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GONÇALVES - Desenvolvimento Profissional e Carreira Docente
GONÇALVES - Desenvolvimento Profissional e Carreira Docente
º 8 · j a n / a b r 0 9 issn 1646‑4990
Resumo:
O presente artigo toma como ideia central e ponto de partida o conceito de que a carreira
profissional docente é um percurso relacional e contextualmente vivenciado e construído,
em que a pessoa‑professor se vai diacronicamente desenvolvendo, segundo um conjunto
de etapas ou fases com características próprias, em espaços e tempos diferenciados e com
necessidades específicas de formação.
No processo contínuo de “tornar‑se professor”, cada docente, face aos desafios e exi‑
gências da sociedade, da escola, dos alunos, das famílias e das comunidades, assume múl‑
tiplas funções. Entre estas estão as de construtor e de gestor do currículo e as de formador,
designadamente como supervisor das práticas pedagógicas dos cursos de formação ini‑
cial, cujo desempenho depende e traduz a pessoa e o professor que cada docente é, pelo
que, para as investigarmos e melhor compreender, não podemos deixar de as situar no
momento da carreira em que o mesmo se encontra, com as suas características e necessi‑
dades específicas.
Palavras‑chave:
Etapas da carreira, Formação de Professores, Currículo, Supervisão.
Gonçalves, José Alberto (2009). Desenvolvimento profissional e carreira docente — Fases da carreira,
currículo e supervisão. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 08, pp. 23-36
Consultado em [mês, ano] em http://sisifo.fpce.ul.pt
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INTRODUÇÃO A CARREIRA DOCENTE COMO
PERCURSO DE DESENVOLVIMENTO
É hoje inquestionável que a formação ao longo da E FORMAÇÃO
vida é uma resposta necessária aos permanentes
desafios da inovação e da mudança e, simultanea‑ A carreira docente configura‑se como um processo
mente, condição de promoção do desenvolvimento de formação permanente e de desenvolvimento pes‑
pessoal e profissional dos professores. soal e profissional do adulto‑professor, que compre‑
Importa, assim, que nos preocupemos em compre‑ ende não apenas os conhecimentos e competências
ender como os docentes se vão “tornando professores” que o mesmo constrói na formação, mas também a
ao longo da sua carreira, para, deste modo, se encontra‑ pessoa que ele é, com todas as suas crenças, idiossin‑
rem as respostas formativas mais adequadas às caracte‑ crasias e história de vida, e o contexto em que exerce
rísticas específicas de cada momento da sua condição a actividade docente (Hargreaves & Fullan, 1992).
de pessoas‑profissionais, tendo presentes, ao mesmo Assim sendo, necessário se torna compatibilizar o
tempo, as diferentes conjunturas sócio‑educativas. desenvolvimento do professor com o desenvolvimen‑
Esta foi uma preocupação que sempre marcou a to organizacional da escola, processo que, segundo
minha actividade tanto na formação de professores Day (1999), deve atender a seis princípios: i) o desen‑
como na investigação, designadamente nos estudos volvimento do docente é contínuo, realizando‑se ao
que constituíram a minha dissertação de Mestrado longo de toda a vida; ii) deve ser auto‑gerido, sendo
(Gonçalves, 1990) e a minha tese de Doutoramento contudo da responsabilidade conjunta do professor e
(Gonçalves, 2000) e ainda em dissertações e teses da escola; iii) deve ser apoiado e dispor dos recursos
que tenho vindo a orientar, cujas linhas de investiga‑ materiais e humanos necessários à sua concretização;
ção se têm centrado quer em dimensões específicas iv) deve responder aos interesses do professor e da
da acção docente quer em campos da formação ini‑ escola, embora nem sempre em simultâneo; v) deve
cial de educadores e professores. configurar‑se como um processo credível; e vi) deve
No presente artigo, tomando como ponto de ser diferenciado, de acordo com as necessidades dos
partida o “itinerário‑tipo” da carreira que delineei professores, designadamente as específicas da sua
e considerando dois campos correlativos da forma‑ etapa de desenvolvimento profissional.
ção — o currículo e a supervisão —, integrarei numa A maneira de ser professor varia, pois, ao longo
reflexão mais global alguns dos resultados obtidos da carreira, configurando um processo evolutivo
em duas dissertações de Mestrado que orientei em que é possível identificar momentos específicos,
(Gaspar, 2003; Severino, 20041), após o respectivo marcados por diferenças de atitude, de sentimentos
enquadramento conceptual. e de empenhamento na prática educativa, resultantes
figura 2
p ro c e s s o s co m u n i cat i vo s na s r e l açõ e s d e s u p e rv i são
p ro c es s o s co m u n i cat i vo s na s
r e l açõ e s d e s u p e rv i são
d e s e n vo lv i m e n to p e s s oa l e p ro f i s s i o na l d o
s u p e rv i s o r e d o s u p e rv i sa d o
e st i l o s d e ac t uação t i p o d e s u p e rv i são o q u e va l o r i z a t i p o s d e s u p e rv i s o r
d o s u p e rv i s o r p r at i ca da
Prescritivo Supervisão activa Os comportamentos ∙ académico
a desenvolver ∙ mestre
∙ mentor
∙ crítico
Interpretativo Supervisão activa As ideias ∙ humanista
∙ reformulador
Apoiante Supervisão reactiva A pessoa ∙ terapeuta
∙ defensor
∙ investigador