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ISSN: 2525-8761
RESUMO
O vírus Zika (ZIKV) foi isolado pela primeira vez em 1947 de uma fêmea de macaco
Rhesus, na Floresta Zica, em Uganda. A manifestação mais grave causada pelo ZIKV
descrita na literatura é a microcefalia, decorrente da infecção congênita. De acordo com
a OMS, é definida como microcefalia a medida do crânio aferido com medida menor que
menos dois desvios-padrão. Durante o surto de ZIKV no Brasil em 2015, os casos de
microcefalia registrados foram alarmantes. Dessa forma, o objetivo aqui proposto é
analisar por meio de uma revisão sistemática a compreensão dos mecanismos
fisiopatológicos envolvidos na ocorrência de microcefalia. A busca pelos trabalhos se deu
na plataforma SCIELO, PUBMED e LILACS, totalizando 21 artigos. Com esta análise
sistemática destaca-se a importância de receptores celulares, como os TAM (AXL,
TYRO3 e MER), lectinas do tipo C e células T TIM (Transmembrana, Imunoglobulina e
Mucina), da proteína STAT2, da resposta imune inata protagonizada pelo interferon tipo
I, além do mecanismo de autofagia secretória para a liberação de novos vírus pela célula
infectada, na figura dos exossomos. A proteína viral NS5 tem como alvo a degradação
proteassomal do STAT2, levando à inibição da sinalização por IFN-I. As NS1 e NS4B
também inibem a expressão de IFN tipo I, impedindo a degradação de ambas (NS1 e
NS4B) e potencializando a capacidade de replicação viral. Assim, é válido ressaltar que
a microcefalia costuma ocorrer quando a mãe é infectada pelo ZIKV no 1º trimestre, tendo
como base a suscetibilidade da placenta ainda em desenvolvimento.
ABSTRACT
The Zika virus (ZIKV) was first isolated in 1947 from a female Rhesus monkey in the
Zica Forest in Uganda. The most serious manifestation caused by ZIKV described in the
literature is microcephaly, resulting from congenital infection. According to the WHO,
microcephaly is defined as the measurement of the skull measured with a measurement
less than minus two standard deviations. During the 2015 ZIKV outbreak in Brazil, the
cases of microcephaly recorded were alarming. Thus, the objective proposed here is to
analyze, through a systematic review, the understanding of the pathophysiological
mechanisms involved in the occurrence of microcephaly. The search for the works took
place on the SCIELO, PUBMED and LILACS platform, totaling 21 articles. With this
systematic analysis, the importance of: cell receptors, such as TAM (AXL, TYRO3 and
MER), type C lectins and TIM T cells (Transmembrane, Immunoglobulin and Mucine)
is highlighted; of STAT2 protein, of innate immune response carried out by type I
interferon, in addition to the secretory autophagy mechanism for the release of new
viruses by the infected cell, in the figure of exosomes. The NS5 viral protein targets
proteasomal degradation of STAT2, leading to inhibition of IFN-I signaling. The NS1
and NS4B also inhibit the expression of type I IFN, preventing the degradation of both
(NS1 and NS4B) and enhancing the capacity for viral replication. In conclusion, it is
worth noting that microcephaly usually occurs when the mother is infected with ZIKV in
the 1st trimester, based on the susceptibility of the placenta, which is not yet fully
functional.
1 INTRODUÇÃO
O vírus Zika (ZIKV) foi isolado pela primeira vez em 1947 de uma fêmea de
macaco Rhesus, na Floresta Zica, em Uganda, porém, foi somente em 2007 que casos
ligados ao ZIKV em humanos foram notificados em uma epidemia na Polinésia Francesa
e em países da Oceania, marcando a propagação do vírus para além dos continentes
asiático e africano (LUZ; SANTOS; VIEIRA, 2015).
O ZIKV, família Flaviridae e gênero Flavivirus, constitui um arbovírus, assim
como são os vírus da Dengue (DENV), Chikungunya (CHIKV) e Febre Amarela (FA),
por exemplo. Seu material genético é de ácido ribonucleico (RNA), com cadeia simples
e polaridade positiva (PINTO JUNIOR et al., 2015). Seu genoma codifica proteínas
estruturais: capsídeo (Cap), membrana precursora (prM) e envelope (Env), e ainda,
proteínas não estruturais (NS): 1 (NS1), 2A (NS2A), 2B (NS2B), 3 (NS3), 4A (NS4A),
4B (NS4B) e 5 (NS5), da mesma forma como acontece com outros flavivírus (COX;
STANTON; SCHINAZI, 2016).
De forma geral, o ZIKV é transmitido através da picada de mosquitos do gênero
Aedes, sendo de maior destaque para a saúde pública as espécies Aedes aegypti e Aedes
albopictus, cuja circulação é predominante em locais com clima tropical, subtropical e
Chain Reaction), utilizando-se o soro do paciente para a extração do RNA viral dentro de
um período de seis dias de doença (LUZ; SANTOS; VIEIRA, 2015). É possível, ainda, a
utilização de outros fluidos corporais, como urina, saliva, plasma, líquido amniótico, leite
materno, sêmen e secreção vaginal (PINTO JUNIOR et al., 2015).
