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A MATEMÁTICA E O LIVRO DIDÁTICO DE 5ª A 8ª SÉRIES DO ENSINO

FUNDAMENTAL

SARA MEIRA MOUTTA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF


CAMPOS DOS GOYTACAZES
JANEIRO - 2004
A MATEMÁTICA E O LIVRO DIDÁTICO

SARA MEIRA MOUTTA

Monografia apresentada ao Laboratório de


Ciências Matemáticas do Centro de
Ciências e Tecnologias da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
para a obtenção do Grau de Licenciado em
Matemática.

Prof. Luis H. Guillermo Felipe

Profª. Wilma Dora Huacasi Mamani

Profª. Silvia Alicia Martinez

Janeiro - 2004
Aos meus pais, Daniel e Eliene,
dedico esta obra.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, o professor Luis Guillermo, pelo incentivo, dedicação e


paciência demonstrados durante a realização deste trabalho...

Agradeço a todos os professores que no decorrer deste curso concederam-me o


privilégio de aprender um pouco do muito que eles carregam consigo...

Agradeço aos meus amigos, que estiveram ao meu lado por todos estes anos, pelo
companheirismo, compreensão e amizade...

Agradeço aos meus familiares, que acreditaram em mim e me incentivaram a lutar


pelos meus sonhos...

E, acima de tudo, agradeço a DEUS por tudo o que alcancei até aqui, pois tenho
certeza de que Ele sempre esteve comigo, guiando-me a cada passo dessa longa
caminhada.
SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO.....................................................................................................................8

2 - O LIVRO DIDÁTICO........................................................................................................10

3 - O PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO....................................................11

4 – ANALISANDO O LIVRO DIDÁTICO.............................................................................12

4.1 - CONTEÚDOS ABORDADOS....................................................................................12

4.1.1 - O SUMÁRIO.........................................................................................................13

4.1.2 - DELIMITAÇÃO DO CONTEÚDO......................................................................15

4.1.3 - MOMENTO IDEAL PARA ESTUDAR ESTE ASSUNTO................................15

4.1.4 - O CONTEÚDO E A REALIDADE......................................................................16

4.2 - EXPLICAÇÕES...........................................................................................................17

4.2.1 - A ESCOLHA DOS EXEMPLOS..........................................................................19

4.2.2 - A ESCOLHA DOS EXERCÍCIOS.......................................................................20

4.3 – A APRESENTAÇÃO DO LIVRO.............................................................................21

4.3.1 - A LINGUAGEM UTILIZADA.............................................................................21

4.3.2 - OS RECURSOS VISUAIS....................................................................................23

5 – CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................25

5.1 – RECOMENDAÇÕES AOS AUTORES......................................................................25

5.2 – RECOMENDAÇÕES AOS PROFESSORES.............................................................26

6 - BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................27

6.1 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................27

6.2 - FONTES PRIMÁRIAS................................................................................................28


RESUMO

Neste trabalho, foram escolhidas, aleatoriamente, sete coleções de livros de


matemática voltadas para o ensino fundamental, de 5ª a 8ª séries, publicadas
recentemente. A análise foi dividida em tópicos, cada um deles enfatizando um
determinado aspecto do livro. A avaliação dessas obras é necessária, visto que a
melhoria do ensino está diretamente ligada à melhoria do livro, pois este se
apresenta como instrumento básico do trabalho pedagógico desenvolvido pelo
professor, dentro e fora da sala de aula, quando não o único.
Foi estudado, também, o Programa Nacional do Livro Didático, criado pelo
MEC. Com ele foi possível ver os critérios mínimos exigidos pelo MEC para que um
livro didático atinja os seus objetivos de contribuir no processo de ensino
aprendizagem, o que ajudou no direcionamento de nossas análises.
Por fim, foram expostas algumas sugestões e conclusões para a melhoria de
nossos livros, para que professores e alunos possam trabalhar com mais segurança
no que se refere aos conteúdos abordados, e para que se evite a circulação, em um
meio de comunicação de tão grande alcance, de informações equivocadas e/ou
erros conceituais.

Palavras-chaves: Análise crítica, livro didático, ensino fundamental


ABSTRACT

During the present work, there has been chosen, at random, seven collections
of mathematics books dedicated to the fundamental teaching, from 5 th through 8th
grades, recently published. The analysis has been divided into topics, each one of
them emphasizing a different aspect of the book. The evaluation of these works is
necessary, because the improvement of teaching is directly connected to the
improvement of the book, since it is presented as the basic instrument of the
pedagogical work developed by the teacher, in and out of the classroom, when it is
not the only one.
There has been also studied the National Program of Didactic Book, created
by MEC. With this program there has been possible to see the minimums criterias
required by MEC so that the didactic book can reach its objective of contributing to
the teaching and learning process, which has helped us in the direction of our
analysis.
Eventually, there has been exposed some suggestions and conclusions to the
improvement of our books, so that teachers and students can work with more safety
when it comes to the topics approached and that the circulation of mistaken
informations through a means of communication of such wide reach be avoided.

Key words: critical analysis, didactic book, fundamental teaching.


