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ÍNDICE
Ó Pressôre!
Numa aceção comum, poder-se-ia dizer que é uma profissão como tantas outras,
necessária ao desenvolvimento humano e ao progresso social. Não deixa de o ser, mas
para quem realmente a vive é muito mais do que essa simplificação concetual.
É acima de tudo um modo de vida, uma forma de ser e de estar. Mais que uma
vocação, é uma paixão que nos devora e nos consome numa constante abertura e en-
trega ao outro, os alunos.
É entrar numa sala de aula e reconhecer que a partir daquele momento somos
responsáveis, em parte, pela construção do futuro daqueles seres, que também são nos-
sos e que deixam em nós raízes que nos acompanharão para toda a vida.
É ter uma vontade de ferro e um coração de vidro, ser a raíz de uma árvore que
procura colher os seus frutos.
Desde quando é que o ato de ensinar tem de passar por um conjunto de quin-
quilharia cibernética, que atrofia a ferramenta mais inovadora e desenvolvida de que é
portador o ser humano: o pensamento?
O E@D não tem de ser um bicho de sete cabeças. Será óbvio que implica uma
adaptação àquilo que se faz presencialmente em sala de aula, mas temos de ter consci-
ência que não é a mesma realidade. Logo, não podemos (e eu espero que não queira-
mos) fazer do conforto do nosso lar e do ecrã do computador uma realidade virtual que
retira do ser humano a proximidade tão necessária do outro, como se para isso já não
chegasse o "El Corona".
Chega a ser tão exasperante, que até já circulam guiões sobre o comportamento
a ter nas aulas online. Pior, a roupa que se deve vestir, o que se pode ou não fazer. Li
algures, num desses iluminados guias de conduta, que os alunos não deveriam aparecer
em tronco nu. A sério? Parece-me é que costuma acontecer o contrário, como se viu no
ano passado, quando se falou na questão do "sem calças". Gente complicada!
Como é que podemos querer que as iluminações nos entendam, se muitas vezes
nem nós, "pressôres", nos entendemos a nós próprios? Mania de complicar o que é sim-
ples. Como diria o Diácono Remédios, personagem interpretada pelo enorme Herman
José, "Não havia necessidade... zzzz...zzzz!"
Relaxem, aproveitem estes dias da melhor forma. O dia 8 de fevereiro chegará e
todos, certamente, darão o seu melhor para chegar às suas mentes sedentas de ilumi-
nação (ou não), com mais ou menos engenhocas. Espero que menos, para inteligência
artificial basta o Big Bretha.
Todos os dias (excepto ao fim de semana) o "pressôre" inicia o seu dia de aulas
às 8h30, impreterivelmente. A essa hora, no regime presencial, grande parte das almi-
nhas iluminadas costuma chegar cheia de sono, com vontade de fazer pouco ou nenhum
e, não raras vezes, procura servir-se da mesa para "cochilar" mais uns minutos (alguns
chegam mesmo a roncar e até já aconteceu babarem-se). O arranque da aula matinal é
lento e até que aquelas alminhas ponham os neurónios a funcionar é toda uma aventura
na casa assombrada. Se isto é assim presencialmente, nem quero imaginar "online".
Ao segundo dia de E@D já não posso ver o computador à frente. E que ninguém
se lembre de me falar do Classroom, pois corre um sério risco de ser mandado para o
canal 8 da TDT. Pensado bem, não era má ideia, visto que à exceção do canário da dona
Dolorosa, mouca que nem uma toupeira, a vizinha do andar de cima, mais ninguém deve
prestar atenção àquilo.
E foi isto todo o diabólico dia, até às 17h00, com uma hora de almoço à pressa e
quase sem tempo para ir à casa de banho.
E depois de ouvir que isto é capaz de durar até ao fim de março, já só me apetece
hibernar.
Nota: E ninguém me avisou que teria de dar aulas a mais alunos do que aqueles
que costumam ir às aulas. Estou indignado. Gatos. Nunca vi tanto gato na vida.
Sabem aquelas turmas de "monos" silenciosos, em que presencialmente damos
uma aula sem ouvir um "piu"?
"- Liguem as câmaras, por favor. Não vou estar aqui 100 minutos a falar para
rodelas coloridas com letras lá dentro e um fundo escuro." Duas iluminações em 22 dão-
se a esse árduo trabalho. As restantes ainda deviam estar à procura do Teco, porque o
Tico, esse, já fugiu há muito tempo. Nem a ameaça de as mandar presencialmente para
a escola, onde iriam ter de cumprir treino militar funcionou.
Dei a aula da forma possível, tentando não me enervar e mantendo o que ainda
resta da minha sanidade mental. Coloquei questões, às quais respondi, e perguntei, vá-
rias vezes, se ainda estavam vivas. Ouvi uns grunhidos... E não ter ouvido um ronco, foi
sorte.
"- Pressôre."
Foi a loucura. Uma voz, mesmo que do além, a falar comigo. Estava a ficar tão
amorfo, que até saltei da cadeira.
"- Olhe, não é nada de especial. Era só para saber se deixava o Tobias assistir à
sua aula."
"- Ah, é o meu gato... Mas não se preocupe, ele já foi embora."
Não vou dizer que foi simples, prático e eficaz. Não foi.
Não vou afirmar que estaria disposto a fazer isto para o resto do meus dias de
aprendizagem (sim, porque ensinar é, antes de mais, um ato de aprendizagem). Não
estou.
Este regime intensivo de aulas síncronas, numa tentativa insana de obrigar "pres-
sôres" e alunos a cumprir o horário escolar, definido para o regime presencial, é um
completo ato de tortura física e psicológica. Acredito que todos estaremos a tentar dar
o nosso melhor, apesar de uma ou outra reclamação (desabafos que nos aliviam a alma
e o cansaço), mas desconfio que as consequências que retiraremos disto não serão as
melhores, perante uma classe já desgastada, alunos cada vez menos motivados e, por
vezes (sendo otimista), pouco educados (atenção, não referi com falta de capacidades)
e pais pouco informados. Ninguém irá beneficiar com este distanciamento forçado,
numa aprendizagem simulada, e não efetiva, e pouco desejada (sim, porque não me
venham com tretas, só aprende quem realmente está predisposto a fazê-lo e não são as
geringonças que inventam para tornar, dizem, o ensino mais apelativo(?) que resolvem
o problema).
