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www.childrenineurope.org
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
Caros leitores Edição especial de Infância na Europa
18 aPRendiZaGem Promover a aprendizagem ativa em crianças dos zero aos três anos
Gabriela Portugal mostra como tirar partido da capacidade de empreendedorismo e da sede de independência
aTiva e autonomia das crianças.
Para lá da cancela
Felicity Norton mostra como crianças pequenas eram apoiadas para tomarem decisões e se tornarem líderes
num centro em Inglaterra.
a aprendizagem como um processo aberto e colaborativo
A visão do processo de aprendizagem em San Miniato.
“os peixes andam?”, “os peixes têm asas e voam?”
Hélia Costa mostra como um grupo de crianças muito jovens se envolveu em trabalho de projeto.
matemática para bebés – um trabalho físico intenso
Karin Franzén apresenta uma investigação na Suécia que mostra como as crianças pequenas podem ser matemáticas.
33 os PRoFissionais educadores altamente qualificados para o trabalho com as crianças mais jovens
Paivi Lindberg fala sobre os conhecimentos e competências necessários para trabalhar com crianças dos 0 aos 3 anos.
apoiando os primeiros passos
Um projeto no Lanarkshire do Sul, Escócia, contribui para a nossa compreensão dos conhecimentos e competências necessá-
rios para dar resposta às necessidades das crianças no período pré-natal e até aos três anos.
Celebrando a infância em Cowgate
Lynn McNair explica o que procura nos profissionais que vêm trabalhar no seu centro.
a influência masculina
Lynn McNair explica porque gostaria que houvesse um equilíbrio entre homens e mulheres a trabalhar no seu centro.
38 avaLiaR valorizar e avaliar a qualidade de eCi para crianças dos zero aos três anos
Tullia Musatti, Maria Cristina Picchio e Isabella Di Giandomenico descrevem uma abordagem participativa para a avaliação
a QuaLidade dos serviços.
Bem-vindos ao nosso mundo:
por que é preciso fazer mais pelas crianças
europeias com menos de três anos
ediToRiaL
Bronwen Cohen e Lúcia Santos apresentam este número especial de Infância na Europa que
aborda o sentido da qualidade nos serviços para as crianças até aos 3 anos.
A convicção de que vale a pena investir na elevada qualidade dos serviços de Educação e Cui-
dados para a Infância (ECI) para crianças até aos três anos tem vindo a ganhar cada vez mais
terreno em toda a Europa.
Estes serviços desempenham não só um papel fundamental no apoio ao desenvolvimento
social e emocional das crianças e ao seu bem-estar, proporcionando as bases para uma apren-
dizagem ao longo da vida e estilos de vida saudáveis, mas também são essenciais para muitas
famílias com filhos de menos de três anos. Mais de metade das mulheres e 90% dos homens
com filhos menores de três anos estão a trabalhar (Comissão Europeia/Euridyce, 2009). Em
2011, Infância na Europa procurou saber porquê, apesar do reconhecimento da importância
dos serviços de ECI para crianças dos 0 aos 3 anos, a maioria dos países europeus investia
menos recursos nestes serviços do que nos que se destinam a crianças com mais de três anos.
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os cuidados e a educação para a infância (Comissão Europeia, 2011). Esta comunicação apre-
sentava, pela primeira vez, um enquadramento para a aprendizagem pré-escolar, que começa
com o nascimento, enunciando as seguintes recomendações:
• Aumento do investimento, por parte dos países membros da Comissão Europeia, nos
Scotland e Chilldren in Europe.
serviços de ECI.
• Centrar-se na qualidade, bem como na quantidade.
• Dar atenção aos benefícios dos sistemas integrados e de acesso universal.
Bronwen Cohen
O emprego dos pais pode retirar as crianças da pobreza. Uma em cada seis famílias da
UE com filhos menores de seis anos encontra-se em risco de pobreza, e em 11 países da
UE, incluindo o Reino Unido, as famílias com filhos de menos de três anos encontram-se
de Infância e Infância na Europa.
1. Em 2002, na Cimeira de Barcelona, o Conselho Europeu estabeleceu as metas para a provisão de educação e cuidados
para a infância: em 2010, pelo menos 90% das crianças entre os três anos e a idade de entrada para a escolaridade
obrigatória e pelo menos 33% das crianças até aos 3 anos deveriam frequentar um contexto formal de EC.
as crianças mais pequenas têm menos possibilidades de acesso a crianças dos zero aos três anos deve ser considerada um direito e
financiamento público do que os destinados às crianças em idade fazer parte de um quadro legislativo para as crianças do nascimento
pré-escolar, que fazem parte do sistema educativo. aos oito anos. Teresa Vasconcelos, que foi responsável e redato-
As crianças com menos de três anos saem-se melhor nos países que ra desta Recomendação, sublinha que “precisamos de encontrar
reconhecem que a aprendizagem começa com o nascimento, e não formas flexíveis e inovadoras para que este direito seja posto em
aos três anos, e que têm sistemas de ECI totalmente integrados, em prática”. Surgiram várias iniciativas no sentido de elaborar orienta-
que cuidados e aprendizagem estão sob o mesmo teto, quer con- ções pedagógicas para as crianças com menos de três anos e há
cetual, quer administrativamente. Nesses países, as crianças mais um movimento importante para melhorar as práticas educativas em
pequenas têm mais probabilidades de terem um direito mais equita- creche.
tivo no acesso aos serviços, bem como de contar com pessoal mais Nos últimos 20 anos, tanto a Polónia com a Hungria assistiram à
qualificado e mais bem pago a partir do nascimento ou do primeiro corrosão do pleno emprego ligado aos sistemas de cuidados para
ano de vida. Além disso, chegou-se à conclusão de que esses ser- a infância, da responsabilidade de instituições estatais comunistas.
viços são muito mais eficazes no contacto com as famílias de baixo As tentativas para substituir estes sistemas por novos modelos fo-
nível educativo do que os que se destinam a grupos desfavorecidos. ram, no entanto, prejudicadas pela má reputação desses serviços
Então por que será que os serviços para as crianças mais pequenas e a tradição polaca de que as crianças estão melhor em casa com
ainda não têm a atenção e o apoio que merecem? As questões as mães.
colocadas quer pela Comunicação, quer pela análise das políticas As estatísticas da Polónia publicadas pelo Serviço Central de Esta-
e serviços para as crianças com menos de três anos realizada por tística em 2010 indicavam que apenas 2% das crianças até aos três
Infância na Europa foram o ponto de partida para alguns parceiros anos frequentavam instituições para infância, quase todas implan-
da revista continuarem a aprofundar a investigação. APEI de Portu- tadas em áreas urbanas densamente povoadas. Neste seminário, o
gal, Bambini de Itália, Children in Scotland do Reino Unido e Irlanda, debate centrou-se na nova lei polaca sobre cuidados para as crian-
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Fundação Coménio para o Desenvolvimento da Criança da Polónia ças com menos de três anos, publicada em fevereiro de 2011, que
e Instituto Nacional para a Família e a Política Social da Hungria engloba cuidados e educação e transfere a responsabilidade das
organizaram um conjunto de seminários para aprofundar estas crianças com menos de três anos do Ministério da Saúde para o
questões. Estes seminários, realizados em 2011 na Escócia, Portugal, Ministério do Trabalho e Política Social. A finalidade desta lei é per-
Polónia e Hungria, identificaram temas e problemas comuns aos pa- mitir o desenvolvimento de novos modelos de ECI e ambientes mais
íses que não têm sistemas de ECI integrados. A evolução histórica adequados ao desenvolvimento das crianças. Também é acentuada
dos serviços organizados de acordo com várias funções e finalida- a importância da formação dos profissionais de ECI. Os participan-
des, da resposta às necessidades dos pais que trabalham, passando tes no seminário consideraram esta lei muito importante, mas ma-
pelo apoio a famílias desfavorecidas e ainda por uma educação de nifestaram preocupações relativas às dificuldades que se colocam
infância de base universal, foi analisada de diferentes perspetivas, às autarquias, especialmente em zonas rurais pouco povoadas, no
relativas a financiamento, avaliação, qualificações e salários de pes- desempenho do seu papel de supervisão e regulamentação. Pensa-
soal. Em muitos países foi um desafio ultrapassar estas divisões, e -se que esta nova lei irá, sobretudo, apoiar o desenvolvimento de
apenas alguns o conseguiram. De facto, na maioria dos países da serviços nas zonas rurais da Polónia.
UE, desenvolver sistemas integrados continua a ser um objetivo, Na Hungria, foi publicada legislação que permite às autarquias co-
mais do que uma realidade, e o debate nos seminários de Infância brar aos pais uma taxa pela frequência dos serviços para a infância,
na Europa refletiu as diferentes situações de partida e prioridades com um limite definido em termos de percentagem do rendimento
três anos, começando com a questão do acesso à “educação” como entre profissionais. Finalmente, Tullia Musatti (ver página 38) des-
um direito de todas as crianças, a sua relação com uma abordagem taca a importância de uma abordagem coletiva e participativa na
pedagógica tanto para crianças com menos, como com mais de três avaliação da qualidade. A definição da qualidade da ECI, afirma, não
anos. Teresa Vasconcelos (ver página 8) apresenta o conjunto de re- é apenas uma questão de especialistas.
comendações aprovadas por unanimidade pelo Conselho Nacional Esperamos que Bem-vindos ao nosso mundo possa apoiar a discus-
de Educação, em Portugal, apontando as razões por que deve haver são e o debate em toda a Europa, ser uma fonte de ideias e inspira-
serviços de qualidade acessíveis a todas as crianças com menos de ção tanto para os profissionais como para os que têm a responsa-
três anos. bilidade de desenvolver e melhorar a qualidade dos serviços para os
Em muitos aspetos, as recomendações portuguesas refletem a cidadãos mais novos e, também, um contributo para o programa de
Comunicação da CE, embora envolvam a responsabilidade de dois troca de aprendizagens proposto pela Comissão Europeia.
ministérios e não de um só, relativamente aos serviços para esta Bronwen Cohen é diretora executiva de Children in Scotland, Reino
faixa etária. Os estudos de caso que a seguir se apresentam, dos Unido. Lúcia Santos é responsável dos Serviços para a Infância da
países nórdicos Suécia, Dinamarca e Noruega e ainda da Eslovénia, Fundação Bissaya Barreto, Portugal e presidente da APEI-Associa-
descrevem as abordagens integradas que estes países adotaram já ção de Profissionais de Educação de Infância
há alguns anos.