ANEXOS

Anexo 1 – Página retirada do livro de 6ª série, da Coleção “Matemática na Vida e na

Escola”, p.182.............................................................................................................30

Anexo 2 – Página retirada do livro de 6ª série, da Coleção “Matemática na Vida e na

Escola”, p.219.............................................................................................................31

Anexo 3 – Página retirada do livro de 8ª série, da Coleção “Matemática na Vida e na

Escola”, p.270.............................................................................................................32

Anexo 4 – Página retirada do livro de 8ª série, da coleção “Matemática e Realidade”,

p.272...........................................................................................................................33

Anexo 5 – Página retirada do livro de 8ª série, da Coleção “Mais Matemática”,

p.209...........................................................................................................................34

Anexo 6 – Página retirada do livro de 7ª série, da Coleção “Matemática”, de Walter

Spinelli, p.280.............................................................................................................35

Anexo 7 – Página retirada do livro de 5ª série, da Coleção “Pensar Matemática para

o Ensino Fundamental”, p.234...................................................................................36


8

A MATEMÁTICA E O LIVRO DIDÁTICO

1 - INTRODUÇÃO

Podemos começar com uma indagação: por que foi escolhido este tema? A
resposta surge ao refletirmos sobre os recursos didáticos mais usados por nossos
professores. É comum ouvirmos em palestras e seminários que o professor deve
usar recursos computacionais, pesquisas na Internet, músicas, encenações e tudo
mais que a criatividade permitir para tornar as suas aulas inovadoras, criativas e
motivadoras.
A cada ano que passa, as tecnologias vão se aperfeiçoando e os recursos
disponíveis para a incrementação das aulas são cada vez mais práticos e eficientes.
Entretanto, o livro didático consegue sobreviver em meio a tantas novidades e
continua sendo uma das principais ferramentas pedagógicas para o processo de
ensino-aprendizagem. Ele, como vemos no Guia de Avaliação do Livro Didático,
2002: “Tornou-se, sobretudo, um dos principais fatores que influenciam o trabalho
pedagógico, determinando sua finalidade, definindo o currículo, cristalizando
abordagens metodológicas e quadros conceituais, organizando, enfim, o cotidiano
da sala de aula.“ (p.2).
Talvez a explicação disto venha da dificuldade encontrada por muitos
profissionais da educação, principalmente de escolas da rede pública de ensino, em
colocar a teoria na prática, isto é, em lançar mão dos mais variados recursos em
suas aulas. Muitas vezes eles até têm conhecimento da existência de tais meios
alternativos para enriquecer suas aulas, mas a realidade os restringe aos meios
mais triviais como quadro, giz e livro didático, devido a problemas como tempo,
dinheiro ou apoio da escola e/ou governo.
Sendo assim, para montar suas aulas o professor precisa de algo que o
direcione, pois como diz Sacristán (2000): “De fato, é conhecida a dependência do
professorado de algum material que estruture o currículo, desenvolva seus
conteúdos e apresente ao professor em termos de estratégia de ensino” (p. 150).
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Como o livro é, na maioria das vezes, o recurso mais acessível aos professores, ele
torna-se, então, uma ferramenta de grande influência na sala de aula.
Sendo o livro didático tão necessário para o processo de ensino-
aprendizagem, torna-se visível a importância e a responsabilidade que se deve
assumir com a qualidade dos livros didáticos a serem adotados por nossas escolas.
Neste sentido, buscamos neste trabalho analisar algumas coleções voltadas
para o ensino de matemática para o nível fundamental, de 5ª a 8ª séries, com o
intuito de conhecer mais profundamente a realidade dos livros didáticos, para que
se possa detectar possíveis falhas ou desvios, visando propor sugestões para
melhorar ainda mais os nossos livros.
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2 - O LIVRO DIDÁTICO

O livro didático é um instrumento pedagógico extremamente difundido e


continua sendo o principal portador dos conhecimentos básicos das diversas áreas
do conhecimento, apesar das insistentes críticas que tem recebido nos últimos anos.
Ele tem o importante papel de atuar no desenvolvimento de formas de regulação da
vida escolar dos alunos e professores, pois apresenta o “conhecimento oficial”,
compreendido como o que deve ser incluído ou excluído da sala de aula.
Os livros didáticos configuram-se, assim, como instrumentos privilegiados no
cenário educacional, pois são eles que “estabelecem grande parte das condições
materiais para o ensino e a aprendizagem nas salas de aula de muitos países
através do mundo” (APPLE, M.1995).
Acreditando que os livros didáticos exercem grande influência no processo de
ensino-aprendizagem, iniciamos este trabalho, transformando-os no nosso objeto de
estudo, os quais foram escolhidos de diferentes editoras, a saber:

 Matemática e Realidade – Gelson Iezzi, Osvaldo Dolce e Antônio Machado -


Atual Editora;

 Matemática – Edwaldo Bianchini - Editora Moderna;

 Pensar Matemática para o ensino fundamental – Scipione Di Pierrô Netto -


Editora Scipione;

 Mais matemática – Luis G. Cavalcanti, Juliana Sosso, Fábio Vieira e Cristiane


Zequi - Editora Saraiva;

 Matemática para todos – Luis Marcio Imenes e Marcelo Lellis - Editora


Scipione;

 Matemática na Vida e na Escola – Ana Lucia Bordeaux, Cléa Rubinstein,


Elizabeth França, Elizabeth Ogliári e Gilda Portela - Editora do Brasil;

 Matemática – Walter Spinelli e Maria Helena Souza - Editora Ática.

Os nossos objetivos na realização desta pesquisa são os seguintes:


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 Verificar como os conteúdos de matemática apresentados nas coleções de


livros do Ensino Fundamental, de 5ª a 8ª séries, vêm sendo tratados;
 Verificar os critérios exigidos por programas nacionais para que se tenha um
bom livro didático.

