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Biologia e Geologia - 2º ano

Ensino Secundário Recorrente

BIOLOGIA E GEOLOGIA
2º ANO

MÓDULO V
PARTE I
MÓDULO IV, V e IV
COMPONENTE DE BIOLOGIA
----
EVOLUÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
DOSSIÊ
DOSDE APOIO VIVOS
SERES ÀS AULAS

PORTO
1
Biologia e Geologia - 2º ano
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NOTA INTRODUTÓRIA

ESTE MATERIAL NÃO SUBSTITUI O MANUAL ESCOLAR NEM DISPENSA A SUA


CONSULTA.

OS PRINCIPAIS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS FORAM ESQUEMATIZADOS E


EXPLICADOS NUMA LINGUAGEM ACESSÍVEL, NO SENTIDO DE ORIENTAR OS ALUNOS
DO ENSINO SECUNDÁRIO RECORRENTE PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA DE
BIOLOGIA E GEOLOGIA DO 1º E 2º ANO.

INCLUI TAMBÉM TEXTOS, MAPAS, IMAGENS E GRÁFICOS, BEM COMO


EXERCICIOS DE APLICAÇÃO RETIRADOS DE DIVERSOS MANUAIS ESCOLARES E DE
EXAMES NACIONAIS, A FIM DE COMPLEMENTAR O PROCESSO DE APRENDIZAGEM.

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BIOLOGIA E GEOLOGIA - 2º ANO

DOSSIÊ DE APOIO ÀS AULAS

MÓDULO
MÓDULO IV V
PARTE
RENOVAÇÃO I
CELULAR E
REPRODUÇÃO
COMPONENTE DE BIOLOGIA
----
EVOLUÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
DOS SERES VIVOS

PORTO

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COMPETÊNCIAS

 Discutir a necessidade de constante renovação de alguns dos constituintes celulares (ex:


proteínas).
 Explicar como a expressão da informação contida no DNA se relaciona com o processo de
síntese de proteínas.
 Analisar e interpretar dados de natureza diversa (em tabelas, esquemas,...) relativos aos
mecanismos de replicação, transcrição e tradução.
 Interpretar procedimentos laboratoriais e experimentais relacionados com estudos de
síntese proteica e ciclo celular.
 Formular e avaliar hipóteses relacionadas com a influência de factores ambientais sobre o
ciclo celular.
 Conceber, executar e interpretar procedimentos laboratoriais simples, de cultura biológica e
técnicas microscópicas, conducentes ao estudo da mitose.
 Interpretar, esquematizar e/ou descrever imagens de mitose em células animais e vegetais,
identificando acontecimentos celulares e reconstituindo a sua sequencialidade.
 Avaliar o papel da mitose nos processos de crescimento, reparação e renovação de tecidos
e órgãos em seres pluricelulares.
 Explicar que o crescimento de seres multicelulares implica processos de diferenciação
celular.
 Discutir a possibilidade dos processos de diferenciação celular poderem ser afectados por
agentes ambientais (ex. raios x; drogas; infecções virais; ...).

 Recolher, interpretar e organizar dados de natureza diversa, relativamente a processos de


reprodução assexuada em diferentes tipos de organismos.
 Relacionar a mitose com os processos de reprodução assexuada.
 Avaliar implicações da reprodução assexuada ao nível da variabilidade e sobrevivência de
populações.
 Prever em que tecidos de um ser vivo se poderão observar imagens de meiose.
 Interpretar, esquematizar e legendar imagens relativas aos principais acontecimentos da
meiose.
 Discutir de que modo meiose e fecundação contribuem para a variabilidade dos seres
vivos.
 Recolher e organizar dados de natureza diversa, relativamente às estratégias de
reprodução utilizadas por seres hermafroditas.
 Aplicar conceitos básicos para interpretar diferentes tipos de ciclos de vida.
 Localizar e identificar os processos de reprodução presentes num ciclo de vida, prevendo a
existência ou não de alternância de fases nucleares.
Capítulo 1 – Crescimento e renovação celular
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1.1. DNA e síntese proteica

Nos procariontes, como as bactérias, o DNA encontra-se espalhado no hialoplasma (ou


citoplasma) como uma molécula circular não associada, em regra, com outros constituintes,
sendo designada por nucleóide. Nas células eucarióticas 99% do material genético encontra-se
no núcleo, onde se encontram massas de cromatina, que é constituída por filamentos de DNA
associados a proteínas (histonas). Cada unidade morfológica e fisiológica de cromatina
constitui um cromossoma, estrutura esta que é particularmente visível e perceptível aquando
da condensação da cromatina que o forma.
Aspectos gerais dos Ácidos Nucleicos
Os ácidos nucleicos foram descobertos por
Freidrich Miescher (foto à esquerda) em 1869.
Há 2 tipos de ácidos nucleicos (AN): o ácido
desoxirribonucleico (ADN) e o ácido
ribonucleico (ARN), encontrando-se
presentes em todas as células – são moléculas
biológicas universais. A sua função biológica
não estava plenamente demonstrada até que Avery e os
seus colaboradores demonstraram em 1944 que o DNA (sigla em inglês) era a molécula
portadora da informação genética.
Os ácidos nucleicos são polímeros
lineares em que a unidade repetitiva se
designa por nucleótido.
Grupo Fosfato
Cada nucleótido é formado por:
 uma pentose - monossacarídeo
(ribose ou desoxirribose);
 uma base azotada ou
nitrogenada (purina ou
pirimidina);
Pentose
 uma molécula de ácido fosfórico.
A união de uma pentose com uma
base e com o ácido fosfórico constitui um nucleótido. A união dos nucleótidos dá lugar aos
polinucleótidos, ou seja, aos ácidos nucleicos - DNA e RNA.

O DNA e o RNA diferenciam-se porque:


 o peso molecular do DNA é geralmente maior que o do RNA
 o açúcar (monossacarídeo) do RNA é ribose enquanto o do DNA é a desoxirribose
 o RNA contém a base nitrogenada Uracilo, ao passo que o DNA apresenta a Timina
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 a configuração espacial do DNA é a de uma dupla hélice, ao contrário do RNA que é


um polinucleótido linear, que ocasionalmente pode apresentar dobras.

Diferenças estruturais entre o DNA e o RNA

Ácido Bases
Pentose Estrutura
nucleico azotadas

 Adenina
DNA

 Citosina

Localiza-se
 Guanina
principalmente Cadeia
Desoxirribose
no núcleo dupla
 Timina

RNA  Adenina

 Citosina
Forma-se no
núcleo e migra  Guanina Cadeia geralmente simples,
Ribose por vezes, dobrada
para o
citoplasma  Uracilo

- 2 ligações hidrogénio entre


Adenina e Timina (no caso do DNA)
Em ambos os ácidos nucleicos (DNA e RNA), ou entre
as bases azotadas podem ligar-se através de: Adenina e Uracilo (no caso do RNA)

- 3 ligações hidrogénio entre


Citosina e Guanina (DNA e RNA)

Esta ligação entre bases complementares é específica e conduz à formação de uma


molécula de DNA em formato de dupla hélice, que se assemelha a uma escada em “caracol”
enrolada helicoidalmente – figura 1.
As bandas laterais dessa hélice são as moléculas de fosfato (ácido fosfórico),
alternando com as moléculas de desoxirribose, enquanto os degraus centrais são formados
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pelos pares de bases complementares ligados


entre si através de pontes de hidrogénio. As
duas cadeias da dupla hélice desenvolvem-se
em sentidos opostos sendo consideradas
antiparalelas. Cada uma delas inicia-se por
uma extremidade 5’ e termina em 3’. À
extremidade 3’ de uma cadeia corresponde à
extremidade 5’ da outra cadeia e vice-versa.
Os dados que conduziram à proposta
de um modelo de dupla hélice para a molécula Figura 1 – Modelo estrutural de DNA segundo Watson e
Crick (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)
de DNA por Watson e Crick em 1953 foram os
seguintes:
 a interpretação de radiogramas de
difracção dos raios X através de DNA cristalizado, cujo resultado
 em forma de cruz indicava que o DNA seria uma hélice;
 a constatação por observação ao microscópio electrónico da espessura do DNA ser
duas vezes maior do que no caso de uma cadeia polinucleotídica;
 os valores da adenina serem próximos dos da timina e por sua vez os valores da
citosina serem muito similares aos da guanina. Assim a relação A + G tem valores
muito próximos de um (1 unidade). T+C

O DNA, molécula que contém a


informação genética, possui a capacidade
de se autoduplicar, assegurando a
manutenção do património genético de
célula para célula, ao longo de sucessivas
gerações, através de um processo
designado por replicação
semiconservativa (figura 2), em que
cada uma das novas cadeias formadas
de DNA é uma réplica de uma das
cadeias originais da molécula. Desta
forma, as duas novas moléculas de DNA
originadas são exactamente idênticas à
molécula de DNA original, sendo ambas
portadoras de uma cadeia antiga e de
uma recém-formada. Figura 2 – Replicação semiconservativa de DNA
(in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

Expressão da informação genética

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A síntese de uma proteína implica que os aminoácidos se liguem segundo uma dada
ordem de forma precisa. Este ordenamento condiciona a estrutura final da molécula, a qual se
encontra estreitamente relacionada com a sua função biológica. A informação genética
indispensável à biossíntese de proteínas (figura 3) pelos seres vivos encontra-se codificada. A
sequência de nucleótidos presentes na molécula de DNA impõe uma determinada ordem pela
qual se irão suceder os aminoácidos ao longo da construção da proteína em causa. Este
processo de síntese envolve duas fases principais: a transcrição em primeiro lugar e no final a
tradução.

DNA Transcrição RNA mensageiro Tradução Proteínas

codogene Ribossoma
codão aminoácido

A intervenção da molécula de RNA mensageiro (funciona como intermediário neste


processo) resulta da necessidade de transferência da informação presente no DNA que se
encontra no núcleo da célula e o local de síntese das proteínas (ribossomas) que se situam no
citoplasma da mesma célula.

Figura 3 – Expressão da informação genética


(in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)
A molécula de DNA pode então comparar-se a uma “banda magnética ou código de
barras” pois contém informação que à partida não está disponível, mas que pode ser expressa
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através de um sistema de descodificação específico. Como se pode verificar pela figura 3 a


transcrição ocorre no interior do núcleo, dando-se uma polimerização de ribonucleótidos
(adenina, citosina, guanina ou uracilo) de acordo com a regra de complementaridade de bases
azotadas e na presença de um complexo enzimático RNA-polimerase. Ao ser realizada a
transcrição apenas é utilizada uma das cadeias de DNA como molde, sendo a síntese de RNA
mensageiro feita no sentido 5’ 3’.
A molécula de DNA é formada por sequências de nucleótidos que não codificam
informação, designadas intrões, intercaladas com sequências de nucleótidos que codificam
informação, chamadas exões. A transcrição de um segmento de DNA forma uma porção de
RNA pré-mensageiro. No processamento deste RNA, por acção de enzimas, são-lhe retirados
os intrões, ocorrendo a posteriori a união dos exões. Estas transformações conduzem à
formação de RNA mensageiro (mRNA) funcional , activo ou maturo que nessa altura migra do
núcleo para o citoplasma em direcção aos ribossomas onde se irá fixar.

Código Genético

O alfabeto dos genes é constituído por quatro letras, mas de início ninguém sabia
interpretá-lo nem compreender a informação nele contido. Os biólogos moleculares
conseguiram ao fim de um longo e árduo trabalho de investigação estabelecer um código de
correspondência – código genético (figura 4) – entre a linguagem das quatro letras dos ácidos
nucleicos (DNA ou RNA), correspondentes aos quatro tipos diferentes de nucleótidos, e a
linguagem dos
cerca de 22
aminoácidos que
constituem as
proteínas. O
código genético
funciona como
um “dicionário”
que a célula
utiliza para
conseguir
expressar a
informação
Figura 4 – Código genético (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)
genética.
Constatou-se então que três nucleótidos consecutivos de DNA constituíam um
codogene, tripleto que representa a mais pequena unidade de informação genética necessária
à codificação de um aminoácido. Como existem sequências de diferentes tripletos, essas
mesmas sequências irão permitir codificar a ordenação de séries de aminoácidos que
determinam a formação de proteínas distintas. Como foi mencionado anteriormente a
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informação contida no DNA é transcrita para uma sequência de ribonucleótidos de acordo com
a regra de complementaridade das bases azotadas que forma uma molécula de RNA
mensageiro. Cada tripleto do RNA mensageiro que codifica um determinado aminoácido ou o
início ou o fim da síntese de proteínas recebe o nome de codão, sendo esses codões
posteriormente traduzidos em aminoácidos respectivos indicados de acordo com o código
genético descoberto pelos cientistas e presente na figura 4. O código genético:
 é universal (pois trata-se de uma linguagem comum a quase todas as células,
desde os seres mais simples incluindo os vírus aos mais complexos) – é desta
forma um forte argumento a favor da origem comum dos seres vivos;
 não é ambíguo (dado que a um codão corresponde sempre um e só um
aminoácido, sendo sempre o mesmo – tal como acontece na Matemática em
que um objecto apenas pode ter uma e uma só imagem);
 é redundante (pois diferentes codões podem codificar o mesmo aminoácido) –
conhecido também por degenerescência do código genético (exemplo: há 6
codões distintos que codificam o mesmo aminoácido, a leucina);
 o terceiro nucleótido de cada codão não é tão específico como os dois
primeiros;
 o codão AUG possui uma dupla função, pois para além de codificar o
aminoácido metionina é o codão de iniciação da síntese de proteínas;
 os codões UAA, UAG e UGA são codões de finalização, pois estes
representam sinais de fim de síntese de proteínas não codificando quaisquer
aminoácidos.
No processo de tradução há intervenção de RNA de transferência (tRNA) que funciona como
um intérprete entre a
“linguagem” do mRNA e
a “linguagem” das
proteínas, da mesma
forma que um tradutor
humano faz a passagem
de conteúdos em árabe
para português,
passando assim a ser
entendido o conteúdo e
significado da
informação presente no
Figura 5 – Relação entre um codão específico do mRNA e o anticodão do tRNA correspondente
DNA inicial. (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

Cada molécula
de RNA de transferência possui uma dupla especificidade, pois selecciona e também
transporta os aminoácidos para os locais de síntese de proteínas – os ribossomas – onde são
ordenados segundo o código expresso no mRNA. Em certas regiões, a cadeia simples do
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tRNA dobra-se devido à complementaridade de bases, estabelecendo-se ligações por pontes


de hidrogénio da seguinte forma: A = U e C ≡ G. Cada molécula de tRNA possui numa zona
especial uma sequência de três nucleótidos designada por anticodão, que é exactamente
complementar de um dos codões de mRNA conforme se pode vislumbrar na figura 5. Visto que
o código genético é degenerado (tal como foi dito anteriormente), isto é, a diferentes codões
pode corresponder em certos casos o mesmo aminoácido, existe mais de um tRNA para o
mesmo aminoácido.
A biossíntese de proteínas é um processo rápido, complexo e que pode ser
amplificado, pois vários ribossomas podem deslocar-se simultaneamente pelo mesmo mRNA,
podendo assim serem sintetizadas ao mesmo tempo diversas cadeias polipeptídicas idênticas.

Figura Há que destacar


6 – Tradução a importância
da informação dasUniverso
genética (in Terra, proteínas para
de Vida a Editora)
– Porto manutenção da vida e da
estrutura celular, uma vez que elas podem: ter uma função enzimática (como as protesases)
ou de transporte (como é o caso da hemoglobina), ser integradas em estruturas celulares como
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a membrana plasmática, os lisossomas ou as mitocôndrias ou ainda ser exportadas para o


meio extracelular como, por exemplo, as enzimas digestivas ou as hormonas proteicas.

Alterações do material genético

Um gene é um segmento funcional de DNA com instruções para uma determinada


característica. O conjunto de todos os genes de um indivíduo constitui o seu genoma.
Por vezes, em situações de diversos tipos, o material genético pode experimentar
alterações que se designam por mutações (do latim mutare = mudar), sendo os indivíduos
possuidores de mutações e que as manifestam intitulados de mutantes. Uma alteração na
sequência de bases na molécula de DNA pode conduzir a mudanças nas proteínas produzidas.
Sempre que tais proteínas sejam responsáveis por uma função fundamental no organismo, a
versão mutada pode ser a origem de uma doença ou anomalia de alguma gravidade.
No exemplo da figura 7 verificamos que
o gene da molécula de DNA que
determina a
Situação A síntese da
cadeia β da
hemoglobina
humana foi
modificado num ponto específico,
passando a existir
Situação B
uma nova forma
desse mesmo
gene. Diz-se

Figura 7 – Mutação génica na situação B responsável pela


então que ocorreu
anemia falciforme (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora) uma mutação génica.

Para além desta doença, a anemia falciforme, ou do albinismo e hemofilia por exemplo,
muitas outras resultam de alterações de regiões fundamentais do material genético. O efeito de
uma mutação a nível celular pode ser tão pequeno que não seja possível evidenciar-se
facilmente, mas pode também logicamente ser de tal forma significativo que conduza à morte
da célula ou do organismo.
Por vezes dão-se mutações que nem chegam a provocar alterações nas proteínas,
porque devido à redundância do código genético, o codão mutado pode codificar o mesmo
aminoácido. Noutros casos, o novo aminoácido pode ter propriedades semelhantes às do
aminoácido original ou então a substituição eventualmente ocorrer numa zona da proteína que
não é determinante para a sua função. As mutações podem também conduzir à formação de
proteínas com novas capacidades, que são a base do sucesso evolutivo dos organismos que
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as sintetizam. As mutações ocorrem espontaneamente, mas a sua frequência tem aumentado


devido à acção de diversos agentes mutagénicos como: raios-X, raios gama, radiações
ultravioleta, certos corantes alimentares, álcool e determinados componentes do tabaco. Estes
têm a capacidade de fazer com que se possam desenvolver várias formas de mutação.

1.2. Mitose

Para que um ser vivo cresça as suas células têm necessariamente que passar por
períodos de crescimento e igualmente por períodos de divisão. Nos organismos unicelulares
cada divisão corresponde à reprodução, dado que a partir de uma célula se formam duas ou
mais células independentes. Nos seres pluricelulares são precisas muitas divisões celulares
até que se constitua um indivíduo a partir da célula-ovo ou zigoto.
De uma forma
geral as células crescem,
aumentam o seu
conteúdo e depois voltam
a dividir-se. Cada célula
origina duas células-filhas
que, se tudo correr bem,
Interfase
serão geneticamente
idênticas entre si e em
relação à célula-mãe. As
Fase mitótica
células-filhas, por sua
vez, podem mais tarde
tornar-se células-mães de Figura 8 – Divisão celular
uma outra geração celular.
(in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)
Durante a divisão celular (figura 8), os organelos, as enzimas e outros constituintes celulares
são distribuídos pelas células-filhas.
Nos seres eucariontes, as moléculas de DNA situam-se no núcleo, associadas a
proteínas, constituindo estruturas filamentosas complexas denominadas cromossomas. Estas
ao longo da vida das células podem apresentar-se na forma dispersa ou na forma condensada.
Quando as células se encontram em divisão, os cromossomas apresentam-se bem
individualizados (devido à enorme condensação), tornando-se assim observáveis ao nível do
microscópio óptico. Quando, pelo contrário, o cromossoma está distendido, é muito mais fino,
sendo por isso logicamente mais difícil de visualizar cada filamento de cromatina – figura 9. Em
certos períodos da vida da célula, cada cromossoma contém, para além das proteínas,
somente uma molécula de DNA, sendo portanto constituído por um cromatídio. Noutros
períodos da vida celular, porém, a molécula de DNA é duplicada e o cromossoma passa a ser
formado por dois cromatídios irmãos, ou seja, duas moléculas de DNA associadas a proteínas.
Os dois cromatídios apresentam-se ligados por uma estrutura sólida e resistente designada
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centrómero, que consiste numa zona de constricção do cromossoma. O conjunto de


cromossomas de uma célula é o cariótipo, palavra que também designa a distribuição
padronizada dos cromossomas metafásicos, tendo em conta o número, a morfologia e as
dimensões desses cromossomas.

Figura 9 – Estrutura de um cromossoma (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

Fases do ciclo celular


Tal como um ciclo de vida se desenrola desde o nascimento do ser vivo até que ele se
reproduz, da mesma forma a vida de uma célula inicia-se quando ela surge a partir da célula-
mãe e termina quando ela própria se divide para originar duas células-filhas. O conjunto de
transformações que decorre desde a formação de uma célula até ao momento em que ela
própria, por divisão, origina duas células-filhas constitui um processo contínuo e dinâmico
intitulado ciclo celular.
Este processo (figura 10) divide-se em duas fases:

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 Interfase;

 Fase mitótica ou período da divisão celular.