Horas que se perdem, algumas que se ganham, a preparar uma aula interativa,
dinâmica, encorajadora, para alunos que, na hora, não correspondem (ou não se esfor-
çam por) ao apelo do "pressôre". Câmaras que não se ligam, apesar das diretrizes explí-
citas recebidas, por teimosia e, desconfio, incentivos terceiros, apesar de haver todo um
conjunto de possibilidades de salvaguardar a privacidade dos alunos. Que coloque a mão
no ar quem, nestes dias, pediu uma, duas, três, inúmeras vezes, à mesma iluminação
para ligar a câmara, e foi redondamente ignorado. Com sorte, como hoje tive a felici-
dade (?) de ouvir "Pressôre, não ligo a cam porque o meu cabelo está horrível". Pais que
não respeitam as horas de aprendizagem (a possível) dos seus educandos, interpelando-
os constantemente em período de aulas, assistindo e intervindo nas aulas como se de
um "reality show" se tratasse e descompondo os meninos porque não aparecem para
almoçar às 12h30 ("é a hora a que se come cá em casa"), quando a aula termina apenas
às 13h15. A culpa, claro, é da besta do "pressôre" que está para ali a empatar as crianças
com coisas que não servem para nada.
1) "Estão a ouvir-me? Sim? Alguém que me responda, por favor? Falem comigo.";
3) "Pressôre, a minha net está sempre a cair? Podia repetir o que disse há meia
horas atrás?";
4) "Pressôre, onde é que disse que colocou o trabalho? É que no meu computa-
dor não aparece nada.";
5) "Ó M., responde ao exercício nº4, por favor. M., estás aí? Olha, fugiu! To-ro-
ron-roin, M., chamado à receção, to-ro-ron-ron!"
6) "Ó J., estás a falar com quem?" / "Ó pressôre, desculpe, o meu pai veio aqui
buscar um compasso e a minha mãe queria saber o que me apetecia jantar." / "Boa, se
for cozido à portuguesa eu também quero.";
10) "Vá, até amanhã. Vão descansar um pouco antes da próxima aula."... PUF...
Silêncio. "Então, mas foi tudo embora e nem água vai? E deixam aqui uma pessoa espe-
cada a falar para o boneco? Mas, mas, mas...
Depois de tentar reavivar os finados, qual Lázaro levantado da sua tumba, o de-
sespero assolou o "pressôre". "- E agora como é que eu vou dar aulas às minhas inteli-
gências?"
"-Sabe pressôre, é que a de Todos dá muitos problemas nesta zona, pode ser
disso."
Foi declarado o seu óbito às 11h45. Tinha partido para o céu dos artefatos ele-
trónicos, onde habita agora junto da sua "motherboard".
Amanhã, entrará na contabilização das mortes provocadas pelo E@D, esse vírus
maldito que atormenta a vida de "pressôres" e de suas inteligências iluminadas.
Ah, verdade, também há aqueles casos de uma ou outra mente flamejante que
fica apagada na cama e quando o "pressôre" a interpela, resolve acender a luz e ligar a
câmara, de modo a tentar ocultar que por detrás daquela cabeça se encontra uma al-
mofada, na qual repousa um neurónio com o interruptor ainda desligado.
O "pressôre" faz uma explicação prévia sobre a forma como devem aceder ao
dito, o tempo que têm para responder, indica que podem (e mesmo que dissesse que
não...) consultar os apontamentos e materiais, mas avisa para terem cuidado com as
conversas paralelas, que não confiem cegamente nas respostas dos outros e que pen-
sem por si. Sou um utópico, eu sei.
É desesperante.
"- Ai, pressôre, que cena! Essa não é aquela do Big Breda?"
P.s. - Por falar em copiar... Parece que aquele blogue famoso lá se decidiu, final-
mente, a publicar a fonte de tal "oração". Os fãs do "Ó Pressôre" são os maiores.
NOVO PERFIL DAS ILUMINAÇÕES À SAÍDA DA ESCOLARIDADE À DISTÂNCIA
2) Usar, sempre que possível, a língua portuguesa e escrever mensagens de texto sem
hieroglifos;
3) Comunicar com o "pressôre" quando solicitado, dar os "Bons dias" e não partilhar
conversas paralelas no Twittaro;
4) Pensar pela própria cabeça (ou mona), de modo a dar uso aos neurónios que por lá
habitam. Pensar. Ponto;
7) Não obrigar o "pressôre" a relacionar-se com círculos escuros com letras lá dentro;
9) Acordar, lavar a remela e não aparecer de pijama (ou sem roupa) na câmara;
10) Perceber que, esteticamente, um gato (ou outro animal doméstico) não faz "pen-
dant" com à aula.
Depois de uma manhã agarrado ao artefacto tecnológico por causa do Ensino
com muita Distância, podia dizer que me apeteceu atirar o computador pela janela, mas
contive-me. Não porque poderia comprar outro, dada a riqueza que abunda na vida de
qualquer "pressôre" (Dedução no IRS de material informático? Pra quê? Se ainda fosse
o "jacuse" na mansão em Santa Quitéria da Cruz Torta...), mas porque lhe ganhei uma
certa afeição. Quase amor, até. Tantas têm sido as horas que convivo com o fofinho
tecnológico, que até acho que já sinto borboletas cibernéticas no estômago.
Bem, mas o assunto de hoje é outro. A caixa de surpresas que é a mente de uma
iluminação.
Ruído... Uma iluminação acabadinha de acordar sussurra algo como: "Eu não,
pressôre, ainda só vou para a segunda questão (eram 10)".
Com alguma dose de paciência, pois o balde de cafeína ingerido antes da aula
ainda não tinha surtido efeito, o "pressôre" dá mais 5 minutos para a conclusão do tra-
balho.
A pessoa começa o dia com o cacarejar das galinhas e o sino da torre da igreja,
em badalos sucessivos, que teima em perfurar os tímpanos ainda adormecidos. Depois
das matinais lides higiénicas e domésticas, onde se inclui o já famoso balde de café re-
vigorante, chega a hora de reservar o lugar em frente à quinquilharia eletrónica que nos
irá acompanhar em mais um dia de martírio... Digo, de aulas na Patagónia... Digo, à dis-
tância.
