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Diretor editorial: Pascoal Soto Editora executiva: Tainã Bispo Produção editorial: Pamela J. Oliveira, Renata Alves,
Maitê Zickuhr Diretor de produção gráfica: Marcos Rocha Gerente de produção gráfica: Fábio Menezes
Preparação de texto: Marleine Cohen Revisão: Iracy Borges Capa: Mateus Valadares Ilustração de capa: Stefano Marra
Bibliografia
ISBN 9788580447583
2014
Texto Editores Ltda.
[Uma editora do Grupo LeYa]
Rua Desembargador Paulo Passaláqua, 86
01248-010 – Pacaembu – São Paulo – SP
www.leya.com.br
Dedicatória
Para Nina, por todo o amor. Para meu pai, por me ensinar o valor de
conhecer melhor a tecnologia. E a minha mãe, por me inspirar a
compreender e amar as pessoas.
Apresentação “A gente devia fazer isso mais
vezes.”
2 Ian Morris, Why the west rules - for now: the patterns of history, and what they reveal about the
future, Farrar, Straus and Giroux, 2010.
3 William H. Calvin, The Cerebral Code: Thinking a Thought in the Mosaics of the Mind, MIT
Press, 1996.
5 Platão, Fedro, citado por Marcus Reis Pinheiro, “O Fedro e a Escrita”, em Anais de Filosofia
Clássica, vol. 2 n. 4, 2008. Acessado em: http://www.ifcs.ufrj.br/~afc/2008/REIS.pdf
6 Jack Goody, Literacy in traditional societies, Cambridge University Press, 1975. Disponível em:
http://books.google.com.br/books/about/Literacy_in_Traditional_Societies.html?id=B9SUyI–
3tRwC&redir_esc=y
7 Gregory Cochran, juntamente com o antropólogo Henry Harpending, explica o argumento de que o
homem está evoluindo mais rapidamente nos últimos anos no documentário Nova, da PBS.
Disponível em: http://www.pbs.org/wgbh/nova/evolution/are-we-still-evolving.html e no livro 10,000
Year Explosion: How Civilization Accelerated Human Evolution, Basic Books, 2009.
8 Crânios da Idade Média eram menores do que os de hoje - ver Rebecca Morelle, “Time changes
modern human’s face”, BBC, 25 jan. 2006. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/2/hi/4643312.stm.
9 Kathleen McAuliffe, “If Modern Humans Are So Smart, Why Are Our Brains Shrinking?”,
Discover Magazine, set. 2010. Disponível em: http://discovermagazine.com/2010/sep/25-modern-
humans-smart-why-brain-shrinking#.UeIPn2TOtW1
10 Feggy Ostrosky-Solís e outros cientistas exploram a teoria no artigo “Can literacy change your
brain anatomy?”, Edição especial do International Journal of Psychology, Psychology Press, v. 39,
ed. 1, fev. 2004. Disponível em: http://www.tandfonline.com/toc/pijp20/39/1#.Ug_qYZK1HnE
11 Marshall McLuhan, o pensador americano citado no início deste capítulo, ficou famoso por dizer
que “o meio é a mensagem”. A interpretação mais comum é que nunca discutimos a tecnologia, mas
o conteúdo levado por ela. Quando falamos que “a TV é uma lástima”, falamos dos programas
policiais, das novelas apelativas e dos reality shows, e não da tela plana de 42 polegadas. Mas havia
mais no aforismo de McLuhan, que via ainda em 1964 que a tecnologia, como janela para o mundo,
alterava nossos “padrões de percepção paulatinamente e sem resistência”.
17 Eu particularmente abandonei o Word há alguns anos. Acho o excesso de elementos uma grande
distração. Vejo muita gente gastar tempo demais ajustando fontes e parágrafos depois de colar um
texto, ou vendo a fonte certa para os entretítulos, brigando com os sublinhados verdes e vermelhos,
em vez de se preocupar com o que escreve de fato.
18 O uso excessivo de PowerPoints é apontado como uma das razões para a falha mecânica que
destruiu o ônibus espacial Columbia, em 2003. A comissão independente para investigar as causas do
desastre percebeu que comunicações críticas que poderiam ser usadas para prevenir o acidente
estavam sendo passadas para a equipe em forma de apresentações, com muitas informações deixadas
de lado. “A comissão vê o uso endêmico de slides de PowerPoint em briefings em vez de trabalhos
técnicos como a ilustração dos métodos de comunicação problemáticos dentro da NASA”, concluiu
no relatório. Disponível em: http://www.edwardtufte.com/bboard/q-and-a-fetch-msg?
msg_id=0001yB&topic_id=1
19 Há um grande corpo de pesquisa, por exemplo, sobre a relação entre a cor dos utensílios de
cozinha e o que comemos. Estudos mostram que sentimos que uma bebida mata mais a sede quando
a tomamos em um copo de cor fria (como azul) e que comemos menos quando há um contraste maior
entre a cor da comida e o prato. http://www.npr.org/blogs/thesalt/2013/06/30/196708393/from-farm-
to-fork-to-plate-how-utensils-season-your-meal
20 “Heavy Traffic Bad for your heart”, BBC News, Outubro de 2004. Acessado em:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/3761012.stm
21 “Trânsito lento faz São Paulo perder R$ 40 bilhões por ano”, Revista Exame, Maio de 2005.
Acessado em: http://exame.abril.com.br/economia/noticias/transito-faz-sao-paulo-perder-r–40-
bilhoes-por-ano
22 Jung Ha-Won, “Ultra-wired South Korea battles smartphone addiction” Phys.org, Junho de 2013.
Acessado em: http://phys.org/news/2013–06-ultra-wired-south-korea-smartphone-addiction.html
24 http://www.tribunahoje.com/noticia/26826/cidades/2012/05/14/iml-registra–33-assassinatos-
durante-final-de-semana-em-alagoas.html
25 http://techcrunch.com/2013/10/02/gay-gets-better-and-more-targeted-say-hello-to-the-next-
generation-of-grindr/
26 Jacqueline Marino, “How tablets are changing the way writers works”. Poynter, outubro de 2013.
Acessado em: http://www.poynter.org/how-tos/digital-strategies/224805/how-tablets-are-changing-
the-way-writers-work/
27 Rob Walker, “Can Tumblr’s David Karp Embrace Ads Without Selling Out?” New York Times,
Julho de 2012. Acessado em: http://www.nytimes.com/2012/07/15/magazine/can-tumblrs-david-
karp-embrace-ads-without-selling-out.html?pagewanted=all&_r=0
Há dois anos, quando Steve Jobs ainda estava vivo e a concorrência entre
produtos top de linha era menor, o tom era um pouco diferente. Para a
Apple, era fundamental que a tecnologia “saísse da frente”, que fosse
invisível. Quando ele morreu, em outubro de 2011, escrevi no seu obituário:
“Por mais que tenha feito uma fortuna de bilhões com gadgets em vidro e
alumínio que amamos, Steve Jobs sempre viu a tecnologia como meio, e
não como fim. Um meio para que gastássemos mais tempo com o que
realmente importa, com a nossa criatividade, com as pessoas queridas, com
a cultura, com o conhecimento do resto do mundo. Esta preocupação, a
busca pela tecnologia mais “humana”, e não a obsessão por detalhes e
design incrível, é, para mim, o seu maior legado”.30
O foco da Apple parecia ser – ou pelo menos era nisso que o discurso de
Steve Jobs me fazia acreditar – as experiências humanas criadas ou
facilitadas pela tecnologia. Mesmo nos comerciais antigos, os produtos
estavam sempre lá, é claro, mas o foco era a reação, ou a maneira como a
vida se tornava melhor e mais simplificada. Ultimamente, não. O que
parece importar é o produto, o gadget.31 Poderíamos discutir longamente se
esse não é um problema apenas da Apple, mas do capitalismo, do modelo
econômico de consumo desenfreado e obsolescência programada. Mas
vamos ficar apenas nisso: o comercial da mais importante fabricante de
apetrechos tecnológicos celebrando que ficamos tempo demais com eles.
O comercial em questão dividiu opiniões: alguns, especialmente
profissionais de publicidade, acharam a montagem bonita, tocante. Um
outro grupo ficou incomodado, justamente porque, de certa forma, a visão
da “tecnologia invisível”, coadjuvante, estava sendo traída. Quem melhor
expressou esse desapontamento foi o jornalista Mark Wilson, em um artigo
intitulado “Em 20 anos, nós todos vamos perceber que esta publicidade da
Apple é loucura”32.
“No que deveria ser uma montagem reconfortante e humanizadora, as
pessoas estão constantemente direcionando a sua atenção para longe das
outras e para fora do mundo panorâmico, úmido, real, para se perder em
pixels. Elas estão escolhendo a experiência de seus produtos sobre a
experiência de outras pessoas várias vezes, em uma rápida sucessão. E a
Apple tem uma voz suave ao fundo, tocando a gente (como gado) pra
dentro.”
Obviamente, a Apple não está sozinha nessa glorificação dos aparelhos
conectados. No momento em que escrevo, as duas maiores empresas de
telecomunicações do Brasil têm como slogans “Compartilhe cada
momento” e “Conectados vivemos melhor” e a Sony usa para a sua
propaganda de videogames o mote “Nunca pare de jogar”. Por ora, não
vemos mal. Mas será que realmente, no futuro, quando encontrarmos o
equilíbrio no uso dos gadgets sempre conectados, não vamos olhar para
esse vídeo e esses comerciais e achá-los bizarros, assim como achamos hoje
bizarros aqueles reclames de eletrodomésticos sexistas dos anos 60?33
Não me arrisco a tanto. Porque ainda não concordamos exatamente no
que consiste um uso excessivo, quando estamos focando mais na tecnologia
e menos no que está à nossa volta. Até porque será cada vez mais difícil
separar o “mundo online” daquilo que poderia ser chamado de “mundo
físico”, à medida que não nos desconectamos completamente.
Então, estamos começando a descobrir o que é errado e o que é ok.
Quando vemos uma pesquisa que diz que 20% dos jovens adultos
americanos usam smartphones durante uma relação sexual34 (não para
baixar um app de Kama Sutra, suponho), podemos concordar que isso é
estranho. Mas e em relação às horas gastas no Facebook? O que é normal?
Meia hora por dia? Duas? Três?
Se isto fosse uma revista para adolescentes, eu teria começado este
capítulo com um questionário e uma tabela de pontuação para definir em
que ponto da escala de hiperconectividade você está. “Você consulta o seu
e-mail antes de escovar os dentes?” seria uma pergunta e, no final, haveria
uma tabela, com conselhos genéricos de um “especialista”: “5 a 10 pontos –
você pode estar gastando horas demais em redes sociais. Aprenda a
gerenciar melhor o seu tempo”.
Na verdade, todas as grandes revistas e jornais do Brasil já fizeram isso.
Porque é relativamente fácil dividir o público em “viciados”, “moderados”
e “desconectados” e fazer guias de acordo. Isso simplifica o problema, o
argumento e a solução. Facilitaria a vida de todo mundo. Mas acontece que
o tempo gasto (e o propósito) com as tecnologias digitais é tão variável,
inclusive para uma mesma pessoa e em diferentes cenários, que é inócuo
colocar os leitores em caixinhas e prescrever os remédios.
Em conversas que tive sobre o assunto deste livro, não raramente
interrompidas por uma nova mensagem no celular, a maior parte dos meus
amigos concordava: tem muita gente “viciada” em “tecnologia”. Ninguém
se reconhecia como alguém com “problemas”, é verdade, mas sempre
poderia falar do namorado, do irmão ou do amigo que morreria se lhe
tirassem o celular.
No meu pequeno universo, então, os problemas da conexão obsessiva
eram aparentes a cada minuto. Trabalhei durante os últimos quatro anos em
uma editora digital, com vários sites de notícia funcionando 24 horas por
dia. Todos no escritório passam o dia inteiro em frente do computador;
meus amigos têm entre 25 e 35 anos, com uma renda acima da média, todos
com smartphones e tablets conectados 24 horas por dia. Com este cenário,
era claro para mim que a questão do “vício” era urgente e alarmante, e já
estranhava não haver 85 livros por mês sobre o assunto.