A Interfase corresponde ao período de tempo compreendido entre o fim de uma


divisão celular e o início da seguinte. A generalidade das células passa a maior parte
da sua vida em interfase (cerca de 90% do ciclo celular), que é um período de intensa
actividade biossintética. Durante esta fase verifica-se o crescimento e a duplicação do
conteúdo celular, nomeadamente da componente cromossómica. Nas células animais
ocorre ainda a duplicação dos centríolos. Nesta fase os cromossomas encontram-se
dispersos, não sendo por esse facto ainda visíveis. A replicação do DNA sucede
durante o período S, que é precedido e seguido, respectivamente, por dois intervalos,
G1 e G2 (G de gap = intervalo).

Figura 10 – Ciclo celular (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

Subfases da Interfase Características


Ocorre uma intensa actividade biossintética,
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principalmente de proteínas, enzimas e RNA,


Intervalo G1 ou pós-mitótico havendo ainda a formação de organelos
celulares e um notório crescimento da célula.
Dá-se a replicação semiconservativa de cada
uma das moléculas de DNA. Cada
cromossoma passa então a ser
constituído por dois cromatídios ligados
Período S ou de síntese de DNA por um centrómero. Nas células animais, fora
do núcleo, dá-se ainda a duplicação dos
centríolos, originando-se dois pares dessas
estruturas.
Ocorre sobretudo a síntese de biomoléculas
Intervalo G2 ou pré-mitótico necessárias à divisão celular que se dará de
seguida.

Na Fase Mitótica podem distinguir-se duas etapas:


- mitose ou cariocinese (divisão do núcleo);
- citocinese (divisão do citoplasma).

A Mitose diz respeito ao conjunto de transformações durante as quais o núcleo se


divide. Embora a mitose seja um processo contínuo podemos considerar na generalidade
quatro subfases: Profase, Metafase, Anafase e por último Telofase.

A Citocinese (figura 11) diz respeito à divisão do citoplasma e portanto à consequente


individualização das duas células-filhas. Nas células animais forma-se no final da anafase e da
telofase um anel contráctil de filamentos proteicos que ao contrairem-se puxam a membrana
celular para dentro, causando um estrangulamento do citoplasma devido à formação de um

sulcoFigura
de clivagem, até que
11 – Citocinese se separam
em células animais eas
emduas células-filhas.
células vegetais (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)
Nas células vegetais, a parede esquelética (ou parede celular) constituída por celulose não
permite a divisão por estrangulamento. Neste caso, vesículas derivadas do Complexo de Golgi
alinham-se na região equatorial e fundem-se de modo a formar uma estrutura, que é a
membrana celular de cada célula-filha. Posteriormente, através da deposição de fibrilas de
celulose, constituem-se as paredes celulares.
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Subfases do Características da subfase em questão


processo mitótico
 Desaparecimento temporário da membrana nuclear;
Profase  Formação do fuso acromático ou fuso mitótico;
 Os cromossomas tornam-se cada vez mais curtos e grossos.
 Os cromossomas dispõem-se com os centrómeros no plano
equatorial, constituindo a chamada placa equatorial;
Metafase  Os cromossomas atingem nesta subfase o seu máximo
encurtamento devido a uma grande condensação.
 Dá-se a clivagem de cada um dos centrómeros separando-se
assim os cromatídios, que passam a constituir dois
Anafase cromossomas independentes;
 As fibrilas ligadas aos cromossomas encurtam-se e estes
começam a afastar-se, migrando para pólos opostos –
ascensão polar dos cromossomas-filhos.
 Reorganização da membrana nuclear;
Telofase  Desaparecimento do fuso acromático;
 Os cromossomas tornam-se cada vez mais longos e finos.

Uma das características mais importantes da célula é a sua capacidade para, através
da divisão, transmitir com fidelidade o programa genético de uma geração à outra. Trata-se de
facto de um extraordinário mecanismo de multiplicar e dividir, geralmente, em partes iguais.
Durante a interfase, na subfase S, ocorre a replicação semiconservativa das moléculas
de DNA que fazem parte dos cromossomas. Estes ficam constituídos por dois cromatídios
ligados pelo centrómero. Neste momento, as células têm a informação genética duplicada.
Desde o início da subfase G2 cada um dos cromatídios de cada cromossoma é, tanto no plano
genético como na sua fisiologia, idênticos ao cromossoma inicial da subfase G 1 que o
precedeu. Durante a mitose, após a clivagem dos centrómeros, cada um dos cromatídios-
irmãos migra para um pólo oposto da célula. Assim, na anafase, dá-se uma distribuição
equitativa dos cromossomas e, por isso mesmo, do DNA, pelas células-filhas. Estas recebem
pela mitose um número de cromossomas igual ao da célula-mãe e, logicamente, a mesma
informação genética, garantindo, se nenhum erro suceder, a estabilidade genética através das
gerações.

Capítulo 2 – Crescimento e regeneração de tecidos


vs diferenciação celular.

A divisão celular, para além de permitir o crescimento dos seres pluricelulares, é ainda
fundamental na manutenção da integridade dos indivíduos adultos, pois é indispensável
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renovar muitas das células que têm uma curta duração. A reposição de todas estas células só
é possível devido à capacidade das células se dividirem.
Os peixes regeneram barbatanas e outros órgãos; os anfíbios podem reconstituir
membros completos e a cauda. O próprio organismo humano pode regenerar certos tecidos do
seu corpo. É o que se passa na cicatrização de lesões e na regeneração de zonas danificadas
por acidentes, intervenções cirúrgicas ou acções víricas.
As células somáticas de um ser vivo multicelular contêm, no seu núcleo, exactamente
os mesmos cromossomas e, por isso, a mesma informação genética. Contudo, verifica-se que
as células constituem tecidos e órgãos tão diversos que assumem formas e funções
completamente diferentes. Nos organismos pluricelulares, a maioria das células inicia
complexos processos de diferenciação. Nestes processos, o DNA passa a expressar-se de
forma selectiva, de tal modo que, apesar de todas as células apresentarem a mesma
informação genética, são distintas não só morfologicamente mas também funcionalmente. Isto
acontece, pois embora todas as células de um mesmo indivíduo possuam o mesmo património
hereditário, os genes que se encontram em actividade nos diferentes tipos de células podem
não ser os mesmos levando à especialização celular. Deste facto resultam as diferenças
verificadas de tecido para tecido.
Em determinadas circunstâncias, as células diferenciadas podem perder a sua
especialização, transformando-se em células indiferenciadas. Estas células readquirem a
capacidade de originar novos tecidos. Este fenómeno designa-se por totipotência e é crucial
nos mecanismos de clonagem. Desta forma, um clone é um conjunto de células
geneticamente idênticas que são todas descendentes de uma única célula somática que é
portanto a célula ancestral.

Capítulo 3 – Reprodução assexuada.

Apesar da duração da vida dos seres vivos ser limitada, tal não significa o
desaparecimento de uma espécie. A continuidade da vida é assegurada pela reprodução, que
é o conjunto de processos pelos quais os organismos originam outros indivíduos idênticos a si
próprios. Os processos de reprodução são extremamente diversificados, sendo no entanto
agrupados em dois tipos fundamentais: reprodução assexuada e reprodução sexuada.
Os seres procariontes e a maioria dos seres unicelulares eucariontes reproduzem-se
assexuadamente. Este tipo de reprodução surge também em muitos seres multicelulares.
Existem numerosos processos de reprodução assexuada, em que um único progenitor produz
descendência através de divisões celulares, em que o núcleo se divide por mitose.

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Os descendentes são, portanto, em regra, geneticamente idênticos entre si e também ao


respectivo progenitor, do qual
recebem todos os genes. Este
tipo de reprodução mantém
assim a estabilidade de
caracteres dos organismos de
uma geração para outra. A
reprodução assexuada permite
também que o número de
indivíduos aumente muito
rapidamente, facto de que o
Homem tira proveito (basta
recordarmo-nos do uso de
leveduras no fabrico de pão,
cerveja e vinho ou bactérias na
investigação e desenvolvimento
de antibióticos). As técnicas de
clonagem têm continuado a
progredir, permitindo uma
homogeneização das Figura 12 – Processos de reprodução assexuada

características de animais utilizados na indústria agro-alimentar. (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

Processos de
reprodução Características Exemplo
assexuada
Bipartição / Divisão Um indivíduo divide-se em dois com dimensões Paramécia,
binária / Cissiparidade aproximadamente iguais. amiba, bactérias
Formação de células reprodutoras – esporos –
Esporulação que, ao germinarem em locais com nutrientes Fungos
originam novos indivíduos. pluricelulares
Um organismo fragmenta-se espontaneamente
Fragmentação ou por acidente e cada fragmento desenvolve-se, Estrela-do-mar
formando um novo ser vivo.
Gemulação / Num organismo formam-se uma ou mais
Gemiparidade dilatações – os gomos ou gemas – que crescem e Leveduras
se desenvolvem, originando novos organismos.
Multiplicação Nas plantas, as estruturas vegetativas, raízes, Cenoura (raízes),
vegetativa caules ou folhas originam, por diferenciação, batateira
novos indivíduos. (tubérculos)
Processo através do qual um óvulo se desenvolve
Partenogénese originando um novo organismo, sem ter havido Abelhas, Pulgões
fecundação.

19
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Capítulo 4 – Reprodução sexuada

A reprodução sexuada é o tipo de reprodução mais comum no mundo vivo. Mesmo


muitos dos seres que se reproduzem assexuadamente têm, também, em regra, reprodução
sexuada. Este tipo de reprodução implica que ocorra fecundação, ou seja, a fusão entre dois
gâmetas de sexos distintos, masculino e feminino. A célula que daí resulta, ovo ou zigoto, tem
assim um conjunto de cromossomas que provém dos dois gâmetas, isto é, possui pares de
cromossomas do mesmo tipo, em que em cada par um é de origem materna e outro de origem
paterna. Esses cromossomas dizem-se homólogos. Todas as células, como o zigoto, cujos
núcleos possuem pares de cromossomas homólogos designam-se por células diplóides e a
sua constituição representa-se simbolicamente por 2n.
A
fecundação leva
a que se dê uma
duplicação
Redução
cromossómica, cromossómica
no entanto
verifica-se que a Duplicação
cromossómica
quantidade de
material genético
em cada espécie
se mantém
constante de Figura 13 – Reprodução sexuada (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

geração em geração. Essa constância do número de cromossomas ao longo das gerações


implica a ocorrência de um processso de divisão celular (meiose), em que o número de
cromossomas seja reduzido para metade – figura 13.

4.1. Meiose

A meiose é o processo de divisão nuclear através do qual se formam núcleos que


possuem um só cromossoma de cada par de homólogos, ou seja, têm metade do número de
cromossomas do núcleo inicial. As células que apresentam essa guarnição cromossómica são
simbolicamente representadas por n e designam-se por células haplóides. Deste modo, a
meiose conduz à passagem de diploidia para haploidia.
Na meiose ocorrem duas divisões sequenciais e inseparáveis, a divisão I e a divisão II,
originando no final quatro núcleos haplóides – figura 14. A divisão I da meiose é, tal como na
mitose, precedida pela interfase, durante a qual no período S se dá a replicação do DNA
constituinte dos cromossomas e, por isso, no início da meiose, cada cromossoma é formado
por dois cromatídios.

20
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

A divisão I da meiose origina dois núcleos com metade do número de cromossomas do


núcleo da célula inicial e, por isso mesmo, é designada por divisão reducional.
Na divisão II, a partir desses dois núcleos, originam-se quatro núcleos, cada um com o
mesmo número de cromossomas do núcleo que lhes deu origem, designando-se devido a esse
facto por divisão equacional.

Figura 14 – Divisões da meiose

(in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

Divisão reducional Divisão equacional

Subfases da Características da subfase em questão


divisão I da meiose
 Os dois cromossomas de cada par emparelham, justapondo-
se gene a gene. Formam bivalentes ou tétradas
cromatídicas. Ao dar-se o emparelhamento, surgem pontos
de cruzamento entre cromatídios de cromossomas homólogos
– pontos de quiasma. Ao nível destes pontos, ocorrem trocas
Profase I recíprocas de segmentos de cromatídios entre dois
cromossomas homólogos (crossing-over);
 Desaparecimento temporário da membrana nuclear;
 Formação do fuso acromático ou fuso mitótico;
 Os cromossomas tornam-se cada vez mais curtos e grossos.
 Os bivalentes dispõem-se com os pontos de quiasma no
plano equatorial, constituindo a chamada placa equatorial. A
orientação de cada par de cromossomas homólogos em
Metafase I relação aos pólos da célula efectua-se ao acaso;
 Os cromossomas atingem nesta subfase o seu máximo
encurtamento devido a uma grande condensação.
21
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

 Dá-se a clivagem dos pontos de quiasma separando-se assim


os cromossomas homólogos, constituídos por dois
cromatídios;
Anafase I  As fibrilas ligadas aos cromossomas encurtam-se e estes
começam a afastar-se, migrando para pólos opostos –
ascensão polar dos cromossomas-homólogos.
 Reorganização da membrana nuclear;
Telofase I  Desaparecimento do fuso acromático;
 Os cromossomas tornam-se cada vez mais longos e finos.

Subfases da
divisão II da Características da subfase em questão
meiose
 Desaparecimento temporário da membrana nuclear;
Profase II  Formação do fuso acromático ou fuso mitótico;
 Os cromossomas tornam-se cada vez mais curtos e grossos.
 Os cromossomas dispõem-se com os centrómeros no plano
equatorial, constituindo a chamada placa equatorial;
Metafase II  Os cromossomas atingem nesta subfase o seu máximo
encurtamento devido a uma grande condensação.
 Dá-se a clivagem de cada um dos centrómeros separando-se
assim os cromatídios, que passam a constituir dois
cromossomas independentes;
Anafase II  As fibrilas ligadas aos cromossomas encurtam-se e estes
começam a afastar-se, migrando para pólos opostos –
ascensão polar dos cromossomas-filhos.
 Reorganização das membranas nucleares;
Telofase II  Desaparecimento dos fusos acromáticos;
 Os cromossomas tornam-se cada vez mais longos e finos.

As duas divisões que constituem a meiose são inseparáveis, podendo, todavia,


consoante os seres vivos, ocorrer sequencialmente ou existir entre as duas divisões uma
interfase mais ou menos longa. No entanto, quando isso sucede, durante essa interfase não se
realiza nova replicação do DNA dos cromossomas.
Durante o processo meiótico podem ocorrer anomalias que afectem o número (figura
15) ou a estrutura dos cromossomas (figura 16). Essas alterações chamam-se mutações
cromossómicas. Estas podem ocorrer quer durante a divisão I, pela não separação de
cromossomas homólogos, quer durante a divisão II, através da não separação
dos dois cromatídios de cada cromossoma. 22
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Figura 15 – Mutações cromossómicas numéricas

(in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

Figura 16 – Mutações cromossómicas estruturais (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

A maioria das mutações cromossómicas são prejudiciais para o indivíduo que é


portador ou para os seus descendentes. No entanto, algumas delas podem ser benéficas e
inclusive melhorar a capacidade de sobrevivência dos indivíduos das novas gerações,
garantindo-lhes uma vantagem em termos de selecção natural. Por outro lado, as mutações,
como se irá explicar melhor adiante, são uma fonte importantíssima de variabilidade genética
que permite aumentar a diversidade de organismos e a evolução das espécies de seres vivos.

23

Figura 17 – Comparação entre mitose e meiose (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Nos processos de reprodução assexuada, a divisão das células por mitose é


fundamental. A reprodução sexuada implica, não só a mitose que permite o crescimento dos
novos indivíduos, mas também a divisão meiótica de modo a compensar a duplicação de
cromossomas que se verifica na fecundação.
Características / Items Mitose Meiose
Número de divisões 1 2
Número de núcleos formado 2 4
Emparelhamento de
cromossomas homólogos Não ocorre Ocorre
Número de cromossomas
das células-filhas em relação Igual Metade
ao número da célula inicial
Crossing-over Não ocorre Ocorre

A mitose é um mecanismo de constância genética enquanto a meiose é


exactamente o oposto, ou seja, é um mecanismo de diversidade genética.
As quatro células haplóides resultantes de uma meiose, apesar de apresentarem o
mesmo número de cromossomas, não possuem exactamente a mesma informação genética.
Isso acontece por se darem dois fenómenos durante a meiose:
 “crossing-over”, que se dá durante a Profase I, porque vai fazer aumentar
substancialmente o número de recombinações genéticas. Consequentemente, a
descendência pode receber, no mesmo cromossoma, associações de genes que
nunca antes tinham ocorrido.
 Separação ao acaso de cromossomas paternos e maternos pelas células-filhas,
durante a Anafase I, já que a orientação de cada cromossoma do mesmo relativamente
aos pólos da célula é aleatória.

4.2. Fecundação

A fecundação também contribui significativamente para a grande variabilidade genética


dos indivíduos de cada espécie. A junção ao acaso dos dois gâmetas com combinações
genéticas diferentes, irá permitir novas e variadas associações de genes nos descendentes.
Seres vivos Estruturas produtoras de gâmetas Gâmetas
Gónadas:
Animais ♂ Testículos ♂ Espermatozóides
♀ Ovários ♀ Óvulos
Gametângios:
Plantas ♂ Anterídios ♂ Anterozóide
♀ Arquegónios ♀ Oosfera

24
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Nos animais gonocóricos/unisexuais onde ocorre unissexualismo, a união dos


espermatozóides e dos óvulos efectua-se de diversos modos, dependendo, em regra, quer da
mobilidade dos animais, quer do local, meio terrestre (onde há falta de água – fecundação
interna – caso dos Répteis, Aves e Mamíferos que assim evitam a dessecação dos gâmetas)
ou meio aquático (onde não há falta de água – fecundação externa – caso dos Peixes e dos
Anfíbios por exemplo).

A autofecundação é de particular importância nos organismos isolados, como acontece


com a ténia, que vive isolada no intestino delgado do hospedeiro. Ela exemplifica um caso de
hermafroditismo suficiente, porque a fecundação ocorre entre gâmetas provenientes do
mesmo indivíduo. Mas em muitos casos de seres hermafroditas a fecundação é cruzada, ou
seja, dá-se uma troca de espermatozóides entre dois indivíduos apesar de estes terem ambos
os sexos – são casos de hermafroditas insuficientes como o caracol e a minhoca.

Nas plantas os órgãos reprodutores encontram-se num ramo especializado, as flores,


sendo os estames os órgãos reprodutores masculinos e os carpelos os órgãos reprodutores
femininos. As flores podem ser monóicas (hermafroditas) quando possuem simultaneamente
estames e carpelos ou dióicas (unissexuadas) quando apenas possuem estames ou somente
carpelos.

Divisão
Tipo de nuclear Vantagens Desvantagens
reprodução associada
 Processo rápido e com  Reduzida variabilidade
pouco gasto de energia; genética;
 Basta um progenitor;  Difícil adaptação a
Assexuada MITOSE  Mantém as características mudanças ambientais;
genéticas formando clones;  Não favorece a
 Grande descendência. evolução das espécies.
 Elevada variabilidade  Processo lento e com
genética; grande dispêndio de energia;
 Maior capacidade de  São necessários dois
Sexuada MEIOSE adaptação e de sobrevivência progenitores.
caso haja mudanças
(ocorre ambientais;
fecundação)  Favorece a evolução
das espécies.

25
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Capítulo 5 – Ciclos de vida

5.1. Conceitos básicos

O conjunto de fenómenos que ocorrem desde o momento em que o ser vivo se forma
até que produz descendentes é o seu ciclo de vida. A ocorrência de meiose e de fecundação
no ciclo de vida de um organismo tem como consequência a existência de alternância de
fases nucleares, dado que entidades de núcleo haplóide (pertencentes à haplofase –
compreendida entre a meiose e a fecundação), alternam com entidades de núcleo diplóide
(pertencentes à diplofase – compreendida entre a fecundação e a meiose).

5.2. Unidade vs diversidade.

O desenvolvimento relativo da haplofase e da diplofase depende da posição


relativa que a meiose e a fecundação ocupam no ciclo de vida. A análise de ciclos de vida
de diferentes organismos – figura 18 – permite ter uma melhor compreensão das várias
soluções reprodutivas no mundo vivo.

Figura 18 – Comparação entre três tipos de ciclos de vida (in Terra, Universo de Vida – Porto Editora)

Meiose pós- Meiose pré- Meiose pré-


zigótica gamética espórica

Ciclo de vida haplonte Ciclo de vida diplonte Ciclo de vida haplodiplonte

(exemplo – Espirogira) (exemplo – Gato) (exemplo – Polipódio)

26
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Intervenção do Homem no ciclo de vida dos organismos

A actuação do Homem nos ecossistemas tem vindo a causar diversas interferências na


vida de numerosas espécies, colocando em risco a preservação de muitas delas, em especial
as mais sensíveis a mudanças drásticas, de reprodução mais lenta ou com necessidade de
territórios de maiores dimensões.