O "pressôre" liga o computador, essa coisa fofa, e pensa que já é hora de mudar
o ambiente de trabalho, está farto de ver aquela imagem de férias. Uma pessoa até
deprime ao ver uma coisa que não pode ter. Hora de começar as 8 horas seguidas de
telenovela virtual, apenas com direito a um almoço rápido.
Tinha-me enganado da sala. Com tanta iluminação, quem anda a ficar apagado
sou eu. Ri-me meia hora a pensar na minha triste figura, recompus-me e atinei com o
caminho.
Na aula seguinte, já com o interruptor mais ou menos a meio gás, falei de Revo-
lução Industrial a uma turma do 11º ano e só ouvi silêncio. "Ai, é aquela coisa das fábri-
cas, mas não sei explicar muito bem", foi o máximo que consegui extrair daqueles neu-
rónios ainda mais adormecidos do que o meu. E tive visões. Vi pessoas a passear atrás
das câmaras com vasos... Com vasos? Será isto uma aula em movimento? Voltei à Revo-
lução Industrial. "Ó pressôre, é aquela coisa, tá a ver... Aquilo, não sei explicar". Fiquei
na mesma e, desta vez, não vi nada. Insisti, uma última vez. "Eu acho que sei pressõre.
Foi aquilo das invenções." Já era alguma coisa. Resolvi perguntar que grande invenção
estava associada à dita Revolução. Mas para que raio continuo a fazer perguntas parvas?
Porquêeeeee?
Mais um dia... Leva-se, literalmente, um dia de cada vez, mesmo que haja dias
que parecem séculos. Hoje, até nem foi muito mau.
No lado oposto, os intervalos são muito menores ou pelo menos é a minha im-
pressão. Têm exatamente o mesmo tempo que os intervalos em regime presencial, mas
na escola uma pessoa tinha tempo de desinfetar mesas, material, ir à sala de professo-
res, fazer uma pequeno lanche, satisfazer as necessidades fisiológicas, desinfetar as
mãos, trocar dois dedos de conversa com outros "pressôres". Em casa, uma pessoa le-
vanta-se da cadeira para ir beber um copo de água, olha para o relógio e já está na hora
de ir vender uma aula. Ele há coisas.... Mistéeeeerio!
Foi toda uma injeção de ânimo. A aula tinha corrido mesmo bem.
Entusiasmado, o "pressôre" segue caminho para a aula seguinte, desta vez sem
se enganar na sala. "Bommmmm diaaaaa, alegria!"
O tema era o mesmo, mas a turma era daquelas silenciosas, quase fantasmagó-
ricas, a quem o gato deve ter comido as línguas todas (ou como diz uma "pressôra" mi-
nha amiga, uma turma de "múmias paralíticas"). Foi um desespero aquela aula. Solicitei
que fizessem uma pequena pesquisa, tirassem foto e mandassem o resultado para o e-
mail do "pressôre". "Eish, pressôre, é para fazer agora? É para mandar? Isso dá tanto
trabalho... Tenho de esticar o braço. Ai, espere...". Abrenúncio! Apre! Irra!
Para terminar a manhã em beleza, fui informado que uma iluminação estava em
viagem, mas ia a ouvir a aula toda. É o que eu digo, temos o chamado Ensino em Movi-
mento.
À entrada da escola pairavam guarda chuvas, num corre-corre de pés que salpi-
cavam o chão a cada passo percorrido.
É hora da primeira aula do dia. Os miúdos chegam a conta gotas, porque a en-
trada na escola estava complicada, ou porque o autocarro se atrasou, ou porque a cama
os prendeu por mais 5 minutos, ou porque o trânsito no centro da cidade estava o caos
do costume...
Dá-se início à aula, a primeira de um dia que se avizinha longo. Como sempre, a
aula é interrompida pelo engraçadinho do costume, que tem um grande problema com
o despertador e com a pontualidade. Há risos, burburinho e a tentativa de conversas
paralelas. A aula prossegue em ritmo ameno, animado e com a empatia do costume. A
empatia, sim, o grande motor da aprendizagem.
As aulas seguem-se umas atrás das outras, num sobe e desce de escadas, que
teimam em nos fazer lembrar o peso da idade. A pessoa já não vai para nova.
Chega a última aula do dia. A esperança de saber que, no fim daquela aula, se
pode ir para casa, para o refúgio do conforto do nosso lar e do conforto daqueles que
nos esperam.
"Não fiz! Não fiz! Não fiz! Não fiz! Não fiz! Nãoooooo fizzzzzzzz!"
Subitamente, os alunos transformaram-se em ecrãs zombies, levantaram-se e
caminharam na minha direção, numa espécie de ataque cibernético, onde toda a minha
existência se sentiu engolida por uma mesa digitalizadora...
Acordei em sobressalto.
Quer dizer, as "diz que é uma espécie de aulas online" estão despachadas, falta
todo um manancial de trabalhos para corrigir, que entram a uma velocidade catatónica
no e-mail do "pressôre", juntamente com as notificações de mensagens com dúvidas de
última hora das iluminações. Em alguns casos, o prazo de entrega terminou ontem e
ainda me perguntam até que dia é que podem entregar o trabalho. Havia um guião com
a data, certo? E ler, sabem o que é? E ouvir o "pressôre" nas aulas? "Ganda cena", não?
No fundo, acabo por ter de dar razão a algumas iluminações, quando, no decor-
rer da semana, lhes pedi para fazerem uma pesquisa sobre casos de "crianças selva-
gens". Primeiro estranharam, depois admiraram-se e por fim questionaram:
"- Pressôre, isso é fácil, fazemos sobre a nossa turma." (Haja consciência!)
"- Olhe, pressôre, também não precisava de nos tratar dessa forma."
Rezei 5 vezes a "oração" ao E@D para descer à terra e responder a estas ques-
tões de reflexão profunda. "Ó inteligências, se eu vos quisesse tratar mal, não era assim
tão direto. Até parece que têm muita razão de queixa!?"
