Você está na página 1de 34

ATUALIDADES

- SOLDADO PM -
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94

O inteiro teor desta apostila está sujeito à proteção de direitos autorais.


Copyright © 2016 Loja do Concurseiro. Todos os direitos reservados. O conteúdo
desta apostila não pode ser copiado de forma diferente da referência individual
comercial com todos os direitos autorais ou outras notas de propriedade retidas, e
depois, não pode ser reproduzido ou de outra forma distribuído. Exceto quando
expressamente autorizado, você não deve de outra forma copiar, mostrar, baixar,
distribuir, modificar, reproduzir, republicar ou retransmitir qualquer informação,
texto e/ou documentos contidos nesta apostila ou qualquer parte desta em
qualquer meio eletrônico ou em disco rígido, ou criar qualquer trabalho derivado
com base nessas imagens, texto ou documentos, sem o consentimento expresso
por escrito da Loja do Concurseiro.

Nenhum conteúdo aqui mencionado deve ser interpretado como a concessão


de licença ou direito de qualquer patente, direito autoral ou marca comercial da
Loja do Concurseiro.

2
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

1.4 Pontos negativos:


ATUALIDADES  Alto custo de instalação.
 Elevado impacto ambiental.
 Exige condições naturais favoráveis: relevo
planáltico, rios caudalosos.
PROGRAMA:  Provoca grandes impactos socioambientais na
ATUALIDADES: área de influência.
- Fatos sociais, políticos e econômicos relevantes, para a O potencial hidrelétrico da Amazônia é o maior do país,
Amazônia: apesar do subaproveitamento, tem servido de suporte
- Usinas de Belo Monte e Tucuruí; aos grandes empreendimentos minero-metalúrgico,
através do projeto 2010, voltado ao aproveitamento da
- A Amazônia como manancial de água; energia hidráulica com a construção de macro
- Questão agrária na Amazônia; hidrelétricas.
- Exploração das riquezas minerais;
- A nova fronteira agrícola na Amazônia; 1.5 Fatores relacionados à implantação das grandes
hidrelétricas na Amazônia:
- Movimentos sociais na Amazônia;
- A pecuária no Pará;
a) As condições naturais favoráveis às hidrelétricas: o
relevo da região é formado por grandes depressões e
baixos planaltos, circundadas por planaltos periféricos,
o das Guianas ao norte e o sul amazônico ao sul. A
1. USINA DE BELO MONTE E TUCURUÍ.
planície verdadeira abrange pouco mais de 5% e
corresponde às áreas de várzea no vale amazônico. A
predominância de baixos platôs (terra firme) explica o
grande potencial hidrelétrico da região. Por outro lado,
1.1 Principais hidrelétricas na Amazônia: o clima chuvoso garante rios extensos e caudalosos
contribuem para manter um elevado potencial
 Tucuruí: rio Tocantins (PA).
hidrelétrico na região.
 Balbina: rio Uatumã (AM).
 Samuel: rio Jamari (RO).
 Coaracy Nunes: rio Araguari (AP). b) A crise do petróleo: o encarecimento do preço do
petróleo a partir de 1973 levou o governo federal a
redefinir a política energética com mais investimentos
em outras fontes de energia a exemplo das
1.2 Previstas:
hidrelétricas.
 UHE de Belo monte: rio Xingu (sudoeste do PA)
em projeto.
 UHEs de Stº Antônio e Jirau: rio Madeira (RO). c) Suprir os grandes projetos minerais: a construção das
grandes hidrelétricas na região está relacionada à crise
energética dos anos setenta provocada pelas altas no
preço do petróleo a nível internacional. No plano
1.3 Pontos positivos: interno. A nível nacional a construção de grandes
 Depende de uma fonte natural renovável hidrelétricas na Amazônia era uma maneira de
(água). diversificar a política energética do país e diminuir a
dependência em relação ao petróleo importado cada
 Baixo custo de manutenção (utiliza apenas a
vez mais oneroso para o país, até por que as demais
água do rio). alternativas energéticas tiveram resultados pouco
 Não emite poluentes porque dispensa promissores, como o pró-álcool (reduzido ao setor de
combustão. transporte) e o programa nuclear brasileiro limitado

3
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
pela obsolescência tecnológica. Por outro lado, a Ainda este mês, serão inauguradas as eclusas de
construção das grandes usinas hidrelétricas foi produto Tucuruí, cujo objetivo é transpor o desnível de cerca de
do novo papel do país na divisão internacional do 69 m criado pela construção da Hidrelétrica de Tucuruí
trabalho, fruto da reconversão industrial nos países e dar continuidade à navegação no trecho do rio
capitalistas desenvolvidos. A partir dos anos 70, o Brasil interrompido pela barragem. As eclusas serão quase do
e mais especificamente a Amazônia foram encarregados tamanho do Canal do Panamá e abrirão grandes portas
de receber os setores industriais eletro intensivos de acesso ao Pará e daí para o mundo. A Universidade
(alumínio), ultrapassados tecnologicamente e Federal do Pará integra os projetos de aproveitamento
poluidores do meio ambiente. hidroviário e de derrocamento de pedrais do Rio
Tocantins, sob coordenação do professor Hito Braga de
Os países ricos, como o Japão e os Estados Unidos,
Moraes, da Faculdade de Engenharia Naval.
fecharam as suas fábricas de alumínio e transferiram
para países periféricos, como o Brasil que oferecem A conclusão das obras e a eliminação do conjunto de
diversas vantagens locacionais e socioeconômicas, pedras permitirão a operacionalização da Hidrovia do
como o abundante potencial hidrelétrico, a mão de Tocantins, um antigo sonho dos paraenses. A
obra barata e os incentivos fiscais, além de uma lei inauguração das eclusas I e II constitui, assim, um marco
ambiental branda. socioeconômico no Estado e no Brasil. "Ao interligar o
sul do Pará e o centro-oeste brasileiro ao Porto de Vila
do Conde, em Barcarena, surgirá uma importante
1.6 Impactos das hidrelétricas: alternativa de transporte de produtos na região",
explica o professor. Segundo ele, produtos, como a soja,
o minério e o carvão, poderão ser levados, via hidrovia,
a) O comprometimento da navegação no baixo até o porto de Barcarena, barateando o frete e
Tocantins devido a não conclusão das eclusas na UHE de tornando os insumos mais competitivos no mercado
Tucuruí: a construção de grandes barragens dificulta o internacional. Cabe destacar que o custo por
aproveitamento hidroviário dos rios, na medida em que quilômetro da hidrovia é duas vezes menor que o da
interrompe a navegação natural nos trechos ocupados ferrovia e seis vezes mais baixo que o da rodovia. De
pelas hidrelétricas. Por outro lado, as barragens vêm acordo com o especialista, os impactos positivos
afetando a biodiversidade aquática ao impedir o socioeconômicos e ambientais serão vários. "O Pará só
movimento migratório dos peixes, interrompendo a tem a ganhar. A construção das eclusas trará mais
migração rio acima dos adultos em reprodução e rio investimentos das iniciativas privada e governamental.
abaixo dos alevinos. (Barthem et alii, 1991 apud Uhl et Haverá grande geração de emprego e renda,
alii 1997). As espécies mais afetadas são aqueles representando um ‘boom’ econômico na nossa região",
migrantes como o curimatá, piramutaba, dourada e o ressalta Hito Braga. A diminuição do consumo de óleo
Mapará. A redução dos cardumes vem prejudicando a diesel para o transporte, promovendo redução de
população ribeirinha que tem no peixe um elemento custos e menor emissão de poluentes, é outro benefício
essencial na dieta alimentar. apontado.
Eclusas de Tucuruí já são realidade O pesquisador da UFPA ilustra a relação custo-benefício
da hidrovia com dados numéricos. "Uma balsa pequena,
com capacidade de carga de 2 mil toneladas, ‘retira’ da
rodovia o equivalente a 67 caminhões". O que significa
dizer que, entrando em operação, a Hidrovia do
Tocantins, que será trafegada por comboios com
capacidade de até 18 mil toneladas, desafogará
bastante as rodovias que interligam o Estado do Pará ao
restante do País. A economia com combustíveis no
transporte de minérios e grãos das Regiões Norte e
Centro-Oeste pode chegar a R$ 10 milhões por dia.

por Ana Carolina Pimenta


foto Manoel Neto

4
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

Porto de Vila do Conde terá novo terminal  A barragem retém matéria orgânica e
Assim que as duas eclusas estiverem funcionando, será nutrientes no lago, o que reduz a fertilidade da
possível transportar pelo Rio Tocantins o minério de água e dos solos de várzea à jusante da UHE.
ferro, os grãos do centro do Brasil, o ferro gusa e outros
produtos da siderúrgica que a Vale construirá em
Marabá. O Porto de Vila do Conde não suportará o Os impactos das barragens estendem-se para além das
aumento do volume de carga. Por isso a construção do fronteiras do reservatório, pois é um ecossistema típico
terminal II do Porto de Vila do Conde é outro projeto de rio, os ambientes rio abaixo são nutridos pelo
em que a UFPA encontra-se inserida. material em suspensão carregados pelas águas que se
A conclusão das obras de Tucuruí, o projeto do novo espalham pela várzea. Entretanto, as barragens
porto, o investimento em novas hidrovias e a interrompem essa relação dinâmica, pois, quando o rio
construção de hidrelétricas já com eclusas indicam as se aproxima da hidrelétrica, a velocidade da água
potencialidades da Engenharia Naval na nossa região. O diminui e uma quantidade de sedimentos precipita. Em
setor vive seu melhor momento na atualidade, porém Tucuruí até 90% dos sedimentos suspensos do rio
ainda há carência de profissionais qualificados no Tocantins podem se precipitar no reservatório da
mercado. O professor Hito Braga explica que muitos dos barragem (Petrere apud Uhl et alii, 1997). Esse acúmulo
engenheiros aqui formados vão trabalhar no sul e de sedimentos pode a médio e longo prazo assorear o
sudeste do País, mas a expectativa é que a Região Norte lago de barragem e também diminuir a fertilidade das
passe também a empregar grande parte desses várzeas à jusante da hidrelétrica. A redução da
profissionais. fertilidade das águas vem diminuindo a quantidade de
peixes que dependem dos nutrientes e a produtividade
Os números da obra – De acordo com a Eletronorte, os dos solos de várzea que são realimentados pelas cheias.
investimentos na construção das eclusas I e II de Essas mudanças estão prejudicando a população das
Tucuruí totalizam R$ 1,63 bilhão. No pico da obra, em cidades ao longo do rio Tocantins que depende da
julho de 2009, havia 3.646 operários, sendo cerca de agricultura e da pesca para a alimentação.
80% da mão de obra local e regional. Os tanques
medem 33 metros de largura, por 210 metros de
comprimento, com 44,5 metros de altura. Eles têm d) A desterritorialização da população:
capacidade para dar passagem a 40 milhões de
toneladas de cargas por ano.  O deslocamento compulsório de populações
locais (índios e ribeirinhos), remanejados para
(Publicado em Novembro de 2010) áreas com precária infraestrutura, sendo que
muitos sequer receberam indenizações.
 A mudança do modo de vida ribeirinho
(tradicional), com a mudança das identidades
b) A inundação de uma grande área para a formação do
culturais e das atividades tradicionais
lago da barragem (Tucuruí 2.430 km2):
(agricultura de subsistência, pesca e o
 Perda de biodiversidade: devido a submersão extrativismo florestal) para novas áreas, ou seja,
de florestas e a ausência de estudos sobre os periferia das áreas urbanas. A construção das
impactos ambientais (EIA-Rima). grandes hidrelétricas na Amazônia, a exemplo
de Tucuruí, provocou a inundação de grandes
 Maior acidez das águas e liberação de metano
áreas para a formação do lago de barragem.
com a decomposição da cobertura vegetal. Além do impacto ambiental, a submersão de
grandes territórios exigiu o remanejamento das
populações ribeirinha, indígena e agrícola para
c) Impactos à jusante da barragem: locais distantes, sem infraestrutura e com solos
de baixa fertilidade. Nesse sentido, uma parcela
 A barragem impede a subida dos cardumes
significativa das famílias não se adaptou aos
(piracema) e a descida dos alevinos para o baixo assentamentos e vem lutando contra a
curso, reduzindo as sim a piscosidade à jusante Eletronorte por uma indenização.
da UHE.

5
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
e) A proliferação de mosquitos transmissores de 1.7 A polêmica da UHE de Belo Monte
doenças tropicais: construção de barragens
interrompem o fluxo natural dos rios. A diminuição da
velocidade dos fluxos d’água e a formação do lago de Localização: sudoeste do PA, município de Altamira.
barragem facilita a expansão exponencial das
macrófitas aquáticas, estas espécies além de
prejudicarem a navegação possibilitam a proliferação de Objetivo: suprir a demanda de crescimento dos
insetos que se reproduzem nas suas raízes, sobretudo, próximos 10 anos.
do gênero mansônia transmissor da malária. Pesquisas
realizadas in loco (Tadei 1996) demonstraram que havia
uma relação de até 500 mosquitos por pessoa-hora nos Polêmicas:
arredores do lago de barragem, principalmente nas  A UHE vai inundar uma área de 500 Km²
terras usadas para o assentamento daqueles que atingindo as zonas urbana e rural.
tiveram as suas terras inundadas. A presença dos
 Há uma pressão internacional (ONGS) contra a
mosquitos inviabilizou os assentamentos e levou a
população a pressionar a Eletronorte para a alocação construção da usina devido aos prováveis
dos remanejados em outros locais às proximidades da impactos socioambientais.
barragem.  Existem pesquisas que demonstram a baixa
eficiência no durante a estiagem.

f) O pequeno acesso da energia às pequenas cidades da


região: o imenso potencial hidrelétrico da Amazônia
contrasta com a carência energética de grande parte da Diferenças em relação às usinas mais antigas do
população. Estima-se que mais de 3 milhões de pessoas período militar:
não tenham acesso à eletricidade. Essa contradição
decorre do planejamento do setor elétrico que
 Menor área Inundada: 516 km2, dos quais 228
direcionou a maior parte da energia produzida na região
km2 corresponde ao leito natural do rio,
para abastecer as grandes indústrias eletro intensivas
representando 0,04 km2/MW, 12 vezes inferior
de alumínio e também para suprir outras regiões do
à média nacional de 0,49 km2/MW, como
país, como o Nordeste e o Centro-Sul.
resulta do da revisão do projeto da usina.
Segundo Bertha Becker et al (1996), mais de 50% da
energia gerada pela Eletronorte é consumida pela  A realização e aprovação pelo IBAMA do EIA-
RIMA para evitar ou mitigar impactos às
ALBRÁS e ALUNORTE, grandes exportadoras de alumínio
para os Estados Unidos e Japão. A hidrelétrica de populações às áreas rurais e urbanas.
Tucuruí, por exemplo, destina mais da metade da  Não haverá inundação de área indígena.
energia gerada para os empreendimentos mineradores.
Ao lado disso, o preço da energia para esses projetos é
altamente subsidiado, pois, tomando por base o ano de  Serão criadas Unidades de conservação para
1986, embora o custo da energia de Tucuruí fosse de conter a pressão antrópica.
US$ 0,32 Kwh para o consumidor brasileiro, as
 Será construído canal para garantir a piracema
empresas responsáveis pelos projetos pagavam apenas
e a piscosidade do rio.
US$ 0,15 Kwh, ou seja, com um desconto de 53%. O
custo das hidrelétricas é um outro dado polêmico, pois  Todos serão indenizados e/ou realocados.
as mesmas contribuíram decisivamente para o
 Estão sendo tomadas medidas visando priorizar
endividamento externo, a exemplo de Tucuruí que
o uso da mão de obra local.
representou um custo de aproximadamente 5 bilhões
de dólares, ou mesmo 8 bilhões de dólares, segundo  Estão sendo tomadas medidas para amenizar os
alguns autores. efeitos do crescimento urbano das cidades,
como Altamira.