A psicóloga húngara Judit Bimbo (ver página 13) reflete sobre as
necessidades sociais e emocionais das crianças e as suas implica-
6 ções para os serviços, sendo apresentados diversos modos de ter
em conta essas necessidades no apoio à entrada das crianças para
REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
Children in Europe (2008). Young children and their services: developing a European appro-
ach, A Children in Europe Policy Paper (versão inglesa). Children in Europe, 2008
os serviços, na Itália e na Hungria. Gabriela Portugal (ver página 18)
www.chidreninEurope.org
refere-se aos ambientes e abordagens que incentivam a aprendi- Children in Europe/Infância na Europa n.º 20 (2011) Os cidadãos mais jovens da Europa:
zagem ativa nos serviços para as crianças mais pequenas, sendo serviços e licenças parentais para crianças até aos três anos.
dados exemplos de práticas de aprendizagem ativa em serviços da Children in Europe (2011) Young Children and their services: developing an European appro-
ach. A Children in Europe discussion paper, 2011
Inglaterra, Portugal e Suécia, onde Karin Franzen (ver página 26) ini- http://www.Childrenin Europe.org/docs/eng_discpaper.pdf
ciou um projeto fascinante de investigação para compreender como Children in Scotland/Daycare Trust (2012) The Scottish Childcare Lottery. Children in Sco-
a aprendizagem ativa ajuda as crianças pequenas a experienciar a tland and the Daycare Trust, 2012 www.childreninscotland.org.uk
www.daycaretrust.org.uk
matemática com o corpo. European Commission Childcare Network (1996) Quality Targets in services for young chil-
Enzo Catarsi (ver página 27) e Anna Pelloni (ver página 28) analisam dren. European Commission Childcare Network, Bruxelas, 1996
as relações entre serviços e famílias em Itália. Pelloni descreve al- European Commission (2011) (COM (2011) 66 Early Childhood Education and Care: providing
all our children with the best start for the world of tomorrow, Bruxelas, 2011
gumas atividades organizadas nos montes Apeninos, na Toscana, http://ec.europa:eu/education/schooleducation/doc/childhood_en.pdf
que vão da natação à apanha de castanhas. Não há dúvida que a European Commission/Eurydice (2009) Early Childhood Education and Care in Europe: Ta-
Natureza é um recurso importante para aprendizagem ativa. ckling Social and Cultural Inequalities p. 57, Eurydice, 2009 www.eurydice.org
Official Journal of the European Union (2011) 2011/C 175/03 Council conclusions on early
O arquiteto e designer Michele Zini (ver página 29) centra-se numa
childhood education and care: providing all our children with the best start for the world
abordagem holística para projetar espaços para crianças. A sua in- of tomorrow . European Union, Brussels, 2011
vestigação produziu uma espécie de “código genético” dos espaços http://publicatons.europa.eu/official/index_en.htm
para as crianças, que tem em consideração luz, cor, som, cheiro,
tato, microclima, relações e conceção do espaço, criando “oficinas
para os sentidos da criança”.
Robert Owen, proprietário de fábricas de fiação de algodão em New de segurança em que, com os seus futuros companheiros de escola,
Lanark, abriu a primeira escola para os filhos do pessoal em 1816. As poderá adquirir bons hábitos e princípios, sendo que às horas das
escolas eram conhecidas como Instituições para a Formação do Caráter refeições e à noite voltará para o carinho dos pais, cujo afeto será
e Escola Infantil de New Lanark e destinavam-se a proporcionar ainda maior devido à separação.
equipamentos educativos e recreativos a toda a comunidade. Dentro
do edifício da escola havia também uma cozinha e uma cantina Influenciado pela filosofia de Rousseau, Helvétius e Paine, entre
comunitárias. No ano de abertura, foram acolhidas cerca de 600 outros, Owen considerava que a aprendizagem começa com o
crianças a partir dos 18 meses. Referindo-se ao modo como o jardim nascimento, mas não queria que as crianças fossem “aborrecidas
de infância e a creche devem articular cuidados e educação, Robert com livros”. Pelo contrário, adotava um programa centrado no canto,
Owen escrevia, em 1813: dança, apreciação da Natureza e dos objetos naturais, em que as
crianças davam pequenos passeios na Natureza, acompanhados de
Os pais ficarão libertos da perda de tempo e dos cuidados e ansiedade canções destinadas a reforçar as lições. Também havia aulas para os
que são atualmente ocasionados pela assistência que têm de prestar pais, centradas nas suas competências parentais, e uma gama muito
aos filhos desde a altura que começam a andar sozinhos até à diversa de aulas noturnas para adultos.
entrada para a escola. A criança deve ser colocada numa situação
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o diReiTo à educação
das crianças dos 0 aos 3 anos
Teresa Vasconcelos é professora na Escola Superior de Educação de Lisboa e também membro do Conselho
Nacional de Educação, tendo sido responsável pelo processo de desenvolvimento e elaboração
da Recomendação sobre “A Educação das Crianças dos 0 aos 3 anos”.
A Recomendação n.º 3/2011, aprovada, em a questão da educação das crianças deste a educação das crianças dos 0 aos 3 anos de-
Portugal, pelo Conselho Nacional de Educa- grupo etário (tradicionalmente da responsa- via passar a ser da responsabilidade do Minis-
ção, sobre educação das crianças dos zero bilidade do Ministério da Solidariedade e Se- tério da Educação, nomeadamente no que diz
aos três anos é um indicador significativo gurança Social) foi considerada como sendo respeito a orientações pedagógicas, questões
da importância que os governos de toda a da responsabilidade tanto do Ministério da de pessoal, supervisão e formação.
Europa estão cada vez mais a atribuir a esta Educação como do Ministério da Solidarieda- Para compreender a introdução na Recomen-
faixa etária. Teresa Vasconcelos apresen- de e Segurança Social. A avaliação da OCDE dação do que está consagrado na Convenção
ta esta perspetiva baseada no direito das (Starting Strong I, 2001) tinha recomendado sobre os Direitos da Criança, serão primeiro
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crianças dos 0 aos 3 anos a uma educação que Portugal desse mais atenção à questão enunciadas as recomendações expressas no
(e não apenas “cuidados”), afirmando que da educação das crianças com menos de três documento, apresentando-se depois como
precisamos de encontrar formas flexíveis e anos, e não apenas aos cuidados, com o apoio se relacionam com o DIREITO à educação das
inovadoras para que este direito seja posto aos pais que trabalham. crianças dos 0 aos 3 anos. Esta Recomenda-
em prática. Durante a preparação da Recomendação fo- ção toma como referência o Relatório sobre
ram ouvidos os parceiros sociais – associa- a Aplicação da Convenção dos Direitos da
A aprovação por unanimidade pelo Conselho ções de pais, educadores de creches, institui- Criança em Portugal que, em 2005, propõe a
Nacional de Educação, em abril de 2011, de ções privadas de solidariedade social, associa- seguinte orientação:
uma Recomendação ao Governo (mais dire- ções de educadores de infância, amas e amas
tamente ao Ministério da Educação) sobre “A em creches familiares – para conhecer a sua (...) a necessidade de desenvolver estratégias
Educação das Crianças dos 0 aos 3 anos” foi opinião sobre as políticas a desenvolver para baseadas nos direitos da criança que deve-
um momento “histórico”. Pela primeira vez, este grupo etário, tendo muitos afirmado que rão ser coordenadas a um nível multissetorial
de modo a que afirmem o superior interesse
da criança. Este superior interesse da crian-
ça deve constituir-se como ponto de parti-
da para planear a organização de serviços
de atendimento. Estes serviços devem ser
8 orientados pela atual legislação internacio-
nal que se orienta para as crianças desde o
nascimento até aos 8 anos de idade. É vital
apoiar uma educação das crianças com me-
nos de 3 anos de idade guiada por sistemas
de supervisão pedagógica e não apenas
orientada para os cuidados e o apoio às fa-
mílias que trabalham (...).
vontade, necessidade de autonomia e de ex- 3ª Recomendação: Tutela pedagógica do Ministério da Educação e Ciência e articulação
ploração independente. Não podemos esque- entre o MEC e o Ministério da Solidariedade e Segurança Social.
cer as crianças com direitos de aprendizagem
diversificados (OCDE, 2009) e aquelas que, 4.ª Recomendação: Fomentar um novo papel para as autarquias que são os órgãos
devido à vulnerabilidade das famílias, preci- do Governo com um contacto mais direto com as necessidades das famílias e das
sam de experiências educativas de superior comunidades.
qualidade, para que se concretizem os princí-
5.ª Recomendação: Diversificar tipos de serviços.
pios de equidade consagrados na Lei-Quadro
da Educação Pré-Escolar. 6.ª Recomendação: Investir na qualidade dos serviços e elaborar orientações
Pensamos que um novo DIREITO deve pas- pedagógicas.
sar a fazer parte das nossas preocupações: o
direito das creches e serviços de acolhimento De acordo com o documento estas orientações pedagógicas deverão:
de crianças terem uma qualidade elevada, es- • “Assegurar uma transição suave entre a casa e a creche (ou outro tipo de serviço),
pecialmente para as crianças de meios socioe- incorporar experiências familiares, uma atitude sensível e calorosa por parte dos
conomicamente desfavorecidos e/ou direitos adultos (profissionais e pais);
de aprendizagem diversificados. Como afirma • Garantir o DIREITO a brincar e várias oportunidades de exploração, experimentação,
Van Oudenhoven (2006), uma “PERSPETIVA
9 BASEADA EM DIREITOS” passa necessaria-
mente a ter em conta as necessidades e as
experiências de aprendizagem que desafiam e amplificam o mundo da criança;
• Proporcionar estabilidade e segurança emocional, relações sociais e autonomia são
competências das crianças mais pequenas, prioridades no currículo em creche.”
pois as crianças dos 0 aos 3 anos devem ter o
direito à palavra nos assuntos que lhes dizem 7.ª Recomendação: Melhorar a qualidade e qualificações dos profissionais (“uma
respeito. Como conclui o autor: “Trata-se de qualificação ética, cultural e técnica”, como afirmou um dos especialistas ouvidos),
uma declaração profunda, que exige mudan- especialmente de amas, amas de creches familiares, investindo na sua formação e nos
ças radicais nas perceções, valores, legislação direitos de trabalho, pensão de reforma, etc.
e intervenção (…). Estamos convictos de que 8.ª Recomendação – Rever o Decreto-Lei n.º 43/2007, de 22 de fevereiro, de modo a
a aplicação de uma perspetiva baseada em garantir a possibilidade de formação com 90 créditos, preparando os educadores de
direitos cria novas necessidades e desafios infância para, simultaneamente, desenvolverem trabalho pedagógico em creche e em
para as crianças e, também, para as famílias e jardim de infância.
a sociedade em geral” (p. 89).