O Homem, para além de ter vindo a provocar o aumento do efeito de estufa,


desenvolve outras actividades que vêm ainda agravar mais o problema da preservação das
espécies como por exemplo:
- a acumulação de substâncias tóxicas no ar, na água e no solo;
- a eliminação de habitats e, por conseguinte, de locais de reprodução, ao
construírem-se estradas, cidades, caminhos-de-ferro ou pontes;
- o transporte muitas vezes involuntário de espécies exóticas;
- caça e pesca excessivas ou clandestinas.

27
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Exercícios Tipo

1. Observe atentamente a Figura 1 que retrata um ciclo celular.

4 e 5
3
6 7
3 8
2
1 1

I II
Figura 1

1.1. Faça a legenda dos diferentes períodos (1 - 8) e das fases (I e II) presentes na Figura 1.

1.2. Estabeleça as correspondências possíveis entre os números da pergunta anterior (1 - 8) e


os principais acontecimentos que nelas ocorrem e que constam da chave seguinte:

A - Formação da placa equatorial


B - Síntese intensa de proteínas e de organelos
C - Divisão do citoplasma
D - Ascenção polar dos cromatídeos irmãos
E - Replicação semiconservativa do DNA
F - Formação do fuso acromático
G - Desaparecimento do fuso acromático
H - Crescimento celular e preparação para a divisão
I - Formação da membrana nuclear
J - Desaparecimento da membrana nuclear

2. As células somáticas de um cavalo possuem 66 cromossomas. Indique o número total de


cromatídios existentes:

2.1. durante o período 1 da Figura 1.

2.2. no final do período 2 da Figura 1.

3. Os esquemas da Figura 2 (A, B, C e D) ilustram a representação dos diferentes estádios do


núcleo durante a mitose.

A B C D
Figura 2

28
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

3.1. Identifique os esquemas A, B, C e D.

3.2. Ordene cronologicamente estas quatro etapas de acordo com o que sucede a nível celular.

3.3. Refira uma característica que seja exclusiva:

3.3.1. do estádio A.

3.3.2. do estádio D.

3.4. Distinga as etapas B e C fazendo, para esse efeito, referência a dois dos acontecimentos
que as caracterizam.

4. Mencione três características do Código genético.

5. Classifique como Verdadeiras ou Falsas as seguintes afirmações:

A – As bases púricas são a Guanina e a Adenina.

B – Niremberg e Khorana foram os mentores do modelo da dupla hélice.

C – Se numa cadeia de DNA a percentagem das bases C + G for de 40%, a percentagem das
bases A + T na cadeia complementar é de 40%.

D – A síntese de proteínas não envolve o gasto de ATP.

E – Se numa cadeia de DNA a percentagem das bases C + G for de 40%, a percentagem das
bases A + T na mesma cadeia é de 40%.

F – Se numa cadeia de DNA a percentagem das bases C + T for de 40%, a percentagem das
bases A + G na cadeia complementar é de 60%.

6. Indique o tipo de reprodução esquematizado na Figura 3. Justifique a sua resposta.

6.1. Identifique os processos A, B, C e D. Figura 3

29
Biologia e Geologia - 2º ano
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6.2. Refira uma vantagem e uma desvantagem deste tipo de reprodução para os seres vivos
que o efectuam.

7. A Figura 4 representa algumas etapas do processo meiótico.

Figura 4
7.1. Efectue a legenda da Figura 4.

7.2. 0rdene as etapas representadas de acordo com a sequência com que ocorrem a nível
celular.

7.3. Identifique o fenómeno representado em B e que é característico desse estádio.

7.3.1. Refira a importância biológica desse fenómeno.

7.4. Indique a etapa presente na Figura 4 que é responsável pela divisão reducional.

7.5. Justifique o facto de a reprodução sexuada ser responsável pelo aparecimento de uma
“infinita” variabilidade genética ao nível da descendência.

7.6. Explique o significado do termo diplóide quando atribuído a uma célula.

8. Na figura 5, os esquemas I e II representam dois ciclos de vida.

I II

Nota: 1, 5, 8 - entidades multicelulares

30
Biologia e Geologia - 2º ano
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8.1. Os fenómenos indicados na figura 5 pelas letras a, b e c correspondem, respectivamente,


a:

A - meiose, mitose e fecundação.


B - mitose, fecundação e meiose.
C - meiose, fecundação e mitose.
D - mitose, meiose e fecundação.
E - fecundação, mitose e meiose.

(Transcreva a letra da opção correcta)

8.2. Relativamente aos ciclos de vida (I e II) representados na figura 5, refira qual deles pode
corresponder:

8.2.1. ao ciclo de vida da espirogira.

8.2.2. ao ciclo de um organismo com maior variabilidade genética.

8.2.2.1. Justifique a resposta dada à pergunta 8.2.2.

8.3. Faça corresponder, a cada um dos ciclos I e II da figura 5, as letras das características
que se seguem.

A - Ser haplonte
B - Meiose pré-gamética
C - Ser haplodiplonte
D - Meiose pós-zigótica
E - Meiose pré-espórica
F - Ser diplonte

8.4. A cada uma das letras das entidades abaixo indicadas, faça corresponder um dos
números (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9) dos ciclos I e II da figura 5.

A - Filamento de espirogira

B - Polipódio adulto

Sugestões de correcção

1.1. 1 - Subfase G1 2 – Período S 3 – Subfase G2 4 – Profase

5 – Metafase 6 – Anafase 7 – Telofase 8 – Citocinese


I – Interfase II – Fase mitótica

1.2. A-5 F-4


B–1 G-7
C–8 H-3
D–6 I- 7
E–2 J- 4

2.1. 66

2.2. 132

3.1. A – Anafase B – Telofase C – Profase D – Metafase

3.2. C/D/A/B
31
Biologia e Geologia - 2º ano
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3.3.1. Ascensão polar dos cromatídios irmãos.

3.3.2. Cromossomas dispostos em placa equatorial.

3.4. Na etapa B desaparece o fuso acromático e reorganiza-se a membrana nuclear,


enquanto que na etapa C desaparece temporariamente a membrana nuclear e começa
a formar-se o fuso acromático.

4. O Código Genético é degenerado, é redundante e não é ambíguo.

5. A–V D–F
B–F E–F
C–F F–F

6. É a reprodução assexuada, pois existe apenas um único progenitor.

6.1. A – Bipartição B - Fragmentação C – Gemulação D- Esporulação

6.2. Uma vantagem deste processo é ser rápido e requerer um reduzido gasto de energia e
uma desvantagem deste tipo de reprodução é conduzir a uma pequena variabilidade genética.
7.1. A – Anafase I B – Profase I C – Telofase II
D – Anafase II E – Metafase II

7.2. B/A/E/D/C

7.3. É o crossing-over.

7.3.1. Esse fenómeno permite aumentar a variabilidade genética.

7.4. Etapa A - Anafase I

7.5. Isso sucede devido ao fenómeno do crossing-over na Profase I e da separação dos


cromossomas homólogos se dar ao acaso durante a Anafase I. Para além disto, a
fecundação ao dar-se aleatoriamente faz ainda aumentar mais as hipóteses de
combinações dos genes.

7.6. Significa que a célula em causa possui pares de cromossomas homólogos.

8.1. B - mitose, fecundação e meiose.

8.2.1. I

8.2.2. II

8.2.2.1. Isso é visível pois esse ser vivo tem um ciclo de vida haplodiplonte, já
que a sua meiose é pré-espórica, enquanto o da espirogira é um ciclo de vida
haplonte.

8.3.
A–I
B – nenhum deles
C – II
D–I
E – II
F – nenhum deles

8.4. A-1
B–8
32
Biologia e Geologia - 2º ano
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Exercícios de preparação para Exame Nacional:

GRUPO I

1. Leia, atentamente, o seguinte excerto e analise a figura 1.

Nobel da Química (2006) premeia descobertas sobre a genética

O norte-americano Roger Kornberg ganhou hoje o Prémio Nobel da Química de 2006 pelo
seu estudo de como a informação contida num gene é copiada e transferida para as partes das
células que produzem proteínas. Kornberg, 59 anos, foi o primeiro investigador a criar imagens
cristalográficas do mecanismo deste processo a nível molecular nos organismos eucariotas,
caracterizados por terem núcleos celulares bem definidos. Os mamíferos, tal como a vulgar
levedura, pertencem a este grupo de organismos.

«Compreender como funciona a transcrição tem uma importância médica fundamental»,


refere a Academia Real Sueca no anúncio da atribuição do prémio, salientando a existência de
alterações neste processo em muitas doenças como o cancro, a doença cardíaca e vários tipos
de inflamações. Se a transcrição para, a informação genética deixa de ser transferida (…),
levando a que a sua não renovação implique a morte do organismo em poucos dias. Isto
acontece, por exemplo, em casos de intoxicação por certos cogumelos venenosos, em que a
toxina interrompe o processo de transcrição. «Saber mais sobre o processo de transcrição é
também importante para o desenvolvimento de várias aplicações terapêuticas das células
estaminais», salienta o comunicado.

Isso porque a capacidade das células estaminais se desenvolverem e vários tipos de


células específicas, com funções bem definidas em órgãos diferentes, está também ligada à
forma como a transcrição é regulada.

04-10-2006 – 13:03:41 / Diário Digital / Lusa

1.1. “ (…) a informação contida num gene é copiada e transferida para as partes das células
que produzem proteínas.” A alternativa que contém os termos relacionados com as palavras
sublinhadas do texto é, respetivamente…

a) replicação; ribossoma. b) tradução; ribossoma. c) transcrição; ribossoma

d) transcrição; núcleo. e) replicação; núcleo.

(Assinale a opção correta)


1.2. As moléculas representadas na
figura 1 pelos algarismos 1, 2, 3 e 5,
são, respetivamente…

a) mRNA; DNA; tRNA; rRNA.

b) DNA; pré-mRNA; mRNA;


polipeptídeo.

c) DNA; mRNA; tRNA; rRNA.

d) mRNA; DNA; tRNA; polipeptídeo. Figura 1

e) pré-mRNA; DNA; mRNA; polipeptídeo (Assinale a opção correta) 33


Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

1.3. O mecanismo assinalado pela letra B presente na figura 1 designa-se por_______ e


corresponde à ________.

a) amplificação; remoção dos exões.

b) amplificação; remoção dos intrões.

c) processamento; remoção dos exões.

d) processamento; remoção dos intrões.

(Assinale a opção correta)

1.4. Relativamente a uma proteína com 201 aminoácidos podemos afirmar que o número de
nucleótidos do gene que a codifica, o número de codões presentes na mensagem para a sua
síntese e o número de ligações peptídicas, são respetivamente…

a) 67; 67; 201 b) 204; 202; 67 c) 603; 603; 200 d) 606; 202; 200 e) 606; 202; 201

(Assinale a opção correta)

1.5. O codão correspondente ao aminoácido _____ é o tripleto CAU e o anticodão referente ao


aminoácido triptofano é o tripleto _____.

a) Glutamina; UGG c) Histidina; ACC e) Valina; ACC.

b) Glutamina; ACC d) Histidina; UGG f) Valina; TGG.

(Assinale a opção correta)

1.6. A tradução de uma mensagem contida numa fração de mRNA movimentou, pela ordem
em que estão referidas, moléculas de tRNA possuidoras, respetivamente, dos seguintes
tripletos: UCU AUC CAC GGU.

Selecione a alternativa que


completa corretamente a
afirmação seguinte:

A sequência de tripletos de DNA


que terá servido de base para a
síntese dessa molécula de
mRNA é…

a) UCU AUC CAC GGU

b) AGA UAG GUG CCA

c) AGA TAG GTG CCA

d) TCT AAC CAC GGA

e) TCT ATC CAC GGT

Figura 2

34
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

2. Certos tipos de leucócitos (os linfócitos B), aquando de uma invasão bacteriana específica,
produzem quase incessantemente uma elevada quantidade de anticorpos destinados a combater
esse agente patogénico.

Relacione esse facto com o aumento da quantidade de RNA mensageiro presente ao nível
dessas células durante o período de infeção bacteriana em causa.

3. As afirmações seguintes dizem respeito à síntese proteica em animais.

Selecione a alternativa que as avalia corretamente.

1. Durante a tradução de RNA mensageiro no homem, intervêm enzimas e moléculas de ATP.

2. No rato, para cada codão do mRNA existe um tRNA com um anticodão complementar.

3. Quer no homem quer no rato o codão AUG tem uma dupla função, é o codão de iniciação e
codifica igualmente o aminoácido metionina.

a) 1 é falsa; 2 e 3 são verdadeiras.

b) 1 é verdadeira; 2 e 3 são falsas.

c) 2 é falsa; 1 e 3 são verdadeiras.

d) 2 é verdadeira; 1 e 3 são falsas.

4. Comente a seguinte afirmação:

“…sabe-se que uma dada proteína possui na posição 42 o aminoácido serina, porém
não é possível determinar com precisão o respetivo codogene que codifica a síntese deste…”.

5. Faça corresponder a cada uma das funções envolvidas na síntese de albumina, descritas na
coluna A, o interveniente molecular responsável por essa função, expresso na coluna B.

Escreva, na folha de respostas, as letras e os números correspondentes. Utilize cada


letra e cada número apenas uma vez.

COLUNA A COLUNA B
(a) Contém a sequência nucleotídica (1) ATP
resultante da transcrição do gene da
albumina. (2) DNA

(b) Transporta os monómeros constituintes (3) RNA ribossómico


da albumina para o ribossoma.
(4) RNA de transferência
(c) Catalisa a adição de nucleótidos,
segundo a sequência determinada pelo (5) RNA mensageiro
gene da albumina.
(6) RNA polimerase
(d) Garante a preservação da informação
genética necessária à síntese de (7) Anticodão
albumina.
(8) Aminoácido
(e) Fornece energia química para a ligação
de um aminoácido ao seu transportador.

35
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

6. Nos seres eucariontes, o código genético é, em regra, universal, e a informação genética é


individual.

Explique o significado biológico desta afirmação.

GRUPO II

O Modelo de Treino LH + TL

Durante o estágio para o Mundial da África do Sul em 2010, a seleção portuguesa de


futebol dormiu na serra da Estrela, a 1550 metros de altitude, e treinou na Covilhã, a cerca de
600 metros de altitude, tentando, dentro do possível, realizar o estágio no método «viver na
altitude e treinar num local mais baixo (LH + TL, do inglês Live High + Train Low)».

Neste modelo, o atleta vive em altitude para obter os benefícios da aclimatação e treina
num local mais baixo para conseguir atingir a intensidade de treino semelhante à conseguida
ao nível do mar. Atletas que usam o método LH + TL vivem e / ou dormem em altitudes
moderadas (2000-3000 metros) e treinam em altitudes baixas (< 1500 metros).

Em altitude verifica-se uma menor pressão parcial de oxigénio atmosférico (pO 2), o que
estimula o aumento da produção da hormona eritropoetina pelos rins, em resposta a uma
hipóxia arterial (baixo teor de oxigénio). Esta hormona atua na medula óssea vermelha,
estimulando a produção de eritrócitos, condição esta denominada policitemia.

A uma altitude média de 2200 metros, a eritropoetina atinge o seu pico de libertação no
organismo humano entre 24 e 48 horas, declinando a partir daí. Por sua vez, o processo de
policitemia é lento, sendo necessários vários dias para que ocorra aumento da produção de
eritrócitos.

Baseado em http://www.efdeportes.com (consultado em Novembro de 2010)

Na resposta a cada um dos itens de 1 a 4, selecione a única opção que permite obter uma
afirmação correta.

1. Um indivíduo que viva junto ao mar e que permaneça 30 horas a 2600 metros de altitude
apresenta, ao fim desse tempo,…

(A) uma diminuição da produção de eritropoetina nos seus rins.

(B) um decréscimo acentuado da taxa de policitemia.

(C) um acréscimo do processo de policitemia nos ossos.

(D) um aumento da quantidade de eritropoetina no sangue.

2. As células renais, responsáveis pela produção de eritropoetina, são…

(A) diferenciadas, sendo expressos apenas alguns genes.

(B) indiferenciadas, sendo expressos todos os genes.

(C) diferenciadas, sendo expresso todo o DNA.

(D) indiferenciadas, sendo expressa apenas uma parte do DNA. 36


Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

3. De acordo com o texto, a policitemia causada por ambientes hipóxicos é um processo…

(A) rápido de divisão mitótica. (B) lento de divisão meiótica.

(C) rápido de divisão meiótica. (D) lento de divisão mitótica.

4. Em condições fisiológicas normais, a linfa intersticial…

(A) impede o estabelecimento da ligação entre os fluidos circulantes.

(B) efetua trocas diretas com o sistema sanguíneo, sendo um fluido intracelular.

(C) possibilita a troca de oxigénio entre o sangue e as células.

(D) envolve diretamente as células, sendo proveniente dos vasos linfáticos.

5. Ordene as letras de A a F de modo a reconstituir a sequência cronológica dos


acontecimentos relacionados com os processos de divisão celular durante a formação de
células precursoras dos eritrócitos. Inicie pela letra A.

A. Os filamentos de cromatina condensam-se.

B. Os cromatídeos de cada cromossoma separam-se.

C. Os cromossomas atingem o seu máximo encurtamento.

D. Os nucléolos reaparecem.

E. A membrana nuclear desorganiza-se.

F. Os cromossomas atingem os pólos do fuso acromático.

6. Relacione as alterações verificadas na concentração de eritropoetina no sangue dos atletas


que seguem o método LH + TL com o rendimento energético das células musculares.

7. A mutação de um gene codificador de uma proteína afeta o desenvolvimento


embrionário de uma determinada planta, provocando por exemplo, a formação de células com
dois núcleos. Essa proteína é fundamental para que ocorra a fusão de vesículas derivadas do
complexo de Golgi.

Explique de que modo a mutação referida pode ter como consequência o


aparecimento de células binucleadas.

37
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

8. Faça corresponder a cada um dos acontecimentos celulares descritos na coluna A, a


designação da fase da meiose, expressa na coluna B, em que o acontecimento ocorre.

Escreva, na folha de respostas, as letras e os números correspondentes. Utilize cada letra e


cada número apenas uma vez.

COLUNA A COLUNA B

(a) Contração dos filamentos do fuso acromático, (1) Profase I


levando à segregação dos cromatídeos.
(b) Ocorrência de crossing-over entre cromatídeos (2) Profase II
de cromossomas homólogos.
(c) Disposição dos pares de cromossomas (3) Metafase I
homólogos no plano equatorial do fuso.
(d) Formação da membrana nuclear, envolvendo (4) Metafase II
cromossomas com dois cromatídeos.
(e) Descondensação de cromossomas constituídos (5) Anafase I
por uma molécula de DNA.
(6) Anafase II

(7) Telofase I

(8) Telofase II

9. A reprodução sexuada caracteriza-se pela ocorrência de fecundação e meiose.

Relacione a ocorrência desses dois processos no ciclo reprodutivo de qualquer espécie


com a manutenção do número de cromossomas que carateriza essa espécie.

10. O diagrama da Figura 11


representa, de forma
esquemática, estruturas e
processos que caracterizam
Figura 11
diferentes tipos de ciclos de vida.

10.1. Selecione a alternativa que


preenche os espaços na frase Figura 11
seguinte, de modo a obter uma
afirmação correta.

O ciclo C representa um ciclo de vida ___, porque a meiose é ___.

(A) diplonte (…) pós-zigótica. (B) diplonte (…) pré-gamética.

(C) haplonte (…) pós-zigótica. (D) haplonte (…) pré-gamética.

38
Biologia e Geologia - 2º ano
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10.2. Selecione a alternativa que completa a frase seguinte, de modo a obter uma afirmação
correta.

No ciclo de vida B, a entidade multicelular adulta desenvolve-se a partir de…

(A) … uma célula haploide. (B) … uma célula diploide.

(C) … um zigoto. (D) … um gâmeta.

Critérios de correção:

GRUPO I

1.1. c) transcrição; ribossoma.

1.2. e) pré-mRNA; DNA; mRNA; polipeptídeo.

1.3. d) processamento; remoção dos intrões.

1.4. d) 606; 202; 200

1.5. c) Histidina; ACC

1.6. e) TCT ATC CAC GGT

2. A resposta contempla os seguintes tópicos:

• Bioquimicamente os anticorpos são proteínas (imunoglobulinas);

• Durante uma infeção é necessário aumentar a produção de anticorpos – proteínas –


de modo a combater os agentes patogénicos;

• A transcrição (e tradução) aumenta(m) logo aumenta a quantidade de RNAm nesses


leucócitos.

3. c) 2 é falsa; 1 e 3 são verdadeiras.

