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ESTUDANTES ON-LINE: AS MÍDIAS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

ESTUDANTES ON-LINE:
AS MÍDIAS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

MÓDULO II – A SALA DE AULA COMO ESPAÇO PARA


AS NOVAS TECNOLOGIAS: POSSIBILIDADE, SENSO
CRÍTICO E REALIDADE

2020
ESTUDANTES ON-LINE: AS MÍDIAS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

OBJETIVOS DO CURSO
1. Identificar e conceituar letramento digital, as mídias digitais e o uso da tecnologia na
atualidade;

2. Interpretar como as mídias digitais se relacionam no contexto educacional e no territó-


rio;

3. Analisar situações de implementação da tecnologia e mídias digitais em sala de aula;

4. Analisar as premissas do Currículo da Cidade: Tecnologias para aprendizagem;

5. Avaliar os conhecimentos obtidos para criar propostas de integração das mídias digitais
com as práticas pedagógicas.

CONTEÚDO DO MÓDULO

Módulo II – “A sala de aula como espaço para as novas tecnologias: possibilidade,


senso crítico e realidade ”

1 Letramento digital e o estudante no centro do seu processo de aprendizagem


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INTRODUÇÃO AO MÓDULO II
Inúmeras mudanças que surgem a todo tempo
na sociedade encontram maior obstáculo para sedi-
mentação no contexto educacional. Parece que optar
por uma nova escolha pode trazer consequências
graves, já que educar/ensinar é uma das ações mais
honrosas e preciosas que existe. Quanto maior a res-
ponsabilidade, maior a cautela. É assim em todos os
aspectos da vida, e não há motivo de ser diferente na nossa realidade enquanto educadores.
Cabe pensarmos:
Em que medida o caminho que seguimos até agora traz os resultados que esperamos?
O quanto ele pode ter cumprido sua missão durante bom tempo, mas agora já não se
mostra eficaz para os desafios dos novos tempos?
Como lidar com isso no mundo pós-pandemia, do novo coronavírus?
O quanto são importantes os conteúdos que vêm sendo ensinados aos estudantes nes-
te momento, em que não sabemos - nem ao mínimo – como será a sociedade daqui a um
ano?
Estamos em 2020 e nunca foi tão imprevisível os próximos dois meses. Estaremos an-
dando pelas ruas? Estaremos dentro das salas de aula? Os estudantes conseguirão aprender
algo, o ano letivo valeu? Quais as consequências do modelo de Ensino a Distância para a rede
pública? Quais as consequências de uma pausa nas aulas presenciais por tanto tempo? Pode-
remos abraçar nossos estudantes e colegas
de trabalho quando voltarmos? Como se-
rão os intervalos? As aulas de Educação Fí-
sica? Como essas crianças e adolescentes
retornarão? Terão perdido entes queridos
para a Covid-19?

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Terão passado por necessidades extremas, devido ao desem-


prego generalizado no país?
Terão tido tempo de estudar o que quer que seja, ou estavam
encarregados de outras atividades dentro de casa?
Poderíamos ficar aqui listando mais e mais perguntas.
Períodos de mudanças tão drásticas trazem oportunidades de
reflexão e mudanças necessárias.
O quanto vai ser importante para este estudante entender o conteúdo de Biologia,
Matemática, História no retorno à sala de aula de maneira descontextualizada de toda essa
experiência que ele – assim como o mundo todo – passaram nos últimos meses?
Sendo assim, os objetivos deste segundo módulo conversam sobre a tecnologia como
uma possibilidade de ressignificação da prática pedagógica, a fim de colocar o estudante no
centro do seu processo de aprendizagem; ademais, versa sobre como poderemos conectar o
que vemos como essencial para seu aprendizado com sua realidade e interesse, para que os
estudantes se engendrem como atores ativos na escola, na comunidade e no mundo.
Para conversarmos sobre essas possibilidades e como elas são colocadas em prática,
precisamos manter em mente aquela ideia de tecnologia que já pontuamos no Módulo 1, ou
seja, a ideia desmistificada.
Tenha em mente também o que você respondeu às perguntas tiradas do Mapa de Em-
patia no Fórum I.