9.ª Recomendação: Intervenção precoce para as crianças e famílias mais vulneráveis.
Esta é uma recomendação essencial, que se aplica quer às crianças que têm “necessidades
REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS educativas diversificadas” (OCDE, 2009), quer às que, devido à vulnerabilidade das
Relatório da Aplicação da Convenção dos Direitos da Criança famílias, necessitam de serviços de superior qualidade que garantam os princípios de
em Portugal (2005). Lisboa: ME equidade claramente enunciados na Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar.
Conselho Nacional de Educação (2011). A Educação dos 0 aos
3 anos: Recomendação n.º3/2011. Relatora: Teresa Vasconce- 10.ª Recomendação: Alargar o investimento na investigação sobre a aprendizagem e o
los. Lisboa: Conselho Nacional de E
OCDE (2001) Starting Strong I. Paris: OCDE.
desenvolvimento das crianças dos 0 aos 3anos, as famílias e os serviços que as apoiam.
OCDE (2009) Starting Strong II. Paris: OCDE.
Van Oudenhoven, N. & Wazir, R. (2006). Newly Emerging Nee-
11.ª Recomendação: Alargar o “direito à palavra” aos mais pequenos.
ds of Children: An exploration. Antwerpen: Garant.
uma aBoRdaGem CenTRada nos diReiTos
Sendo a proposta portuguesa relativa- sando a ser consideradas como aprendizes “tempo da infância”. Esta tendência históri-
mente recente, muitos países escandina- competentes e ativos, com curiosidade para ca remonta ao forte movimento popular do
vos e a Eslovénia já reconhecem, há vários descobrir o mundo. Neste aspeto, a Suécia século XIX em prol da educação, que ainda
anos, que as crianças dos 0 aos 3 anos têm foi muito influenciada pelo trabalho pionei- hoje é visível na política de ECI.
direito a uma educação de caráter holísti- ro de Luís Malaguzzi, de Reggio Emilia, Itá- Para o desenvolvimento dessa política fo-
co, o que se reflete nos seus sistemas de lia. De igual modo, o aspeto dos cuidados ram fundamentais a lei de 1964, que atri-
ECI. apoiou uma dinâmica educativa que reco- buía às autarquias a responsabilidade legal
nhece que aspetos que vão da autoconfian- de tornar todos os serviços públicos aces-
ça à alimentação são tão importantes como síveis a todos os cidadãos, e a importância
SUÉCIA aprender a ler e a escrever. conferida ao direito da criança à educação e
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A abordagem holística ao trabalho com cuidados para a infância, pela Lei de Assis-
Acesso a serviços formais de ECI crianças, que reconhece o seu desenvolvi- tência Social de 1976. Atualmente, os níveis
• Com a idade de 1 ano: 46% mento intelectual, social, emocional, físico, de frequência da educação de infância na
• Com a idade de 2 anos: 86% moral e estético, é visível em muitas dimen- Dinamarca estão entre os mais elevados
• Com a idade de 3 anos: 90% sões dos serviços suecos de ECI. da Europa. A maioria das crianças fica ao
O currículo de educação pré-escolar sueco cuidado dos pais até ao ano, mas estes
Fonte: Skolverket, 2009
recomenda “boas atividades pedagógicas em começam a inscrevê-las em creches desde
que cuidados, estimulação e aprendizagem que têm cerca de seis meses. Os cuidados
A Suécia tem sido pioneira. Um relatório formam conjuntamente um todo coerente”. informais fora da família são ilegais.
da Comissão Nacional de Cuidados para Foi introduzido um novo currículo, em julho A Lei de Currículo Pedagógico de 2004 apli-
a Infância que teve grande influência no de 2011, ao mesmo tempo que foi publicada ca-se a todas as crianças dos 0 aos 6 anos
início da década de 1970 reconhecia que o uma Nova Lei da Educação. Havia alguma e estabelece que os serviços para a infân-
atendimento a crianças não podia ter como preocupação com que, passados dez anos da cia devem ser orientados pelos seguintes
única finalidade permitir o trabalho femini- integração, tivesse sido dada mais importân- seis princípios: desenvolvimento pessoal
no (Agência Nacional Sueca da Educação, cia à educação pré-escolar como preparação holístico da criança, competências sociais,
2000). para a escola, com um consequente estreita- linguagem, corpo e movimento, natureza e
10 A Suécia continuou, desde então, a seguir
esse princípio. Não há, desde há muitos
mento do currículo, que colocava em risco o
seu caráter holístico. Uma avaliação da im-
fenómenos naturais, expressões culturais
e valores. O currículo pedagógico de cada
anos na Suécia, uma divisão concetual plementação do currículo realizada em 2008 centro educativo tem de ter uma secção
entre cuidados e educação, o que remete (Agência Nacional Sueca para a Educação) dedicada às crianças dos 0 aos 3 anos.
para uma “abordagem pedagógica em que observou que parecia ser dada uma grande
os cuidados, a educação e a aprendizagem importância ao desenvolvimento da lingua-
constituem um todo coerente”. No final da gem e que “o desenvolvimento das crianças, NORUEGA
década de 1990, a Suécia foi ainda mais o seu desempenho e competências estavam
longe e realizou também uma integração a ser cada vez mais detalhados e avaliados”. Acesso ao Barnehager (Serviço de ECI
estrutural. Transferiu a responsabilidade O Governo declarou que pretendia contrariar para crianças de 1 a 6 anos)
dos serviços de segurança social para o se- esta tendência e fazer que a abordagem ho- • Com a idade de 1 a 2 anos: cerca de 75%
tor da educação, para criar um sistema de lística se mantivesse como alicerce do novo • Com a idade de 2 a 3 anos: cerca de 84%
Educação e Cuidados para a Infância total- currículo.
mente integrado para todas as crianças dos Fonte: Estatísticas Noruega e Moser, 2009
12 meses aos seis anos, abrangendo acesso,
financiamento, pessoal, funcionamento, re- DINAMARCA Na Noruega, já existe há muitos anos um sis-
gulamentação e currículo. tema integrado de serviços para crianças dos
O impacto da aposta sueca na integração Acesso a serviços formais de ECI zero aos seis anos, com um sistema público
teve grande alcance. A integração concetu- • Com a idade de 0 a 3 anos: 66% de Barnehager bem implantado e com gran-
al da ECI permitiu novas maneiras de com- Fonte: Estatísticas da Dinamarca, 2009
de expansão. Na base deste sistema está
preender as crianças muito pequenas, que uma compreensão clara das crianças como
deixaram de ser vistas como seres passivos, Na Dinamarca, há uma longa tradição de indivíduos e como grupo social, do seu lugar
que apenas necessitavam de cuidados, pas- respeito pela criança e de preservação do na sociedade e da sua relação com o mundo.
inFÂnCia na euRoPa
A responsabilidade de todo o setor da in- tinavam-se a prestar cuidados às crianças Ten years after the preschool reform; A national evaluation
of Sweden preschool; a summary of report 318, Skolverket
fância foi transferida para o Ministério da cujos pais estavam empregados. Em 1993, (Agência Nacional Sueca da Educação), 2008
Educação e Investigação em 2006 e, em como parte de um processo mais amplo www.skolverket.se/2.3894/in_english
2009, a Dinamarca assumiu o compromisso de reforma e investimento na educação, a Working for inclusion: the role of early years workforce in
addressing poverty and promoting social inclusion, Children
de, na década seguinte, garantir o direito responsabilidade pela educação de infância
in Scotland, in partnership with La Bottega Di Geppetto,
legal de todas as crianças à frequência de foi transferida do Ministério do Trabalho e Italy: Nordland Research Institute, Norway: and the Come-
Barnehager a partir de um ano. Os níveis Assuntos Sociais para o Ministério da Edu- nius Foundation for Child Development, Poland, 2008-2010
de frequência são já relativamente elevados cação e Desporto, que assumiu globalmen- www.childreninscotland.org.uk/wfi
para esta faixa etária, mas o acesso univer- te os serviços. Esta passagem fez mudar o
sal só está garantido para as crianças resi- enfoque das necessidades dos pais para os
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
dentes a partir dos três anos e a falta de direitos das crianças à educação e ao de-
lugares é a razão principal por que as crian- senvolvimento social, independentemente
ças dos 0 aos 3 anos não frequentam a ECI. da situação parental, rendimento familiar
O Plano de Enquadramento para os conte- ou local de residência.
údos e tarefas no jardim de infância, que Em 1995, foi formada uma Comissão Cur-
se seguiu à Lei da Educação Pré-Escolar de ricular para as Instituições de Educação
2005, dá especial atenção ao grupo dos 0 Pré-Escolar, com uma série de participan-
aos 3 anos. O jardim de infância é consi- tes onde se incluíam psicólogos, pedago-
derado uma instituição pedagógica e, por gos, investigadores e outros especialistas.
isso, esse Plano de Enquadramento centra- Esta comissão elaborou um novo currículo
-se mais na aprendizagem, mas em con- democratizado e orientações para a práti-
junto com educação e cuidados, definindo ca. Baseando-se nos direitos universais da
diversas áreas de aprendizagem: comunica- criança, reconhecia a necessidade de fle-
ção, linguagem e texto; corpo, movimento xibilidade e respeito pelas diferenças indi-
e saúde; arte, cultura e criatividade; Natu- viduais, em vez da anterior abordagem de
reza, ambiente e tecnologia; ética, religião igualdade enquanto “o mesmo para todos”.
11 e filosofia; comunidade local e sociedade; e
números, espaços e formas.
Tratava-se de um currículo holístico que
abrangia todas as atividades que se reali-
O jardim de infância é considerado como zam nos centros de educação para a infân-
tendo um papel preventivo, como sublinha cia, incluindo as rotinas diárias, como comer
a lei de 2005: “O jardim de infância tem e dormir.
particular responsabilidade na prevenção Na Eslovénia, cabe às autarquias garantir
dos problemas sociais e na identificação um número adequado de lugares nos ser-
de crianças com necessidades educativas viços para a infância e também o financia-
especiais.” É também visto como um espa- mento e subsídios às contribuições familia-
ço de integração de crianças de diferentes res.
etnias, níveis socioculturais, línguas e cul-
turas.