Cheguei a temer que a minha principal amostra, que me levou a refletir
mais sobre esse assunto, fosse um pouco, digamos, viciada. Ela não é a
“média” da população: a rede 3G, que permite acesso rápido à internet de
qualquer lugar e é um componente importante do uso problemático que se
possa fazer da web, não estava presente nem em 30% dos aparelhos
celulares no Brasil, em 201335. Neste ano, a maior parte da população ainda
acessava a grande rede pelo desktop, o velho computador de mesa de casa
ou do trabalho, e passava razoáveis 30 horas conectada – até porque menos
de 40% das casas brasileiras tinham acesso à internet36.
Mas, como disse o autor de ficção científica William Gibson, “o futuro já
chegou. Ele só não está uniformemente distribuído”. Se olharmos para
outros países, ou mesmo para a juventude das classes A e B do Brasil,
podemos imaginar que estar sempre conectado será mais próximo da regra,
e contar as “horas por semana” será tão inútil quanto “as horas em contato
com a eletricidade”.
Em 2013 alcançamos duas marcas importantes, pelo menos do ponto de
vista dos números redondos: somos mais de 100 milhões de brasileiros
conectados37 e os smartphones respondem finalmente por mais da metade
dos aparelhos celulares vendidos38. Este livro não é, como disse na
introdução, apenas para os meus amigos obsessivos, mas para ajudar nas
discussões que começam a aparecer no momento que muitos brasileiros
passam a viver essa revolução em suas vidas: a mudança de paradigma do
“computador pessoal” para o “computador íntimo”39. Para minha pesquisa
ficar completa e ser útil ao maior número de pessoas, precisava não apenas
observar meus colegas jornalistas viciados em telas, mas também uma
espécie de tábula rasa tecnológica, que passasse por diversas fases de
conexão em um curto espaço de tempo.
Em uma de suas recentes visitas à minha casa, notei que ela mostrava
vários e-mails do estilo “corrente”. Das apresentações em PowerPoint que
reciclam piadas sexagenárias, poemas atribuídos erroneamente ao Jabor ou
a Veríssimo, teorias da conspiração genéricas e vídeos com “invenções
revolucionárias da Alemanha”, toda a cesta básica de spam, o lixo do e-
mail, estava lá. Ela falava feliz pois “agora, com o iPad, não sentia mais
tédio” e o e-mail a entretinha. Eu a provoquei: “E os livros, mãe? Você
sempre estava lendo alguma coisa importante. Substituí-los por esse monte
de besteira vale?” Antes, era comum vê-la no sofá ou na rede lendo algo
novo. Agora, com o iPad, ela sorri mais, mas, no longo prazo, o que fica?
Ela vai se lembrar de algum desses e-mails da mesma maneira que de um
livro daqui a alguns meses? Tivemos uma leve discussão, mas eu provava o
meu ponto que mesmo neófitos tecnológicos e pessoas evoluídas
espiritualmente (minha mãe medita diariamente e tem uma capacidade
ímpar de concentração) podem cair nas armadilhas da hiperconexão.
Coincidentemente, na visita seguinte, assistimos a um filme sobre Deepak
Chopra, feito por seu filho Gotham, tentando humanizar a figura do guru
espiritual, que sempre foi uma influência para a minha mãe. A surpresa foi
ver que o autor de As sete leis espirituais do sucesso e mais de 50 outros
guias de autoajuda era um típico “viciado” em Blackberry, que não
conseguia se desvencilhar do smartphone nem quando estava em um retiro
com monges indianos.41. Analisando o filme depois com a minha mãe,
concluímos que Deepak era na verdade viciado em ver sua mensagem
chegando ao maior número de pessoas, e a tecnologia só amplificava as
possibilidades – e necessidades – associadas a este desejo. Da mesma
forma, minha mãe sempre foi uma pessoa gregária e tem amigos espalhados
por todo o mundo. O e-mail foi a maneira que ela encontrou de jogar
conversa fora. Eternamente conectados, a tecnologia tem a capacidade de
potencializar nossos vícios e virtudes. Como chegar ao equilíbrio? Como
detectar um comportamento doentio?
Seja como for, o excesso de álcool ou outros tipos de droga também pode
ser confundido como causa ou consequência de outros problemas, e nem
por isso os governos se eximem de legislar sobre ele. A questão “social” do
vício em joguinhos raramente é discutida no Ocidente. O governo alemão já
tentou estipular como fator para considerar a “censura” de um jogo o quão
viciante ele é,85 mas a discussão não avançou. O que precisaremos para
colocar isso na pauta?
É comum vermos reportagens mostrando o quanto o vício pelo cigarro
custa aos cofres públicos em forma de tratamento gratuito, ou quantas vidas
perdemos no trânsito por causa de motoristas bêbados, mas é um pouco
mais difícil quantificar o prejuízo do mau uso das novas tecnologias. E
mesmo quando conseguimos chegar a uma cifra, não levamos muito a sério
a conta. Quando o Google trocou o seu logo por uma tela jogável do
clássico Pac-Man, em 2010, em todo o mundo, as pessoas gastaram,
somadas, 4,8 milhões de horas. Os especialistas do RescueTime fizeram a
conta: a economia “perdeu” US$ 135 milhões em horas improdutivas
durante o horário comercial.86 A notícia foi dada por dezenas de sites do
Brasil de forma bem-humorada. Rimos da estatística, mas até quando
acharemos graça da quantidade de horas que perdemos com joguinhos sem
sentido, que são cuidadosamente projetados para nos viciar? Quantas horas
de Candy Crush ou de FarmVille são suficientes para configurar uma
“doença”? Por que ela não é tratada com a devida seriedade? Acho que
jogos são legais e têm seu espaço no nosso cotidiano – como outros tipos de
droga ou entretenimento –, mas creio que o problema das interações
eletrônicas “viciantes” ainda não é tratado com a devida seriedade.
Talvez seja preciso parar de individualizar esse tipo de prejuízo. Um pai
que passa tempo demais jogando online, pode dar menos atenção aos filhos;
a funcionária que passa metade do dia rindo de vídeos aleatórios no
Youtube, diminui a produtividade da empresa em que trabalha; o chefe que
assume um comportamento destrutivo com xingamentos nas redes sociais e
comentários nos sites, pode contaminar a equipe com mau humor. Ao
contrário de Las Vegas, o que acontece na internet não fica na internet.
Reforço aqui que é bastante difícil criar um tratamento sistematizado e
único para quem tem uma relação obsessiva com a tecnologia, mas isso não
torna a questão menos séria e urgente. As dicas de autodiagnóstico que
listei acima, o conhecimento sobre os mecanismos do vício e as ferramentas
que usei para mudar os meus hábitos foram bastante úteis para mim.
Mesmo que você não seja um paciente quase terminal como eu era, pode
usar essa experiência para ver os casos que inspiram cuidados à sua volta.
Seja como for, o foco tem de ser menos na censura e mais na recompensa,
nas coisas que precisamos fazer mais. O uso mais consciente de tecnologias
conectadas literalmente cria mais tempo na nossa vida para passarmos com
nós mesmos, em atividades que exigem mais aprofundamento, ou com as
pessoas próximas e queridas, o que acaba criando um círculo virtuoso.
Quando conversava sobre o assunto com as pessoas à minha volta, era
muito raro alguém se reconhecer no problema. Há alguns motivos para isso,
mas o principal é que hábitos arraigados, que não têm consequências muito
claras, acabam sendo ignorados pelo cérebro. É preciso fazer um exercício
consciente de tentar olhar de fora para o que estamos fazendo antes de
mudar qualquer coisa.
Encerro essa discussão aqui com um case contado no livro Poder do
Hábito, que ilustra bem as nossas limitações em reconhecer problemas.
Duhigg narra a história do desenvolvimento de um produto revolucionário
de limpeza, o Febreze, introduzido pela Procter & Gamble nos EUA em
1998: descoberto quase por acaso, o produto tirava odores fortes com uma
simples borrifada. Donas de casas onde moram fumantes ou onde os
animais sentam no sofá, por exemplo, iriam se beneficiar enormemente.
Apesar da confiança dos executivos, os primeiros meses do produto no
mercado foram um fracasso absoluto de vendas. Depois de exaustivas
entrevistas com grupos focais, o time de marketing da P&G percebeu que as
pessoas que moravam em ambientes malcheirosos não viam isso
exatamente como um problema. Aliás, elas não “sentiam” o problema. Isso
porque, depois de um certo tempo, o cérebro deixa de registrar os odores
familiares. Foi preciso alterar a fórmula (colocando um pouco de perfume,
mais perceptível ao olfato) e redirecionar a publicidade, vendendo o
Febreze como um “toque final” para a limpeza da casa. Em vez de focar no
problema, o marketing do produto vendeu a “recompensa” da casa não
apenas livre de fedor, mas cheirosa. Hoje, o Febreze se expandiu para toda
uma categoria de produtos e representa um faturamento de cerca de US$
240 milhões para a empresa. Segundo os depoimentos dos usuários, quem
não via antes problemas no mau cheiro, agora relatava como a vida havia
mudado com um número maior de visitas em casa, entre outras coisas.
29 Apple ad: Designed by Apple in California. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?
feature=player_embedded&v=170fh2mvog0.
30 “O que aprendi com Jobs: tecnologia, sozinha, não é suficiente”, Gizmodo Brasil, 6 out. 2011.
Disponível em: http://gizmodo.uol.com.br/o-que-aprendi-com-jobs-tecnologia-sozinha-nao-e-
suficiente.
31 Gadget é um termo genérico que designa uma ferramenta ou aparato tecnológico, normalmente
novo. Virou uma palavra consagrada para descrever de celulares a pequenas filmadoras.
32 Mark Wilson. “In 20 Years, We’re All Going To Realize This Apple Ad Is Nuts”, Co.Design, 16
jul. 2013. Disponível em: http://www.fastcodesign.com/1673020/in–20-years-we-re-all-going-to-
realize-this-apple-ad-is-nuts.
33 Uma publicidade do Fusca dizia que a esposa do homem de negócios que lia o anúncio certamente
iria bater o carro, e o carro da Volks era melhor porque ninguém se machucaria e as peças eram mais
baratas: http://www.businessinsider.com/the-outrageously-sexist-ads-of-the-mad-men-era-that-some-
companies-wish-wed-forget-2012-3#-7.
34 Ver http://mulher.terra.com.br/vida-a-dois/pesquisa–20-dos-jovens-adultos-usam-smartphones-
durante-o-sexo,1195ed64d78df310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html.
35 Ver “3G: 3ª Geração de Celular no Brasil”. Relatório Teleco de Telefonia Celular no Brasil, 24 jul.
2013. Disponível em: http://www.teleco.com.br/3g_brasil.asp.
36 Gabriela Ruic, “Pesquisa mostra um Brasil dividido pela internet”. Exame.com, 20 jun. 2013.
Disponível em: http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/pesquisa-mostra-um-brasil-dividido-
pela-internet.
37 “Internauta gasta em média 10 horas e 26 minutos em redes sociais”. Ibope, 19 fev. 2013.
Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Internauta-gasta-em-media-10-horas-
e-26-minutos-em-redes-sociais.aspx.
38 “Vendas de smartphones crescem 86% no Brasil em um ano”. Zero Hora, 14 jun. 2013.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/economia/tecnologia/noticia/2013/06/vendas-de-
smartphones-crescem-86-no-brasil-em-um-ano-4170047.html.
39 O termo é muito bem defendido por Tom Chatfield no livro Como viver na Era Digital. Objetiva:
Rio de Janeiro, 2012. Ele diz que a frequência com que usamos esses aparelhos “antes era reservada
a amigos ou animais de estimação”.
40 Falei certa vez que ela era minha “cobaia”, mas ela não saberá o quão sério eu falava até ler este
livro. Como estudiosa do comportamento humano, espero que ela entenda.
41 Depois do lançamento do filme, Deepak foi à TV americana dizer que ele não era “viciado em
Blackberry”, mas no Twitter. Ele ficava o tempo todo respondendo mensagens, ajudando as pessoas
em todo o mundo. “O que havia de errado em ser obcecado por isso?”, ele perguntou. Seu filho riu.