4. A resposta contempla os seguintes tópicos:

• O código genético é redundante ou seja 1 a.a. pode ser codificado por vários codões,
logo não se consegue determinar o codão em causa que foi alvo de tradução;

• não é possível assim determinar com precisão quais os codogenes que foram
transcritos e que vão sintetizar o a.a.;

5. (a) – (5); (b) – (4); (c) – (6); (d) – (2); (e) – (1)

6. A resposta deve abordar os seguintes tópicos:

• o código genético é a relação entre os codões do RNA mensageiro e os aminoácidos,


estabelecida nos seres vivos;

• a informação genética de cada indivíduo é a informação contida no seu genoma/nos


seus genes;

• quando ocorre a expressão da informação genética, a utilização do código genético


levam à formação de proteínas /seres vivos com caraterísticas únicas.
39
Biologia e Geologia - 2º ano
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GRUPO II

1. Opção (D)

2. Opção (A)

3. Opção (D)

4. Opção (C)

5. [A], E, C, B, F, D

6. A resposta deve apresentar os seguintes tópicos:

• relação entre o aumento da concentração de eritropoetina e o aumento do


número de eritrócitos;

• relação entre o aumento da disponibilidade de oxigénio / transporte de oxigénio


e o maior rendimento energético.

7. A resposta contempla os seguintes tópicos:

• em células vegetais, a citocinese ocorre por fusão de vesículas provenientes do


complexo de Golgi;

• devido à mutação no gene codificador da proteína, a citocinese não se processa


normalmente;

• não sendo comprometida a mitose, algumas células passam a apresentar mais do


que um núcleo.

8. (a) – (6); (b) – (1); (c) – (3); (d) – (7); (e) – (8)

9. A resposta deve contemplar os seguintes tópicos:

• Na fecundação ocorre a união de duas células com duplicação do número de


cromossomas.

• Na meiose, a redução a metade do número de cromossomas compensa a duplicação


ocorrida na fecundação, mantendo-se, em cada geração, o número de cromossomas
que carateriza a espécie.

10.
10.1. (B) diplonte (…) pré-gamética.

10.2. (A) … uma célula haploide.

40
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

BIOLOGIA E GEOLOGIA - 2º ANO

DOSSIÊ DE APOIO ÀS AULAS

MÓDULO V

PARTE I
COMPONENTE DE BIOLOGIA
----
PARTE II
COMPONENTE DE GEOLOGIA

PORTO

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Biologia e Geologia - 2º ano
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COMPETÊNCIAS

Parte I – Componente de Biologia

 Compreender os modelos explicativos do aparecimento dos organismos


unicelulares eucariontes;
 Reconhecer os problemas que o aumento de volume acarreta em termos de
organização celular;
 Compreender a origem da multicelularidade;
 Relacionar a pluricelularidade com diferenciação celular;
 Identificar os argumentos que apoiam o evolucionismo;
 Compreender os mecanismos de selecção natural;
 Relacionar adaptação com variabilidade;
 Identificar os critérios que permitem distinguir os diferentes sistemas de
classificação;
 Distinguir a classificação de Whittaker de outras;
 Identificar os critérios utilizados por Whittaker.

Parte II – Componente de Geologia

 Reconhecer as contribuições da Geologia nas áreas da prevenção, riscos


geológicos, ordenamento do território, gestão de recursos ambientais e
educação ambiental;
 Assumir opiniões suportadas por uma consciência ambiental com bases
científicas;
 Compreender os perigos da construção em leitos de cheia e da extracção de
inertes no leito dos rios;
 Compreender a necessidade de o homem intervir de forma equilibrada nas
zonas costeiras, isto é, respeitando a dinâmica do litoral;
 Compreender a necessidade de não construir em zonas de risco de
movimentos em massa, respeitando regras de ordenamento do território;
 Identificar a importância de alguns factores naturais (gravidade, tipo de rocha,
pluviosidade) e antrópicos (desflorestação, construção de habitações e de vias
de comunicação, saturação de terrenos por excesso de rega agrícola) no
desencadear de movimentos em massa.

42
Biologia e Geologia - 2º ano
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MÓDULO V

PARTE I
COMPONENTE DE BIOLOGIA
----
EVOLUÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
DOS SERES VIVOS

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Biologia e Geologia - 2º ano
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5.1. UNICELULARIDADE E MULTICELULARIDADE

5.1.1. Seres Procariontes e seres Eucariontes

A biodiversidade existente à face da Terra resulta da evolução da unidade fundamental


da vida, a célula. Todos os seres vivos são constituídos por dois tipos de células diferentes
estruturalmente – células procarióticas e eucarióticas.

O quadro seguinte resume as principais características estruturais que as distinguem:

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE WHITTAKER EM CINCO REINOS

Figura 1: Células e suas características (Adaptado de Silva, A., et al., 2006).

Os estudos paleontológicos permitiram supor que os seres eucariontes terão evoluído a


partir de um ancestral procarionte que foi evoluindo no sentido de um maior grau de
complexidade estrutural.

Durante os diversos estudos em história evolutiva coloca-se a questão – qual a origem


das células eucarióticas? Assim, surgem dois modelos ou hipóteses explicativos: o Modelo
Autogénico e o Modelo Endossimbiótico.

44
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

A imagem reflecte, esquematicamente, as principais diferenças entre os dois modelos


ou hipóteses:

Figura 2: Modelo autogénico e endossimbiótico (Adaptado de Silva, A., et al., 2004).

45
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Modelo Autogénico – inicialmente as células desenvolveram sistemas endomembranares


resultantes de invaginações das membranas celulares. Cada membrana originou organelos
diferentes, em alguns casos porções de DNA foram envolvidas pelas membranas e
abandonaram o núcleo evoluindo autonomamente constituindo os cloroplastos e as
mitocôndrias.

Modelo Endossimbiótico – admite um conjunto de relações simbióticas entre diversas células


procarióticas. Assim, inicialmente ocorre numa célula de maior tamanho a invaginações da
membrana celular originando os sistemas endomembranares, mas as mitocôndrias e
cloroplastos surgem pela entrada de pequenas células procarióticas que passam a estabelecer
relações endossimbióticas com a célula hospedeira de maior tamanho.

A hipótese actualmente mais aceite na comunidade científica é a endossimbiótica. Os


principais argumentos que a fundamentam são os seguintes:

 as mitocôndrias e cloroplastos assemelham-se a bactérias, ou seja, a seres


procariontes, pois produzem as suas próprias membranas internas, dividem-se
independentemente do resto da célula e apresentam ribossomas muito semelhantes
aos dos procariontes;

 é bastante comum ainda actualmente verificarem-se associações simbióticas entre


diversos seres eucariontes e procariontes.

5.1.2. Multicelularidade

Admite-se que o aparecimento dos seres multicelulares adveio de associações entre


seres unicelulares que inicialmente formaram agregados coloniais ou colónias. Estes
agregados continham seres unicelulares que se especializaram em determinadas funções
metabólicas tais como reprodução, respiração, etc. A aquisição de uma função específica
esteve na origem da especialização celular, conduzindo ao aparecimento de tecidos e mais
tarde verdadeiros órgãos e sistemas de órgãos. Assim, actualmente, considera-se que a
progressiva especialização celular dos seres unicelulares, em colónias, conduziu ao
aparecimento de organismos multicelulares. O estudo de uma colónia de algas verdes com
células biflageladas – Volvox – contribui para a aceitação desta hipótese.

A multicelularidade trouxe várias vantagens evolutivas para os seres vivos,


nomeadamente:

 - aumento da biodiversidade;

 - existência de seres com maiores dimensões;

 - aumento da eficácia na utilização de energia;

 - maior independência dos organismos relativamente ao meio exterior.


46
Biologia e Geologia - 2º ano
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5.2. Mecanismos de Evolução

Na ânsia de querer saber mais sobre a origem das espécies e principalmente a razão da
existência de grande diversidade biológica, os cientistas e filósofos, tentaram elaborar teorias
que surgiram condicionadas pela mentalidade da época em que foram desenvolvidas.

5.2.1. Fixismo

As primeiras observações dos seres vivos conduzem à ideia de que estas são fixas e
imutáveis, não sofrendo alterações ao logo dos tempos. Para explicar a sua origem alguns
filósofos fixistas, como Platão e Aristóteles, diziam que por geração espontânea todos os seres
surgiam na Terra, ou seja, a matéria inerte em determinadas condições e por acção de um
princípio activo originava os seres vivos, a partir dessa altura permaneceriam imutáveis ao
longo dos tempos (Espontaneísmo ou Teoria da Geração Espontânea).

Mais tarde, no Ocidente, e tendo como base as perspectivas religiosas da época, surge
o Criacionismo que explicava a origem das espécies como sendo obra divina. Deus, criava as
espécies na sua forma perfeita e estas seriam eternas jamais sofrendo alterações.

No final do século XVIII as teorias fixistas começam a ser postas em causa e a


mentalidade da comunidade científica a tender para a mudança. Surgem, assim, as primeiras
teorias evolucionistas.

5.2.2. Evolucionismo

As primeiras ideias evolucionistas surgiram com os trabalhos desenvolvidos por Lineu


(século XVII), autor fixista e criacionista. Lineu, na tentativa de explicar os desígnios de Deus
acabou por contribuir com o seu trabalho de catalogação da natureza, apresentando
semelhanças e diferenças entre os seres vivos, para as primeiras ideias de que existiria uma
origem comum das espécies. Para além destes trabalhos, contribuíram, igualmente, os estudos
dos registos fósseis que permitiram verificar que as espécies fósseis apresentavam
características morfológicas que não surgiam nas espécies actuais.

Na tentativa de contrariar a tendência para o pensamento evolucionista o fixismo surge


com mais uma teoria – Catastofismo – teoria desenvolvida por Cuvier (fixista e criacionista).
Este autor defendia a ideia que as formas fósseis extintas resultavam de criações anteriores
que desapareceram devido a catástrofes naturais como terramotos, secas, dilúvios, entre
outras. Estas catástrofes dizimavam as espécies em determinados locais, ou até mesmo em
grande escala, e depois por criação Divina eram repostas novas espécies à face da Terra
(Teoria das Criações Sucessivas).
47
Biologia e Geologia - 2º ano
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No final do século XVIII surge a primeira teoria evolucionista coerente.

Lamarckismo

As ideias fundamentais da sua teoria são:

- Lei do uso e desuso;

- Lei da herança dos caracteres adquiridos.

Lamarck, considerava que as modificações no ambiente e a necessidade do indivíduo se


adaptar a essa mudança eram responsáveis pela evolução das espécies. Assim, no sentido de
se adaptarem a um determinado meio ambiente e sobreviverem, os organismos desenvolvem
ou atrofiam determinados órgãos, as modificações ou características eram transmitidas à sua
descendência logo na geração seguinte.

Uso – desenvolvimento de órgãos

Modificações no ambiente Novas necessidades Novos comportamentos

Desuso – atrofia de órgãos

Adaptação da espécie Transmissão das Modificações no organismo


ao longo de gerações características adquiridas
aos descendentes

Contudo, as explicações de Lamarck foram muito contestadas, as principais críticas ao


seu modelo foram:

- a admissão que a natureza teria um propósito de se tornar melhor, ou seja, uma intenção;

- as características adquiridas que afectem apenas a parte somática não são transmitidas
hereditariamente.

As ideias evolucionistas só se afirmaram definitivamente na comunidade científica com


os trabalhos de Darwin.

Darwinismo

Darwin foi um naturalista inglês que recolheu dados e informações durante mais de 20
anos, principalmente durante uma viagem que fez à volta do mundo num barco denominado
Beagle.
48
Biologia e Geologia - 2º ano
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O trabalho de Darwin teve como base alguns fundamentos:

- Dados Geológicos de Lyell – este autor afirmou que: as leis naturais são constantes no
espaço e no tempo; as mudanças geológicas que a Terra sofreu ao logo dos tempos são lentas
e graduais. Darwin considerou que as leis da natureza actuariam da mesma forma na evolução
das espécies;

- Dados Biogeográficos – durante a sua viagem verificou a existência de grande biodiversidade


de local para local;

- Dados Populacionais de Malthus – este autor trabalhou com a população humana e Darwin
adaptou as suas ideias para as populações animais. Verificando que estas apresentam uma
curva de crescimento geométrico em S, pois após um aumento inicial da densidade
populacional esse valor mantém-se sensivelmente constante devido a factores como
competição, doenças, falta de alimento ou território.

- Dados de observações efectuadas em Selecção Artificial – Darwin era criador de pombos e


como tal, fazia selecção dos indivíduos para reprodução. Assim, considerou que tal como o
Homem intervém na selecção dos indivíduos com características mais desejáveis, os factores
do ambiente podem actuar da mesma forma por selecção natural.

A teoria de Darwin tem como pressupostos fundamentais:

- existência de diversidade biológica (variabilidade intra-específica);

- a selecção natural.

Ou seja, numa determinada população existe variabilidade entre os indivíduos, uns que
apresentam características que os tornam mais aptos ao meio onde estão inseridos e outros
com características menos aptas. A selecção natural vai actuar seleccionando os indivíduos
com as características mais vantajosas. Como sobrevivem mais também se reproduzem mais,
logo verifica-se um aumento, com o passar do tempo, de indivíduos com essa característica na
população.

Confronto entre o Lamarckismo e Darwinismo

Ambos utilizam os termos adaptação e ambiente mas de forma diferente. Lamarck


considera que o ambiente é o factor que determina a necessidade de adaptação dos indivíduos
ao meio enquanto que Darwin considera que o ambiente selecciona os indivíduos mais bem
adaptados a esse meio.

49
Biologia e Geologia - 2º ano
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5.2.3. Argumentos a favor do evolucionismo

Diversas áreas científicas contribuíram para reformular e ampliar a Teoria da Evolução.


O quadro seguinte resume as principais contribuições:

Figura 3: Quadro resumo das várias contribuições que contribuiram para fundamentar a teoria da
evolução de Darwin (Adaptado de Ósório, Lígia, 2004).

50
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5.2.4. Neodarwinismo – Teoria Sintética da Evolução

Com os trabalhos de Darwin ficaram por explicar duas questões importantes:

- como surgem as variações naturais, de indivíduo para individuo, dentro da mesma espécie;

- como são transmitidas essas variações à descendência.

No século XX, com a explosão de conhecimentos científicos na área da genética


surgem elementos que apoiam a Teoria de Evolução de Darwin mas com uma outra
perspectiva. Assim, surge a Teoria Sintética da Evolução ou Neodarwinismo que assenta
em dois pressupostos fundamentais:

- variabilidade genética resultante de mutações e de recombinação génica (meiose e


fecundação);

- selecção natural como mecanismo evolutivo predominante.

Deste modo, as variações genéticas estão na base das mudanças evolutivas uma vez
que alteram o fundo genético da população. A selecção natural vai actuar sobre o fenótipo do
indivíduo, mas este não é mais do que resultado da expressão física dos genes. Assim, quando
o meio ambiente se altera os indivíduos que apresentem o conjunto génico mais favorável vão
sobreviver e reproduzir-se mais. Com o passar do tempo esse conjunto de genes, e, portanto,
determinadas características vão dominar na população, dando-se, assim, a evolução.

Nota: entende-se por fundo genético como o conjunto de genes presentes numa população em
simultâneo.

5.3. Sistemática dos Seres vivos

5.3.1. Sistemas de Classificação

O Homem desde sempre que classifica objectos, alimentos e organismos, vivos ou


seja, agrupa em classes tendo em conta determinadas características. Na tentativa de
organizar a enorme diversidade biológica existente à face da Terra, foram criados sistemas de
classificação que sofreram alterações ao longo dos tempos.

De uma forma cronológica surgem os seguintes sistemas:

Práticas – foi a primeira forma de classificação utilizada pelo Homem primitivo, consistia em
separar os organismos de acordo com as necessidades básicas do Homem, por ex: plantas
comestíveis ou não; animais venenosos ou não.

51
Biologia e Geologia - 2º ano
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Artificiais – surgem com Aristóteles e baseiam-se num conjunto reduzido de características


morfológicas. Por exemplo, a estrutura do coração, o tipo de revestimento ou tipo de ovos.

Naturais – com os trabalhos de Lineu desenvolvem-se classificações baseadas num maior


número de características morfológicas entre os indivíduos, tentando reflectir semelhanças
entre eles.

Estes dois tipos de classificações são Racionais e Horizontais pois ambas reflectem
características dos seres vivos e não têm em conta o factor tempo, pois encontram-se num
período fixista.

Mais tarde incluídas nas classificações racionais surgem as Classificações Verticais e


Filogenéticas que reflectem a afinidade e o grau de parentesco entre os indivíduos, aparecem
num período marcadamente evolucionista.

As classificações filogenéticas podem também ser designadas por Cladísticas ou


Filéticas e baseiam-se em critérios estruturais, embriológicos, citológicos, paleontológicos,
bioquímicos e genéticos. Tentam construir árvores que demonstrem a linha evolutiva e os
momentos de divergência entre as espécies.

Actualmente continuam-se a utilizar classificações que são rápidas e objectivas e que


permitem agrupar os organismos baseando-se em características fáceis de identificar –
Classificações Fenéticas.

Lapa Craca Caranguejo Lapa Craca Caranguejo

CLASSIFICAÇÃO FENÉTICA CLASSIFICAÇÃO FILOGENÉTICA

Figura 4: Esquema das classificações fenética e filogenética (Adaptado de Osório, Lígia, 2004).

5.3.2. Taxonomia e Nomenclatura

A taxonomia é uma ciência que se ocupa em classificar e dar nomes (nomenclatura)


aos organismos. Lineu, considerado o “pai da taxonomia”, utilizou um sistema de classificação
baseado em dois pontos principais:

- hierarquia taxonómica – ordenação dos seres vivos formando grupos taxonómicos que se
designam por taxon (taxa no plural) numa série ascendente – espécie, género, família, ordem,
classe, filo (zoologia) ou divisão (botânica) e Reino. A espécie é a unidade básica da
classificação e define-se por um conjunto de indivíduos com o mesmo fundo genético,
fisicamente idênticos, que se podem cruzar entre si e originar descendência fértil (conceito
biológico de espécie).
52
Biologia e Geologia - 2º ano
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- nomenclatura binominal – inicialmente a comunidade científica usava uma nomenclatura


polinominal que gerava algumas dificuldades de comunicação. Actualmente, a nomenclatura
binominal é a mais usada e apresenta as seguintes regras básicas:

 utilização da língua latina (o latim é uma língua morta que não está sujeita a
variações);

 utilização de dois nomes (binominal) na categoria taxonómica espécie, três


nomes (trinominal) na subespécie e um nome (uninominal) nas categorias
superiores. Na espécie, o primeiro nome refere-se ao género (escreve-se com
inicial maiúscula), o segundo ao restritivo específico ou epíteto específico
(adjectivo sem valor taxonómico e escreve-se em minúsculas). Na subespécie
surge um terceiro nome que é o restritivo subespecífico ou epíteto
subespecífico (adjectivo sem valor taxonómico e também se escreve em
minúsculas). Pode ainda aparecer o nome do taxonomista que o designou e a
data separada por uma vírgula;

 O género, espécie e subespécie quando manuscritas devem ser sublinhadas,


caso contrário deverá ser utilizado o tipo de letra itálico;

 o nome da família, nos animais, é constituído pelo género com a terminologia


–idae (nas plantas é –aceae), havendo, contudo, excepções.

Exemplo: Ser humano

Espécie – Homo sapiens

Género – Homo

Família – Hominidae

Ordem – Primata

Classe – Mammalia

Filo – Chordata

Reino – Animalia

53
Biologia e Geologia - 2º ano
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5.4. Sistema de Classificação de Whittaker modificado

Os sistemas de classificação iniciais englobavam dois reinos: o Reino das Plantas e o


Reino dos Animais. No século XVIII, com os trabalhos de Lineu, a ideia dos dois reinos ainda
foi mais reforçada, incluindo-se nos animais todos os organismos que apresentassem
locomoção e ingerissem alimentos e no reino das plantas ficavam todos os que apresentavam
cloroplastos, unicelulares, com parede celular (bactérias) e ainda os fungos, pois não se
moviam.
No século XIX, Haeckel, propôs um terceiro reino – Protistas – onde se incluía os
organismos que geravam dúvidas, fungos unicelulares, protozoários e bactérias.
Na metade do século XX, através de Copeland, com o aparecimento do microscópio
electrónico surge o quarto reino – Monera – sendo neste grupo colocadas as bactérias por
serem seres procariontes.
Em 1968 Whittaker propõe um sistema de clasificação em 5 reinos: Monera, Protista,
Fungi, Plantae e Animalia. Em 1979 reformula o seu próprio sistema de classificação,
apresentando uma diferença ao nível dos Protistas que passaram a incluir os fungos flagelados
e as algas multicelulares, que se encontravam anteriormente respectivamente no Reino Fungi
e Plantae.

O sistema de classificação de Whittaker baseia-se em três critérios principais:

 nível de organização estrutural

- seres procarióticos: Monera


- seres eucarióticos, a maioria unicelulares: Protista
- seres eucarióticos unicelulares: Plantae, Fungi (à excepção das leveduras) e Animalia

 tipo de nutrição

- Autotróficos (quimiossíntese ou fotossíntese) e heterotróficos (absorção): Monera


- Autotróficos (fotossíntese) e heterotróficos (absorção ou ingestão): Protista
- Autotróficos por fotossíntese: Plantae
- Heterotróficos por absorção: Fungi
- Heterotróficos por ingestão: Animalia

 tipo de interacções nos ecossistemas

- Produtores: Plantas, Protista e Monera


- Microconsumidores: Monera, Protista e Fungi
- Macroconsumidores: Animais e Protista
54
Biologia e Geologia - 2º ano
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O quadro que se segue resume as principais características dos 5 reinos tendo em conta os
critérios de Whittaker:

Figura 5: Quadro resumo das características dos reinos segundo Whittaker (Adaptado de Osório,
Lígia, 2004).