Lá perceberam o que era uma criança selvagem e a que queria fazer sobre o ir-
mão, mudou de ideias e achou mais conveniente fazer sobre o primo, que é sobrinho da
tia, que tem a avó em casa de uma amiga, que por sua vez é vizinha da mãe, que é neta
da tia que é filha do primo.... Já me perdi!
É hora de me enfiar no "bunker" para dar conta dos 500 e-mails que ainda tenho
por abrir e corrigir o Everest de trabalhos que animarão o meu fim de semana... Selva-
gem!
"Curtam bué", como diz o meu iluminado Celinho, que deve continuar perdido
por Onde Judas Perdeu as Botas de Cima.
O "pressôre", esse burguês do teletrabalho, está a desfrutar do seu maravilhoso
domingo, quase primaveril, numa montanha paradisíaca de trabalhos para corrigir, con-
templando o ecrã de um artefacto tecnológico inundado de palmeiras, enquanto bebe-
rica doses síncronas desse líquido precioso que dá alento a qualquer moribundo - o café!
E o vosso domingo, colegas burgueses? Estais refastelados nesse antro de maus vícios a
que a ralé chama vulgarmente sofá?
Claro que espero, em breve, subir na classe social, e passar a ser um burguês nos
quadros da função pública, quem sabe usufruir de um qualquer título nobiliárquico, tal-
vez Duque ou Marquês... Marquês de Onde Judas Perdeu as Botas de Cima! Soava
mesmo bem. Poderá não ser para a vida toda, mas, como diz a outra, se não for, foi por
um triz.
Estas sessões espíritas, vulgo aulas "óneline", estão a por a minha sanidade men-
tal à prova e desconfio que não haverá vacina que a salve.
Começar o dia a falar sozinho para um ecrã, numa divisão da casa, à espera que
uma alma, lá muito distante, responda ou, pelo menos, emita um som qualquer, só para
mostrar que está viva, é o desespero na sua total plenitude. Só me falta mesmo a mesa
pé de galo e, já agora, uma bola de cristal... Ai, espera, o artefacto tecnológico até serve
de bola de cristal, mas o raio da sintonia deve estar desalinhada pois vejo sempre o
mesmo canal cheio de bolas coloridas com letras lá dentro. Se eu acho que já não é
normal falar dois minutos sem ouvir o outro lado, penso logo que já está tudo a dormir,
então fazer isto durante 100 minutos é uma tortura, só comparável a uma serenata da
Maria Leal num dia de tempestade.
Ontem tive uma sessão espírita de almas evaporadas. Além de não falarem, eva-
poram-se. Corrigia-se um exercício e ia fazendo, de forma aleatória, questões às ilumi-
nações, ao menos para verificar se ainda respiravam.
Silêncio. Volto a solicitar a resposta. Silêncio. Saco do meu humor (ainda tinha
algum) e imito uma "imperadora de caixa de supermercado" (como dizia a outra ilumi-
nação acerca da profissão da mãe): "To-ro-ro-roin, iluminação chamada à caixa, to-ro-
ro-ron".
O "pressôre" perdeu a paciência. Sempre que a alma era chamada para respon-
der a uma questão, estava na casa de banho. Ao menos que se dê ao trabalho de lavar
as mãos e já agora que leve o computador com ela, visto que passa lá a vida.
Chamo outra iluminação. Silêncio. Ameaço que, caso não me respondam, co-
meço a marcar falta de presença. Meia hora depois, chega a resposta: "Pressôre, não
estava aqui. Fui ali à minha vizinha que me estava a chamar."
"- Foste à tua vizinha? A meio de uma aula? A tua vizinha não sabe que tens
aulas? Tu se estivesses na escola, ias a meio de uma aula falar com a tua vizinha?" (Se
calhar até ia, mas isso agora não interessa nada...)
Novamente todo um discurso sobre sair a meio de uma aula porque a mãe o
chamou. Se a mãe não sabia que estava em aulas, blá, blá, blá e pardais ao cesto. Furi-
bundo, no meio de toda uma descasca à turma, o "pressôre" ouve, vindo do outro lado
do microfone da última iluminação, ainda ligado, a frase que o marcará para o resto da
sua semana:
Está a pessoa nesta utopia e eis que cai a notícia de uma violação quinzenal da
ponta pinguda dos "pressôres" e funcionários. Com'é que é? Querem enfiar-me um co-
tonete, que mais parece uma arma de destruição maciça, pelo nariz acima de 15 em 15
dias? Ainda por cima, com um serviço destes feito por uma qualquer alma vestida com
um fato de ir a Marte, em que uma pessoa nem sabe se é um marciano que está lá
dentro a tentar roubar-nos pelo nariz a já cansada atividade neuronal que ainda sobra?
E se fossem enfiar os cotonetes no Tiaguito, num sítio onde a luz do sol não chega e é
preciso usar uma lanterna (numa gruta, entenda-se)? Esse sim, é o verdadeiro vírus, o
"El Corona" da (des)Educação.
Ó vida, ao que um "pressôre" é sujeito para dar aulas. Se não é em casa aninhado
em frente a um computador a falar sozinho e a enlouquecer, é na escola com vacinhas
manhosas e cotonetes enfiados no nariz. Já pensaram se fôssemos "pressôres" na China,
onde era metido o cotonete? Vá, do mal o menos...
Não sei por que artes mágicas, mas consegui obter respostas do além. Tanto dei
voltas à bola de cristal, socorrendo-me da invocação dos espíritos escondidos nas pro-
fundezas do éter, obtendo, enfim, o esperado retorno. Um dia muito participado, sem
dúvida. Colocaram questões pertinentes, levantaram problemas e ousaram dar respos-
tas. Fiquei abismado a ponto de os elogiar. Às tantas, nem me deixavam explicar os con-
teúdos, interrompendo-me bruscamente com ideias completamente fora da caixa. Já
não me recordo de todas as intervenções, mas deixo-vos uma lista daquelas que mais
me emocionaram:
3) "Pressôre, a minha colega manda avisar que a net está sempre a cair.";
4) "Pressôre, dixculpe só entrar agora (meia hora depois de a aula começar), mas
a minha cota não me acordou.";
6) "Pressôre, o que é para fazer? (Depois de ter explicado a mesma coisa 50 ve-
zes)";
7) "Pressôre, fale mais alto que tou a ouvir com cortes." (E vou falar mais alto
para quê?).
