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Física I - Teoria

Capítulo 1

Cinemática escalar
1. Cinemática escalar - definição

Cinemática Escalar é um dos principais ramos da Mecânica. Trata-se da


área que estuda o movimento dos corpos sem atribuir-lhes uma causa. A
palavra escalar refere-se ao fato de lidarmos com movimentos unicamente
unidimensionais, ou seja, que se desenvolvem
unicamente ao longo de uma direção do espaço, dispensando, dessa forma, o
tratamento vetorial das grandezas físicas envolvidas.
Para o estudo da Cinemática Escalar, alguns conceitos são de grande
importância, a saber:

I) Corpo: é uma porção limitada de matéria e é constituído por partículas,


mas pode ser tratado macroscopicamente como um único corpo no
âmbito da Cinemática Escalar;

II) Ponto material: é todo corpo cujas dimensões podem ser desprezadas
em relação às distâncias envolvidas; alguns exemplos: a Terra
movendo-se em torno do Sol; um caminhão que viaja entre duas
cidades distantes; uma balsa que se move ao longo de um rio etc.

III) Corpo extenso: é todo corpo cujas dimensões são comparáveis às


escalas envolvidas; nesse caso, elas não podem ser desprezadas;
alguns exemplos: a Terra em relação à Lua; o movimento de um
caminhão saindo de uma garagem; uma pessoa entrando em uma
balsa etc.

IV) Referencial: é o sistema de referência adotado; a partir dele, são


medidas as distâncias, larguras, profundidades etc; o referencial é a
posição do espaço ocupada pelo observador; por exemplo: mede-se
o raio da Terra a partir de seu núcleo, portanto, para esse caso, o
centro da Terra é o referencial adotado;

V) Posição: é o espaço ocupado por um corpo e é determinado pela


distância medida em relação a algum referencial; pode ser dado
em metros, quilômetros, centímetros ou quaisquer outras unidades
que sejam coerentes com as escalas envolvidas na observação;

VI) Repouso: sempre que um corpo mantiver sua posição constante em


relação a algum referencial, diz-se que esse corpo encontra-se
parado em relação a ele; por exemplo: em um ônibus em movimento,
os ocupantes dele estão em repouso em relação aos assentos;
é importante ressaltar que não existe repouso absoluto,
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pois nenhum corpo estará em repouso em relação a todos os


referenciais possíveis;

VII) Movimento: quando a posição de um corpo mudar em relação a um


dado referencial, diz-se que esse corpo encontra-se em movimento
em relação a esse referencial; por exemplo: em um ônibus em
movimento, como os ocupantes estão na mesma velocidade que o
ônibus, eles estão em movimento em relação ao chão;

VIII) Trajetória: é a sucessão das posições ocupadas pelo corpo em


relação a um dado referencial; por exemplo: pegadas deixadas na
areia; rastro dos pneus de um carro etc.

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Capítulo 2

Movimento unidimensional, retilíneo


e uniforme
1. Deslocamento e velocidade média – definição

Na figura 3.1 ilustra-se um móvel deslocando-se com certa velocidade


na direção x positivo.

Fig. 3.1: variação da posição de um móvel ao longo do tempo

Define-se deslocamento à modificação da posição do móvel ao longo


do seu percurso e é dado por:

x  x2  x1  Δ  delta  variação

Por sua vez define-se velocidade média à variação temporal do


deslocamento, ou seja, à relação entre o deslocamento e o intervalo de tempo
decorrido entre as posições final e inicial do móvel, dada por:

x x 2  x1
v m édia  
t t 2  t1

O deslocamento e a velocidade média podem ser positivos ou negativos,


isto é, são grandezas escalares. Um valor positivo indica que o movimento está
no sentido das posições positivas que, na figura 3.1, é o sentido do x positivo.
No SI a unidade de deslocamento é o metro (m), da variação temporal é
o segundo (s) e da velocidade média é o metro por segundo (m/s). Na prática,
porém, é usual utilizar-se o quilômetro por hora (km/h).