O sistema de classificação de Whittaker em cinco reinos tem sido o mais considerado,


no entanto, surgem outros sistemas que se baseiam em novos dados bioquímicos. Consideram
a divisão dos seres vivos em Domínios, sendo este uma categoria taxonómica ainda mais
abrangente que o Reino:

Bacteria (eubactérias) – inclui os procariontes mais diversificados e com maior


distribuição.

Archaea (arqueobactérias) – inclui procariontes metanogéneos e os que vivem em


abientes extremos de temperatura, salinidade ou pH.

Eukarya (eucariontes) – inclui todos os eucariontes.

55
Biologia e Geologia - 2º ano
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EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO

TEMA: EVOLUÇÃO DOS SERES VIVOS

1. A figura 1 representa um possível modelo de evolução de uma célula eucariótica a partir de


uma célula procariótica.

Figura 1

1.1. Refira três diferenças entre as células procarióticas e eucarióticas, que possam ser
observadas na figura.

1.2. Identifique o modelo representado na figura.

1.3. Refira duas vantagens do aparecimento de compartimentos intracelulares.

1.4. Uma observação que apoia o modelo de evolução das células eucarióticas representado na
figura é…
a) a semelhança das membranas internas das células eucarióticas com as membranas das
células procarióticas.
b) a existência de membranas internas nas células procarióticas.
c) a relação de tamanho existente entre células procarióticas e células eucarióticas.
d) a assimetria das membranas internas das células eucarióticas.
(Transcreva a opção correcta.)

2. Refira três vantagens da multicelularidade.

3. Faça corresponder a cada uma das afirmações uma das teorias da chave seguinte.
Chave
A – Darwinismo
B – Lamarckismo
C – Neodarwinismo
D – Fixismo
Afirmações
1 – Os olhos da toupeira atrofiaram-se por falta de uso.
2 – As sucessivas mutações sofridas pelo vírus da gripe levam à necessidade da constante
modificação da vacina que previne esta doença.
3 – As borboletas que se assemelham a outras espécies que são venenosas escapam mais
facilmente à predação e deixam mais descendentes.
56
Biologia e Geologia - 2º ano
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4 – As longas pernas do flamingo desenvolveram-se pela necessidade de caminhar em


terrenos húmidos à procura de alimento.

5 – As espécies fósseis são vestígios de criações anteriores e não têm qualquer relação com
as espécies actuais.
6 – As variedades albinas de certas raças de cães seriam eliminadas pela selecção natural em
ambiente selvagem, uma vez que apresentam características desfavoráveis à sua
sobrevivência.
7 – As espécies com reprodução sexuada apresentam um maior potencial evolutivo do que as
espécies que se reproduzem assexuadamente.
8 – De entre os ancestrais de girafa, aqueles que apresentavam um pescoço mais comprido
alimentavam-se melhor e atingiam, com maior probabilidade, a idade de se reproduzirem.

4. A chita é um animal carnívoro que caça as suas presas correndo atrás delas a grande
velocidade e acabando por captura-las quando se cansam. O esquema da figura 2 representa
a variação do peso das chitas ao longo do tempo.

4.1. Refira como variou o peso das chitas ao longo do tempo.

4.2. Explique a variação de peso


das chitas de acordo com as teorias
evolutivas de:

4.2.1 Lamarck;

4.2.2. Darwin.

Figura 2

5. No início do século XX, com o objectivo de controlar uma praga de citrinos, foi utilizado um
insecticida contendo cianeto. Posteriormente, estudos genéticos efectuados em insectos
sobreviventes revelaram a presença de um gene que lhes possibilitava a decomposição do
cianeto em compostos inofensivos. Pouco tempo depois, verificou-se que toda a população era
resistente ao insecticida.

5.1. Indique o fenómeno que originou o gene responsável pela decomposição do cianeto,
nestes insectos.

5.2. Explique a importância do fenómeno, referido na pergunta anterior, para o neodarwinismo.

TEMA: CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS

1. A sistemática e a taxonomia organizam e ordenam a grande diversidade de seres vivos.

1.1. Faça a distinção entre sistemática e taxonomia.

57
Biologia e Geologia - 2º ano
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1.2. De entre as seguintes afirmações, assinale com V as verdadeiras e com F as falsas.


A – Os sistemas de classificação fenéticos não têm em conta a história evolutiva dos
organismos. ____
B – Nas classificações fenéticas os organismos são agrupados de acordo com as suas
semelhanças, tanto morfológicas como estruturais. ____
C – As classificações horizontais são dinâmicas. ____
D – O sistema de classificação de Aristóteles é racional. ____
E – Os sistemas verticais surgiram no período pós-lineano e pré-darwiniano. ____
F – Os sistemas de classificação artificiais baseiam-se num número reduzido de
características. ____
G – Os sistemas de classificação filogenéticos são dinâmicos e reflectem a evolução dos
grupos. ____
H – O sistema de classificação de Lineu era natural. ____

1.3. Justifique a sua resposta às afirmações A e E da pergunta anterior.

2. Na figura 1, em I está esquematizada uma árvore filogenética de alguns grupos actuais de


vertebrados terrestres e em II e III estão esquematizados dois tipos de classificação desses
grupos de vertebrados.

Figura 1
2.1. Faça corresponder a cada uma das letras que identificam as afirmações seguintes um dos
números, II ou III, dos esquemas da figura.

A – Representa uma classificação baseada na origem evolutiva. ____


B – Representa uma classificação fenética. ____
C – Foi organizada com base em diferenças estruturais dos seres actuais. ____
D – Mostra a existência de uma relação de parentesco entre os Mamíferos e alguns Répteis.

3. As categorias taxonómicas obedecem a uma hierarquia; deste modo, dois animais que
pertençam à mesma ordem também pertencem:
a) ao mesmo género.
b) ao mesmo filo.
c) à mesma classe.
d) à mesma família.
e) à mesma espécie. (Assinale as opções correctas.)

58
Biologia e Geologia - 2º ano
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4. O quadro seguinte apresenta a classificação, segundo Bergey, da bactéria Chromatíum


warmingíi em diversas categorias taxonómicas.

4.1. Identifique:
4.1.1. a categoria taxonómica assinalada, no quadro, com a letra A;
4.1.2. o género assinalado com a letra B.
4.2. Indique a propriedade diagnosticante correspondente à letra C do quadro.
4.2.1. Justifique a resposta dada na questão anterior.

5. A figura 4 mostra uma árvore filogenética referente à classificação de Whittaker em cinco


reinos, bem como alguns seres vivos de cada um
deles.
5.1. Identifique os reinos referenciados pelas
letras.

5.2. Indique três critérios usados por Whittaker no seu


sistema de classificação.

5.3. Refira duas características que levaram Whittaker


a distinguir entre si:
5.3.1. o reino A e o reino B;

5.3.2. o reino C e o reino D;

5.3.3. o reino D e o reino E.

5.4. A classificação indicada é pós-darwiniana ou pré- Figura 4


darwiniana? Justifique.

6. Na tabela seguinte está representado o sistema de


classificação proposto por Lynn Margulis:

6.1. Explique as mudanças frequentes dos sistemas de classificação.


59
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SUGESTÃO DE CORRECÇÃO

TEMA: EVOLUÇÃO DOS SERES VIVOS

1.
1.1. As células procarióticas são bastante menores do que as células eucarióticas e não
possuem núcleo individualizado pelo invólucro nuclear nem organelos membranares, como
retículo endoplasmático ou mitocôndrias.
1.2. Modelo autogénico.
1.3. Os compartimentos intracelulares permitem à célula ter regiões especializadas em
determinadas funções, que, assim, se realizam com maior eficácia e aumentam a superfície da
célula onde existem membranas, nas quais se localizam enzimas e sistemas de transporte com
funções importantes.
1.5. d) a assimetria das membranas internas das células eucarióticas.

2. Aumento da diversidade de formas dos organismos; aumento da relação superfície/volume


corporal; melhor aproveitamento da energia metabólica.

3. 1 – B 2 – C 3 – A 4 – B 5 – D 6 – A 7 – C 8 - A

4.
4.1. Diminui.
4.2.
4.2.1 De tanto correrem no encalço das suas presas, as chitas gastaram as suas reservas de
gordura e diminuíram de peso. Essa característica foi transmitida à descendência que passou a
nascer com menos gordura e menos peso.
4.2.2. Numa população de chitas, as menos pesadas conseguiram alcançar com maior
sucesso as suas presas, pelo que se alimentavam melhor, sobreviviam e deixavam mais
descendentes. Assim, a selecção natural favoreceu as chitas menos pesadas, levando à
diminuição gradual do peso, em sucessivas gerações, ao longo do tempo.

5.
5.1. Mutação génica.
5.2. Para o neodarwinismo as mutações são a fonte de novos genes na população, o que vai
permitir o surgimento de novas características nos descendentes por recombinação genética.
Isto permite aumentar a variabilidade genética da população.

TEMA: CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS

1.
1.1. A taxonomia é o ramo da Biologia que classifica os seres vivos e enquadra-se no âmbito
da sistemática, que, para, além de englobar a taxonomia, estuda a evolução e a história dos
diferentes grupos de seres vivos ao longo do tempo.
1.2. A – V B – V C – F D – V E – F F – V G – V H – F
1.3. A – Afirmação verdadeira, porque os sistemas de classificação fenéticos apenas
consideram as características que os seres vivos apresentam; E – Afirmação falsa, porque os
sistemas verticais surgiram no período pós-darwiniano.

2.
2.1. A – II B – III C – III D – II

3. b) ao mesmo filo.
c) à mesma classe.

4.
4.1.
4.1.1. Família
4.1.2. Chromatium
60
Biologia e Geologia - 2º ano
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4.2. Seres Procariontes.


4.2.1. Os seres do Reino Monera são unicelulares procariontes, isto é, não possuem núcleo
organizado.

5.
5.1. A – Monera; B – Protista; C – Fungi; D – Plantae; E – Animalia.
5.2. Nível de organização estrutural, tipo de nutrição e interacção nos ecossistemas.
5.3.
5.3.1. Os seres do reino Monera não possuem núcleo organizado nem organelos membranares
e os do Protista são eucariontes.
5.3.2. Os Fungos são, geralmente, heterotróficos por absorção e microconsumidores e as
Plantas são autotróficas e produtores.
5.3.3. As plantas são autotróficas e produtores e os animais são heterotróficos por ingestão e
macroconsumidores.
5.4. Pós-darwiniana. Porque tem em conta a evolução sofrida pelos reinos ao longo do tempo e
as relações de parentesco entre seres de cada um deles.
6.
6.1. Os sistemas de classificação vão sendo alterados à medida que são recolhidos novos
dados e que o conhecimento dos seres vivos e do modo como eles se transformam ao longo
do tempo vai aumentando. Este aumento de conhecimento vai tornando os grupos cada vez
mais artificiais, sendo necessária a criação de novos com a introdução de novos critérios de
classificação.

61
Biologia e Geologia - 2º ano
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MÓDULO V

PARTE II
COMPONENTE DE GEOLOGIA
----
RISCO GEOLÓGICO E
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

62
Biologia e Geologia - 2º ano
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A Terra é um planeta dinâmico devido à sua energia interna (calor retido no seu
interior) e externa (proveniente do Sol). Em resultado desta sua intensa actividade geológica, e
desde a sua formação, que ocorrem na sua superfície fenómenos, considerados, muitas vezes,
como catastróficos. No entanto, mesmo os fenómenos mais desastrosos são considerados
normais para a actividade do planeta, tendo ajudado para o tornar habitável ao longo dos
tempos. A tectónica de placas, causadora da actividade de sismos e vulcões, é responsável
pela dinâmica da litosfera e pela modificação da paisagem. Já o vento e a água provocam
cheias, movimentos de massa e tempestades, mas contribuem para renovar o solo e suportar a
vida.

Os fenómenos geológicos muitas das vezes são considerados riscos para a população.
Sendo um risco a possibilidade de um determinado fenómeno perigoso ocorrer numa dada
área e num certo momento. Consideram-se riscos geológicos os sismos, as erupções
vulcânicas, inundações, deslizamentos de terras. Os riscos naturais incluem não só os riscos
geológicos, mas outros como: fogos selvagens, tufões, secas, pragas de animais, etc.

As consequências de um risco podem ser minimizadas, evitando-se assim perdas de


vida e de bens, se existirem estudos prévios dos fenómenos geológicos, das suas causas e
formas de prevenção. Estes estudos já fazem parte de um ramo das geociências, da Geologia
Ambiental.

1. Ocupação antrópica e problemas de ordenamento

Devido ao aumento demográfico, grandes áreas do globo terrestre foram ocupados


pelo Homem, ocupação antrópica.

O crescimento da população provocou mudanças significativas nas paisagens e uma


exploração acelerada dos recursos naturais.

A ocupação de áreas de risco aumentou a vulnerabilidade da população aos riscos


naturais. Desta forma, torna-se urgente implementar regras de ordenamento do território,
para garantir a organização do espaço biofísico, tendo como finalidade a sua ocupação,
utilização e transformação de acordo com as capacidades e características que apresenta.

As bacias hidrográficas, as zonas costeiras e as zonas de vertente constituem


situações de risco geológico.

63
Biologia e Geologia - 2º ano
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1.1. Bacias hidrográficas

O crescimento das cidades próximo das margens dos rios traz vantagens (devido à sua
utilização como vias de comunicação, facilidade de acesso à água, energia, solos férteis), no
entanto, existem também alguns riscos associados, principalmente de inundações.

A área ocupado pelas águas denomina-se leito do rio, distinguindo-se:

Leito do rio ou leito aparente – terreno, normalmente, ocupado pelas águas e materiais que
estas transportam.

Leito de cheia ou leito de inundação – área do vale ocupado pelas águas em época de
cheias;

Leito de seca ou leito menor ou leito de estiagem – zona ocupada por uma menor
quantidade de água, como se verifica, por exemplo, na época do Verão.

Figura 1 – Perfil transversal de um rio (Adaptado de Osório, Lígia,


2006).

Os rios inserem-se em redes hidrográficas e bacias hidrográficas.

A rede hidrográfica é o conjunto formado pelo rio e por todos os cursos de água que
nele depositam as suas águas.

A área, cujas águas se deslocam para uma rede hidrográfica, designa-se por bacia
hidrográfica.

Um rio desempenha a sua actividade geológica compreendendo os seguintes


processos:

 Erosão – extracção de materiais resultantes da alteração e da erosão das


rochas do leito do rio e das margens.
64
Biologia e Geologia - 2º ano
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 Transporte – após a extracção, os materiais podem-se deslocar, para maiores


distâncias, pela corrente de água. A carga sólida de um rio, designa-se por
detritos e é constituída por materiais que são transportados dissolvidos,
materiais em suspensão e materiais por tracção no fundo (por arrastamento,
rolamento ou saltação).
 Sedimentação – corresponde à deposição dos detritos, quando abranda a
capacidade de transporte; é feita de acordo com as dimensões e peso dos
detritos e pela velocidade da corrente.

As cheias são acontecimentos naturais causados por precipitação intensa de curta


duração, por longos períodos de precipitação ou por fusão de gelo. Durante uma cheia,
aumenta o caudal dos rios e ocorre a inundação das margens. Claro que haverá um maior
impacto durante uma cheia se houver uma ocupação antrópica do leito de cheia.

De forma a regularizar o caudal dos rios, evitando cheias constantes, adoptam-se


algumas estratégias como:

 Canalização (regularização, aprofundamento, alargamento e remoção de


obstáculos em zonas do leito do rio);
 Construção de barragens (tendo outras utilizações como: retenção de água na
albufeira evitando inundações a jusante; produção de energia hidroeléctrica;
abastecimento das populações; irrigação de terrenos agrícolas). No entanto,
associados às barragens existem algumas desvantagens como: a deposição
de sedimentos a montante da barragem, com redução da quantidade de
detritos debitada pelos rios no mar; impacte negativo (destruição ou
desequilíbrio) nos ecossistemas aquáticos ou terrestres da zona e têm um
tempo de vida útil determinado.

Uma outra interferência antrópica ao nível dos rios, que pode ter consequências
desastrosas é a exploração excessiva de areias. Esta actividade pode ter as seguintes
consequências:

 Desaparecimento de praias fluviais;


 Descalçamento de pilares de pontes, podendo originar a sua queda;
 Alterações das correntes;
 Redução na quantidade de sedimentos que chegam ao mar.

65
Biologia e Geologia - 2º ano
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De forma a evitar situações de risco junto dos cursos de água deve ser assegurado o
ordenamento do território, ocorrendo a regulamentação da construção em leitos de cheia e
da sua ocupação por outras actividades humanas.

1.2. Zonas costeiras – ocupação antrópica da faixa litoral

2
A superfície da Terra encontra-se ocupada por /3 de mar. A maioria da população
aglomera-se nas zonas costeiras dos continentes. Em Portugal, que possui uma extensão de
costa de cerca de 900 km, é no litoral onde se encontra a maior densidade populacional e as
principais cidades.

Devido à acção modeladora sobre as faixas costeiras provocada pela energia


mecânica das ondas, das correntes e das marés, podem-se considerar:

 As formas de erosão – resultam do desgaste provocado pelo rebentamento das


ondas do mar sobre a costa. Designando-se esses desgaste por abrasão marinha.
Nas costas altas e escarpadas, as arribas, os efeitos da abrasão é significativo.
Na base das arribas, existem, por vezes, plataformas de abrasão, que são
superfícies próximas do nível do mar onde se encontram sedimentos de grandes
dimensões que derivam do desmoronamento das arribas.

 As formas de deposição – resultam dos materiais arrebatados pelo mar ou


transportados pelos rios, que se depositam quando o ambiente o permite. São
exemplos, destas formas, as praias e as ilhas-barreira.

O desenvolvimento do litoral, actualmente, já não ocorre só de uma forma natural, mas


condicionado por factores antrópicos, destes destacam-se:

 Ocupação da faixa litoral com construções (habitações, empreendimentos


turísticos, zonas de lazer e outras);
 Diminuição da quantidade de sedimentos, devido à construção de barragens
e/ou exploração de areias nos rios;
 Destruição de paisagens naturais, como dunas e vegetação costeira.

66
Biologia e Geologia - 2º ano
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De forma a tentar resolver os problemas resultantes do avanço do mar sobre a costa,


que colocam em risco a vida e os bens das populações e desequilíbrios nos ecossistemas, o
Homem tem vindo a fazer intervenções, tais como:

 Construção de paredões, esporões e quebra-mares;


 Estabilização de arribas;
 Abastecimento artificial das praias com areias;
 Preservação e recuperação de dunas.

Nota: No litoral português têm sido construídos paredões, esporões e quebra-mares,


porém a protecção destas estruturas é limitada no tempo e no espaço, dado que ocorre a
acumulação de sedimentos de um dos lados e aumenta a erosão do lado oposto, agravando a
situação em determinados locais.

1.3. Zonas de vertente – perigos naturais e antrópicos

As zonas de vertente são áreas com grandes declives, ocorrendo intensos fenómenos
de erosão. Nestas zonas, existe um risco acentuado de movimentos em massa, sendo estes
movimentos descendentes bruscos de uma grande massa de materiais (solo e rochas).

Numa superfície inclinada, actuam duas forças opostas: a gravidade e o atrito.


Quando a força da gravidade é superior à do atrito, existem condições para a ocorrência de
movimentos em massa.

No entanto, outros factores, para além da gravidade e inclinação dos terrenos, poderão
provocar os movimentos em massa, tais como:

 quantidade de água no solo;


 tipo de material rochoso que constitui uma região;
 variações da temperatura;
 acontecimentos bruscos, como sismos ou tempestades.

67
Biologia e Geologia - 2º ano
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A acção do Homem permite também a ocorrência de movimentos em massa nas


seguintes condições:

 desflorestação, com consequente aumento da erosão do solo;


 remoção, não controlada, de terrenos para urbanização ou abertura de
estradas;
 saturação de água dos solos devido ao excesso de irrigação.

No âmbito da prevenção dos movimentos em massa poder-se-ão adoptar as seguintes


medidas:

 Elaboração de cartas de ordenamento do território, com definição de áreas


apropriadas para as diversas actividades humanas;
 Elaboração de cartas de risco geológico;
 Remoção ou contenção dos materiais geológicos que possam constituir perigo.
A contenção pode ser feita através de muros de suporte (com ou sem
drenagem de águas), de redes metálicas e de pregagens;
 Plantação de vegetação de crescimento rápido;
 Drenagem de água e de linhas de água através de tubos colectores de água e
de tubos de drenagem.