6
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

Belo Monte inicia geração comercial de energia para o


Brasil
(Autor: Norte Energia)
A Usina Hidrelétrica Belo Monte iniciou a geração
comercial de energia nesta quarta-feira (20/04), com a
entrada da primeira máquina, que adiciona mais 611,11
MW no Sistema Interligado Nacional (SIN).
Belo Monte terá capacidade instalada de 11.233,1 MW,
dos quais 11 mil MW na Casa de Força Principal e 233,1
na Casa de Força Complementar (Foto: Oswaldo Lima –
Norte Energia) A operação comercial de Belo Monte,
maior usina elétrica 100% nacional, teve início apenas
20 dias após a data prevista no Contrato de Concessão –
- 31 de março de 2016 -, um prazo recorde,
principalmente se considerar as inúmeras interrupções
das obras decorrentes de liminares da Justiça, invasões,
ocupações e paralisações nos canteiros. A primeira
turbina a gerar energia comercialmente, no Sítio Belo
Monte, está instalada na Casa de Força Principal do
empreendimento. Lá, estão em fase de montagem
outras 17 unidades geradoras, que serão concluídas e
acionadas, gradativamente, até 2019. Também foram
iniciados os testes para geração comercial da primeira
turbina no Sítio Pimental, onde está o vertedouro e a
barragem principal da usina. Na Casa de Força
Complementar, serão seis turbinas do tipo bulbo, cada
uma com potência de 38,8 MW.
As obras civis de Belo Monte estão praticamente
concluídas e os trabalhos de montagem eletromecânica
continuam no empreendimento. A previsão é que a
cada dois meses, em média, seja ativada uma nova
turbina até o pleno funcionamento da hidrelétrica, em
2019. Belo Monte terá capacidade instalada de
11.233,1 MW, dos quais 11 mil MW na Casa de Força
Principal e 233,1 na Casa de Força Complementar. A
usina gerará para as distribuidoras que compraram
energia em leilão de 2010, atendendo assim 60 milhões
de pessoas em 17 estados do Brasil
(http://norteenergiasa.com.br / 20.04.2016)

7
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
2. A AMAZÔNIA COMO MANANCIAL DE ÁGUA. para a navegação. Os rios São Francisco e Paraná são os
principais rios de planalto.
De maneira geral, os rios têm origem em regiões não
muito elevadas, exceto o rio Amazonas e alguns de seus
2.1 Bacias hidrográficas brasileiras afluentes que nascem na cordilheira andina. Alguns
Entende-se por bacia hidrográfica toda a área de especialistas de acordo com a maneira como fluem as
captação natural da água da chuva que escoa águas, classificam as bacias hidrográficas em dois tipos
superficialmente para um corpo de água ou seu principais:
contribuinte. Os limites da bacia hidrográfica são  Exorréicas: quando as águas drenam direto
definidos pelo relevo, considerando-se como divisores para o mar. Ex.: bacias hidrográficas brasileiras.
de águas as áreas mais elevadas. O corpo de água
 Endorréicas: quando as águas caem em um lago
principal, que dá o nome à bacia, recebe contribuição
dos seus afluentes, sendo que cada um deles pode ou mar fechado. Ex.: bacia hidrográfica da Ásia
apresentar vários contribuintes menores, alimentados Central.
direta ou indiretamente por nascentes. Assim, em uma
bacia existem várias sub-bacias ou áreas de drenagem
de cada contribuinte. A bacia hidrográfica serve como 2.2 Bacia Amazônica:
unidade básica para gestão dos recursos hídricos e até
A maior bacia hidrográfica do planeta tema sua
para gestão ambiental como um todo, uma vez que os
elementos físico-naturais estão interligados pelo ciclo vertente delimitada pelos divisores de água da
da água. cordilheira dos Andes, pelo planalto das Guianas e pelo
planalto Central. Seu rio principal nasce no Peru, com o
nome de Marañon, e passa a ser denominado Solimões
da fronteira brasileira até o encontro com o rio Negro. A
partir daí, recebe o nome de Amazonas. É o rio mais
extenso (total de 7.100 km) e de maior volume de água
do planeta com uma drenagem de 5,8 milhões de km²,
sendo 3,9 milhões no Brasil. Os afluentes do rio
Amazonas nascem, em sua maioria, nos escudos dos
planaltos das Guianas e Brasileiro na Venezuela,
Colômbia, Peru e Bolívia, possuindo, assim, o maior
potencial hidrelétrico disponível do país.

2.3 Aquífero Alter do Chão


A reserva Alter do Chão tem volume de 86 mil km³ de
água potável. É o de maior volume de água potável do
mundo. Quantidade permitiria abastecer população
mundial por 100 vezes. A reserva subterrânea está
localizada sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá.
O Brasil, por exemplo, é dotado de uma vasta e densa Em termos comparativos, a reserva Alter do Chão tem
rede hidrográfica, sendo que muitos de seus rios quase o dobro do volume de água potável que o
destacam-se pela extensão, largura e profundidade. Em Aquífero Guarani – com 45 mil km³ de volume.
decorrência da natureza do relevo, predominam os rios
de planalto que apresentam em seu leito rupturas de O Aquífero Alter do Chão deve ter o nome mudado por
declive, vales encaixados, entre outras características, ser homônimo de um dos principais pontos turísticos do
que lhes conferem um alto potencial para a geração de Pará.
energia elétrica. Quanto à navegabilidade, esses rios, Exemplo do potencial: cerca de 40% do abastecimento
em função de seu perfil não regularizado, ficam um de água de Manaus é originário do Aquífero Alter do
tanto prejudicados. Dentre os grandes rios nacionais, Chão. As demais cidades do Amazonas têm 100% do
apenas o Amazonas e o Paraguai são abastecimento tirado da reserva subterrânea. A água
predominantemente de planície e largamente utilizados dessa reserva é potável, o que demanda menos
tratamento químico. Por outro lado, a médio e longo

8
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

prazo, a exploração mais interessante é da água dos


rios, pois a recuperação da reserva é mais rápida.

O aquífero está posicionado nas bacias do Marajó (PA),


Amazonas, Solimões (AM) e Acre --todas na região
amazônica--, chegando até as bacias subandinas. Para
se ter ideia, a reserva de água equivale a mais de 150
2.4 Maior aquífero do mundo fica no Brasil e quatrilhões de litros. "Daria para abastecer o planeta
abasteceria o planeta por 250 anos por pelo menos 250 anos", estimou Matos.
Imagine uma quantidade de água subterrânea capaz de O aquífero exemplifica a má distribuição do volume
abastecer todo o planeta por 250 anos. Essa reserva hídrico nacional com relação à concentração
existe, está localizada na parte brasileira da Amazônia e populacional. Na Amazônia, vive apenas 5% da
é praticamente subutilizada. Até dois anos atrás, o população do país, mas é a região que concentra mais
aquífero era conhecido como Alter do Chão. Em 2013, da metade de toda água doce existente no Brasil. Por
novos estudos feitos por pesquisadores da UFPA conta disso, a água é subutilizada. Hoje, o aquífero
(Universidade Federal do Pará) apontaram para uma serve apenas para fornecer água para cidades do vale
área maior e deram uma nova definição. "A gente amazônico, com cidades como Manaus e Santarém. "O
avançou bastante e passamos a chamar de SAGA, o que poderíamos fazer era aproveitar para termos outro
Sistema Aquífero Grande Amazônia. Fizemos um estudo ciclo, além do natural, para produção de alimentos, que
e vimos que aquilo que era o Alter do Chão é muito ocorreria por meio da irrigação. Isso poderia ampliar a
maior do que sempre se considerou, e criamos um novo produção de vários tipos de cultivo na Amazônia",
nome para que não ficasse essa confusão", explicou o afirmou Matos. Para o professor, o uso da água do
professor do Instituto de Geociência da UFPA Francisco aquífero deve adotar critérios específicos para evitar
Matos. problemas ambientais. "Esse patrimônio tem de ser
Segundo a pesquisa, o aquífero possui reservas hídricas visto no ciclo hidrológico completo. As águas do sistema
estimadas preliminarmente em 162.520 km³ --sendo a subterrâneo são as que alimentam o rio, que são
maior que se tem conhecimento no planeta. "Isso abastecidos pelas chuvas. Está tudo interligado. É
considerando a reserva até uma profundidade de 500 preciso planejamento para poder entender esse
metros. O aquífero Guarani, que era o maior, tem 39 mil esquema para que o uso seja feito de forma
km³ e já era considerado o maior do mundo", explicou equilibrada. Se fizer errado, pode causar um
Matos. desequilíbrio", disse. Mesmo com a água em
abundância, Matos tem pouca esperança de ver essa
água abastecendo regiões secas, como o semiárido
brasileiro. "O problema todo é que essa água não tem
como ser transportada para Nordeste ou São Paulo.
Para isso seriam necessárias obras faraônicas. Não dá
para pensar hoje em transportar isso em distâncias tão
grandes", afirmou.
(http://noticias.uol.com.br / 21.03.2015)

9
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
3. QUESTÃO AGRÁRIA NA AMAZÔNIA. financiamento do Banco Mundial, começou a ser
implantado em 1982. O núcleo central do programa
foi o asfaltamento da BR-364 (Cuiabá/Porto Velho) e
projetos de colonização e regularização fundiária,
ANTECEDENTES além da “proteção” às áreas indígenas e ao meio
ambiente. O Governo Federal objetivava atrair
camponeses que estavam sendo expulso da região
A IMPLANTAÇÃO DOS PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO Sul, pela modernização agrícola. Por outro lado, era
AGROPECUÁRIOS E OS CONFLITOS AGRÁRIOS NA também uma estratégia para ocupar efetivamente a
AMAZÔNIA porção noroeste da Amazônia. O Polonoroeste
gerou uma imigração de aproximadamente 200 mil
pessoas por ano, entretanto, apenas 5% dos
3.1 CRIAÇÃO DE PROJETOS DE COLONIZAÇÃO agricultores foram assentados, além disso, a vinda
DIRIGIDA: de grandes empresas mineradoras e a abertura das
estradas culminaram com o desmatamento de mais
de 2 milhões de hectares (maior da Região) e a
A utilização da terra como propaganda ideológica, a invasão de territórios indígenas;
partir de 1970, implicou na criação do INCRA, principal
instituição estatal responsável pelo assentamento de
camponeses e distribuição de terras na região, através  Projeto Integrado de Colonização (PIC) na
dos seguintes projetos: Transamazônica: O PIC de Altamira começou a ser
implantado em 1971, após a abertura da rodovia
Transamazônica. De 1971 a 1974, o Estado através
A) OBJETIVOS: do INCRA, criou as condições para a instalação dos
primeiros colonos nordestinos na área. A
 Atrair imigrantes de outras regiões, posto que a
colonização planejada estava baseada na
Amazônia era tida como uma verdadeira Válvula de
instalação de Agrovilas, Agropóles e Ruropóles. A
Escape amenizadora de conflitos agrários em outras
Agrovila representava a menor unidade urbana,
partes do país;
destinada à residência dos colonos e a socialização
 Formar um grande contingente de mão-de-obra da população, oferecendo serviços básicos como
barata para os empreendimentos que estavam se escola, posto de saúde, pequeno comércio,
instalando, por isso o Governo distribuiu terras, mas recreação e administração. A Agropóle
não garantiu infraestrutura para esses imigrantes. representava um pequeno centro comercial e
Por isso os agricultores depois de desbravarem as agroindustrial. Já a Ruropóle, é o centro principal
terras são geralmente “expulsos”, pelas grandes de uma grande comunidade rural constituídas por
empresas e latifundiários, devido à falta de agrovilas e agropóles. Segundo Mariana Miranda
legalização das terras e de apoio do Governo; (1990), essa política de colonização dirigida foi
posta em prática para aliviar as tensões e conflitos
 Convencer a sociedade que o problema agrário não
em outras partes, em especial Nordeste, preservar
estava associado à má distribuição de terras, mas de
as estruturas agrárias vigentes e propiciar a
pessoas, logo a solução seria a redistribuição
expansão capitalista. Seria uma espécie de contra-
populacional das regiões “saturadas”, como o
reforma agrária. A partir de 1974, a nova
Nordeste e o Centro-Sul, para regiões “novas”, o que
orientação político-econômica passou a priorizar os
possibilitou a expansão da fronteira agrícola (regiões
grandes empreendimentos agropecuários e
de expansão capitalista recente, com grande
minerais, em consequência disso, o Estado através
disponibilidade de terras e baixa densidade
do INCRA diminuiu o apoio oficial aos agricultores
demográfica, à exemplo da Amazônia e Centro-
vindos com projetos oficiais e ao mesmo tempo,
Oeste;
ocorreu um aumento na imigração espontânea e
na vinda de produtores capitalizados.
B) OS PRINCIPAIS PROJETOS DE COLONIZAÇÃO: “Sem assistência técnica eficiente, com dificuldades
 Programa Polonoroeste: abrange os estados de para transportar seus produtos, sem acesso ao
Mato Grosso e Rondônia, com recursos de financiamento bancário para investimentos e
aproximadamente 1,5 bilhões de dólares e “servidos” muitas vezes de solos pobres e a falta de

10
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

água no lote, boa parte dos colonos vende suas terras transformou esse estado na principal área de
ou continua em situação ruim. Já se nota ao longo da desenvolvimento agropecuária de toda a Amazônia;
estrada, remembramento de lotes para a formação de
uma propriedade maior, na qual vários colonos são
substituídos por um só proprietário; da lavoura de  A ocupação de muitos lotes oficiais por grandes e
subsistência por pecuárias ou culturas comerciais”. “...a pequenos proprietários oriundos da região Centro-
titulação dos colonos têm sido retardada e o INCRA não Sul, que tiveram acesso as terras de bons solos e
conseguiu a substituir na primeira fase por títulos com certo volume de capital conseguiram expandir a
definitivos de propriedades.” (Pinto, Lúcio Flávio. O produção comercial;
Liberal, Belém, 23 de maio 1977 p.5)

 Mesmo com reduzida parcela de pequenos


camponeses assentados pelos motivos acima
expostos, a colonização dirigida cumpriu os objetivos
do Estado de atenuar as tensões agrárias de outras
regiões, a expansão da fronteira para o hinterland da
Amazônia e a formação de mercado de trabalho
significativo para suprir os grandes projetos privados
e estatais, além de impedir a deflagração de uma
reforma agrária controlada pelos trabalhadores;