Uma maravilha, não é? Que emoção, até me vêm lágrimas aos olhos...
Para terminar o dia, nada melhor do que receber a informação do início do con-
curso de "pressôres", ainda esta semana. É provavelmente uma das fases mais emocio-
nantes da vida de um "pressôre". A-D-O-R-O! É também aquela altura em que uma
grande quantidade de "pressôres" se transforma em verdadeiras almas iluminadas. Ler
os documentos orientadores do concurso, tá quieto! Depois andam aí a perguntar a tudo
quanto mexe, no Livro das Caras e afins, o que é que é para preencher, os documentos
que têm de entregar, quando começam os concursos (5 dias depois de terem começado)
e o já célebre, findo o prazo, "ai, eu não submeti a candidatura", "esqueci-me de con-
correr, e agora?". Agora, é lidar...
Desconfio que ainda há de vir por aí alguém perguntar por uma certa declaração
de oposição... Desconfio!
É também aquela altura do ano, em que a minha amiga "dótora", recorre ao
aconselhamento filosófico do pressôre sobre quando, como e onde concorrer. E a pes-
soa preocupa-se, tem esse cuidado, pois despassarada como é, ainda agora estaria à
espera do início do concurso de 2002. O que um "pressôre" não faz pelos amigos.
Boa sorte "pipole", que este concurso interno e externo vos traga as escolinhas
desejadas, de preferência bem longe de Onde Judas perdeu as Botas ou, por um triz,
poderão ter de levar com o Celinho para a vida toda.
Mais um dia de aulinhas e mais umas voltinhas no carrossel que é o E@D.
Confesso, o meu (mau) humor anda ao rubro e começo a não me conter perante
a apatia que as iluminações teimam em manter. Uma pessoa anda desgastada, cansada
a triplicar, chega ao fim do dia completamente moída, com dores em todo o corpo, os
olhos cansados, a cabeça a estourar e ainda tem de suportar os silêncios daquelas almas
que, se for preciso, nem abrem a boca para dizer que estão ali, que respiram, que estão
vivas. Estão fartas do E@D? Também eu e tenho de as aturar.
Hoje, depois de já ter feito uma série de perguntas e, para variar, não ter rece-
bido resposta, nem um simples "não sei", saiu-me: "Credo, mas será possível, parecem
umas múmias metidas nos sarcófagos. E mesmo assim às vezes até essas fazem barulho,
nem que seja para aterrorizar. Vejam lá se saem da tumba."
Silêncio fantasmagórico.
"- Pressôre!"
Aula seguinte.
Turma mais participativa e o ânimo é outro, claro. Pelo menos dizem coisas, con-
versam, têm algum assunto. É outra forma de estar. Podem não ser as maiores inteli-
gências do mundo, mas pelo menos são afáveis. Para a aula e hoje, tinha decidido mos-
trar uma obra bastante conhecida de Vicent van Gogh, no intuito de que a apreciassem
e refletissem sobre ela. A obra em causa era aquela que representa um céu, à noite,
cheio de estrelas, visto de uma janela de um quarto de um hospício. Pergunto se conhe-
cem a pintura em causa e a resposta é afirmativa. Pergunto se conhecem o autor da
obra e alguns respondem "Van Gogh". Aplaudo, demonstro o meu agrado e admiração
por reconhecerem o autor e a obra em causa. Última pergunta: "Alguém sabe qual o
título atribuído a esta obra de Van Gogh?"
Ouço um microfone ligar-se, um ruído de fundo, e logo de seguida uma voz clara
e límpida, como água a correr por uma cascata, proferir:
Manuel da Vinci foi um artista português, nascido em França. Pensa-se que terá
pintado a Mona Lisa, mas na verdade quem o fez foi Leonardo Di Caprio... Ou Picasso
(há dúvidas). Da Vinci, era tão à frente no seu tempo que pintou a sua própria morte
depois de já estar morto e Miguel Ângelo, além de pintor, era Tartaruga Ninja e terá
pintado o teto da capela "Sineta". A obra mais conhecida de Picasso chama-se "Animais"
e Munch terá pintado "O Susto". Deram-me a conhecer um movimento vanguardista de
nome "Fudismo", que uma estátua de um homem a pensar se chama o "Bronzeador",
porque é de bronze, e ainda me informaram que a talha dourada era pintada nas igrejas
em banho maria. Em Évora, o templo romano é em honra da deusa Puma e o Mosteiro
do Jerónimo é a sede do PCP.
Sempre a aprender...
O E@D DA TININHA - O NOVO PROJETO DA "PRESSÔRA" TININHA BERREIRA
Quanto aos microfones das iluminações, estes estarão sempre desligados, visto
que só a Tininha é que tem o direito a falar, à exceção do menino Rúbio Valeta, que é,
claramente, o preferido da "fêssora". Quanto às outras iluminações, que apanhem se
puderem e se não puderem, a Tininha manda-os para a rua (virtualmente falando).
A pessoa está nas aulas e nem sabe se já não está, ouve coisas ou julga que as
ouviu e sente a sua existência a esvair-se toda pelos olhos que parecem querer saltar
das órbitas.
Às tantas, numa aula do 10º ano, apresento a seguinte frase a uma turma: "Há
muitos museus de arte contemporânea em Portugal." Peço a uma iluminação que me
indique o quantificador presente na frase:
"- Ó inteligência, lê bem a frase, qual é a palavra presente na frase que exprime
quantidade?"
Desconfio que já não sei quem sou, não sei se existo e valha-me a Santa Tininha
a quem irei rezar, em suplício, 500 "orações" do E@D!
O tema da aula era sobre práticas culturais consideradas aceitáveis ou não acei-
táveis. As iluminações interessadíssimas, super interventivas e participativas, como há
muito não ocorria. Por momentos, quase me senti numa aula presencial... Quase!
"- Pressôre, eu tenho um exemplo. Há uma prática que eu acho errada, é uma
coisa que eu acho que não devia acontecer. Em algumas culturas, as mulheres andam
com os peitos à mostra. Isso é uma atrocidade."
"- O quê? Não entendi." (Quer dizer, o "pressôre" entendeu, mas quis perceber
se tinha ouvido bem).
