Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Primeira Infância
ISSN: 2595-1114
Autismo e
Primeira Infância
Expediente
............Sumário
......... 5
A complexidade do TEA
14 8
CONECTA: unidade para crianças com
TEA e suas famílias
10
O respeitável autismo Instituto da Primeira Infância
14
A terapia ISA e a criança autista
08 Presidente: Sulivan Mota
Vice-presidente: João Amaral
Secretária: Joana Clemente
16 Coordenador Técnico-Científico:
O ambiente e eu: estratégias de autorregulação Álvaro Leite
Coordenador Técnico-Assistencial:
18 João Vicente Menescal
Sinais de autismo e a intervenção precoce Coordenador do Programa
Assistencial à Criança:
José Osivan Junior
20 Coordenadoras do Programa
Tá na hora de brincar Assistencial à Mulher:
Ana Beatriz Ferreira
24 Coordenador da Gestão de Projetos:
Alimentação e autismo João Victor Furtado
Coordenador do Acolhimento:
26 João Vicente Menescal
26 Compreendendo a comunicação no TEA Coordenadora do Conecta-Iprede:
Edda Araújo
28
Do luto à luta no autismo Revista da Primeira Infância
Editor: João Amaral
32 Jornalista Responsável: Luciano de Paiva (Mtb 073)
O autismo na escola Diretor Comercial: Luís Marcelo Benevides de Paiva
(85) 98847-6151 / 99625-0809
34 Publicidade: revistadoiprede@yahoo.com.br
Musicoterapia e TEA www.iprede.org.br/publicacoes/
Fotografia:
36 Andreza Esquerdo
O vínculo entre pais/cuidadores e filhos autistas Arte e Desenvolvimento:
Neuma Estúdio Gráfico- (85) 9.8717.8795
38 Tiragem: 5.000 exemplares
O cuidar da enfermagem da criança com TEA
40
Tira dúvidas do BPC
42
A família de crianças com TEA
44
40 O olhar do brincar no autismo
45
A bola é a minha paixão
Catalogação na fonte
Universidade Federal do Ceará - Biblioteca de Ciências da Saúde
IPREDE - Instituto da Primeira Infância / Fortaleza: Iprede UFC, v 5, nº 7 - Maio 2021 / Semestral
ISSN: 2595-1114
1.Saúde da Criança – Periódicos. II Iprede/UFC. CDD: 305.232
A revista Primeira Infância é uma publicação do Instituto da Primeira Infância, com supervisão direta de
sua diretoria. Tem circulação gratuita e dirigida, por mala direta, a autoridades e diversos outros segmentos da área da
saúde. Ela não representa um só real de despesas para o IPREDE. Todos os seus custos são cobertos por comerciais de
empresas e instituições outras que acreditam no seu elevado grau de abrangência. Esta revista não se responsabiliza
por opiniões apresentadas nas matérias assinadas. É permitida a reprodução total ou parcial de conteúdo, entretanto
solicita-se a citação da fonte e o envio de um exemplar para a instituição.
3
Editorial
..............................................................
TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA (TEA)
João Amaral
E
Pediatra e psicoterapeuta psicanalítico.
sse número da Revista da Primeira Infância (RPI) terá Professor e coordenador do Programa de
como tema central Autismo e Primeira Infância, como Pós-graduação em Saúde da Mulher e
da Criança da Universidade Federal do
parte do mês da conscientização do autismo Ceará (UFC). Vice-presidente do Instituto
recentemente comemorado em abril. O autismo é uma da Primeira Infância -IPREDE.
condição que se transformou em sinais conhecidos por
Transtorno do Espectro Autista (TEA) e que atualmente chama
muita atenção.
Em 1943 foi descrito pela primeira vez pelo médico
austríaco Leo Kanner. Passou por muitas transformações com
novos critérios diagnósticos. Como esperado, houve um
aumento no número de casos.
Esse aumento impulsionou novos estudos e,
principalmente um melhor diagnóstico e formas de
tratamento, o que teve impacto significativo na qualidade de
vidas dessas crianças com o diagnóstico precoce.
A Revista da Primeira Infância nesse número sobre
Autismo e Primeira Infância vem contribuir com esses
conhecimentos em vários aspectos, desde os critérios clínicos,
o papel do ambiente, o diagnóstico precoce, a alimentação, a
escola, a musicoterapia, a formação do vínculo, os aspectos
emocionais no luto, o cuidar na enfermagem até questões
práticas sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Para
finalizar, é contada uma história de vida de uma criança com
TEA, o que nos mostra o quanto é importante a atenção nesse
espectro.
4
Transtorno
A COMPLEXIDADE DO
TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA
aqui devemos lembrar que essa dem da identificação e tratamento
biologia que todos possuímos pre- precoces, bem como do trabalho
cisa para sua expressão do ambien- articulado entre familiares, profis-
te facilitador. O ser humano se de- sionais e serviços sociais (saúde e
senvolve na relação com o ambien- educação).
te e, necessariamente, com outros O diagnóstico de TEA preco-
Álvaro Jorge Madeiro Leite humanos. Daí a importância atual ce é muito importante, pois possi-
Pediatra. Doutor em Pediatria. Professor dos fatores epigenéticos na expres- bilita o início do tratamento em um
Titular de Pediatria da Faculdade de são de nossa bagagem genética. período crucial para o neurodesen-
Medicina da Universidade Federal do Ceará Habilidades de interação volvimento (neuroplasticidade)
(UFC) e do Programa de Pós-graduação em
Saúde da Mulher e da Criança interpessoal, de comunicação ver- Quanto mais precoces as
(PPGSMC) da UFC. bal e não verbal, amplitude de inte- intervenções iniciarem, melhor o
resses, atividades e brincadeiras prognostico da criança; se iniciado
estão comprometidos nessa condi- antes dos 3 anos, é máxima a
ção. A consequência é a necessida- probabilidade na redução da gravi-
Q
ue doença é essa que há de de mediação e de intervenções dade dos sintomas clássicos do
menos de 10 anos se con- articuladas por equipes multidisci- TEA. Essas respostas positivas per-
verteu em transtorno iden- plinares refinadas por uma base sistem ao longo dos anos, reduzin-
tificado por uma variedade doutrinária: como se constitui a do o custo do tratamento ao longo
de espectros clínicos, que vem condição e a experiência humana na da vida.
apresentando uma curva ascen- vida com os outros em sua dimen- Num livro belíssimo, O filho
dente e traz implicações tão são familiar e social. antirromântico, a escritora ameri-
desafiadoras para o desenvol- Ilustrando essa complexida- cana Priscila Gilman nos conta a
vimento das crianças, para as fa- de com as palavras do psicólogo e profusão de sentimentos que mu-
mílias, os profissionais e os serviços escritor Andrew Solomon: daram sua vida quando da des-
de saúde, bem como para toda a ... “uns procuram a “cura” ou coberta que seu filho Benjamin era
sociedade e seus ideais de norma- a melhora das habilidades, outros portador de uma das tipologias do
tividade?! simplesmente procuram respeito e TEA que o levaria a ler compulsiva-
Mais: uma condição que afe- aceitação das suas características mente praticamente todos os seus
ta o desenvolvimento infantil e, únicas. livros de professora e aluna de
portanto, o desenvolvimento hu- Como Transtorno do Espec- doutorado antes dos 3 anos de
mano acarretando desafios práti- tro Autista (TEA) é considerado um idade (síndrome de hiperlexia ou da
cos de revisão de expectativas fa- transtorno do neurodesenvolvi- leitura precoce).
miliares e inclusão social. mento poligênico e multifatorial Priscila compõe seu texto
Na expectativa familiar: apresentando, dentre outras, as utilizando-se de poetas românticos
“Parece que o mundo vai seguintes características básicas: para ilustrar os caminhos tortuo-
acabar quando você percebe que ampla variabilidade clínica, bem sos, inesperados e magníficos do
seu filho tem um problema ou como da gravidade dos sintomas; amor, como podemos testemunhar
desafio tão grande pela frente” alterações na integração da senso- abaixo:
Na expectativa biomédica: rialidade. “Há um conforto na força do
Uma condição que afeta Esses aspectos implicam amor;
habilidades essenciais da condição em dúvidas persistentes sobre a Que torna suportável algo
humana, que do ponto de vista etiologia e sobre as mais eficazes que de outra maneira
biológico pode ser expressão de estratégias terapêuticas. Assim, o Sobrecarregaria o cérebro,
alterações no funcionamento do prognóstico persiste em aberto. A ou quebraria o coração”.
sistema nervoso central, caracteri- única certeza que se tem é de que William Wordsworth, poeta ro-
zado como neurotipicidade. Mas tratamento e prognóstico depen- mântico inglês do século XIX.
5
TEA
O
instituto da Primeira In- missão: contribuir para o desen-
fância - IPREDE desde volvimento de crianças de 0 a 12
2008, ampliou sua voca- anos, com Transtorno do Espectro
ção de cuidar da criança Autista – TEA e suas comorbidades,
desnutrida para o desenvolvimento por meio de intervenções quali-
Edda Araújo na primeira infância (DPI). Neste ficadas, produção e disseminação
Terapeuta Ocupacional.
Mestre em Psicologia pela Universidade de caminho, de inúmeros desafios e da informação aos pais, familiares,
Fortaleza (UNIFOR). Coordenadora do conquistas, em 2019, surge a Uni- colaboradores e sociedade em geral.
CONECTA-IPREDE e da Clínica habiliTO. dade de Assistência à Criança A missão do Conecta refe-
Autista - CONECTA, em resposta a rência as ações da equipe de pro-
carência de atendimentos às crian- fissionais que trabalha em uma
ças fortalezenses diagnosticadas atitude interdisciplinar. Portanto,
com Transtorno do Espectro do estamos construindo um eixo teóri-
Autismo - TEA. Uma constatação co comum a todas as especificida-
provocada pelo número de 7.000 des próprias a cada profissão, que
crianças em espera de atendimen- promova assistência às crianças
tos informados pela Secretaria de com TEA, e perpasse pela valoriza-
Saúde do Município. Tal fato, com- ção do singular, único, que as histó-
prova se tratar de um problema de rias de vida das crianças oferecem
saúde pública. Em reunião sobre a para se refletir a ação terapêutica.
temática realizada com participação O desafio é de reunir os
da diretoria do IPREDE e da diversos saberes que trazem os
Prefeitura, foi visto a importância nossos profissionais com suas
de criação do CONECTA; que pu- formações específicas, numa troca
desse suprir, com atendimento de de conhecimentos para entender a
João Vicente Menescal qualidade, uma parcela dessa popu- criança com TEA e a prática
Psicólogo. Mestre em Saúde da lação de crianças. terapeuta mais afeita a cada caso.