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study visit to Sweden and Poland, Children in Scotland and
King Baudouin Foundation, 2010
Quando a Eslovénia fazia parte da ex-Ju- www.childreninscotland.org.uk
goslávia, os serviços para a infância des- www.kbs-frb.be
TRansiÇões
Em Itália, há uma forte tradição de partici- fazer parte de uma rede de apoio. ências de transição e separação tenham sido
pação da família nos serviços de educação O tempo do processo de transição varia entre traumáticas.
de infância. Chiara Bove descreve o proces- uma e três semanas, dependendo da idade e São muitas vezes as condições práticas da
so delicado e gradual de inserimento (aco- experiência das crianças e das necessidades vida de trabalho que determinam a duração e
lhimento). das famílias. A maneira de fazer depende tam- natureza do processo de transição. As famílias
bém da pedagogia do centro e da situação da não se podem dar ao luxo de uma transição
A entrada da criança, pela primeira vez, num família. Por exemplo, umas vezes é feita em gradual, mesmo que a considerem necessá-
serviço de Educação e Cuidados para a In- grupo com vários pais que trazem os filhos ria, e têm de apoiar a autonomia da criança
fância (ECI) corresponde, em geral, à primeira ao centro ao mesmo tempo. Outras, cada par e valorizar os seus recursos interiores e com-
separação do contexto familiar. É um aconte- pai/mãe-criança entra em momentos diferen- petências.
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
cimento importante, que exige um nível eleva- tes. O inserimento não é uma prática rígida, O inserimento é um conceito cultural que
do de profissionalismo para conseguir que a sendo organizada segundo a interpretação de reflete a interpretação italiana mais vasta de
criança se adapte e se sinta segura num novo cada comunidade local. ECI como um sistema em que há uma gran-
ambiente que vive das relações com pares e A nível teórico, a presença de alguém bem de continuidade nas relações. Porém, temos
adultos (Mantovani, Terzi, 1987). conhecido da criança durante o tempo de du- de ter cuidado com o risco de transformar a
Em Itália, há uma forte tradição de participa- ração do processo de transição remete para prática de inserimento em rituais automáticos
ção e envolvimento das famílias (Mantovani, a contribuição da teoria da vinculação (Bowl- destituídos de sentido. A cultura relacional, o
2007). Desde o início da década de 1970, pais by, 1969, 1988) e para as suas relações com o bem-estar e a participação são, sem dúvida,
e educadores desempenharam um papel fun- comportamento de exploração autónoma da uma base de referência e um ponto de partida
damental na mediação da transição de casa criança (Ainsworth, 1978). Também se inspira importantes (Mantovani, 2007). O desafio que
para a creche. Anos de investigação, experi- na perspetiva ecológica do desenvolvimento e se coloca hoje em dia é alargar este ponto de
ência e debate levaram a uma definição do no construto teórico de “relações entre siste- vista e discurso sobre autonomia, interdepen-
processo de inserimento (acolhimento) como mas” (Bronfenbrenner, 1979), apoiada por es- dência e relações, incentivando a adoção de
“uma estratégia para iniciar cuidadosamente a tudos sobre as elações entre grupos de pares. uma perspetiva antropológica da infância que
relação e comunicação entre crianças e adul- Os investigadores concordam que uma expe- seja capaz de dar resposta às complexidades
tos” (Bove, 2001:109), que foi introduzida na riência positiva de transição cria uma espécie e paradoxos do nosso tempo de modo flexível
12 prática. O inserimento tem duas finalidades
principais: facilitar a adaptação ativa da crian-
de “marca” para as relações subsequentes
com professores, para além de ser um mo-
e consciente.
ça ao novo contexto e ajudar a promover uma mento de crescimento para os pais” (Catarsi,
forte relação ou aliança com as famílias. Tam- 2008; Milani, 2010).
bém cria as bases para o futuro envolvimento Esta perspetiva de transição suave, gradu- REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
e participação dos pais no centro. al e participada está hoje muito divulgada Ainsworth, M.D.S. et al. (1978) Patterns of attachment: A
A prática centra-se em conseguir que a criança nos serviços italianos de ECI e constitui um psychological study of the Strange Situation. Eribaum: Hills-
se adapte gradualmente, com apoio dos pais indicador de qualidade. Há, porém, algumas dale.
Bove, C. (2001) Inserimento: A Strategy for Delicately Begin-
ou do cuidador primário, ao contacto com dificuldades. A diversidade da sociedade mo- ning Relationships and Communications. In L. Gandini e C.P.
pares e adultos de fora da família. Os pais derna significa que os centros estão cada vez Edwards (eds.) Bambini: The Italian Approach to Infant/To-
ddler Care. Teachers College Press. Columbia University. New
são convidados a passar o máximo de tempo mais a trabalhar com pais de origens culturais, York, pp. 102-124.
possível no novo contexto, encorajando os linguísticas e educacionais muito diferentes, Bowlby, J. (1988) A secure base. Tavistock Professional Book:
London.
filhos a interagir com pares e educadores. A que têm conceitos diferentes de educação de Bronfenbrenner, U. (1979) The Ecology of Human Develop-
separação é curta no início, aumentando pro- infância e, por conseguinte, expetativas diver- ment. Experiences by Nature and Design. Cambridge, M.A:
Harvard University.
gressivamente. sas de ECI e do que representa para o filho/a. Catarsi, E. (2008) L’ambientamento dei bambini e dei genitori
A presença dos pais na instituição é positiva Tudo isto pode ter impacto na suavidade da nel Nido, in Comune de Firenze, Assessorato Pubblica Instru-
zione, Linee guida per I Servizi educative alla prima infanzia,
a três níveis: facilita a adaptação progressiva transição e na participação dos pais. Pode ser Júnior: Azzano San Paolo, Bergamo.
da criança a um novo contexto; proporciona particularmente difícil para os pais imigrantes Mantovani, S. (2007) Un tempo per incontrarsi. Pensieri e pra-
tiche per favorire l’ambientamento di bambini e genetori nella
aos educadores a oportunidade de conhece- compreender as finalidades do inserimento e scuola dell’infanzia. Kite Edizioni: Padova
rem a criança, ao observarem como interage as oportunidades que pode oferecer, em pri- Mantovani, S.; Terzi, N. (1987). L’inserimento. In Bondioli, A;
Mantovani, S. Manuale critico dell’asilo nido. Franco Angeli,
com os pais; e dá aos pais a oportunidade de meiro lugar, devido às diferenças de origem Milano, 1991.
conhecer outros adultos ligados à instituição, cultural e linguística, mas também por haver
aumentando assim a probabilidade de virem a mais probabilidades de que as suas experi-
indo ao encontro de necessidades
e criando oportunidades
Judit Bimbo é vice-presidente da Associação de Creches da Hungria, tendo trabalhado antes como psicóloga de
crianças e sido diretora dos serviços para crianças em Eger, no Norte da Hungria.
O período de adaptação das crianças que damente duas semanas, no outono, para cerca de duas semanas, o que depende de
transitam de casa para os serviços formais dar esse apoio. Os pais são apresentados cada criança. Para o centro, o período total
de ECI, começa na Hungria no princípio do ao profissional que vai trabalhar mais direta- de acolhimento estende-se do princípio de
verão e pode durar até meados de novem- mente com a criança e é marcada uma data setembro até meados de novembro. É pe-
bro, como explica Marta Korintus. para fazer uma visita a casa. dido aos pais (ou outro membro da família)
que fiquem com a criança durante as primei-
A receção às crianças e famílias Visita a casa ras duas semanas. A sua presença é consi-
nas creches da Hungria A finalidade desta visita é contactar com a derada importante para proporcionar “uma
Os profissionais da Educação e Cuidados criança no seu ambiente familiar, em que está base segura” durante esses primeiros dias,
para a Infância na Hungria vão avançando mais à vontade, e permitir ao profissional que são fundamentais. A duração do tempo
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
pouco a pouco, durante um período de vá- responsável e a outro membro do pessoal do passado no centro e o número de horas de
rios meses, no apoio a uma transição suave centro uma oportunidade de conhecer a per- separação dos pais vai aumentando gradu-
da casa para os serviços formais prestados a sonalidade, hábitos e necessidades da criança. almente.
crianças e famílias. Observar a criança em casa ajuda estes pro- O papel dos pais e a progressão gradual são
A experiência de transição da criança e a dos fissionais a criar um ambiente que seja o mais aspetos essenciais. Não há regras definidas
seus pais/cuidadores são consideradas como familiar e acolhedor possível para a criança. que estabeleçam por quanto tempo os pais
intrinsecamente relacionadas. Os educadores O responsável pela criança traz-lhe um pe- podem ficar com as crianças. Esta decisão
são por isso encorajados a ser sensíveis tanto queno presente, normalmente um trabalho é tomada conjuntamente pelos pais e pelo
às inseguranças dos pais como às das crian- (desenho, trabalho em feltro ou costura feito educador responsável.
ças. Particularmente as mães podem sentir-se pelo educador) com o símbolo que será atri- A adaptação da criança – e, de facto, todo
simultaneamente ansiosas e culpadas por co- buído à criança no centro para personalizar o processo de transição para os serviços de
locar a criança num centro educativo. o seu cacifo, toalha, lençóis, pente e outros ECI – é apenas o começo de um processo
pertences. É acordada a data e hora do pri- muito mais longo: o trabalho de parceria
Sessões de introdução meiro dia “normal” da criança no centro. com os pais.