3.2 AS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS E EXTRATIVISTAS:

A primeira metade da década de 70, marca a eclosão da


crise do petróleo (1973), que repercutiu negativamente
no Brasil pelo aumento no preço do barril do petróleo e
C) Fazendo um balanço dos projetos de colonização é
pelo encarecimento das importações, além da elevação
possível tirar três conclusões:
da dívida externa. Tais fatores provocaram saldos
 O acesso à terra de muitas famílias camponesas, negativos na balança comercial brasileira. O Governo
mesmo com a baixa produtividade, devido à falta de então, na ânsia de equilibrar a balança comercial,
orientação técnica, financeira governamental. direcionou a economia nacional para o esforço
Apesar do fracasso parcial do Projeto Polonoroeste exportador, isto é, passou a priorizar aquelas atividades
nos seus primeiros objetivos oficiais, a vinda de voltadas ao mercado externo. O Governo cortou a ajuda
camponeses sulistas, grande produtores aos pequenos camponeses que vieram estimulados
agropecuários e empresas agro-industriais, pelos projetos de colonização. O Estado considerou a
contribuíram para a expansão da agricultura e da colonização planejada lenta e com poucos resultados.
pecuária nessa parte da Amazônia. De 1970 a 1980, Assim passou a priorizar determinados grupos
o estado de Rondônia apresentou as mais altas taxas econômicos como: grandes empresas nacionais e
de crescimento econômico anuais da região, estrangeiras, grandes fazendeiros individuais – os
aumentando sua participação no PIB regional de chamados “paulistas” (empresários oriundos do
4,6% para 8,6% nesse período. O setor agropecuário Centro-Sul), além de grupos internacionais. Foram estes
apresentou o mais alto índice de crescimento os segmentos mais beneficiados pelos financiamentos
econômico da região amazônica, com uma taxa do BASA e da SUDAM, para a implantação dos 15
anual de 16,6%, superior a média regional de 9,6%. projetos pecuaristas, extrativistas, agro-industriais, o
Esse crescimento se manifestou de forma mais chamado POLAMAZÔNIA.
concreta no aumento da participação estadual na
produção nacional de arroz em casca (de 0,3% para
2,3%), de feijão em grão (de 0,05% para 3,3%), de
milho (de 0,01% para 1%) e mais recentemente de
rebanho bovino (de 0,02% para 1,2%). Essa grande
transformação na caracterização do espaço

11
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
A) Localização das atividades - corresponde a algumas controladas por empresas nacionais e empresários
áreas como: individuais vindos do Centro-Sul, após a extinção de
antigas reservas florestais da Mata Atlântica e
Araucária.
 Pecuária de terra firme: São áreas de campos
naturais, cerrados e florestas de terra-firme com
solos ácidos no Sudeste do Pará, norte do Mato B) Fatores que favoreceram a expansão da
Grosso e de Tocantins. Nessas áreas foram agropecuária e o extrativismo madeireiro:
implantadas as maiores extensões de pastos (72%),
 A concessão de incentivos fiscais por parte do
principalmente ao longo das rodovias abertas como:
Estado, através da SUDAM e SUFRAMA, que atraiu
Cuiabá-Santarém e Cuiabá-Porto Velho, além da PA-
um grande número de empresas e grandes
150. A possibilidade dos investidores de outras
pecuaristas do Centro-Sul (os paulistas);
regiões e do exterior em adquirir terras por valores
baixos, a abundância de mão-de-obra barata, além
das facilidades fiscais, isto é, subsídios que passavam  O baixo preço da terra na Amazônia se comparada
pela isenção de impostos até o empréstimo de com as outras regiões, fato esse que atraiu
capital a juros abaixo do de mercado (papel da elementos capitalizados interessados em
SUDAM e BASA), justifica, a implantação de grandes desenvolver essas atividades, como também, muitas
projetos pecuaristas, como o implantado em pessoas que objetivavam apenas explorar a terra, ou
Santana do Araguaia (PA). A maioria dos pecuaristas seja, extrair recursos naturais. Ao lado disso, muitas
é proveniente de outras regiões do país, sobretudo empresas “fantasmas” e empresários inescrupulosos
Centro-Sul e migrou para a Amazônia, a partir da aproveitaram o ínfimo preço da terra para adquirir
década de 70. A pecuária nessa região é propriedades, com o objetivo de conseguirem
predominantemente extensiva e prevalece o gado incentivos fiscais dos órgãos governamentais;
bovino da Raça Nelore.

 A abundância de recursos naturais, com a presença


 Pecuária nos campos de várzea: Representa a de grandes extensões de florestas tropicais,
criação realizada na ilha do Marajó e baixo sobretudo, a mata de terra-firme que corresponde a
Amazonas, sendo de caráter extensiva com gado 85% da cobertura vegetal e concentra as principais
bovino e bubalino e possui baixa rentabilidade, espécies de madeiras comerciais;
devido as técnicas arcaicas de manejo, o isolamento
da região e as inundações quando o gado bovino
perde peso, pois o mesmo fica em janelas suspensas C) As consequências:
chamadas de “marombas”. Há uma tendência de
integração da pecuária de várzea do Marajó com as
de terra-firme, através do sistema de recria, visando  O baixo retorno econômico: A pecuária tradicional
à ampliação da rentabilidade, e a maioria dos de caráter extensivo não atingiu bons resultados
produtores é paraense. econômico-ambientais, devido à falta de
zoneamento agropecuário, ou seja, a implantação de
pastagens em florestas densas e de solos ácidos,
 Os territórios da produção de madeira: Corresponde além do manejo deficiente: “O manejo deficiente e o
às áreas de várzeas e terra-firme no baixo e médio pouco trato dos animais ocasionam a baixa
Amazonas, principalmente na calha do rio Amazonas produtividade e consequentemente a baixa
e no arquipélago do Marajó, que possuem madeiras lucratividade para os padrões comercias...”
de lei, como o Mogno, o Cedro, Pau-amarelo e
outras. Alguns municípios dessas áreas como
Melgaço e Portel, foram sedes de grandes empresas  O problema ambiental: Por um lado, a expansão da
internacionais como a GEORGIA PACIFIC, que pecuária intensificou o desmatamento e por outro, a
passara a controlar milhares de hectares de derrubada da floresta acelerou a lixiviação dos solos
florestas, produzindo madeiras para o exterior. Por e reduziu sua fertilidade e consequentemente, a
outro lado, o sul do Pará e a área da Belém-Brasília produtividade da pecuária extensiva. A baixa
também concentraram grande produção madeireira fertilidade dificulta a recuperação dos pastos

12
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

infestados por ervas daninhas o que destrói a vida interferindo na floresta, seja para explorar madeira ou
microbiana do solo e a permeabilidade da terra. produtos florestais não madeireiros, como também
Mesmo assim, a pecuária continua sendo uma para praticar a agricultura tradicional de corte e queima
atividade bastante difundida, em decorrência do e a pecuária extensiva.
baixo preço da terra na Amazônia e dos incentivos
A política de ocupação da Amazônia iniciou-se na
fiscais concedidos pelo Governo. A extração de
década de 50, com a criação da Superintendência para a
madeiras de lei intensificou o desmatamento,
Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA, cujo
sobretudo, ao longo das rodovias, além de gerar um
principal projeto foi a construção da rodovia Belém –
grande desperdício (mais de 50% das espécies não
Brasília. Nos anos sessenta, resultados já mostravam
possui valor comercial) e representar uma atividade
desmatamento às margens da rodovia. No início dos
altamente predatória e socioeconômica e
anos 70, a política para ocupação da região contemplou
ambientalmente. Atualmente é crescente a entrada
a construção de outras estradas (Transamazônica), além
de empresas madeireiras estrangeiras,
do incentivo a pequena agricultura e a pecuária
principalmente asiáticas, que estão adquirindo
extensiva (modelo rural – urbano descentralizado). Esse
grandes áreas na Amazônia Ocidental, o que
modelo rural – urbano não surtiu resultados e em
representa um indicio de aumento da devastação
meados dos anos 70, foi lançada a política dos grandes
florestal na região.
projetos, com grande aporte de capital voltado
principalmente para a mineração, extração de madeira,
pecuária e produção de energia. Assim, surgem os
projetos POLAMAZÔNIA e Grande Carajás que
DETALHE: O ARCO DO DESMATAMENTO juntamente com abertura da rodovia Belém – Brasília,
A expansão da fronteira agrícola e o desflorestamento continuaram contribuindo para o desmatamento da
na Amazônia Legal ocorrem no contexto da região. O modelo de desenvolvimento baseado em
regionalização da agricultura brasileira em seguida à grandes projetos continua atualmente.
industrialização acelerada a partir da década de 50 e,
mais recentemente, com tentativas de adaptação do
D) A decadência das atividades tradicionais
Brasil à globalização da economia. Nesse contexto,
relacionadas ao extrativismo não madeireiro, ou seja, a
diversos fatores podem contribuir para taxas elevadas
exploração da borracha natural e da castanha do Pará.
de desflorestamento, entre as quais a disponibilidade
O avanço da pecuária e da exploração madeireira
de capitais públicos e privados, a dinâmica
reduziu drasticamente as reservas florestais e acabou
populacional, a organização dos sistemas de produção e
dizimando as espécies que serviam de base para o
condições físicas variadas. Todos esses fatores
extrativismo tradicional;
apresentam diferenças importantes entre regiões e
envolvem grupos sociais e redes de produção de
naturezas muito diversas que necessitam
E) As possíveis soluções com o desenvolvimento
reconhecimento regional, social e econômico para a
sustentável: Nos últimos anos, face ao pequeno retorno
formulação de políticas públicas adequadas.
econômico do modelo tradicional, algumas instituições
Na região conhecida como ARCO DO DESMATAMENTO, vêm propondo a implantação de modelo alternativo
que se estende do Maranhão até Rondônia, ocorrem as que leve em conta a sustentabilidade do ecossistema,
mais elevadas taxas de desflorestamento anual sobretudo da floresta. Esse novo modelo implica na
evidenciadas para a Amazônia, e medidas urgentes adoção das seguintes medidas conforme Arima & Uhl
devem ser tomadas para evitar a perda total dos (1996): implantação de novas pastagens em áreas já
recursos naturais dessa estratégica região. Seguindo desmatadas pelo extrativismo madeireiro ou outras
essa dinâmica, a região do “arco do desmatamento” atividade; melhoria da logística como a dos transportes,
vem sofrendo, nos últimos anos, pressão por parte de bem como a incorporação de novas tecnologias ao
grupos de produtores de diferentes regiões do país, que manejo, o que poderia tornar a pecuária mais intensiva,
vem ocupando terras públicas para desenvolvimento de aumentando a produtividade sem a necessidade de
atividades agropecuárias, madeireiras..., elevando as expandir a destruição da floresta; Por fim, uma maior
taxas de desflorestamento anuais. fiscalização por parte das autoridades governamentais
sobre as áreas preservadas e a transformação das
O surgimento de áreas alteradas/degradadas está
mesmas em reservas florestais e as unidades de
diretamente relacionado com o processo de ocupação
conservação diminuiria a oferta de terras e forçaria os
humana na Amazônia. Durante séculos, o homem vem

13
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
criadores a utilizarem melhor suas propriedades para  Área da rodovia Belém-Brasília, principalmente
evitar que as mesmas sejam convertidas em pastagens. município de Paragominas;
Em relação a produção madeireira é necessário a
implantação de um modelo menos predatórios, que
possibilite uma exploração mais criteriosa, através do
“desenvolvimento sustentável” com a adoção de
algumas medidas como: a concepção de que a florestas
tem muito mais a oferecer do que madeiras. A riqueza
florestal inclui também produtos não madeireiro, como:
óleos, resinas, fibras, frutos e outros, que poderão
potencializar a exploração florestal; o manejo florestal
com o abate das árvores mais adultas, evitando assim o
corte precoce e o rápido esgotamento da população; o
aumento no intervalo do corte de 10 anos para no
mínimo 30 anos; a elaboração de um inventário
florestal e o mapeamento das árvores visando evitar o
desperdício de até 7 metros cúbicos de madeira por
hectare; a utilização de tecnologias que evitem a
devastação das áreas adjacentes ao desmatamento,
como o corte dos cipós para evitar danos as árvores não
extraídas.

B) Os personagens envolvidos:
 O Paulista (grande proprietário de terra, geralmente
oriundo do Centro-Sul, voltado para a pecuária);
 Posseiro (pequeno produtor agrícola geralmente
descapitalizado, sem o titulo de posse da terra);
 Grileiro (aquele que se apropria da terra, através de
títulos falsificados em cartório);
 Peão (trabalhador assalariado parcial ou
integralmente)
 Jagunço (pistoleiros a serviço de grandes
fazendeiros);
 Povos da floresta (grupos nativos que vivem do
extrativismo de produtos florestais, como os índios,
castanheiros, seringueiros...);
3.3 O AUMENTO DOS CONFLITOS AGRÁRIOS

C) Fatores dos conflitos agrários:


A) Áreas de conflitos:
 Bico do papagaio nos limites entre os estados do
Pará, Maranhão e Tocantins;  Os incentivos governamentais à grande empresa e
ao grande proprietário – Buscando atender aos
 Norte do Mato Grosso, na região da Cuiabá- objetivos de “ocupação” territorial, o governo
Santarém; federal facilitou, através de incentivos fiscais e
 Região de Corumbiara, no estado de Rondônia; creditícios, a apropriação de terras por pare de
grandes empresas e proprietários fundiários, que
 Oeste do Maranhão; passaram a se instalar na região. Essa propriedade

14
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

foi concedida em detrimento à pequena produção, 4. A NOVA FRONTEIRA AGRÍCOLA NA AMAZÔNIA


que se recente dos mesmos incentivos;

 A política oficial de colonização da Amazônia – A Mapa da Amazônia Legal - Fronteira Agrícola


necessidade de criar um mercado de mão-de-obra
na Amazônia e as tensões sociais em outras regiões, Apresentando grande diversidade natural, social,
em especial a nordestina, fez com que o governo econômica, tecnológica e cultural, a Amazônia Legal
brasileiro estimulasse a migração dos “sem terras”, constitui uma região em crescente processo de
para o espaço amazônico com base no slogan “terra diferenciação que contraria, em muito, a imagem
sem homens para homens sem terras”; difundida pelo mundo de um espaço homogêneo
caracterizado pela presença de uma cobertura florestal
que o identifica tanto interna quanto externamente.
 A estrutura fundiária distorcida – A organização do Na atualidade, esse espaço regional consolida sua
espaço agrário, historicamente desigual quanto ao participação no processo geral de transformação
número e tamanho de propriedades e sua territorial do Brasil e, especificamente, naquele afeto às
distribuição pelas classes sociais. Foi acentuada nos mudanças ocorridas no uso da terra, no qual a
últimos anos com a concentração e o monopólio de expansão/intensificação da agropecuária acaba
terras por pessoas e/ou grupos de alto poder determinando, em grande parte, a dinâmica econômica
econômico; e demográfica desta imensa região, esta última
revelada, no Mapa, pelos indicadores de densidade
demográfica. Assim, ao invés de reproduzir, como nas
 A política de integração do espaço amazônico ao
antigas áreas de incorporação agrícola, estruturas
restante do país – A necessidade de explorar os
produtivas preexistentes, a expansão recente da
recursos da região e de promover uma “ocupação”
fronteira agropecuária na Amazônia constitui, antes de
populacional com vistas à “segurança nacional”, a
mais nada, uma fronteira tecnológica na qual a
partir da década de 60, não levou em consideração a
inovação científica é o elemento central de explicação
garantia de acesso à terra a pequenos produtores e
do novo perfil produtivo do agro regional.
não respeitou a organização e a estrutura produtiva
das populações amazônicas tradicionais, a exemplo Nesse sentido, a distribuição dos cultivos de grãos, em
dos povos indígenas; especial da soja, milho e arroz, assim como do algodão
na Amazônia, mostrada no Mapa, tem sua dinâmica
espacial associada, em grande parte, não somente à
 A necessidade capitalista de exploração dos pesquisa científica, que possibilitou a adaptação de
recursos naturais amazônicos – O potencial dos novas espécies vegetais às características do cerrado,
recursos amazônicos, em especial a descoberta de como ao uso intensivo de máquinas, equipamentos e
recursos minerais nos últimos anos, provocou um insumos, determinantes dos elevados índices de
processo de grilagem de terras, de maneira a produtividade aí alcançados.
garantir sua exploração por agentes com interesses A potencialidade para o cultivo de grãos em grande
lucrativos; escala encontra-se, principalmente, nas áreas de
cerrados da Amazônia Legal, aí incluídos o Mato Grosso,
Tocantins e sul do Maranhão, onde domina um clima
 A intensificação do processo de grilagem de terras –
com período seco definido e a topografia plana admite
A existência de grandes extensões de terra
a mecanização ao mesmo tempo que os solos
despertou o interesse de arrivistas que se utilizaram
apresentam características que respondem à moderna
do mecanismo da grilagem (falsificação do título de
tecnologia empregada. Nesse sentido, a distribuição
terra) com o objetivo de garantir a apropriação das
espacial das principais lavouras temporárias e, em
mesmas, intensificando os conflitos em decorrência
especial, do cultivo da soja, revela a feição atual de uma
de expropriação das populações aí existentes;
dinâmica territorial que conjuga inovação tecnológica à
expansão horizontal de cultivos modernizados
predominantemente em áreas de cerrado de baixa
densidade demográfica. Tais áreas eram
tradicionalmente ocupadas por uma pecuária extensiva