3 - O PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO

Nos últimos anos, muito se tem falado sobre a qualidade dos livros didáticos
adotados nas escolas, principalmente na rede pública de ensino, onde são
fornecidos gratuitamente aos alunos. O Ministério da Educação e Cultura (MEC)
tem mostrado muito empenho em melhorar a qualidade dos nossos livros, criando o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Nele são analisados e avaliados livros
do ensino fundamental das mais diversas áreas do conhecimento.
Este programa é desenvolvido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE) e pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF). Os dois
órgãos são ligados ao MEC. Suas principais finalidades, hoje, são a avaliação,
aquisição e distribuição universal e gratuita de livros didáticos para ensino
fundamental de 1ª a 8ª séries.
Com base na avaliação, os livros recebem menções, representadas por
estrelas, que vão das categorias:

 - Recomendadas com distinção: são as que se destacam pelo esforço em se


aproximar o mais possível do ideal representado pelos princípios e critérios.
Constituem propostas pedagógicas elogiáveis, criativas e instigantes.

 - Recomendadas: são aquelas que cumprem todos os requisitos mínimos de


qualidade exigidos. Por isso mesmo, asseguram a possibilidade de um trabalho
didático correto e eficaz por parte do professor.

 - Recomendadas com ressalvas: nessa categoria estão reunidos os trabalhos


isentos de erros conceituais ou preconceitos que obedecem aos critérios mínimos de
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qualidade, mas, por este ou aquele motivo, não estão a salvo de ressalvas. Desse
modo, podem subsidiar um trabalho adequado se o professor estiver atento às
observações, consultar bibliografias para revisão e complementar a proposta.

Excluídos: essa categoria foi incluída no Guia sob a forma de listagem para que os
educadores, em geral, conheçam as obras reprovadas nesta avaliação. Por não
observarem os requisitos mínimos de qualidade, esses títulos não estão disponíveis
para escolha.
A partir dessa avaliação, a SEF elabora um Guia de Livros Didáticos, trazendo as
resenhas das obras avaliadas e recomendadas, os princípios e critérios gerais, os
critérios específicos das áreas, as fichas detalhadas que orientaram o trabalho dos
especialistas na análise dos livros e, ainda, a listagem das obras excluídas.
Este guia foi utilizado para ajudar nas análises feitas durante o
desenvolvimento desta monografia. Dos livros por nós escolhidos para análise,
apenas as coleções Matemática na Vida e na Escola, da Editora do Brasil, e
Matemática, da Editora Ática, foram analisadas por este programa, recebendo as
menções de três e duas estrelas, respectivamente. Entretanto, diferente da
avaliação feita por este guia, foi feita uma avaliação mais detalhada, mostrando as
falhas, apontando os desvios, para que possamos mostrar de maneira bem evidente
a realidade dos nossos livros.

4 – ANALISANDO O LIVRO DIDÁTICO

4.1 - CONTEÚDOS ABORDADOS

Ao selecionarmos diferentes livros de matemática referentes a introdução à


geometria, por exemplo, podemos perceber que os autores seguem quase sempre
os mesmos tópicos: noções básicas de ponto, reta e plano e depois vão
dificultando, sempre seguindo uma seqüência lógica.
Seríamos injustos se disséssemos que tais autores não inovam em seus
livros devido ao fato destes terem sempre os mesmos temas. Não podemos
esquecer que um livro cujo objetivo é ensinar geometria, não poderia gastar páginas
13

e mais páginas falando sobre álgebra ou qualquer outro assunto que fuja ao assunto
central.
Entretanto, na forma como tais temas são desenvolvidos é que o autor faz
diferença. Concorda-se com Sacristán (2000, p.152), ao mencionar que a partir da
necessidade de abrangência de todo o currículo no livro texto, os conteúdos por
vezes são abordados de forma pobre e esquemática. Por outro lado, se a
apresentação dos conteúdos fosse trabalhada através de atividades diversificadas e
mais contextualizadas, formaria um volume inabarcável e caro, o que é incompatível
para um livro de custo moderado e de caducidade anual.
Uma grande quantidade de livros didáticos torna-se ultrapassada todos os
anos. Neste ponto está a estabilidade do livro didático, que ora é maior, ora é
menor, chegando a haver livros que ficam em circulação até oito anos, ao passo que
outros têm a vida útil restrita a apenas um ano. Esta diferença nos faz questionar
quanto à necessidade de constantes mudanças dos livros didáticos, em especial dos
livros de matemática. Quem seriam os verdadeiros interessados nestas
substituições contínuas? Seria o aluno, realmente, o enfoque principal dessas
mudanças?
Estas perguntas dão margens a respostas complexas, nas quais podem ser
envolvidos interesses comerciais, mas que, no caso das escolas particulares,
mesmo indiretamente, atingem o processo de ensino aprendizagem, visto que,
quanto mais custosos forem os livros, menos pessoas poderão adquiri-los, e se
houver a necessidade de troca contínua, famílias não poderão usar os mesmos
exemplares, o que acarretará mais despesas. No que se refere aos livros fornecidos
gratuitamente pelo governo, estes também gerarão maiores despesas se forem
trocados anualmente, diminuindo, assim, os investimentos que poderiam ser feitos
em outros recursos didáticos para enriquecer ainda mais o universo escolar.