Mulher e da Criança pela Universidade
Federal do Ceará (UFC). Coordenador do Em outubro do mesmo ano, Ou seja, somos muitos profissionais
IPREDE. deu-se início aos atendimentos pelo trabalhando com um objetivo co-
Sistema Único de Saúde (SUS) na mum, de contribuir para o desen-
Unidade Conecta, das crianças com volvimento da criança e adolescente
TEA e seus familiares. com TEA, no respeito à diversidade
Em paralelo as negociações de suas características como
para a celebração do convênio, acon- pessoas.
teceram reuniões da coordenação Um princípio afeito ao eixo
técnica do Conecta, com profis- teórico do trabalho da equipe está
sionais convidados para realizar o na maneira em como a criança com
planejamento e metodologia de TEA forma seus vínculos afetivos
trabalho; todos com experiência e consigo, com a família, com a escola
qualificação para o exercício da e com os profissionais do Conecta. A
prática habilitativa e reabilitativa de escolha se deu em razão da impor-
crianças com TEA. Esta equipe tância deste na vida da pessoa com
pensou a adequação e estrutura dos TEA, como nos descreve Sinclair,
ambientes, fluxograma de atendi- adulto autista em sua autobio-
mento; escolheu os protocolos, grafia, “Eu construí uma ponte,
Sulivan Mota fichas e instrumentos; selecionou além de nenhum lugar, através do
Médico e professor de Pediatria da Faculdade
os profissionais para atuação na nada. E queria que existisse algo do
de Medicina da UFC. Presidente do Instituto Unidade. outro lado”. Empregar esforços no
da Primeira Infância – IPREDE. A Unidade Conecta tem por enriquecer dos vínculos afetivos das
8
TEA
crianças, constitui o primeiro passo os seus conhecimentos e trocas e ainda; sala e jardim de Integração
para as conquistas a serem significativas no processo terapêu- Sensorial, uma horta, uma casa
alcançadas. tico de crianças com TEA apoiando e modelo com todos os cômodos e
A própria diversidade do trabalhando seus familiares para caracterizações para vivências de
diagnóstico do TEA, por si só, já uma melhor resolução de interação autonomia da vida diária.
solicita uma prática multireferen- e comunicação social como princí- A cozinha da casa funciona
ciada que possa investigar, perce- pio norteador de suas intervenções. de forma terapêutica contando
ber e responder as suas especifici- A Unidade atende crianças, com o apoio da nutrição junto da
dades. Junto ao diagnóstico estão com idade de 0 a 12 anos, enca- equipe. O CONECTA possui três
as famílias que os fazem mais minhadas pelas Unidades Básicas lojinhas de compras e vendas de
singulares e, portanto, tão signifi- de Saúde (Postos de Saúde) com objetos para cuidados pessoais,
cativos no processo terapêutico suspeita de TEA. O primeiro profis- alimentação e vestuário. Junto aos
quanto às abordagens e referen- sional a recebê-las é o neuropedia- objetivos a serem trabalhados pela
ciais teóricos que conduzem cada tra que para a primeira triagem, equipe consideramos ainda esse
caso atendido. confirmando ou não o perfil das ambiente especifico dado ao fato
A família é uma parceira crianças a iniciarem tratamento na de crianças com TEA serem regular-
indispensável na nossa prática e por Unidade. Em caso positivo, sucede mente afetadas com dificuldades
isso criamos um espaço terapêu- a avaliação pelos profissionais: de seletividade alimentar e ou com-
tico para que ela seja fortalecida terapeuta ocupacional, fonoaudió- pulsão alimentar. A construção de
nesse processo de seguimento dos logo e psicólogo, para elaboração do habilidades sociais integra esse
filhos que, por vezes, tornam-se, seguimento terapêutico indicado espaço comum à equipe de profis-
para ela, muito difícil. Temos cons- para as crianças avaliadas. sionais.
ciência do valor de uma intervenção Ainda, antes do início das Atualmente está sendo
proposta e realizada junto com a intervenções, são realizadas as inaugurado a sala de Treinamento
família. A mediação favorável da entrevistas com o serviço social e Funcional onde terá ainda Yoga e
família junto com a equipe enfermagem objetivando para Meditação; sala de Informática;
estabelece um diferencial conhecer melhor as condições de sala de Robótica; sala de Games
significativo à aquisição de novas saúde e socioeconômicas da criança Interativos; sala de Arteterapia
habilidades por parte da criança e e sua família. Terminado as primei- com Teatro, Pinturas e Danças; sala
do adolescente. ras entrevistas e avaliações se dá o de Psicomotricidade; Espaço de
O CONECTA, além de espaço agendamento para início do trata- Convi-vência com lanchonete;
terapêutico, é também um encon- mento na Unidade. Cantinho do Sossego e outro de
tro de vários profissionais compro- A equipe é composta por Leitura.
metidos com a aprendizagem e Neurologistas pediátricos, Tera- Funcionamos pela manhã
qualificação continuada de suas peutas Ocupacionais, Psicólogos, através do SUS e a tarde o CONEC-
práticas. E para isso segue, junto ao Fonoaudiólogos, Musicoterapeu- TA está aberto para convênios e
IPREDE, com parcerias de várias tas, Assistente Social, Enfermeiro, particulares com preço social que
universidades e instituições de Pedagogo e Pediatras. Oferecemos atenda famílias em busca de trata-
ensino e pesquisa. Está sempre ambientes terapêuticos de prática mento de qualidade.
aberto para campo de práticas clínica em consultório para cada Venha nos fazer uma visita e
buscando aprimorar cada vez mais uma das profissões listadas acima conhecer nosso trabalho.
9
Neurologia
O RESPEITÁVEL
AUTISMO
“
Transtorno do espectro autis- que nos motiva diariamente a
ta (TEA)” e “autismo” são trabalharmos em uma equipe
palavras cada vez mais fala- interdisciplinar, a fim de melhor
das nos meios científicos e assistir às famílias que contempla-
sociais. Essa condição neurológica, mos, além de nos comprometer-
orgânica, psicológica e social é cada mos em dar um atendimento de
vez mais estudada e intrigante para qualidade.
nossa medicina atual. As notícias Existe a possibilidade de
André Manganelli se multiplicaram, conteúdos nas outras doenças (comorbidades)
Médico. Residência em Neurologia redes sociais e publicações cien- associado a pessoas com TEA, já
Pediátrica pelo HCFMRP-USP. Mestre em tíficas se disseminaram ampla- descritas na literatura, são algu-
Neurologia e Neurociências Clínicas pelo
HCFMRP-USP. Neurologista infantil no mente. Em documentários, progra- mas destas: Transtorno do Deficit
CONECTA-IPREDE. mas televisivos, filmes, séries e até de Atenção e Hiperatividade
mesmo em rodas de conversas o (TDAH), Transtornos de linguagem,
autismo se tornou um assunto Transtornos de humor e/ou de
corriqueiro. ansiedade, Epilepsia, Déficit inte-
Atualmente, praticamente lectual e Distúrbios de sono. Estas
todas as pessoas sabem algo sobre comorbidades precisam ter seus
o tema ou conhecem alguém que diagnósticos bem claros e estabe-
tenha esta suspeita ou diagnóstico. lecidos para não ser um fator confu-
A busca e a necessidade por infor- ndidor no diagnóstico e assim atra-
mações a respeito do assunto exi- sar ou atrapalhar a melhor conduta
gem de nós, profissionais de saúde; tera-pêutica para essas pessoas.
sobretudo neuropediatras, uma A função do médico neuro-
responsabilidade social e ética em pediatra é também prestar assis-
contribuir com conteúdos sérios em tência clínica, tratar as intercor-
meio a tantas notas truncadas, rências médicas. E ainda auxiliar no
conhecimentos e interpretações planejamento terapêutico, no pro-
errôneos e oportunismos que des- gnóstico das crianças, na segunda
norteiam àqueles que procuram opinião junto a outros médicos, na
ajuda e orientação sobre o mundo composição de equipes interdisci-
do autismo. plinares, nas orientações aos pais e
O diagnóstico é clínico. familiares e quando for solicitado,
Isabel Norões Ainda hoje, nenhum exame com- na formulação de políticas públicas
Médica. Residência em Neurologia Infantil
plementar é suficiente para confir- relacionadas as pessoas com TEA
pelo HCFMRP-USP. Especialista em mar com precisão a condição do ou outras temáticas.
Neurofisiologia pelo HCFMRP-USP. autismo, pois a clínica é soberana. As muitas mudanças no
Neurologista infantil no CONECTA-IPREDE. Pautados pela experiência profis- decorrer da vida da criança com TEA
sional com fiel embasamento nas e na de sua família como um todo,
evidências científicas vigentes e principalmente após saber do dia-
principalmente no Manual Diag- gnóstico, a relutância muitas vezes
nóstico e Estatístico para Doenças em aceitar a condição, a falta de
Mentais – 5° edição (DSM-5); que apoio, o reconhecimento da neces-
nos guia nos critérios para a sidade de ter as terapias em sua
formação do pensamento diagnós- rotina semanal, é que percebemos
tico, são os recursos que temos a necessidade e a importância de
para darmos a correta elucidação caminhar junto a essas famílias,
clínica. Por isso, o atestado desta demonstrando empatia e acolhi-
condição médica é o grande desafio mento às suas demandas tão
10
Neurologia
AMAMENTAÇÃO É FUNDAMENTAL
PARA À VIDA
11
Terapia
VIVENDO SENSAÇÕES:
A TERAPIA ISA E A
CRIANÇA AUTISTA
sentido para nós, ou de pouco rial. Nem toda criança com disfun-
adiantariam e nos serviriam em ção de integração sensorial possui
nosso dia-a-dia. O processo que autismo, mas quase sempre uma
combina sensações diversificadas criança autista possui disfunção de
do ambiente ao nosso redor e tam- integração sensorial, fazendo com
bém sensações do nosso próprio que para elas, mesmo simples tare-
Brunna Uchoa corpo, que organiza todas as partes fas pareçam muito difíceis. Con-
Terapeuta Ocupacional do CONECTA- para que funcionem como um todo tudo, vale ressaltar que cada crian-
IPREDE e da Clínica habiliTO. Certificada
internacionalmente em Integração se dá o nome de integração sen- ça com dificuldades de integração
Sensorial de Ayres pela CLASSI. Mestranda sorial. sensorial apresenta sua própria
em Saúde da Mulher e da Criança pela O nosso cérebro é o principal configuração de sintomas, portan-
Universidade Federal do Ceará (UFC). envolvido nessa organização, loca- to, vivencia diferentes desafios no
lizando, classificando e ordenando seu cotidiano.