15
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
ou se apresentavam encobertas por uma vegetação Marabá e Redenção, no Pará, reflete a implementação
original de cerrado ou, em menor escala, de floresta, às de políticas estaduais de incentivo a plantios comerciais
quais se associavam características naturais limitantes fora das áreas de expansão dessa cultura nos cerrados
de seu potencial produtivo. de Mato Grosso, Tocantins e de Balsas, no sul do
Maranhão e Piauí.
Partindo do município de Itiquira, a sudeste de Mato
Grosso, a soja iria se expandir, nos anos 80, para a Associada ao processo de expansão da fronteira
região de influência de Rondonópolis e, mais adiante, agrícola, a distribuição espacial das áreas desmatadas,
de Cuiabá, alcançando, em meados dessa década, a assim como dos focos de calor, reflete, diretamente, o
porção central deste estado. Um registro desse crescimento de atividades intrinsecamente articuladas a
deslocamento espacial constitui o posicionamento de esse processo, tais como a extração de madeira e a
Itiquira e Cuiabá no ranking dos municípios que se abertura de pastagem, que compõem, juntamente com
destacam no contexto estadual, no qual Itiquira atinge o a expansão do cultivo de grãos, um mosaico de usos
terceiro lugar, em 1985, e o quinto, em 1995, enquanto diferenciados do espaço amazônico que vêem
o município de Diamantino pularia de terceiro para o alterando, de forma radical, a dinâmica tradicional de
sétimo lugar, entre esses dois anos comparativos. ocupação da Amazônia brasileira.
Em meados da década de 90, Campo Novo dos Parecis, Com efeito, a entrada da agricultura capitalizada na
Sorriso, Primavera do Leste e Lucas do Rio Verde Amazônia constitui uma novidade histórica no uso da
assumiriam a liderança na produção estadual revelando terra de uma região cuja economia girava em torno da
o deslocamento de uma produção, cada vez maior, que atividade extrativa mineral e do extrativismo vegetal,
se deslocava do centro-sul para o centro-norte do principalmente, da borracha, cuja sobrevivência, na
Estado, em direção ao eixo da BR-163 (Cuiabá- atualidade, depende, em grande parte, do empenho
Santarém) onde o município de Sorriso, isoladamente, das populações locais em preservar suas formas
detém, atualmente, mais de 10% da produção nacional coletivas de apropriação e uso dos recursos naturais,
de soja. No curso dessa dinâmica, novos padrões de uso contando para isso com forte apoio internacional.
agrícola da terra vão se consolidando nas áreas de
Acumulam-se, assim, evidências sinalizadoras de
ocupação mais estabilizadas, como a região de
importantes mudanças na estrutura e desempenho do
Rondonópolis, onde se afirma o binômio soja-milho.
setor agropecuário nessa região muitas das quais
Já no eixo central da BR-163 aparecem grandes áreas de associadas à introdução de novas tecnologias, métodos
expansão de soja até a altura dos municípios de Sorriso, e culturas no campo, cujos efeitos afetam o ambiente
que atualmente concentra mais de 10% da produção natural - via desmatamento, erosão e poluição hídrica,
nacional, e Sinop, onde termina a atividade agrícola em entre outros - assim como recaem sobre a geração de
grande escala, enquanto nas áreas de domínio florestal, renda, emprego e condições de vida geral de sua
a norte desse município, à sensível diminuição do população.
volume de produção associa-se o domínio da rizicultura
Finalmente, dentre os elementos centrais que
enquanto cultura ligada à incorporação de novas áreas
acompanham e induzem o movimento de
à produção. Esta última aparece associada seja à
transformação nessa região, a expansão da rede viária
abertura de pasto ou mesmo, mais recentemente, à
conjugada à da rede de cidades e vilas constituem,
implantação de novas culturas comerciais, como a soja,
seguramente, a face mais visível das transformações
milho e, mais recentemente, o algodão. Com efeito, na
operadas no território amazônico. Com efeito, a criação
região de Alta Floresta, no norte de Mato Grosso, onde
de novos povoados, vilas e cidades, isto é, a distribuição
se encontra a área de transição entre o cerrado e a
das sedes urbanas constituem fator preponderante na
floresta, com a mudança da paisagem pelo aumento da
dinâmica de expansão da fronteira agropecuária nessa
declividade, presença de solo pedregoso e índices de
imensa região cuja vida econômica era pautada, até há
pluviosidade mais elevados que na região de cerrado, a
bem pouco tempo, pelo ritmo e acessibilidade ditados
produção agrícola se reduz drasticamente.
pelo traçado dos rios.
Para oeste, pela região alcançada direta e
Servindo de ponto de apoio técnico e operacional além
indiretamente pela BR-364 (Cuiabá-Porto Velho), a
de polo de difusão da comunicação regional, as cidades
lavoura da soja atingiria enorme expressão territorial e
do interior amazônico concentram, cada vez mais, os
elevado nível de capitalização dentro de uma dinâmica
serviços e a mão-de-obra envolvidos na realização, em
que já começa a penetrar no território de Rondônia a
bases modernas, do processo de produção
partir do sudeste. Hoje em dia, o crescimento de alguns
agroindustrial. Nesse sentido, não só a expansão
pólos de plantio de soja na região de Santarém e de

16
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

agropecuária está intimamente associada com a dos 5. MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA


demais setores econômicos, como existe uma ordem de
precedência nessa associação no sentido de que o
crescimento da agropecuária antecede (e determina) o
crescimento da indústria e dos serviços mesmo em Os movimentos sociais na Amazônia e o
áreas onde a política pública não atuou, desenvolvimento sustentável
fundamentalmente, em apoio às atividades urbanas.
A expansão da produção e a contínua ampliação-
intensificação das áreas incorporadas às atividade A Amazônia é uma região que apresenta enorme
agropecuárias ampliam a demanda interna e atraem diversidade de grupos sociais, com culturas específicas.
investimentos em infraestrutura, criando um vasto Diante dos problemas ocasionados pelo tipo de
leque de oportunidades não só para o setor industrial e desenvolvimento que se estabeleceu na região, as
de serviços envolvido diretamente no agronegócio na populações locais se organizaram em busca de
Amazônia. Além dessas oportunidades geradas, os conquistas sociais. Esses povos formam hoje grupos
serviços ligados diretamente à população urbana atuantes, que lutam pelas questões ambientais,
constituem um dos ramos que tem se beneficiado culturais e socioeconômicas. Entre esses grupos,
diretamente com o surgimento e ampliação das destacam-se populações indígenas, os caboclos,
pequenas e médias cidades situadas na fronteira seringueiros, castanheiros, açaizeiros, ribeirinhos,
amazônica, envolvendo, nesse sentido, a demanda por pescadores, as populações remanescentes de
escolas, serviços médicos e de alimentação, além de quilombos, catadeiras de coco de babaçu, pessoas
estimular o crescimento do comércio local, ampliando o atingidas por barragens e assentadas.
leque de atividades reveladoras da sólida associação Esses grupos expressão identidades próprias, originadas
campo-cidade que acompanha na atualidade a em diferentes situações: relativas a problemas sociais
expansão da fronteira agropecuária na Amazônia. ou étnicos, no caso de índios e dos negros, ligadas a
Nesse sentido, a convergência dos padrões regionais de relação com a natureza, no caso dos extrativistas; ou a
uso da terra longe de expressar a continuidade do movimentos político-sociais, no caso das pessoas
projeto geopolítico de incorporação da fronteira, que atingidas por: barragens, em assentamentos de
marcou a ocupação territorial da Amazônia nos anos 70, trabalhadores rurais e etc.
expressa, atualmente, um processo de ocupação Esses movimentos representam uma nova perspectiva
agropecuária associada a uma maior articulação ao para as pessoas que viviam de favores das classes
espaço econômico nacional a partir de interesses dominantes e que vem da organização social uma
provenientes tanto de fora como de dentro da própria possibilidade de superar as dificuldades e as condições
região. estabelecidas. Outro fato que deve ser destacado é que
(http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia esses grupos atingiram visibilidade tanto nacional
/mapas_doc3.shtm) quanto internacional, o que vem lhes dando força para
continuar a luta. Os seringueiros, por exemplo,
organizaram-se e conseguiram estabelecer, até o ano
de 2009, 53 Reservas Extrativistas (Resex), que ocupam
uma área de 12.303.711 hectares.
Após a década de 1980, a população indígena brasileira
cresceu, especialmente em virtude da maior
organização social e do estabelecimento de novas
políticas públicas conquistadas por esse grupo social,
com a criação de Reservas Indígenas.
Os quilombolas são outros grupo que ganhou destaque
na Amazônia por sua atuação na luta ambiental e pela
conquista de identidade. Nessa região existem cerca de
360 comunidades remanescentes de quilombolas.

17
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
aos novos integrantes da Comissão Nacional de Política
Indigenista (CNPI), antiga reivindicação indígena, e
anunciará um concurso para preencher cargos na Funai.
A homologação das terras indígenas pela presidente
resgata o grande atraso de sua gestão neste campo. “Os
números são gritantes de como caiu o ritmo do
processo de reconhecimento de terras indígenas nos
governos Dilma, em relação a Lula e FHC”, diz Marcio
Santilli, sócio-fundador do InstitutoSocioambiental
(ISA). Segundo a Funai, durante os governos de
Fernando Henrique Cardoso, 141 terras indígenas foram
homologadas, 84 nas duas gestões de Luiz Inácio Lula
da Silva, e 19 por Dilma. Aqui, contudo, é preciso fazer a
ressalva que os casos mais complexos de resolver
ficaram por último.
5.1 PRESIDENTE BUSCA APROXIMAÇÃO COM POVOS “Isso se aplica também a unidades de conservação e à
INDÍGENAS reforma agrária. A tudo que se aplica à destinação de
terras para fins socioambientais”, continua. Os atos de
sexta-feira irão “melhorar um pouco a estatística de
http://amazonia.org.br/tag/movimentos-sociais Dilma para a História, mas ela continuará em último
(28.04.2016) lugar”, diz Santilli, que foi presidente da Funai na gestão
FHC.

Em mais um ato para tentar demarcar diferenças com o O processo de demarcação de terras indígenas tem
vice-presidente Michel Temer (PMDB) na relação com várias etapas e em três delas ocorre a publicação no
movimentos sociais, a presidente Dilma Rousseff “Diário Oficial”. A primeira acontece quando a Funai
receberá na sexta-feira, no Palácio do Planalto, povos publica o relatório da equipe de antropólogos
indígenas para uma cerimônia de assinatura de identificando e delimitando áreas indígenas. No dia do
transferência de terras para essas comunidades. O Índio, a Funai publicou quatro destes atos relativos a
evento ocorrerá dois dias depois de uma reunião do terras no Amazonas, Pará, Mato Grosso do Sul e Paraná.
pemedebista com representantes do agronegócio, entre O passo seguinte é a portaria declaratória do Ministério
eles o Instituto Pensar, que sustenta financeiramente a da Justiça. Nos últimos dias o ministro Eugênio Aragão
bancada ruralista. Será o primeiro ato no Palácio desde mandou expedir cinco delas (duas de terras no
que o impeachment foi aprovado na Câmara dos Amazonas e três no Mato Grosso), liberando decisões
Deputados, em 17 de abril. Dilma priorizou reuniões de áreas já sem pendências, mas que continuavam na
com ministros mais próximos, parlamentares e gaveta. “A edição dos atos é lucro para os índios, em
governadores. Além disso, viajou para Nova York na qualquer hipótese porque permite a eles recorrer na
semana passada e ontem para a Bahia. Justiça”, diz Santilli, que atribui os avanços dos últimos
dias a Aragão e ao presidente da Funai.
Dilma realizou seis cerimônias públicas ligadas a setores
caros aos movimentos sociais em abril, antes da O último passo no processo de demarcação é a
aprovação do impeachment. Alguns foram decididos em homologação das terras pela Presidência. Temer pode,
cima da hora, como o lançamento do Programa Hora do teoricamente, recuar da decisão de Dilma. “Acho muito
Enem, em 5 de abril, no Palácio do Planalto. O evento improvável, fica muito ruim. E não há precedente”, diz
estava previsto para acontecer no Instituto Federal de o indigenista.
Brasília e sem a presença da presidente. Em busca de A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) discute
agendas positivas, foi trazido para o Palácio do Planalto. propostas a ser apresentadas ao vice-presidente. Uma
O ato de sexta-feira, inicialmente previsto para hoje, foi delas é o uso das Forças Armadas para resolver conflitos
informado pelo presidente da Fundação Nacional do agrários. “Se há uma invasão ilegal em um Estado e de
Índio (Funai), João Pedro da Costa, ao núcleo agrário do repente as próprias forças locais não conseguem
PT. O número de terras indígenas que serão resolver com efetividade, esse movimento pode se
homologadas, de oito a 14, ainda não está fechado e espalhar pelo Brasil. É preciso uma atuação mais
depende do aval da presidente. Dilma ainda dará posse efetiva”, diz o deputado Marcos Montes (PSD-MG),