Ex 2.1: um móvel percorre, na mesma reta, 1 km em 1 h, depois percorre


mais 2 km em 2 h e depois percorre mais 3 km em 3 h. Determine a
velocidade média do móvel em todo o percurso.
Solução: o deslocamento total do percurso vale:

x  1  2  3  6km

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Por sua vez, a variação temporal total do percurso vale:

t  1  2  3  6h
Portanto, a velocidade média do percurso vale:

x 6
vmédia    1km / h
t 6
2. Gráfico x = f(t) – velocidade média e velocidade instantânea

Na figura 3.2 ilustra-se um gráfico cartesiano que mostra a variação da


posição de um móvel em função do tempo.

Fig. 3.2: gráfico de x = f(t) de um móvel qualquer

Se traçar-se uma reta entre os pontos P1(t1,x1) e P2(t2,x2) pode-se obter


um triângulo retângulo de catetos x2 – x1 e t2 – t1. Com estes catetos pode-se
determinar a tangente do ângulo de inclinação desta reta, isto é, o coeficiente
angular da reta, dado por:

x 2  x1 x
tg    v m édia
t 2  t1 t

Portanto, pode-se concluir que o coeficiente angular da reta que


passa por dois pontos distintos do gráfico x = f(t) é a velocidade média
entre estes pontos.
Por sua vez, define-se velocidade instantânea de um móvel à variação
temporal do deslocamento quando a variação temporal tende a zero, isto é:

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x
v(t )  lim
t  0 t

No gráfico x = f(t) a velocidade instantânea é o coeficiente angular da


reta tangente à curva no ponto P(t,x), isto é, é a velocidade do móvel em
cada ponto da curva x = f(t). É como se, na prática, pude se tirar uma fotografia
ultrarrápida do móvel em cada instante de tempo, por menor que seja. Isto
atualmente já é possível com câmeras especiais, mas ainda não se consegue
fazer com que a variação temporal nestes equipamentos tenda a zero.
Finalmente, a velocidade instantânea pode ser dada pela derivada da
posição x com relação a t, denominada por:

x dx
v(t )  lim 
t 0 t dt
3. Movimento Retilíneo e Uniforme (MRU) – características

O Movimento Retilíneo e Uniforme (MRU) possui as seguintes


características:

1ª.) A trajetória do móvel ao longo do tempo segue uma linha reta;

2ª.) Para deslocamentos iguais há intervalos de tempo iguais;

3ª.) A velocidade média é invariável no tempo, isto é, ela é constante no tempo;

4ª.) O gráfico x = f(t) é um reta crescente se a velocidade média for positiva,


indicando um movimento progressivo (velocidade no mesmo sentido da
posição); o gráfico x = f(t) é uma reta decrescente se a velocidade média for
negativa, indicando um movimento retrógrado (velocidade no sentido contrário
à posição);

5ª.) A velocidade instantânea coincide com a velocidade média;

6ª.) A equação que ilustra a variação da posição em função do tempo (x = f(t))


é denominada de equação horária; no caso do MRU é dada por:

x x  xo x  xo
v m édia     x  xo  v m édia.t
t t  to t

Onde: x = posição inicial do móvel no percurso


xo = posição final do móvel no percurso
t = tempo do móvel na posição x
to = tempo do móvel na posição xo (to  0  início da contagem)

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Capítulo 3

Movimento unidimensional, retilíneo


e uniformemente variado
1. Aceleração

Define-se aceleração média como a relação entre a variação da


velocidade instantânea entre dois pontos pelo intervalo de tempo
correspondente a esta variação, dada por:

v v  vo
amédia    SI : a  metro / segundo2  m / s 2
t t  to

Por sua vez, define-se aceleração instantânea como sendo a


taxa temporal de variação da velocidade instantânea, isto é, é a derivada da
velocidade instantânea com relação ao tempo, dada por:

v dv
a  lim 
t 0 t dt
Mas, como a velocidade instantânea é a derivada da posição com
relação ao tempo, a aceleração instantânea é a segunda derivada da posição
com relação ao tempo, dada por:

dv d  dx  d 2 x
a   
dt dt  dt  dt 2

2. Movimento Retilíneo Uniformemente Variado – MRUV

O Movimento Retilíneo Uniformemente Variado (MRUV) possui as


seguintes características:

1ª.) A trajetória do móvel ao longo do tempo segue uma linha reta;

2ª.) Para variações de velocidade iguais há intervalos de tempo iguais;

3ª.) A aceleração média é invariável no tempo, isto é, ela é constante no


tempo; assim sendo, pode-se escrever que:

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v v  vo
a   v  vo  a.t
t t
Esta equação é denominada equação da velocidade do MRUV.
Como consequência disto, o gráfico V = f(t) é uma reta crescente, se a
aceleração for positiva, caracterizando um movimento acelerado; o gráfico V
= f(t) é uma reta decrescente, se a aceleração for negativa, caracterizando
um movimento retardado; finalmente, o coeficiente angular da reta do gráfico V
= f(t) é a aceleração média do MRUV;

4ª.) O gráfico x = f(t) é uma parábola com concavidade voltada para cima se
a aceleração média for positiva; o gráfico x = f(t) é uma parábola com
concavidade voltada para baixo se a aceleração média for negativa;

5ª.) A aceleração instantânea coincide com a aceleração média;

6ª.) Como a aceleração é constante, a velocidade média é igual à média


aritmética entre as velocidades final e inicial entre dois pontos;

7ª.) Por consequência da característica anterior, o deslocamento pode ser dado


por:

x  x  xo  v média.t  .vo  v .t  .vo  vo  a.t .t


1 1
2 2
1 1
 x  xo  vo .t  .a.t 2  x  xo  vo .t  .a.t 2
2 2
A equação que ilustra a variação da posição em função do tempo (x =
f(t)) é denominada de equação horária do MRUV que, como já citado
anteriormente, é uma função do 2º grau.

Outra forma de deduzir a equação horária do MRUV é pelo gráfico V =


f(t), ilustrado na figura 1.

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Fig. 1: gráfico V = f(t) – MRUV

A área sob a reta do gráfico V = f(t) é proporcional ao deslocamento do


móvel entre os pontos to e t. Assim sendo, como a figura geométrica sob a reta
é um trapézio, a área pode ser dada por:

Área  x  x  xo  .Base maior  Base menor .altura  .v  vo .t


1 1
2 2
 x  xo  .vo  a.t  vo .t  x  xo  vo .t  .a.t 2
1 1
2 2
3. Equação de Torricelli

Da mesma equação da área do trapézio da figura 1 pode-se escrever


que:

Área  x  x  xo  .Base maior  Base menor .altura  .v  vo .t


1 1
2 2
 v  vo  v  vo
2 2
 x  .v  vo .
1
  v 2  vo2  2.a.x
2  a  2.a

Esta última equação, que relaciona diretamente a velocidade com o


deslocamento num MRUV, é denominada Equação de Torricelli, em
homenagem a Evangelista Torricelli, cientista italiano.

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Evangelista Torricelli (1608 – 1647)

Ex. 3.1: Um automóvel está a uma velocidade constante de 80 km/h


quando o motorista pisa nos freios, provocando uma desaceleração de 2
m/s2. Determine quanto tempo o automóvel demora a parar e qual a
distância percorrida até a parada.

Solução: na parada a velocidade final é nula  V = 0. Os freios provocam


uma desaceleração, isto é, a aceleração tem sinal negativo nas equações
 a = -2 m/s2.
Portanto, aplicando a equação da velocidade tem-se que:

80 80
v  vo  a.t  0   2.t  t   11, 1 s
3,6 3,6.2

Aplicando a equação de Torricelli tem-se que:

2 2
 80  1  80 
v  v  2.a.x  0  
2 2
o   2.2.x  x  .   x  123,457 m
 3,6  4  3,6 

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