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1 LETRAMENTO DIGITAL E O ESTUDANTE NO CENTRO DO SEU


PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Para iniciarmos, pense por um momento nes-
tas duas questões: o que meus estudantes mais es-
tão precisando hoje? Quais minhas maiores preocu-
pações como educador hoje em dia?
Você pode anotar suas respostas em uma folha
ou post-it. Essas respostas são importantes para
pensarmos no quão urgente é o estudante ser colo-
cado como o centro do processo de aprendizado.
Sabemos que estamos imersos em um mundo que nos cobra resultados, testes, notas e
parâmetros. Toda nossa prática pedagógica tem algum – ou todos – desses indicadores como
base, objetivo e preocupação. Apesar disso, o advento de tecnologias digitais - cada vez mais
portáteis, mais fáceis de serem manipuladas e mais baratas - trouxe um novo olhar para a
educação e, também, uma onda de mudanças, que já avançam pelos mais diferentes lugares
do globo.

VÍDEOS
Projeto Âncora (Brasil) | Destino: Educação - Escolas Inovadoras - 51’31”
Canal Futura - 2016
https://www.youtube.com/watch?v=kE6MlnwML8Y

“Quando sinto que já sei” - 1h18’29”


Vekante Educação e Cultura - 2014
https://www.youtube.com/watch?v=HX6P6P3x1Qg.

PARA SABER MAIS

Escola Municipal Campos Salles.


Centro de Referência de Educação Integral, outubro de 2014.
https://educacaointegral.org.br/experiencias/escola-transforma-curriculo-e-valoriza-a-
autonomia-do-estudante/

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O que todas elas têm em comum? A inquietação, talvez. Não podemos falar por todas
essas pessoas e seus processos de mudanças, que certamente estão emaranhados em di-
mensões específicas, mas todos sabemos que a inquietação gera desejo por mudança. Por
que será que tantas escolas topam embarcar nessa jornada, ainda tão desacreditada, rumo a
um novo caminho de educação? Talvez alguns dados nos façam entender.

Figura 1. Taxa de insucesso (soma de reprovação e abandono) por etapas do Ensino Fundamental e
Médio segundo rede de ensino—Brasil 2017

Fonte Brasil, 2018, p.13

Olhando para este gráfico podemos perceber que lá no início da vida escolar, no 1º ano
do Ensino Fundamental, a chance de um estudante ter insucesso ou abandonar a escola é
pequena e semelhante entre a rede pública e a privada. Contudo, esta taxa só aumenta no
decorrer dos anos, atingindo seu ápice no Ensino Médio, principalmente no 1º ano.
Sabemos que com esta idade os estudantes, muitas vezes, já precisam lidar com outras
responsabilidades que podem impossibilitar ou dificultar sua permanência e sucesso na esco-
la, e, neste quesito, podemos citar a gravidez precoce e a entrada no mercado de trabalho,
muitas vezes, para suprir a demanda por maior renda no seio da família.

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Além disso, o Brasil possui quase 12 milhões de analfabetos e mais da metade dos
adultos entre 25 e 64 anos não concluíram o Ensino Médio. São quase dois milhões de crian-
ças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola e 6,8 milhões de crianças de 0 a 3 anos sem vaga
em creche. Além de versarmos sobre acesso e permanência, precisamos pensar na qualida-
de.
Figura 2. Percentual de alunos com aprendizagem adequada em matemática—1997 a 2015

Fonte. GOTTI, 2019

Ressalta o Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2019:


O direito à Educação de qualidade ainda está longe de ser
assegurado e se configura no desafio mais urgente. Menos
da metade dos alunos atingiu níveis de proficiência consi-
derados adequados ao fim do 3º ano do Ensino Fundamen-
tal, em Leitura e Matemática. Na Escrita, os níveis de profi-
ciência também estão distantes do razoável: 33,8% dos
alunos encontram-se em níveis insuficientes.
Quando os dados são discriminados por renda, o tamanho
do desafio aumenta. Apenas 14,1% das crianças do grupo
de Nível Socioeconômico (NSE) muito baixo possuem nível
suficiente de alfabetização em Leitura. Esse patamar é al-
cançado por 83,5% das crianças do grupo de NSE muito
alto. Assim, também, 29,8% das crianças da zona rural pos-
suem nível suficiente de alfabetização em Leitura, enquan-
to isso ocorre com 47,7% das crianças que estudam na zo-
na urbana.
O Anuário também mostra que o Índice de Desenvolvimen-
to da Educação Básica (Ideb) segue avançando nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental, com ritmo mais lento nos
Anos Finais. No Ensino Médio, o cenário é de estagnação.
(CRUZ, MONTEIRO, 2019, p.12-13)