18
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

presidente da bancada ruralista. Movimentos ligados ao ocorreu o massacre. Lá, 19 castanheiras foram
PT, como o MST, prometem mobilizações constantes plantadas em homenagem às vítimas da chacina. Este
durante o governo Temer. ano, juntam-se a eles dezenas de representantes de
movimentos em defesa da reforma agrária que vieram
A bancada quer que a Agricultura não seja usada para
de países da África, Ásia, América Latina e Europa.
compor apoio partidário no Congresso – nos últimos
“Eldorado dos Carajás é um evento emblemático para a
dias circulam informações de que a Pasta pode ser
comunidade internacional que luta pela reforma
entregue ao PRB. “É o ministério que sustenta a
agrária, que abriu nossos olhos para a necessidade de
economia”, diz Montes. “Os ruralistas estão
globalizar a luta”, disse Faustino Torrez, da Asociación
comemorando antes do tempo. Se Temer assumir,
de Trabajadores del Campo (ATC), da Nicarágua.
existe unidade dos movimentos sociais do campo para
pressionarem o governo pela sua pauta. Os movimentos A grande comoção mundial gerada pela dramaticidade
não permitirão que a pauta conservadora domine”, do massacre – no qual os legistas apontaram a
disse o deputado João Daniel (PT-SE), coordenador do ocorrência de execuções à queima roupa de
núcleo agrário da bancada petista. camponeses, além de trabalhadores mutilados após
serem perseguidos pelos policiais até as barracas nas
Por: Raphael Di Cunto, Lucas Marchesini e Daniela
quais acampavam à beira da estrada – levou o dia 17 de
ChiarettiFonte: Valor Econômico
abril a se tornar o Dia Internacional de Luta no Campo.
O ato realizado neste domingo pede também pelo fim
5.2 CONFLITO AGRÁRIO: 20 ANOS APÓS MASSACRE, da impunidade no campo. Até hoje, dos 154 policiais
TENSÃO PERSISTE EM ELDORADO DOS CARAJÁS militares denunciados pelo Ministério Público, apenas
dois foram condenados por homicídio doloso e
encontram-se presos, o coronel Mário Collares Pantoja
http://amazonia.org.br/tag/movimentos-sociais e o major José Maria Pereira, que comandaram a ação
(17.04.2016) no dia do massacre. A falta de punição dos envolvidos é
apontada como uma das principais razões pelas quais a
região de Eldorado dos Carajás continua entre as mais
tensas do campo brasileiro. De acordo com um
levantamento feito pela Comissão Pastoral da Terra
(CPT), dos 846 assassinatos registrados na região entre
1980 a 2014, apenas 293 tiveram inquérito policial
instaurado. Desses, 62 pessoas foram levadas a
julgamento. “O massacre acabou estimulando ainda
mais a luta dos camponeses na região pela disputa da
terra. Por outro lado, também resultou numa
continuidade da situação de violência. Apenas após o
massacre, de 1996 para cá, a CPT registrou 271
assassinatos de trabalhadores rurais no estado do Pará,
No dia 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores rurais sendo a maioria absoluta nessa região do sul e sudeste
sem-terra foram mortos no episódio que ficou do estado”, disse João Batista Afonso, coordenador da
conhecido como massacre de Eldorado dos Carajás área jurídica da Pastoral em Marabá, maior cidade da
João Roberto Ripper/Direitos Reservados região. Segundo a CPT, existem no momento 130
fazendas ocupadas por acampamentos do MST no sul
do Pará. Enquanto algumas dessas ocupações foram
Passadas duas décadas do massacre em que 19 montadas nos primeiros meses deste ano, outras já
trabalhadores sem-terra foram mortos pela Polícia completam duas décadas sem que se tenha sido
Militar, a região de Eldorado dos Carajás, no sudeste do resolvido o impasse pela disputa de terras. Estima-se
Pará, volta a ser o centro das atenções da comunidade que aproximadamente 14 mil famílias estejam
internacional dedicada à luta no campo e permanece acampadas ou aguardando por assentamento na região.
uma das áreas de maior tensão no meio rural brasileiro.
Como em todos os anos, as 690 famílias sobreviventes
que hoje vivem no assentamento 17 de abril participam
de um ato ecumênico na curva do “S”, na BR-155, onde

19
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
externo. O governo cortou a ajuda aos pequenos
camponeses que vieram estimulados pelos projetos de
colonização. O Estado considera a colonização
planejada lenta e com poucos resultados. Assim passou
a priorizar determinados grupos, como grandes
empresas nacionais e estrangeiras, grandes fazendeiros
individuais, os chamados “paulistas” (empresários
oriundos do Centro-Sul), além de grupos internacionais.
Esses segmentos foram os grandes beneficiados pelos
incentivos fiscais da SUDAM e BASA, para a implantação
de 15 projetos pecuaristas, extrativistas e
agroindustriais, é o chamado Projeto POLAMAZÔNIA.
Eldorado dos Carajás, no sudeste do Pará, foi palco de
violenta ação da Polícia Militar há 20 anos. Mais de
150 policiais foram denunciados pelo Ministério 6.1 Localização das atividades:
Público João Roberto Ripper/Direitos Reservados
Pecuária de terra firme: são as áreas de campos
naturais, cerrados e florestas de terras firmes com solos
Para o procurador do Ministério Público Federal Felício ácidos no sudeste do Pará, norte do Mato Grosso e de
Pontes, que há mais de uma década atua na conciliação Tocantins. Nessas áreas foram implantados as maiores
de conflitos no Pará, a tensão na região é resultado do extensões de pastos (72%), principalmente ao longo das
modelo de desenvolvimento implantando nos arredores novas rodovias abertas, como: Belém-Brasília,
de Eldorado dos Carajás, baseado na extração mineral. Transamazônica, Cuiabá-Santarém e Cuiabá-Porto
“Com essa crise econômica, agravada pela queda do Velho, além da PA-150. A possibilidade dos investidores
preço das commodities minerais, diminuiu muito a de outras regiões e do exterior em adquirir terras por
produção e houve uma retração na economia dessa valores baixos, a abundância de mão de obra barata,
região”, disse Pontes. Com isso, as pessoas que chegam além das facilidades fiscais, ou seja, subsídios que
em busca de emprego e não conseguem voltar buscam passavam pela isenção de impostos até o empréstimo
sobrevivência em terras públicas, muitas vezes de capital a juros abaixo do de mercado (papel da
reivindicadas por posseiros. “Enquanto persistir esse SUDAM e BASA), justifica a implantação de grandes
modelo, a violência vai continuar”, avaliou. projetos pecuaristas, como o da WV implantado no
município de Santana do Araguaia (PA). A maioria dos
Por: Felipe Pontes pecuaristas é proveniente de outras regiões do país,
Fonte: Agência Brasil – EBC sobretudo, do Centro-Sul e migrou para essa região a
Edição: Lana Cristina partir dos anos 70. A pecuária nessa região é
predominantemente extensiva e prevalece o gado
bovino da raça nelore.

6. A PECUÁRIA NO PARÁ.
Pecuária nos campos de várzea: representa a criação
realizada na ilha do Marajó e baixo amazonas, sendo de
caráter extensiva com gado bovino e bubalino e possui
baixa rentabilidade, devido às técnicas arcaicas de
As atividades agropecuárias e extrativistas
manejo, o isolamento da região e as inundações
A partir de 1974, a primeira metade da década de 70 quando o gado bovino perde peso, pois, o mesmo fica
marca a eclosão da crise do petróleo (1973), que em jangadas suspensas chamadas de “marombas”. Há
repercutiu negativamente no Brasil pelo aumento do uma tendência de integração da pecuária de várzea do
preço do petróleo e pelo encarecimento das Marajó com as áreas de terra firme, através do sistema
importações, além da elevação dos juros da dívida de recria, visando ampliar a rentabilidade da atividade.
externa. Tais fatores provocaram saldos negativos na A maioria dos produtores são de origem paraense.
balança comercial. O governo então, na ânsia de
equilibrar a balança comercial, direcionou a economia
nacional para o “esforço exportador”, ou seja, passou a
priorizar aquelas atividades voltadas ao mercado

20
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

6.2 Fatores que favoreceram a expansão da desenvolvimento do País (Isa, 2000). Portanto, a
agropecuária e extrativismo madeireiro: expansão da pecuária na região deverá considerar seus
impactos ambientais e ecológicos.
A) A concessão de incentivos fiscais por parte do
Estado, através da Sudam e Suframa, que atraiu um Causas do crescimento da pecuária na Amazônia
grande número de empresas e grandes pecuaristas do
A pecuária na Amazônia é diversa, incluindo regiões e
Centro-Sul (os paulistas).
propriedades com produtividade alta e baixa. Segundo
B) O baixo preço da terra na Amazônia se comparada a o IBGE, a pecuária mais produtiva utilizava uma lotação
outras regiões, fato esse que atraiu elementos média de 1,4 animal por hectare em 1995, enquanto a
capitalizados interessados em desenvolver essas de baixa produtividade utilizava apenas 0,50 cabeça/ha.
atividades, como também muitas pessoas que A seguir explicamos o crescimento desses dois tipos de
objetivavam apenas explorar a terra, ou seja, extrair os pecuária. Lucratividade, baixo preço da terra e
recursos naturais. Ao lado disso, muitas empresas produtividade.
fantasmas e empresários inescrupulosos aproveitaram o
A pecuária mais produtiva cresce na Amazônia porque é
ínfimo preço da terra para adquirir propriedades no
mais lucrativa do que em outras regiões do Brasil. Por
intuito de conseguirem incentivos fiscais dos órgãos
exemplo, a taxa média de retorno do investimento –
governamentais.
definido como a porcentagem do lucro líquido sobre
C) A abundância de recursos naturais, com a presença patrimônio – no sistema de cria, recria e engorda em
de grandes extensões de florestas tropicais, sobretudo, larga escala nas principais regiões produtoras da
a mata de terra firme que corresponde a 85% da Amazônia (Sul do Pará, Mato Grosso, Rondônia) 8 de
cobertura vegetal e concentra as principais espécies de 4,6% foi cerca de 35% maior do que no Centro-Sul do
madeiras comerciais. Brasil (3,4%). Outros sistemas de criação em larga
escala também são significativamente mais lucrativos.
Os sistemas de média escala, com apenas 500 animais,
6.3 A pecuária atualmente: também foram mais lucrativos na Amazônia. De fato, o
retorno sobre o investimento na região pode ser ainda
mais atrativo na Amazônia quando consideramos o
O crescimento da pecuária na Amazônia Entre 1990 e potencial de valorização da terra. Por exemplo,
2003, a taxa média de crescimento anual do rebanho na Margulis (2003) estimou que a taxa interna de retorno
Amazônia Legal (6,9%) foi dez vezes maior do que no do investimento em pecuária na Amazônia onde havia
restante do País (0,67%). Assim, a Amazônia Legal valorização da terra era 34% maior do que em áreas
ampliou a sua participação no rebanho nacional de 22% onde não havia valorização (respectivamente 15,5%
para 33%. Nesse período, o Mato Grosso e o Pará foram versus 11,5%).
os principais produtores, os quais somavam em 2003
quase 60% do rebanho da região. Os três principais A pecuária na Amazônia é mais lucrativa por causa de
Estados produtores em 2003 (MT, PA e RO) duas vantagens principais em relação às outras regiões
contribuíram com 81% do crescimento do rebanho pecuaristas no Brasil. A principal delas é o baixo preço
entre 1990 e 2003. As maiores taxas de crescimento da terra que reduz os custos de produção. O preço de
entre 1990 e 2003 ocorreram em Rondônia (14%/ano), pastos na Amazônia era, entre 1970 e 2000, cerca de
Acre (12,6%/ano), Mato Grosso (8%/ano) e Pará cinco vezes mais baixo que em São Paulo e, em 2002,
(6%/ano). Mesmo as menores taxas de crescimento do equivalia de 35% a 65% do preço praticado no Centro-
rebanho – Amapá (1,2%/ano) e Roraima (1,6% /ano) – Sul. Os preços de pastos na região Centro-Sul
foram maiores do que a taxa média de crescimento no aumentaram porque em parte dessas terras é possível
restante do Brasil (0,7%/ano). O crescimento da praticar agricultura mecanizada (grãos ou cana-de-
pecuária na região é responsável em grande parte pelo açúcar) que, em geral, é mais lucrativa do que a
desmatamento e suas consequências negativas. Por pecuária. Por outro lado, o preço da terra em boa parte
exemplo, quase 80% da área desmatada em 1995 eram da Amazônia é baixo porque ainda não existem usos
pastos. Por outro lado, a sociedade brasileira e a alternativos à pecuária.
comunidade internacional protestam contra o Além do baixo preço da terra, as pastagens nas
desmatamento. Em uma pesquisa de opinião no Brasil, principais regiões produtoras da Amazônia são mais
88% dos entrevistados responderam que a proteção das produtivas do que em outras regiões do Brasil. Por
florestas deveria ser maior e 93% declararam acreditar exemplo, a produtividade média de vários sistemas de
que a proteção ambiental não prejudica o

21
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
criação em larga escala na Amazônia foi cerca de 10% Evolução do rebanho bovino nos Estados da Amazônia
maior do que no restante do Brasil. Legal entre 1990 e 2003
A pecuária mais produtiva da Amazônia tende a
localizar-se onde há boa distribuição de chuvas – ou
seja, acima de 1.600 mm/ano e abaixo de 2.200
mm/ano – em uma região que corres corresponde a
aproximadamente 40% da Amazônia. Além da boa
distribuição de chuvas, pecuaristas justificam a maior
produtividade nas principais áreas pecuaristas
amazônicas pela ausência de geadas na região. A maior
produtividade aliada ao menor preço das pastagens é
suficiente para compensar os menores preços recebidos
pelo gado na Amazônia; isto é, os produtores
conseguem obter maior retorno pelo investimento do
que no Centro-Sul mesmo recebendo um preço pelo Destino da venda de carne dos frigoríficos visitados na
gado de 10% a 19% mais baixo que o preço pago aos
Amazônia em 2000
produtores daquela região.

Subsídios naturais e financeiros


Além do melhor retorno do investimento, os
pecuaristas da Amazônia contaram com vantagens
adicionais para expandir suas atividades. Por exemplo, o
acesso relativamente fácil a terras públicas e a baixa
aplicação da lei florestal permitem o acúmulo de capital
por meio da exploração ilegal de madeira; parte desse
capital é investida na pecuária. Além disso, os fundos
constitucionais destinados à Amazônia Legal emprestam
dinheiro a taxas de juros de 6% a 10,75% ao ano (bem
abaixo da praticada no mercado19) e permitem
descontos de 15% a 25% para produtores adimplentes.
Entre 1989 e 2002, o Banco da Amazônia emprestou
cerca de U$ 5,8 bilhões do FNO (exceto para Mato
Grosso e Maranhão), dos quais pelo menos US$ 2,36
bilhões (40%) foram para a pecuária bovina.

O papel do mercado A pecuária de baixa produtividade

Em 2000, cerca de 87% da carne produzida pelos A pecuária de baixa produtividade na Amazônia pode
frigoríficos da Amazônia foi para o mercado nacional ter várias causas. Uma delas é o fato de os
(principalmente Nordeste e Sudeste), enquanto apenas especuladores usarem a pecuária para ocupar terras
13% ficaram na Amazônia. Portanto, a Amazônia é uma públicas. Nesse caso, a produtividade é baixa porque os
exportadora líquida de carne para o restante do Brasil. especuladores plantam pastos sem limpar devidamente
Além disso, frigoríficos do Mato Grosso, Rondônia e o solo e negligenciam o cuidado animal. Essa ocupação
Tocantins já exportam para outros países. parece ser compensatória pela exploração de madeira e
pela venda da terra para fazendeiros quando a
infraestrutura melhora. Eventualmente, os fazendeiros
melhoram a produtividade nessas novas fronteiras.
A baixa presença governamental nas fronteiras favorece
a ocupação ilegal de terras públicas que, por sua vez,
reduz o preço da terra e facilita a pecuária na região.