43 Mariana Versolato, “Viciados em jogos preocupam pais e psicólogos”, Folha de S. Paulo, 2 set.
2012. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1146914-viciados-em-jogos-preocupam-
pais-e-psicologos.shtml.
44 Jusith Donath é citada no livro de Larry D. Rosen, Ph.D., iDisorder: Understanding our
Obsession with Technology and Overcoming its Hold on us. Palgrave Macmillan, 2012.
45 Depoimento dado a Michael Chorost em World Wide Mind: The Coming Integration of Humanity,
Machines, and the Internet. Free Press, 2011.
46 Denise Mota, “83% dos usuários brasileiros ficam alterados se esquecem o celular em casa”.
Folha de S. Paulo, 30 out. 2012; disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1177128-83-dos-usuarios-brasileiros-ficam-alterados-
se-esquecem-o-celular-em-casa.shtml.
47 A questão é muito bem defendida em iDisorder: Understanding our Obsession with Technology
and Overcoming its Hold on us, livro lançado por Rosen em 2012 pela editora Palgrave Macmillan.
O “i” minúsculo vem de iPhone, iPad, etc., e o Disorder é comumente traduzido dentro da psiquiatria
como “transtorno”.
49 Em entrevista concedida a James Fallows, “The Art of Staying Focused in a Distracting World”.
The Atlantic, jun. 2013. Disponível em: http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2013/06/the-
art-of-paying-attention/309312/.
50 Eliane Brum, “Os robôs não nos invejam mais”, para o site da Revista Época, 24 out. 2011.
Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/10/os-robos-nao-nos-invejam-
mais.html.
53 Youkyung Lee, “South Korea: 160,000 Kids Between Age 5 And 9 Are Internet-Addicted”,
Huffington Post, 28 nov. 2012. Disponível em: http://www.huffingtonpost.com/2012/11/28/south-
korea-internet-addicted_n_2202371.html.
54 Laura Beil, “In Eyes, a Clock Calibrated by Wavelengths of Light”, The New York Times, 4 jul.
2011. Disponível em: http://www.nytimes.com/2011/07/05/health/05light.html?pagewanted=all.
55 O efeito da CVS é semelhante a colocar um ventilador apontado para o seu rosto. Ver:
http://www.allaboutvision.com/cvs/faqs.htm.
56 Entrevista de Jonathan Franzen, “A tecnologia não cura a angústia”, Revista Época, ed. 737, 2 jul.
2012.
57 Rosana Hermann, “Porforofobia, você ainda vai ter isso”, R7, 16 maio 2012. Disponível em:
http://noticias.r7.com/blogs/querido-leitor/porforofobia-voce-ainda-vai-ter-isso/2012/05/16/
58 Qualquer livro sobre psicologia das cores vai dar alguma razão para sermos tão atraídos pelo
vermelho, que chama a nossa atenção. Não é à toa que o número de e-mails e mensagens não lidas é
sempre vermelho.
59 O RSS é uma espécie de protocolo que busca notícias de vários sites e as empacota de uma forma
de consumo mais rápida. Assim, não é preciso entrar em cada site para ler as notícias. O principal
programa do tipo, o Google Reader, foi aposentado pelo Google em julho de 2013, mas há outros que
realizam a mesma tarefa.
60 Recuperar uma senha perdida é relativamente fácil, mas toda vez que eu chegava ao campo de
login e via que não sabia o que digitar, lembrava da promessa.
61 Disponível para Mac e PC, custa cerca de US$ 7 por mês e entrega relatórios detalhados do que
você faz no computador. Há vários programas semelhantes. Originalmente eram destinados a
empresas, mas funciona tão bem, ou melhor, para a pessoa física.
63 Clive Thompson, “Battle With ‘Gamer Regret’ Never Ceases”, Wired, 10 set. 2007. Disponível
em: http://www.wired.com/gaming/virtualworlds/commentary/games/2007/09/gamesfrontiers_0910?
currentPage=all
64 “Vendas de videogames crescem mais que as de smartphones no Brasil”, UOL Economia, 19 nov.
2012. Disponível em: http://noticias.bol.uol.com.br/economia/2012/11/19/vendas-de-videogames-
cresceram-mais-que-de-smartphones-no-brasil.jhtm.
65 Mariana Lajolo, “Cielo usa série de TV, Candy crush e música feita para ele para vencer em
Barcelona”, Folha de S. Paulo, 4 ago. 2013. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2013/08/1321490-cielo-usa-serie-de-tv-candy-crush-e-musica-
feita-para-ele-para-vencer-em-barcelona.shtml.
66 Ver http://www.davidparlett.co.uk/histocs/patience.html.
67 Jane McGonigal, Reality Is Broken: Why Games Make Us Better and How They Can Change the
World. Penguin Press, 2011.
68 Luke Reilly, “5 Reasons Video Games Are Actually Good for You”, IGN.com, 9 set. 2012.
Disponível em: http://www.ign.com/articles/2012/09/10/5-reasons-videogames-are-actually-good-
for-you.
69 Jesse Fox e Jeremy N. Bailenson, “Virtual selfmodeling: The effects of vicarious reinforcement
and identification on exercise behaviors”, Media Psychology, Stanford University, v. 12, ed. 1, p. 1-
25, 2009. Disponível em: http://www.stanford.edu/~bailenso/papers/fox-mp-selfmodeling.pdf.
70 Ver “Is beer less fattening than wine?”, BBC, 8 mar. 2005. Disponível em:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/magazine/4329323.stm.
71 Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Fluxo_(psicologia).
72 Alex SoojungKim Pang, “Mario Kart and the Challenge of Teaching Children Mindfulness”,
Huffington Post, 3 jul. 2013. Disponível em: http://www.huffingtonpost.com/alex-soojungkim-pang-
phd/mario-kart-teaching-children-mindfulne_b_3072671.html.
73 Hunter Slife, “Average weekly time spent playing World of Warcraft”, Examiner.com, 25 mar.
2011. Disponível em: http://www.examiner.com/article/average-weekly-time-spent-playing-world-of-
warcraft.
74 Ver http://www.chorewars.com.
75 Ver http://q2l.org/.
76 Pedro Burgos, “No FarmVille da conservação de energia, todo mundo ganha”, Gizmodo Brasil, 24
set. 2011. Disponível em: http://gizmodo.uol.com.br/no-farmville-da-conservacao-de-energia-todo-
mundo-ganha/.
77 Laura Poitras, Marcel Rosenbach e Holger Stark (tradução para o inglês por Christopher Sultan),
“Germany Is a Both a Partner to and a Target of NSA Surveillance”, Spiegel Online, 12 ago. 2013.
Disponível em: http://www.spiegel.de/international/world/germany-is-a-both-a-partner-to-and-a-
target-of-nsa-surveillance-a-916029.html.
78 Davi de Castro, “Gamificação da pedagogia: entenda como os jogos podem auxiliar no processo
de aprendizagem”, EBC, 31 jan. 2013. Disponível em:
http://www.ebc.com.br/tecnologia/2013/01/gamificacao-da-pedagogia-como-os-jogos-podem-
auxiliar-no-processo-de-aprendizagem.
79 John Hopson, “Behavioral Game Design”, Gamasutra, 27 abr. 2001. Disponível em:
http://sd271.k12.id.us/lchs/faculty/sjacobson/careertech/files/behavioralgamedesign.pdf.
80 Luciana Ruffo, “Por que alguém se ‘vicia’?”, Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática
da PUC-SP, set. 2011. Disponível em:
http://www.pucsp.br/nppi/downloads/Porque_alguem_se_vicia_setembro_2011.pdf.
81 Ryan Rigney, “These Guys’ $5K Spending Sprees Keep Your Games Free to Play”, Wired, 1º nov.
2012. Disponível em: http://www.wired.com/gamelife/2012/11/meet-the-whales/all/.
82 Ramin Shokrizade, “The Top F2P Monetization Tricks”, Gamasutra, 26 jun. 2013. Disponível
em:
http://www.gamasutra.com/blogs/RaminShokrizade/20130626/194933/The_Top_F2P_Monetization_
Tricks.php.
83 Michael Moss, “The Extraordinary Science of Addictive Junk Food”, The New York Times, 20 fev.
2013. Disponível em: http://www.nytimes.com/2013/02/24/magazine/the-extraordinary-science-of-
junk-food.html?ref=magazine&_r=1&pagewanted=all&.
84 Chi Lee, “No, Korea, Gaming Does Not Make You a Bully”, Kokatu, 15 fev. 2012. Disponível
em: http://kotaku.com/5885248/no-korea-gaming-does-not-make-you-a-bully.
85 “Thousands of Students Addicted to Video Games, Study Says”, Deutsche Welle, 16 mar. 2009.
Disponível em: http://www.dw.de/thousands-of-students-addicted-to-video-games-study-says/a-
4101062.
86 É uma conta difícil: não necessariamente as pessoas estariam fazendo algo mais produtivo, mas
não deixa de ser uma cifra interessante.
2. Virtualmente real
“A presença física não é substituível. É a lei não escrita pelos pais da ciência,
nem relembrada em palestras ou na revisão do cursinho, provavelmente porque
não pensaram que um dia iríamos desafiá-la tão descaradamente.”
Camilla Costa87
Com apenas uma câmera para o computador ou, cada vez mais, o
smartphone ou tablet, basta se conectar pelo Skype, Facetime ou
Hangouts114 que temos uma conexão direta, normalmente particular e cheia
de detalhes. A tecnologia já existe há muitos anos e é usada em grandes
empresas há mais tempo, mas só muito recentemente ficou acessível e
satisfatória para todos nós, mortais, com as limitações técnicas sendo
derrubadas: as câmeras permitem ver a outra pessoa em alta definição e o
menor custo da banda larga evita que as imagens fiquem paradas e as vozes
entrecortadas. Mas talvez o sinal de que a tecnologia veio para ficar foi o
anúncio, em 2011, que a Microsoft comprou o Skype, que tem 80 milhões
de pessoas usando o seu serviço com vídeo, por US$ 8 bilhões.115
As vantagens de usar uma vídeochamada são claras: mães preferem
porque podem ver se as crias estão com a cara boa, bem de saúde,
namorados para mostrar intimidades, às vezes bem literalmente, pessoas de
negócios para apresentar documentos ou objetos ao mesmo tempo. Quanto
mais entendermos a natureza distinta da videochamada para além de uma
ligação telefônica com voz, maior serão seus benefícios.
Em uma viagem a Shenzen, na China, encontrei um executivo americano
que me contou como ele “tomava café” com a esposa, do outro lado do
mundo, todos os dias. O café da manhã dele se confundia com o jantar da
amada, e eles conversavam amenidades como se estivessem à mesa. “E se
não há nada para falar?”, perguntei. Não se diz. Não é uma ligação de
“relatórios”, como a que várias mães superprotetoras submetem às filhas
que estão longe. No caso do americano, às vezes cada um lia o jornal,
comentava as notícias quando achava algo interessante. De certa forma, não
era uma chamada de telefone acrescida de vídeo. Os “encontros” de uma
hora serviam para que a pessoa “estivesse lá” e se sentisse querida; a
ausência, notada. O americano, um cinquentão, não considerava aquilo
como um substituto para o encontro real, mas um complemento. E ao criar
um certo ritual, ele valorizava a companhia.
Um dos problemas da videoconferência, com as atuais tecnologias
disponíveis, é o fato de a câmera sempre ficar um pouco acima do olhar.
Não há a ilusão de que estamos “olhando no olho” da pessoa enquanto
falamos simultaneamente com ela. Esse detalhe é tão importante para passar
confiança que políticos e apresentadores de TV usam um teleprompter para
eliminar a inconveniência e manter a ilusão de encarar o interlocutor. Eu
recomendo usar essa “falha” como vantagem. Experimente usar a
videoconferência de uma forma mais “olhe pelos meus olhos”, em vez de
“olhe nos meus olhos”. Eu já executei chamadas de suporte técnico com
parentes usando o Skype e a câmera do celular. Em vez de passar horas ao
telefone pedindo para a pessoa descrever mensagens de erro ou
configurações, falo “aponta a câmera para os fios atrás da TV que eu te digo
o que está acontecendo”. Funciona muito melhor116. Quando converso com
minha irmã para ter notícias do meu sobrinho, usamos o Facetime e, em vez
de apontar para a cara dela, ela usa a câmera traseira do iPad, mostrando o
menino andando pela casa. Ela me vê e eu vejo meu sobrinho crescendo e
aprontando, observo como ele já corre, fala e o interesse que ele tem por
celulares de brinquedo. Eu e minha mãe chamamos essas ligações de Big
Brother Sol (Sol é o seu iluminado nome). Da mesma forma, quando estou
em uma viagem a trabalho, mostro a vista do apartamento em que estou
para minha namorada. É uma maneira mais elaborada de dizer “queria que
você estivesse aqui”.