4.1.1 – A SEQUÊNCIA DO SUMÁRIO

O sumário ou índice encontra-se, geralmente, no início do livro. Por meio


dele o leitor pode ter uma visão geral dos assuntos abordados no decorrer do livro.
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É nele, também, que podemos ver a seqüência escolhida pelo autor para o
seguimento do livro.
Analisando o sumário do livro “Mais Matemática”, 7ª série, foi possível
constatar que no capítulo 6, onde se estuda as propriedades dos ângulos, há um
tópico referente à soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo (p. 48);
mas somente no capítulo 17 há o estudo dos triângulos (p. 117) e no capítulo 18 há
o estudo dos ângulos nos triângulos (p.129).
Como o autor pode ensinar a soma dos ângulos internos do triângulo páginas
antes de estudar triângulos? Esta falha prejudica a seqüência lógica dos conteúdos
e interfere no processo de aprendizagem. Ao estudar, é natural que os alunos
sigam a ordem numérica dos capítulos, respeitando a organização do livro.
Outro aspecto observado foi quanto ao tamanho do conteúdo explicitado no
sumário. O sumário da 7ª série da coleção “Matemática e Realidade”, por exemplo,
se comparado com as demais séries, é visivelmente maior. Com duas unidades a
mais, a quantidade de conteúdo torna-se imensa, o que dificulta que todo o
conteúdo seja apreciado.
O autor precisa ter conhecimento do tempo que os professores têm para
trabalhar com os seus alunos, para que possa preparar um livro condizente com a
realidade. Um sumário no qual se observa um conteúdo muito extenso não é
suficiente para que o livro seja bom. É preciso que se valorize mais a qualidade que
a quantidade, ou seja, é preciso que haja bons conteúdos, mas na medida certa.
Não estamos afirmando que há conteúdos em excesso e que há necessidade
de abandonar alguns. Só queremos enfatizar que a divisão dos conteúdos desde a
5ª até a 8ª série deve ser feita com muita atenção e senso crítico. O tempo
separado para o ensino de matemática não é muito, portanto os autores devem
evitar muitas repetições e revisões nas séries seguintes as já estudadas, para que
se evite a elaboração de livros extensos, nos quais a abordagem plena de seus
temas torna-se inexeqüível.
Os assuntos matemáticos seguem uma seqüência, mas isso não significa que
a cada passo dado seja necessário revisar. Eles devem ser arrumados de forma
que dispensem qualquer acréscimo para a sua total compreensão, daí a importância
de um sumário bem elaborado.
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4.1.2 - DELIMITAÇÃO DO CONTEÚDO

O mundo em que vivemos apresenta uma série de problemas,


questionamentos e situações que envolvem, muitas vezes, a matemática ensinada
nas salas de aula. Há uma busca desenfreada por lucros, vantagens e estratégias,
nas quais vence o mais esperto ou o mais preparado. É necessário e imprescindível
que o autor tome consciência desta realidade. Oferecendo uma ferramenta eficaz
para o aprendizado, ele está preparando os alunos para vivenciar as mais diversas
situações do dia-a-dia.
Neste sentido, que conteúdos seriam importantes e quais seriam
desnecessários para desenvolver um livro didático?
Acreditamos que a matemática é uma ciência de grande serventia para todos
nós. Todavia, nenhum livro, por maior que seja, consegue abordar todos os ramos e
aplicações da matemática. Sendo assim, ao escolher um assunto central para o seu
livro, o autor deve delimitar o conteúdo excluindo tudo o que for ultrapassado,
redundante e inútil para o assunto em questão. Ele precisa ter muita percepção e o
senso crítico aguçado para selecionar aquilo que realmente faz diferença no
desenvolvimento do livro.
Vale ressaltar que muitas escolas do Ensino Médio, especialmente as
particulares, preparam uma carga muito grande de conteúdos, as quais são jogadas
aos estudantes com a justificativa de prepará-los para outros segmentos, mas que,
na verdade, usam os bons resultados alcançados por seus estudantes para a sua
própria promoção social.
Nesta perspectiva, é preciso que fique bem claro que a delimitação do
conteúdo deve ser focalizada nas reais necessidades dos alunos em cada momento
de seus estudos, levando em conta seus limites e suas necessidades de tempo para
fixação, não os confundindo com meros depósitos de conteúdos.

4.1.3 - MOMENTO IDEAL PARA ESTUDAR ESTE ASSUNTO

Ao analisarmos sumários de algumas coleções de matemática de 5ª a 8ª


séries, é possível notar algumas divergências. Na coleção “Matemática e
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Realidade”, por exemplo, o autor deu uma introdução em porcentagem na 5ª série, e


na sexta trabalhou razão, proporção, regra de 3 simples e composta e juros simples.
Não voltou mais neste assunto nas séries seguintes e nem trabalhou com juros
compostos.
Já na coleção “Mais Matemática”, o autor teve a preocupação de dividir o
conteúdo da seguinte forma:
5ª série – porcentagem (introdução);
6ª série – proporcionalidade, porcentagem, regra de 3;
7ª série – razão e proporção;
8ª série – regra de 3 simples e composta, juros simples e compostos.
Qual divisão de conteúdo é a mais adequada? (Observe que um dos autores
não trabalhou juros compostos). Tal escolha é muito importante e interfere na
assimilação do conteúdo pelo aluno, pois quanto mais adequado for o momento,
mais o aluno aprenderá.
Vale ressaltar que, se limitarmos este conteúdo à 6ª série, o aluno não terá a
mesma bagagem que teria se tal abordagem fosse estendida até a 8ª série. Além
disso, se o aluno deixar de estudá-lo por dois anos consecutivos, ainda corre o risco
de cair no esquecimento. Desse modo, cabe ao autor atentar para estes pontos e
buscar trabalhar com o conteúdo de forma gradativa e contínua. A cada série o
aluno está num estágio de desenvolvimento e o seu olhar para a matemática nunca
é o mesmo. Reconhecer isso é função da escola, do professor e também do autor,
para que o seu livro atinja seus objetivos de proporcionar uma seqüência de
conteúdos favoráveis ao “pleno” aprendizado.