22
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

Essa ocupação é problemática, pois vastas florestas são D) dos acordos para a diminuição ou completa remoção
ocupadas sem um zoneamento das melhores formas de dos subsídios aos agricultores da União Europeia e dos
uso. A produtividade também é baixa em terras de Estados Unidos.
baixo potencial agropecuário. Essa situação é
indesejável, pois causa impactos ambientais sem gerar
benefícios econômicos e sociais expressivos. Em 1995, Os custos de produção na Amazônia são menores do
quase 6,8 milhões de hectares – ou 14% da área que nesses países e, portanto, os pecuaristas
alterada dos estabelecimentos agrícolas – eram “terras amazônicos poderão ganhar parte desses mercados. A
produtivas não utilizadas” na Amazônia Legal (IBGE, pecuária na Amazônia também seria estimulada pela
1996). Essa classificação do IBGE é um indicador redução de pastos no Centro-Sul do Brasil.
aproximado da extensão das terras degradadas na A substituição de pastos pela agricultura intensiva
região. Finalmente, a produtividade é baixa em pastos continuaria porque a rentabilidade desta tende a ser
degradados. Contudo, os pecuaristas podem melhorar a maior do que a rentabilidade das pastagens, e há
produtividade de parte desses pastos onde é viável arar projeções de aumento expressivo da produção de grãos
e adubar o solo. no Brasil na próxima década. Finalmente, investimentos
Tendência de aumento da produção em infraestrutura planejados para a Amazônia – como o
asfaltamento da Rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), de
Diversos fatores deverão favorecer o crescimento da
um trecho da BR-364 no Acre e da BR-319 (Manaus -
pecuária de corte na Amazônia. Um deles é o controle
Porto Velho) – tornariam a pecuária da região ainda
da febre aftosa, o qual possibilita a exportação de carne
mais competitiva.
da região. Mato Grosso, Tocantins, Rondônia e Acre,
que possuem 68% do rebanho da região, já estão BARRETO. Paulo. ARIMA, Eugênio & BRITO, Marky.
credenciados a exportar. O Sul do Pará também está Pecuária e Desafios para a Conservação Ambiental na
avançando no seu controle e está pleiteando a liberação Amazônia. In: O Estado da Amazônia. Imazon.
para exportação. Os focos de aftosa em Mato Grosso do Dezembro/2005, nº 5.
Sul em outubro de 2005 provavelmente não afetarão no
longo prazo as exportações para os atuais compradores.
Entretanto, poderão adiar a abertura de novos
mercados importantes. Portanto, o crescimento Precisamos falar da pecuária na Amazônia
adicional das exportações dependerá do controle
continuado dessa doença. Se o controle for mantido e Está na hora da atividade aproveitar as tecnologias
ampliado, a região poderá atender uma demanda disponíveis e melhorar a produtividade, sem mais
crescente por carne. desmatamentos.
FABIANO ALVIM BARBOSA E BRITALDO SILVEIRA
SOARES FILHO*
A demanda cresceria por causa:
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-
planeta/amazonia (31/08/2015)
A) do aumento de renda em países em
desenvolvimento que tende a elevar o consumo de
carne per capita – em particular, nas camadas mais O cenário de inovações para a agropecuária no Brasil se
pobres da população; constitui em um vasto campo de oportunidades para
nossos produtores. A pesquisa nacional amadureceu
expressivamente na última década e desenvolveu novas
B) do aumento da população; práticas que permitem uma verdadeira transformação
produtiva.
Esse movimento é central para a temática
C) da ocorrência de casos da doença da vaca louca do agronegócio brasileiro. Por um lado, o país possui o
(Encefalopatia espongiforme bovina – BSE) na Europa e maior rebanho comercial bovino do mundo, com 212
América do Norte que poderão aumentar a demanda milhões cabeças, e é um dos maiores exportadores de
por carne de criações extensivas em pastagens, que é o carne bovina - em toneladas e em faturamento. Por
caso da Amazônia; outro, apresenta taxas produtivas abaixo das que
registram os seus concorrentes.

23
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
Se estamos em um terreno confortável, é preciso devem ser acordadas na Conferência das Nações Unidas
pensar que o cenário atual passa por mudanças e que sobre Clima, em Paris. É, então, estimulante
novas preocupações se colocam frente aos produtores percebermos a possibilidade de reduzir a área de
nacionais. pastagem em uma região sensível como a Amazônia. E,
ao mesmo tempo, aumentar a produção com mais
A pecuária ocupa hoje 220 milhões de hectares do
ganhos aos produtores. Todavia, o desafio para que
território, sendo que 70 milhões de hectares estão
esses resultados cheguem a ser alcançados são
localizados na região Amazônica. Só que a expansão da
significativos. Por um lado, a região amazônica
atividade é apontada como uma das principais razões
apresenta obstáculos naturais de grande dimensão. Isso
para a intensificação do desmatamento ilegal. No
já dificulta e aumenta os custos da adoção de novos
passado era possível expandir as fronteiras de produção
investimentos em boas práticas. Por outro lado, as
na Amazônia com baixo custo, desmatando a floresta
empresas rurais, independentemente do tamanho,
intocada. Hoje, o cenário é bem diferente.
necessitam solucionar problemas e tomar decisões
A pecuária precisa dar um salto do atual sistema
estratégicas e operacionais cada vez mais urgentes.
extensivo de baixa rentabilidade para um sistema de
Para isso, é fundamental o uso de ferramentas
produção tecnificado e mais produtivo, integrado
gerenciais para o diagnóstico, o planejamento e o
diretamente ou indiretamente à cadeia do agronegócio.
controle do sistema de produção, o que ainda é
Ou então terá de abrir terreno à expansão agrícola e
incipiente no segmento. De certa forma, essa
perder espaço devido à preocupação global com o meio
transformação da pecuária de corte no Brasil já está em
ambiente. Para conhecer os melhores caminhos nesse
curso. Falta, no entanto, uma pavimentação dos
sentido, realizamos o estudo Cenários para a Pecuária
caminhos que aumente da velocidade deste processo.
de Corte Amazônica, que apresenta um panorama sobre
As tecnologias estão disponíveis, sabe-se que é possível
a atividade Brasil – e particularmente na Amazônia –
produzir mais em menos espaço e com mais ganhos
bem como um conjunto de ações de desenvolvimento
financeiros. Cabe agora ao estado e aos produtores
para o segmento. Para isso tivemos o apoio de uma
priorizarem o tema e encontrarem soluções conjuntas
equipe de 13 pessoas, com quem trabalhamos por 15
para promover as mudanças e aproveitar as
meses.
possibilidades de bons resultados.
Foram desenhados três cenários principais: um
*Fabiano Alvim Barbosa é professor adjunto do
conservador, um tendencial (intermediário, com base
Departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária
nas práticas atuais) e um inovador. Esse último
da UFMG. Britaldo Silveira Soares Filho é professor
considerou a crescente inovação tecnológica, com base
titular do Departamento de Cartografia do Instituto de
nas chamadas Boas Práticas de Produção
Geociências da UFMG e Coordenador do Centro de
Agropecuárias(BPA). Entre elas, podemos citar a
Sensoriamento Remoto (CSR) da UFMG.
melhoria do manejo das pastagens com reforma e
rotação, adubação, melhoria genética e o confinamento
do gado, além de aprimoramento técnico da gestão do
negócio, com foco em administração, meio ambiente e
recursos humanos. A boa notícia é que, pelo cenário MUNICÍPIO DO PARÁ TEM MAIOR REBANHO BOVINO
inovador, é possível aumentar a produção de gado de DO PAÍS, DIZ IBGE
corte no Brasil dos atuais 211 milhões para 253 milhões Efetivo chegou a 2,213 milhões de cabeças em São Félix
de cabeças até 2030. Isso, mesmo com a redução de do Xingu. Dos 20 municípios com maiores efetivos
24% de terras utilizadas para pastagens. O ganho bovinos, 11 são do Centro-Oeste.
financeiro nesse caso seria de R$ 400 a R$ 650 por
hectare ao ano. Para comparar, a rentabilidade dos O município de São Félix do Xingu, no Pará, liderou o
sistemas tradicionais fica entre R$ 130 e R$ 255 ranking brasileiro em termos de rebanho bovino em
hectares ao ano. Na Amazônia, o campo de 2014. O efetivo chegou a 2,213 milhões de cabeças, 1%
oportunidades é ainda mais acentuado. É possível do total nacional, segundo dados da pesquisa Produção
aumentar a produção de 81 para 98 milhões de da Pecuária Municipal (PPM) referente ao ano passado.
cabeças, utilizando 27% menos área de pastagens – ou As informações foram divulgadas nesta quinta-feira (8)
52 milhões de hectares a livres para outros fins que não pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
a pecuária. (IBGE). Na sequência, os maiores rebanhos foram
observados em Corumbá, com 1,761 milhão de
Estamos em um ano de definições sobre metas de cabeças, e em Ribas do Rio Pardo, com 1,099 milhão.
redução de emissões de gases de efeito estufa, que Ambos os municípios estão localizados em Mato Grosso

24
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

do Sul. Segundo o IBGE, entre os 20 municípios com os infraestrutura moderna que eles exigem para o seu
maiores efetivos bovinos, 11 estão no Centro-Oeste, funcionamento. Outro motivo foi o de poder contar
seis no Norte e apenas dois ficam na região Sul. Não à com as riquezas naturais existentes em abundância na
toa, o Centro-Oeste é a principal região produtora, Amazônia, bem como o apoio do Governo Federal para
responsável por 33,5% do gado nacional, com 71,234 implantação desses empreendimentos.
milhões de cabeças. Ao todo, o rebanho bovino
Com essas facilidades, os Grandes Projetos começaram
brasileiro chegou a 212,343 milhões em 2014, avanço
a ser implantados na Amazônia, a partir da década de
de 0,3% em relação a 2013. "Com isso, o Brasil
50, e o estado do Pará acabou sendo um dos estados
manteve-se como segundo colocado no ranking
mais visados dentro desse processo de integração à
mundial, atrás apenas da Índia", destacou o IBGE. Mais
economia nacional e internacional.
da metade (54%) de todo o efetivo estava concentrada
em cinco Estados: Mato Grosso (líder com 28,592
milhões de cabeças, 13,5% do gado nacional), Minas PRIMEIROS PROJETOS
Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará.
Do rebanho de bovinos em 2014, 10,9% foram de vacas
ordenhadas, aumento de 0,7% ante 2013. As maiores 7.1 PROGRAMA GRANDE CARAJÁS – PGC (1980)
participações no total nacional ficaram com as regiões O objetivo desse programa era o de instalar um
Sudeste (34,3%) e Nordeste (20,5%) e, em termos conjunto de empreendimentos capazes de viabilizar
estaduais, com Minas Gerais (25,1%), Goiás (11,7%) e condições de desenvolvimento socioeconômico da
Bahia (8,9%). Amazônia Oriental, extrair recursos minerais e florestais
http://g1.globo.com/economia/agronegocios existentes na área e explorá-los de forma integrada e
(08.10.2015) em grande escala. A área do Programa Grande Carajás –
PGC – de cerca de 900.000 km2 inclui terras dos Estados
do Pará, Maranhão e Tocantins. Você sabe por que o
Programa Grande Carajás foi instalado na Amazônia?
Isso ocorreu por que o local escolhido possui um
enorme potencial de recursos naturais, tanto minerais
7. EXPLORAÇÃO DAS RIQUEZAS MINERAIS
(bauxita, manganês, ferro, ouro, caulim, cobre,
salgema, areia, argila, etc.), como recursos florestais,
pois a região possui grandes áreas cobertas com
florestas nativas que, atualmente, são derrubadas para
OS GRANDES PROJETOS E A ECONOMIA LOCAL extração da madeira e produção de carvão. O local
Os grandes projetos são empreendimentos econômicos possui grande potencial energético, como rios
voltados para a exploração dos recursos naturais da caudalosos, de grande extensão, que possibilitam a
Amazônia e se caracterizam pela grandiosidade das construção de hidrelétricas, infraestrutura necessária
construções, pela quantidade de mão-de-obra neles para dar suporte aos empreendimentos mínero-
empregada e pelo volume de capital investido. Além metalúrgicos integrados ao Programa Grande Carajás.
disso, são projetos que utilizam tecnologia avançada e Além disso, o Governo brasileiro através da SUDAM
exigem uma infraestrutura constituída de portos, concedeu ao PGC financiamentos especiais e isenção de
ferrovias, energia elétrica, aeroportos, núcleos urbanos, vários impostos. Tais incentivos permitiram a compra, a
etc. para dar apoio ao desenvolvimento dos mesmos. baixo custo, de máquinas, equipamentos e outros
Esses projetos são considerados verdadeiros “enclaves” produtos existentes no Brasil, assim como matérias-
na região, pois estão dissociados do contexto local, são primas e equipamentos nacionais necessários à
planejados fora da sua área de atuação e muito distante instalação e ao funcionamento dos Grandes Projetos.
dos interesses e necessidades da população local. Que É evidente que um programa desse porte atrai,
motivos levaram a região amazônica a despertar também, um grande número de pessoas, da própria
interesse do Governo e de grandes empresas para ser o região ou de fora dela, que vêm em busca de uma
local de instalação dos Grandes Projetos? oportunidade de emprego nas inúmeras obras que
O primeiro deles foi o de poder dispor de imensas áreas integram o Programa. Esta é uma força de trabalho de
de terras, o que significa a possibilidade de utilização do baixo custo que, muitas das vezes, é absolvida pelos
espaço para a instalação desses projetos e da projetos e depois dispensada, passando a viver de

25
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
empregos informais, morando na periferia. Na verdade, desestimularam a United States Steel a participar do
a acentuada exploração de recursos naturais da região, programa de investimentos necessário a exportação de
através do Programa Grande Carajás, não resultou na ferro. Mediante a uma indenização de 50 milhões de
propagada melhoria de vida da população da região. dólares, a CVRD tornou-se a única empresa participante
do Projeto Ferro Carajás.
O Programa Grande Carajás inclui 3 grandes frentes
integradas: No final da década de 70 a CVRD divulgou o documento
Amazônia Oriental — Um projeto nacional de
exportação, cujo conteúdo era uma proposta de
 Um conjunto de projetos mínero-metalúrgicos; exploração global dos recursos da região. O documento
delimitou a área de atuação do Projeto Grande Carajás.
O Projeto Ferro Carajás foi a ponta de lança desse
 Um conjunto de projetos agropecuários e
amplo programa. A CVRD construiu e opera a Estrada
florestais;
de Ferro Carajás (EFC), que liga as regiões produtora do
minério a São Luís, no Maranhão, numa distância de
 Um grupo de projetos de infraestrutura; 890 km. À PORTOBRÁS coube a construção do Porto de
Ponta da Madeira, em São Luís, capaz de receber
graneleiros de até 280 mil toneladas de porte. O projeto
No entanto, dentre essas frentes, chamamos a atenção de exploração de ferro, gerenciado pelo capital estatal,
pela sua importância econômica, para os Projetos foi incumbido de criar um “corredor de exportação”
mínero-metalúrgicos e os de infra-estrutura. que atendesse também aos projetos privados
interessados em se estabelecer na região. Atualmente,
Carajás produz mais de 35 milhões de toneladas por
Os principais projetos integrados ao Programa Grande ano. Um consócio japonês liderado pela MITSUI STEEL é
Carajás são os seguintes: o principal comprador dessa produção.
O Programa Grande Carajás tem um impacto profundo
na organização do espaço regional em todo sul do
A) PROJETO FERRO CARAJÁS Estado do Pará e oeste do Maranhão. Os vultosos
Este Projeto está localizado na Serra dos Carajás, no investimentos estatais e privados, realizados em áreas
sudeste do Pará, aproximadamente 200 km da cidade de conflitos de terras envolvendo fazendeiros,
de Marabá, ocupando terras dos municípios de Marabá, madeireiros, posseiros e índios, adquiriram um caráter
Parauapebas, Curionópolis e São Félix do Xingu. O estratégico. Ao longo da ferrovia, foram criados núcleos
trabalho de prospecção mineral na região da Serra dos urbanos que gravitam em torno das atividades de
Carajás começou a ser desenvolvido em 1966 pela mineração, industrialização e transporte. O imenso
CODIM, uma subsidiária da transnacional UNION território englobado pelo Programa e os espaços
CARBIDE. A descoberta de importantes jazidas de adjacentes, polarizados por ele, foram submetidos a
manganês motivou outra transnacional do setor, a uma gestão baseada em critérios logísticos. Carajás não
UNITED STATES STEEL – através de uma subsidiária, a é apenas um empreendimento econômico de
Companhia Meridional de Mineração –, a iniciar um exportação, mas também uma operação geopolítica de
amplo trabalho de pesquisa na região. O resultado foi a controle e estabilização de um espaço geográfico de
descoberta de um imenso potencial mineral que inclui a conflitos.
maior concentração de minério de ferro de alto teor do “Essa estratégia não foi capaz de conter o movimento
mundo, além de importantes reservas de alumínio, migratório: ao lado de Parauapebas, planejada para
cobre, níquel e estanho. 5.000 habitantes, cresceu espontaneamente Rio Verde
Em 1970 foi criada a Amazônia Mineração S.A. (AMZA), como sua extensão, o conjunto abrigando mais de
fruto de uma aliança entre capitais estatais e 20.000 pessoas.”
transnacionais com vista à exploração e exportação de
(Bertha K. Becker, Amazônia, p. 72-73).
ferro de Carajás. A ex-estatal Companhia Vale do Rio
Doce controlava 50,9% das ações da empresa; a
Companhia Meridional de Mineração detinha os 49,1%
restante. O negócio foi desfeito sete anos depois: os
baixos preços no mercado internacional