(durante todo o verão)
As inscrições são habitualmente feitas no Acolhimento
14 fim da primavera. A maioria dos centros edu-
cativos organiza um programa de sessões
Cada educador acolhe uma só criança de cada
vez, estando previsto que o processo dure
introdutórias durante todo o verão, que tem
como finalidade informar os pais sobre as
práticas do centro e lançar as bases da cons-
trução de futuras relações. Estas sessões
podem incluir apresentações feitas pelos
educadores, mas também convites para pas-
sar algum tempo a brincar no recreio, para
que todos se conheçam.
tidas das crianças na instituição eram perce- A mudança mais significativa, contudo, dá-se
cionadas como pouco relevantes, não sendo na atitude dos profissionais. Tornam-se mais
visto como necessário pelos diversos interve- sensíveis à ideia de que as transições são uma
Acolhendo uma criança no Centro Social de Azurva
nientes o investir num “mero” tempo de es- experiência única para cada criança, que não
pera. Porém, é esse tempo que pode marcar deve ser orientada pelos adultos; reconhecem
Uma (re)construção do ambiente educativo
o início de um bom ou mau dia das crianças os benefícios da brincadeira espontânea e au-
implica uma visão holística de todos os espa-
numa instituição: um bom começo de dia tónoma, não somente como forma de apren-
ços e de todos os tempos da rotina diária. A
influencia o bem-estar, os sentimentos posi- dizagem e bem-estar, mas como um meio de
preocupação dos educadores centra-se geral-
tivos, a abertura e recetividade ao mundo ex- prevenir sentimentos de solidão e ansiedade.
mente nos espaços da sala de atividades e são
terior por parte das crianças (Laevers, 2005), Estes benefícios foram discutidos com os pais.
por vezes esquecidos os espaços coletivos –
marcando a diferença entre o modo como À chegada são seguidos os sinais das crianças
refeitórios, salas de receção e entrega, casas
estas veem a instituição, o modo como se le- sobre o modo como estas preferem entrar
de banho, corredores. Nestes locais emerge
vantam de manhã, a vontade que manifestam nas atividades em cada manhã. Cada criança
muitas vezes uma falta de cuidado relativa-
ou não de ir para a instituição e a segurança e lida com a transição casa-instituição de forma
mente ao espaço relacional no qual a crian-
descontração com que enfrentam o momento pessoal e única: pode agarrar-se a um objeto
ça se move, e são aí visíveis baixos níveis de
da despedida dos pais pela manhã. Sendo os preferido que a ligue a casa, escolher um brin-
sensibilidade do adulto nas manifestações de
15 tempos em que os pais têm um contacto mais
direto com a instituição, a receção e entrega
quedo no espaço onde a deixam e não querer
estabelecer contacto imediato com a pessoa
respeito, atenção e afeto. Isto tem repercus-
sões na qualidade do bem-estar das crianças.
são também determinantes, em grande par- que a acolhe, ficar a dormitar mais um pouco,
Esta visão alargada da educação e do que é
te, da perceção positiva ou negativa que têm ou simplesmente não fazer nada.
considerado “ambiente educativo” encoraja
daquela. Os níveis de bem-estar das crianças aumentam
os profissionais a maximizar o potencial de
Antes do início do projeto era dada às crian- quando são respeitadas, ouvidas e considera-
cada espaço/tempo. Temos uma obrigação
ças alguma escolha de atividades, geralmente das. Demonstram mais vitalidade e autocon-
cívica de incorporar as crianças em contextos
desenho e jogos de mesa. Contudo, observa- fiança e mostram-se mais relaxadas e envolvi-
que as respeitam, se queremos concretizar
ções realizadas através da Escala SICS – ZICCO das nas atividades que elas próprias encetam.
o seu direito a serem felizes, descontraídas,
(Laevers, 2005) evidenciavam baixos níveis de Nota-se ainda um outro resultado. Anterior-
abertas, recetivas e autoconfiantes (Oliveira-
bem-estar por parte das crianças. Os sinais de mente a este projeto, um número significativo
-Formosinho, in Oliveira-Formosinho et al,
desconforto incluíam choros e conflitos fre- de crianças frequentava atividades adicionais,
2007).
quentes, que iam diminuindo de intensidade ao “extracurriculares”, como natação, música ou
longo do dia. Ainda assim, educadoras e auxi- dança, na crença de que estar inativo ou ocio-
liares não estabeleciam qualquer relação entre so é negativo. Com a progressiva conscien-
estes fatores: o desconforto inicial, o aumento cialização da importância do tempo dedicado REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
gradual de bem-estar e o modo como as crian- à brincadeira, um número crescente de pais
ças eram recebidas na instituição. foi optando por ficar um pouco mais no cen- Laevers, F. (2005). Manual SICS. Well-being and Involvement
in care settings. A process oriented self-evaluation instru-
A mudança ocorre através da consciencializa- tro, no final do dia, normalmente no exterior, ment. Leuven: Kind and Gezin and Research Centre for Ex-
ção, que emerge da discussão e análise das deixando as crianças brincar e brincando com periential Education.
Oliveira-Formosinho, J. (2007). Pedagogia(s) da infância:
observações, de dois aspetos fundamentais: a elas de forma descontraída, aproveitando os Reconstruindo uma praxis de participação. In J. Oliveira-For-
importância de bem receber e a importância de materiais reciclados e naturais que aí eram mosinho, T. Kishimoto e M. Pinazza (Orgs.), Dialogando com
o passado construindo o futuro. São Paulo: Artes Médicas.
deixar as crianças brincar. Este tempo da ma- deixados pela equipa.
TRansiÇões
Kerstin Mierke recorda o processo de tran- pudemos ver quanto apoio era dado pelos achávamos que o debate sobre o desenvol-
sição, com o seu apoio e o do pai, do seu educadores. Os trabalhos manuais que os vimento do Aidan era muito “resumido”.
filho de dois anos de casa para o Asilo, pais faziam durante o inserimento pareciam Transmitimos esta opinião e prometeram-
um centro educativo comparticipado para ser considerados muito importantes. Para -nos que, no futuro, dariam mais porme-
crianças dos três meses aos três anos, na além dos álbuns de família, havia argolas de nores. Contactava informalmente todas as
Lombardia, Itália. guardanapo, bordado de bibes e de outros tardes com a educadora responsável pelo
objetos pessoais, que os educadores usa- Aidan, que me contava histórias e “graci-
As crianças que entram de novo para o vam para confortar as crianças e mostrar- nhas”, para além da informação habitual
Asilo começam várias semanas mais tarde -lhes que os pais estavam com elas em sobre as refeições e sesta. Penso que foi
do que as que já o frequentaram antes e pensamento. a sua personalidade e relação com o Aidan
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
é pedido aos pais que fiquem com elas até Durante o primeiro ano, recebemos muita que fez que esse primeiro ano fosse tão
duas semanas, como fazendo parte do inse- informação sobre a criança, tanto formal agradável para nós.
rimento (acolhimento). como informal. As reuniões periódicas de
Durante a primeira semana de inserimento, pais eram um tanto decepcionantes, porque
o meu marido ficou todos os dias com o
Aidan cerca de duas horas sem nunca deixar
a sala. Os educadores observam as crianças Kerstin Mierke e Aidan, o seu filho de 2 anos.
e ocupam os pais, numa mesa ao centro da
sala, com trabalhos manuais. A atividade
que mais apreciámos foi a feitura de um
álbum de fotografias da família pelo meu
marido, de que o Aidan gostou muito.
Na segunda semana, tanto o meu marido
como o Aidan ficaram durante mais tempo
e as crianças passaram períodos cada vez
mais longos na sala, sem os pais.
17 A transição foi bastante suave, tanto para
nós como para o Aidan, mas havia outros
pais para quem era claramente mais difícil e
aPRendiZaGem aTiva
As oportunidades proporcionadas durante a procurar desenvencilhar-se sozinha, a dei- des exploratórias e sociais e um aumento de
os primeiros anos são a base para a criança xar o adulto, a correr riscos, não acontece perturbações de desenvolvimento. Em situa-
construir a sua visão da realidade. Gabriela por oposição a um desejo de proximidade e ções extremadas, o bebé privado de relações
Portugal desenvolve a transposição para a de segurança. Sabemos que a criança não afetivas adequadas pode reagir com apatia,
prática do conceito da aprendizagem ati- tem curiosidade, não evidencia o seu ímpeto distúrbios alimentares, do sono e/ou incapa-
va em crianças dos zero aos três anos, de exploratório a não ser num clima de segu- cidade de desenvolvimento (failure to thri-
modo a tirar partido da sua capacidade de rança. A sua energia, a sua curiosidade, o ve). A criança um pouco mais velhinha pode
empreendedorismo e da sua sede de inde- seu desejo para aprender, em suma, o seu evidenciar comportamentos mais resistentes
pendência. desenvolvimento sensório-motor, social, lin- ou agressivos, pode voltar-se para si mesma
guagem e pensamento estão intimamente em busca de conforto (desenvolvendo hábi-
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
Ao olharmos um bebé, não podemos deixar relacionados com a qualidade das interações tos como chupar ou manipular partes do seu
de admirar o vigor que ele põe na movimen- e ligações afetivas que estabelece com as corpo), pode mostrar medos exacerbados,
tação, ao voltar-se, ao tentar sentar-se, ao suas figuras de referência. indisponibilidade para novos estímulos e ex-
levantar-se, ao andar, ao mexer, ao procurar Lembremos as investigações clássicas de periências, etc.
desenvencilhar-se sozinho, ao comunicar e Spitz (1946) e Bowlby (1992), ou mesmo Har- Em suma, as crianças dependem de adultos
falar cada vez melhor, ao tentar fazer coisas low (1976), evidenciando a importância de atentos e capazes de criar um ambiente de
cada vez mais difíceis. Existe na criança uma figuras de referência afetivamente significa- exploração convidativo e seguro, a partir do
força empreendedora para aprender, mexer, tivas para a aprendizagem e desenvolvimen- qual podem aprender ativamente. A consi-
explorar, fazer as coisas e conhecer a alegria to futuros. Nos seus trabalhos, os autores deração da atividade natural da criança, o
da ação e do sucesso. concluem que é na ausência de bases segu- brincar, a atenção ao mundo experiencial da
Mas esta força empreendedora que a leva ras que se verifica maior restrição de ativida- criança, ou seja, a atenção ao seu bem-estar
e qualidade da sua implicação nas diferentes
atividades e rotinas, e a focalização na qua-
lidade das relações que se estabelecem com
a criança são o fundamento de um programa
educativo de qualidade.
18 De acordo com uma abordagem experien-
cial, a maneira mais económica e conclusiva
para avaliar a qualidade em qualquer contex-
to de ensino é atender a duas dimensões:
bem-estar emocional e implicação experien-
ciados pelas crianças. Como refere Laevers
(2003, p. 14), “Quando queremos saber como
está cada criança num contexto educativo,
temos primeiro que perceber o grau em que
se sente à vontade e age espontaneamente,
demonstra vitalidade e autoconfiança. Todos
estes elementos indicam que o seu bem-es-
tar emocional está bem e que as suas neces-
sidades físicas são atendidas: a necessidade
de ternura e afeto, a necessidade de segu-
rança e clareza, a necessidade de reconhe-
cimento social, a necessidade de se sentir
competente e a necessidade de um sentido
na vida. O segundo critério está relacionado
com o processo de desenvolvimento e exi-
ge do adulto a organização de um ambiente
desafiador que favoreça o desenvolvimen-
to”. Este segundo critério, o de elevada im-
dor poderá questionar várias dimensões do
contexto educativo (Laevers, 2005; Portugal
& Laevers, 2010).