sensações, assim como um guarda A presença de diferenças
de trânsito organiza o movimento e sensoriais está tão evidente na vida
A
s sensações estão presen- direção dos carros. Quando as de crianças com autismo que se
tes em nossas vidas sensações fluem de uma maneira tornou um dos critérios para chegar
desde antes de nascer- integrada e organizada, o cérebro ao diagnóstico. O fato é que muitas
mos. O bebê vivencia usa essas informações para de- crianças com autismo e que têm
sensações mesmo dentro do útero senvolver percepções, comporta- dificuldades de integração senso-
materno quando sente os movi- mento adequado e aprendizagem. rial têm sua participação em ativi-
mentos do corpo da mãe, escuta No entanto, quando o fluxo das dades diárias afetadas. Assim,
seus batimentos cardíacos e sente sensações não é integrado e orga- atividades como: interação social,
o contato seguro do útero envolver nizado como deveria, a vida pode brincar, autocuidado como se vestir
todo seu corpo. O fato é que somos ser como um engarrafamento em ou escovar dentes, aprendizagem e
desde sempre seres sensoriais. Nós horário de pico. comportamentos adequados se
experimentamos a vida através dos A integração sensorial ocor- tornam verdadeiras batalhas para
nossos sentidos, afinal as vivências re de maneira automática na elas. De fato, a integração sensorial
das sensações estão em todos os maioria das pessoas e todas as é um processo invisível aos nossos
lugares, pois o mundo é um lugar crianças precisam desenvolvê-la olhos, mas quando não acontece de
sensorial. para interagir de maneira efetiva maneira efetiva, pode afetar a
As sensações são importan- com o mundo. Contudo, algumas qualidade de seus produtos: com-
tes fontes de informação para o crianças apresentam dificuldades portamento adaptativo e a apren-
nosso cérebro. Nós sabemos que os em seus processos de organização dizagem. A melhor maneira que
alimentos nutrem o nosso corpo à das sensações do próprio corpo e do pais e professores têm de observá-
medida que são digeridos e proces- ambiente ao redor. Essas crianças la é identificando possíveis dificul-
sados. Da mesma forma, as sensa- apresentam o que chamamos de dades de participação e de desem-
ções são como “nutrientes” para o disfunção de integração sensorial. penho da criança em atividades que
nosso cérebro, são elas que alimen- As dificuldades de integrar as compõem sua rotina. Nesses casos,
tam o conhecimento necessário informações sensoriais podem a avaliação de um terapeuta ocu-
para direcionar nosso corpo e ocorrer com qualquer criança, en- pacional treinado é recomendada
mente. tretanto, algumas crianças que para identificar o tipo de disfunção
O mundo está cheio de expe- possuem outras condições clínicas, sensorial e assim iniciar um pro-
riências para nossas sensações e como é o caso do Transtorno do grama de intervenção.
não é de se esperar que várias delas Espectro Autista (TEA), apresen- Anteriormente, menciona-
cheguem até nós. No entanto, tam uma maior prevalência de do acima, a integração sensorial é
essas sensações precisam fazer problemas com integração senso- um processo que organiza, unifica e
14
Terapia
15
Autorregulação
O AMBIENTE E EU:
ESTRATÉGIAS DE
AUTORREGULAÇÃO
PARA CRIANÇAS
A
autorregulação é a capa- familiares e com outras crianças. E
cidade de se manter orga- ainda causando prejuízo na apren-
nizado/bem para respon- dizagem dessas crianças pela difi-
der adequadamente às culdade de filtragem das informa-
exigências do ambiente. É uma ções sensoriais do ambiente impe-
Ana Beatriz Cavalcante habilidade usada para conseguir dindo a detecção de informações
Terapeuta Ocupacional com Certificação
Internacional em Integração Sensorial. compreender e conduzir os compor- importantes e o descarte das não
Especialista em Psicomotricidade pela tamentos, controlar impulsos e importantes.
Universidade Estadual do Ceará (UECE). pensamentos. A criança que está Alguns sinais de dificuldade
Trabalha na Clínica habiliTO.
autorregulada consegue estar na autorregularão são comporta-
pronta para agir de acordo com as mentos facilmente observáveis em
necessidades da situação para uma algumas crianças. Crianças que são
interação eficaz com o ambiente, mais agitadas, que apresentam
uma aprendizagem efetiva, assim uma movimentação maior que o
como participar efetivamente do esperado ou que são aparente-
seu cotidiano. mente mais sonolentas, e ainda,
Uma autorregulação eficien- que têm dificuldades de focar
te promove a resistência a distra- atenção em uma determinada ati-
ções, a persistência frente a dificul- vidade e então observam tudo, mas
dades, as respostas adaptativas e não se detém em nada. O compor-
flexíveis, o controle e manejo do tamento pode mudar de acordo
comportamento, das ações, das com a situação e ou com o ambien-
emoções e principalmente da moti- te. Existem também sinais de des-
vação interna para só então a regulação mais interna como o au-
criança atingir seu objetivo. E aí mento da frequência cardíaca, da
você consegue deter a atenção frequência respiratória, a mudança
dela, para brincar, realizar suas na coloração da pele, sudorese,
tarefas, estabelecer relações ade- sensação de estar quente, medo,
quadas com seus colegas se inte- dor de barriga, essas coisas que
grando e respondendo as questões podemos sentir de repente diante
Edda Araújo da escola. as situações novas, inesperadas e
Terapeuta Ocupacional. Existem alguns fatores que desafiadoras que são completa-
Mestre em Psicologia pela Universidade
de Fortaleza (UNIFOR). Coordenadora podem influenciar diretamente na mente comuns a cada um de nós.
do CONECTA-IPREDE e da Clínica habiliTO. autorregulação, nesse caso o diag- Uma autorregulação defici-
nóstico de Transtorno do Espectro tária numa criança pode causar
Autista - TEA com as suas especifi- impacto no seu cotidiano de forma
cidades como a inflexibilidade de a afetar o desempenho nas ativida-
comportamento, as dificuldades de des de vida diária, no brincar, na
comunicação e de interação social. participação social e o no desem-
E ainda temos a Disfunção de penho acadêmico na escola. Por-
Integração Sensorial que dificulta o tanto, muitas vezes uma criança
processamento de informações do com dificuldades de autorregular-
ambiente, não sendo possível se necessitará do auxílio de um
responder de forma adequada às adulto para alcançar um nível
necessidades do mesmo, impac- adequado de bem-estar consigo
tando negativamente nas relações mesma e promover sua partici-
16
Autorregulação
17
Bruxismo
Autismo
SINAIS DE AUTISMO
E INTERVENÇÃO
PRECOCE
O
nascimento de uma crian- bem. Quando ele não responde da
ça traz um contexto de forma esperada, ocorre o medo, a
mudanças, exigindo mui- dúvida e a busca pela compreensão
tas vezes uma adaptação do motivo.
na rotina vivida pela família. A A possibilidade de o bebê
vivência desse nascimento celebra esperado nascer com alguma
uma nova fase na vida dos pais, dificuldade é motivo de angústia
fazendo surgir sentimentos muitas para os pais/cuidadores, mas são
Ivana Carvalho vezes ainda não experimentados, esses geralmente os primeiros a
Psicóloga do CONECTA-IPREDE.
Pós-graduanda em curso de especialização gerando expectativas para a chega- perceberem quando algo não está
em Autismo pelo Centro Universitário da desse pequeno sujeito. A criança bem. Por vezes, essa suspeita os
Christus (UniChristus). é sonho acalentado pelo adulto, encoraja a buscar um profissional
desde criança, de se tornar mãe e para avaliar sua criança, porém
pai, mas algumas vezes, vem para algumas vezes se deparam com
realizar os sonhos frustrados dos orientações vagas. Estudos sobre a
pais, sonhos que eles deixaram pelo infância afirmam que o desenvol-
caminho. vimento nem sempre acontece
O sonho da Parentalidade igual, pois depende de diversos
(pai e mãe) é plantado na história fatores, como: hereditariedade,
infantil de cada um. Os pais, antes história familiar, ambiente domés-
do seu nascimento, falam, pensam, tico, dentre outros. Por esse moti-
e organizam o quarto, o berço ou a vo, é indicado que os pais conti-
rede no qual irão dormir. Conver- nuem observando, e procurando
sam sobre o nome, como será cui- especialistas para avaliar a condi-
dado, educado; ou seja, lhe é criado ção da criança.
um lugar na família. O bebê é Nas últimas décadas, devi-
reconhecido como um pequeno do aos avanços das pesquisas e
sujeito (pessoa) quando chamado estudos observacionais das crian-
pelo seu nome, reconhecido pelos ças no próprio ambiente familiar,
seus desejos e na conversa íntima pela facilidade tecnológica em
entre os pais e ele. Esta referência é filmar os filhos (as), parece haver
importante, pois lhe permite se um aumento ou uma melhor
saber no mundo. detecção dos transtornos ligados
Jessica Freire Sales Ponte A partir do nascimento os ao neurodesenvolvimento da crian-
Psicóloga. Mediadora no Instituto da ça. Entre os diversos transtornos do
Primeira Infância - IPREDE.
cuidados irão construir essa relação
Especialização em andamento: (criança/pais/mundo) que será neurodesenvolvimento temos o
Clínica Interdisciplinar em Estimulação mediada por diversos fatores. Por Autismo, caracterizado por difi-
Precoce pelo Centro Lydia Coriat. culdades já conhecidas. Sua origem
exemplo, quando o bebê está
aprendendo a falar e inicia a voca- pode acontecer nos primeiros anos
lização das primeiras palavrinhas, de vida ou nos primeiros meses de
os pais começam a pressupor que o vida? Porém, sua trajetória inicial
bebê está falando papai, mamãe, não segue uma regra, em algumas
água, antes do mesmo falar crianças, os sintomas são aparen-
literalmente. Essa antecipação é tes logo após os primeiros meses
importante e esse conhecimento se de vida, mas na maioria dos casos,
dará através da relação. Sendo no entanto, os sintomas só são
assim, quando os pais observam no identificados entre um e dois anos
bebê ou na criança alguma dife- de idade.
rença do esperado, algo não vai A lógica de um diagnóstico
18
Autismo
19
Brincar
Coronavírus
TÁ NA HORA DE
BRINCAR
O
brincar é um desafio para criança com o brincar promove a
pais e profissionais devido possibilidade de um desenvolvi-
a sua ampla variação de mento esperado, ou seja, harmo-
significados. Por vezes, se nioso e capaz de ser integrado a
Ivelise Santos Muniz Gurgel pensa que é tudo o que se faz em vida social e suas necessidades. E é
Terapeuta Ocupacional da Unidade de tempo livre; em outras circunstan- nessa harmonia que a infância
Assistência à Criança Autista – CONECTA- cias se pensa em lazer, recreação, acontece, cheia de faz de conta,
IPREDE. Especialista em Desenvolvimento atividade de diversão, jogo e fantasias e situações magicas
infantil pela Universidade Federal do
Ceará (UFC). brincadeira. Aqui consideraremos o multiplicando a capacidade de
brincar como uma atividade que se entender, se relacionar e criar
apresenta a partir de uma moti- atribuições típicas do dia a dia.