4.1.4 - O CONTEÚDO E A REALIDADE

Alguns livros iniciam a explicação do conteúdo com exemplos práticos do


cotidiano do aluno. Outros já começam direto na matemática, e nos exemplos e
exercícios posteriores é que mostram sua utilidade. O essencial, na verdade, não é
a ordem em que aparecem, mas sim a existência de exemplos, atividades e
qualquer outra estratégia didática que aproxime a matemática estudada à realidade
dos alunos.
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A matemática de 5ª a 8ª séries, sem dúvida alguma, é usada no decorrer de


toda a vida do estudante. Não faltam exemplos para se trabalhar na sala de aula.
Entretanto, há livros que limitam-se a mostrar “regrinhas”, comprometendo a
curiosidade e a criatividade que o assunto despertaria se fosse trabalhado de
maneira mais adequada.
À medida que o livro associa o conteúdo ao cotidiano dos alunos, está
favorecendo um conteúdo articulado à realidade, com aplicabilidade incontestável, e,
desse modo, muito mais interessante do que um conteúdo isolado, sem propósito,
questionável quanto a necessidade de sua existência, pois como vemos nos PCNs,
matemática: “ O estabelecimento de relações é fundamental para que o aluno
compreenda efetivamente os conteúdos matemáticos, pois, abordados de forma
isolada, eles não se tornam uma ferramenta eficaz para resolver problemas e para a
aprendizagem/construção de novos conceitos.” (p. 37).
Por outro lado, não podemos deixar de destacar que a matemática ocupa
intrinsecamente seu lugar de importância nas áreas do conhecimento,
independentemente de sua aplicabilidade. Isto fica bem claro nos PCNs,
matemática, ao dizer: “Outra distorção perceptível refere-se a uma interpretação
equivocada da idéia de contexto, ao se trabalhar apenas com o que se supõe fazer
parte do dia-a-dia do aluno. Embora as situações do cotidiano sejam fundamentais
para conferir significados a muitos conteúdos a serem estudados, é importante
considerar que esses significados podem ser explorados em outros contextos como
as questões internas da própria matemática e dos problemas históricos. Caso
contrário, muitos conteúdos importantes seriam descartados por serem julgados,
sem uma análise adequada, que não são de interesse para os alunos porque não
fazem parte de sua realidade ou não têm uma aplicação prática imediata.” (p.22).

4.2 - EXPLICAÇÕES

Observe como o livro: “Matemática”, 6ª série, de Edwaldo Bianchini iniciou a


explicação de porcentagem:

“Grande liquidação. Descontos de 30%.


Isso significa que em cada R$100,00 de compra é feito um desconto de R$30,00.”
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(Unidade 13, p.180)


Este exemplo dá uma idéia inicial de porcentagem; mas se o aluno pensar: E
se eu não comprar R$100,00, mas R$84,00, também terei desconto? A explicação
é limitada e não dá margens a respostas a esta possível dúvida.
Muitos autores esquecem que o conteúdo apresentado é um universo novo
que está se abrindo para os alunos, e que nada é tão obvio ou tão fácil para eles
quanto para os profissionais de ensino.
Uma explicação mais completa, por exemplo, poderia ser feita usando as

frações § , onde deve-se mostrar que um desconto de 30% de algum valor

x é calculado através da multiplicação de frações:

Este é um grande problema na explicação do conteúdo. Há livros que


parecem ter sido escritos para profissionais da área ou, pelo menos, para quem
goste muito dos assuntos neles contidos. Esquecem que os livros didáticos são
direcionados para crianças e que as explicações devem condizer com o leitor em
questão.
É preciso evitar explicações incompletas, para que os alunos não memorizem
simplesmente os procedimentos de resolução sem saber exatamente o porquê
daquilo.
Podemos constatar, no exemplo anterior, que em momento algum houve a
explicação do que realmente significa 100% ou 0%. Não há uma explicação
coerente dos procedimentos aplicados. Apenas aplicou-se nos exemplos, induzindo
o aluno a repeti-los na resolução dos exercícios propostos.
É para esse ponto que é preciso atentar. O autor ao escrever um livro e o
professor ao usá-lo no planejamento de suas aulas devem ter cuidado para não cair
neste erro. As explicações devem ter uma seqüência lógica para que os alunos
possam acompanhá-las e compreendê-las. Não basta que os alunos saibam
resolver exercícios fazendo uso de fórmulas prontas, impostas. É dever do livro
oferecer os caminhos para alcançá-las. Nas explicações, os autores têm as maiores
oportunidades de ajudar na autonomia cognitiva de seus leitores. Quando eles
valorizam a iniciativa, a curiosidade e a descoberta, eles não oferecem
simplesmente fórmulas ou regras, mas sim dão condições para que o aluno siga
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sozinho e por conseqüência continue ampliando e aprofundando as informações e


os conhecimentos adquiridos em sala de aula.

