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Primeira Guerra Mundial: o uso de gás como


arma química em batalhas
Voltaire Schilling
Edição: André Roca

21 SET 2013 07h43 atualizado em 29/9/2013 às 20h54

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C
om o advento da poderosa indústria química no século 19, foi inevitável que na Primeira
Guerra Mundial, de 1914 a 1918, se usasse o gás venenoso como uma arma de combate.
Depois de duas experiências sem resultados feitas no front ocidental, ainda em 1915, o
exército alemão, seguido dos franceses e ingleses, fez largo uso do gás de cloro e de mostarda a partir
de 1916. Assim, os soldados conheceram mais um abominável instrumento de morte. O pavor dos
atingidos pela nuvem mortífera foi total. Desde então, nada provocou no homem contemporâneo
tamanha fobia do que vir a morrer inalando gás venenoso. Tanto assim que, depois da Grande
Guerra, assinou-se um acordo em Genebra, em 1925, no qual a maioria dos países assumiu o
compromisso de não usá-lo.

SAIBA MAIS

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Primeira Guerra Mundial, 1915: soldados alemães se aproveitam da direção do vento para
lançar gás mortal sobre os inimigos
Foto: Getty Images

O gás no front de batalha


Registra-se o dia 3 de janeiro de 1915 como a data fatídica em que pela primeira vez os alemães
abriram cilindros de gás venenoso sobre as trincheiras inimigas, operação, diga-se, inutilizada pelas
baixas temperaturas do inverno Europeu. Mas logo que o tempo melhorou, com a primavera, em 25
de abril de 1916, a situação foi outra. Nos dias seguintes, na região de Langemarck, perto de Ypres,
uma densa névoa verde-cinza, típica do gás de cloro, expelida de 520 cilindros, começou a soprar em
direção às linhas de um regimento franco-argelino que sustentava a posição nas trincheiras em frente.

Quando os soldados viram aquele vapor tóxico vindo na direção deles, envolvendo tudo, adentrando
por todo os lados, provocando-lhes uma violenta náusea, foi um salve-se quem puder. Era o sopro do
dragão. O pânico fez com que eles, deixando as armas e as mochilas, corressem como loucos para as
linhas da retaguarda em busca da salvação. Tiveram que improvisar algumas máscaras na hora, mas
sem grandes resultados.

Nas trincheiras e nos campos, jogados ao léu, encolhidos, espumando, ficaram os que não
conseguiram escapar. Psicologicamente foi um sucesso. O inimigo desertara em massa. A notícia logo
se espalhou de boca em boca pelos corredores das trincheiras e dos valos onde milhares de homens
se encontravam - um diabo em forma de nuvem fétida estava solto pelos campos de batalha.

A banalização do uso do gás


Em setembro daquele mesmo ano de 1915, os ingleses deram a sua resposta ao ataque de gás em
Ypres, jogando sobre os alemães entrincheirados perto de Loos uma substantiva quantidade de gás
de cloro. Se no começo desse tipo de recorrência ao gás mortífero era costume utilizar grandes
cilindros para despejar veneno ao sabor da direção em que o vento soprava, em seguida avançaram
para o uso de um cartucho próprio, o The Projetor, capaz de lançar cápsulas de gás venenoso a
enorme distância.

A partir do ano de 1916, especialmente durante a longa batalha de Verdun, travada entre alemães e
franceses, o gás entrou em cena de vez. E desta feita foi a estreia de novo gás muito mais mortífero
em seus efeitos do que o cloro - o chamado gás de mostarda (dichlorethylsulphide). De cor amarelada
forte, ele mostrou ser capaz de devastar as linhas adversárias mesmo em meio às tropas equipadas
com máscaras antigas. Em contato direto com qualquer parte da pele da vítima, de imediato, ele
levantava bolhas amareladas, atacando em seguida os olhos e as vias respiratórias. Além disso, tinha
a capacidade de permanecer fazendo efeito durante um tempo bem superior do que os outros, como
o gás lacrimogêneo (lachrymator), não mortal, e o de cloro, seja ele fosfogênico ou difosgênico.

Deste então, pelos dois anos seguintes, até 1918, a paisagem da guerra das trincheiras foi toldada
pela presença sistemática dos vapores do gás de mostarda que, utilizado por ambos os lados, passou
a ser o manto sombrio e enfumaçado da morte asfixiante que cobria os soldados em seus últimos
momentos de vida. Tamanha foi a presença nas batalhas que no ano final da guerra, em 1918, ¼ dos
obuses lançados pela artilharia eram de gás venenoso.