vação interna, da criança, onde ela Quando pensamos no
não se preocupa com a finalidade desenvolvimento atípico, diferente
de sua ação e sim como a processa, do esperado, buscamos compreen-
realiza, sente. Portanto, é movida der qual o lugar do brincar nestas
pelo seu prazer na ação de brincar. É situações. A partir do que foi dito
uma prática que conduz a um sobre a relevância do brincar no
mergulho em si, retirando-a da desenvolvimento infantil, crianças
realidade para alcançar o faz de com caraterísticas comportamen-
conta. E por isso é, também, uma tais diferentes podem ser brincan-
ação livre de regras que possibi- tes? Independente de quaisquer
litam um envolvimento ativo do dificuldades a criança brinca? Como
brincante consigo mesmo e com o não considerar o fato de que o
ambiente. brincar é tão fundamental como o
A maior e melhor caracterís- ar que se respira, logo, se a criança
tica do brincar estar em oferecer a diferente existe ela brinca. Ou seja,
infância um desdobramento de a oportunidade e o enriquecimento
conquistas do desenvolvimento das rotinas são indispensáveis para
infantil que abrange muitos dos o ser brincante. Independentemen-
Edda Araújo aspectos que nos definem. Agrega te de qualquer diagnóstico, situa-
Terapeuta Ocupacional. experiências enriquecedoras para a ção social, raça e credo a criança
Mestre em Psicologia pela Universidade
de Fortaleza (UNIFOR). Coordenadora inserção na cultura em que faz brinca.
do CONECTA-IPREDE e da Clínica habiliTO. parte, na conquista de autonomia e A criança com Transtorno do
na interação de fatores específicos Espectro Autista – TEA com suas
da sua rotina em casa, na escola e especificidades na relação com o
na participação social. Enfim, o outro, ambiente e sociedade; e na
brincar é para a criança, o que o ar é comunicação social também pode e
para a nossa sobrevivência. deve brincar. Precisamos compre-
A criança depende do brincar ender e adequar as ofertas do
para um desenvolvimento saudável brincar que possam permitir ex-
de habilidades e competências que ploração de objetos, conhecimento
viabilizam sua capacidade de ex- e desempenho funcional para
plorar e atender as suas expectati- apreender sobre a atividade de
vas de realização. No universo do brincar. Já é de conhecimento
brincante o envolvimento da acadêmico que a criança com TEA
20
Brincar
21
Fonoaudiologia
ALIMENTAÇÃO
E AUTISMO
numa experiência sensorial e deixem de ser algo prazeroso e de
motora, pois envolve todos os lazer interferindo diretamente nas
sentidos de forma coordenada questões afetivas/emocionais e
(visão, tato, olfato, paladar e au- sociais da criança e seus familiares.
dição, além da musculatura do
rosto) e de conhecimento, pois o
Najla dos Santos de Sousa bebê começa a ter noção de si. O mais importante no
Fonoaudióloga do CONECTA-IPREDE. Depois da mama, vem a papinha, as processo de terapia é a
frutas, os alimentos sólidos e
calma, a paciência, a
A
começar pelas tribos quando chega os quinze meses a
antigas até as megacida- criança come os alimentos de sua criatividade, a persistência,
des de hoje, a alimenta- família e comunidade. Algumas e a parceria entre família e
ção se constitui uma vezes ocorrem dificuldades nestas terapeutas a partir de um
parte importante do convívio social. transições alimentares por ques-
Sempre, homens, mulheres e crian- tões sociais, psicológicas e orgâni- trabalho interdisciplinar
ças se encontram nas refeições, cas. Algumas crianças com autismo como o proposto pela
para comer e conversar; sobretudo demonstram dificuldade nas tran- Unidade Conecta.
quando do domínio da aprendiza- sições alimentares e seletividade
gem de cozinhar os alimentos. O em relação a determinados tipos de
papel da alimentação para a forma- comida. Um dos motivos das difi-
ção da sociabilidade se mostra por Alimentação e autismo é culdades de alimentação da criança
ser uma fonte de prazer, de come- um tema muito delicado pois é uma autista está relacionado a trans-
moração, de confraternização, qua- das principais queixas apresenta- tornos de modulação sensorial e ou
se todas as festas e cele-brações das por pais e cuidadores em con- de discriminação sensorial, difi-
existem alimentos, algu-mas vezes sultórios médicos e clinicas espe- culdade da criança em regular o
especiais em determina-das datas. cializadas, sendo causa frequente grau, intensidade e natureza das
Esta agregação ao redor da comida de conflitos nas relações entre pai, respostas aos estímulos sensórias,
remete à dupla função do alimento: mãe, filhos e/ou cuidadores. O mo- aqueles que chegam ao corpo;
combustível para fazer funcionar o mento da refeição está carregado assim como, a dificuldade de
corpo e laços afetivos (vínculos) de significados e características discriminação do que chega pela:
entre as pes-soas, uma excelente pessoais nos quais incluem sele- visão, audição, paladar, tato, olfa-
fonte de energia para o corpo e a tividade alimentar, recusa alimen- to, vestibular e propriocepção. Os
alma. A alimentação pode ser tar, repertorio restrito de alimen- sistemas da audição, visão, olfato,
considerada uma fonte de força tos, ingesta de apenas um tipo de paladar e tato estão integrados
motora para a evolução humana, alimento ou compulsão alimentar. para favorecer a alimentação, no
tanto no passado como nos pró- Constitui um desafio para os pais/ entanto, quando esse proces-sa-
ximos séculos, pois o comer é um cuidadores, permeado de angustia, mento sensorial tem algum proble-
ato social e de lazer que vai além do pois, o comportamento da criança ma pode provocar um transtorno.
alimentar-se e do nutrir-se. fere a imagem de prazer dos ali- A criança com transtorno
O processo de alimentação mentos, leva ao medo da desnutri- alimentar não deixa de comer por
inicia-se com amamentação e ção ou deficiência dos micronu- birra, implicância ou falta de edu-
evolui de acordo com o desenvolvi- trientes (ferro, zinco, vitaminas e cação; ela o faz devido a uma prová-
mento da criança. Quando nasce o outros), assim como a obesidade vel desregulação sensorial. Desta
bebê sabe sugar, mas o amadureci- em determinados casos. Tudo isso forma não adianta deixar a criança
mento das estruturas orofaciais torna o ambiente familiar propicio sem comer no intuito dela sentir fo-
(musculatura do rosto) e gástricas ao estresse, conflitos e brigas fa- me, nem tão pouco forçar a alimen-
(digestão do alimento) constitui zendo assim com que as refeições tação, de outra forma, também não
24
Fonoaudiologia
deixar ela comer tudo que vê pela em um maior esforço para a masti- questões multifatoriais apresen-
frente. Os pais/cui-dadores preci- gação, problemas gastrointesti- tando fatores orgânicos, emocio-
sam de informações dos profissio- nais, alergias, entre outras. A crian- nais e sociais promovendo um dos
nais que atendem ao filho (a) e com ça, por várias vezes, não saber lidar grandes problemas na assistência
o tempo mudar seus hábitos e ou com o alimento em sua boca, preci- terapêutica da criança Autista. A
mediar o processamento sensorial sando da cooperação e compreen- alimentação mexe com a cabeça
no momento de alimentar a são dos pais/cuidadores, familiares dos pais quando seus filhos não se
criança. A melhor maneira é unir as e profissionais para executar a alimentam adequadamente e pode
orientações dos terapeutas com a mastigação, deglutição ou outra gerar um mal-estar significativo na
percepção deles sobre como a ação. Quando isto não ocorre au- regulação emocional dos filhos
criança gosta de participar da menta a possibilidade de padrões provocados por esse desequilíbrio
refeição junto com as informações de comportamento restritos, repe- familiar. O mais importante no
familiares sobre sua rotina titivos ou estereotipados por parte processo de terapia é a calma, a
alimentar. da criança e pode levar a uma paciência, a criatividade, a persis-
Outros fatores que contri- atitude de inflexibilidade ou insis- tência, e a parceria entre família e
buem para os distúrbios/trans- tência dos pais/cuidadores. Comp- terapeutas a partir de um trabalho
tornos alimentares estão rela- ortamentos que se reforçam, num interdisciplinar como o proposto
cionados a busca por prazer no ciclo sem aparente saída, daí a pela Unidade Conecta. Somos uma
momento de comer, atraso nas função da parceria com o profissio- equipe de profissionais que utili-
habilidades orais, flacidez da mus- nal. Manter essa mesmice impede zam da interação de seus saberes
culatura dos órgãos fonoarti- que a criança tenha uma melhor para viabilizar uma educação e ou
culatórios (músculos responsáveis aceitação dos alimentos. reeducação alimentar saudável e
pela articulação da boca, deglutição Pode-se observar que a ali- funcional no cotidiano das crianças
dos alimentos e fala) o que resulta mentação e o autismo nos trazem Autistas.
25
Fonoaudiologia
COMPREENDENDO
A COMUNICAÇÃO
NO TEA
gam as primeiras palavras e depois para expressar a vontade ou a escri-
as junções das palavras em frases e ta para anotar o nome do seu hotel,
conversas. Esse caminho da comu- desenhos que possam representar
nicação se dá com as experiências uma placa.... Resumindo, a comu-
Raquel Souza vividas pela criança com o meio e vai nicação humana é uma habilidade
Fonoaudióloga. Especialista em sendo refinada e fundamentada na fina e cheia de pequenos detalhes,
Fonoaudiologia Hospitalar e Capacitação linguagem e na fala. mas cheia de possibilidades.
em: PEC'S, Apraxia de Fala na Infância, A linguagem abrange um Esse exemplo é o que cha-
Comunicação Suplementar e Alternativa
pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). conjunto de habilidades, tais como mamos de comunicação funcional,
a elaboração do pensamento, as isto é, quando alguém consegue se
ideias, compreensão da mensagem fazer entender para o outro, inde-
e está diretamente relacionada pendentemente do tipo de comuni-
com a intenção comunicativa, ou cação usada, se é gesto, fala ou
seja, é a parte criativa que acontece escrita.