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Esses dados e informações já nos parecem co-


muns, afinal, estamos acostumados a receber notí-
cias de que a educação básica brasileira não anda
bem.
O que podemos fazer? Pouco, porém muito.
Pensar em políticas públicas de alcance munici-
pal, estadual e federal não é nosso principal objeti-
vo, mas podemos contribuir quando caminhos se mostrarem abertos a isso. Além dessa di-
mensão macro, o que podemos fazer encontra-se no micro, em nossa sala de aula, em nossa
escola, naqueles 45 ou 50 minutos que temos com os estudantes todos os dias.
Usando a tecnologia que temos, como lápis, caneta, lousa, giz e papel podemos propor
vivências aos estudantes que desenvolvam capacidades como a resolução de problemas, o
olhar sistêmico, o pensamento criativo, o que os empodera a fazer melhores escolhas em su-
as ações pelo mundo.
Começamos por uma estrutura pedagógica simples e fácil de ser aplicada e que traba-
lha com essa missão: de ajudar os estudantes a desenvolverem um olhar para o mundo ao
seu redor com consciência, entendendo que tudo que existe - todos os objetos e sistemas -
foram construídos e pensados por alguém com objetivos específicos e que, ao entender este
mundo e seu funcionamento em maior profundidade, possibilita que ele tenha clareza e idei-
as de como mudá-lo, adaptá-lo, transformá-lo em algo que cumpra outros objetivos, pesso-
ais ou coletivos.
Tal proposta tem como objetivo mostrar
para todos os professores de qualquer escola
com estudantes de qualquer idade que qual-
quer um pode construir coisas incríveis, o que
pode transformar seu aprendizado e suas vi-
das.

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O nome que se dá à estrutura que apresentaremos agora é:


Rotinas de Pensamento.
Parece besteira, mas nós aprendemos muito durante a vida
ao ver alguém fazendo algo. Pensem nas aulas de artes, por
exemplo.
Porém, nós nunca aprendemos a pensar vendo alguém pen-
sar, até porque, isso não é possível.
Contudo, será que não podemos ter formas de mostrar co-
mo estruturar o pensamento para atingir certos objetivos, ou se-
ja, tornar o pensamento visível? Criar conexões reflexivas de tal
forma que elas se tornem hábitos e acompanhem nossos estudantes por toda a vida, em
qualquer profissão ou tarefa que se predisponham a realizar? Agora ou bem mais tarde?
Essas rotinas vieram de uma inquietação inicial: qual é o potencial de trazer tecnologias
e atividades “mão na massa” para o contexto educacional? O que as crianças e adolescentes
podem aprender com isso?
Imerso nesta e em outras questões, foi fundado o Projeto Zero (ou Project Zero) na Es-
cola de Educação de Harvard, em 1967.
Lá em seu início, o foco era estudar e melhorar o ensino de artes no contexto escolar,
mas, desde então, o projeto expandiu sua agenda de pesquisa para outros temas, sempre
focado no pensar e no aprender, enfatizando a criatividade, interdisciplinaridade e os dife-
rentes modos que se aprende.
No ano de 2012, dentro do Project Zero, surge o
projeto Agency by design, ou seja, Agência pelo Design,
qual era o objetivo?
Entender os benefícios e ganhos de uma aprendiza-
gem centrada no fazer e quais as práticas pedagógicas
que embasam isso.

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Durante suas pesquisas eles perceberam que