68
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EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO

TEMA: OCUPAÇÃO ANTRÓPICA E PROBLEMAS DE ORDENAMENTO

1. Classifique cada uma das seguintes afirmações como verdadeira (V)ou falsa (F).

a) Os materiais sólidos transportados pelos rios resultam, essencialmente, da erosão das rochas do
leito e das margens.

b) A erosão provocada pelos rios é tanto menor, quanto maior a pressão da água.

c) Os materiais sólidos de maiores dimensões transportados pelos rios depositam-se a montante e os


mais finos a jusante.

d) A tracção de materiais sólidos sobre o fundo do rio ocorre a uma velocidade inferior à velocidade da
água.

e) A bacia hidrográfica de um rio é o conjunto de todos os cursos de água que confluem para o mesmo
local.

2. As águas correntes constituem o principal agente


modelador das paisagens terrestres. O gráfico
seguinte relaciona a velocidade da corrente com a
erosão, o transporte e a deposição de sedimentos.

2.1. Classifique cada uma das seguintes afirmações

como verdadeira (V) ou falsa (F).

a) Os sedimentos de tamanho intermédio são mais

facilmente erodidos do que os sedimentos mais pequenos e os maiores.

b) Os sedimentos de grandes dimensões são apenas transportados por correntes de elevada energia.

c) Uma velocidade de corrente de 1 cm/s não permite o transporte de partículas com dimensões

superiores a 1 mm.

d) Os processos de erosão, transporte e deposição podem ocorrer simultaneamente em certos troços

do rio, caracterizados por uma determinada velocidade de corrente.

e) As partículas de menores dimensões são as que sofrem um transporte mais curto.

69
Biologia e Geologia - 2º ano
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2.2. Explique de que forma as barragens construídas nos rios interferem com os processos
naturais de transporte e deposição de sedimentos.

3. A urbanização das margens dos rios é um dos factores que influencia a ocorrência de
cheias. Observe a figura 1 que ilustra a drenagem da água resultante da precipitação numa
zona florestal (A) e numa zona urbanizada (8).

A largura das setas é proporcional à quantidade de água drenada.

Figura 1

3.1. Refira qual o destino da maior parte da água que precipita numa zona florestal.

3.2. Em qual das zonas, A ou B, a probabilidade de ocorrência de uma cheia é maior?


Justifique a sua resposta.

4. Observe as imagens da figura 2 e leia com atenção o texto, referente a uma tragédia recente
ocorrida no nosso país.

Figura 2

Um novo relatório, realizado por cinco especialistas em hidráulica e engenharia civil,


aponta a extracção de areias no leito do rio Douro como a principal causa da queda da ponte
de Entre-os-Rios, que provocou a morte a 59 pessoas.

No mesmo relatório é referido que, já em 1988, o pilar número quatro da ponte não
apresentava condições de segurança, em resultado da intensa extracção de areias, mas
também de alguns fenómenos naturais. Estas responsabilidades são mesmo quantificadas
pelos técnicos que atribuem 80 por cento de culpa à extracção de areias e 20 por cento a
outros fenómenos, como as chuvas intensas.

70
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

De acordo com os especialistas, as extracções de areias efectuadas a montante da


ponte geraram fundões que provocaram a instabilidade do leito do rio e contribuíram de
forma decisiva para a queda do pilar da ponte Hintze Ribeiro. Os peritos concluem que era
previsível o descalçamento do pilar e que medidas de protecção podiam ter eventualmente
evitado a queda da ponte de Entre-os-Rios.

No relatório os especialistas concluem que quer o projectista encarregado do reforço


da ponte, quer o dono da obra deviam ter encarado os estudos existentes à data de forma
mais cuidada. Embora considerem que a extracção de areias deixa cicatrizes profundas, os
peritos não chegam ao ponto de afirmar que esta foi excessiva. Recentemente foi autorizado
o retomar desta actividade extractiva.

Portal ambiente on line, 2004-02-05

4.1. Indique a tragédia referida no texto e nas imagens.

4.2. Refira as consequências da tragédia.

4.3. Explique os motivos da queda da ponte de Entre-os-Rios.

4.4. Qual das causas identificadas na pergunta anterior tem origem antrópica?

4.5. Explique que alterações podem ocorrer no rio devidas à retoma da indústria extractiva.

5. A figura 3 representa, em corte, o que acontece em algumas zonas escarpadas do litoral


português quando o litoral rochoso recua.

5.1. Identifique a estrutura representada na

figura.

5.2. Explique a evolução expressa por 1, 2 e 3.

5.3. Designe a superfície representada pela

letra S.

5.4. Refira qual a função dessa estrutura.


Figura 3

5.5. Indique um processo possível de estabilização da estrutura representada na figura.

71
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

6. Os esquemas I, II e III da figura 4 pretendem evidenciar a interferência de obras portuárias –


porto de abrigo e esporões – na dinâmica sedimentar e na evolução da paisagem litoral.

Figura 4

6.1. Apresente duas consequências resultantes da construção do porto de abrigo observáveis


na passagem do esquema I para o esquema II.

6.2. Indique uma vantagem da construção dos esporões representados no esquema III.

6.3. Explique as consequências resultantes da construção dos esporões que são visíveis no

esquema III.

6.4. A estrutura assinalada pela letra C constitui uma forma de deposição ou uma forma de

erosão? Justifique.

7. Leia com atenção o texto referente aos movimentos de massa na Ribeira Quente, S. Miguel,
em 31 de Outubro de 1997.

Na madrugada de 31 de Outubro de 1997 registaram-se em toda a ilha de São


Miguel, com particular incidência nos concelhos da Povoação e do Nordeste, cerca de
1000 movimentos de massa, após um período de chuvas intensas. Estes provocaram
a destruição de habitações e pontes, afectaram sistemas de comunicação, de
transporte de energia e soterraram extensas superfícies de terrenos agrícolas. A área
mais afectada foi a da freguesia de Ribeira Quente, que ficou isolada por mais de 12
horas e onde 29 pessoas perderam a vida.

Separata Açores, n.º 16, 2003 (adaptado)

72
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

7.1. Indique duas causas prováveis para o arrastamento dos diferentes materiais.

7.2. Refira as consequências dos movimentos de massa ocorridos.

7.3. Explique como é que a chuva intensa contribuiu para o desencadear destes movimentos

em massa.

7.4. Indique formas de minimizar os riscos geológicos de ocorrência destes acidentes.

8. A figura 5 ilustra uma situação de uma colina ladeada


por duas estradas, A e B.

8.1. Qual das estradas apresenta maior segurança em

relação à ocorrência de movimentos em massa?

Justifique a sua resposta.

8.2. Sugira uma intervenção no local, que possa

contribuir para aumentar a segurança da estrada de maior risco. Figura 5

SUGESTÃO DE CORRECÇÃO

1. a) V; b) F; c) V; d) V; e) F
2.
2.1. a) V; b) V; c) V; d) V; e) F
2.2. As barragens constituem barreiras ao trânsito de sedimentos, uma vez que uma grande
parte dos sedimentos acumula-se junto ao muro de suporte das barragens e não continua o
seu percurso para jusante. As praias fluviais a jusante deixam de ser alimentadas pela
quantidade normal de sedimentos, que também não chegam à faixa litoral. Nestas zonas,
intensifica-se a erosão, uma vez que não há reposição de sedimentos que compensem aqueles
que são erodidos.
3.
3.1. A maior parte da água infiltra-se no solo e vai fazer parte da água subterrânea.
3.2. Na zona B. Nesta zona, a construção de edifícios e estradas impermeabilizou uma grande
extensão da superfície, pelo que a quantidade de água que é drenada para zonas profundas é
menor e a maior parte da água movimenta-se à superfície e é conduzida para os cursos de
água. Estes podem aumentar consideravelmente, o seu caudal, originando uma cheia.

4.
73
Biologia e Geologia - 2º ano
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4.1. A queda da ponte Hintze Ribeiro em Entre-os-Rios.


4.2. A morte de 59 pessoas e o prejuízo resultante da destruição dessa infra-estrutura.
4.3. A extracção continuada de areias do leito do rio, a que se juntou o aumento do caudal do
rio devido à forte precipitação, o que provocou o descalçamento e queda do pilar quatro da
ponte e o abatimento do tabuleiro da referida ponte.
4.4. A extracção de areias do fundo do rio.
4.5. A extracção continuada de areias modifica o leito do rio, podendo provocar o seu
afundamento e alterações no movimento da água e nos seus efeitos erosivos, que aumentam o
risco geológico.

5.
5.1. Arriba.
5.2. A acção das ondas, das marés e das correntes marítimas, provocou a erosão da base
rochosa, resultando no abatimento das camadas superiores, devido ao seu peso, fazendo
recuar a arriba ao longo do tempo.
5.3. Plataforma de abrasão.
5.4. A presença da plataforma de abrasão protege temporariamente a base da arriba,
retardando o seu recuo.
5.5. Construção de paredões ao longo da arriba.

6.
6.1. A construção do porto de abrigo conduziu à deposição de areias mo seu lado oriental e ao
arrastamento e destruição da costa a ocidente, onde uma estrada da povoação A desapareceu,
estando as construções ameaçadas pela abrasão marinha.
6.2. A construção de esporões na povoação A vieram deter o efeito erosivo do mar e permitir a
deposição de nova areia, o que permitiu restabelecer a praia desta povoação.
6.3. Como se pode observar no esquema III, a construção dos esporões provocou alterações
na povoação B, cuja costa começou a regredir, devido a fenómenos erosivos intensos e que
estão a ameaçar a referida povoação.
6.4. De deposição. No esquema I verifica-se que o sentido de transporte dos sólidos se está a
fazer no sentido dessa estrutura, o que provoca a acumulação de areias nesse local.

7.
7.1. A força da gravidade e a saturação de água do solo.
7.2. A perda de 29 vidas humanas, destruição de habitações, pontes, sistemas de
comunicação, energia e transporte afectados e o soterramento de grandes áreas agrícolas.
7.3. A água no solo provoca o afastamento das partículas que o constituem, diminuindo a sua
agregação, com a consequente diminuição da força de atrito e o seu deslizamento.
7.4. Evitando a construção em zonas de vertente instáveis e procedendo à consolidação de
vertentes, por exemplo, através da construção de muros de suporte, tubos de drenagem da
74
Biologia e Geologia - 2º ano
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água do interior da vertente para evitar a sua acumulação e a plantação de vegetação que
ajude a estabilizar e a fixar o solo.

8.
8.1. A estrada A é mais segura. As camadas de rocha estão inclinadas na direcção da estrada
B e, se ocorrer um movimento em massa, esse movimento far-se-á segundo a inclinação das
camadas de rocha e atingirá a estrada B.
8.2. Uma intervenção possível é a remoção das camadas de rocha que podem deslocar-se,
num movimento em massa, sobra a estrada B e outra intervenção possível é a pregagem
dessas camadas de rocha, fixando-as.

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Biologia e Geologia - 2º ano
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BIOLOGIA E GEOLOGIA - 2º ANO

DOSSIÊ DE APOIO ÀS AULAS

MÓDULO VI

COMPONENTE DE GEOLOGIA

PORTO

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A- AMBIENTE SEDIMENTAR

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ÍNDICE:

1. Alterações das rochas.

2. Rochas sedimentares.

2.1. Rochas.

2.2. Minerais.

2.3. Principais propriedades dos minerais

2.3.1. Silicatos: Grupo dominante nas rochas terrestres.

2.3.2. Caracterização e identificação dos minerais mais comuns nas


rochas.

2.4. Classificação das rochas sedimentares.

2.4.1. Rochas sedimentares detríticas.

2.4.2. Rochas sedimentares quimiogénicas.

2.4.3. Rochas sedimentares biogénicas.

3. As rochas sedimentares, arquivos da história da Terra.

3.1. Datação relativa.

4. Exercícios de aplicação.

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Biologia e Geologia - 2º ano
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COMPETÊNCIAS:

 Compreender as principais etapas de formação das rochas sedimentares.

 Conhecer a classificação das rochas sedimentares com base na sua génese: detríticas,
quimiogénicas e biogénicas.

 Conhecer o conceito de mineral.

 Conhecer o conceito de rocha.

 Compreender as principais características que distinguem os diferentes tipos de rochas


sedimentares.

 Reconhecer a importância das rochas sedimentares como arquivos históricos da Terra.

 Relacionar as informações que os fósseis de fácies nos podem fornecer sobre


paleoambientes.

 Compreender que os fósseis são importantes na datação das formações rochosas que
os contêm.

 Conhecer a aplicabilidade dos princípios da sobreposição, da continuidade lateral e da


identidade paleontológica na datação relativa de rochas sedimentares.

 Conhecer as grandes divisões da escala de tempo geológico.

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Biologia e Geologia - 2º ano
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1. Alterações das rochas:

As observações efectuadas em afloramentos e construções realizadas pelo Homem levam-


-nos a concluir que mesmo a rocha mais resistente, firme e compacta acaba por ceder e por se
alterar no decorrer dos tempos. Este fenómeno ocorre porque as rochas, quando expostas na
superfície terrestre, são constantemente alteradas por diversos fenómenos ambientais.

 Meteorização: processo de alteração e desagregação da rocha-mãe devido à sua


exposição aos agentes ambientais.

A meteorização pode ser:

 Mecânica (ou física).

 Química.

A meteorização física pode resultar:

 Da expansão de fendas devido à congelação da água retida no seu interior (ou


crioclastia).

 De dilatações e contracções de diferentes minerais constituintes de uma rocha


quando submetidos a variações de temperatura (ou termoclastia).

 Da descompressão resultante da erosão das camadas que recobrem a rocha, o


que provoca o alívio da carga e a fractura da rocha.

 Da acção mecânica da água.

 Da acção do vento.

 Da actividade dos seres vivos.

 Do crescimento dos minerais (ou haloclastia).

Este tipo de meteorização provoca a desagregação da rocha em partículas mais pequenas,


designadas por clastos ou sedimentos detríticos.

A meteorização química: consiste na transformação química dos minerais existentes na


rocha-mãe devido à acção da água e dos gases atmosféricos.

80
Biologia e Geologia - 2º ano
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Muitos dos minerais constituintes das rochas são estáveis no ambiente em que se
formaram, mas tornam-se instáveis nas novas condições. Nestas condições, os minerais
sofrem reacções químicas de que são exemplos:

 A carbonatação

 A hidratação

 A oxidação, etc, dando origem a novos minerais.

Um exemplo da meteorização química é o caso dos calcários, cujo mineral mais abundante
é a calcite, que quando reage com o ácido carbónico origina o ião cálcio e o ião
hidrogenocarbonato (bicarbonato), que são transportados em solução aquosa. Este fenómeno
faz com que os calcários, por meteorização química, percam a calcite, se desagreguem,
dando origem a argilas ferruginosas de aspecto avermelhado.

Figura 1: Quadro resumo das principais reacções que podem ocorrer durante a meteorização química (Adaptado de
Dias, A., 2004).

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Biologia e Geologia - 2º ano
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 Erosão: Consiste na remoção física dos fragmentos resultantes da meteorização da


rocha-mãe.

A B

Figura 2: A- Ravinamentos; B- Chaminé de fada (Adaptado de Dias, A. et al., 2004).

Figura 3: Bloco pedunculado (Adaptado de Dias, A. et al., 2004).

 Transporte: é o movimento dos sedimentos por agentes. Os agentes de transporte são


a água, a gravidade, o vento e o gelo. Os sedimentos são separados de acordo com o seu
tamanho, pelo agente transportador.

o Durante o transporte, os fragmentos sofrem uma diminuição de tamanho


(rolamento) e um arrendondamento gradual (esfericidade) devido a
processos erosivos.

o O grau de arredondamento dos detritos dá indicações precisas sobre o tipo


de transporte sofrido, a sua duração e a distância percorrida pelos
fragmentos.

82
Biologia e Geologia - 2º ano
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o Outro fenómeno que ocorre durante o transporte é a separação dos


fragmentos em função do seu peso e do tamanho – granotriagem.

Figura 4: Agentes de transporte.

Figura 5: Diferentes formas de transporte pelo vento (Adaptado de Dias, A. et al., 2004).

 Deposição ou sedimentação: À medida que o agente de transporte perde energia, o


transporte cessa e os sedimentos vão-se acumulando em camadas sucessivas. Esta
acumulação pode ocorrer no interior dos limites continentais (rios, lagos,…), nos limites
continente-oceano (praias, deltas,…) e em diferentes zonas dos oceanos (plataforma,
planície abissal, …). Quando os sedimentos se depositam, em geral, formam superfícies
mais ou menos paralelas que se designam por estratos ou camadas.

o Cada estrato está recoberto por outro, normalmente mais recente, o tecto, e
recobre um estrato inferior mais antigo, o muro.

o A deposição dos estratos pode ser horizontal, mas por vezes, pode ocorrer a
estratificação entrecruzada.

83
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 6: Estratificação.

 Diagénese: após a deposição, os sedimentos vão, em seguida, sofrer um conjunto de


transformações físicas, químicas e, por vezes, biológicas que conduzem à sua
consolidação e transformação numa rocha sedimentar.

Dos fenómenos que intervêm na diagénese, analisaremos a compactação, a cimentação


e a recristalização.

o À medida que vai ocorrendo a deposição, os sedimentos são sucessivamente


comprimidos por acção dos novos sedimentos que sobre eles se vão
depositando. Os materiais subjacentes, são sujeitos a um aumento de pressão,
em consequência desta, ocorre a compactação dos sedimentos (redução do
volume e aumento da densidade por diminuição dos espaços intersticiais) e a
sua desidratação (perda de água) de forma progressiva.

o Parte das substâncias dissolvidas na água intersticial precipitam e originam um


cimento que liga entre si os sedimentos – cimentação.

o Durante a recristalização, alguns minerais alteram as suas estruturas


cristalinas.

2. Rochas sedimentares

O ambiente sedimentar ocorre na crusta terrestre, à superfície ou próximo dela, e


predominantemente em presença de água. É caracterizado por baixas temperaturas e baixas
pressões.

O ambiente sedimentar forma-se por acção de agentes erosivos (ventos, águas


superficiais, glaciares, mares, seres vivos e gravidade terrestre) que são responsáveis por

84
Biologia e Geologia - 2º ano
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erosão (acção de desgaste ou destruição que se segue à meteorização), transporte (feito


essencialmente pela água e pelo vento) e sedimentação (que corresponde à deposição de
sedimentos transportados).

Os agentes erosivos conduzem à formação de sedimentos que experimentam diagénese


(conduz à formação de rochas sedimentares), compactação, cimentação e recristalização.

2.1. Rochas

 Rochas são associações compatíveis e estáveis de minerais; estas unidades


estruturais encontram-se na crusta e no manto.

Assim, o conhecimento do conceito de mineral e das suas principais propriedades é


indispensável ao estudo e identificação das rochas, inclusive das rochas sedimentares, pelo
que passaremos a analisá-las.

2.2. Minerais

 Mineral é uma substância sólida, natural e inorgânica, de estrutura cristalina e


com composição química fixa ou variável dentro de limites bem definidos. Assim,
uma substância para ser considerada um mineral terá de:

 ser um sólido;

 ocorrer naturalmente, isto é, formar-se sem a intervenção do Homem;

 ser inorgânico;

 ter uma estrutura cristalina, ou seja, as suas partículas constituintes definirem uma
distribuição regular no espaço;

 ter uma composição química definida, fixa ou variável dentro de limites bem
definidos, que possa ser representada por uma fórmula química.

A figura seguinte refere-se a exemplos de minerais.

Figura 7: Exemplos de minerais.

85
Biologia e Geologia - 2º ano
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Na Natureza existem, ainda, substâncias sólidas, naturais, inorgânicas que, contudo, não
possuem estrutura cristalina ou seja, as suas partículas constituintes não definem uma
distribuição regular no espaço. Estas substâncias chamam-se mineralóides, como, por
exemplo, a opala.

Os minerais apresentam uma estrutura cristalina (A) e os mineralóides uma estrutura


amorfa (B).

Figura 8: Porção elementar da matéria (Adaptado de Dias, A., et al., 2007).

A distribuição espacial e regular das particulas numa textura cristalina depende da natureza
das partículas que se irão agrupar e das condições do meio líquido onde o mineral vai
cristalizar.

2.3. Principais propriedades dos minerais

Na identificação dos minerais recorre-se a um conjunto de propriedades químicas e físicas.


O conhecimento destas propriedades, bem como da maneira prática de as investigar, é
bastante útil na sua identificação.

 Composição

Os minerais têm uma composição química, fixa ou variável dentro de limites bem
definidos, passando a ser representada por uma fórmula química.

A definição desta fórmula tem por base os resultados qualitativos e quantitativos fornecidos
por análises químicas. Assim, é possível classificar quimicamente os minerais. A classificação
de Dana e Hurlbut, definida em 1960, divide os minerais de acordo com o anião dominante, por
2-
exemplo, classe silicatos, o anião dominante é o SiO4 .

O elevado custo de alguns ensaios químicos, entre outras razões, faz com que as
propriedades físicas, que a seguir são referidas, sejam mais divulgadas na identificação de
amostras minerais.

