa ao estado através das receitas fiscais.25

Moçambique, ainda considerado como um dos países mais pobres do mundo e com as
finanças públicas pressionadas, com uma crise económica e social ainda não estabilizada, vem
em contrapartida assistindo a vários acordos assinados, parcerias e um leque de investimentos
ente várias multinacionais e as principais empresas estrangeiras de exploração de gás e
petróleo, carvão e mais recursos.

Moçambique é encarado como um caso de sucesso entre as economias africanas e tem


assumido um papel cada vez mais determinante no contexto da África Austral, atendendo,
nomeadamente, ao seu potencial como fornecedor de energia para a região.26

25
MENDES, Virgínio de Barros, O impacto de descoberta de Gás Natural em Moçambique: Planos de
Negócios, Dissertação de Mestrado em Gestão Comercia, apresentada na Faculdade de Economia da
Universidade do Porto, 2014, p. 18
26
MENDES, Virgínio de Barros, O impacto de descoberta de Gás Natural em Moçambique: Planos de
Negócios, Dissertação de Mestrado em Gestão Comercia, apresentada na Faculdade de Economia da
Universidade do Porto, 2014, p. 4
10
1.8.2 Dimensão política

No que respeita à dimensão político-legal, importa aqui referir que o projecto está sujeito à
criação e registo de uma organização de direito Moçambicano e o desenvolvimento da infra-
estrutura para a exploração e transformação de gás natural, requerendo o licenciamento da
actividade e em específico, o licenciamento ambiental (devendo ser realizado um Relatório de
Estudo do Impacto Ambiental afim de agilizar a tomada de decisão por parte do governo),
devendo estas ser emitidas pelo Governo de Moçambique.27

1.8.3 Aspecto sócio-cultural

A dimensão destes investimentos podem oferecer benefícios complementares que apoiam o


desenvolvimento do conteúdo local e estrangeiro onde investimento social estratégico
beneficia tanto o investidor (ou seja, governo, empresa e/ou organização internacionais) assim
como a comunidade envolvida.

Derivado da dimensão económica, espera-se contribuir (através das receitas fiscais/impostos)


para o desenvolvimento económico e social do país, através do desenvolvimento (por parte do
estado) em infra-estruturas de saúde, educação, entre outras, com o objectivo de aumentar a
qualidade de vida da população Moçambicana.28

1.9 Aplicação do gás natural em Moçambique

O Gás Natural Líquido é o gás natural tradicional que foi arrefecido até o ponto de
liquefacção. Este é um líquido claro, incolor, não tóxico, não corrosivo e mais denso do que o
gás natural gaseoso que se forma quando o gás natural é arrefecido a -162ºC. Este ocupa cerca
de 1/600 o espaço que a mesma quantidade de gás natural gaseoso ocupa.29

O gás natural liquefeito consiste primordialmente por metano (CH4), sendo um dos primeiros
processos para a sua concepção o do resfriamento. Durante este processo, os outros

27
MENDES, Virgínio de Barros, O impacto de descoberta de Gás Natural em Moçambique: Planos de
Negócios, Dissertação de Mestrado em Gestão Comercia, apresentada na Faculdade de Economia da
Universidade do Porto, 2014, p. 16
28 28
MENDES, Virgínio de Barros, O impacto de descoberta de Gás Natural em Moçambique: Planos de
Negócios, Dissertação de Mestrado em Gestão Comercia, apresentada na Faculdade de Economia da
Universidade do Porto, 2014, p. 18
29
BOANE, Heike Melani Silva, Como pode Moçambique utilizar os recursos de gás e LNG para diversificar a
economia nacional, p. 2
11
componentes do gás natural, como água (H2O), dióxido de carbono (CO2), nitrogénio (N2),
oxigénio (O2), e outros hidrocarbonetos, são gradualmente removidos, deixando o metano
quase puro. Este processo é importante porque muitos dos compostos removidos durante o
processo de liquefacção podem potencialmente danificar as instalações e processo seguintes.30

Como principais aplicações este é usado como fonte de combustível dominante na produção
de produtos como metal, papel, petróleo, produtos químicos, pedra, argila, vidro, roupas e
processamento de alimentos.