aquilo que os participantes (professores e gestores
de variadas escolas ao redor dos Estados Unidos)
mais diziam é que atividades “mão na massa” tra-
zem para os estudantes uma atitude de “Eu posso
fazer isso”.
Sendo assim, eles nomearam este espírito como
senso de agência, ou seja, sentir-se empoderado para fazer escolhas sobre como agir no
mundo e, dessa forma, enxergar-se como um agente de mudança.
Ao investigarem as disposições de pensamento de estudantes, os pesquisadores perce-
beram que a escola os sugestiona a pensarem de certa forma, em certos momentos, ao invés
de encorajá-los a pensarem por si só em cada ocasião.
A ideia, então, passa a ser encorajar os estudantes a verem oportunidades para cons-
truir, transformar, redesenhar algo.
Mas isso não é tão simples, já que estamos totalmente imersos em uma sociedade que
nos leva a sermos consumidores passivos de todo tipo de objeto e tecnologia.
Nós não fazemos ideia de como a maior parte destes objetos funciona. Juntando isso à
correria costumeira do dia a dia, o consumismo vem crescendo, e nós estamos cada vez mais
distantes de entender a dimensão desenhada/feita do mundo.
Neste sentido, desenvolver nos estudantes – e por que não em nós mesmos? – essas
vivências que os aproximem dessa dimensão desenhada do mundo, faz com que a sensibili-
dade ao design se torne presente e, assim, eles possam
entender mais a fundo o que são, como são, como funci-
onam, quais as partes, quais os propósitos que um siste-
ma ou objeto tem, e, desta feita, é mais fácil – e possível
– refletir sobre como mudá-lo, transformá-lo e torná-lo
eficiente para determinados objetivos.

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Neste sentido, as rotinas de pensamento – dentre várias outras estratégias possíveis –


nos ajudam a trilhar o caminho que pode levar os estudantes a olhar de perto, explorar com-
plexidades e encontrar oportunidades - três das capacidades mais importantes no desenvol-
vimento da sensibilidade ao design.

O que é Olhar de Perto? É olhar com calma, cuidadosamente, prestando total atenção a
algo (o que é cada vez mais difícil hoje em dia, com tantas distrações, informações e estímu-
los ao nosso redor). Este algo pode ser um objeto ou um sistema (a democracia, o capitalis-
mo, o sistema digestório, respiratório, um ecossistema, uma obra de arte). É olhar cada deta-
lhe, cada nuance. Olhar diferente, de perto, de longe, de cima, debaixo, desvendando do que
esse algo é feito - suas partes, seu funcionamento. É se aprofundar e ir além das primeiras
impressões. O exercício que foi feito no Fórum I, com base no Mapa de Empatia, é um olhar
de perto. Aquelas questões nos possibilitam mergulhar e entender
melhor as interações e papéis que as pessoas exercem em diferen-
tes sistemas.
Explorar complexidades está, muitas vezes, conectada com
Olhar de perto: é difícil pensar em explorar qualquer coisa sem ter
dado uma boa olhada antes. Essa capacidade faz com que enten-
damos as conexões entre as diferentes partes de um sistema ou
objeto, consideremos como este objeto ou sistema é usado e por

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quem, além de percebermos como ele foi feito. Para


desvendarmos estas camadas mais profundas, vá-
rios conteúdos pedagógicos são colocados em uso.
Essa rotina encoraja o pensamento crítico com a in-
vestigação entre partes e o todo; entre interações e
causalidades, e, também possibilita a reflexão sobre
o porquê - como e para quem os objetos e sistemas
foram feitos - o que mobiliza valores, motivações, prioridades e estruturas políticas e de po-
der que estão por trás de quem se envolveu na formatação e construção desse objeto ou sis-
tema. Muitas curiosidades, perguntas e hipóteses podem surgir neste momento.
Encontrar oportunidades significa ver potencial para mudança, seja construindo, re-
modelando, hackeando, mexendo. Isso faz com que seja possível imaginar o mundo de uma
maneira diferente, mas não ficar só no plano das ideias, e sim tender à ação. Faz parte desse
momento a construção para explorar, juntar, brincar, remontar. Imaginar coisas novas que
ainda não existem. Hackear um sistema ou um objeto para pensar como ele poderia ter ou-
tros propósitos. Refletir sobre um problema ou procedimento para redefini-lo. Prototipar,
desenhar, esboçar as ideias são ações importantes do processo.

Rotinas de Pensamento
Existem algumas rotinas de pensamento que podem ser usadas para Olhar de perto.
Entre elas, temos a que recebe o nome de: Partes, Propósitos e Complexidades. Esta – assim
como todas as outras – é muito simples propositalmente, pois quanto mais simples, mais
pode ser encaixada e utilizada em diferentes
contextos e assim tornar-se um hábito (ou como
o próprio nome sugere, uma rotina), o que, por
fim, permitirá que o pensamento seja visível tan-
to para o próprio estudante quanto para os edu-
cadores.