antes do verbalizar. Essa lingua- Nem sempre a comunicação
Q
uando nascemos descobri- gem se materializa em fala que é o acontece harmonicamente, pois há
mos aos poucos a comuni- ato concreto do movimento que diversas habilidades que mesmo
cação. Os bebês a iniciam fazemos para falar, quero dizer, é o em crianças típicas podem ocorrer
com o mundo externo comando que o cérebro envia para fora do caminho previsto. Em crian-
através do choro e do olhar. Já nessa os músculos se movimentarem e ças com transtorno do espectro
fase conseguem estabelecer uma produzirem os sons de forma se- autismo (TEA), essa “escada” do
relação de comunicação com recep- quenciada, organizada e sincroni- desenvolvimento da comunicação
ção e expressão como resultado de zada. A linguagem e a fala são acontece de forma diferente. Elas
um processo desenvolvido a partir dependentes e interligadas, funcio- têm em sua característica dificul-
da identificação inicial entre mãe e nam em conjunto. dades para se comunicar e com-
filho, que neste momento passa a A comunicação é o diálogo preender as diversas maneiras que
reconhecer se o choro é de fome, ou a soma que resulta da lingua- a usamos no meio social. Essa
sono ou cólica. Nesse processo as gem e da fala. Vamos entender dificuldade se transforma em
conquistas vão se apresentando como acontece a dinâmica da “atrasos” significativos no desen-
com o sorriso social, o reconheci- comunicação: volvimento da fala e linguagem.
mento da voz da mãe, sua localiza- É indispensável a presença As características comuns
ção auditiva interagindo cada vez de uma pessoa emissora/falante e que as crianças com TEA podem
mais com o meio e com os pais/ outra pessoa receptora/ouvinte apresentar são:
cuidadores. que irão transmitir uma mensa- Falta de interesse comuni-
Em torno dos seis meses gem. Exemplificando, imaginem ir cativo. Preferem ir diretamente
surgem os primeiros balbucios, à um país onde o idioma local é pegar o objeto desejado do que
(mãmã, pápá). Então, começa a desconhecido, e você sem recursos pedir para uma pessoa, muitas
experimentar os sons, os gritos, a tecnológicos (smartfone, computa- vezes “ignorando” a presença do
reação dos pais, a emissão das dor, etc.) para auxiliar. Imaginou outro. Ou simplesmente a utilizan-
primeiras sílabas, e nesse momen- que complicado seria? Mediante do como ferramenta de alcance
to podemos considerar que o bebê essa simulação, é possível haver para o objeto.
está falando. As conquistas moto- comunicação? Dificuldade na compreensão
ras que estão acontecendo promo- A resposta é: sim! Podemos do que uma pessoa diz quando
vendo controle postural e marcha usar outros recursos comunicati- solicitado para fazer uma ação,
facilitam o domínio da fala e che- vos, como por exemplo; os gestos essa criança não consegue compre-
26
Fonoaudiologia
27
Luto
DO LUTO À LUTA
NO AUTISMO
N
ascemos envoltos num familiar, no período da gravidez,
ambiente formado por naquele momento de espera, tenha
pessoas e coisas, onde idealizado uma criança com TEA e
precisamos habitar, no este é o conflito interno, vivenciado
qual, nos adaptamos a cada mo- por eles, quando da notícia do
mento. O desafio presente em diagnóstico. Uma criança com
todas as pessoas que fazem parte diagnóstico de Transtorno do
deste ambiente é viver o influenciar Espectro Autista (TEA) experimen-
Otaciana Araújo de Aguiar e ser influenciado por ele; construir tará, com maior singularidade, seu
Psicóloga do CONECTA-IPREDE e relações com os outros e os objetos processo de desenvolvimento
mediadora do Instituto da para enriquecer quem somos, e humano, junto com sua família.
Primeira Infância - IPREDE. este processo chamamos de desen- Muitas questões surgem, a
volvimento humano. Em cada pes- partir deste momento, como no
soa este desenvolvimento é único, cuidar, educar e o que esperar do
como as digitais de nossos dedos. suporte dos profissionais. Eles
O início desse processo de precisam de profissionais de saúde,
desenvolvimento começa desde a educação e assistência social,
gestação e segue na infância, onde sensíveis, pois é na família que
as primeiras trocas afetivas ocor- diariamente ocorre a expressão dos
rem entre o corpo do feto e o corpo comportamentos socialmente
da gestante. Daí a importância inapropriados, das estereotipias
daquela conversa, o toque na (movimentos repetitivos), das
barriga, as falas amorosas do pai e agressões e dos prejuízos significa-
dos familiares, a preparação para a tivos na comunicação e interação
chegada da criança. Quando a mu- da criança.
lher está envolta neste momento De acordo com a Organiza-
da gestação é tomada pela imagem ção Mundial da Saúde (OMS), a
idealizada da criança que irá nascer, qualidade de vida da pessoa está
uma preparação para o futuro relacionada à percepção que tem de
diálogo amoroso entre o bebê e sua seu lugar na vida, de suas relações
mãe. Após o parto, com a criança sociais, de seu sistema de valores e
em seu colo, a imagem se trans- o quandoou quanto? Este conjunto
forma pelas primeiras comunica- de coisas faz sentido na sociedade e
Vanessa Alves do Nascimento ções daquele pequeno ser. São cultura em que ela está inserida.
Assistente Social do CONECTA-IPREDE. profundas mudanças que ocorrem Quando o nosso foco se desloca
Pós-graduanda em Saúde Pública,
Política, Planejamento e Gestão pela Estácio. com a entrada da criança na família, para a pessoa e/ou a criança com
mesmo quando não é o primeiro TEA, o descompasso entre as
filho. formulações individuais, familiares
Algumas vezes os pais/ e coletivas ficam evidentes; este é o
mães/cuidadores começam a per- eixo da luta deles, das famílias,
ceber uma diferença no comporta- amigos e profissionais pelos os
mento da criança em relação às direitos da pessoa com TEA.
outras, ou aos irmãos, quando na Em nossa experiência de
mesma faixa de idade; parecem atendimento na Unidade de Assis-
diferentes, não respondem da mes- tência à Criança com TEA – Conecta
ma forma ou quando respondem do Instituto da Primeira Infância
não conseguem compreender a (IPREDE) tanto na psicologia como
resposta da criança. Podemos no serviço social; no exercício de
pensar que nenhum pai, mãe ou uma escuta sensível, temos muitas
28
Luto
29
assessoria e sistemas
Ambulatório de Especialidades
Assistência Farmacêutica
Centro de Diagnóstico por Imagem
Operadora de Planos de Saúde
Laboratório de Análises Clínicas
Laboratório de Patologia
Hospital
Unidade de Pronto Atendimento
Saúde da Família
SERVIÇOS
Tão importante quanto oferecer sistemas de alta qualidade que atendam
plenamente as expectativas das empresas, é executar com competência
serviços de implantação, treinamento, atendimento, entre outros, de forma
com que os usuários possam aproveitar todos os benefícios que as soluções
Aptools oferecem.
Coronavírus
Educação
O AUTISMO NA
ESCOLA
tanto, precisamos primeiramente entre escola e família, tendo um
refletir sobre a importância destas olhar sensível, atento e compre-
crianças serem inseridas no ensino ensivo para desenvolver suas
regular e no atendimento educacio- habilidades de acordo com o que a
nal especializado (AEE) na rede criança é capaz de fazer e aprender,
pública de ensino. partindo sempre do contexto ao
Existe a necessidade de uma qual está inserida, com o seu
adaptação dessa prática pedagó- desenvolvimento e potencial, de
Samya Lima gica para interferir na aprendiza- acordo com sua idade e o seu
Pedagoga pela Universidade do Vale do gem dessas crianças, como definir interesse.
Acaraú (UVA). Psicóloga pela Universidade objetivos educacionais e avaliação A família é responsável por
de Fortaleza (UNIFOR) e
Neuropsicopedagoga pela UniAteneu. para verificar características espe- grande parte deste aprendizado
cíficas de cada dificuldade e forma também, bem como de estimular a
individual de aprender, pois suas socialização de seus filhos pro-
particularidades variam e conse- pondo momentos de interação com
quentemente o processo de apren- outras crianças em espaços abertos
A
atual dinâmica educacio- dizagem. Neste contexto buscar e terapêuticos, sendo importante
nal e o aumento dos ín- meios, estratégias, teorias e méto- planejar, conversar com antece-
dices dos transtornos de dos facilitadores para ajudá-los a dência para que não haja impre-
desenvolvimento impul- ter independência e qualidade de vistos. A antecipação do que irá
sionaram novas práticas educacio- vida é o que transforma a escola em acontecer faz a diferença entre
nais e novas intervenções terapêu- local de conquistas. uma experiência bem-sucedida de
ticas. Para o desenvolvimento Dentro da escola a interven- outra não.
escolar das crianças com trans- ção pedagógica parte do estudo de A criança com Transtorno do
tornos do desenvolvimento ou uma análise e relatórios de uma Espectro Autista - TEA apresenta
transtornos de aprendizagem, são equipe multidisciplinar sobre os como uma das suas características
necessárias relações entre as diagnósticos, o quanto antes defi- a resistência a mudanças, no
práticas educacionais e a com- nido, para uma melhor efetivação entanto, podemos usar a rotina a
preensão das dificuldades neuro- possível de realizar intervenções favor dela ao mudar o trajeto de
lógicas, psicológicas e sociais pedagógicas apropriadas que irão lugares que costumam frequentar
destas crianças, assim como tam- desenvolver os vários aspectos que com assiduidade, afinal rotina deve
bém pontuar elementos e estraté- fazem a aprendizagem pedagógica ser ensinada desde cedo, pois
gias que possam ajudar a família, a acontecer: o cognitivo, afetivo-so- ajudam as crianças a se organi-
escola e a criança a enfrentar os cial e psicomotor. Junto a tudo isso, zarem, seguir regras, e combinados
desafios. Dessa forma, a Pedagogia estão às diretrizes regulamentares no contexto escolar promovem
ao atuar junto com uma equipe que direcionam a escola para todos. participação social significativa
multidisciplinar e em parceria com a A escola inclusiva favorece para integrar alunos no dia a dia da
família, utilizam métodos avaliati- o bem-estar e desenvolve a adap- escola.
vos que possibilitam um melhor tação correta de métodos e neces- É necessário haver essa
desenvolvimento das intervenções sitam de profissionais qualificados parceria: escola e família para que a
nos aspectos social, cognitivo e com formação continuada, plane- criança se sinta segura neste
psicomotor. jamento de um sistema de educa- ambiente e utilize sua forma de se
As crianças autistas apre- ção flexível, intervenção adequada comunicar em atividades signifi-
sentam dificuldades peculiares no e participação ativa da família e cativas, respeitando o ritmo de
processo de aprendizagem, já que comunidade escolar para responder aprendizado de cada um, exploran-
há um déficit na comunicação, na as necessidades e diversidades de do suas potencialidades e elogian-
interação social em diversos con- cada criança. do sempre suas conquistas. Além
textos e a presença de comporta- Além disso, é imprescindível do mais os hábitos de casa podem
mentos repetitivos e restritos. Por- a manutenção do vínculo afetivo ajudar no processo de aprendi-
32
Educação
33
Música
MUSICOTERAPIA E TEA
Q
uem nunca se deparou corpo da pessoa, no século XX,
cantarolando uma canção? ocorreu uma sistematização cienti-
Ela chega sem avisar e a fica dessa experiência. Essa verten-
gente para, escuta e pode te da utilização da música em
até começar a cantar. E quando o contexto clínico denomina-se mu-
ouvido percebe o som de um sicoterapia. Esta modalidade
tambor, logo os pés em sintonia, terapêutica utiliza a prática musical
acompanham com pequenas bati- e seus elementos, bem como
das no chão, outras vezes se usa as altura, intensidade, timbre e dura-
mãos, no estalar das palmas. E ção para estruturar melodia,
quantas pessoas escutam ou can- harmonia e ritmo e desenvolver as
tam músicas na faxina de casa ou experiências musicais, com finali-
Paula Franco de Almeida no momento do banho? Seja qual dades terapêuticas.