Além do mais, é viável o diagnóstico sorológico do ZIKV, especialmente pela
técnica de ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay ou Ensaio de Imunoabsorção
Enzimática), que compreende um teste imunoenzimático capaz de detectar anticorpos
IgM e IgG no soro de pacientes infectados em fase aguda ou convalescente (PINTO
JUNIOR et al., 2015).
O teste de anticorpo IgM para ZIKV, feito a partir do 4° dia do início dos sintomas,
quando reagente, é considerado apenas presuntivo. Nesse sentido, segundo o Center for
Disease Control – CDC, o paciente com tal resultado deve ser submetido ao Teste de
Neutralização de Redução de Placas (PRNT), que é um teste de alta sensibilidade, ainda
que considerado de difícil execução (ANS, 2016).
Na Figura 1 é possível observar qual método de diagnóstico é viável ao longo do
curso natural da doença causada pelo ZIKV:
microcefalia. O Sistema Único de Saúde (SUS), por outro lado, oferece suporte para
auxiliar o desenvolvimento do bebê e da criança. Desse modo, esses pacientes devem ser
inseridos no programa de estimulação precoce, a partir de seu nascimento até os 3 anos
de idade, período de maior desenvolvimento cerebral. O programa visa maximizar o
potencial da criança, abarcando o crescimento físico, a maturação neurológica,
comportamental, cognitiva, social e afetivas (BRASIL, 2016).
2 OBJETIVOS E MÉTODOS
Este trabalho tem como finalidade analisar por meio de uma revisão sistemática a
compreensão dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na ocorrência de microcefalia
em fetos cujas mães foram infectadas por ZIKV durante a gestação. Faremos uma
verificação aprofundada dos estudos voltados para a caracterização de eventos
moleculares, celulares e imunológicos envolvidos no desencadeamento da microcefalia
causada por ZIKV, descrevendo os principais mecanismos fisiopatológicos apresentados
pelos estudos selecionados.
Para este estudo, considerou-se elegíveis trabalhos voltados para a fisiopatologia
envolvida nos episódios de microcefalia decorrentes da infecção intrauterina pelo ZIKV.
Desse modo, no que tange aos critérios de elegibilidade, os estudos precisavam estar em
português ou inglês, com publicação restrita aos últimos cinco anos (a partir de 2016),
bem como veicular informações importantes para a compreensão do mecanismo
fisiopatológico envolvidos no desenvolvimento da microcefalia decorrente da infecção
congênita pelo ZIKV.
Nesse sentido, a busca pelos trabalhos se deu nos seguintes repositórios digitais:
Scientific Eletronic Library Online - SCIELO, National Center for Biotechnology
Information - NCBI (via PUBMED), e Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde - LILACS. É importante ressaltar que esta pesquisa se deu nos meses
de setembro, outubro e novembro do corrente ano, na qual não foram preteridos artigos
de revisão sem se proceder à leitura na íntegra dos mesmos, sendo incluídos aqueles que
descreviam algum mecanismo fisiopatológico importante.
Dessa forma, a seleção de artigos realizada na plataforma SCIELO iniciou-se com
a utilização dos seguintes descritores: “vírus zika”; “fisiopatologia do vírus zika”;
“Microcefalia”. Na plataforma LILACS, por outro lado, utilizou-se os descritores “zika”;
“microcefalia”; fisiopatologia do vírus zika”. Já na plataforma PUBMED, utilizou-se a
ferramenta PUBMED Mesh, na qual se utilizou o descritor “zika vírus”, que ramificou a
pesquisa em dois títulos: 1. Selecionou-se o título “zika virus”, seguido da seleção dos
seguintes subtítulos: “pathogenicity”; “physiology”; 2. Selecionou-se o título “zika virus
infection”, com posterior seleção dos subtítulos “congenital”; “physiology”;
“physiopathology”; “pathology”.
Considerando os critérios de elegibilidade já destacados, as autoras procederam à
seleção dos estudos, de forma independente, seguindo duas etapas. Inicialmente, realizou-
se a análise por título e resumo, seguida pela leitura na íntegra dos trabalhos para a
chegada em uma lista final. As discordâncias foram resolvidas ao final de cada etapa
através de uma reanálise dos trabalhos em questão. Por fim, para a extração de dados
procedeu-se à elaboração de uma planilha eletrônica contendo autores, ano de publicação,
tipo de estudo realizado, objetivo do estudo e resultados.
Assim, observou-se as várias hipóteses levantadas sobre os mecanismos virais,
celulares e moleculares implicados na ocorrência da microcefalia causada por ZIKV,
procedendo-se à seleção de estudos que abordavam de maneira clara tal temática. A
seleção não se restringiu apenas a estudos de revisão, englobando também trabalhos
experimentais utilizando modelos in vivo e in vitro para a compreensão desse processo.
3 RESULTADOS
Na figura 2, estão descritas as etapas de seleção dos trabalhos elegíveis para esta
revisão, descrevendo a quantidade de artigos excluídos ao longo de cada fase da pesquisa.