26
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

B) A CIDADELA DE CARAJÁS agitado. Só hoje eu sei as mudanças que ele trouxe nas
nossas vidas. O meu compadre vendeu as suas terras
“Dois núcleos foram planejados, com função
que ficavam bem ali onde o trem passa. Ele pegou o
complementar: a Vila de Carajás, localizada no topo da
trem e foi embora para São Luís e hoje vive lá na
serra, projetada para abrigar os funcionários da
miséria. Outros amigos meus pegam o trem e vão para
companhia envolvidos diretamente com a extração de
os garimpos e, em vez de voltar com ouro, voltam com
minério, e Parauapebas, localizada no sopé da serra,
malária. Os índios, lá do outro lado do rio Pindaré,
como depósito de mão-de-obra para a construção de
custaram a acostumar, tinha índio que amanhecia
Carajás e suas estradas de acesso, e ao mesmo tempo
encima dos trilhos sem saber o que poderia acontecer.
como lugar capaz de reter a migração no sopé da
Só não aconteceram acidentes porque Deus não
cidadela. Aí, uma guarita com um posto da Polícia
deixou.” (Entrevista realizada por Maria Célia Nunes
Federal, a ‘portaria’ para a CVRD e a ‘barreira’ para a
Coelho, em 1989, com um morador do povoado de
população extramuros, controla pessoas e mercadorias.
Auzilândia, município de Santa Luzia, situada às
margens do rio Pandaré, outrora a única via de
comunicação do povoado com a cidade de Santa Inês,
Maranhão).
O trem de Carajás tornou-se o símbolo do progresso.
Acreditava-se que o progresso e a civilização chegavam
à Amazônia Oriental. Entretanto, o ferro de Carajás é
exportado praticamente in natura, com baixa geração
de empregos e, portanto, de renda. A exportação do
minério in natura serve para alimentar fábricas fora do
país (Japão, EUA e Alemanha), beneficiando assim
outras economias. Todavia, o trem de Carajás tornou-se
uma ameaça para antigos posseiros e para a população
indígena do Pará e do Maranhão. Ao atrair para as áreas
por ele percorridas, um número ainda maior de
migrantes e empresários, a ferrovia contribuiu para
C) IMPACTOS SOCIAIS DE UMA FERROVIA QUE LIGA A intensificar a disputa pela terra, já violenta no sudeste
AMAZÔNIA AO MUNDO do Pará, Bico do Papagaio e sudoeste do Maranhão.

O traçado oeste — leste da Estrada de Ferro Carajás O Projeto Ferro Carajás da Companhia Vale do Rio Doce
(EFC) diverge do traçado das rodovias que conectam a (CVRD) e a EFC vêm colocando em risco as terras e a
Amazônia ao centro-sul do país. Enquanto as rodovias sobrevivência dos índios em sua área de influência. A
atendem a meta de integração nacional, a ferrovia demarcação de suas áreas indígenas — principal meta
responde à necessidade de integração da Amazônia ao do convênio assinado pela CVRD e pala fundação
mundo. A EFC, de tecnologia avançada, repete o nacional do índio (FUNAI), atendendo uma exigência do
modelo colonial exportador, ao conectar a mina a um Banco Mundial — não se completaram. Muitos foram
porto de exportação. Assim, desde fevereiro de 1985, os os conflitos envolvendo comunidades indígenas. Em 27
trens de minério circulam diariamente, conduzindo uma de março de 1987, por exemplo, um grupo de índios
riqueza que escapa velozmente do Estado do Pará, sem gavião, cujas terras tinham sido ocupadas por
gerar, em troca, grande renda para a região. Nas numerosos imigrantes, bloqueou a Estrada de Ferro
aldeias, nos povoados e nas cidades por onde os trens Carajás. O protesto era contra o Grupo Executivo de
de minério e de passageiros passam, a população Terras do Araguaia-Tocantins (GETAT), que tinha
assiste atônica ao espetáculo diário, muitas vezes sem assinado mais de 38 títulos para colonos em terras
entendê-lo totalmente. No início, a chegada do trem indígenas. O conflito durou cerca de cinco anos. As
assustou os moradores locais, isolados na mata. O fato reservas indígenas têm sido frequentemente invadidas.
pode ser verificado em depoimentos coletados na No Maranhão, onde as matas já estão quase todas
região da ferrovia. Veja um exemplo: extintas, madeireiros inescrupulosos instigam posseiros
a invadir terras indígenas, para roubar madeira. As
“Quando passaram os homens medindo e deitando populações dessas reservas muitas das vezes enfrentam
trilhos, eu não acreditei no que eles disseram que viria. fortes surtos de malária e hepatite, doenças trazidas
No primeiro dia que aquele trem comprido passou, eu pelos posseiros, madeireiros e garimpeiros. No caso do
pensei que era miragem. Naquela noite eu dormir

27
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
Maranhão, a tribo mais ameaçada, entretanto, é a dos O LAGO DE BAUXITA
guajás, índios nômades do Maranhão que sobrevivem
Embora os projetos falem em adotar formas de
da coleta, da pesca e da caça, e precisam de grandes
controle ambiental, o exemplo da Mineração Rio do
espaços para viver.
Norte causa apreensão. A empresa que está produzindo
3,5 milhões de toneladas de rejeitos por ano, previa
inicialmente despejá-lo em uma bacia artificial
D) PROJETO TROMBETAS E SUA ARTICULAÇÃO COM OS
especialmente construída para esse fim, mas, como a
PROJETOS DE ALUMÍNIO (1985): ALBRÁS E ALUNORTE
obra foi considerada cara, acabou jogando os rejeitos
A bauxita da Serra de Oriximiná, no Vale do Rio no Lago Batata, que hoje está sedimentado em 20% de
Trombetas, foi descoberta em 1966, pela ALCAN, sua extensão por um material extremamente poluente.
empresa canadense que está entre as seis grandes
corporações mundiais do alumínio. Nos anos 70, o
projeto de exploração do minério foi acelerado como E) O PROJETO TROMBETAS E SUA ARTICULAÇÃO COM
reação aos esforços dos países exportadores, liderados OS PROJETOS DE ALUMÍNIO: ALBRÁS, ALUNORTE E
pela Jamaica, para aumentar os preços internacionais ALUMAR
do produto. O Brasil que não participava da associação
Os Projetos de alumínio ALBRÁS – Alumínio Brasileiro
dos países produtores de bauxita, tornava-se assim um
S/A –, ALUNORTE – Alumínio do Norte do Brasil S/A –
elemento-chave para a estratégia das grandes empresas
, em Barcarena-PA, e ALUMAR – Alumínio do Maranhão
transnacionais.
S/A –, em São Luís-MA, funcionam articulados com o
Em 1975, foi criada a Mineração Rio do Norte (MRN), Projeto Trombetas (Oriximiná-PA), que explora a
um consórcio de grupos estatais, privados e bauxita – matéria-prima do alumínio, produto de
transnacionais para explorar a bauxita na região. Os inúmeras utilidades no mundo moderno. Apesar de
principais acionistas da Mineração Rio do Norte são a esses projetos estarem localizados em diferentes áreas,
CVRD (46%), a ALCAN (24%), a anglo-holandesa Billiton- existe entre eles uma articulação, formando uma
Shell Metals (10%) e a Companhia Brasileira de Alumínio espécie de cadeia, na qual a bauxita do Projeto
(CBA), do grupo Votorantim (10%). A MRN produz mais Trombetas é consumida pelo Projeto ALUMAR e
de 6 milhões de toneladas de bauxita por ano, o que ALUNORTE. Este último fornece, em seguida, a alumina
equivale a cerca de 73% da produção nacional desse para o Projeto ALBRÁS. Anteriormente à instalação da
minério. O pólo de exploração da MRN abrange a jazida, ALUNORTE (ano de 1995), ocorria o chamado “passeio
o porto fluvial do Rio Trombetas e a usina de da bauxita” por meio do qual essa matéria-prima,
beneficiamento situada junto ao porto. Essa produção produzida em Trombetas, era exportada, transformada
abastece os projetos ALBRÁS-ALUNORTE e, de em alumina e importada, para a ALBRÁS, no Pará. A
exportação de alumina e alumínio que se instalaram em previsão, em 1997, era que a ALUNORTE exportasse 300
Barcarena (PA) além da ALUMAR (MA). Os projetos mil toneladas de alumina para o mercado externo, e
envolvem associação entre a CVRD e grupos fornecesse outras 700 mil para a ALBRÁS e 100 para
econômicos japoneses que constituem a Nippon VALESUL, localizada no Rio de Janeiro. Os baixos preços
Amazon Aluminium Co. (NALCO) e fazem parte do da alumina no mercado mundial atrasaram em quinze
Programa Grande Carajás. A energia elétrica de Tucuruí anos a implantação da ALUNORTE. Só mente no início
é vendida para essas empresas com 15% de desconto. da década de 90 é que o governo do Estado do Pará e
os empresários japoneses reiniciaram as negociações
no sentido de colocá-la em funcionamento. Mesmo não
tendo sito instalada a ALUNORTE na década de 80, a
outra fábrica do complexo, a ALBRÁS, foi colocada em
atividade, importando alumina das Guianas, do
Suriname e da ALUMAR, e produzindo alumínio
primário na forma de lingotes, exportando, sobretudo
para o Japão, através do Porto de Vila do Conde, em
Barcarena. O consórcio ALUMAR, localizado em São
Luís, recebe a bauxita do Projeto Trombetas,
transforma-a em alumina, e passa a abastecer, em
grande parte, o Projeto ALBRÁS em Barcarena, além de
produzir seu próprio alumínio, exportando-o
diretamente para o exterior. A produção do alumínio,

28
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

produto final da cadeia bauxita-alumina-alumínio, Movimentação de carga


requer grande quantidade de energia elétrica. Essa foi
As cargas predominantes no Porto de Vila do Conde
uma das razões que levaram à construção da
são: Alumina / Lingotes de Alumínio / Bauxita / Coque /
hidrelétrica de Tucuruí, localizada no Médio Tocantins,
Óleo combustível / Madeira / Piche
no município de Tucuruí - PA, que passou a abastecer de
energia os projetos de alumínio e os demais projetos
econômicos do Programa Grande Carajás. G) USINA HIDRELÉTRICA DE TUCURUÍ

F) PORTO DE VILA DO CONDE O rio Tocantins, um dos formadores do estuário do


Amazonas, tem suas cabeceiras nas imediações do
Distrito Federal, na encosta norte do Planalto de Goiás,
a uma altitude de 1.000 m. Seu curso desenvolve-se na
direção predominante sul-norte, com extensão de
2.500 km até a foz, nas proximidades da cidade de
Belém, capital do Estado do Pará, aonde chega ao
Oceano, com uma bacia de drenagem de 767.000 km2.
Conta com inúmeros afluentes, dos quais se destaca,
em virtude de sua extensão e volume d'água, o rio
Araguaia. Foi nesse cenário que a Eletronorte construiu
a maior obra de concreto do mundo ocidental, a usina
hidrelétrica de Tucuruí. Na metade da década de 70, a
política de expansão da capacidade energética do país
através da construção de hidroelétricas gigantes
descobriu a Região Norte. O projeto do governo Geisel
(1974-1979) previa a utilização dos rios da Região para
resolver os problemas energéticos futuros do Brasil e,
ainda, a transformação da Amazônia em um grande
pólo metalúrgico. A Usina de Tucuruí, que entrou em
HISTÓRICO operação em 1984, é uma das materializações desse
As grandes reservas de bauxita descobertas no Estado projeto.
do Pará, precisamente nas regiões do rio Trombetas, no O reservatório de Tucuruí inundou 2.400 km² de
município de Oriximiná e de Paragominas, na bacia do floresta, que não foram desmatadas previamente. Até
rio capim, aliadas ao potencial hidrelétrico dos rios da hoje, a Eletrobrás estima que 6 milhões de metros
Amazônia, levaram o Brasil a posição de exportador de cúbicos de madeira estejam sob o lago de Tucuruí,
alumínio, pois suas reservas de 4,1 bilhões de toneladas tornando ácida a água do reservatório e causando
de matéria prima - bauxita - eram ultrapassadas no problemas frequentes para o funcionamento das
mundo inteiro somente por dois países: Guiné e turbinas da usina e para o meio ambiente. Além disso,
Austrália. Para a implantação dos projetos ALBRÁS e as emanações do lago de Tucuruí atraem nuvens
ALUNORTE o governo brasileiro ficou com o colossais de moscas, infernizando a vida dos habitantes
compromisso de construir: a hidrelétrica de Tucuruí da região. A formação do lago de Tucuruí expulsou
(UHT), no rio Tocantins, que fornece energia elétrica (desterritorializou) os índios Parakanãs de suas terras,
com tarifa reduzida; o Porto; o núcleo habitacional e o trazendo-lhes fome e endemias.
acesso rodoviário. E, juntos os governos do Brasil e do
O que causa estranheza é que a Hidrelétrica de Tucuruí
Japão concederam, ainda, financiamentos com juros
foi criada com o objetivo de garantir autonomia
baixos e diversos incentivos fiscais.
energética à região, mas na verdade a energia gerada
Obs: Com a implantação da Alça Viária esse acesso foi está voltada principalmente para o abastecimento dos
otimizado. complexos de alumínio do Programa grande Carajás
(PGC), e alguns municípios do Baixo Tocantins — espaço
geográfico próximo à usina — não recebem energia de
Tucuruí.

29
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
ECLUSAS DE TUCURUÍ processo de desenvolvimento nacional. Com a
conclusão das eclusas de Tucuruí o velho sonho
de construir a hidrovia Araguaia-Tocantins se tornará
realidade, fazendo com que o Estado do Pará se torne
um dos maiores, se não o maior, exportador de grãos
(principalmente a soja vinda do Centro Oeste) do país.
Toda essa produção sairia pelo porto de Vila do Conde
localizado no município de Barcarena a 40 km de Belém
ou pelo porto do Espadarte (projeto em
desenvolvimento), no município de Curuçá a 140 km da
capital do estado.