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Essa rotina é considerada o “coração” das rotinas de


pensamento, a primeira que geralmente os educadores
empregam com os estudantes, assim como a mais usada,
segundo Clapp et alii (2017). Ela é ótima para tornar o
pensamento visível através de listas, mapas e desenhos.
Pode ser usada com materiais físicos (objetos), quan-
to com sistemas (como democracia, capitalismo etc. - co-
mo já comentamos anteriormente).
Neste caso é interessante que os estudantes tenham acesso a informações anteriores
ou que tenham oportunidades para que reflitam sobre suas próprias experiências com esse
sistema em questão.
Pode ser usada para guiar os estudantes e tornar uma atividade de desmontar, por
exemplo, em algo muito mais interessante e provocativo.
Pode também ser simplificada e a palavra "complexidades" ser trocada por "interações"
ou “perguntas”, por exemplo.
Vamos a essa rotina:
Para usá-la, escolha um objeto ou um sistema e pergunte:
Quais são as suas partes? Quais são suas peças ou seus componentes?
Quais são seus propósitos (ou funções ou objetivos)?
Quais são os propósitos de cada uma das partes que o com-
põem?
Quais são suas complexidades? Como as partes se co-
nectam entre si? Como se relacionam aos propósitos desse
objeto ou desse sistema? Como essas interações acontecem?
Essas perguntas podem ser respondidas pelos estudan-
tes em um formulário simples, como esse da próxima página.

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Cada estudante pode trabalhar individualmente ou em grupos.


Você pode utilizar uma cartolina, caso o trabalho seja coletivo, ou uma folha A4, ofício
ou até de caderno para cada um fazer a sua.
Você pode colocar na lousa o esquema (três colunas são as mais utilizadas – cada uma
com uma palavra: Partes, Propósitos e Complexidades) e pedir que copiem, ou ainda, fazer
no computador e entregar impresso para eles.
Os estudantes podem utilizar listas, mapas e desenhos para responder.
Outra rotina que dá suporte às capacidades de Olhar de perto e à de Explorar Complexi-
dades é: Partes, Pessoas e Interações.

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MAIS INFORMAÇÕES
Partes, Pessoas e Complexidades
http://www.agencybydesign.org/sites/default/files/PARTES%2C%20PROPO%
CC%81SITOS%2C%20COMPLEXIDADES_final.pdf
Partes, Pessoas e Interações
http://www.agencybydesign.org/sites/default/files/PARTES%2C%20PESSOAS%2C%
20INTERACOES_final.pdf
Partes, Perspectivas e Eu
http://www.agencybydesign.org/sites/default/files/PARTES%2C%20PERSPECTIVAS%
20E%20EU_final.pdf

Sua especificidade está em entender e explorar como as pessoas participam de siste-


mas complexos de diferentes formas. Por exemplo, o objeto que foi olhado de perto pela ro-
tina Partes, Propósitos e Complexidades pode ser revisitado com esta rotina, sendo inserido
em um sistema complexo.
Se antes pensamos e analisamos uma torta de maçã (sim, isso é possível!), agora esta
mesma torta pode ser entendida dentro de um sistema maior com pessoas.
O livro de Clapp et alii (2017) traz que uma professora, ao aplicar estas duas rotinas
com seus alunos do Infantil, teve como um dos resultados um desenho que esboçava todo o
sistema, desde o plantio da maçã, as etapas e o envolvimento de pessoas para ela ser colhi-
da, até ela chegar à casa de uma pessoa, que ao juntar outros ingredientes (que ele já olhou
de perto antes) fez a torta de maçã, um sistema complexo. O que as crianças tão jovens fize-
ram foi um mapa de sistema, que possibilitou que a professora trabalhasse inúmeros assun-
tos, desde condições climáticas, sustentabilidade, tráfico e meios de transporte, consumo,
química entre os ingredientes, quantidades e sistemas de medida para a receita da torta ser
concretizada.
Outro professor utilizou um protesto que ocor-
reu em sua cidade, para aplicar esta rotina e enten-
der o protesto como um sistema. Quais são as pes-
soas envolvidas? Quais seus propósitos? Quais as
consequências do protesto?