O importante, penso, é usar a videoconferência com parcimônia, fazer
com que o encontro mediado por câmeras não vire obrigação e que tenha
algo especial. A obrigação de aparecer na tela é tão incômoda para algumas
pessoas que, atenta às reclamações, a Apple incluiu o “Facetime Audio”,
em sua grande atualização do sistema no fim de 2013: a melhoria
apresentada para a videochamada seria a possibilidade de colocar só o
áudio. Faz sentido. Eu conheço mais de um caso em que casais distantes
mantiveram “encontros” pelo Skype quase religiosamente, mas o artifício
mais atrapalhou que ajudou a relação. A explicação do fenômeno foi bem
argumentada pelo escritor americano Mickey Rapkin, que em um artigo
para a revista GQ disse quão frustrante era tentar conversar com seu
namorado todos os dias pelo Skype. “Talvez os deuses da internet
estivessem tentando nos alertar. Porque o que esta tecnologia realmente
oferece é uma intimidade falsa: é a percepção de intimidade com a ressaca
adicional que vem com o sentimento de acordar em uma cama queen-size
ao lado de um laptop. Ver o outro toda noite – mas não ser capaz de tocá-lo
– é a própria forma de punição.”
89 A própria expressão “em tempo real” se popularizou com a internet. Em vez de “ao vivo”,
começamos a ver coisas como “Notícias em tempo real” como substituto de “enquanto elas
acontecem”. Eu não sei como o tempo pode não ser real, mas essa é uma longa discussão.
91 Em 2012, a Apple passou, em valor de mercado na Bolsa de Valores de Nova York, a Exxon
Mobil, que mantinha o trono havia décadas. A primeira faz telefones, tablets e celulares conectados.
A outra dá combustível para o transporte “tradicional”. Ainda que as ações tenham recuado depois, a
mudança é emblemática: ela mostra que o deslocamento “virtual” poderá movimentar mais dinheiro
e interesse que o físico, especialmente para os mais jovens, a ponto de uma reportagem da Atlantic
dizer que “as pessoas mais jovens não compram carros porque elas estão comprando smartphone no
lugar” - Atlantic Magazine. http://m.theatlanticcities.com/technology/2012/08/young-people-arent-
buying-cars-because-theyre-buying-smartphones-instead/2873/
92 Curiosidade: eu comecei a escrever sobre tecnologia em tempo integral com um blog na revista
Superinteressante, no início de 2007, como espécie de enviado especial para dentro daquele mundo.
93 Há um termo para designar essa separação clara – e antiquada – entre “real” e “virtual”: dualismo
digital. Quem o cunhou foi o sociólogo americano Nathan Jungerson, que diz que ela “se origina do
viés sistemático em ver o mundo digital e físico como separados; muitas vezes como um tradeoff de
soma-zero, onde energia e tempo gasto em um é subtraído do outro”. Obviamente, a realidade é mais
complexa, como tento explicar aqui. This is digital dualism par excellence. And it is a fallacy.
Disponível em: http://owni.eu/2011/02/28/digital-dualism-versus-augmented-reality/
94 Howard Rheingold, The Virtual Community: Homesteading on the Electronic Frontier (2000),
MIT Press.
96 No Brasil, netiqueta ficou consagrado como o comportamento correto “dentro da internet”, mas
acho que podemos expandir o uso do termo para falar dos gadgets que ficam online o tempo todo.
98 http://money.cnn.com/2012/08/16/technology/restaurant-cell-phone-discount/index.html
101 http://exame.abril.com.br/tecnologia/iphone/noticias/apple-recruta-profissionais-para-o-iwatch-
agressivamente
103 Sobre buscar um encontro mais interessante do que você está através do celular:
http://www.droider.com.br/opiniao/ignoram-mundo-ao-redor-exageram-uso-smartphone-diz-
chato.html
105 Susan Maushart, O Inverno da Nossa Desconexão, (2011). Ed. Paz e Terra.
106 Sobre isso, há algumas regras. Jogos de celular com muita ação e mesmo mensagens e e-mails
mais importantes fazem com que o esfíncter seja contraído. E aí, uma ida rápida ao banheiro pode
durar bem mais tempo.
107 Sherry Turkle, Alone Together: why we expect more from technology and less from each other.
(2011), Basic Books.
109 Falo do WhatsApp por ser mais popular, mas o princípio é o mesmo para outros serviços
populares, como o iMessage para iPhones, o BBM, da Blackberry, e o programa de troca de
mensagens para celular do Facebook.
110 http://allthingsd.com/20130612/whatsapp-hits-record-high-in-daily-message-volume/.
111 http://www.buzzfeed.com/mattbuchanan/i-can-see-you-texting.
112 João Pereira Coutinho, Redes e Aquários. Folha de S. Paulo, 24/4/12. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/38861-redes-e-aquarios.shtml.
113 Já temos a tecnologia para ver outra pessoa inteira em 3D, mas é algo caríssimo por enquanto,
sendo usado apenas por grandes canais de TV e shows de rock.
114 Pais com filhos distantes podem entender pouquíssimo de tecnologia, mas rapidamente
aprendem a usar algum destes serviços. Como não exige nenhuma configuração, o Facetime,
disponível em aparelhos da Apple, tem ficado cada vez mais popular para este público-alvo.
115 O Skype também é uma maneira bastante barata de fazer chamadas de voz, apenas. Mas neste
serviço, o Voice over IP (Voip), o Skype tem vários bons concorrentes. A sua expertise é a
videochamada.
116 Uma solução ainda melhor, se o problema for estritamente de PC, do tipo “filho, meus arquivos
sumiram”, é instalar algum programa de acesso remoto. Não importa onde o parente-técnico estiver,
é possível mexer nas configurações da máquina. O Lifehacker tem uma boa lista de programas:
http://lifehacker.com/399227/give-tech-support-or-grab-files-remotely-on-any-system
117 Shelley Carson, autora de “The Creative Brain”, diz que a distração (provida pelo banho) pode
fornecer “a parada necessária para você desistir da solução ineficaz.” Disponível em:
http://www.bostonglobe.com/lifestyle/health-wellness/2012/02/27/when-being-distracted-good-
thing/1AYWPlDplqluMEPrWHe5sL/story.html.
Não que você deva ser desleixado nas redes sociais. Ter uma boa persona
online pode ser útil em diversos campos. Há o mais óbvio, que é conquistar
admiradores e possivelmente amores a partir de boas fotos, frases
inteligentes e compartilhamento de bons exemplos. Cuidar da aparência
online também pode ser importante do ponto de vista profissional, já que
cada vez mais empresas analisam currículos online (há uma enorme rede
para isso, o LinkedIn) e os próprios perfis pessoais – eu mesmo já usei
simplesmente links compartilhados no Twitter como critério de desempate
para eliminar candidatos. Esse cuidado não pode ser artificial. Se portar
bem online deveria ser regra simplesmente porque gentileza gera gentileza
– ser um cara legal em um comentário online pode render todo tipo de
pequenos benefícios no futuro.
Para ter uma vida saudável nas redes sociais, é importante tratá-la
efetivamente como uma extensão da vida social que temos no mundo físico,
tendo em mente a diferença fundamental: o seu newsfeed do Facebook não
é exatamente uma reunião com os amigos e conhecidos, mas o encontro em
uma sala tumultuada, cheia de megafones, onde os seus melhores amigos
andam ao lado de pessoas que não te conhecem bem, primos chatos e um
colega de trabalho que você não sabe por que convidou. É necessário evitar
as armadilhas desse ambiente, especialmente no que diz respeito à
privacidade.
A primeira e a mais clara armadilha, ao menos para os psicólogos que
estudam o nosso comportamento online, é o narcisismo. Fala-se muito da
“epidemia de obesidade infantil” que assola países como os EUA, mas a
taxa de incidência de narcisismo patológico verificada entre jovens de 15 a
24 cresceu mais rápido nos últimos 20 anos que a obesidade. Há bastante
debate sobre se o Facebook e as redes sociais são causas disso, como sugere
Larry Rosen no seu conceito de iDisorder, ou apenas um lugar onde essa
tendência se mostra mais claramente. Para quem acha que as redes sociais
não podem ser culpadas, o narcisismo dos jovens seria mais resultado de
pais superproterores e da cultura de “melhorar a autoestima”.126
O fato é que todo mundo gosta de cuidar da aparência em algum nível, é
claro, e mesmo quem não tem tendências ao narcisismo, vai encontrar
incentivos para cultivar meticulosamente a imagem na rede. Lembre-se que
o loop de recompensas que envolve, por exemplo, compartilhar uma foto no
Instagram e a dose de dopamina de cada curtida podem ser viciantes
(lembre-se de desligar as notificações para não cair nessa armadilha) para
muitos. Logo, não sabemos exatamente por que estamos alimentando o
nosso perfil – e o ego. Boa parte do acesso compulsivo parte de uma
necessidade de confirmar a nossa importância. “Será que alguém retuitou o
que eu disse? Curtiu a minha foto? Compartilhou a minha opinião?” Parece
que estamos nos relacionando com os outros, mas é apenas um esforço
autorreferente, como resumiu brilhantemente Jonathan Franzen em um
ensaio intitulado “A Dor não nos matará”: “Nossa vida parece muito mais
interessante quando filtrada pela interface sexy do Facebook. Estrelamos
nossos próprios filmes, nos fotografamos incessantemente a nós mesmos,
clicamos o mouse e uma máquina confirma a sensação de que estamos no
comando. E já que nossa tecnologia é apenas uma extensão de nós mesmos,
não precisamos desprezar suas manipulações, como faríamos no caso de
pessoas de verdade. É um movimento circular sem fim. Curtimos o espelho
e o espelho nos curte. Ser amigo de uma pessoa significa apenas incluí-la
em nossa lista particular de espelhos elogiosos.”127
Antes de compartilhar algo, avalie o quanto aquilo é um sentimento
honesto e legítimo (mesmo que bobo), uma contribuição para a conversa
online, ou apenas uma ilusão de interação do tipo “espelho, espelho meu”.
Quando era mais obcecado por fotos, subia várias para as redes sociais,
escrevia sobre os lugares no blog e tuitava curiosidades e minha atual
localização em tempo real. Viajei bastante pelo mundo nos últimos anos e
contava minuciosamente algumas histórias em relatos online. Até que um
dia fui jantar com um dos meus grandes amigos que mora em outra cidade.
Ia falar sobre o Japão, lugar que tinha me fascinado, e comecei com uma
curiosidade sobre como as aeromoças se comportavam na Air Japan. Vi que
ele não estava tão interessado – e tenho alguma confiança na minha
capacidade de contar histórias. O problema é que ele já sabia de boa parte
dos meus “causos” legais, a ponto de interromper, avisando que aquilo não
era inédito. Fiquei meio desanimado. Ele comentou, rindo: “Cara, eu te sigo
no Instagram, no Facebook, eu leio seu blog. Já sei de tudo isso aí.”
Eu dei uma risada meio sem graça, mudamos de assunto e falamos da
comida. Mas na minha cabeça não fazia sentido aquela situação. Era como
se, em um show de comédia, alguém reclamasse que já tinha visto aquilo no
DVD. Por “saber o final da piada”, o público chateado estaria se privando
dos pequenos detalhes da história contada ao vivo, de todas as nuances – e
poderia até achar o comediante em questão menos engraçado.129 Foi um
pouco como eu me senti ali com o meu amigo.
