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Transgressão e crescimento

O RABI NAHUM, DE CHERNOBYL, declarou: “Temo muito mais as boas ações que me acomodam do que as más
ações que me horrorizam!”
A experiência humana é marcada pela alternância de estados despertos e de torpor. Construímo-nos a partir dos
acampamentos que fazemos e do levantar dos mesmos. Mas o rabi Nahum quer frisar a importância de se “horrorizar”,
que é um dos sinais de percepção dos lugares estreitos. Quem não se horroriza perde a capacidade de detectar a
estreiteza. Nossa insensibilidade se beneficia daquilo que não rompe, das ditas “boas ações” que não ferem os códigos
da moral animal. Cada vez que fazemos o esperado, reforçamos um padrão humano automático de torpor. Existe em nós
uma tendência de querer agradar a nós, aos outros e à moral de nossa cultura.
Com isso vamos gradativamente nos perdendo de nós mesmos. E o despertar é a capacidade de perceber situações
horríveis em nossas vidas, tanto no plano particular como no social e cultural. Desse horror surge uma nova forma de ser,
uma nova forma de “família”, uma nova forma de “propriedade” e uma nova forma de “tradição”. A imutabilidade do ser
e da família, da propriedade e da tradição é a proposta desesperada de negar a natureza humana, que é mutante e requer
novas formas de “moral”.
Entre uma moral e outra o ser humano volta a se despir e, desperto, se recorda de sua alma. A esse despertar se
referia o maguid de Mezeridz: “Um cavalo que se sabe cavalo não o é. Este é o árduo trabalho do ser humano: aprender
que não é um cavalo.”
A alma se faz perceptível no despertar e no horror. Em ambos os casos ela se volta para a reconstrução do passado.
Para este, por sua vez, ela é sempre imoral e perigosa.

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