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detalhes:
criando novas memórias no Rio das Pedras
Na espera...
Nos pormenores, nas reentrâncias, no vagar,
no claro-escuro, nos símbolos, nos detalhes...
está a ordem, a lembrança, a resistência...
Ir.
E não mais voltar...
não mais voltar de onde eu vim e não mais voltar para o que
eu fui um dia.
As superfícies sobrepostas e intocáveis que passam pelo
filtro do espírito, entram como uma só.
As moradias, as lojas, as pessoas, os automóveis, as
conversas, os motores dos carros, a música do autofalante, as
crianças balbuciando.
Tudo é um só.
De longe, do norte e do nordeste do Brasil, para a Avenida
Engenheiro Souza Filho, na zona oeste do Rio de Janeiro.
Com a Esperança alinhada ao peito, ao gesto de fazer dar
certo.
Um pouco de fé.
Uma vida melhor... Pra quem?!
E na vontade, na força, resistem.
Apesar de... e ainda que...
resistem às forças contrárias e repulsivas. Ao abandono.
Mas, ali, imergindo da paisagem concretada, dos chamarizes,
das conversas, da voz do cobrador da van chamando pelos
passageiros, manifesta-se a forma. A forma da esperança. A
forma da esperança que aponta para fora, fora do corpo, fora
de si e para fora dos limites da favela.
Para além dos morros que são camuflados pela paisagem
teatral das cortinas avermelhadas, das construções
inacabadas.
E, é nesse tecido rubro da cidade em que tece-se a trama com
fios de esperança.
Onde há calma, paz, detalhes, luz e sombra, textura, gatos na
janela, crianças com pipas, pipas vermelhas, pés molhados
pela torneira pública, relógios concertados e moças
esperando.
olhares e
detalhes:
criando novas memórias