PROJETOS EM DESENVOLVIMENTO

1. COMPLEXO HIDRELÉTRICO BELO MONTE

A construção da barragem de Tucuruí, no rio Tocantins,


a 250 km de sua foz, teve como finalidade primordial a
geração de energia, através de uma usina hidrelétrica.
Se por um lado a barragem afogou, com seu
reservatório, as corredeiras de Itaboca, até então um
dos principais empecilhos à implantação da navegação
comercial no Tocantins, por outro, seccionou a hidrovia,
exigindo a construção de uma obra de grande porte
capaz de vencer o desnível de 72 m criado por ela.
Dessa forma, o Aproveitamento de Tucuruí
compreende, também, um Sistema de Transposição de
Desnível, localizado na margem esquerda do rio
Tocantins e constituído por duas eclusas e um canal
intermediário, adequadamente alinhado, cujo objetivo
principal é dar continuidade à navegação no trecho da
O Complexo Hidrelétrico Belo Monte será construído no
hidrovia interrompido com a construção da Barragem. A
Estado do Pará, no Rio Xingu, a 50 km a leste da cidade
construção das Eclusas de Tucuruí é imprescindível ao
de Altamira e 400 km a sudoeste da capital Belém. Belo
aproveitamento econômico do grande potencial
Monte terá uma capacidade instalada de 11.182 MW
agropecuário, florestal e mineral, já identificados no
(onze milhões e cento e oitenta e dois mil quilowatts),
Vale do Tocantins-Araguaia, que depende da oferta de
distribuída em duas casas de força, uma com 11.000
meios de transportes maciços, de baixo custo e baixo
MW e outra com 182 MW. O sítio de Belo Monte é
consumo energético, face ao pequeno valor unitário das
considerado um dos melhores aproveitamentos
cargas a serem geradas e às grandes distâncias a serem
hidrelétricos em todo o mundo: para gerar tal
percorridas. Até 1984 as obras tiveram andamento
quantidade de energia elétrica será inundada uma área
normal e, a partir daí, o ritmo das mesmas foi
de apenas 400 km², sendo que 200 km² são o próprio
diminuindo, até a total paralisação em 1989.
leito do rio, ou seja, serão produzidos mais de 28 MW
Recentemente, em 1997, foram elaborados Estudos
por quilômetro quadrado de área alagada, contra 3
Técnicos de Atualização do Projeto Básico, necessários à
MW/km² em Tucuruí ou 8,6 MW/km² em Itaipu, por
conclusão das Eclusas de Tucuruí. Essa Atualização foi
exemplo. O aproveitamento da queda natural da
necessária para se levar em conta, dentre outros
chamada Volta Grande do Xingu, de 96 metros, aliado
aspectos, as modificações ocorridas ao longo do tempo,
às elevadas vazões do rio, de até 32 mil m³/s,
no tocante às condições de navegação da Hidrovia; aos
possibilitou um novo arranjo de engenharia que reduziu
avanços da tecnologia na elaboração de projetos e na
o tamanho do reservatório de Belo Monte de 1.225 km²
execução de obras; às alterações da situação econômica
para 400 km², sem prejuízo à capacidade instalada de
do país, e a toda a realidade com que se depara o

30
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

11.182 MW. O ciclo dos grandes aproveitamentos preocupações com relação a um projeto como esse:
energéticos de rios amazônicos parecia ter sido “Receamos que toda área vire um deserto depois do
definitivamente interrompido pela reação que se seguiu desmatamento. Os resíduos da lavagem da bauxita e
aos projetos de Tucuruí e de Balbina, no Amazonas. As uma futura refinaria de bauxita na região causarão a
comunidades, nacional e internacional, principalmente contaminação do lago, da água do subsolo e do ar..”.
científicas, criticaram duramente o governo brasileiro
Tais preocupações se espelham em projetos de
pelos efeitos negativos do represamento dos rios da
mineração e de beneficiamento de bauxita que se
região, com muito volume de água e baixa declividade,
estabeleceram em várias regiões da Amazônia como os
provocando o afogamento de extensas áreas de
são a Mineração Rio Norte, em Oriximiná/PA, e Alumar,
floresta, impactos sobre o meio ambiente e as
São Luís/MA. Segundo alguns dados obtidos, a mina de
populações nativas.
bauxita de Juruti possui 350 milhões de toneladas e
uma unidade de produção de alumina produzirá 2
milhões de toneladas por ano. Para garantir essa
2. POLO JURUTI
refinaria, a Alcoa pretende investir na construção da
UHE de Belo Monte no rio Xingu, além de um terminal
portuário que terá capacidade para acomodar navios de
75 mil toneladas. O porto está localizado próximo à
cidade de Juruti, exatamente a dois quilômetros do
centro do município, e fica à margem do Rio Amazonas.
Já o beneficiamento será nas instalações industriais a
serem construídas numa área situada a cerca de 60
quilômetros da cidade, nas proximidades do platô
Capiranga, a primeira área a ser minerada. E por fim, a
ferrovia terá aproximadamente 50 quilômetros de
extensão e operará com 40 vagões, cada um com
capacidade de 80 toneladas. Longos trechos da ferrovia
serão construídos paralelamente à Rodovia Estadual
PA-257, que também ganhará melhorias como asfalto e
ciclovias, nos trechos que atravessam áreas habitadas.

A Mina de Bauxita de Juruti está localizada no extremo


Oeste do Estado do Pará. Juruti é um antigo município 3. PORTO DO ESPADARTE
paraense, com 124 anos e cerca de 35 mil habitantes,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2000), dos quais 60% residem nas 150
comunidades rurais que predominam na região.
Tradicionalmente, sua economia está baseada no
cultivo da mandioca e outras culturas de subsistência
como pesca, pecuária, e diversos tipos de
extrativismo. O projeto teve origem em 2000, quando a
Alcoa adquiriu a Reynolds Metals e iniciou a prospecção
mineral nos platôs Capiranga, Guaraná e Mauari. Ao se
optar pelo investimento, foram elaborados Estudos de
Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA). Para a Alcoa, cerca de cinquenta mil
hectares, da área de Juruti Velho, lhe pertencem. Desse
total, a metade está prevista para a extração de bauxita.
Serão desmatados 8 mil hectares na lavra do primeiro Distante 130 Km da capital paraense, Belém, o
platô. Um projeto como o da Alcoa que se julgaria município de Curuçá, de aproximadamente trinta mil
benéfico para uma população tão carente pode habitantes, abrigará a possível construção do quarto
justamente ser o contrário. A carta-clamor, produzida e maior porto Off-shore do mundo, o Porto do Espadarte.
enviada pelos movimentos sociais, deixa bem claro as O terminal portuário será construído em uma área de

31
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
preservação ambiental, Ponta da Romana na Ilha dos
Guarás a 10 Km da sede do município. O projeto
começou a ser pensado há 25 anos pela iniciativa
privada após o estudo de viabilidade técnica de
construção de um porto que atendesse a demanda de
exportação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). O
estudo constatou que o local possui o maior calado da
América Latina (25 m), onde navios de até quatrocentas
mil toneladas poderiam atracar, além da área está livre
de assoreamentos. Entretanto, por questões de
influência política, o estado do Maranhão acabou por
ser priorizado como local de construção do porto que
servisse principalmente ao escoamento da produção de
grãos e minérios paraenses. Para a Companhia que Nenhum de nossos portos serve para exportar o maior
administra os portos paraenses (Companhia Docas do produto de exportação do Pará, que é o ferro de
Pará - CDP), o Porto do Espadarte apresenta várias Carajás, que não sai diretamente do Estado para
vantagens em relação aos outros terminais do estado e exportação porque não temos um porto marítimo à
do país por possuir uma localização geográfica próxima altura em referência ao fato de o ferro de Carajás sair
dos grandes produtores de grão e minérios e dos do Pará pela ferrovia e ser escoado para exportação
mercados internacionais. O empreendimento volta às através do porto de Ponta de Madeira, no Maranhão,
discussões fundamentadas no momento em que o Brasil que está sobrecarregado pela demanda. O porto da
vive a euforia do aumento de suas exportações. Os seus capital maranhense, que escoa a produção de
portos operam no limite de sua capacidade, então, o exportação do Pará, é fruto de uma decisão política e
escoamento produtivo via Espadarte, se apresenta fica muito mais longe que a Ilha dos Guarás, na Ponta
como uma alternativa plausível. da Romana, onde o terminal do Espadarte deverá ser
construído. Vale ressaltar que, a distância entre Carajás,
No âmbito de intelectuais curuçaenses e/ou dos que no Pará e o Terminal de Ponta da Madeira, no
lançam suas análises ao município, há e sempre houve Maranhão é de 892 Km, enquanto de Carajás para o
uma preocupação de não se permitir a reprodução dos Terminal de Espadarte é de 520 Km. Isto representa um
males sociais e econômicos resultantes dos grandes diferencial significativo que diminui o custo Brasil e
projetos pensados para a região amazônica nas últimas aumenta a competitividade dos produtos paraenses e
décadas (prostituição, exclusão da mão-de-obra local, brasileiros. As cargas que deverão ser escoadas pelo
desequilíbrio ambiental, abandono de atividades Espadarte: Grãos, Minério de Ferro e de Manganês,
econômicas tradicionais, culturais, folclórica etc.). Para Ferro gusa e Cobre. O potencial de movimentação do
a população tradicional o super porto apresenta-se – no super porto é de 80 milhões t/ano.
imaginário da maioria – como ponto inicial de um
desenvolvimento que irá atingir a todos indistintamente
dinamizando a mobilidade social; retirando-a, assim, da Projeto S11D
inércia sócio-econômica em que estivera envolvida
historicamente. No que tange aos empresários e Cidade: Canaã dos Carajás - PA
comerciantes, classes que se confundem com a dos Período: MAR/2015 a OUT/2017
políticos, a perspectiva é de evolução e incremento do
poder econômico e político através da pretensão A Vale é uma mineradora global e está presente em
preservacionista de suas posições de destaque e mando mais de 30 países, sendo a maior produtora mundial de
verificados desde agora. minério de ferro e a segunda maior de níquel, além de
produzir cobre, manganês e outros minerais. O projeto
Carajás S11D representa a expansão da atividade de
extração e processamento de minério de ferro no
Complexo Minerador Carajás, em operação desde 1985.
A Montcalm irá realizar a Montagem eletromecânica
dos conjuntos do sistema de mineração truckless,
correspondente às áreas 1080 e 1081, dentro do pit da
mina. O projeto S11D aumentará a produção de minério

32
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES

de ferro do município, onde é produzido o minério de dorsal" do maior empreendimento da história da


ferro de maior qualidade do planeta. mineradora.
Sobre a Cidade: Canaã é um município localizado no O S11D tem previsão para entrar em operação na
interior do estado do Pará. Por causa da grande segunda metade do ano, acrescentando capacidade de
quantidade de indústrias de extração de minerais, produção anual de 90 milhões de toneladas de minério
acumulou uma renda per capita considerável. O de ferro, 26 por cento da produção atual da empresa.
município nasceu a partir de um assentamento agrícola,
O ritmo da extração, no entanto, será administrado de
o Projeto de Assentamento Carajás, localizado na região
acordo com as condições do mercado internacional. O
sudeste do Pará que foi implantado a partir de 1982.
primeiro teste em um equipamento de grande porte do
http://www.montcalm.com.br/noticia/noticias/nova- projeto teve início no fim de janeiro, quando foi ligado o
obra-vale-projeto-s11d chamado Transportador de Correia de Longa Distância
(TCLD), que será responsável por levar o minério da
Floresta Nacional de Carajás, onde está à mina, para a
Emissão de licença de instalação para projeto de ouro planta de beneficiamento.
da Belo Sun no Pará é adiada
"Ele (o TCLD) já está sendo alimentado por energia
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do elétrica de fato, os motores já estão acionados e a
Pará (Semas) adiou a emissão da licença de instalação gente costuma dizer que o equipamento já está vivo...
do projeto de ouro Volta Grande, da Belo Sun, em São testes padrões de obra e até agora está indo tudo
Altamira (PA). O órgão afirmou que a solicitação da muito bem", disse à Reuters o diretor de implantação
licença está em análise e que não há previsão para a de ferrosos norte da Vale, Jamil Sebe.
conclusão do pedido da empresa. Segundo relatório da
A usina de beneficiamento foi construída fora da
mineradora, o plano é investir US$ 1,07 bilhão no
floresta, para minimizar os impactos ambientais, e a
empreendimento, que deve produzir 4,6 mil quilos de
construção do TCLD contribuiu substituindo os cerca de
ouro por ano durante 20 anos.
100 caminhões de grande porte que seriam necessários
(http://www.noticiasdemineracao.com / 25.04.2016) para transportar a produção. Com ele, a empresa reduz
em 70 por cento o consumo de diesel do projeto e
diminui em 50 por cento as emissões de gases. "Esse
MAIOR PROJETO DA HISTÓRIA DA VALE INICIA FASE DE equipamento é um elo, é a espinha dorsal do projeto no
TESTES contexto de transporte de minério para ser
beneficiado", frisou.
Outras máquinas e equipamentos também já estão em
teste nos pátios da usina de beneficiamento, que irá
separar o minério de ferro a seco, evitando a
necessidade de captação de água no local e a
construção de uma barragem de rejeitos.
A tecnologia de separação, adotada a partir da
construção de uma peneira específica para o projeto,
foi possível graças a alta qualidade do minério do S11D.
Juntas, segundo Sebe, a mina e a usina do S11D já têm
80 por cento das obras concluídas.
Canaã dos Carajás (PA): maior projeto da mineradora Sebe explicou que a Vale planeja encerrar, no primeiro
Vale iniciou fase de testes na cidade, e deve entrar em semestre, os testes dos equipamentos sem carga para
operação ainda este ano que no segundo semestre possam ser feitos os testes
com carga, seguidos pelo início da operação, já com a
capacidade completa. Entretanto, o ritmo da produção
Rio de Janeiro - A Vale deu início à fase de testes do do minério de ferro vai depender do comportamento
bilionário projeto S11D, em Canaã dos Carajás (PA), com do mercado, que sofre pressionado com a elevada
o acionamento de uma correia transportadora de 9,5 oferta da commodity, o que tem derrubado os preços.
km que levará o minério de ferro à usina de
beneficiamento, equipamento considerado a "espinha "O projeto vai estar capacitado para 90 milhões (de
toneladas) sim, implantado e 'startado', mas ela (a Vale)

33
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO
ATUALIDADES
- LEI 5.810/94
quer administrar essa curva de ramp up de acordo com
o mercado", afirmou Sebe, evitando dar detalhes sobre
os planos. Após o beneficiamento, para que a
commodity chegue aos clientes, em grande parte
siderúrgicas chinesas, o minério de ferro do S11D será
transportado por ferrovia até o Terminal Marítimo de
Ponta da Madeira (TMPM), em São Luís.
As obras de um ramal ferroviário de 101 km, que irá
conectar a usina à Estrada de Ferro Carajás (ECF),
devem ser concluídas até agosto. Com a conclusão do
S11D, que soma investimentos de 14,4 bilhões de
dólares, o custo operacional do Sistema Norte da Vale
ficará abaixo dos atuais 10 dólares por tonelada métrica
seca(dmt), segundo dados publicados pela mineradora
brasileira. O custo operacional considera o minério
entregue no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira.
http://exame.abril.com.br/economia (17.02.2016)

34

Você também pode gostar