Mas o pior talvez nem sejam as nuances: quando nos expomos demais
online, a ponto de deixar de aprofundar algumas histórias, perdemos a
chance de manter conversas paralelas enriquecedoras. Se continuássemos
falando do Japão, teríamos ganchos para falar de comida, câmeras, metrô
ou qualquer história. As experiências mais significativas da vida são as
mais ricas e geram as conversas paralelas mais interessantes.
Hoje, eu mudei de estratégia. Gosto quando as redes sociais cumprem o
papel de isca para outras interações. Em vez de um álbum com 60 fotos da
sua viagem de fim de semana, experimente um breve registro de Instagram
com caras felizes e uma paisagem ao fundo: ela pode iniciar uma conversa,
que pode se encerrar nas próprias redes sociais ou se alongar em uma visita
presencial. Quando as pessoas me visitam, deixo o protetor de tela da minha
TV passando as fotos da minha última viagem (normalmente “inéditas”
para quem não foi à minha casa). Se o assunto em questão “acabar,” temos
um gancho visual ali. Isso, aliás, é uma vantagem inerente às interações
presenciais. Quando conversamos online, costumamos nos ater a um tópico.
Ao vivo, começamos fazendo comentários sobre um par de sapatos e
acabamos planejando viagens para a Europa.
Se melhorar as suas conversas offline não é motivo suficiente para você
desconsiderar o oversharing, pense em outro: ninguém gosta de ver
detalhes da sua vida demasiadamente. Vários levantamentos com usuários
do Facebook em todo o mundo apontam o oversharing como um dos
comportamentos mais irritantes dos amigos.130 E os que te seguem não vão
simplesmente te excluir da rede, mas podem também não te chamar mais
para o boteco. “A nossa pesquisa descobriu que aqueles que frequentemente
postam fotos no Facebook, correm o risco de diminuir suas relações na vida
real”, afirmou David Houghton, que liderou o estudo conjunto de quatro
universidades britânicas que descobriram a correlação entre o excesso de
fotos de amigos e o afastamento entre eles a médio prazo.131
Não há muito jeito. Se você reclama demais da chuva ou posta três fotos
do seu jantar, as pessoas vão “escondê-lo” da listagem de atualizações no
Facebook. As coisas efetivamente importantes que você teria a falar se
perdem com o ruído.
Um dos grandes medidores de nível de amizade é o quanto de segredos,
histórias e planos conhecemos das pessoas. Quando começamos a
compartilhar demais, diminuímos o poder e o senso de exclusividade,
especialmente em relação a quem é mais próximo. “Você tem a expectativa
de que o seu parceiro só vai dizer a você algumas das informações
importantes, mas, então, você vê que ele fala para todo mundo. Então, você
se sente menos especial e única”, explica Juwon Lee, pesquisadora da
Universidade de Kansas que realizou três pesquisas que mostraram o
descontentamento dos parceiros com o oversharing. Compartilhar demais
acaba não só desvalorizando você, mas todo o sentimento de amizade.132
O limite, é claro, é o bom senso. Os problemas da minha amiga lá do
início do capítulo vieram, em grande parte, do oversharing: da mudança
repentina de “status de relacionamento” (é algo que eu não deixo público,
mesmo estando com a mesma pessoa há anos – só acho válido mudar
quando há um casamento ou divórcio de fato) às respostas honestas e ácidas
demais à pergunta do Facebook “o que está acontecendo?”: não há motivo
para levar isso a público, porque envolvemos não apenas os amigos
próximos, mas a prima distante e o estagiário que acaba de ser adicionado.
Porque nós não queremos mostrar todas as nossas faces, para todo mundo,
sempre.
121 http://mashable.com/2013/08/13/40-percent-americans-use-facebook-every-day/
122 Robin Dunbar, Grooming, Gossip, and the Evolution of Language (Harvard University Press,
1991)
123 Para quem não é tão versado nas redes sociais: “Timeline”, ou linha do tempo, é a listagem de
“atualizações de status”, em ordem cronológica, de seus “amigos” do Twitter. No Facebook o nome
técnico disso é “Newsfeed”, ou “Feed de Notícias” – a timeline é a linha do tempo pessoal no seu
perfil. Mas como o Twitter veio antes, é comum usar “Timeline” para as duas coisas.
124 http://online.wsj.com/article/SB10001424127887324900204578284511579301742.html
125 88% do uso do smartphone se dirige às redes sociais. Fonte: pesquisa Ipsos/Marplan/Motorola
2012
126 http://news.discovery.com/tech/dont-blame-facebook-narcissism-epidemic–110804.htm
127 Jonathan Franzen, parte da coletânea Como ficar sozinho - Companhia das Letras, 2012.
129 A bem da verdade, vários comediantes reclamam desse poder do Youtube de estragar o fim da
piada. http://www.youtube.com/watch?v=jP–9K9lXRnw
130 http://www.huffingtonpost.com/2012/09/05/oversharing_n_1857182.html
131 http://phys.org/news/2013–08-facebook-photos-relationships.html
132 “Polimentos intermináveis para alcançar o brilho social”. Em Vida Simples, setembro de 2012.
134 De certa forma, as salas do Internet relay chat podem ser consideradas as primeiras redes sociais
fortes no Brasil. Havia canais famosos, turminhas, hierarquia (os “administradores” ou OP) e os
IRContros, em que as pessoas se encontravam em carne e osso. Por não exigir conexão muito boa
nem computadores poderosos, o mIRC durou bastante tempo, e só foi ser substituído por programas
de chat no início dos anos 2000.
135 Neste sentido, o Orkut tinha uma grande vantagem sobre o Facebook, já que ele permitia grupos
mais democráticos, abertos a todo mundo.
136 http://www.psychologicalscience.org/index.php/publications/journals/pspi/online-dating.html
137 Entrevista encontrada no livro Wait – the art and science of delay.
138 http://www.wired.com/business/2010/04/report-facebook-ceo-mark-zuckerberg-doesnt-believe-
in-privacy/
139 http://papodehomem.com.br/deus-esta-vivo-nas-fibras-oticas-wtf–23/
140 http://mashable.com/2013/08/15/man-fired-weed-twitter/
141 http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2012/05/16/justica-condena-universitaria-por-
preconceito-contra-nordestinos-no-twitter.htm
142 http://blogs.smartmoney.com/advice/2012/05/21/does-facebook-wreck-marriages/
143 www.youtube.com/watch?v=CeQsPSaitL0
144 http://venturebeat.com/2012/01/29/google-advertising/
145 O Google é conhecido por ter revolucionado a maneira como buscamos a internet, mas o
impacto dele na publicidade é economicamente mais relevante até. Quando uma concessionária de
carros compra um espaço de 30 segundos no intervalo de um jornal local da TV, por exemplo, ela
está gastando, digamos, R$ 10 mil e a maior parte das pessoas assistindo não vai se interessar. Se ela
anunciar no Google, a concessionária consegue canalizar a atenção da pessoa exatamente no
momento que o potencial comprador está pesquisando por um modelo específico de carro – e ela só
vai gastar dinheiro de publicidade quando alguém clicar no anúncio, que tem uma produção muito
mais barata que um filme para a TV, por exemplo.
146 http://www.theatlantic.com/technology/archive/2012/02/im-being-followed-how-google–151-
and–104-other-companies–151-are-tracking-me-on-the-web/253758/
147 http://www.businessweek.com/magazine/content/11_17/b4225060960537.htm
148 Há alguns programinhas para navegadores (plug-ins) que não mostram a publicidade de diversos
sites. Isso pode resolver o problema individualmente, mas não muda a lógica da rede e ainda tira o
sustento mais honesto de sites de notícias, por exemplo.
149 http://www.theatlantic.com/technology/archive/2013/02/why-does-privacy-matter-one-scholars-
answer/273521/
150 Zadie Smith, Quero ficar na Geração 1.0. Revista Piauí, fevereiro/2011.
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao–53/megabytes/quero-ficar-na-geracao–10
151 É interessante como a ficção que as pessoas criam sobre elas mesmas nas redes sociais
(normalmente mais cultas que efetivamente são) pode ser traída pelos mecanismos que registram
nossa atividade no computador. O last.fm, por exemplo, que marca quantas vezes ouvimos cada
música, permite que você apague do seu histórico canções desabonadoras. Vendo a lista de músicas
mais apagadas - que pode ser acessada em http://playground.last.fm/unwanted -, parece que ninguém
quer ser conhecido como “o cara que ouve Lady Gaga o dia todo”.
152 http://www.telegraph.co.uk/technology/google/7951269/Young-will-have-to-change-names-to-
escape-cyber-past-warns-Googles-Eric-Schmidt.html
153 Tive um (saudável, diga-se) debate com Eduardo Pinheiro quando ele publicou o artigo sobre o
aspecto positivo da falta de privacidade, na teoria de resgate da moral comum. Meu argumento contra
a tese era justamente que o julgamento de algum deus era mais “justo” porque ele saberia de todos os
detalhes. O julgamento da sociedade não, porque ela prefere recortes de realidade.
154 http://press.princeton.edu/titles/8981.html
155 http://www.nytimes.com/2013/08/04/us/other-agencies-clamor-for-data-nsa-compiles.html?
hp&_r=1&
156 http://chronicle.com/article/Why-Privacy-Matters-Even-if/127461/
157 http://abcnews.go.com/Technology/AheadoftheCurve/woman-loses-insurance-benefits-
facebook-pics/story?id=9154741
158 Michael Fertik e David Thompson, Wild West 2.0: How to Protect and Restore Your Reputation
on the Untamed Social Frontier (2010) - AMACOM
159 http://super.abril.com.br/cotidiano/mulher-nao-consegue-esquecer–447640.shtml
160 http://www.lancenet.com.br/selecao/Ronaldo-defende-afirmacao-Copa-
hospital_0_940705941.html#ixzz2bX4NBM8f
161 http://37signals.com/svn/posts/3289-some-advice-from-jeff-bezos
162 http://www.forbes.com/sites/jjcolao/2012/11/27/snapchat-the-biggest-no-revenue-mobile-app-
since-instagram/
163 http://online.wsj.com/article/SB10000872396390444165804578008740578200224.html
4. Excesso de informações “Se
amplificarmos tudo, não ouvimos nada.” –
Jon Stewart164
Eu não quero aqui que todo mundo só leia coisas sérias e verbetes
informativos da Wikipédia, mas, como Johnson advoga, precisamos saber
melhor de onde vem a informação que consumimos e nos esforçar para
consumir o que é mais saudável. Quando você estiver analisando seu
histórico de informação consumida – não apenas sites, mas interações nas
redes sociais, e-mails, vídeos e programas de TV –, reflita um pouco sobre
o propósito de todo este tempo gasto. “Matar o tédio” é bom até certo ponto
– lembre-se que precisamos ter o cérebro operando devagar de vez em
quando. “Socializar” também é bom, mas também precisamos de
privacidade e tempo longe dos refletores para desenvolvermos a nossa
própria personalidade. E “se manter informado” também é um propósito
que parece bom por si só, mas ele merece ser melhor analisado. Há um
excesso de opções.
Antes que você ache que eu estou pedindo um sacrifício grande demais,
como aqueles nutricionistas que nos passam dietas impossíveis de seguir,
gostaria de liberar o chocolate digital. Em doses regulares, mas não muito
grandes. Continue vendo vídeos de bebês que riem descontroladamente,
cabras que gritam como humanos, shows de comédia, esquetes de humor no
Youtube, piadas repetidas enviadas por e-mail, montagens compartilhadas
no Facebook. Rir não é perda de tempo. O humor melhora a frequência
cardíaca e até acelera a queima de calorias. Uma boa risada aumenta o fluxo
de sangue para o cérebro e pode até ajudar a dormir melhor. E a piada
relaxa, facilita a compreensão até de coisas mais sérias, porque ela desarma
nosso sistema límbico.172
Por isso, aliás, que o gênero de comentário político misturado com humor
é cada vez mais comum, como o CQC e Danilo Gentili no Brasil e Jon
Stewart e Colbert nos EUA. É claro que se você “só” fizer isso, não vai
melhorar muito o seu crescimento pessoal e relação com o mundo, além do
que rir descontroladamente de um vídeo no Youtube durante o trabalho
pode pegar mal. Mas o humor efetivamente ganhou vida nova na internet –
16% dos vídeos no Youtube são de comédia173 – e vale gastar minutos
divertidos, mesmo que seja para mostrar aquele vídeo da Porta dos Fundos
para alguém pela décima quinta vez.