Estas propriedades podem ser reconhecidas à "vista desarmada" ou mediante a aplicação


de uma técnica simples.
86
Biologia e Geologia - 2º ano
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 Clivagem

A clivagem é a propriedade física que traduz a tendência de alguns minerais para


fragmentarem, por aplicação de uma força mecânica, segundo superfícies planas e brilhantes,
de direcções bem definidas e constantes.

Os planos de clivagem correspondem a superfícies de fraqueza da estrutura cristalina dos


minerais.

A clivagem pode ser caracterizada pela facilidade de obtenção dos planos de clivagem e
pela sua perfeição.

Figura 9: Quadro resumo dos diferentes tipos de clivagem (Adaptado de Dias, A., 2004).

 Brilho ou lustre

O brilho é a propriedade que se refere à intensidade de luz reflectida por uma superficie de
fractura recente do mineral em estudo.

Quanto a esta propriedade, os minerais podem ser subdivididos em minerais de brilho


metálico, submetálico e não metálico.

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Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Figura 10: Quadro resumo dos diferentes tipos de brilho (Adaptado de Dias, A., 2004).

 Cor

A cor de um mineral deve ser observada numa superfície de fractura recente, à luz natural.

Alguns minerais apresentam uma cor constante, qualquer que seja a amostra observada,
neste caso, os minerais dizem-se idiocromáticos. De um modo geral, são idiocromáticos os
minerais de brilho metálico.

Outros apresentam uma gama variada de cores, designando-se minerais alocromáticos.


Os minerais de brilho não metálico são, com frequência, alocromáticos.

A propriedade alocromática de alguns minerais deve-se à presença de elementos estranhos à


sua composição.

 Dureza

A dureza (H) de um mineral é a resistência que ele oferece ao ser riscado por outro
mineral.

88
Biologia e Geologia - 2º ano
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Em 1822, Friedrich Mohs, mineralogista australiano, imaginou uma escala de dureza


baseada na capacidade de um mineral riscar outro. A escala de Mohs, composta por dez
minerais de dureza conhecida, permite determinar a dureza relativa de um mineral, mediante a
facilidade ou a dificuldade com que é riscado por outro.

Figura 11: Escala de Mohs

(Adaptado de Silva, A. et al., 2000).

Usando a escala de Mohs, a dureza de um mineral é expressa pelo lugar da ordem que
ocuparia na escala, se dela fizesse parte. Diz-se que um mineral é mais duro que outro se, e só
se, o riscar, sem se deixar riscar por ele; dois minerais têm a mesma dureza se se riscam ou
não se riscam mutuamente.

Para determinar a dureza de um mineral, selecciona-se uma aresta viva, livre de impurezas,
com a qual se experimenta riscar os sucessivos termos da escala de Mohs, no sentido
decrescente de dureza, até surgir o primeiro que se deixe efectivamente riscar pela amostra
em estudo. Por exemplo, se o mineral desconhecido riscar a fluorite e, por sua vez, for riscado
pela apatite, a sua dureza será, aproximadamente, 4,5. Os termos da escala devem ser
percorridos do mais duro para o menos duro a fim de se evitar o constante desgaste dos
minerais menos duros.

Quando não se dispõe de uma escala de Mohs, a determinação da dureza relativa de um


mineral pode conseguir-se atendendo a que a dureza, por exemplo:

- da unha do dedo é 2,5;

- de uma moeda de cobre é 3;

A dureza é uma propriedade geologicamente importante porque traduz a facilidade ou


dificuldade com que um mineral se desgasta quando submetido à acção abrasiva de cursos de
água, do vento e dos glaciares nos processos de erosão e transporte.

 Traço ou Risca

O traço ou risca é a cor de um mineral quando reduzido a pó. 89


Biologia e Geologia - 2º ano
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Para se determinar esta cor, risca-se com o mineral a superfície despolida de uma
porcelana. Este método é apenas aplicável nos minerais com dureza inferior à da porcelana
(aproximadamente 7). No caso dos minerais com dureza superior, para determinar risca, reduz-
se a pó uma pequena amostra do mineral em estudo num almofariz.

Frequentemente, a cor do traço de um mineral não coincide com a sua cor. No entanto,
diferentes variedades da mesma espécie mineral exibem sempre traço com a mesma cor. Isto
é, o traço é uma propriedade constante, enquanto que a cor pode ser uma propriedade
variável.

 Densidade

A densidade (d) de um mineral depende da sua estrutura cristalina, nomeadamente da


natureza dos seus constituintes e do seu arranjo, mais ou menos compacto.

90
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 12: Quadro resumo das principais propriedades dos minerais (Adaptado de Reis, J., et al., 2004).

2.3.1.Silicatos: Grupo dominante nas rochas terrestres

Os silicatos são o grupo mais importante dos minerais constituintes das rochas. Os silicatos
representam cerca de 90% dos minerais das rochas da crusta terrestre. A unidade básica
4-
estrutural de todos os silicatos é o tetraedro [Si0 4] , no qual cada ião silício se encontra
rodeado por quatro iões oxigénio, ocupando cada um destes um vértice do tetraedro (fig.13).

Figura 13: Unidade estrutural dos silicatos.

2.3.2. Caracterização e identificação dos minerais mais comuns nas rochas

Apesar do número de minerais constituintes das rochas ser geralmente reduzido (existindo
mesmo rochas formadas por um só mineral) e de nem todas as associações de minerais serem
possíveis nas rochas, a sua diversidade é considerável.

De entre os minerais mais comuns nas rochas, destacam-se os do quadro seguinte.

Figura 14: Quadro resumo sobre os minerais mais comuns nas rochas (Adaptado de Dias, A., et al., 2004).
91
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2.4. Classificação das rochas sedimentares

As rochas sedimentares constituem uma fina camada da crosta superior, representando


cerca de 75% das rochas expostas à superfície terrestre.

As classificações existentes para este tipo de rochas baseiam-se, sobretudo, em critérios


de composição química ou na génese dos sedimentos que as originam. Contudo, e dada a
diversidade de ambientes de formação de rochas sedimentares, torna-se, por vezes, difícil
classificá-las pelo que se recorre, com frequência, a classificações que conjugam os dois
critérios acima referidos.

Como referimos anteriormente, as rochas da superfície da Terra estão constantemente a


ser alteradas pela acção de agentes naturais. Os produtos dessa alteração são detritos,
substâncias químicas que passam a soluções nas águas de transporte e, ainda, substâncias
químicas produzidas pelos seres vivos ou resultantes da sua actividade.

Assim, consideraremos três tipos de sedimentos:

 detritos (os sedimentos são fragmentos de rochas pré-existentes);

 substâncias químicas dissolvidas nas águas;

 substâncias químicas produzidas pelos seres vivos ou resultantes da sua actividade.

Conforme o tipo predominante de sedimento, formam-se diferentes rochas sedimentares,


nomeadamente, rochas detríticas, rochas quimiogénicas e rochas biogénicas.

2.4.1. Rochas sedimentares detríticas

3
As rochas detríticas constituem mais de /4 do total de rochas sedimentares existentes à
superfície da Terra e formam-se a partir de fragmentos sólidos, isto é, de detritos obtidos a
partir de outras rochas pré-existentes, por processos de meteorização e de erosão.

Na maior parte dos casos, os sedimentos foram transportados, antes de serem depositados.
Durante este transporte, os sedimentos são arredondados e calibrados, reflectindo a força e
duração da corrente que os transportou e depositou.

As rochas sedimentares detríticas podem ser não consolidadas ou consolidadas.

o As rochas sedimentares não consolidadas são formadas por sedimentos soltos.

o As rochas sedimentares consolidadas sofreram diagénese e são formadas por


sedimentos unidos por um cimento formado por minerais novos.

92
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Figura 15: Quadro resumo sobre as características dos principais tipos de rochas sedimentares detríticas atendendo
aos seus processos de formação (Adaptado de Osório, Lígia, 2004).

2.4.2. Rochas sedimentares quimiogénicas

Nas rochas sedimentares quimiogénicas, os sedimentos são substâncias químicas


dissolvidas numa solução aquosa (oceano, mar, lago, ...).

● A precipitação dos materiais dissolvidos, responsável pela formação das rochas


sedimentares quimiogénicas, pode ocorrer devido à evaporação da água ou devido às
alterações das condições das soluções, como por exemplo, a variação de pressão ou
da temperatura.

● As rochas formadas por cristais que precipitam durante a evaporação da água


apresentam uma textura cristalina e designam-se por evaporitos, tais como o sal-
gema e o gesso.

Os termos sal-gema e gesso utilizam-se para designar quer o mineral, quer a rocha. É a
dimensão das ocorrências que as classifica em agregado mineral ou em afloramento rochoso.

● Os calcários são rochas constituídas, essencialmente, por um mineral de carbonato


de cálcio, a calcite. Esta pode precipitar por acção:

 de processos inorgânicos;

 ou devido aos seres vivos.

Daí, que existam:


93
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 calcários quimiogénicos;

 calcários biogénicos;

 calcário com origem mista.

As paisagens típicas de certas zonas calcárias, são conhecidas por modelado cársico.

As rochas calcárias são extremamente fissuradas, o que permite uma rápida infiltração da
água. Daqui decorre a secura superficial, relacionada com uma vegetação escassa e
característica e uma grande circulação subterrânea.

O modelado cársico apresenta formas muito variadas que podem agrupar-se em formas
de superfície, formas subterrâneas, formas de ligação com o interior e diferentes formas de
emissão da água.

 Formas de superfície - as águas pluviais, dissolvendo CO2, ficam acidificadas e


provocam a meteorização química dos calcários, removendo hidrogenocarbonato
em solução. Em consequência, a rocha fica esculpida por sulcos e cavidades que,
por vezes, formam autênticos rendilhados, constituindo à superfície um modelado
característico conhecido por lapiás. No fundo dessas cavidades e sulcos acumula-
se uma argila residual, muitas vezes misturada com areias e geralmente de cor
vermelha, devido à presença de óxidos de ferro. Essa argila residual que estava
misturada com o calcário solubilizado designa-se por terra rossa.

Nos terrenos de zonas cársicas, devido à dissolução superficial, geram-se depressões,


muitas vezes circulares, de dimensões compreendidas entre uma dezena e centenas de
metros, designadas por dolinas. Nessas depressões acumulam-se também argilas residuais
que, misturadas com matéria orgânica, formam um solo propício para a agricultura.

Numa paisagem cársica também é característica a existência de extensas regiões planas,


fechadas, geralmente rebaixadas e com paredes abruptas, que estão relacionadas com
acidentes tectónicos, como falhas. Essas regiões designam-se por poljes e neles acumula-se
solo arável. No fundo, por baixo do solo, a rocha calcária apresenta fendas e orifícios por onde
a água se infiltra. Durante o Inverno, como o nível das águas subterrâneas sobe, a água
extravasa e o polje pode ficar inundado.

 Formas de ligação com o interior - existem por vezes poços naturais,


denominados algares, que estabelecem as comunicações entre a superfície e a
rede de cavidades subterrâneas.

 Formas subterrâneas - a acção química das águas que circulam nos maciços
calcários continua nas zonas subterrâneas. Este trabalho permanente, ao longo de

94
Biologia e Geologia - 2º ano
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milhões de anos, associado muitas vezes a desabamentos, provoca a existência de


galerias e de cavidades amplas que constituem as grutas.

Essas águas, como é óbvio, transportam hidrogenocarbonato de cálcio (bicarbonato) em


solução, que em determinadas circunstâncias pode precipitar, sob a forma de carbonato de
cálcio.

Ao gotejar do tecto de uma gruta, por exemplo, cada gota abandona no local de
desprendimento uma película de carbonato de cálcio (CaC03) que, por acumulação sucessiva
ao longo de muitos milhares de anos, forma estruturas pendentes chamadas estalactites.

O gotejar constante sobre o solo da gruta também leva à acumulação sucessiva de


películas de CaC03, que formam estruturas ascendentes designadas por estalagmites.
Estalactites e estalagmites tomam, por vezes, formas caprichosas e podem encontrar-se e
ligar-se formando colunas.

 Formas de emissão de água - a água que se infiltra nos maciços calcários pode
ser tão abundante que forma, por vezes, verdadeiros rios subterrâneos. Essa água,
atingindo a superfície, origina nascentes designadas por exsurgências. Pode
acontecer ainda, que um rio subaéreo penetre no calcário passando a ser
subterrâneo, fenómeno conhecido por perda. Se mais adiante esse rio reaparece à
superfície forma uma ressurgência.

Os cursos de água resultantes quer de exsurgências quer de ressurgências transportam


ainda hidrogenocarbonato de cálcio que pode originar outras rochas calcárias de origem
química, como, por exemplo, os tufos calcários e os travertinos.

Os tufos calcários são pouco densos e têm estrutura cavernosa, onde se notam muitas
vezes vestígios de seres vivos, nomeadamente de plantas e de moluscos de água doce.
Formam-se por precipitação provocada pela agitação da água ou pela actividade fotossintética
na emergência de fontes. O carbonato de cálcio precipitado deposita-se, recobrindo as plantas
e os animais.

Os travertinos são mais compactos e são frequentes em regiões calcárias e alagadiças,


não sendo geralmente a precipitação dependente directamente da actividade das plantas
aquáticas.

95
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Figura 16: Modelado cársico (Adaptado, Silva, A., 2000).

A tabela seguinte resume algumas características das rochas quimiogénicas.

96
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Tipo de Rochas Características

 Calcário de precipitação - resultante da precipitação do


carbonato de cálcio de águas saturadas deste soluto.

 Forma-se em camadas no fundo de correntes de água, no


Travertino
interior de grutas calcárias ou em terrenos alagadiços de
calcário.

 Frequentemente regista marcas da presença de seres vivos,


por exemplo, folhas.

 Evaporito - resulta da cristalização resultante da evaporação


da água.
Gesso
 Forma cristais sedosos, fibrosos ou granulares de sulfato de
cálcio hidratado.

 Evaporito - resulta da formação de cristais de halite (NaCI) e


outros sais por evaporação da água.
Sal-gema
 Pouco denso e plástico, ascendendo na crusta e formando
massas de sal - domas salinos.

Figura 17: Quadro resumo das características das rochas quimiogénicas.

2.4.3. Rochas Sedimentares biogénicas

A diminuição nas águas marinhas do teor em dióxido de carbono (CO 2), por variação das
condições físico-químicas, leva à precipitação quimiogénica de um mineral, a calcite.

Porém, a actividade fotossíntética de algas marinhas reduz o teor de CO 2 das águas e, por
isso, estão criadas as condições para que também ocorra a precipitação da calcite. Neste caso,
a precipitação de calcite é consequência da actividade de seres vivos e o calcário, que com ela
se forma, diz-se biogénico.

No entanto, a actvidade dos seres vivos pode ainda manifestar-se de outras formas na
formação de rochas, nomeadamente de outros tipos de calcários.

Na formação das rochas biogénicas, distinguem-se duas situações:

 Os corais são seres vivos que edificam estruturas calcárias, sob a forma de recifes, a
partir de carbonato de cálcio dissolvido na água do mar. Este tipo de calcário, que se
forma em consequência da actividade biológica, designa-se por calcário recifal.

97
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

 Outros seres vivos retiram carbonato de cálcio da água do mar para construir parte do
seu corpo, como, por exemplo, as conchas. A acumulação e a cimentação destas
estruturas, após a morte dos seres vivos, originam os calcários conquíferos.

Figura 18: Rochas biogénicas.(Adaptado de Dias, A., et al., 2000).

Dentro das rochas biogénicas incluem-se, ainda, os carvões e o petróleo.

 Carvões, resultam da decomposição lenta de restos de plantas superiores, em


ambientes aquáticos pouco profundos e com pouco oxigénio, como por
exemplo, os pântanos, ao longo de milhões de anos. Estes sedimentos
biogénicos, de origem vegetal, a partir do qual se irá formar o carvão, designa-
se por turfa. A sua diagénese origina, progressivamente, carvões mais ricos em
carbono e, consequentemente, mais pobres em oxigénio e hidrogénio, o que
faz deles importantes fósseis.

Figura 19: Características dos carvões (Adaptado de Silva, A., et al., 2000).

98
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 20: Corte esquemático de uma bacia hulhífera. A camada detrítica inferior a cada leito de carvão designa-se por
muro e a que o recobre por tecto (Adaptado de Silva, A., et al., 2000).

 Petróleo é, com frequência, classificado como uma rocha sedimentar de


origem biogénica. Contudo, classificações actuais não o consideram uma
rocha. O petróleo forma-se, a partir do material orgânico, nos poros das rochas
sedimentares sendo, por isso, considerado um fluído de origem biogénica, com
uma percentagem variável de gases.

 Petróleo: toda a concentração ou mistura natural de hidrocarbonetos líquidos


ou gasosos, segundo a legislação petrolífera portuguesa.
Correntemente, os hidrocarbonetos líquidos ou gasosos designam-se por
petróleo e por gás natural, respectivamente.

O petróleo, resulta da conjugação de uma série de fenómenos naturais, não


reproduzíveis em laboratório. O primeiro destes factores é a preservação de minúsculos seres
vivos, essencialmente, fitoplâncton e zooplâncton, após a sua deposição em ambientes
aquáticos pouco profundos, pouco agitados e pobres em oxigénio, tais como lagos, mares, etc.

A rápida deposição de finas camadas de sedimentos, isola estes restos orgânicos da


acção das bactérias decompositoras. Logo, o petróleo tem a sua génese no seio de camadas
sedimentares de natureza argilosa ou carbonatada que, por esta razão, são designadas
rochas-mãe.

A compacção e o afundimento destas camadas provocam alterações físico-químicas, de


tal maneira que, se as camadas ricas em matéria orgânica foram sujeitas a temperaturas da
ordem dos 120ºC, durante dezenas, ou mesmo, centenas de milhares de anos, toda aquela
matéria orgânica se transformará num líquido negro e espesso que designamos por petróleo.
Se este aquecimento continuar por um período de tempo mais longo, ou se a temperatura
aumentar, o petróleo vai ficando cada vez mais fluido e mais leve, acabando por se transformar
totalmente em hidrocarbonetos gasosos- gás natural.

99
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

O petróleo depois de formado tende a migrar para níveis superiores, dado ser menos
denso que os restantes fluidos das rochas-mãe. Se o petróleo migrar livremente, sem
obstáculos geólogicos à sua passagem, o mais provável é que venha a perder-se na superfície
terrestre ou na superfície da água. Porém, o petróleo, na sua ascenção, pode encontar:

 Por um lado, rochas de muito baixa permeabilidade, designadas rochas-


cobertura, que impedem a ascenção do petróleo, funcionando como barreiras
como o caso das rochas argilosas e salinas.
 Por outro lado, rochas porosas e permeáveis, designadas rochas-armazém,
como por exemplo, arenitos e calcários, nos quais o petróleo tende a
armazenar-se.

No entanto, para que ocorram acumulações consideráveis de petróleo é necessária a


presença de estruturas geológicas favoráveis a essa acumulação, as armadilhas petrolíferas,
de que são exemplo as falhas e as dobras. Nestas condições formam-se, então reservatórios
de petróleo.

Tipo de Características
Rochas

 Calcário resultante dos esqueletos calcários dos corais que vivem


em águas do mar quentes e pouco profundas.
Calcário recifal
 Os corais formam recifes constituídos por milhões de indivíduos
ligados em colónias.

 Quando morrem, os seus esqueletos formam este tipo de calcário.

Calcário  Calcário formado pela acumulação de conchas calcárias de


conquífero animais, como os moluscos, que sofreram um processo de
cimentação.

Calcário  Calcário resultante da acumulação e cimentação de conchas


numulítico enroladas em espiral que pertenceram a animais que se encontram
extintos - numulites.

 Resultam da acumulação de sedimentos constituídos por grandes


quantidades de matéria orgânica predominantemente vegetal.
Carvões
 Formam-se em bacias de sedimentação lacustres ou lagunares
costeiras em que o fundo da bacia vai afundando progressivamente
(subsidência).

 Os sedimentos orgânicos afundam e, pela deposição de novas


camadas sedimentares, ficam isolados da acção decompositora
dos organismos aeróbios.

 À medida que afundam, os materiais sedimentares sofrem um


processo de diagénese que conduz à formação do carvão.

100
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

 Aumenta a compactação, a desidratação, a acção decompositora


de bactérias anaeróbias e verifica-se o aumento gradual do teor de
carbono dos carvões (incarbonização).

 É possível estabelecer a seguinte sequência de grau crescente de


diagénese e de incarbonização:

Turfa ---> Lignito ---> Hulha ---> Antracito.

 Tem origem a partir de plâncton rico em lípidos que fica aprisio-


nado em sedimentos a 2000-3000 m e sem oxigénio.
Petróleo
 A camada rochosa que possui a matéria orgânica que dará origem
ao petróleo é a rocha-mãe.

 A formação do petróleo depende da pressão e da temperatura e da


acção de bactérias anaeróbias.