Pedagoga e musicista. Especialista em for a situação do cotidiano, a mú-
Musicoterapia e Pós-graduanda em Arte- sica está presente e faz parte da HISTÓRIA DA MUSICOTERAPIA
Educação pela Faculdade Padre Dourado e vida de todos os seres humanos, de
em Autismo pelo Centro Universitário
Christus (Unichristrus). Musicoterapeuta do tal modo que ela pode ser viven- A musicoterapia tem sua
CONECTA/IPREDE. ciada, experimentada e apreciada origem entre as duas grandes
por qualquer pessoa. guerras. Já na primeira guerra
A história não possui uma mundial foram contratados músi-
data precisa de surgimento da cos para distrair os egressos da
música, ela está envolta com as guerra que sofriam com problemas
primeiras manifestações culturais de saúde física e emocional. A
da humanidade. Ao longo do experiência musical teve bom re-
tempo, ela se expressa em diversas sultado provocando melhora nos
formas e maneiras, em todas as quadros clínicos dos doentes. No
culturas e em graus diversificados entanto, foi percebido pela equipe
de importância. Seja de maneira de saúde que o profissional preci-
social, cultural, espiritual, lazer sava além da formação musical
e/ou curativa, em todas essas também ser um terapeuta. Assim
expressões sucede a participação começaram os primeiros estudos
da música, há tantos séculos que se científicos e a constituição do saber
tornou íntima do homem. próprio da musicoterapia.
A música provoca o movi- No Brasil, os pioneiros a
mento necessário que influencia a trabalharem a música de forma
vida das pessoas diariamente. terapêutica foram educadores
Desde o período gestacional, pela musicais de crianças com deficiên-
Paulo Bruno Braga diferenciação em vários sistemas cia que, ao utilizarem a música nas
Terapeuta Ocupacional e musicista. sensoriais, primeiramente nos atividades, perceberam o quanto
Musicoterapeuta do CONECTA/IPREDE e
da Clínica habiliTO.
sentidos auditivo e tátil que se pode favorecia e enriquecia a participa-
escutar o ritmo da batida do cora- ção das crianças, provocando trans-
ção. Ele reverbera em todo o corpo formações significativas em seu
do feto e grava uma lembrança tão universo relacional. O relato dessas
forte, motivo pelo qual, as pessoas experiências propiciou no início da
não conseguem ficar paradas quan- década de 70 a criação do curso de
do assistem um grupo de percussão especialização em Musicoterapia
marcando a sua existência também no Paraná na antiga Faculdade de
na pele. Educação Musical do Paraná
Ciente do quanto à música é (FEMP). Em 2001, foi apresentado o
importante na expressão cultural projeto de lei original Nº 4827/
humana, em especial sua presença 2001, dispondo sobre a regulamen-
em rituais religiosos e de cura, pelo tação do exercício da profissão de
fato dela alterar a consciência e o musicoterapeuta. Também consta
34
Música
na Classificação Brasileira de Ocu- modificações momento a momen- com autismo já têm boa estrutu-
pações – CBO sob o número 2263- to; e a audição, é a capacidade de ração, e contribuem bastante para
05, e faz parte de procedimentos do captar e perceber os estímulos facilitar a comunicação com pes-
Sistema Único de Saúde (SUS) sonoros. soas com TEA, pois aumentam sua
dentro das Práticas Integrativas As improvisações musicais capacidade de se expressar, dimi-
Complementares; está inserida na são utilizadas como facilitadoras de nuem comportamentos como: iso-
política do Sistema Único de Assis- comunicação, nas quais se estimula lamento, hiperatividade, autoa-
tência Social (SUAS), além de estar também a expressão de emoções e gressividade, tensões emocionais,
presente em espaços privados e sentimentos. Vale dizer que algu- dentre outros.
diversas instituições pelo Brasil. mas abordagens da musicoterapia A musicoterapia consegue
(criativa, plurimodal, musico cen- estimular e melhorar os aspectos
MUSICOTERAPIA E SUAS trada) utilizam estas como nortea- que estão prejudicados nas pes-
PRÁTICAS dora para aplicação de sua prática. soas com TEA, em especial a rela-
Assim, a improvisação musical é ções interpessoais. Além disso, a
Assim, a musicoterapia sur- vista como um caminho facilitador musicoterapia promove: diminui-
ge na relação entre a prática de trocas e experiências musicais, ção das crises comportamentais,
musical e as ciências da saúde com na qual o musicoterapeuta e o estimula a criatividade, trabalha o
intenção de promover o bem-estar, paciente ou cliente constroem e foco e a atenção, aumenta as
seja no desenvolvimento, na habili- criam possibilidades musicais e habilidades sociais, aquisição de
tação ou na reabilitação física, criativas juntos. Para crianças, em liberdade expressiva, melhora a
mental e social do indivíduo. A especifico, crianças com Transtorno comunicação, incentiva a produção
musicoterapia propõe ao cliente ou do Espectro Autista (TEA) o recurso da fala e proporciona as crianças a
paciente um envolvimento num apresenta resultados compro- vivência de experiências musicais
processo musical criativo (fazer vados. que são muito prazerosas. A musi-
música), que seja significativo, do coterapia pode, também, agir sobre
qual o impulsiona a participar, sem MUSICOTERAPIA E os elementos que fazem a flexibili-
que seja necessário conhecimento CRIANÇAS COM TEA dade cognitiva, ou seja, alcançar de
prévio de música ou habilidade em forma direta e indiretamente uma
executar um instrumento musical. Na década de 1940, nos das conquistas mais nobres do
As experiências musicais, Estados Unidos, surgiram os pri- desenvolvimento que são as fun-
em ambiente terapêutico são meiros musicoterapeutas que ções executivas. Que são funções
estruturadas para dar forma às atendiam pessoas com autismo. que permitem a criação de estra-
vivências pessoais, conforme o Foi escrito em 1964, o primeiro tégias para a vida, que é uma gran-
percurso idealizado pelo musicote- artigo sobre Musicoterapia e Autis- de dificuldade para a pessoa com
rapeuta: através da criação, o mo, por Paul Nordoff, um dos cria- TEA.
musicoterapeuta favorece a criação dores da abordagem criativa da Em 2020 a Musicoterapia
real de uma ideia musical; na musicoterapia. E desde então, inú- foi reconhecida como um trata-
recriação, se utiliza uma música meras são as publicações de pes- mento baseado em evidência, ou
existente com algumas modifica- quisas sobre a eficácia da musico- seja, apresenta resultados signifi-
ções de letra, harmonia ou melodia; terapia no tratamento autismo. cativos e comprovados cientifica-
na improvisação, a criação da mú- No Brasil, os atendimentos mente como eficaz para atender as
sica é em tempo real, assumindo com Musicoterapia para pessoas pessoas com o diagnóstico de TEA.
35
Psicologia
O VÍNCULO E A INTERAÇÃO
ENTRE PAIS/CUIDADORES
E FILHOS AUTISTAS
O
humano é uma das espé- relacionadas a aprendizagem,
cies que apresenta maior memória, concentração, linguagem
condição de fragilidade ao e percepção. Assim, se afirma o
nascimento precisa, du- quanto a qualidade do vínculo entre
Ivana Carvalho
rante bom período de sua vida, ser a criança e seus pais/cuidadores é
Psicóloga do CONECTA/IPREDE. Pós-
graduanda em curso de especialização em cuidado por outro. Nenhum homem crucial na constituição do sujeito
Autismo (UniChristus). ou mulher se torna humano sem a criança, dito de outra forma, aquele
presença de outros, sem ter sido que diz quem somos, ao dizer “eu”,
alimentado, amado por uma pes- atender a seu nome e dizer o que
soa. Chama-se, em geral, esta deseja. A fragilização do vínculo, da
pessoa de mãe, aquela que ama e relação de afeto nos primeiros
cuida do seu bebê. Está ligação, contatos entre o bebê e sua mãe
união, laço entre o bebê e sua mãe pode provocar sérios riscos na
pode receber o nome de vínculo. formação do sujeito criança.
O vínculo entre o bebê e sua As crianças com o desenvol-
mãe é único pois ocorre entre uma imento atípico possuem um menor
pessoa ainda em formação tanto interesse na interação com os
em relação ao seu corpo (matura- cuidadores e o ambiente social,
ção orgânica) como a sua consciên- algumas vezes a partir do nasci-
cia e outra já adulta, já formada em mento. Nos bebês e crianças com
relação aos dois aspectos. Ele é autismo, a face humana possui
profundo e marcante, o primeiro e pouco interesse; observa-se distúr-
deixará seus traços no futuro da bios no desenvolvimento da aten-
Jessica Freire Sales Ponte criança. ção conjunta, vínculo e outros as-
Psicóloga. Mediadora no Instituto da O movimento da criança pectos da interação social. Elas
Primeira Infância - IPREDE. Especialização para sua mãe pode se chamar de podem não se engajar nos jogos
em andamento: Clínica Interdisciplinar em
Estimulação Precoce pelo afeto, se estabelece logo nos habituais de imitação da infância
Centro Lydia Coriat. primeiros dias de vida entre o bebê (esconde-esconde), gastam um
e seu cuidador. Compreende-se a tempo excessivo explorando o
necessidade da criança de se sentir ambiente inanimado, sem partilhar
segura e protegida, e isso é de com os pais ou familiares. As
grande importância para o desen- habilidades lúdicas, além da explo-
volvimento social, afetivo e cogniti- ração sensorial dos brinquedos,
vo da mesma. Verifica-se a qualida- podem estar completamente
de do vínculo em crianças típicas ausentes. Este conjunto de fatores
quando essas se sentem seguras geram nos pais/cuidadores angús-
na presença de seus pais/cuida- tias por não conseguirem interagir
dores. Algumas vezes tal situação com seu filho.