O ambiente educativo
Até que ponto o contexto educativo é “rico”,
apelativo e diversificado? Importa olhar a or-
ganização dos espaços, os materiais lúdicos
disponíveis, a diversidade das atividades em
oferta no decurso do dia. O espaço contém
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
O papel do educador
O educador tem intervenções estimulan-
tes durante as atividades, enriquecendo o
brincar da criança e criando oportunidades
plicação, apenas acontece quando o desafio O ambiente, a parte do currículo que inclui de evolução da brincadeira? O educador co-
presente na atividade se verifica no prolonga- o arranjo espacial, tal como está organizado, loca questões ou intervém, estimulando a
mento das atuais possibilidades das crianças, pode promover ou restringir o jogo da crian- criança a refletir, a descobrir, a comunicar?
ou seja, em zona de desenvolvimento próximo ça e as suas interações com os outros, pode Organizam-se atividades considerando a di-
19 (Vygotsky) (Laevers, 2003, p. 15). “Implicação
significa a existência de uma atividade mental
facilitar ou não a sua autonomia e rotinas,
os momentos de aconchego e bem-estar
versidade e individualidade das crianças? O
potencial de aprendizagem das atividades e
intensa em que a pessoa funciona nos limites estético. A organização do espaço pode materiais é constantemente refletido?
máximos das suas capacidades em que o flu- facilitar aprendizagens, criar desafios, pro-
xo de energia provém de fontes intrínsecas. vocar a curiosidade, potenciar autonomia e Promover interações positivas
Não se pode conceber uma situação que seja relações interpessoais positivas. A criação de Até que ponto as crianças se sentem à von-
mais favorável ao verdadeiro desenvolvimen- um clima familiar onde se conhece seguran- tade no contexto e no grupo? O espaço é
to. Se pretendemos uma aprendizagem de ça e amplas oportunidades para explorações, agradável, aconchegante, interessante, ca-
nível profundo, não o conseguiremos sem descobertas e estabelecimento de relações ótico, demasiado organizado? Existe pouca
envolvimento” (Ibidem). sociais, exercitando a sua autonomia e com- interação positiva entre as crianças, verifi-
Assim, os níveis de bem-estar e implicação petências permite às crianças envolverem-se cando-se frequentes disputas, lutas, empur-
tornam-se pontos de referência para os pro- ativamente nas aprendizagens. rões? Ou as interações entre as crianças são
fissionais que pretendem melhorar a qualida- Sabendo que cada bebé e criança muito pe- normalmente positivas (e.g., as crianças mais
de do seu trabalho, promovendo o desenvol- quena absorve e integra cada experiência velhas cooperam e partilham; em geral, as
vimento e a aprendizagem. São indicadores vivida, passando esta a fazer parte da sua crianças brincam conjuntamente, raramente
do que a oferta educativa ou as condições forma de sentir e pensar o mundo, na cre- ocorrendo disputas ou brigas). Os adultos
ambientais provocam nas crianças. Perante che, cabe a cada profissional compreender e modelam competências sociais positivas
níveis baixos de implicação, a questão que se assegurar formas diversas e positivas de pro- (e.g., são gentis, escutam, estabelecem rela-
coloca para o educador é: por que é que a im- moção de aprendizagens e desenvolvimento, ções empáticas e cooperantes)?
plicação será baixa? Que poderei eu fazer para atendendo aos seus níveis de bem-estar e de
mudar a situação? Que poderei fazer para au- implicação. Na procura de compreensão para Facilitar a independência e o desafio
mentar os níveis de implicação, ter crianças a os níveis de implicação e de bem-estar emo- Quanta iniciativa e autonomia se vive no
agir e aprender com empenho e alegria? cional evidenciados pelas crianças, o educa- contexto? Importa olhar as oportunidades
aPRendiZaGem aTiva
um contacto visual, de uma vocalização ou mais ou menos fugazes, de cooperação fu- Leva a sua história, as suas experiências
gesto. Eles dependem de adultos atentos e gidia. Ajudada pelo adulto, aprende a adiar a processadas e integradas, sendo neste sen-
capazes de criar um ambiente de exploração satisfação imediata de um desejo, a esperar, tido que as experiências precoces da criança
convidativo e seguro. É importante que os a alterar a forma de o satisfazer, percebe, exercem a sua influência no desenvolvimen-
espaços incluam recantos confortáveis e re- pouco a pouco, que importa considerar as to. Porque o desenvolvimento não é irreme-
laxantes em que o educador está disponível necessidades dos outros e aprende regras do diavelmente determinado nos primeiros anos
para interagir ou confortar (por exemplo, funcionamento em grupo. Assiste-se a um de vida, cada trajetória de vida tem a opor-
a existência de um sofá na sala, de uma intenso desenvolvimento social e linguístico, tunidade de ultrapassar fragilidades iniciais,
mantinha e almofadas são elementos que à expansão da sua capacidade imaginativa e se experiências adequadas forem posterior-
introduzem uma nota de ambiente familiar ideacional, no jogo de faz de conta, em inte- mente vividas pela criança. Mas não deixa de
e que predispõem à aproximação entre as ração com outras crianças e adultos. Parale- ser um direito do bebé-cidadão poder expe-
pessoas, adultos e crianças). É importante lamente, ainda se mantém muito orientada rienciar, desde a idade de creche, um mundo
que os espaços ofereçam uma variedade de para o movimento e para a ação, necessitan- seguro e estimulante, alicerce de aprendiza-
objetos interessantes, com diferentes textu- do de muito espaço e liberdade para as suas gens ativas e desenvolvimento felizes.
ras e desafios motores diversificados, sem explorações e experiências ativas, Procura
que se gere confusão ou que seja posta em cada vez mais desenvencilhar-se sozinha:
21 causa a segurança da criança. O investimen-
to nos espaços exteriores é importante. Ao
quer vestir-se sozinha, comer sozinha, segu-
rar o copo sozinha; ser ela a tocar a campai- REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
ar livre, no contacto com areia, terra, água, nha, ser ela a premir o botão do elevador, ser Bowlby, J. (1992). A secure base, clinical applications of atta-
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teresse em compreender, escutar, observar, procura incessante de novas aprendizagens
fornecer e ensinar palavras. Torna-se impor- e de assegurar níveis elevados de bem-estar
tante providenciar variadas oportunidades emocional e de implicação.
aPRendiZaGem aTiva
Para lá da cancela
Felicity Norton é subdiretora do Núcleo de Investigação de Pen Green.
www.pengreen.org.
Isabella e Amelia 1. Isabella a observar Amelia. 2. Isabella contente por estar no interior do Den (a sala dos 2 anos), com o profissional responsável e a irmã. 3. Isabella visitando a irmã, indiferente
aos olhares dos espetadores. 4. Amelia levando Isabella para áreas anteriormente não exploradas. 5. Isabella aceitando os desafios motores colocados por Amelia.
a aprendizagem como
um processo aberto
e colaborativo
Em San Miniato, Itália, os serviços para as criança aprende ou podem ajudar a desen-
5
crianças de zero a três anos adotam uma volver a sua compreensão, mas o ato de
visão muito particular da natureza do pro- aprender é interno e pessoal e não pode ser
cesso de aprendizagem. realizado por procuração de outra pessoa.
Neste sentido, “aprender” é um conceito
A criança usa a experiência para construir a sua muito vasto. É efetivamente inseparável do
visão da realidade. O conhecimento e a com- desenvolvimento global da criança, físico e
preensão não estão “lá fora” à espera de serem emocional, bem como intelectual. Inclui cer-
apresentados pelo educatore e transmitidos tamente as atividades mais formais e escola-
a um aprendiz sobretudo passivo. O conheci- res, que a criança irá encontrar em estádios
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
A emergência do projeto
Compreendo que as crianças estão interes-
sadas nos peixes. Crio-lhes experiências com
os peixes.
É neste processo de observação e escuta
que procuro entender os seus interesses
e as questões emergentes que permiti-
rão desenvolver uma investigação. Como?
Devolvo-lhes as suas falas para perceber as
suas intenções, ajudando-as a explicitá-las.
Identifico o que as crianças querem saber:
se os peixes andam? Se os peixes têm asas e
voam? Como é que os peixes nadam?
Para responder às questões, as crianças pri-
vilegiam a família como fonte de informação.
A adesão dos pais é grande. As crianças
entusiasmam-se com a informação enviada.
Toda esta informação tem de ser organizada,
para criar situações em que a sua utilização
se traduza em experiências de aprendizagem
das crianças.
O projeto entra agora numa outra etapa.
Aprendemos muitas coisas. Que vamos fazer
agora? Produzir é muito importante para o
aprender porque exige passar da exploração
para a representação. Através da representa-
ção as crianças mostram, tornam visíveis as
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
aprendizagens.
Todas as experiências que as crianças tive-
ram com os peixes, despertaram os sentidos
inteligentes e as inteligências sensíveis e ga-
nharam forma nas suas obras. As crianças
conquistaram as suas próprias representa-
ções da realidade e criaram significado.
Com isto, foi cumprida uma outra etapa des-
te projeto. Os processos e produções vão
ocupando as paredes da sala de atividades
e o ambiente educativo transforma-se. Fala
das aprendizagens das crianças e da colabo-
ração das suas famílias. Mostra o aprender, às nossas perguntas iniciais?» As crianças • os peixes não têm pés. Não têm pernas.
o viver e o brincar. entusiasmam-se a contar o que aprenderam: Têm barbatanas (Afonso);
E é o momento de perguntar: «Então, o que • os peixes têm cabeça com dois olhos e • os peixes não têm braços, têm barbatanas
aprenderam sobre os peixes? Respondemos uma boca (Bernardo); para nadar. Eu tenho braços (Luísa).
25 Considerações finais:
Este estudo de caso mostra o valor da pe-
dagogia-em-participação, abordagem que
defende uma aprendizagem experiencial, o
respeito pelas crianças e famílias, a escuta,
a coconstrução da aprendizagem e a docu-
mentação (Azevedo, 2009).
BIBLIOGRAFIA
Azevedo, A. (2009). Revelando a aprendizagem das crianças:
a documentação pedagógica. Tese de Mestrado em Educa-
ção de Infância. Braga: Instituto de Estudos da Criança, Uni-
versidade do Minho.
Oliveira-Formosinho, J. (Org.) (2011). O espaço e o tempo na
pedagogia-em-participação. Coleção Infância n.º 16. Porto:
Porto Editora.
Oliveira-Formosinho, J., & Gambôa, R. (orgs.) (2011). O tra-
balho de projeto na pedagogia-em-participação. Coleção
Infância n.º 17. Porto: Porto Editora.
Oliveira-Formosinho, J., & Formosinho, F. (2012). Pedagogy-
-in-Participation: Childhood Association educational appro-
ach. Porto: Porto Editora
aPRendiZaGem aTiva
investigação baseia-se em Lenz Taguchi começa a rodar o volante. Barad, K. M. (2007) Meeting the universe halfway: quan-
tum physics and the entanglement of matter and meaning.