1.10 Enquadramento legal sobre a exploração do gás natural no


ordenamento jurídico Moçambicano

A Lei de Petróleos regula as operações petrolíferas, quaisquer infra-estruturas conexas e o uso


e consumo de petróleo, permitindo assim o controlo de todas as operações petrolíferas pelo
Estado, através de acções de inspecção e fiscalização.31 O MIREM (Ministério dos Recursos
Minerais) regula o sector no país, sendo este o responsável pelo desenvolvimento de políticas
regulatórias para o mesmo. Como marco regulatório, o Governo de Moçambique cita que:32

 Em 2004 foi aprovado o regulamento de Operações Petrolíferas, sendo criada a


entidade pública responsável pela gestão e coordenação das operações petrolíferas
(INP).
 Ainda em 2004, o estado de direito Moçambicano aprovou o Regulamento de
Licenciamento de Instalações e Actividades Petrolíferas e aprovou o Regulamento
Ambiental para as Operações.

Como marcos legais afectos ao sector de hidrocarbonetos, identificaram-se ainda os


seguintes:33

 Regulamento de Licenciamento das Instalações e Actividades Petrolíferas;


30
BOANE, Heike Melani Silva, Como pode Moçambique utilizar os recursos de gás e LNG para diversificar a
economia nacional, p. 2
31
BIHALE, Domingos, Indústria Extractiva em Moçambique: Perspectivas para o desenvolvimento do país,
FES, 2016, P. 15
32
MENDES, Virgínio de Barros, O impacto de descoberta de Gás Natural em Moçambique: Planos de
Negócios, Dissertação de Mestrado em Gestão Comercia, apresentada na Faculdade de Economia da
Universidade do Porto, 2014, p. 16
33
MENDES, Virgínio de Barros, O impacto de descoberta de Gás Natural em Moçambique: Planos de
Negócios, Dissertação de Mestrado em Gestão Comercia, apresentada na Faculdade de Economia da
Universidade do Porto, 2014, p. 17
12
 Estratégia de Desenvolvimento do Mercado de Gás;
 Estratégia de Concessão de Áreas para Operações Petrolíferas;
 Regulamento Ambiental para Operações Petrolíferas.

A Lei dos Petróleos, nos seus principais aspectos:

 Estabelece o regime de atribuição de direitos para a realização das operações


petrolíferas;34
 Aplica-se às operações petrolíferas e a infra-estruturas pertencentes ou detidas pelo
titular de direitos ou terceiros, usadas em conexão com as operações petrolíferas,
sujeitas à jurisdição moçambicana, incluindo as infra-estruturas móveis de bandeira
estrangeira com o propósito de conduzir ou assistir às operações petrolíferas;35
 Estabelece a obrigatoriedade do Governo garantir que uma quota não menos do que
25% de petróleo produzido em território nacional seja dedicada ao mercado
nacional;36
 Estabelece a obrigatoriedade de preferência ao Governo na aquisição de petróleo
produzido na área de concessão, por questões de interesse nacional.37

Decreto-Lei nº 2/2014, de 2 de Dezembro, estabelece o regime jurídico e contratual especial


aplicável ao projecto de gás natural liquefeito nas Áreas 1 e 4 da Bacia do Rovuma. Prevê a
obrigatoriedade QUADRO de implantação LEGAL do Projecto da Bacia do Rovuma através
de empreendimentos ao abrigo de um ou mais planos de desenvolvimento a serem aprovados
pelo Conselho de Ministros.

Considerações finais

Durante as abordagens feitas no presente artigo científico, conclui-se que existe uma grande
necessidade e importância de se diversificar a economia nacional. A diversificação económica
com os recursos de gás não só traz uma variada quantidade de produtos explorados a serem
produzidos como também impulsiona a transformação de matéria-prima em seus derivados e
novos produtos, trazendo assim um acréscimo no valor original da matéria-prima a exportar.

34
Cfr. art. 2 da Lei nº 21/2014, de 18 de Agosto
35
Cfr. Art. 3 da Lei nº 21/2014, de 18 de Agosto
36
Cfr. Art. 35 da Lei nº 21/2014, de 18 de Agosto
37
Cfr. Art. 40 da Lei nº 21/2014, de 18 de Agosto
13
Porém este é um processo que necessita de tempo, e não pode estar somente focado ou virado
para a área mineira. Moçambique é bastante conhecido internacionalmente pela sua economia
virada para a agricultura, pesca e também artesanato. Ao diversificar a economia tendo em
conta o unir destes diferentes sectores pode-se substituir os bens e serviços importados que
podem ser produzidos internamente e reduzir a dependência do apoio financeiro externo.

Moçambique precisa de uma Autoridade Reguladora Independente para o sector de petróleos


e com poderes de supervisão, para garantir que os ganhos para o Estado sejam maximizados,
através de uma avaliação adequada e isenta das operações das empresas que exploram
recursos petrolíferos no país. Devido ao actual figurino do Instituto Nacional de Petróleos,
Moçambique tem, actualmente, incorrido em perdas significativas de receitas, uma situação
que se poderá repetir no futuro.