"- Sim, pressôre. Há culturas em que as mulheres andam com os peitos de fora,
não vestem nada por cima. Isso é errado, não devia ser permitido."
"- Essa prática cultural interfere com a integridade física e psicológica das pes-
soas?"
"- Vamos lá ver se nos entendemos... Se for um homem a andar sem camisola, já
não ficas traumatizado?"
"- Não, pressôre! Mas é claro que, se um homem andar sem calças, eu também
não gosto."
O vosso "pressôre" compreende que andem fartos e saturados com o E@D. Acre-
ditem, é recíproco. Partilhamos do mesmo sentimento.
Estão cansadas de estar atrás de uma câmara, que teima em se desligar, a ouvir
vozes que apelam ao vosso interesse e participação, que se dedicam a preparar aulas,
recorrendo aos mais extravagantes recursos tecnológicos, para que se sintam motivadas
nestes tempos de confinamento. Contudo, lembrem-se, que a aula não se faz apenas
com o "pressôre". Sim, aquele "pressôre" que desespera com os vossos incomensurá-
veis silêncios, que apesar de ser ignorado por bolas coloridas com letras lá dentro, ou
animais ou figuras de desenhos animados japoneses, continua a ligar religiosamente a
sua câmara para que possam contemplar a beleza que é proporcionar conhecimento.
Queixam-se dos trabalhos que têm para fazer, porque os "pressôres" devem
achar que as suas adoradas iluminações não têm vida social. Compreendo, juro que
compreendo. O trabalho que dá sair da cama, de manhã cedo, acordar os filhos, prepa-
rar a refeição, tratar das tarefas domésticas, levar as crianças à escola, mudar a fralda
ao cachopo que ainda mal gatinha, lavar a roupa no tanque, porque a máquina avariou,
passar a ferro, plantar umas couves na horta porque as hortaliças no supermercado es-
tão pela hora da morte... Enfim, um sem número de tarefas que não deixa espaço de
manobra para fazer os trabalhos, sem sentido nenhum, que os "pressôres" pedem. Ver-
dade, eles não vos compreendem. Felizmente ainda vos sobra tempo para ver o Big Bre-
tha e comentar os últimos disparates que essa grande ex-iluminação do "pressôre", a
Noélia, anda a fazer na casa (sim, o orgulho que o "pressôre" tem em ter uma ex-ilumi-
nação no Big Bretha). E andaram os "pressôres" a perder horas a pensar num trabalho
adequado e apelativo para as suas iluminações. "É lidar", diriam vocês. Nós lidamos, ó
se lidamos.
É por lidarmos que continuamos todos os dias a aparecer em frente a uma câ-
mara, na esperança de que a próxima aula não seja mais uma invocação de almas do
outro mundo e a fazer, o possível e o impossível, para que não se percam no além, cha-
mando-vos à terra, nem que seja para perceberem que o Japão não é a capital da China,
que o Mónaco e São Marino não ficam na Península Ibérica ou, simplesmente, que a
vida é um valor e deve ser preservado.
Estamos juntos!
"- Bom dia, pressôre! Hoje estou bonita? Acha que eu estou discreta?, ou
"- Ó pressôre, eu atrasei-me porque fui buscar uma garrafa de água ao bar. Eu
tenho sempre muita sede!".
Aquele rol de desculpas matinais (e não só) para uma chegada mais tardia à aula.
Já nem falo dos momentos em que contam as peripécias que passaram em casa
e na rua, no dia anterior. Desde a senhora da loja dos chineses que decidiu perseguir as
iluminações dentro da loja, uma queda estapafúrdia a fazer não sei o quê, o drama de
uma meia se ter rompido nas cadeiras da escola, a ida à esteticista fazer as sobrancelhas
e uma ter ficado maior que a outra... Enfim! Toda uma história que daria vários livros!
"- já tentaste?
"- Não..."
O "pressôre" revira os olhos, conta até dez e, quando não se passa da "marmita",
lá incentiva à resolução do exercício.
É toda uma aventura que deixa de o ser quando se está por detrás de um com-
putador.
São enormes as solicitações para que os "pressôre" os leve a uma famosa cadeia
de hambúrgueres ou a insistência em provar uma qualquer comida feita pelo adorado
docente.
Além das tentativas de comer dentro da sala:
"- Nhoc, nhoc, nhoc, eu, nhoc, nhoc, nhoc, não, nhoc, pressô(nhoc)re, não."
Raio do bicho!
Um dia soalheiro, esplanadas abertas e o povo na rua. Desconfina-se... Não sou
vidente, nem sei lançar búzios, mas estou cá desconfiado que o "El Corona" vai voltar ao
ataque.
E depois ainda tenho a amiga "dótora" que, lá por ter terminado a leitura do
primeiro livro do "pressôre", já quer um segundo, assim como se fosse a coisa mais fácil
do mundo. E até faz apostas. Acha que o "pressôre" vai vender 300 livros. 300!? Esta
"dótora" saiu-me cá uma iluminação, quem nem contado. Se vender 100 faço uma festa!
Ó-la-ri-la! É muita pressão em cima de uma pessoa... Estou é seriamente a precisar de
aulas presenciais. Estão a ver aqueles lunáticos de olhos arregalados e a babarem-se
todos? Pronto, é mais ou menos isso.
O dia tinha sido cansativo. O corpo e a mente pediam descanso. O "pressôre"
deitara-se cedo, na esperança de ter uma noite tranquila, em que pudesse desfrutar do
"sono dos justos".
Por volta das duas da manhã, o "pressôre" acorda sobressaltado com o barulho
de uma notificação no telemóvel. Resmunga, aconchegando-se no vale dos lençóis,
amaldiçoando as iluminações por estarem a entregar trabalhos àquela hora da noite.
Contudo, lembrou-se que tinha desligado a Internet, logo não seriam as iluminações...
Mas quem raio se lembraria de mandar uma mensagem às 2h00 da manhã?
Procurei voltar a dormir, mas a mente insistia em pensar como seria o encontro.
Será que vou gostar de a conhecer? E se me apaixono e ela me provoca um coágulo,
destroçando todo o amor que nos aproxima? Será que me vai fazer sofrer? Não irei su-
portar que ela me troque pelo El Corona, apesar de ela insistir que é para me proteger.