não se estabelece e pode gerar risco O vínculo dos pais/cuida-
no desenvolvimento da criança. dores com seus filhos autistas
Nas últimas décadas, com precisa se adaptar, favorecendo um
os avanços dos estudos da neuro- novo aprendizado para lidar com
ciência, psiquiatria, pediatria, psi- essa realidade. As necessidades em
cologia e psicanálise se destaca os torno da criança serão maiores, com
Otaciana Araújo de Aguiar estudos que apontam para impor- rearranjos na dinâmica familiar. O
Psicóloga do CONECTA-IPREDE e tância dos vínculos para a formação novo desenho do vínculo e das
mediadora do Instituto da do cérebro e o sujeito criança. Ele expressões afetivas dependerá das
Primeira Infância – IPREDE. também faz eco nas aquisições crenças e valores dos pais/cui-
36
Psicologia
37
Enfermagem
O CUIDAR DA ENFERMAGEM
DA CRIANÇA COM TEA
O
cuidado integral ao ser respiratórias e dermatológicas,
humano é compreendido antes do início dos atendimentos
em sua saúde física, so- com a equipe multidisciplinar,
cial, biológica, psicológica visando assim reduzir a possibi-
e espiritual. Neste contexto, a con- lidade de contagio entre os pacien-
sulta de enfermagem permite tes e terapeutas.
desenvolver e potencializar o auto- Outra prática, bem comum,
cuidado do indivíduo ou da família. que envolve a atividade do enfer-
A saúde da criança é acompanhada meiro no Conecta é a realização de
através de um Programa de Pueri- Educação em Saúde. Tem como
cultura que incluem ações direcio- objetivo o cuidar coletivo, através
nadas ao crescimento, desenvol- desse método de trabalho em
José Osivan Junior vimento e prevenção de agravos à grupo são repassadas orientações
Enfermeiro, especialista em Promoção do criança. sobre: práticas de higiene e cui-
Desenvolvimento Infantil UFC. Coordenador O atendimento de enferma- dados pessoais, prevenção e con-
do ambulatório do Instituto da Primeira gem no Conecta - Unidade de trole de doenças, questões nutri-
Infância – IPREDE.
Assistência à Criança com Transtor- cionais, prevenção de acidentes
no do Espectro Autista (TEA) do domésticos e uso e controle de
Instituto da Primeira Infância - medicamentos.
IPREDE engloba alguns procedi- Uma das dúvidas frequen-
mentos, como a triagem inicial de tes dos pais, encontrada nesta
pacientes encaminhados pela atividade, está relacionada a ques-
atenção básica, classificação de tão da seletividade e ou compulsão
risco de doenças infecto contagio- alimentar das crianças. Esse qua-
sas,consulta de enfermagem e droé muito comum em pacientes
ações de Educação e Saúde para as autistas. Consiste na diminuição do
crianças e seus familiares. apetite, comer de forma impulsiva
Os pacientes que são enca- ou errada, recusa alimentar e desin-
minhados semanalmente pelas teresse pelo alimento. Pode ser
Unidades Básicas de Saúde passam transitória ou se estender por lon-
pela triagem inicial de enferma- gos períodos. Motivo das crianças
gem, onde se conhecerá de modo com TEA estarem mais vulneráveis
detalhado o histórico de antece- a desnutrição, disfunção gastroin-
dentes familiares, período gesta- testinal, baixa imunidade e até
cional, parto e pós-parto e questões obesidade (erro alimentar e/ou uso
de saúde da criança. Neste pri- de medicações que podem causar
meiro contato com a criança e a alterações endócrinas e metabó-
Bruna Shirley Lima Dantas família, o profissional favorece o licas). As orientações relacionadas
Enfermeira do Conecta-IPREDE. estabelecimento de vínculo posi- a questão alimentar das crianças se
tivo, repassando apoio e segurança. referem: informações sobre a pirâ-
Ainda na triagem o enfermeiro mide alimentar e apoio emocional
estará atento ao comportamento aos cuidadores, que por muitas
da criança na consulta, em especial vezes relatam sentimento de tris-
na sua forma de socialização, teza pelo padrão alimentar ineficaz
comunicação expressiva, como dos filhos. Em casos mais difíceis
brinca, presença de movimentos existe um trabalho em parceria com
repetitivos entre outros. os outros profissionais da equipe,
A classificação de risco para uma abordagem integrada.
ocorre para as crianças em trata- A correta utilização dos
mento e consiste na avaliação de medicamentos é outro assunto
possíveis agravos à saúde da abordado na Educação em Saúde
criança, como processos infecto- com orientações sobre os cuidados
contagiosos, febre, alterações com a medicação, tais como
38
Enfermagem
39
Benefício
TIRA DÚVIDAS DO
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO
CONTINUADA – (BPC)
A
qui estão selecionadas fazer o requerimento do INSS:
algumas das perguntas atendimento presencial numa
mais frequentes que Agência da Previdência Social;
muitos pais/mães/cuida- acesso pelo site ou aplicativo Meu
dores fazem para compreender o INSSou pela Central 135 do INSS; a
Benefício de Prestação Continuada ligação é gratuita. Observe que o
- BPC, regulamentado na Lei sistema vai confirmar seu cadas-
Orgânica de Assistência Social – tramento.
LOAS, Nº 8.742, de 7 de dezembro 5. Qual a renda da família para ter
de 1993. É um benefício assistencial direito ao benefício?
que algumas pessoas não sabem A família precisa ter uma
Fabiana Gomes de Castro como solicitá-lo. renda per capita (o dinheiro do mês
Assistente Social. Pós-graduanda em MBA 1. O que é o Benefício de Prestação dividido pelo número de pessoas da
em Gestão de Pessoas e Gestão Continuada (BPC)? família) inferior a R$ 275,00 (1/4 do
Empresarial pela Faculdade
Maurício de Nassau. O BPC é um benefício assis- salário mínimo) por pessoa. Quan-
tencial que consiste no pagamento do a família se enquadra neste caso
de um salário-mínimo (atualmente é considerada de baixa renda e o
no valor de R$ 1.100,00) mensal a requerente possui o direito ao BPC.
pessoas com deficiência ou com 6. Quando ocorre a solicitação do
idade igual e acima de 65 anos, com BPC, o INSS analisa a condição
doenças incapacitantes para o tra- socioeconômica da família ou
balho ou comprovem não possuir só do requerente?
meios de prover a própria existência O INSS vai cruzar as infor-
ou tê-la assegurada por sua família. mações prestadas no requerimento
2. Quais os documentos necessá- com outras, presentes nos cadas-
rios para realizar o pedido do tros de outro departamento. Ele
BPC? verifica se existe registro de bene-
É necessário o laudo médico fício previdenciário e de emprego/
recente (data inferior a um ano), renda do requerente ou de outras
indicando deficiência ou doenças pessoas da família. Quando as
incapacidade OU INCAPACITAN- informações estão contraditórias o
TES?; a inscrição no Cadastro Único INSS registra como pendência de
realizada no Centro de Referência atualização cadastral. A pendência
da Assistência Social (CRAS); com- deve ser resolvida em até 30 dias
provante de endereço atualizado; pelo requerente, caso passe o prazo
Vanessa Alves do Nascimento. Carteira de Identidade (RG); CPF; é necessário iniciar um novo
Assistente Social do Conecta. Pós- comprovante de renda dos reque- processo.
graduanda em Saúde Pública, Política, rentes (criança, adolescentes, adul- 7. Caso o pedido para concessão do
Planejamento e Gestão pela Estácio. tos e idosos) e das pessoas da benefício for negado, posso
família. Quando o requerente for pedi-lo via Ação Judicial?
menor de 18 anos, é necessário o Sim. Você deve procurar um
Termo de Tutela da pessoa respon- advogado na Defensoria Pública ou
sável pela a criança ou adolescente um de sua confiança, para entrar
junto ao INSS. com uma ação para rever a decisão
3. O que fazer quando não tem a do INSS.
inscrição no Cadastro Único? 8. O BPC pode ser recebido junto
O requerente que não pos- com outros benefícios do INSS?
sua o Cadastro Único deve fazê-lo Não. O BPC não pode ser
no CRAS da sua Regional. recebido com outro benefício pago
4. Como pedir o BPC no INSS? pelo INSS (como, por exemplo,
Há três formas de como seguro desemprego, aposentado
40
Benefício
41
Família
A FAMÍLIA DE CRIANÇAS
COM TEA
de dedicação a fim de proporcionar seu filho melhore ou volte à
um ambiente familiar adequado normalidade em uma incessante
para seu desenvolvimento, a au- busca por uma milagrosa cura. Com
sência de conhecimento, a presença o enfrentamento desse período
de muitos estigmas e vulnerabili- doloroso de luto do filho “ideal”,
dades dos pais impossibilitando o juntamente à necessidade de
desenvolvimento de crianças com adaptar-se à nova realidade,
algum tipo de transtorno, especial- emergem as expectativas diante do
mente quando se refere-se ao filho “real”, isto é, com deficiência.
Transtorno do Espectro Autista Nessa perspectiva temores
(TEA). e resistências quanto à maneira
Francisca Charlenny O TEA se refere aos trans- que ocorrerá a comunicação de seu
Freitas de Oliveira tornos antes chamados de “autis- filho autista com os demais mem-
mo infantil precoce, autismo infan- bros da sociedade, pois temem as
Pedagoga. Mestranda em Saúde da Criança
e do Adolescente pela Universidade til, autismo de Kanner, autismo de reações que seu filho possa ter,
Estadual do Ceará (UECE). Especialista em alto funcionamento, autismo atípi- como: crise, grito, choro, agressões
Educação Especial e Educação a Distância. co, transtorno global do desenvol- verbais ou físicas e ainda agitação.