4.2.1 - A ESCOLHA DOS EXEMPLOS

Junto das explicações, como foi comentado anteriormente, é necessário que


haja exemplos. Isto porque os exemplos ajudam na compreensão dos conteúdos,
além de mostrar a sua aplicabilidade imediata. Devido a sua importância, o exemplo
deve ser bem escolhido para que proporcione o efeito desejado.
Existe a tendência de colocar exemplos mais simples e fáceis de resolver ao
iniciar um conteúdo. Isto é facilmente compreensível, pois se forem colocadas
muitas dificuldades no início, o aluno poderá se sentir incapaz, o que acabará
deixando-o desmotivado.
Entretanto, é fundamental não subestimar o potencial matemático dos alunos,
e, por isso, essa simplicidade e facilidade apresentada nos primeiros exemplos não
devem ser usadas continuamente. As dificuldades também precisam surgir nos
exemplos, mesmo que gradativamente. Os exemplos ajudam nas explicações e,
portanto, auxiliam o aluno a consolidar o conhecimento novo e desenvolver o seu
raciocínio matemático. Se forem muito fáceis, o aluno nem precisará raciocinar
muito e logo obterá a resposta. Se forem muito difíceis, ele pensará muito,
possivelmente ficará confuso e acabará desistindo de entendê-lo, chegando até, em
alguns casos, a gerar rejeição à matemática.
Neste sentido, como saber o que é fácil e o que é difícil se os alunos são
individuais e não pensam uniformemente? Este questionamento é importante. As
respostas não são tão fáceis de se obter, exigem análise, pesquisa e trabalho.
Antes de serem editados, os livros precisam passar por um processo de
validação, ou seja, os exemplos precisam ser aplicados na prática, com os mais
diferentes alunos. Seus resultados devem ser analisados, estudados. O livro tem
seus autores, isso é necessário para que ele exista. No entanto, estes não devem,
necessariamente, ser os únicos a participarem na sua elaboração. À medida que as
suas idéias são discutidas com professores experientes e aplicadas na prática
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docente, ele terá maior segurança quanto aos resultados, culminando com a criação
de um livro ainda mais eficiente.

4.2.2 - A ESCOLHA DOS EXERCÍCIOS

Os exercícios, não muito diferentes dos exemplos, também fazem parte do


processo de ensino-aprendizagem, pois ajudam na assimilação, fixação e no
amadurecimento do aluno no conteúdo em questão.
O primeiro ponto para o qual podemos atentar é quanto à variabilidade dos
exercícios. Observe o seguinte trecho do livro “Matemática”, de Edwaldo Bianchini,
6ª série:

“Exemplo 4: Comprei uma casa por R$45.000,00 e quero revendê-la com um lucro
de 12%. Por quanto deverei vender essa casa?” (p. 185).

Após o enunciado, o exemplo é resolvido, passo a passo e, em seguida, são


propostos os seguintes exercícios:

“Exercícios - Resolva os problemas


a) Para lucrar 24%, por quanto deverei vender uma mercadoria que me custou
R$50,00?
b) Comprei um objeto por R$300,00 e quero vendê-lo com um lucro de 30%.
Por quanto deverei vender esse objeto?” (p. 185).

Este é um exemplo claro de falta de criatividade. A repetição no enunciado


induz o aluno a repetir os procedimentos, sem que seja preciso raciocinar. Neste
caso, os exercícios tornam-se ineficazes, pois são feitos mecanicamente a tal ponto
que o aluno nada ou pouco pode fazer diante do mesmo problema com seu
enunciado alterado. O mesmo acontece quando o livro oferece uma atividade como
a do anexo 7, onde os alunos recebem tudo prontinho, não tendo a oportunidade de
encontrar a sua própria maneira de resolver as atividades.
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Outro ponto que podemos destacar é o grau de dificuldade dos exercícios.


Observe o trecho do livro “Matemática para todos", de Imenes & Lellis, 8ª série, no
qual o assunto central é Produção e Proporcionalidade:

“2 – Uma máquina produz chapas retangulares de alumínio, todas de mesma


espessura. A chapa tipo I, que mede 90 cm de comprimento e 75 cm de largura,
tem 3,6 Kg de massa. Se quiser, use a calculadora para responder às perguntas
seguintes:

a) A chapa tipo II tem a mesma massa da chapa tipo I, mas sua largura é de
100 cm. Qual é o seu comprimento?
b) A chapa tipo III tem 7,2 kg de massa e 100 cm de largura. Qual é o seu
comprimento?
c) A densidade do alumínio é 2,7 g/cm 3 , isto é, 1 cm3 de alumínio tem 2,7 g de
massa. Com essa informação, descubra qual é a espessura aproximada dos
três tipos de chapa.” (p. 148).

Neste exercício, podemos perceber que o autor complicou demais nos detalhes,
desviando-se do assunto estudado. Com o enunciado muito grande e usando um
pouco de física, o aluno acaba ficando confuso e desestimulado. Não é bom que
isso aconteça, pois os exercícios não deveriam ter a finalidade de complicar, mas
sim de ajudar. As dificuldades devem ser colocadas, porém na medida certa, isto é,
didaticamente.

4.3 – A APRESENTAÇÃO DO LIVRO

4.3.1 - A LINGUAGEM UTILIZADA

Podemos afirmar, infelizmente, que muitos livros didáticos não têm o cuidado
que deveriam ter com a linguagem utilizada. Frases mal elaboradas, palavras mal
colocadas e outros erros interferem na leitura e, conseqüentemente, no aprendizado
dos alunos. Observe o exemplo do livro “Matemática e realidade”, 6ª série:
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“ Se uma pessoa quer comprar uma casa e não dispõe de dinheiro suficiente,
ela pode arrumar o dinheiro que falta emprestando-o de um banco.” (p.236).

O mais provável é que o autor quis dizer que a pessoa que precisa de
dinheiro pode arrumá-lo tomando emprestado de um banco. No entanto, na
construção da frase há erros na colocação do verbo, confundindo um pouco a
interpretação de quem irá emprestar o dinheiro.
A frase estaria bem mais coerente se fosse escrita das seguintes maneiras:

1 - Se uma pessoa quer comprar uma casa e não dispõe de dinheiro suficiente, ela
pode arrumar o dinheiro que falta tomando-o emprestado de um banco.