Perdido, revirando os lençóis em movimentos bruscos, procurava analisar todas as van-
tagens e desvantagens que poderiam resultar daquele fatídico enlace. Amanhecia e a
decisão estava tomada. Determinado, o "pressôre" pegou no telemóvel e digitou
"SIMMMMMMMMMMM!"
Nos dias seguintes, a ansiedade pelo famigerado encontro. Ai, como é que ela é?
Será que é simpática? Será transparente qual chuva cristalina? Será suave a sua entrada
na relação?
Depois vim a perceber que afinal resolveu marcar encontro com toda a gente no
fim de semana. Comecei logo a desconfiar. Seria alguma espécie de relação poligâmica?
Já não estava a gostar da brincadeira...
De seguida vieram as notícias a dizer que a fulana não era de confiança. Pudera,
a meter-se em toda a gente e sem nenhuma proteção, só poderia correr mal.
Poderíamos ter sido tão felizes. Eu até tinha pensado em podermos adotar um
Coronazito, mas não quer nada comigo. É triste!
No entanto, nem tudo está perdido. Parece que há mais duas candidatas interes-
sadas e a possibilidade de um encontro para um próximo fim de semana. Uma tem um
nome sugestivo, julgo que possui inclusivamente experiência em levantar relações.
A outra, acha-se moderna. Desconfio sempre desta gente que tem a mania que
é muito moderna. São as piores. Umas rebaldarias que só visto. No entanto, julgava que
a das zebras também era decente e afinal foi o que se viu.
Resta-me aguardar pelo novo encontro, mas, desta, vez, espero que a uma hora
mais decente ou a senhora da libélula ao peito vai ter de me ouvir e garanto que não vai
ter graça nenhuma.
P.s. - Ainda por cima, a badalhoca decidiu enviar uma mensagem à 1h41 da ma-
nhã a terminar a relação. Como é que uma pessoa não há de ter coágulos?
Ainda na sexta feira me divorciei de um casamento que ainda não tinha come-
çado e já estou a ser engatado por outra pretendente.
Desta vez nao me acordou de madrugada para marcar um encontro, optou pela
hora de jantar, num gesto romântico, mas ao mesmo tempo interesseiro, como que a
fazer-se ao prato. Deixa no ar a ideia de que, no dia do encontro, me irá receber à luz de
velas, com um ramo de rosas vermelhas, antes de ferozmente se atirar ao braço do
"pressôre", onde o marcará para toda a eternidade.
E consta que esta, pelo nome, tem fama de elevar a moral às pessoas.
Tou "xitex"!
O "pressôre" acordara ansioso.
Não era para menos, visto que era o tão esperado dia do famoso encontro com
a paixão avassaladora, repentina e assolapada, a "vácina".
Estranhara. Não seria o local mais romântico do mundo, mas até compreendia.
Caso o fogo da paixão se descontrolasse, era sempre bom ter por perto quem soubesse
apagar fogos.
Antes da hora combinada, estava à porta do quartel. Tudo muito tranquilo, ape-
nas duas ou três pessoas conversavam de forma domingueira à sombra de um chaparro,
visto que o sol já se fazia sentir com alguma intensidade.
Como as minhas respostas devem ter agradado ao senhor do pijama azul, mete-
ram-me numa espécie de tenda onde iria decorrer o dito encontro romântico. Era uma
tenda simples, em tons alaranjados. Num canto, estava uma mesa com um computador,
onde uma senhora de pijama azul iria anotar os detalhes do encontro. Fiquei logo
reticente. Então, mas isto vai ter assistência? Sou tímido, não acho piada a "voyeurs".
Teria sido mais uma vez enganado e metido na produção de um daqueles filmes para
adultos?
Noutro canto da tenda, estava uma cadeira branca, onde uma outra senhora de
pijama azul me mandou sentar. Foi buscar um tabuleiro, pensando eu que me iriam ser-
vir algum aperitivo, uma patanisca de bacalhau ou um croquete, mas eis que pega num
objeto comprido e esguio, com uma antena bicuda na ponta e me apresenta a "Pfaiza".
Aquela bodega é que era a fulana que tinha marcado o encontro comigo? Tinha mais ar
de extraterrestre do que de outra coisa, nem sexy era. Tentei iniciar o diálogo, mas man-
teve-se muda e, de um rompante, sem eu estar à espera, atacou-me o braço esquerdo
e, dois segundos depois, disse "Já está!"
Mas já está o quê? Que raio de ato de amor foi aquele? É que eu nem senti nada.
Meio atarantado, a dita senhora de pijama azul, resolve entregar-me um cartão com a
marcação para um segundo encontro. E nem pergunta se eu tenho interesse. É assim,
pumba e já está.
Mandaram-me para uma sala cheia de cadeiras, onde deveria esperar 30 minu-
tos para ver se o serviço tinha ficado bem feito.
Fiquei em choque! A sala estava cheia de pessoas que tinham sido atacadas pela
fulana, que afinal me saiu uma grande galdéria. Andava a atirar-se a toda a gente e não
escolhia géneros. Marchava tudo. Pior, algumas dessas pessoas eram minhas conheci-
das e, juro, não percebo como tiveram a ousadia de me trair. Sim, ao "pressôre" que
tanta esperança depositara naquele encontro.
Meia hora depois, saí de lá, com o coração desfeito, mas com a esperança de que
o próximo encontro me dê a imunidade necessária para estes desgostos amorosos.
Apesar de tudo, nem foi muito mau, visto que ouvi lá gente a queixar-se que
tinha sido inoculada. Que horror! Tive sorte, a mim só resolveu atacar o braço!
Acabaram...
1) As câmaras desligadas.
2) As sessões de espiritismo.
4) Os monólogos do "pressôre".
6) As quedas da Internet.
8) Pais a sussurrarem as respostas aos filhos ou a berrarem para as crianças irem almo-
çar, mesmo sabendo que a aula ainda não acabou.
10) Os exercícios feitos em grupo e que nem assim conseguiram aproveitar para me-
lhorar as notas.