(2010), que considera a aprendizagem como Um pouco depois, a sua expressão
Durham, N. C. : Duke University Press.
um processo orgânico que pode começar e muda e fica com um ar preocupado. Lenz Taguchi, H. (2010) Rethinking pedagogical practices
avançar a partir de qualquer ponto, e em Olha por cima do ombro para um lado in early childhood education: a multidimensional approach
e para outro e parece confundida pelo to learning and inclusion. In N. Yelland (ed.) Contemporary
Karen Barad (2007), que põe em causa as Perspectives on early childhood education (pp. 14-32) Mai-
teorias que afirmam que a linguagem é fun- tamanho e dimensão do carro. Desliza denhead, Berkshire: Open University Press.
damental para a criação de sentido e signi- para fora e começa intencionalmente a
ficação. De acordo com Barad, quando se andar à volta do carro, mantendo uma
estuda o processo de aprendizagem huma- mão em cima e traçando a sua forma
na, não se pode separar o corpo da mente e contornos. De vez em quando, faz
e a sua interação com os objetos e acon- uma paragem e dobra-se para observar
tecimentos. Para sublinhar a constituição mais de perto uma parte do carro. De-
mútua do sujeito e do objeto, Barad usa o pois de dar uma volta completa, volta
termo “intra-ação” e Lenz Taguchi serve-se a entrar no carro e parece estar outra
do conceito de pedagogia “intra-ativa” para vez alegre e bem-disposta. Procura es-
caracterizar uma nova perspetiva da educa- tabelecer contacto visual comigo e faz
ção de infância. um grande sorriso.
A minha observação de Sara, de um ano,
num centro para a infância sueco constitui
um bom exemplo de como as crianças po-
dem “ser” matemáticas.
envoLvimenTo das FamiLias
REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
Nos montes Apeninos italianos, os serviços dos filhos, através de iniciativas informais
de educação e cuidados para a infância são como o passeio semanal na mata e outras,
o fulcro das ligações comunitárias, explica um pouco mais formais, como ateliês sobre
Anna Pelloni. questões que interessam especialmente aos
pais.
Durante o outono, se for dar um passeio Para além destas iniciativas, cada centro or-
nas matas dos montes Apeninos em Itália, ganiza também outras atividades como, por
poderá encontrar um grupo barulhento e di- exemplo, “a ordenha da manhã” numa quinta
vertido de crianças a colher castanhas com próxima ou a horta, no exterior do centro.
os pais. Os adultos estão muito ocupados A Comissão para a Infância organiza um
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
Há belos edifícios que não constituem am- ças aprenderem e crescerem. Os arquitetos tituídos pelas “qualidades sensoriais” imate-
bientes eficazes de aprendizagem para as não devem trabalhar sozinhos. Quando ZPZ riais acima referidas. A nossa investigação
crianças. Michele Zini descreve como ar- Associados começou a investigação (Gepi e produziu uma espécie de “código genético”
quitetos e educadores podem criar espaços Zin, 1998) com Crianças de Reggio, em 1994, dos espaços para crianças – os arquitetos,
educativos estimulantes que irão contribuir para criar um diálogo entre arquitetura e designers, educadores e outros que o to-
para melhorar a qualidade educativa. pedagogia, a equipa incluiu representantes mem como ponto de partida podem criar
dos domínios da educação, psicologia e de uma variedade infinita de espaços, mas to-
Não existe uma fórmula para determinar o ciências de sistemas complexos (um mem- dos terão em comum, esperamos nós, uma
que faz de um espaço um bom ambiente bro da equipa era um engenheiro biológico qualidade e um “espírito” semelhantes.
educativo. Essa fórmula não tornaria as coi- que estudava o modo como o cérebro per-
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
sas mais fáceis, nem serviria a grande com- ceciona formas), bem como da arquitetura, Ateliês multissensoriais: a finalidade é criar
plexidade e espontaneidade da infância. Mas arte, design interativo (criação de relações espaços que constituam ateliês para os sen-
após anos de investigação em projetos de significativas entre as pessoas e os produ- tidos das crianças, que lhes permitam ser os
espaços para crianças em Reggio Emília, Itá- tos e serviços que utilizam) e design senso- seres humanos ricos e competentes que são
lia, o ZPZ Associados consegue talvez apre- rial (centrado na luz, cor, tato, cheiro, som e e realizar o seu incrível potencial criativo.
sentar valores, qualidades e instrumentos microclima). A nossa tarefa era coordenar os
que podem ser úteis como orientação para diferentes contributos para que se comple- Luz: a iluminação proveniente de diversas
educadores e arquitetos. mentassem mutuamente, embora mantendo fontes para proporcionar uma luz tanto
No projeto de um espaço para crianças, a a visão especializada. concentrada como difusa e diferentes “tem-
abordagem holística é essencial. A qualida- Era necessário passar da simples constru- peraturas”, cores quentes, frescas e branco
de estética ajuda, mas nem sempre um belo ção de estruturas para a ideia de criação de rosado. A luz também permitirá criar dife-
edifício é um bom ambiente para as crian- “ecossistemas artificiais” para crianças cons- rentes sombras, com que as crianças podem
brincar.
macias e rugosas, húmidas e secas, opacas, Relações: todas as escolas e centros para Este artigo foi inicialmente publicado em
brilhantes, translúcidas e transparentes. a infância de Reggio Emília têm uma piazza, Making Space: architecture and design for
uma área central idêntica à da praça de uma young people. Children in Scotland, 2011
Microclima: a ventilação, a humidade, a cidade, em que os três principais sujeitos da www.childreninscotland.org.uk/makingspace
temperatura, a poluição, etc. têm impacto comunidade – crianças, educadores e pais –
no uso funcional do espaço. podem conviver. Por vezes, as crianças tam-
aPoio adiCionaL à aPRendiZaGem
Como é que os serviços regulares podem 12% das crianças até aos três anos, sendo por semana que realizam anualmente uma
dar uma resposta mais eficaz a todas as a sua frequência gratuita para crianças des- observação da saúde de todas as crianças.
crianças dos zero aos três anos e desem- favorecidas ou com necessidade de apoio Assim, a frequência de um serviço de ECI au-
penhar um papel na identificação dos que especial (neste momento, os outros pais só menta as probabilidades de identificação de
precisam de apoio especial? Sally Cavers contribuem para pagar as refeições). problemas relacionados com a saúde.
descreve o apoio que é prestado, na Hun- Há, no entanto, listas de espera e em 2010 Se as crianças têm de ser avaliadas para
gria, a alguns dos seus jovens cidadãos houve na Hungria 4000 crianças que se ins- beneficiar de medidas de apoio especializa-
mais vulneráveis. creveram e não tiveram lugar. do organizadas individualmente, a presença
Em dezembro de 2011, visitei dois serviços de de serviços de saúde e de profissionais de
ECI no Distrito 18 de Budapeste em que os educação especial na instituição facilita a
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
Quando uma criança é sinalizada pelos te, prepará-los para compreender e apoiar a
serviços de educação regular como tendo criança. Embora o diagnóstico só possa ser
Marta Petrus, uma deficiência, um apoio individualiza- feito depois de a criança ter 18 meses, muitas
coordenadora da educação do permanente pode ser extremamente das crianças encaminhadas para o programa
especial no Distrito 18 importante. O programa Early Bird do La- têm ainda menos de três anos. Considera-
de Budapeste narkshire do Sul, Escócia, dá apoio aos pais -se essencial envolver os pais o mais cedo
enquanto a criança está à espera de diag- possível.
“Ajudo a coordenar o apoio especiali- nóstico ou foi diagnosticada como autista. “Ajudamos os pais a ver o mundo com os
zado de psicólogos educacionais, psi- olhos dos filhos”, diz Margot Mooney. “As
cólogos, terapeutas comportamentais, crianças a quem foi diagnosticado autismo
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
momento que chegam até que saem, tanto atitude positiva e refletida relativamente ao REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
dentro da sala como no exterior, o que se trabalho com crianças e famílias é tão impor- Dahlberg, G. & Moss, P. (2006) Ethics and Politics in Early
reflete nos recursos que utilizam e nas ima- tante como um diploma formal. Childhood Education. RoutledgeFalmer.
Oberhuemer, P & Schreyer, I. (2008) Que profissional? Infân-
gens e mensagens que estes comunicam. As Ser capaz de tudo isto exige educadores ex-
cia na Europa, n.º 15, 9-11.
Orientações Curriculares Nacionais da Fin- tremamente competentes. Porém, os relató- OCDE (2006) Starting Strong II Early Childhood Education
lândia para a ECI afirmam, por exemplo, que rios da OCDE de 2006 e 2001 indicam que and Care. Paris: OCDE.
“jogo, movimento, exploração e expressão em muitos países europeus os profissionais OCDE (2001) Starting Strong Early Childhood Education and
Care. Paris: OCDE.
livre através de diferentes formas artísticas” que trabalham nas respostas autorizadas le- Rinaldi, C. (2006) In dialogue with Reggio Emilia: Listening,
são formas de agir e pensar próprias das galmente para crianças com menos de três Researching and Learning. Routledge.
crianças. Essas atividades promovem o bem- anos têm, no geral, menos formação do que Stakes (2005) Varhaiskasvatussuunnitelman perusteet toinen
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
Um projeto no Lanarkshire do Sul, Escócia, Apoio aos pais para brincarem em casa com • Prevenção e gestão de violência e agres-
contribui para a compreensão dos conheci- bebés e crianças pequenas – atividades e são;
mentos, perícia e competências diversifica- ideias que contribuem para cada estádio do • Impacte de maus-tratos domésticos nas
dos e complexos que são necessários para desenvolvimento da criança e promovem os crianças e jovens.
dar resposta às necessidades do grupo etá- pais e cuidadores como os primeiros e mais A capacidade do profissional para desen-
rio do pré-nascimento aos três anos. importantes educadores; volver uma relação e dar apoio aos adultos
• Trabalho em serviços integrados para chave na vida das crianças é tão importante
O programa Primeiros Passos tem como crianças; como os conhecimentos, perícia e compe-
finalidade quebrar o ciclo de pobreza, de- • Normas de partilha de informação; tências diretamente relacionados com o
sigualdade e fraco rendimento das famílias, • Manutenção de registos; trabalho com crianças.