2 - Se uma pessoa quer comprar uma casa e não dispõe de dinheiro suficiente, ela
pode arrumar o dinheiro que falta pegando-o emprestado de um banco.

Outro bom exemplo de texto mal elaborado é no seguinte exercício do livro


“Matemática para todos”, 8ª série:

“Se 1,5 gato come 1,5 rato em 1,5 dia, 3 gatos comerão 6 ratos em quantos dias?”
(p. 149).

Os gatos são contados com números inteiros: um gato, dois gatos, três gatos.
Não há como dividi-los e ainda assim continuarem vivos. Este exercício foge
completamente da realidade, e não há solução para ele no mundo real.
Erros como este, muitas vezes passam desapercebidos, porém é preciso
notá-los. O profissional de matemática não pode aceitar um erro destes unicamente
por não estar inserido em seu conteúdo matemático. É preciso consertá-lo. Mais
que isso, é preciso evitá-lo. Os livros são fonte de pesquisa, de estudo. É
inadmissível a ocorrência de tais erros em suas páginas. Além da matemática, o
autor também precisa se preocupar com a linguagem usada em seus livros. Ela é
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uma ferramenta de comunicação para explicar a matemática e, sendo ferramenta,


quanto melhor for usada, mais proveito dará.
É preciso, também, analisar as possíveis interpretações que podem ser feitas
das frases do livro. O livro “Matemática na Vida e na Escola”, 8ª série, ao iniciar a
unidade sobre números, coloca a imagem de um professor com a calculadora na
mão, dizendo: “Use a calculadora sempre que achar conveniente.” (p.33). Ao ler
esta frase, podemos refletir sobre as mais diferentes interpretações que os alunos
farão da mesma. Será que eles sabem quando é ou não conveniente usar a
calculadora? Será que o conveniente para eles é a obtenção de respostas rápidas
sem a necessidade de raciocínio?
As mensagens do livro influenciam o aluno. Não se pode ignorar as possíveis
interpretações que podem surgir de uma determinada frase. Portanto, é necessária
a existência de muito senso crítico na hora de criá-las.

4.3.2 - OS RECURSOS VISUAIS

Ao pegar um livro e olhar para ele, o estudante já começa a gostar ou não. A


maneira como o livro se apresenta, sua capa, formas e cores podem atrair ou repelir
os seus leitores. Os recursos visuais, tão importantes quanto a linguagem utilizada,
contribuem na formação do livro para que este fique mais fácil de ser compreendido.
A não ocorrência destes recursos tende a desencorajar a leitura, resultando, assim,
num menor aproveitamento do livro por parte dos alunos.
Concorda-se com o Guia do livro didático quando diz que: “O texto e as
ilustrações devem estar dispostos de forma organizada, com ritmo e continuidade,
dentro de uma unidade visual.” Tanto o texto como as ilustrações são os recursos
usados pelo autor para apresentar a matemática e, para que exerçam influência
positiva no livro, é preciso que estejam organizados para este fim.
Analisando as ilustrações presentes em alguns livros didáticos, o primeiro
aspecto observado foi quanto ao tamanho. Na coleção “Matemática na Vida e na
Escola”, por exemplo, encontramos figuras que ocupam um espaço muito grande
para passar uma mensagem pequena. Como se pode ver nos anexos 1,2 e 3 , há
desenhos que ocupam muito espaço no livro, mas que poderiam ocupar um espaço
24

bem menor, passando a mesma mensagem se fossem dispostos de uma outra


forma.
As ilustrações são importantes, não há dúvidas disto. Entretanto, não
podemos esquecer que os livros são de matemática, não de artes, e para tanto não
precisam de figuras tão grandes. O tamanho das figuras interfere no tamanho do
livro e, conseqüentemente, no aprendizado do aluno, pois quanto maior for o livro,
mais e mais páginas o aluno terá para estudar, o que poderá desanimá-lo. Além
disso, o tamanho dos livros também interfere no peso dos mesmos, fazendo com
que, muitas vezes, o aluno deixe os livros em casa, prejudicando, dessa forma, o
uso do livro dentro da sala de aula.
Outro aspecto observado foi o uso de figuras relacionadas à realidade do
aluno. Felizmente os nossos autores muito têm se esforçado para colocar figuras
cada vez mais próximas da realidade do aluno. Nos anexos 4 e 5 , podemos ver
figuras e até mesmo fotos de situações comuns ao cotidiano de nossos estudantes.
Isso é importante, pois quando o aluno vê no livro o seu dia-a-dia, há uma maior
identificação dele com o livro, favorecendo, desse modo, o seu interesse pelo
conteúdo.
Não poderíamos deixar de comentar o fato de que os livros, como diz o Guia
do livro didático: “ Principalmente, devem reproduzir adequadamente a diversidade
étnica da população brasileira e não podem expressar, induzir ou reforçar
preconceitos e estereótipos.” As ilustrações são importantes, ajudam no
enriquecimento do livro, mas também exercem influência e por isso precisam ser
bem selecionadas.
No livro: “Matemática”, de Walter Spinelli e Maria Helena Souza, 7ª série,
anexo 6, encontramos ilustrações de diferentes tipos de pessoas: loiras, morenas,
negras, etc. É interessante notar que os autores tiveram o cuidado de colocar
diferentes tipos em seus personagens. Com esta atitude, evita-se o preconceito de
raças, passando a mensagem de que todos são importantes e merecem ser
representados no livro didático.
Valorizando as raízes culturais dos alunos, o livro faz menção da
etnomatemática, programa no qual se procura organizar um modelo educacional que
responda às aspirações do povo brasileiro. A partir do momento que o livro usa os
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seus recursos para aproximar o aluno de seu ambiente cultural, ele está
proporcionando uma nova proposta educacional, cujo grande objetivo é eliminar a
exclusão social.