Finalmente, estou de volta à escola. Sei que me espera a famosa escadaria infernal que
me deixa sem fôlego, mas com os quilos que se ganharam no confinamento, se não su-
bir, rebolo. Venham elas, as aulas presenciais! Aleluia, irmãos!
PARTE II
ORAÇÕES, POESIAS,
PROVÉRBIOS E AFINS…
(DO E@D)
ORAÇÃO AO E@D
Online.
Ámen!
E@D PORTUGUÊS
13) Mais vale uma mesa digitalizadora na mão, do que dois "routers" a voar.
"Passas a levantar-te mais cedo e trabalhas antes do pôr do sol. E tens a 2ª, 3ª,
4ª, 5ª e 6ª. Chega perfeitamente."
Até pode ser verdade mas, em quase 30 anos de ensino, nunca tinha ouvido esta
desculpa!"
2 - "Aula online com o 11º ano. De repente, a minha filha de 3 anos, que se en-
contrava por perto, ouve um barulho vindo da chamada de vídeo e diz:
E lá se foi a aula... Começaram-se todos a rir. Foi uma das poucas aulas em que
todos foram participativos e ligaram os microfones para dizer alguma coisa."
3 - "Uma 'pressôra" da minha filha estava a tentar fazer "copy paste" de uma
coisa e diz bastante indignada:
" -I cannot stick it! Why can’t I stick it?" (A expressão "stick it" pode ter uma
conotação sexual, pelo que a tradução para português seria algo como (e peço des-
culpa), "Eu não consigo enfiá-lo!")
Os miúdos não perceberam, mas a mãe e o pai que partilham o espaço de traba-
lho mandaram uma valente gargalhada.
Num outro dia, uma iluminação, claramente, fingiu que estava com problemas
na Internet. Mexia em plástico e emitia sons, como se o microfone estivesse com pro-
blemas."
Como não deve ter ouvido o que a mãe lhe perguntou e apesar de estar ali perto,
resolve ligar o microfone (?) e consigo ouvir a mãe perguntar o que queria para o al-
moço. O aluno responde, estando a turma toda a ouvir, e os colegas começam a rir-se e
perguntam à iluminação:
5 - "As aulas síncronas são via Meet e aqui, quando há muitos participantes, as
câmaras desligam-se automaticamente.
6 - "Ontem, depois da aula síncrona, fico com uma iluminação para lhe dar um
link onde poderia praticar a tabuada. Estávamos em reunião no Teams, já só os dois. A
almita iluminada abre o link e nunca mais se lembrou da minha presença.
Num rompante, agarra no PC e corre para ir ter com a mãe com a intenção de
lhe mostrar o jogo. Ora, a senhora estava no WC, onde descontraidamente fazia as suas
necessidades!
Removo o garoto rapidamente da reunião para não ver mais nada. Nem preci-
sava de ter visto a cena! Cruzes!"
Silêncio absoluto.
Silêeeencio...
'- Aldegundes...'
'- Ó Pressôra, sou a mãe da Aldegundes... É que a pequenita estava cheia de sono
e voltou para a cama.. Se não se importa, eu fico aqui a ter aula por ela.. Pode ser?' "
8- "Há uns anos atrás estavam os meus alunos a fazer um exercício de 'listening'
em que ouviam uma música do Michael Jackson e tinham de preencher os espaços. De-
pois do preenchimento de espaços, perguntei se havia vocabulário que não entendiam
na letra da canção. Uma das minhas iluminações põe a mão no ar:
'- Stôra, se o Michael Jackson já morreu, como é que ele escreveu a canção?' "
'- Foi fixe, mãe! Aprendi que há palavras diferentes que querem dizer a mesma
coisa e outras que querem dizer o contrário. São os simónios e os antónios.' "
- "Acalitros" (Eucaliptos)
- "Alcatróleo" (Alcatrão)
- "Alva-se" (Alface)
- "Artéria à horta"
- "Árvore ginecológica"
- "Arvres"
- "Aspersão nervosa"
- "Asseguir"
- "Atrasado mentol"
B
- "Barco Meu Dias" (Bartolomeu Dias)
- "Beiquel" (Bacon)
- "Bovedouro"
- "Broum" (Verão)
C
- "Cabo das Trombetas" (Cabo das Tormentas)
- "Cacifre" (Cacifo)
- "Cangarejo"
- "Çaralheiro" (Serralheiro)
- "Chesso" (Excesso)
- "Coxiencia" (Consciência)
D
- "D. Quixote e São Xupança"
- "Defeciente de metal"
- "Derrepente"
- "Desconcordo"
- "Descução"
- "Desmultivado" (Desmotivado)
- "Desquecer"
E
- "Elsa de Queirós" ou "Essa de Ceirós"
- "Erecção vulcânica"
- "Especifidade" (Especificidade)
- "Estrongamo" (Estômago)
- "Etnisidade"
- "Excaces"
- "Expressalidade" (Expressividade)
F
- "Facilissimo"
- "Farsa de A Nespereira"
- "Fatreino"
- "Filisofia"
H
- "Hamuga" (Hambúrguer)
- "Hérnia fiscal"
- "Hóquecigénio"
- "Hxa-te"
- "Hxei-me"
I
- "Imperadora de caixa no supermercado"
- "Imunde" (Imune)
- "Inegéção" (Injeção)
- "Inrregular"
- "Intervais"
- "I-róis"
- "Iscadea"
- "Izagero"
- "Izame"
L
- "Lésmica"
- "Lissões"
M
- "Maijómenos"
- "Mapas pornográficos"
N
- "Ninjas do Tejo"
O
- "Ocilio" (Auxílio)
- "Oclipses da Terra"
- "Pei-xispada"
- "Peps po dente"
- "Pexina"
- "Pirla" ou "Pírula"
- "Pirurei, mirurei"
- "Plantaforma"
- "Polibolota"
- "Poriço"
- "Purisemplu"
Q
- "Quadro hiperativo"
- "Quelhos" (Coelhos)
S
- "Sado Miranda"
- "Santo Mé"
- "Servagens"
- "Silaba atómica"
- "Sincoenta"
- "Turrifel"
U
- "Úter"
V
- "Vaca da Gama" ou "Debaixo da Cama"
- "Virgínia" (Vagina)
- "Vitivo" (Preservativo)
- "Voz pacífica"
FIM!