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Como as diferentes pessoas envolvidas se relacio-


nam neste evento?
Essa rotina de pensamento pode ser usada para
explorar qualquer sistema.
E as perguntas base para a reflexão são:
Quais são as partes desse sistema?
Quem são as pessoas conectadas a esse sistema?
Como essas pessoas interagem umas com as outras e com as partes do sistema em
questão?
Como mudar um elemento do sistema afeta as diversas partes e pessoas a ele conecta-
das?
Uma boa maneira é colocar os estudantes para trabalharem em grupos e pedir para
que eles desenhem o sistema em uma cartolina ou papel maior, anotando as partes, explici-
tando as conexões e interações.
Mais uma vez o formato da Rotina é livre e você pode pensar no que faz mais sentido
para seus estudantes.

MAIS INFORMAÇÕES

Pense, Sinta e Se Importe


http://www.agencybydesign.org/sites/default/files/PENSE%2C%20SINTA%2C%
20SE%20IMPORTE_final.pdf
Imagine se...
http://www.agencybydesign.org/sites/default/files/IMAGINE%20SE_final.pdf

A rotina Pense, Sinta e se importe pode ser usada para aprofundar o conhecimento dos
estudantes nos papéis que diferentes pessoas exercem em um sistema.
No exemplo do protesto, poderíamos mergulhar para entender a perspectiva de dife-
rentes atores naquele sistema, como o líder do movimento que o convocou, um senhor que
se atrasou para o trabalho devido ao congestionamento que o protesto causou... quais são as
suas principais preocupações?

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O que eles pensam sobre esse sistema?


Como cada um responde emocionalmente ao sistema de acordo com sua posição nele?
Quais as motivações, valores e prioridades de cada um neste sistema?
Vale relacionar esta rotina com outras estratégias, como pesquisa e entrevistas, o que
evita generalizações, principalmente quando se trata de os estudantes colocarem na rotina
pessoas que têm uma experiência de vida muito diferente das deles.
Já para encontrar oportunidades, podemos usar a Rotina chamada: Imagine se...
Ela é valiosa para que os estudantes reflitam sobre
a dimensão desenhada dos sistemas e objetos, verifican-
do como eles poderiam ser mudados e redesenhados pa-
ra serem mais efetivos, eficientes, éticos e estéticos.
Podemos voltar na ideia da torta de maçã. As crian-
ças poderiam usar esta rotina para pensar como ela po-
deria ser mais bonita, mais gostosa ou mais cheirosa. Poderiam pensar em como ela seria
mais saudável, refletindo sobre estas questões, desde a maneira como os agrotóxicos são
usados, até os tipos de alimentos e os riscos no consumo desmedido de açúcar e carboidra-
tos. Mais eficiente ainda: refletindo sobre como poderiam criar instrumentos para tornar a
colheita de maçãs mais rápida, produtiva ou barata.

PARA SABER MAIS


Há muitas rotinas disponíveis, a maior parte em inglês. As que já indicamos aci-
ma foram um esforço do Instituto Catalisador.
Para acessar as rotinas
http://www.agencybydesign.org/thinking-routines-tools-practices?
field_resource_type_value=All

Note que há um botão “Language” que dá acesso às rotinas já traduzidas para alguns idio-
mas. Para quem domina o idioma e/ou aceita o desafio, todo o material do site pode ser
usado, desde que citada explicitamente a fonte, qualquer mudança seja indicada e seja
indicado um linik para a licença, que é a Attribution-NonCommercial 4.0 Internatio-
nal (CC BY-NC 4.0).
Esses são os termos para poder usar na sua escola e nunca para fins comerciais.

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Ademais, as competências de Olhar de perto, Explorar com-