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
centrando-se exclusivamente no período • Estágios em clínicas de encaminhamento, O programa começa na fase pré-natal,
entre o início da gravidez e os três anos. A centros familiares, programas de saúde e apoiando a grávida na adoção de compor-
maioria da equipa é constituída por profis- serviços integrados para crianças da região; tamentos saudáveis. A relação desenvolvida
sionais com muita experiência em educação • Acompanhamento de parteiras; nesta fase é fundamental para a continui-
e cuidados para a infância, mas com for- • Saúde familiar, incluindo nutrição, saúde dade do apoio proporcionado nos primeiros
mação contínua intensiva para aprofundar oral, tabagismo, atividade física, abuso três anos de vida da criança. Shirley Mitchell,
conhecimentos, perícia e competências de de drogas e saúde mental (pré-natal e diretora do programa afirma: “O apoio pós-
modo a serem capazes de dar o apoio holís- pós-natal); -natal centra-se nas competências paren-
tico exigido e de refletir sobre as necessida- • Efeitos do álcool e drogas na gravidez; tais e no desenvolvimento de interações
des deste grupo etário. • Primeiros socorros a crianças e bebés; positivas com a criança, com especial aten-
A formação abarca diversos tipos de temáticas • Reanimação de bebés; ção ao brincar e ao falar desde a mais tenra
que incluem o desenvolvimento da criança, a • Aleitamento e apoio ao desmame; idade. O programa Primeiros Passos tam-
aprendizagem pelo jogo, promoção e apoio • Apoio a famílias com dificuldades emo- bém dá ajuda em questões práticas como
à saúde, trabalho com outros profissionais e cionais ou comportamentais; habitação, finanças, realização de estudos e
serviços, apoio à família – tanto emocional • Primeiro apoio em saúde mental; empregabilidade. A finalidade global é criar
como prático. O programa de formação para • Apoio a famílias para acederem a bene- autoestima e resiliência nos pais, porque se
35 os profissionais de Primeiros Passos abrange:
• Proteção da criança;
fícios sociais e a outros serviços como
aconselhamento em caso de endivida-
sabe que isto vai ter um impacto positivo
na criança em desenvolvimento. Esperamos
• Desenvolvimento da criança; mento; que os resultados positivos se mantenham
a longo prazo.”
Embora este programa se centre particular-
mente em mães vulneráveis de comunida-
des desfavorecidas, os conhecimentos dos
profissionais de Primeiros Passos fazem
ressaltar a diversidade e complexidade que
envolve o trabalho de apoio à criança du-
rante os primeiros anos. “As competências
e o conhecimento especializado dos pro-
fissionais são essenciais para permitir que
transmitam corretamente as mensagens,
trabalhem com as famílias de forma ade-
quada e atuem eficazmente com os servi-
ços parceiros. As qualidades pessoais são,
no entanto, fundamentais para atingir es-
tes resultados”, acrescenta Shirley Mitchell.
“Do ponto de vista das famílias é esta a
chave para o programa ter sucesso.”
os PRoFissionais
Celebrando
a infância em Cowgate
Lynn McNair explica o que espera dos pro- a perspetiva sociológica. Viver num mundo independentemente da fase da vida em que
fissionais que vêm trabalhar para o centro de globalização e migração implica a neces- se encontra. A infância tem de ser enaltecida
que dirige em Edimburgo, Escócia. sidade de ter um pensamento aberto e ca- como um período com o seu valor próprio
pacidade de adaptação e flexibilidade para e não como uma preparação para o futuro.
As crianças têm o direito a um profissional dar resposta ao desenvolvimento holístico Há certamente muitas outras competências
que demonstre alegria, entusiasmo e afeto e único próprio de cada criança. A partir que contribuem para alargar as experiências
pelas crianças com quem trabalha. As pesso- deste conhecimento, espera-se que os pro- da criança num centro educativo. Por exem-
as podem diferenciar entre os profissionais fissionais tenham competências de reflexão plo, os profissionais de Cowgate tiveram li-
que trabalham com crianças mais pequenas e qualidades reflexivas que lhes permitam ções de guitarra, em sessões conjuntas com
e os que trabalham com as mais velhas, mas uma análise crítica e uma valorização contí- as crianças, para melhorar canções e jogos,
inFÂnCia na euRoPa ediÇÃo esPeCiaL 2013
a realidade é que as suas competências de- nua do progresso, que lhes permita planear e há um pequeno grupo que também está a
vem ser fluidas, de modo a poderem traba- ambientes estimulantes para as crianças. Por começar com aulas de trabalhos em madeira.
lhar com todas as crianças do centro – pro- exemplo, que a qualidade dos planos que Um centro de educação e cuidados para a
fissionais sensíveis ao que observam e que elaboram reflita o que sabem da criança e infância não é a casa das crianças nem a es-
adaptam as suas respostas às crianças e suas dos seus interesses e o modo atento como cola, embora deva ter um caráter “familiar”,
famílias. a escutam. em que os profissionais vivem com as crian-
É, evidentemente, essencial que tenham um Nesta prática, a criança é tratada com res- ças, pais e outros membros da comunidade.
profundo conhecimento da psicologia do peito e confiança, considerada como plena
desenvolvimento e de outras teorias que de potencialidades e capacidades e, sobre-
influenciam a educação, como por exemplo, tudo, como agente da sua aprendizagem,
36
a influência masculina
Os homens perfazem apenas uma peque-
na percentagem dos profissionais de edu-
cação de infância. Será que contribuem
com competências e saberes diferentes?
Lynn McNair explica por que gostaria que
houvesse equilíbrio entre homens e mu-
lheres nos profissionais dos centros para
a infância.
torgando a responsabilidade da avaliação às tão assim, simultaneamente, numa posição aos coordenadores e profissionais que ob-
crianças e famílias. O debate sobre a educa- externa à realização da prática e interna à servem e documentem todos os aspetos
ção e cuidados das crianças pode tornar os promoção da sua melhoria. O papel do co- que definem a qualidade do serviço, dando
serviços de ECI um fórum de relações demo- ordenador é particularmente valorizado, no particular relevo às experiências quotidianas
cráticas, proporcionando oportunidades de sistema de avaliação proposto, pois tem de das crianças (Di Giandomenico, Musatti &
desenvolvimento cultural nas nossas socie- dar a sua opinião sobre a qualidade do servi- Picchio, 2011). A análise e debate desta do-
dades. Deste modo, a qualidade do serviço ço, bem como sobre o apoio e coordenação cumentação sistemática, por todos os par-
de ECI é construída através de um processo das atividades de avaliação dos profissionais ticipantes, irá conduzir à expressão de juízos
participativo, sendo a avaliação considerada e dos pais. qualitativos e fundamentados. Evitam-se os
como um ato ético e político (Infância na Eu- Os decisores políticos e os serviços do Go- juízos sintéticos como a atribuição de níveis,
ropa, 2007, Musatti, 2011). verno têm de garantir o direito das crianças porque não favorecem a compreensão mú-
O sistema de avaliação que propusemos in- à educação, assegurar uma igualdade de tua entre participantes. É pedido a todos
clui todos os intervenientes envolvidos na oportunidades para todos e prestar contas que justifiquem os seus juízos de valor, ten-
qualidade da resposta de ECI e nesse enqua- do investimento da sociedade na ECI. Este do como referência um conjunto de finali-
dramento participativo comum são tidas em envolvimento implica pareceres formais so- dades e objetivos educativos previamente
consideração as diferenças de situação e de bre a qualidade do serviço. A necessidade comunicados ou apresentados noutros con-
papéis que desempenham. de articular estes pareceres com o processo textos democráticos.
A avaliação está inserida no horário diário contínuo de reflexão e debate entre todos os
39 dos profissionais de ECI e tem em conta a
sua posição específica de participantes dire-
intervenientes mais centrados na melhoria
das práticas constitui uma questão central
tos no contexto educativo. A avaliação tem do sistema de avaliação proposto, em que REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS
de se tornar uma componente essencial da os juízos de valor de todos os intervenientes
Children in Europe (2007) Young Children and their Services:
sua prática profissional, promovendo os pro- são integrados num relatório final da quali- Developing an European Approach.
cessos reflexivos, valorizando as competên- dade do serviço, que confirma o cumprimen- www.childrenineurope.org
cias de observação e análise da prática, bem to das normas e a consecução de objetivos, Di Giandomenico, I.; Musatti, T. & Picchio. M. (2008) The Role
como os seus resultados, e constituindo a apresentando também uma proposta de of Evaluation in the Construction of na Integrated System
of ECEC O papel da avaliação na construção de um sistema
base de um processo permanente de inova- inovação e melhoria das práticas no futuro. integgrado de ECI Rassegna Italiana di Valutazione, XII, 40
ção e melhoria da qualidade. 89-106
Os pais têm de confiar que a frequência da A avaliação participativa será fiável? Di Giandomenico, I.; Musatti, T. & Picchio. M. (2011) Using
ECI vai apoiar o bem-estar e desenvolvimen- A participação dos diferentes intervenientes written reports as a tool for analysis and evaluation of
children’s experience in day care center. In EADAP (eds.)
to dos filhos. Estabelecem relações com a levanta a questão da objetividade da avalia-
ERATO – Analyse, evaluate and innovate: A guide for ea-
instituição e os profissionais, contribuem ção. A autoavaliação dos profissionais é con- tly childhood and care (0-6) (pp.70-90) Edinburg: Children
com as suas atitudes, convicções e com- siderada adequada à prática educativa, mas in Scotland
portamentos para a qualidade do serviço e demasiado subjetiva. Porém, se a avaliação European Commission Childcare Network (1991) Quality in
estão dispostos a participar nos cuidados e externa é tida como mais objetiva, pode dei- Services for Young Children: A Discussion Paper. Bruxelas:
European Commission, Equal Opportunities Unit
educação prestados aos filhos a diferentes xar escapar aspetos essenciais da qualidade Moss, P. &Pence, A. (eds.) (1994) Valuing Quality in Early Chil-
níveis. O modo como um serviço responde do serviço. Na nossa opinião, uma avaliação dhood Services. London: Paul Chapman Publishing
a estes requisitos e os níveis de participação fiável exige processos rigorosos de regulação Musatti, T. (2011) Evaluation: Participatory, Democratic and
parental são indicadores da sua qualidade da participação de todos os intervenientes Transparent www.childrenineurope.org
OCDE (2006) Starting Strong II: Early Childhood Education
(OCDE, 2006). A participação dos pais na internos e externos, refletindo simultane-
and Care. Paris: OCDE
avaliação do processo não pode no entanto amente as diferenças das suas posições,
ser reduzida a uma avaliação de “satisfação papeis e opiniões. O debate, a integração