O Instituto Nacional de Petróleos é dirigido por um Conselho de Administração composto por


um mínimo de três e um máximo de cinco membros. Todos eles executivos que exercem a sua
actividade em regime de exclusividade. Os membros do Conselho de Administração deverão
ser pessoas de reconhecida idoneidade, conhecimento técnico e experiência em matérias
relevantes no âmbito das atribuições e competências do Instituto Nacional de Petróleos.38

O regime que estabelece a nomeação e exoneração do Presidente do Conselho de


Administração, prejudica a independência do órgão regulador e não cria as condições para o
exercício das funções de regulação com a necessária equidistância em relação ao Governo,
pois o critério da escolha da pessoa a nomear, acaba sendo o da confiança política, o que cria
uma relação de dependência do nomeado em relação a quem tem poder de o nomear e
exonerar. A realização de um procedimento de concurso público seria o melhor modelo para a
escolha do Presidente do Conselho de Administração, para garantir a necessária transparência,
isenção, imparcialidade e independência.

Referência bibliográfica

Legislação

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Constituição da República de Moçambique. – Inclui


revisão de 2018. Escolar Editora - 2018

38
Cfr. Art. 7 do Decreto n.º 25/2004, de 20 de Agosto
14
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Lei nº 21/2014, de 18 de Agosto, Lei de Petróleos, in
Boletim da República, I Série, n° 66, de 18 de Agosto de 2014.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Decreto-Lei nº 2/2014, de 2 de Dezembro, estabelece o


regime jurídico e contratual especial aplicável ao Projecto de Gás Natural Liquefeito (GNL)
nas Áreas 1 e 4 da Bacia do Rovuma, in Boletim da República, I Série, n° 96, de 2 de
Dezembro de 2014.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Decreto nº 25/2004, de 20 de Agosto, que aprova o


Estatuto Orgânico do Instituto Nacional do Petróleo, in Boletim da República, I Série, n° 33,
de 20 de Agosto de 2014.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Decreto nº 45/2004, de 29 de Setembro, aprova o


Regulamento sobre o Processo de Avaliação do Impacto Ambiental, in Boletim da República,
I Série, n° 39, de 29 de Setembro de 2004.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Decreto n.º 42/2008, de 4 de Novembro, que altera os


artigos 5, 15, 18, 20, 24, 25 e 28 do Regulamento sobre o Processo de Avaliação do Impacto
Ambiental, aprovado pelo Decreto nº 45/2004, de 29 de Setembro, in Boletim da República, I
Série, n° 44, de 4 de Novembro de 2008.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Decreto nº 56/2010, de 22 de Novembro, aprova o


Regulamento Ambiental para as Operações Petrolíferas, in Boletim da República, I Série, n°
46, de 22 de Novembro de 2010.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Decreto 34/2015, de 31 de Dezembro, que aprova o


Regulamento das Operações Petrolíferas e revoga o Decreto nº 24/2004, de 20 de Agosto, in
Boletim da República, I Série, n° 8, de 21 de Fevereiro de 2001.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Diploma Ministerial nº 272/2009 de 30 de Dezembro,


aprova o Regulamento de licenciamento de Instalações e Actividades Petrolíferas, in Boletim
da República, I Série, n° 52, de 30 de Dezembro de 2009.

Obras doutrinárias

AMA1 & ENI, Relatório de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para o Projecto de Gás
Natural Liquefeito (GNL), Moçambique, 2012.
15
BIHALE, Domingos, Indústria Extractiva em Moçambique: Perspectivas para o
desenvolvimento do país, FES, 2016.

BOANE, Heike Melani Silva, Como pode Moçambique utilizar os recursos de gás e LNG
para diversificar a economia nacional

FGV ENRGIA, Gás natural, Cadernos, Rio de Janeiro, 2014.

LYRA, Mariana, Recursos Naturais: Gás Natural, in Revista Política Hoje, 1ª Edição,
volume 23.

MENDES, Virgínio de Barros, O impacto de descoberta de Gás Natural em Moçambique:


Planos de Negócios, Dissertação de Mestrado em Gestão Comercia, apresentada na
Faculdade de Economia da Universidade do Porto, 2014.

MGA & PLMJ, Uma parceria de valores, Petróleo e Gás em Moçambique: Mpstream e
Midstream, Moçambique, Abril, 2010

16

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