plexidades e Encontrar oportunidades podem ser trabalhadas e
desenvolvidas tendo como base inúmeras outras estratégias pe-
dagógicas.
Mas por que chegamos às rotinas de pensamento mesmo?
Nosso objetivo neste módulo era entender como podemos
usar tecnologia para colocar o estudante no centro do processo
de aprendizagem.
Parece que nem falamos sobre tecnologia até aqui, mas, se
resgatarmos a ideia de que tecnologia é um método, um proces-
so ou um instrumento que permite que façamos as coisas mais facilmente ou que resolva-
mos questões e problemas, podemos colocar as rotinas como uma forma de tecnologia que
nos auxilia na condução de inovações no processo de aprendizado.
Com elas podemos, também, trazer equipamentos e mídias digitais e analógicas para o
centro do debate, colocando-as como os objetos e sistemas que queremos olhar de perto,
explorar as complexidades e encontrar oportunidades.
Não é só: podemos aplicar as rotinas usando mídias e tecnologias diversas. Aqui sugeri-
mos o básico: papel, canetas e lápis. Mas elas podem ser feitas utilizando computadores,
busca na internet, programas de edição de imagens, vídeos e fotografias.
Nada nos impede de usar o PowerPoint, o Word, um blog, um post no Facebook ou no
Instagram ou um vídeo no Tik Tok como maneiras de expressar os aprendizados e reflexões
que as rotinas inspiram. Os resultados podem ser
compartilhados na plataforma Padlet.
Podemos olhar de perto através de Google
Form, a ser respondido por pessoas que estão inte-
ragindo em sistemas que trabalhamos em Sociolo-
gia, História ou Geografia.

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Explorar o laboratório de Ciências com a rotina de Partes, Propósitos e Complexidades;


levantar a relação entre diferentes autores do Romantismo com a rotina de Partes, Pessoas e
Interações.
A aula sobre capitalismo, movimen-
tos abolicionistas ou Antigo Regime pode
contar com qualquer uma dessas rotinas
como uma ferramenta pedagógica. Por
que não imaginar como tornar o sistema
político mais eficiente e ético? O sistema
educacional mais eficaz?
Os estudantes estão imersos em tec-
nologia, utilizam as mídias digitais e analógicas para realizarem boa parte de suas atividades,
desde as mais simples às mais complexas.
Colocá-los no centro do processo de aprendizagem permite entender como, para eles,
nossas aulas podem ser mais interessantes e utilizar algumas dessas mídias como ferramen-
tas que nos auxiliem na disseminação do conteúdo programático.
Como citamos de exemplo o projetor lá no Módulo 1 (que permitiu mostrar mais conte-
údo no mesmo tempo de aula), mais do que trazer a tecnologia para a sala de aula, temos
que repensar como a tecnologia pode potencializar a aprendizagem do estudante, mais do
que a forma como o professor ensina

PARA REFLETIR
Em seu livro Jardim de Infância para a vida toda, Mitchel Resnick diz que visitou
uma sala de aula na qual o professor usava um software conectado aos notebo-
oks de todos os estudantes e tal programa lançava uma questão na grande tela em frente
a sala. Os estudantes deveriam selecionar se aquilo era falso ou verdadeiro em seus note-
books. Conforme iam selecionando, os nomes e tempo de cada estudante ia aparecendo
na telona. Para alguns poderia ser motivador, já que parecia um jogo e uma competição.
Mas Resnick traz a reflexão se isso é realmente diferente das atividades já empregadas há
muitos anos. Comparou com algo que ele viveu no seu 4º ano, que era a chamada oral de
ortografia. Conforme ele e seus colegas de classe acertassem mais ou menos palavras,
eles eram colocados nas fileiras da sala; quanto mais acertos, mais à frente.

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Não só isso: como a inserção de tecnologias,


acompanhadas de estratégias pedagógicas possibili-
tam o desenvolvimento de habilidades e competên-
cias que dialoguem com os desafios do mundo atual,
que, por sua vez, exige cada vez mais maior capaci-
dade de relacionar acontecimentos que, ao primeiro
olhar, não parecem conectados.
Além disso, como é fundamental que os adultos de amanhã percebam como suas atitu-
des definem o planeta; como a disseminação de uma notícia falsa ou um “nude” entre seu
grupo de amigos não pode ser considerado banal; como todos temos que ter responsabilida-
de também nos nossos atos on-line, porque eles fazem parte de sistemas complexos muito
maiores, que são compostos por pessoas.
Um exemplo que Linda Booth Sweeney (uma pesquisadora
que entende muito e fala sobre sistemas) traz é bem ilustrativo.
Se mostrarmos duas fotos para uma criança e perguntarmos
qual é melhor, a resposta vai depender de como ela foi provo-
cada e alfabetizada em pensamento sistêmico.
As fotos seriam: de um gramado bem verde, bem cuidado,
do mesmo tamanho, devidamente aparado em uma casa; a ou-
tra uma foto de uma paisagem natural, não tão verde, não tão
homogênea, não tão esteticamente agradável.
Uma criança pode responder que o melhor é o gramado
artificial, mas, se ela ligar os pontos e relacionar todos os ele-
mentos que estão envolvidos para aquele gramado ser dessa
forma, ela provavelmente vai entender que melhor é a paisa-
gem natural, que está relacionada à manutenção de inúmeras
espécies de plantas e animais, à regulação do clima de uma re-
gião.