Expliquei no capítulo anterior como a internet muda a natureza das nossas
interações com as redes sociais – no meu caso, antes, cerca de 85% da
informação que extraía dos círculos sociais vinha de conversas ao vivo com
amigos, colegas e familiares, 9% de telefonemas (eu ficava pendurado) e
1% de cartas (dados aproximados). São dados chutados, ok, mas falo das
informações pessoais: hoje, eu aprendo pela internet quase tudo o que há de
relevante por meio dos amigos mais conectados, com todos os poréns que
isso traz. E a quantidade de informação, se eu não controlar o fluxo, é
absurda: eu tenho mais acesso via Facebook a notícias específicas dos meus
colegas do pequeno colégio em Brasília onde estudei do que eu tinha sobre,
digamos, o campeonato carioca, quando eu comecei a me interessar por
futebol na década de 1980. Vimos que a fofoca tem um valor social que
vem desde os tempos em que andávamos em bandos, então, na verdade, eu
não estou questionando esse tipo de informação. Mas e a informação-
notícia comum, essa que encontrávamos nos jornais e hoje está nas notícias
de portais, redes sociais e blogs especializados? Para que serve? O que é
“estar bem informado”?
É uma pergunta que não costumamos nos fazer. E, como jornalista,
achava esse excesso de consumo de informação “normal”. De fato, algumas
profissões precisam de atualização constante, mas na maior parte do tempo
o que consumimos não tem uma aplicação prática além do senso de
sociabilidade, de não querermos ficar de fora das conversas. Eduardo
Fernandes, um brilhante escritor e designer de interfaces com quem eu já
trabalhei, define: “Você não acessa um site porque está curioso sobre o
conteúdo. Você apenas quer, consciente ou inconscientemente, se tornar
‘mais esperto’. Compartilhar links. Ganhar mais seguidores. Manter-se
atualizado. Acompanhar modas. Quer dizer, você não se relaciona
necessariamente com o conteúdo, mas com o seu próprio desejo de
consumir mais. Livros, sites, gadgets, filmes, etc., passam a ser veículos
para apaziguar esse velho sentimento de que a grama dos outros é mais
verde”.174
Mas com a internet, acumular informações para “se manter por dentro” é
uma tarefa cada vez mais impraticável e sem sentido. Antes, quando havia
um limite físico para dar as notícias (as páginas do jornal ou o horário de
programação da TV), os jornalistas escolhiam algumas poucas coisas para
dar destaque e nada era tratado diariamente com muito detalhe ou
profundidade – isso era tema para as revistas semanais ou mensais. O
número de assuntos para comentar durante o café, no trabalho, no dia
seguinte, era limitado. Mas hoje, como não há um limite físico para a
produção de informação, há todo tipo de subgênero de informação
disponível.
Quando comecei a me interessar pelo basquete da NBA, no início dos
anos 1990 (por meio do videogame, vejam só), tinha que torcer para ver
alguma notinha de meio parágrafo no Correio Braziliense com os placares
da rodada e me contentar com a partida que a Band transmitiria, durante a
madrugada, algum dia da semana. Hoje, a abundância de informações não
tem fronteiras. No blog de esportes que acompanho, o SBnation, é normal
ler em um único dia seis notícias só sobre LeBron James, o meu jogador
favorito da liga americana de basquete. Se abrir o aplicativo da NBA no
iPad, posso ver cada uma das suas cestas em uma partida de um ano atrás
ou ver em que pedaço da quadra ele se sai melhor quando é marcado por
alas de menos de 2’05’’. Eu tenho acesso, e tenho meia dúzia de amigos
loucos que efetivamente leem esse tipo de coisa, mas para que exatamente?
Eu não vou conseguir ser auxiliar técnico, não escrevo sobre o assunto nem
aposto em partidas.
Não quero que esse tipo de informação suma – no mínimo, por uma
questão corporativista, já que há jornalistas cada vez mais
superespecializados hoje em dia –, apenas acho importante saber controlar
quão fundo vamos em algo que não vai nos fazer crescer em última
instância. Porque, pela maneira como a internet é projetada, com seus links
e vídeos espalhados por todos os lados e a possibilidade de agradar a todos
os microgostos, há a real possibilidade de você ver seu tempo sendo sugado
por bobagens, por mais interessantes que elas possam parecer à primeira
vista. Se você começa lendo a página de um ator qualquer em um site de
cinema, pode acabar, alguns cliques e vídeos depois, no verbete sobre a
guerra civil galáctica de Guerra nas Estrelas na Wikia. Há 19 mil palavras
para ler, cobrindo todos os detalhes da vitória do imperador Palpatine.175
Você pode argumentar que isso não é muito diferente de ler um livro, mas
eu te digo que isso está mais para gastar tempo em um joguinho dos mais
bobos e viciantes. Assim como no caso das redes sociais, a medida de um
bom uso é o seu sentimento após uma maratona de cliques. “Nossa, como
eu perdi tempo nisso? Já estou atrasado!”, é uma sensação comum. Ou
poderia ser, se refletíssemos mais.
Não quero ser tão duro com você, fã de temas muito específicos como
Guerra nas Estrelas – eu leio religiosamente dois blogs sobre jogos de
tabuleiro para iPad, se isso te tranquiliza. Saber muito sobre algum assunto,
qualquer assunto, é o que nos diferencia no fim das contas, faz parte do que
somos. No sentido de desenvolver nossa personalidade, a internet tem
bastante potencial, permitindo-nos orbitar por vários gostos e comunidades,
como discutimos. E também permite novas oportunidades intelectuais e
comerciais – há gente enriquecendo só de vender para todo o mundo
gorrinhos de tricô inspirados no universo de Guerra nas Estrelas, que são
mencionados em blogs especializados no assunto.
Este ecossistema e as possibilidades que ele apresenta é o que Chris
Anderson, ex-editor da revista Wired, batizou (pegando o conceito de
estatística emprestado) de “cauda longa”, em um dos livros de negócios
mais influentes da última década, lançado em 2004. Para Anderson, que usa
muito os exemplos da Amazon e do Netflix, é possível ter lucro (ou
atenção) vendendo produtos incomuns para muitas pessoas, ao contrário da
lógica anterior de best-sellers (pouca variedade de produtos para muita
gente). Aplicando o conceito à informação, Anderson defende que não
precisamos ficar fechados nos assuntos da mídia de massa. Isso é uma
realidade de agora – que tem uma aplicação econômica um tanto
discutível.176 Mas se você tem idade para ter vivido no fim dos anos 1980 e
início dos 1990, deve se lembrar que havia poucos assuntos facilmente
disponíveis para o grande público. Era uma época em que a estreia de um
novo clipe do Michael Jackson era um evento, a novela Roque Santeiro
passava dos 90 pontos de Ibope e o único esporte televisionado era o
futebol brasileiro. Hoje não precisamos ficar presos no chamado
mainstream.
O próprio conceito de mídia mainstream vem mudando: “Quando alguém
compra uma TV, o número de consumidores cresce em um, mas o número
de produtores permanece constante. Por outro lado, quando alguém compra
um computador ou um celular, tanto o número de consumidores quanto o de
produtores aumentam em um”, explica Clay Shirky em Lá vem todo
mundo.177
Mas será que isso é necessariamente tão bom assim? Foi o que eu
perguntei ao próprio Chris Anderson quando o entrevistei, no final de
2007.178 Eu disse que em outros tempos, quando era garoto, conseguia
conversar com a minha mãe, minha avó e o colega de classe sobre vários
assuntos. Hoje, o que é “grande hit” pra mim, como o músico Frank Ocean
ou o filme Indomável Sonhadora, pode ser totalmente obscuro para amigos
próximos de mesmo background e acesso a produtos culturais. Não era
legal quando havia algo que unia todo mundo? “É o que acontece quando as
pessoas têm mais escolhas. Perdemos as ligações culturais superficiais,
como a televisão. Mas, em compensação, ganhamos conexões mais
profundas.” Anderson argumenta, e é difícil discordar, que de fato os
comentários sobre esses produtos de mídia de massa eram bastante
genéricos. “Hoje, se eu disser pra você que gosto de Lego, criamos uma
conexão instantânea”, brincou Chris e, sim, criamos uma conexão. Como eu
fiz com os meus amigos do jogo de tabuleiro, por exemplo.
Ainda assim, é importante pelo menos ter alguma ideia dos grandes
assuntos, não para “ficar informado” de uma maneira abstrata, mas porque é
perigoso ficar em bolhas de microgostos. Por mais que essas conexões
sejam fortes, os “laços fracos” com vizinhos, colegas de trabalho e
familiares distantes são importantes também. A saída que eu encontrei para
não perder o contato sobre os assuntos populares e que não me interessam
diretamente é usar outras pessoas como retrospectivas ambulantes. Eu não
acompanho mais tão de perto o meu Vasco, mas havia um colega na minha
empresa com quem conversava pouco, mas quando esbarrava com ele no
café puxava um “e o jogo de domingo? Eu vi que ganhou, mas foi bem?”
Eu sei que ele assistia tudo e por meio dele ganhava uma narrativa bem
mais colorida do que a que leria nos jornais. Todo mundo ganha: eu fico
mais informado sobre o meu time para conversar melhor com o meu pai
depois e estreito os laços com uma pessoa fisicamente próxima. Uso a
mesma estratégia para outros assuntos. Pergunto para o taxista do ponto
perto do meu apartamento sobre as consequências das últimas chuvas,
consulto o meu amigo que edita um blog de quadrinhos (e não
necessariamente o blog em si) quais as últimas recomendações, e deixo para
me inteirar sobre a política de Brasília diretamente com os meus amigos
jornalistas quando os encontro nos bares. Tenho um resumo personalizado,
boas conversas e laços mais fortes.
Ser exposto a assuntos diferentes, visões diferentes, é fundamental, faz
parte não só do crescimento pessoal, mas da democracia. O curioso é que é
muito mais fácil estar exposto a essas surpresas quando estou offline. Para
mim, os grandes problemas da internet como veículo de informação não
estão na infobesidade, essa doença inventada que eu discuti até aqui. Mas,
sim, na sua tendência para formar bolhas e dificultar o real diálogo e
facilitar a desinformação.
166 http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/1193225-as-mas-noticias.shtml
167 http://www.youtube.com/watch?v=DW3_JhQksv4
168 http://www.theguardian.com/media/2013/apr/12/news-is-bad-rolf-dobelli
169 Entrevista a Matt Richtel, em “Wasting time is the new divide in the digital era”. New York
Times, 29/mai/2012. http://www.nytimes.com/2012/05/30/us/new-digital-divide-seen-in-wasting-
time-online.html?pagewanted=all
170 Karl Frisch, “24/7 media…exposes us to all kinds of arguments, some of which don’t always
rank that high on the truth meter”, Media Matters, 9/mai/2010. Acessado em:
http://mediamatters.org/blog/2010/05/09/obama–247-mediaexposes-us-to-all-kinds-of-argum/164426
171 http://news.cnet.com/8301–19518_3–10438088–238.html
172 http://dsc.discovery.com/tv-shows/curiosity/topics/10-reasons-why-laughing-good-for-you.htm
173 http://youpix.com.br/top10/saiba-quais-sao-os–25-canais-mais-relevantes-do-youtube-brasileiro/
174 http://caosordenado.com/o-zahir-digital/
175 http://starwars.wikia.com/wiki/Galactic_Civil_War
176 Pela tese da “Cauda longa”, os custos de armazenamento e distribuição digitais permitem que se
venda um pouquinho de muitas coisas. Mas isso só tem sido verdade para gigantes como os
exemplos dos quais ele gosta: Amazon, iTunes e Google. Da mesma forma que bandas de um tipo
muito específico de metal tem público internacional graças à internet mas não enriquecem, os sites na
ponta da cauda longa têm fãs, mas não dão um grande lucro. De certa forma, são justamente os
gigantes monopolistas que lucram mais com a democratização do conhecimento.