Ao final, totalizaram 21 artigos, sendo 1 da plataforma SCIELO e 20 da plataforma
PUBMED. A plataforma LILACS não contemplou os objetivos deste trabalho, o que não
resultou em artigos viáveis para a revisão aqui proposta. Assim, os trabalhos selecionados
retratavam algum mecanismo relacionado à infecção placentária ou do feto diretamente,
que resulta em microcefalia.
4 DISCUSSÃO
Considerando que as manifestações neurológicas do ZIKV, especialmente a
microcefalia, são relativamente recentes, tendo seu início reportado no ano de 2015,
durante o surto no Brasil, não se pode negar que os esforços científicos para a
compreensão desse mecanismo têm sido intensos. Porém, os estudos já desenvolvidos, na
figura dos trabalhos aqui revisados, demonstram de forma bastante clara a complexidade
envolvida no processo de patogênese dessa anormalidade, uma vez que inúmeros eventos
podem estar relacionados de forma mais ou menos decisivas nesse processo.
Assim, o estudo dos trabalhos selecionados permite relacionar diversos fatores
que podem estar envolvidos, tais como a resposta imune do hospedeiro e a ação de
algumas proteínas virais. Desse modo, pode-se elencar inúmeros mecanismos já
considerados consolidados nessa neuropatogênese, dentre os quais destaca-se a
importância de receptores celulares, como os TAM (AXL, TYRO3 e MER), lectinas do
tipo C e células T TIM (Transmembrana, Imunoglobulina e Mucina); proteína STAT2;
resposta imune inata protagonizada pelo interferon tipo I; além do mecanismo de
autofagia secretória para a liberação de novos vírus pela célula infectada, na figura dos
exossomos.
Alguns estudos apontaram que a infecção pelo ZIKV ocorre através da interação
entre glicoproteínas da superfície viral e receptores expressos na membrana plasmática
de células do hospedeiro (CHRISTIAN; SONG; MING, 2019). Assim, diversas famílias
de proteínas parecem ser suscetíveis ao vírus, incluindo tirosina quinases do receptor da
família AXL, lectinas do tipo C e células T TIM (Transmembrana, Imunoglobulina e
Mucina)” (FERRARIS et al., 2019).
Sobre o receptor AXL, existe certa controvérsia acerca da sua real importância
para a infecção por ZIKV, em especial em células do SN, com estudos apontando a
necessidade desse receptor para a infecção de fibroblastos humanos e outros atestando
que este não se trata de um receptor de entrada, mas de intensificação do processo
infeccioso “ao suprimir a ativação induzida por ZIKV de genes de interferon tipo I”.
Assim, é possível que a participação do AXL na infecção por ZIKV esteja relacionada à
sua capacidade de regular negativamente a via IFNAR, potencializando a infecção viral
(CHRISTIAN; SONG; MING, 2019).
Para escapar e, até mesmo, antagonizar a resposta imune do hospedeiro, o ZIKV
pode ter passado por evolução em vários mecanismos. Um deles, por exemplo, estaria
relacionado à proteína viral NS5, cuja ação envolve ter como alvo a degradação
proteassomal do STAT2, levando à inibição da sinalização por IFN-I. Em meio a outras
modificações em proteínas não estruturais do vírus, tem-se, ainda, NS1 e NS4B, que
também inibem a expressão de IFN tipo I, impedindo a degradação de ambas (NS1 e
NS4B) e a supressão da capacidade de replicação viral. (OJHA et al., 2018).
Quando se fala em microcefalia, é necessário relembrar o processo de
embriogênese e desenvolvimento fetal para compreender o nível de suscetibilidade de
algumas estruturas e células durante a gestação. Dessa forma, na espécie humana a
placenta começa a ser formada 5 ou 6 dias após a fertilização, através da divisão de células
totipotentes do Blastocisto, que dão origem às células trofoblásticas e às células
embrionárias (ZANLUCA; NORONHA; SANTOS, 2018).
Os trofoblastos intermediarão as trocas materno-fetais e as células progenitoras se
diferenciarão em citotrofoblastos e, por fusão destes, em sinciotrofoblastos. Ambos se
posicionarão entre o sangue materno e os tecidos embrionários, constituindo uma placenta
primordial. Já na terceira semana gestacional, os sinciotrofoblastos formam a camada
mais externa, prolongando-se sobre as vilosidades e constituindo a interface entre o
sangue materno e fetal (Ibid).
e apoptose celular. Em resumo, a Figura 3 ilustra alguns dos caminhos percorridos pelo
ZIKV na célula e que constituem importantes mecanismos de fuga à resposta imune do
hospedeiro, estando envolvidos tanto na entrada do vírus no organismo como na infecção
da placenta e de CPN’s fetais.
5 CONCLUSÕES
O desenvolvimento desta revisão sistemática foi embasado na busca de
esclarecimentos sobre os mecanismos envolvidos no desenvolvimento de microcefalia
em fetos cujas mães foram infectadas pelo ZIKV durante o período gestacional. A
necessidade desse entendimento surge em face de dados epidemiológicos importantes que
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