O testemunho de um poeta
Vários escritores testemunharam ou eles mesmo passaram pela terrível experiência do
envenenamento por gás durante a Grande Guerra de 1914-1918. Uma das descrições mais
impressionantes de um ataque por gás contra uma patrulha foi deixada em versos pelo poeta
britânico Wilfred Owen, antes de ser abatido pela metralha alemã uma semana antes do final da
guerra, no dia 4 de novembro de 1918. Owen deixou seu testemunho no célebre poema Dulce et
decorum est:

DULCE ET DECORUM EST (1917)

Totalmente encurvados como se fossem velhos mendigos em fila, joelhos dobrados, tossindo como bruxas, andávamos sobre a maldita lama / Até o
momento em que os insistentes sinalizadores nos fizessem voltar / Então, na distância que nos restava percorrer, começamos a nos arrastar /
Alguns marchavam tontos de sono. Muitos deles haviam perdido suas botas, mancando, com os sapatos ensanguentados / Todos estavam
estropiados, todos cegos: bêbados de fadiga, surdos mesmo aos alarmes de que um cartucho de gás havia estourado ali perto /
Gás! Gás! Rápido rapazes! Num êxtase mal ajeitado, todos tentam colocar a máscara ainda a tempo. Mas alguém continuava gritando alto e
tropeçando, como um homem em meio ao fogo ou a lama / Confuso, como se estive metido numa densa e enevoada vidraça de luz verde, como se
estivesse num mar verde, eu o vi se afogando /
Em todos os sonhos que tive depois dessa desamparada cena, ele aparecia precipitando-se sobre mim, derretendo-se, sufocado, afogado /
Não sei se com esses enfumaçados sonhos você também conseguirá ter paz /
Atrás do vagão em que o jogamos, atentei para o branco dos olhos dele convulsionando-se no seu rosto / A sua cara de enforcado, como se fosse um
diabo vomitado pelo pecado / Você podia escutar, a cada solavanco, o sangue saindo, gorgulhante, dos seus pulmões corrompidos /
Obsceno como um câncer, amargo como fel. Quão vil e incuravelmente inflamado em línguas inocentes / Meu amigo você não vai querer este tipo de
prazer elevado / Tão ardentemente infantil em querer alcançar tal glória desesperada /
É uma velha mentira: Dulce et decorum este Pro patria mori (Quão doce e honrado é morrer pela pátria!) /

A marcha dos
gaseados
Foto: Tela de John
Singer Sargent /
Wikimedia

Mal terminado o conflito, assinado o Armistício em 11 de novembro de 1918, o Comitê do Memorial


da Guerra de Londres encomendou uma tela ao pintor norte-americano John Singer Sargent para vir
ilustrar o Hall of Remembrance, o Salão da Recordação, que iram construir para homenagear os
milhares de mortos na Grande Guerra. Sargent que estivera no front, resolveu retornar às linhas
abandonadas da França, em 1919, em busca de uma inspiração direta. Então se lembrou das filas dos
soldados atingidos pelo gás venenoso que o impressionaram muito. A partir daí, recorrendo às
imagens dos frisos greco-romanos das procissões sagradas, fez uma série de estudos para depois
juntá-los num impressionante painel, em cor pastel, da desolação humana. O resultado da obra de
Sargent foi estarrecedor, parecendo-se uma atualização da "Parábola dos Cegos", tela de Pieter
Brueghel, pintada no século 16, um dos mais impressionantes flagrantes do desamparo que a
cegueira provoca.

É significativo de que a cena de sofrimento que mais comoveu aquela geração de combatentes não
tenha sido o padecimento e as doenças nas trincheiras, nem a morte estraçalhada pelos obuses da
artilharia, nem os ventres abertos pela metralha e pela baioneta, ou os corpos horrivelmente
carbonizados pelo lança-chamas, mas sim a consternação provocada em todos pelos soldados
gaseados.