177 Lá Vem Todo Mundo - o Poder de Organizar Sem Organizações (2012) - Zahar.
179 http://techcrunch.com/2013/08/06/google-search-starts-highlighting-in-depth-articles-in-new-
knowledge-graph-box/
180 http://www.searchenginejournal.com/will-google-be-around-in–2-years/37418/
181 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd1909201001.htm
182 http://www.nytimes.com/2008/11/25/technology/internet/25symptoms.html
183 http://www.huffingtonpost.com/2012/12/05/senior-scams_n_2244894.html
184 http://www.serasaexperian.com.br/guiaidoso/97.htm
185 http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Confianca-do-brasileiro-no-STF-e-maior-do-
que-na-Justica.aspx
186 Farhad Manjoo, True Enough: Learning to Live in a Post-Fact Society (2008) - Wiley.
187 Bruce Schneier, Liars and Outliers: Enabling the truth that society needs to thrive (2013) -
Wiley.
189 http://www.economist.com/node/18904112
190 http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao–47/anais-do-marketing-politico/pancadaria-na-rede
191 http://www.forbes.com/sites/andersonantunes/2013/08/01/why-brazilians-oddly-blame-the-
globo-media-empire-for-the-countrys-misfortunes/2/
192 https://www.facebook.com/jean.wyllys/posts/560735023974509
193 http://oglobo.globo.com/tecnologia/mentiras-sociais–9498265#ixzz2cFjHeM9F
194 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,midia-ninja-e-o–futuro-desfocado-,1064592,0.htm
195 http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2013/08/1325250-jornalismo-
amazonico.shtml
196 Eu uso um programinha para acompanhar o Twitter, chamado TweetBot. Em vez de deixar de
seguir ou bloquear uma pessoa, é possível “silenciá-la” (colocando-a no “mudo”) por um
determinado tempo. Preciso fazer isso em tempos de final de campeonato, quando analistas políticos
razoáveis viram torcedores fanáticos e verborrágicos.
197 Christopher Gonciarz, U Mad? The Internet’s Guide to Idiots, KG Tofu Media, 2012.
199 Richard Stallman, “Steve Jobs”, Political Notes, outubro de 2011. Acessado em:
http://stallman.org/archives/2011-jul-oct.html#06_October_2011_%28Steve_Jobs%29
200 No meu mundo de jogos de tabuleiro, é comum reclamar do design de um jogo dizendo que ele
“induz a Analysis Paralysis”, ou “AP”. Quando o jogo tem muitas opções, os jogadores mais
analíticos podem perder muitos minutos na sua vez de jogar, prejudicando a experiência dos outros à
mesa.
202 “The Tiranny of Choice. http”, The Economist, 16 dez 2010; acessado em
http://www.economist.com/node/17723028
203 David Streitfeld, “The best reviews money can buy”, The New York Times, 25 ago 2012;
Acessado em http://www.nytimes.com/2012/08/26/business/book-reviewers-for-hire-meet-a-demand-
for-online-raves.html?src=xps
204 Rodrigo Levino, “Paulo Coelho, que lança seu 22º romance, diz que ”Ulysses“ fez mal à
literatura”, Folha de S. Paulo, 4/ago/2012; Acessado em:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1131545-paulo-coelho-que-lanca-seu–22-romance-diz-que-
ulysses-fez-mal-a-literatura.shtml
205 Evgeny Morozov, To save everything Click Here: The Folly of Technological Solutionism, 2013,
PublicAffairs
5. O preço do gratuito
“Ao fazer com que o fato de pagar pelo conteúdo fosse algo essencialmente
opcional, a pirataria jogou o preço dos bens digitais lá embaixo. O resultado é
uma corrida para o fundo do poço e a resposta inevitável das empresas de mídia
tem sido fazer cortes – primeiro no pessoal, depois na ambição e finalmente na
qualidade.” – Robert Levine206
Não se chegou nem de perto a cogitar algo assim no Brasil. A maior parte
da mídia, pró-liberdade irrestrita da internet, abraçou o discurso dos
ativistas da internet livre, que consideravam a ameaça à chamada
“neutralidade da rede” ou a possibilidade de retirada de conteúdo sem
decisão judicial prévia uma traição ao princípio aberto da internet. Pintando
cenários apocalípticos, diziam que se os “inimigos do povo” (as operadoras
de telecomunicações e a TV Globo, no caso245) ganhassem a disputa no
Congresso, a internet não seria como era antes. “A liberdade de expressão
está ameaçada”, avisavam, convocando manifestações em favor da lei como
estava.
Acontece que a liberdade de expressão, apesar de importante, não é algo
absoluto – ela tem limitações e pode ser regrada, como, por exemplo, nos
casos de crimes contra a honra. Não há por que criar uma hierarquia e exigir
que todos os direitos sejam submissos à liberdade de se fazer o que se quer
na internet. A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz, por
exemplo, que “todos têm direito à proteção dos interesses morais e
materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua
autoria”. A ideia de que o controle de cópia é um mecanismo criado pelas
elites e grandes corporações para limitar o acesso da população – um
discurso corriqueiro dos ativistas – esquece que quem produz arte e cultura
são “pessoas”. E assim como elas têm direito de falar o que quiserem na
rede (sofrendo as consequências em casos de ofensas), também têm o
direito de explorar comercialmente o seu trabalho, e o resto da sociedade
deve respeitar este direito.
“A lógica do copyright não demanda pagamento a artistas nem para seus
parceiros legais; apenas respeito aos desejos implícitos do artista. O
copyright protege igualmente a escolha individual de um artista de ofertar o
seu trabalho de graça ou optar por cobrar uma taxa por isso. O ponto é que
essa é uma escolha dele, não do consumidor ou de um distribuidor não
licenciado, não importa quão fácil a internet faça com que isso possa ser
ignorado ou racionalizado. A questão é: estamos preparados para respeitar
essa escolha?”, escreve Chris Ruen em Freeloading. Ele teve a ideia de
publicar o livro depois de perceber que muitos dos seus artistas favoritos,
mesmo os que ele considerava famosos, não ganhavam muito dinheiro com
música e não viviam uma vida muito melhor que a dele, um barista do
Brooklyn, nos EUA.
“Ativistas de internet apresentam o nosso futuro online como sendo uma
escolha entre o controle ou a criatividade, mas na verdade é uma opção
entre o comércio e o caos. Um sistema completamente fechado de fato
derrotaria o propósito da internet; limitaria tanto o comércio quanto a
criatividade. Mas isso também aconteceria em um ambiente totalmente
aberto, onde vender mídia digital – ou qualquer coisa que puder ser
reduzida a um código binário – se tornasse praticamente impossível no
longo prazo. Nós teríamos uma infraestrutura de comunicação do século 21
dando suporte a uma economia do século 17, onde artistas precisam de
mecenas e apenas bens físicos têm valor. Isso não parece com o progresso”,
alerta o jornalista Robert Levine em Free Ride, possivelmente o melhor
livro sobre a fragilidade dos direitos autorais com as novas tecnologias.246
“Você não consegue ter uma economia funcional sem um mercado, e não
pode ter um mercado sem alguma forma de direitos de propriedade, e esses
direitos não significam nada se não puderem ser garantidos por lei e polícia.
Nós realmente queremos arriscar destruir um mercado centenário de
produtos culturais apenas para que a internet continue a funcionar como em
1995?”
Não há dúvidas que as leis devem mudar para se adaptar à nova realidade.
Mas acima de tudo elas têm de respeitar o desejo do autor, que tem o direito
de ter vantagens econômicas sobre o seu trabalho, e isso não é um
problema. É claro que eu escrevo este livro movido por uma vontade de
levar uma mensagem ao mundo. Mas a minha disposição em escrever outro
ou seguir explorando ensaios na internet dependerá largamente da
disposição do público em financiar este trabalho de maneira direta, com
dinheiro. Se eu acredito que a minha pesquisa e meus textos geram algum
impacto na percepção que as pessoas têm do mundo, nada mais natural que
esperar que elas me compensem por isso, e todos vamos ganhar no
processo: eu melhorarei minha técnica, meus leitores ganharão mais
“comida para o cérebro”. E uma economia de geradores de valor à
personalidade ganha corpo.
Posso ter até aqui pintado um cenário sombrio, mas, apesar de tudo, eu
sou otimista. Não acredito que as pessoas consumam material pirata por
“maldade”. E nem sempre ela foi uma questão econômica. Em 2012,
primeiro ano do iTunes no Brasil, as vendas em formato digital cresceram
83%, o que diminuiu o ritmo da retração da indústria fonográfica. É
possível achar qualquer música para comprar de graça, mas já foram
vendidas mais de 30 bilhões de faixas pelo serviço da Apple. Hoje, serviços
como Rdio e Deezer dão acesso ilimitado a um catálogo de dezenas de
milhões de músicas a R$ 15 mensais. O Netflix já é responsável por um
terço de toda a banda larga usada nos EUA. O que é incrível, considerando
que no meio da década passada os aplicativos de compartilhamento de
arquivos, largamente ilegais, chegaram a responder por metade do tráfego
de dados. Há cinco anos só se encontravam jogos de videogame piratas nas
feirinhas populares, mas hoje não só há a predominância do produto oficial,
como plataformas para o consumo digital se popularizam rapidamente: o
Steam, no qual se compram jogos a preço de banana, tem 54 milhões de
usuários ativos. Tudo isso mostra que um componente importante da
pirataria sempre foi o fato de que era mais fácil consumir alguns produtos
culturais em sua variedade ilegal/gratuita. Hoje isso é verdade apenas em
raríssimos casos. Não há mais motivos para racionalizar a pirataria. E há
dezenas de ótimos motivos para pagar pela produção intelectual de outras
pessoas.
Quando pagamos por algum conteúdo na internet, valorizamos o trabalho,
sinalizamos que queremos mais daquilo e sustentamos profissionais que
contribuem para que sejamos pessoas mais interessantes ou entretidas.
Considere tudo isso antes de baixar algo de graça ou reclamar que agora o
jornal X cobra pelo acesso às notícias. Valorize a função daquela pessoa, e
contribua para que ela não dependa do mecenato de outros. Permita-se
pequenos luxos, como a versão em alta definição comprada no serviço sob
demanda da TV a cabo ou no iTunes, em vez do disquinho comprado no
camelô, filmado no cinema. Compre bons fones de ouvido e experimente
ouvir de fato uma música, prestando atenção a seus detalhes. Valorize a
arte, conectando-se de maneira mais profunda ao que importa.
O artista britânico Roy Ascott disse: “Pare de pensar em trabalhos
artísticos como objetos e comece a pensar neles como gatilhos para
experiências”. O compositor Brian Eno partiu dessa frase e concluiu: “O
que faz um trabalho artístico ser ‘bom’ para você não é algo que já está
dentro dele, mas o que acontece dentro de você – de forma que o valor do
trabalho mora no grau em que ele pode ter o tipo de experiência que você
chama de arte”.247
206 Robert Levine, Free Ride: How Digital Parasites are Destroying the Culture Business, and how
the culture business can fight back, 2011, EUA, Doubleday.