Professora de atendimento educacional vimento sem outra especificação, Os pais temem que esses compor-
especializado. Tutora a Distância e
componente da Gestão do Curso de transtorno desintegrativo da infân- tamentos, possam vir à exposição
Pedagogia/UAB/UECE. cia e transtorno de Asperger”. social e de vivenciar sentimentos de
Os indivíduos com TEA po- vergonha, tristeza. Demonstra-se
dem “apresentar uma gama de sin- que ansiedade ou alívio possam
tomas comportamentais, incluindo trazer prejuízos em suas relações a
A
família é a primeira também desatenção, impulsivida- vislumbrarem que os pais receiam
instituição onde assume de, agressividade, comportamen- como ocorrerá a comunicação do
funções primordiais e de tos autodestrutivos e particular- seu filho com o meio social.
grande influência no mente em crianças mais jovens, Os pais precisam redefinir
processo de desenvolvimento do bem como acessos de raiva”. papeis, quem se responsabilizará
ser humano. É nela que ocorre o O impacto gerado pela che- pelos cuidados ou se serão omissos
desenvolvimento de conhecimen- gada de uma criança com algum diante desta situação, temores e
tos sobre diferentes aspectos da tipo de transtorno na família pro- resistências quanto à maneira que
vida e aprendizados além de fazer voca forte desorganização na esta- ocorrerá o cuidado com o filho
as escolhas adequadas às distintas bilidade familiar, já que todas as autista tanto em casa com os
situações do cotidiano e isto tam- expectativas foram quebradas com demais membros da família como
bém se aplica às famílias das a perda do “bebê perfeito”, gerando também com os demais membros
pessoas com algum transtorno do um sentimento de culpa ou até da sociedade, pois temem as
desenvolvimento. Os Transtornos “castigo”. Para que o filho venha a reações que seu filho possa ter,
Globais do Desenvolvimento (TGDs) ser aceito e acolhido faz-se ne- como: crise, grito, choro, agressões
têm sido definidos como uma cessário que a família, de forma verbais ou físicas e ainda agitação.
síndrome, onde algumas áreas do geral, atravesse esse momento de Os pais temem que esses compor-
desenvolvimento são acometidas luto pelo filho idealizado. tamentos, possam vir à exposição
com severos comprometimentos A dificuldade que se apre- social e de vivenciar sentimentos de
invasivos, principalmente as que senta nesse processo não é fácil, vergonha, tristeza. Porém conside-
estão relacionadas a habilidades de porém necessária, oportunizando ramos que as famílias têm poten-
interação social recíproca, habili- aos pais um tempo indispensável cial para serem bem-sucedidas,
dades de comunicação, e presença para superar tal impacto. Em al- transpondo quaisquer desafios
de comportamentos, interesses e guns casos, as reações e comporta- e/ou obstáculos, tornando-se a
atividades estereotipadas. mentos iniciais são passageiras e rede de apoio no desenvolvimento
O que percebemos é que a estabilizadoras, no entanto, para do filho com TEA.
deficiência na criança gera novas outros podem perdurar por anos ou No contexto do autismo, a
demandas para os membros da tornarem-se duradouros”. Isso informação e o apoio são pontos
família, dentre elas, maior tempo porque ainda existe a crença de que cruciais para melhorar o convivo
42
e g a n do!
os c h
Estam rados para
o p r epa
familiar, lembrando que a adap- processo, podendo valorizar ou até Est a
r e e n d er?
tação à mudança é um processo
geral e contínuo, sendo construído
em conjunto pela família, com
mesmo depreciar o investimento
na relação familiar.
Dessa forma, é imprescin- se sur p
vistas a uma melhor qualidade de dível valorizar o papel da família
vida. visando a responsabilidade de
Nesse contexto, a família estimular as conexões afetivas dos
assume um papel primordial na filhos com TEA, pois essas apre-
educação do filho com TEA. É sentam mais dificuldades em
compreendida como a primeira serem sensíveis e responsivas aos
instância educativa, ou seja, “o afetos das pessoas de uma forma
núcleo central do desenvolvimento
Pizzas
que se sintam seguras e protegidas
global da criança”. Assim, a respon- para um desenvolvimento saudá-
sabilidade de oferecer estímulos vel. Desta forma, acreditamos no
adequados no cotidiano desse filho potencial e valor da família nesse
é bem maior, podendo assim, processo e que o mesmo seja
contribuir de forma efetiva no pro- amplamente discutido para que
cesso cognitivo, social, afetivo e possamos transformar a sociedade
emocional. Percebe-se que a forma em busca de uma inclusão plena
de relacionamento dos pais varia visando oferecer direitos, deveres,
conforme suas crenças e valores oportunidades, equidade e uma
que foram adquiridos ao longo do melhor qualidade de vida para
desenvolvimento humano, de todos sem qualquer tipo de O INGREDIENTE mais
forma a interferir em todo o discriminação.
IMPORTANTE é o
AMOR
zero85pizzas
Terapia Ocupacional
O
brincar é um fazer que As crianças necessitam de bertas a sua maneira e com suas
está presente no período uma rotina saudável e com muitas capacidades específicas.
da infância e por meio dele brincadeiras. É uma forma de livre As crianças com TEA são
a criança faz descobertas expressão de sentimentos, desaba- únicas e temos o papel fundamen-
e estimula seus sentidos. Nas fos, desejos e por meio do brincar os tal de reforçar as potencialidades
crianças com Transtorno do Espec- pais/cuidadores irão observar ao para novas descobertas ao longo do
tro Autista (TEA), quando a inte- longo do desenvolvimento infantil seu desenvolvimento e futuro, fa-
gração das informações sensoriais se a criança está realizando as zendo que cada um com suas espe-
não ocorre de forma adequada, os etapas de maneira satisfatória em cificidades tenham a oportunida-
mesmos podem vir a ter dificulda- se tratando do falar, deambular, de de vivenciar e criar novos laços de
des e limitações para dar uma gesticular, engatinhar, choro fácil, amor entre pais/cuidadores e so-
resposta adequada ao ambiente irritabilidade. No entanto, através ciedade, sensibilizando a população
como exemplo: crianças que pare- do ato de brincar na infância as a tratá-los com respeito e ofertar
cem desajeitadas em atividades mesmas irão simular fatos que serviços de qualidade que atendam
que requerem movimentos e ocorrem no cotidiano, revelar as suas necessidades básicas,
atividades da vida diária como situações vivenciadas que muitas priorizando a qualidade de vida e
vestir-se, alimentar-se ou segurar vezes não são saudáveis e sim novas formas de fazer, adaptar-se
objetos. tóxicas. e acolher.
As brincadeiras na infância O Terapeuta Ocupacional As crianças que têm a opor-
exigem planejamento motor onde faz uso do brincar para estimular as tunidade de brincar ao longo do
requer ideação, planejamento e crianças e tratar possíveis altera- desenvolvimento infantil irão tor-
execução, onde tarefas de imita- ções do seu desenvolvimento seja nar-se adultos mais resilientes e
ção, aprender gestos irão gerar motor, cognitivo, sensorial e psi- preparados para o enfretamento de
limitações e dificuldades. cossocial durante o tratamento de situações adversas. Em um futuro
O desenvolvimento infantil reabilitação. É por meio da ludici- próspero estarão preparados para
com bons resultados dependerá dade que podemos proporcionar incentivar e propagar o ato de brin-
dos estímulos adequados e o ato de um novo mundo de possibilidades, car reforçando a sua importância ao
brincar incluso na rotina dos pais / reforçando as capacidades adapta- relatarem os atos vivenciados e a
cuidadores, mesmo com a rotina tivas ao meio, estimulando funções diferença significativa para o
muito comprometida, pouco tempo que estão com déficit e maximizar o desenvolvimento infantil saudável.
44
Esporte
A BOLA É A MINHA
PAIXÃO
meses dedicados a ele, mas a cada tava um ato avassalador, deixando
lembrança, um novo despertar de Ícaro inquieto e agitado. Ele tinha
sensações. apenas 5 anos, tudo era muito novo
Aline Pereira Era aniversário do Théo, um e complexo. Todos ao redor com-
Enfermeira. Mestranda em Saúde da primo de Ícaro, quando pude pre- preendiam aquele momento e
Criança e do Adolescente pela Universidade senciar sua chegada. Sua entrada admiravam o amor e a enorme
Estadual do Ceará (UECE). Especialista em no sítio foi uma explosão de energia
Saúde da Família, em Gestão e Serviços de
dedicação de seus pais.
Saúde Técnica. Responsável pela Sala de e impulsos. Vê-lo entrar e aos Meu primo era um pai
Apoio da Mulher que Amamenta e Coleta poucos se ambientar, despertou acolhedor e carinhoso, que acon-
de Leite Humano da Regional IV do um olhar de admiração. chegava a necessidade do filho para
município de Fortaleza-Ceará. Ele não se envolveu logo, que o prazer dele se mantivesse
mas ao visualizar a bola, seu olhar preservado.
Q uem nunca sonhou em voar
como um pássaro?
Ícaro foi um sonho que veio
transcendeu uma vibração de
felicidade espontânea. Ele foi ao
encontro dela e por vários minutos,
Observava a troca de olha-
res e pequenas palavras, o tocar de
bola e o momento do gol eram
como um pássaro e penetrou na o momento era só dele. Sua mãe celebrados com um abraço. Abraços
vida de minha prima. Várias foram comentou que era o seu brincar, sua aconchegantes e por vezes, gritos
as tentativas e esperanças de uma hiper-focalização, não havia outro para comemorar o gol.
gestação e através de lindo voo, ele brincar que lhe proporcionasse A falha de comunicação se
pousou. nada igual. transformava de uma maneira
Seu rostinho representou a Sua interação social era discreta, pois eles sabiam o obje-
materialização de um amor, seu comprometida, mas não ofuscada tivo e o motivo de estarem ali.
olhar penetrou em sua alma e sua com a presença da sua tão estima- A vida passa por um novo
pele negra sensível foi envolta de da bola. Ao encontrar um parceiro, despertar, por um olhar diver-
um novo lar, assim foi descrito a esse tornou-se um companheiro sificado, movimentos complexos e
chegada de Ícaro. confiável e fiel. flexíveis. Ícaro, com seus alcances e
O lar estava preparado, mas A memória dessa parceira conquistas, era estimulado por
sua chegada fez o dia ser abrilhan- ficara por um longo período, pois vários profissionais, com a certeza
tado com um grande esplendor. A após meses sem um encontro, a de uma mãe que conhecia a capa-
notícia de sua chegada foi repleta parceria era tão espontânea e dire- cidade de ele ir cada vez mais além.
de alegria e de repente, a família cional. Naquele ambiente, agora O amor é uma entrega com
estava formada. existia apenas seu parceiro e sua impactos a curto, médio e longo
Como sua chegada foi para- bola imersos em ricas vivências. prazo, onde Ícaro vivenciara deste o
lela a de minha filha Maria Eduarda, Tudo a sua volta ficava em momento de sua chegada.
ele teve a oportunidade de receber segundo plano. As conversas, as Seu crescimento foi impul-
leite humano. O Leite Humano músicas, e as outras brincadeiras, sionado de um maior desenvolvi-
recebido foi através das minhas que aconteciam simultaneamente, mento na linguagem e na interação
doações ao Banco de Leite Humano foram insuficientes para redirecio- social. Agora, não era apenas a
da Maternidade Escola. nar sua atenção. bola, mas também sua autorregu-
O desmame representou Chegando o momento de lação e sua autodeterminação para
uma diversidade de sentimentos e cantar parabéns, era preciso incen- atividades cada vez mais comple-
emoções, como felicidade, carinho, tivar a interação social com as xas, iniciara aulas de stand up
amor, inspiração. outras crianças. Porém, seu corpo paddle. Foi um ano maravilhoso,
Era gratificante ajudar Már- foi impactado com a dificuldade de dedicado a esse esporte que para
cia e proporcionar um alimento interromper sua brincadeira. ele integrava uma outra brinca-
saudável ao meu sobrinho. Foram A interação social represen- deira.
45