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E que, ao contrário, o gramado artificial exige agrotóxicos, gasto de energia para o apa-
rador de grama, tempo e dinheiro gastos do dono do gramado, destruição de uma paisagem
natural que um dia esteve ali, antes da ocupação daquele território etc.
Para continuarmos nossa caminhada, no próximo Módulo, apresentaremos a aborda-
gem da aprendizagem criativa como terreno fértil para a aprendizagem ativa, assim como
outras ferramentas para a transformação de práticas pedagógicas.

VÍDEO DESAFIO

What are systems? - 2’30”


Linda Booth Sweeney—PBS Leaning Media—2019
https://www.pbslearningmedia.org/resource/syslit14-sci-sys-bigidea/what-are-systems/ Em
inglês, sem legenda

Se gostou e quer mais desafios


https://www.pbslearningmedia.org/collection/systemsliteracy/

Não poderíamos encerrar este módulo sem trazer uma refexão importante sobre a im-
portância que damos à tecnologia em nossas vidas.

VÍDEO

PARA REFLETIR
Tecno-vida, tecno-morte: Martha Gabriel at TEDxFIAP Tecnologias do Futuro - 19’15”
TEDx Talks, 2013
https://www.youtube.com/watch?v=E0PtC0IhLjw

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ESTUDANTES ON-LINE: AS MÍDIAS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

REFERÊNCIAS
BRASIL. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANISIO TEIXEIRA. Censo Es-
colar 2018: principais resultados. Brasília, MEC/INEP/DEED, 2018. Disponível em http://
download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/apresentacao/2019/
apresentacao_coletiva_censo_escolar_2018.pdf Acesso em 02 maio 2020.
CLAPP, Edward P.; ROSS, J.; RYAN, J. O.; TISHMAN, S. Maker-centered Learning, Empowering young
People to Shape Their Worlds. Jossey-Bass, 2017.
CRUZ, Priscila e MONTEIRO, Luciano (orgs). Anuário Brasileiro da Educação Básica 2019. São Paulo :
Moderna. Disponível em https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/302.pdf Acesso
em 30 abr 2020.
GOTTI, Alessandra. Os desafios da Educação Brasileira em 2019: linhas e cores. Nova Escola online.
São Paulo, online. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/15432/os-desafios-da-
educacao-brasileira-em-2019-linhas-e-cores . Acesso em 02 maio 2020.
RESNICK, M. Lifelong Kindergarten: Cultivating Creativity through Projects, Passion, Peers and Play.
Prefácio de Ken Robinson. Cambridge, MA: MIT Press, 2017.

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ESTUDANTES ON-LINE: AS MÍDIAS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

CRÉDITO DAS IMAGENS


Capa
Lo mejor para educación. Informática Educativa, Sandra Privado. Wikimedia Commons CC ASA 4.0 I

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Rawpixel—10b, 19
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Three steps of education © Alexvalent - 18a
Visiting card. © Mikeexpert –04a

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Capturing the human heart—18b
Grass Photo by Agnieszka —19b
Group School Photo by Sam Balye—16

Microsoft Surface Laptop 3 in Platinum Shot by: Christiann Koepke- 07


Mirror children. Shot by Kelly-Ann Tan—11b

Work on Notebook photo by Sergey Zolkin —19a


Wikimedia Commons / Outros
Agency by Design Educators Resource. Looking Closely. 13a

Agency by Design http://agencybydesign.org.s219538.gridserver.com/ 09b, 11a


Aula Arajara. Robert de Azevedo / CC BY-SA (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0) - 08b
Ciência Compartilhada. Como trocar resistência de chuveiro. 13b

Remondino de Luzzi overseeing assistant in dissection of cadaver as students watch in an early four-
teenth century anatomy class at Bologna By Miscellaneous Items in High Demand, PPOC, Library of Con-
gress. Public Domain. - 09a
Serra do Rio do Rastro. by Paulo Hopper - Own work, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/
index.php?curid=80021384—03b

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