5 – CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises realizadas durante este trabalho, foi possível constatar
algumas falhas e erros nos livros didáticos selecionados. Mesmo aqueles que foram
classificados como recomendados com distinção (3 estrelas) na avaliação do Plano
Nacional do Livro didático, como é o caso da Coleção “Matemática na Vida e na
Escola”, apresentaram falhas quanto ao tamanho de suas ilustrações, por exemplo.
Descobrimos, também, a existência de programas que visam avaliar a
qualidade dos nossos livros, para que se possa conscientizar professores e escolas
quanto à necessidade de se optar por uma boa obra didática, o que comprova, de
maneira bem evidente, que os livros interferem no processo de ensino
aprendizagem e, portanto, precisam ser bem escolhidos.
Possivelmente há outros livros, diferentes dos que aqui foram analisados, que
apresentam outros tipos de falhas que não foram mencionadas neste trabalho. No
entanto, a pesquisa feita, mesmo que com apenas sete coleções, serve para nos
deixar em estado de alerta, com o senso crítico aguçado, para que se possa
derrubar de uma vez por todas a “verdade” que atravessa os tempos e gerações de
que o livro didático é o dono da razão.

5.1 – RECOMENDAÇÕES AOS AUTORES

O livro didático é uma ferramenta fundamental para promover a educação.


Através dele, conceitos, idéias, problemas e até mesmo erros são repassados para
uma grande quantidade de alunos de culturas diferentes e lugares diferentes. O seu
alcance é de âmbito nacional. Reconhecer essa responsabilidade é o primeiro
passo para a confecção de um livro dinâmico e ao mesmo tempo eficaz, que
respeita diferentes modos de vida, valores, crenças e conhecimentos e apresenta-se
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como um instrumento capaz de facilitar a educação no contexto social para o qual foi
escrito.

5.2 – RECOMENDAÇÕES AOS PROFESSORES

Mostramos, no decorrer de todo este trabalho, vários deslizes encontrados


em nossos livros. Nosso intuito, na verdade, não foi simplesmente de criticar obras,
mas sim de mostrar a você, professor, que o livro, infelizmente, não têm sido
exatamente aquilo que deveria ser, e que a sua responsabilidade como profissional
de ensino aumenta ainda mais na medida que você se conscientiza desta realidade
e conclui que não pode deixar que os livros ditem ou guiem as suas aulas. É preciso
que tenham em mente que os livros são apenas auxiliadores. Eficientes, porém
sujeitos a erros; importantes, porém não tanto quanto o professor e os seus alunos.
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6 - BIBLIOGRAFIA

6.1 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sacristán, J. Gimeno. O Currículo: Uma reflexão sobre a prática, Porto Alegre:


Artmedica, 2000.

APLLE, M. W. Cultura e Comércio do Livro Didático. In: trabalho Docente e Textos:


Economia Política das relações de Classe e de Gênero em Educação. Porto
Alegre.Artes Médicas.1995.

Parâmetros Curriculares Nacionais - Matemática – Ensino Fundamental - 5ª a 8ª


séries. Disponível em: http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/matematica.pdf,
acesso em 11/11/03.

Etnomatemática, um estudo das evoluções das idéias. Disponível em:


http://www.ufrrj.br/leptrans/8.pdf , acesso em 12/12/03.

Pesquisa em Etnomatemática Disponível em:


http://phoenix.sce.fct.unl.pt/GEPEm/ubi.htm, acesso em 14/12/03.

MEC. Ministério de Educação e Cultura - Avaliação do Livro Didático. Disponível


em: http://www.mec.gov.br/sef/fundamental/GuiaDeAvaliacao.shtm, acesso em
13/01/04.

FNDE. Fundo Nacional de desenvolvimento da Educação – Programa do Livro


Didático. Disponível em: http://www.fnde.gov.br, acesso em 13/01/04.

Revista Ciência OnLine – artigo: O Programa Nacional do Livro Didático e sua


importância para o ensino fundamental no Brasil. Disponível em:
http://www.cienciaonline.org/revista/01_03/artigo_especial/, acesso em 16/01/04.
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6.2 - FONTES PRIMÁRIAS

Iezzi, G., Dolce, O. e Machado, A. – Matemática e Realidade – 5ª a 8ª séries, Atual


Editora, São Paulo, 2000.

Bianchini, E. – Matemática - 5ª a 8ª séries, Editora Moderna, São Paulo, 1996

Di Pierrô Netto, S. – Pensar Matemática para o ensino fundamental - 5ª a 8ª séries,


Editora Scipione, São Paulo, 2001.

Cavalcante, L., Sosso, J., Vieira, F. e Zequi, C. – Mais matemática - 5ª a 8ª séries,


Editora Saraiva, São Paulo, 2001.

Imenes & Lellis – Matemática para todos - 5ª a 8ª séries, Editora Scipione, São
Paulo, 2000.

Bordeaux, A., Rubinstein, C., França, E., Ogliari, E. e Portela, G. – Matemática na


Vida e na Escola - 5ª a 8ª séries, Editora do Brasil, São Paulo, 1999.

Spinelli, W., Souza, M. H. – Matemática - 5ª a 8ª séries, Editora Ática, São Paulo,


2001.
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ANEXOS
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