A parábola dos
cegos
Foto: Tela de Pieter
Brueghel / Wikimedia

Comentário de uma enfermeira


Os horrores dos ferimentos provocados por um ataque por gás mereceram também o registro da
enfermeira Vera Brittain que, logo em seguida ao término da guerra, deixou o seu testemunho no A
testament of youth, de 1918, de onde se retirou o seguinte comentário:

"Eu gostaria que uma dessas pessoas que dizem querer levar a guerra até suas consequências finais
que vissem os soldados envenenados pelo gás de mostarda. Grandes bolhas cor de mostarda, cegos,
todos eles agarrando-se uns aos outros, lutando desesperadamente para respirar, com vozes que são
um sussurro, dizendo que a garganta deles está se fechando e que logo eles vão sufocar-se".

Um testemunho literário
Num dos mais famosos romances da literatura francesa do século 20, Os Thibault, de Roger Martin du
Gard, nos capítulos derradeiros encontra-se uma detalha descrição do efeito que o envenenamento
faz sobre um dos personagens, o médico Antoine Thibault que, internado num sanatório, vai aos
poucos fenecendo até o desenlace fatal.

Tipos de gases
O gás de cloro (Cl2) foi o primeiro deles. Desde então, muitas outras substâncias já o suplantaram.
Podemos classificar as armas químicas de acordo com o modo como atuam.

Principais tipos:

AGENTES ASFIXIANTES AGENTES QUE ATUAM AGENTES CAUSADORES AGENTES AGENTES NERVOSOS
NO SANGUE DE FERIDAS LACRIMOGÊNEOS

Atuam nos pulmões, Também matam por Provocam irritações nos Provocam uma forte Das armas químicas são
causando-lhes sérias asfixia, mas por meio de olhos e na pele. irritação nos olhos. as mais perigosas.
lesões e dificultando a outro mecanismo. São Dependendo da Exemplos: Normalmente não têm cor
respiração. Podem substâncias que se quantidade, causam   nem cheiro. Atuam sobre
provocar a morte por combinam com a feridas, náuseas e H3CCOCH2Cl (cloro- o sistema nervoso,
asfixia. hemoglobina, tornando-a vômitos. A irritação dos acetona) bloqueando a transmissão
Exemplos: incapaz de transportar o pulmões pode matar por   dos impulsos nervosos de
  O2 para as células do asfixia. H3CCOCH2Br (bromo- uma célula (neurônio)
Cl2 (gás cloro) organismo. Exemplos: acetona) para outra. Matam em
  Exemplos:     minutos por parada
COC2 (fosfogênico)   Cl-CH2CH2-S-CH2CH2-Cl H2CCH-COH (acroleína) cardíaca ou respiratória.
  HCN (gás cianídrico) (gás mostarda) Exemplos:
Cl3C-NO2 (cloropicrina)      
ClCN (cloreto de Cl-CH2CH2-N(CH3)- (H3C)2NPO(CN)OCH
cianogênio) CH2CH2-Cl (mostarda de 2CH2 (tabun)
  nitrogênio)  
BrCN (brometo de   H3CPOFOCHCH3CH3
cianogênio)* ClCLCHAsCl2 (Lewisita) (Sarin)
   
*usados nas câmaras de H3POFOCHCH3CCH3
gás e nas sentenças de CH3CH3 (agente VX)
morte ainda hoje nos
EUA

Fonte: dados fornecidos pela professora Margot Andras (Mestre-Unicamp)

Baixas provocadas pelo gás na Primeira Guerra Mundial entre 1915 e 1918:

PAÍS TOTAL DE ATINGIDOS MORTOS

Grã-Bretanha 188.706 8.109

França 190.000 8.000

Estados Unidos 72.807 1.462

Itália 60.000 4.627

Rússia 475.340 56.000

Império Alemão 200.000 9.000

Áustria-Hungria 100.000 3.000

Outros 10.000 1.000

TOTAL 1.296.853 91.198

Fonte: Gas Death in The First World War - learn.co.uk

Nota: ainda que o percentual de mortos seja pequeno em relação aos que foram atingidos pelo efeito
do gás venenoso (7% do total), é de se observar que a intenção do seu uso era mais provocar o pavor
e o pânico coletivo das tropas do que realizar grandes baixas. O gás foi usado para dissolver as linhas
de frente da batalha, para provocar um corre-corre geral que permitiria o avanço daqueles que o
lançavam.

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Fonte: Especial para Terra

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Maria Ribeiro Torrento


Meu avô, infelismente foi vítima desse gás mostarda maldito (infelizmente não o
conheci ) morreu mto novo
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