207 http://www.businessinsider.com/these-charts-explain-the-real-death-of-the-music-industry–
2011–2
208 http://computerworld.uol.com.br/negocios/2013/05/03/eua-pedem-que-brasil-adote-medidas-
duras-contra-pirataria/
209 “Brasil é 5º país em download ilegal de músicas; conheça os mais pirateados”, BBC Brasil, 18
set 2012. Disponível em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/09/120918_pirataria_musica_cc.shtml
210 http://www.filmeb.com.br/portal/html/materia10.php
211 Lula viu pirata de “2 Filhos de Francisco” um mês antes de o filme chegar ao cinema. A prática
foi abandonada porque “pegava mal”. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1512200513.htm
212 http://tj-rs.jusbrasil.com.br/noticias/3041527/venda-de-dvd-pirata-nao-e-considerado-crime-de-
violacao-autoral
213 http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3605440-EI6581,00-
Gil+O+mundo+me+tirou+a+regua+e+o+compasso.html
216 “Se todo mundo é pirata, pagar pode ser obrigação”. Site de O Estado de S. Paulo, 30 de janeiro
de 2012. Acessado em http://blogs.estadao.com.br/tatiana-dias/se-todo-mundo-e-pirata-pagar-pode-
ser-obrigacao/
217 http://info.abril.com.br/noticias/internet/existe-internet-sem-pirataria–18042012–32.shl
218 Antônio Paulo, “Câmara e Senado unidos contra pirataria”, A Crítica, 9 jun 2011. Acessado em:
http://acritica.uol.com.br/noticias/Camara-Senado-unidos-pirataria_0_496150399.html
219 Julia Jenks, “Debunking some major flaws in the LSE media brief on the impact of piracy”,
MPAA, 7 out 2013. Disponível em: http://blog.mpaa.org/BlogOS/post/2013/10/07/Debunking-some-
major-flaws-in-the-LSE-media-brief-on-the-impact-of-piracy.aspx
220 http://www.cartacapital.com.br/revista/770/apesar-dos-downloads–7293.html
221 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2703200707.htm
222 Chris Anderson, Free - Grátis, o futuro dos preços, Editora Campus, 2009.
223 http://www.arenapolisnews.com.br/noticia/297123/Joelma-da-banda-Calypso-revela-em-
Diamantino-que-n%E3o-est%E1-com-AIDS-
224 http://revistatrip.uol.com.br/print.php?cont_id=27349
225 http://oglobo.globo.com/cultura/wado-desapega-do-cd-fisico-lanca-sexto-disco-somente-na-
web–3196186
226 http://www.folhape.com.br/robertajungmann/?p=3191
228 Chris Ruen, “Freeloading - How our insatiable hunger for free content starves creativity”, OR
Books, 2012.
229 http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI331605–17773,00.html.
230 http://screamyell.com.br/site/2013/08/08/wado-e-o-vazio-tropical/
231 http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/governo-paulista-destina-r–165-milhoes-a-projetos-
culturais_128918.html
232 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,crise-leva-instituicoes-culturais-europeias-a-
fazerem-cortes,943461,0.htm
233 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/21300-crise-atinge-as-orquestras-americanas.shtml
234 http://www.theguardian.com/books/2012/may/24/self-published-author-earnings.
235 Ken Auleta, Googled: The end of the world as we know it, The Penguim Press, EUA, 2009.
236 http://www.theverge.com/2013/3/4/4054634/musics-pay-what-you-want-pioneers-sour-on-
giving-away-songs
237 http://exame.abril.com.br/marketing/noticias/gangnam-style-gerou-us-8-milhoes-ao-youtube-em-
publicidade
238 http://www.businessweek.com/articles/2013–04–22/its-getting-harder-to-make-money-on-
youtube
239 http://bits.blogs.nytimes.com/2013/08/29/troubles-ahead-for-internet-advertising/?_r=0
240 http://digiday.com/publishers/15-alarming-stats-about-banner-ads/
241
http://olhardigital.uol.com.br/noticia/computador_watson_podera_substituir_vendedores_e_atendent
es_de_telemarketing/19300
242 https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/8/1/lucro-recorde-e-
demissoes
243 http://epoca.globo.com/vida/vida-util/carreira/noticia/2013/10/como-achar-o-btrabalho-da-sua-
vidab.html
244 http://www.buzzfeed.com/charliewarzel/thank-you-for-using-the-internet-we-regret-to-inform-
you-tha
245 http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?
infoid=35269&sid=4#.UoSBLWSxNvk
246 Robert Levine, Free Ride: How Digital Parasites are Destroying the Culture Business, and how
the culture business can fight back, 2011, EUA, Doubleday.
247 http://www.brainpickings.org/index.php/2013/05/15/happy-birthday-brian-eno-the-father-of-
ambient-music-on-art/
6. Precisamos discutir
isso mais vezes
“A realidade é chata, mas é o único lugar onde se pode comer um bom bife.” –
Woody Allen Um livro que se concentre em falar das relações das pessoas com a
tecnologia é algo perigosamente perecível. Quando comecei a esboçar essas ideias,
em 2011, fazia sentido falar de Orkut ou Blackberry; as TVs 3D eram uma grande
promessa e apetrechos como o Google Glass eram pura ficção científica. Então,
tive que reavaliar e reescrever os meus exemplos o tempo todo, e entre entregar os
originais e o livro aparecer nas livrarias, eu sabia que ele corria o risco de ficar
velho novamente, de certa forma. Cheguei a imaginar que o esforço seria pouco
útil.
249 Pedro Burgos, “Podemos considerar Candy Crush um problema de saúde pública?”, Oene,
27/abr/2013; acessado em: http://www.oene.com.br/podemos-considerar-candy-crush-um-problema-
de-saude-publica/
250 Lisa Belkin, “What is Slow-Parenting?”, The New York Times, 8/ago/2009; acessado em
http://parenting.blogs.nytimes.com/2009/04/08/what-is-slow-parenting/?_r=0
251 http://papodehomem.com.br/movimento-slow-web-a-diferenca-entre-uma-namorada-possessiva-
e-um-bom-amigo/
252 Matt Richtel, “Silicon Valley Says Step Away From the Device”, New York Times, 23/jul/2012;
acessado em: http://www.nytimes.com/2012/07/24/technology/silicon-valley-worries-about-
addiction-to-devices.html?src=xps
253 Caitlin Kelly, “O.K., Google, Take a Deep Breath”, The New York Times, 28/abr/2012; acessado
em: http://www.nytimes.com/2012/04/29/technology/google-course-asks-employees-to-take-a-deep-
breath.html?pagewanted=all
254 http://www.theverge.com/2013/8/9/4604962/werner-herzog-from-one-second-to-the-next-
texting-and-driving-documentary
255 André Barcinski, “Tributo à Legião: pede pra sair!”, Folha de S. Paulo, 1/jun/2012; acessado em:
http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2012/06/01/pede-pra-sair/
257 http://m.folha.uol.com.br/ciencia/1155058-internet-pode-diminuir-a-inteligencia-e-a-empatia-
diz-pesquisadora.html
Nietzsche disse que “um bom escritor possui não apenas o seu próprio
espírito, mas o espírito de seus amigos”. Não sei ainda se sou um bom
escritor, mas certamente me alimentei do espírito de todos à minha volta
para conseguir chegar a essas páginas. E queria agradecer a muita gente por
isso. A começar pela minha família: Nina, que ouviu (e leu) quase todas as
ideias antes de qualquer pessoa; meu pai e minha mãe, que além de
conversar sobre o assunto foram fundamentais em dar o empurrão final para
o livro sair; Paty, Dudu e Bia, meus irmãos, por toda a confiança e palavras
de incentivo, sempre.
Este livro não seria possível sem meus colegas de trabalho e queridos
amigos Leo Martins, Manu Barem e Renato Bueno, com quem discuti
muitas teses e absolutamente todo tipo de assunto em almoços
inesquecíveis (aquela foi uma grande temporada!). Três casais queridos me
ouviram falar um monte do assunto por dois longos anos, e agradeço toda a
paciência e o carinho: Kátia e Alexandre, Giselle e Mamoru, Camilla e
Daniel. Vamos ter que usar a tecnologia agora para encurtar as distâncias.
Eu realmente gostaria de agradecer a todos os meus amigos porque, bem,
este livro é resultado direto do que observo e absorvo deles. Mas para não
cometer nenhuma grande injustiça (elas sempre acontecem), quero me
lembrar das pessoas com quem eu em algum momento sentei e discuti mais
longamente este assunto e algumas de suas ramificações: Albert
Steinberger, Bernardo Silveira, Cadija Tissiani, Carol Ramalhete, Edney
Souza, Érica Briones, Fabio Bracht, Fabio Sabba, Gisela Blanco, Gustavo
Igreja, Igor Marx, Jorge Paulo Jr., José Roberto Gomes, Leopoldo Godoy,
Leandro Beguoci, Letícia Bortolon, Livia Holanda, Lucas Cerro, Lu
Yonekawa, Malu Braga, Mauricio Torselli, Renata Reps, Rodrigo Bortolon,
Rodrigo Ghedin, Tiago Luchini, Thomas Leifert, Vitor Hildebrand.
Precisamos fazer isso mais vezes, e prometo agora falar de outros assuntos!
Muito obrigado a todos os editores que tive na minha carreira de
jornalista, em especial às pessoas da Superinteressante. Gente boa como
Sergio Gwercman e Denis Russo ajudaram a moldar o tipo de texto que
escrevo hoje e me fizeram criar o costume de desafiar as hipóteses que já
tinha na cabeça. Não poderia deixar de agradecer especialmente a
Alexandre Versignassi, que além de editar as minhas melhores reportagens
disse à editora que eu poderia escrever um livro interessante. Espero que
você esteja certo, Versi.
Este livro não seria um livro sem a Tainã. Obrigado pela paciência com
seguidas deadlines mortas e por acreditar que seria mais interessante um
texto filosófico que um simples guia prático. Queria agradecer também à
Marleine, pela revisão meticulosa, à Pamela, por preparar o livro de fato e a
todo o pessoal da LeYa que se esforça em fazer esta mensagem chegar ao
maior número possível de pessoas.
Não vou parar de falar ou escrever sobre o assunto, é claro. E se consigo
hoje debater melhor essas ideias em público devo agradecer à Bia Granja e
Alexandre Inagaki, por me inserirem no mundo dos grandes eventos e me
dar a oportunidade de interagir com muitos “internautas” em carne-e-osso.
Hoje também sei discutir melhor on-line porque enquanto fui editor de um
blog de tecnologia aprendi a pensar publicamente, testar minhas teorias e
conversar com os leitores. Todas as pessoas que ofereceram opiniões sobre
os meus textos publicados na internet me ajudaram a ser um escritor
melhor, e devo agradecimentos a milhares de comentaristas (mesmo aos
menos educados). Juan Lourenço, Vagner Abreu e João Paes, grandes
representantes dessa categoria, merecem um obrigado em especial.
Nunca li tanto na minha vida como nos últimos dois anos – o iPad e o
Kindle foram ferramentas essenciais para conseguir atravessar tantas
páginas, fazer marcações e ter acesso a ideias tão rapidamente. Muitas das
teses aqui foram desenvolvidas antes por gente excepcional como Alexis
Madrigal, Brian Lam, Clive Thompson, David Foster Wallace, Douglas
Rushkoff, Evgeny Morozov, Farhad Manjoo, Jonathan Franzen, Matt
Buchanan, Howard Rheingold, Jack Cheng, Jaron Lanier, John Gruber,
Nassim Nicholas Taleb, Nicholas Carr, Pierre Lévy, Robert Levine, Sherry
Turkle, William Powers. Obrigado pela inspiração.
E, por último e não menos importante, queria agradecer a Steve Jobs,
Jonathan Ive, Jeff Bezos, Larry Page, Sergey Brin e Jimmy Wales. Sem a
visão do uso da tecnologia aplicada a humanos dessas pessoas seria mais
trabalhoso e menos prazeroso conseguir produzir tudo isso. A tecnologia é
só um meio, e este é um dos fins.
Índice
CAPA
Ficha Técnica
Dedicatória
Apresentação
Introdução
Código.doc
Reinventando a roda
Você quis dizer... ?
1. Meu nome é Pedro e faz 3 minutos que não olho para o celular
O primeiro trago
Não é vício, mas é viciante
iDoentes
O que a tecnologia faz para você?
Recuperando o controle
Próxima fase
Só mais uma vida…
O problema do fumante passivo
2. Virtualmente real
O espaço
Netiqueta
Estar no lugar
Estar em todos os lugares
Videoconferência
O espaço sagrado
3. Caindo na rede
Somos seres sociais
Narciso acha feio o que não é Facebook
Oversharing
A boa esquizofrenia
O preço da privacidade
Controlando o fluxo
Precisamos aprender a esquecer
Presos no passado
Little Brothers
4. Excesso de informações
Quem precisa de tanta notícia?
Ser inteligente, hoje, é saber ser seletivamente ignorante
Infobesidade e cauda longa
Googlando o futuro
A bolha assassina
De trolls e outros demônios
Não seja o ruído
5. O preço do gratuito
Um problema invisível
Os novos intermediários
A criatividade da nova economia
Novos princípios
6. Precisamos discutir isso mais vezes
O que estamos perdendo?
Agradecimentos