 Da transformação lenta do plâncton resultam hidrocarbonetos


líquidos e gasosos que, devido à sua baixa densidade, tendem a
deslocar-se para a superfície e a perder-se.

 Por vezes, o petróleo e o gás ficam retidos em camadas rochosas


localizadas por cima da rocha-mãe, onde se acumulam - rocha-
armazém.

 A retenção do petróleo e do gás natural na rocha-armazém só é


possível se ela estiver recoberta por uma camada impermeável que
impede a fuga dos hidrocarbonetos – rocha de cobertura.

 Este conjunto rochoso constituído pela rocha-mãe, rocha-armazém


e rocha de cobertura designa-se por armadilha petrolífera.

Figura 21: Características das rochas biogénicas.

Figura 22: Formação de hidrocarbonetos. (Adaptado Silva, A., et al., 2000).

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Figura 23: Jazigo petrolífero. (Adaptado Silva, A., et al., 2000).

3. As rochas sedimentares, arquivos históricos da Terra

As rochas sedimentares, devido à sua origem superficial na crusta terrestre, fornecem


informações preciosas sobre o passado da Terra. São como arquivos onde se conservam as
informações das condições que existiam no momento da sua formação. Uma série de estratos
sedimentares permite determinar o tipo de ambiente existente no momento da sua formação, o
tipo de vegetação e a fauna presentes numa determinada região num certo momento. O estudo
dos sedimentos e dos estratos permite, muitas vezes, fazer a sua datação relativa e reconstituir
ambientes antigos - paleoambientes. Este estudo é realizado aplicando o princípio das causas
actuais. Segundo este princípio, o presente é a chave para o passado, na medida em que
permite inferir de acontecimentos passados a partir da interpretação de fenómenos actuais.

Uma das principais chaves para o passado da Terra são os fósseis. Eles são restos de
seres vivos ou simples vestígios da sua actividade (pegadas, ninhos, fezes fossilizadas)
contidos nos estratos das rochas sedimentares e contemporâneos da sua formação. Após a
morte, os seres vivos podem ser devorados por outros ou sofrer um processo de
decomposição pelos seres decompositores. Em regra, as partes duras do animal, ossos e
dentes, são de mais difícil decomposição e as que têm maior possibilidade de ficar conser-
vadas nos estratos sedimentares. Fossilização é o processo que conduz à conservação dos
vestígios dos seres vivos nas rochas sedimentares e consiste no isolamento dos restos
orgânicos por uma camada envolvente, o que evita a acção dos decompositores. Existem
diversos processos de fossilização:

 Mumificação - Os organismos são conservados inteiros e sem alterações, quando


são envolvidos por um meio isolante que evita o contacto com o oxigénio (o âmbar -
resina, o gelo ou o alcatrão).

 Moldagem - O organismo ou alguma parte do seu corpo imprime um molde nos


sedimentos que o envolvem. Muitas vezes, o organismo desaparece e apenas resiste
o molde. O molde pode ser interno, o molde da superfície interna, por exemplo, de
uma concha, ou externo - corresponde ao molde da superfície externa nos
sedimentos.

102
Biologia e Geologia - 2º ano
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A estes moldes correspondem os respectivos contramoldes. Certos órgãos muito finos


e achatados, como folhas e asas, deixam um tipo especial de moldagem - impressão.

 Mineralização - As partes duras podem, em determinadas circunstâncias, ser


preenchidas por minerais transportados em solução e que substituem a matéria
orgânica, mantendo inalterada a estrutura e a forma do órgão. Por exemplo, a
silicificação de troncos de árvore que se transformam em pedra, mas mantêm a forma e
a estrutura.

 Marcas fósseis - Vestígios da actividade dos animais, pegadas, marcas de reptação,


ninhos, fezes, entre outros.

Distinguem-se dois tipos de fósseis:

 Fósseis de idade.

 Fósseis de fácies ou de paleoambientes.

 Fósseis de idade: São fósseis de seres que viveram na Terra durante


intervalos de tempo geologicamente curtos, com grande distribuição
geográfica.

Por este facto, estes fósseis são indicadores da idade geológica dos estratos que os
contêm. Exemplos de fósseis de idade trilobites e amonites, viveram no Paleozóico e no
Mesozóico, respectivamente.

 Fósseis de fácies: são fósseis de seres característicos de determinados


ambientes: por exemplo, os estratos com fósseis de corais indicam ambientes
marinhos de pequena profundidade e de águas tépidas.

Fósseis de idade Fósseis de fácies

Indicadores da idade dos estratos Indicadores dos paleoambientes

Grande distribuição geográfica Pequena distribuição geográfica

Pequena distribuição estratigráfica Grande distribuição estratigráfica

Figura 24: Quadro resumo das características dos fósseis.

4.1. Datação relativa

O estudo dos fósseis permite a datação relativa dos estratos numa coluna de estratos
pertencentes a uma sequência estratigráfica, através da aplicação de diferentes princípios.

103
Biologia e Geologia - 2º ano
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 Princípio da sobreposição - Numa sequência de estratos em que não ocorreu


alteração das posições de origem, qualquer estrato é mais recente do que aquele que
recobre (muro) e mais antigo do que aquele que o cobre (tecto). Este princípio permite
saber a idade relativa de uns estratos em relação a outros. Por vezes, surgem nas
sequências estratigráficas superfícies de descontinuidades onde ocorreram a
eliminação de determinados estratos devido, por exemplo, à erosão. Essas superfícies,
as lacunas estratigráficas, podem ficar recobertas por novas camadas - caso retome o
processo de sedimentação.

 Princípios da continuidade lateral - Os estratos podem ser mais ou menos espessos


consoante as condições de sedimentação do local. Isto permite datar, em colunas
estratigráficas de dois lugares afastados, sequências de estratos idênticas (mesmo que
os estratos de ambas tenham dimensões variáveis), desde que as sequências de
deposição sejam semelhante.

 Princípio da identidade paleontológica - Estratos pertencentes a colunas


estratigráficas diferentes e que possuam conjuntos de fósseis semelhantes têm a
mesma idade relativa. Importantes nesta datação são os fósseis de idade, que
permitem determinar a idade relativa dos estratos. São bons fósseis de idade os que
pertenceram a organismos que viveram durante um período de tempo relativamente
curto e bem determinado e que tiveram grande expansão. Estas características
permitem uma boa correlação de camadas.

 Princípio da intersecção e da inclusão - O princípio da intersecção diz-nos que


qualquer estrutura que intersecte vários estratos se formou depois deles e é, portanto,
mais recente. O princípio da inclusão refere que os fragmentos de rocha incorporados
num dado estrato são mais antigos do que ele.

Os princípios da sobreposição de estratos, continuidade lateral e da identidade


paleontológica, permitem estabelecer relações de idade entre rochas sedimentares
geograficamente afastadas, imprescindíveis na compreensão da história de uma região, de um
continente ou, até mesmo, da Terra.

Esta técnica de correlação permitiu a construção de uma escala do tempo geológico


baseada na seriação, em termos cronológicos, dos acontecimentos que marcaram a História
da Terra, desde a sua formação, há cerca de 4600 M.a. (milhões de anos), até aos tempos
actuais.

A unidade geocronológica mais ampla é o Éon e nesta escala definem-se dois:

- o Criptozóico;

- o Fanerozóico. 104
Biologia e Geologia - 2º ano
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Esta divisão baseou-se no contraste entre rochas aparentemente desprovidas de fósseis -


rochas do Criptozóico - e rochas manifestamente fossilíferas - rochas do Fanerozóico.

Hoje, admite-se que no Criptozóico já existiam formas de vida, ainda que rudimentares,
nomeadamente seres unicelulares, o que induziu uma divisão mais fina deste Éon em três Eras
- o Hadeano, o Arcaico e o Proterozóico.

O Fanerozóico, por sua vez, subdivide-se nas Eras Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica
caracterizadas por importantes mudanças nas formas de vida, conforme testemunhos fósseis.

O termo zóico significa zoo, isto é, animal. Por sua vez, cen quer dizer recente, meso quer
dizer meio e paleo quer dizer antigo. Assim, estas divisões reflectem grandes mudanças nas
formas de vida da Terra, sendo cada Era reconhecida pelo grupo de animais que nela
dominou.

Apesar dos recentes progressos no âmbito da Geocronologia (ramo da Geologia que


estuda a idade das rochas), o calendário dos acontecimentos geohistóricos deve ser
considerado uma aproximação dos valores reais.

105
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 25: Escala do tempo geológico (Adaptado de Dias, A., et al., 2004).

106
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4. Exercícios de Aplicação:

1. As rochas quando expostas aos fenómenos ambientais são susceptíveis de alteração.

1.1. Distinga meteorização de erosão.

1.2. Cite os dois tipos de meteorização que actuam sobre as rochas.

1.3. Enumere dois factores que favorecem a alteração das rochas.

2. Explique o significado do seguinte provérbio popular: "Água mole em pedra dura, tanto bate
até que fura".

3. A figura seguinte representa a actuação de um processo de meteorização física.

Figura 1

3.1. Como se designa o processo?

3.2. Explique a actuação e a contribuição deste processo para a degradação das rochas à
superfície da Terra.

4. Estabeleça as relações possíveis entre os termos da coluna I e as afirmações da coluna II.

Coluna I Coluna II

A. Chaminés-de-fada 1. Acção do vento

B. Dunas
2. Acção da água da chuva
C. Falésias
3. Acção da água do mar
D. Estratos

E. Disjunção esferoidal 4. Alívio de pressão

F. Ravinas 5. Acumulação de sedimentos em leitos mais ou menos


paralelos
H. Blocos pedunculados

107
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5. Muitos são os processos que contribuem para a formação das rochas sedimentares. A lista
que se segue fornece alguns desses processos.

Cimentação Recristalização

Erosão Deposição

Compactação Transporte

5.1. Ordene os processos, de modo a obter a sucessão correcta da formação de rochas


sedimentares.

5.2. Dos processos referidos, indique aqueles que intervêm na diagénese.

6. O gráfico seguinte representa a variação da composição mineralógica de um maciço


granítico, antes e depois da meteorização.

6.1. Indique os minerais que o granito possuía antes da meteorização.

6.2. Qual o mineral mais resistente à meteorização?

6.3. Como explica o aparecimento dos minerais de argila?

6.4. Forneça uma hipótese que explique por que razão a biotite é menos resistente à
alteração, quando comparada com o quartzo.

6.5. Indique dois agentes de meteorização que poderiam ter contribuído para a alteração do
granito.

7. Considere dois minerais, A e B, e algumas das suas propriedades.

7.1. Indique:

7.1.1. as que se podem determinar, de forma expedita, na sala de aula;

7.1.2. a propriedade que deve ser considerada na distinção entre os minerais A e B.

Justifique a sua resposta.


108
Biologia e Geologia - 2º ano
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7.2. Distinga a propriedade cor da propriedade traço.

7.3. Explique o significado da afirmação "a dureza do mineral A é igual a 6,5".

8. Das afirmações que se seguem, escolha a opção correcta, de modo a construir

afirmações verdadeiras.

8.1. O quartzo é um mineral porque:

A. é uma substância muito comum na crusta terrestre. B. apresenta uma dureza próxima de 7.

C. tem estrutura interna cristalina. D. é uma substância incolor.

8.2. Um mineral que seja riscado pela lâmina de um canivete tem uma dureza:

A. superior à da ortoclase. B. superior a 5.

C. entre 5 e 7. D. inferior a 5.

8.3. A risca ou traço de um mineral é:

A. a cor desse mineral quando reduzido a pó. B. a possibilidade de riscar outros minerais.

C. uma forma de determinar a sua dureza. D. a cor do mineral.

8.4 Determinada substância não é um mineral se:

A. apresentar estrutura cristalina. B. for homogénea.

C. tiver composição química definida. D. for de origem orgânica.

9. O bloco-diagrama que se segue representa uma área geológica em estudo, evidenciando


duas sequências estratigráficas.

9.1. Indique, justificando, um possível ambiente de sedimentação:

A- para a sequência estratigráfica A;

B- para a sequência estratigráfica B.

9.2. Discuta a importância do conteúdo fossilífero destes estratos.

9.3. Explique a evolução do paleoambiente, durante a formação destas duas sequências.

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Proposta de correcção:

1.1. Na meteorização, os minerais constituintes das rochas são alterados;


posteriormente, serão arrancados pela erosão.

1.2. Meteorização química e meteorização física ou mecânica.

1.3. A existência de fracturas ou de poros nas rochas e o clima.

2. De facto, este provérbio popular também pode ser adaptado aos fenómenos
geológicos. A água é o principal agente de alteração das rochas e, quando actua em
longos períodos de tempo, é capaz de provocar fenómenos de meteorização e erosão
dos materiais litológicos.

3.1. Haloclastia ou crescimento de minerais.

+ -
3.2. Este processo actua da seguinte forma: a água riça em iões de Na e CI infiltra-se
nas fracturas ou poros das rochas. Numa fase posterior, quando a água se evapora, os
cristais de NaCl (halite) necessitam de espaço para crescer. Este crescimento pode
provocar o alargamento das fracturas e poros e, desta forma, outros agentes naturais
poderão actuar mais facilmente na alteração das rochas.

4. A-2; 6-1; C-3; D-5; E-4; F-2; H-1.

5.1. Erosão --- Transporte --- Deposição --- Compactação --- Cimentação ---
Recristalização.

5.2. Compactação, cimentação e recristalização.

6.1. Quartzo, feldspato e biotite.

6.2. O quartzo.

6.3. Por hidrólise dos feldspatos.

6.4. A composição química da biotite é diferente do quartzo. Esta diferença de quimismo


pode reflectir-se no modo de alteração dos dois minerais.

6.5. A água e a acção do gelo.

7.1.1. Cor, dureza e traço.

7.1.2. Dureza. O traço dos dois minerais é branco, logo a cor não é uma propriedade que,
neste caso, permita a sua distinção, dada a possibilidade dos minerais serem
alocromáticos.

110
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7.2. Uma representa a cor do mineral e a outra, o traço, a cor do seu pó. 7.3. O mineral
risca a ortoclase (H = 6) e é riscado pelo quartzo (H=7).

8.1. C

8.2. D

8.3. A.

8.4. D.

9.1. A - Marinho pouco profundo, com formação de argilitos e de estratos de carvão.

B - Marinho pouco profundo, em que a temperatura poderá ter aumentado, dado o


aparecimento de corais.

9.2. As trilobites são fósseis de idade, atribuindo-se ao estrato que as contêm uma idade
paleozóica; a presença de amonites na sequência estratigráfica B, indica uma idade
mesozóica; os corais, por sua vez, são fósseis de fácies, indicando meios marinhos
pouco profundos de águas tépidas.

9.3. Meio marinho pouco profundo ---- abaixamento do nível das águas com formação de
pântanos --- subida do nível das águas com aumento da temperatura.

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B- AMBIENTE MAGMÁTICO

112
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ÍNDICE:

1- Magmatismo – rochas magmáticas


1.1. Definição e classificação dos magmas
1.2. Factores que condicionam a consolidação de um magma
1.3. Evolução dos magmas - cristalização fraccionada
1.4. Diferenciação magmática
1.5. Cristalização fraccionada
1.6. Diferenciação gravítica
1.7. Assimilação magmática
1.8. Mistura de magmas
2. Minerais e matéria cristalina
3. Classificação macroscópica das rochas magmáticas
4. Principais famílias das rochas magmáticas
5. Tipos de rochas magmáticas
6. Exercícios de aplicação

COMPETÊNCIAS

 Conhecer a classificação das rochas magmáticas com base no ambiente de


consolidação dos magmas.
 Conhecer as características que distinguem os diferentes tipos de rochas
magmáticas propostas, especialmente no que respeita à cor, à textura e à
composição mineralógica.

113
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1. MAGMATISMO- ROCHAS MAGMÁTICAS

No ambiente magmático são originadas as rochas magmáticas ou ígneas, estando


relacionado com processos de dinâmica interna.

O ambiente magmático é caracterizado por elevadas pressões e temperaturas (superiores a


600 °C) e pela formação e ascensão de magmas.

1.1. Definição e classificação dos magmas

Os magmas são misturas complexas, de composição essencialmente silicatada, total ou


parcialmente fundidas, com gases dissolvidos e que por vezes contêm material cristalizado. O
reservatório onde fica localizado o magma denomina-se câmara magmática.

Os principais constituintes do magma são oxigénio (O), silício (Si), alumínio (Al), cálcio
(Ca), sódio (Na), potássio (K), ferro (Fe) e magnésio (Mg). A sílica (SiO 2) e a água influenciam
as propriedades físicas do magma, como a densidade e a viscosidade.

Geralmente, os magmas são gerados em locais onde se verifica uma forte actividade
tectónica, por exemplo, o que acontece em limites de placas convergentes e divergentes.
Porém, existem fenómenos de magmatismo que não ocorrem nesse limites.

Figura 1: Ambientes tectónicos nos quais ocorre a formação de magmas ( Adaptado de Dias,
A., et al., 2004).

114
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Os magmas podem ser classificados, quanto à sua composição, nos seguintes tipos:

 Magmas pobres em sílica: contêm menos de 52% de SiO2. São magmas fluidos,
com temperaturas compreendidas entre 900ºC e 1200ºC.
 Magmas com composição intermédia: contêm 53% e 64% de SiO2.
 Magmas ricos em sílica: contêm entre 65% e 77% de SiO2. São magmas viscosos,
com temperaturas inferiores a 850 ºC.

A viscosidade do magma é influenciada pelo seu conteúdo em sílica e pela temperatura. A


ligação entre os tetraedros de sílica causa resistência ao fluir e estas ligações são tanto mais
numerosas, quanto mais baixa for a temperatura. Assim o magma é tanto mais viscoso, quanto
maior for a riqueza em sílica e menor for a sua temperatura.

 Magma basáltico

Admite-se que os magmas basálticos sejam provenientes do manto superior. Estes magmas
são expelidos principalmente ao longo dos riftes e dos pontos quentes.

 Ao nível dos riftes, a subida dos magmas relaciona-se com correntes ascendestes
de materiais provenientes primariamente do manto. Julga-se que este magma se
origina a partir da fusão parcial do peridotito (constituinte do manto).
 Nos pontos quentes, situados ao nível dos oceanos, por vezes, fluem grandes
quantidades de magma basáltico, constituindo ilhas como as do Hawai. Nestas
zonas, ascendem plumas quentes provenientes do manto profundo.

As duas principais rochas geradas a partir deste magma são os basaltos e os gabros que
são os constituintes fundamentais da crosta oceânica. No entanto, essas rochas podem ser
encontradas na crosta continental, o que leva que o manto, que se situa sob esta crosta, seja
idêntico àquele que se situa sob a crosta oceânica.

A possibilidade de subida de um magma bem como a sua velocidade de ascensão


dependem de três factores:

 - densidade do magma em relação às rochas encaixantes;


 - viscosidade;
 - fracturação da litosfera.

Quando a velocidade de ascensão é superior à do arrefecimento, o magma pode chegar à


superfície sem ter consolidado e, neste caso, verificam-se erupções de lava que, por
solidificação, originam rochas vulcânicas. Muitas vezes essas rochas são basaltos com textura

115
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porfírica. Esta textura revela duas fases de formação: uma que possibilita a génese de cristais,
geralmente durante a ascensão, e outra mais rápida, já à superfície, conducente à formação de
cristais microscópicos e, por vezes, de algum material não cristalizado.

Se a ascensão é muito rápida, pode não haver tempo para a cristalização e então formam-
se rochas com textura vítrea. Em muitos casos, porém, o magma proveniente do manto
acumula-se em câmaras magmáticas a uma profundidade de 10 a 30 km, permitindo a génese
de rochas plutónicas do tipo dos gabros.

Os minerais predominantes na composição dos basaltos e dos gabros são as piroxenas,


as plagióclases ricas em cálcio e a olivina. Todos estes minerais são muito pobres em água.

Os magmas basálticos são caracteristicamente formados nas fronteiras divergentes das


placas litosféricas.

A fusão parcial do peridotito pode ocorrer a diferentes profundidades, o que determinará


magmas basálticos com composições ligeiramente diferentes.

Os magmas que são provenientes de menores profundidades, como acontece ao nível dos
riftes, são mais ricos em sílica. Os magmas basálticos de origem mais profunda são mais
pobres em sílica e têm mais álcalis (K e Na). Este tipo de basaltos localiza-se, prefe-
rencialmente, no interior de placas.

 Magma andesítico

- Formam-se particularmente nas zonas de subducção;

- Relacionam-se com zonas vulcânicas, nestas, os referidos magmas são gerados por
subducção de uma placa oceânica sob uma placa continental.

- A designação, andesítico, está relacionada com o facto destes magmas serem


característicos das cadeias montanhosas dos Andes.

Os dioritos e os andesitos têm uma composição idêntica à composição média da crosta


continental. É possível que algumas dessas rochas tenham sido mesmo formadas por
consolidação de magmas originados pela fusão da crosta continental.

Em zonas profundas, os magmas andesíticos consolidam e originam os dioritos; se a


consolidação ocorre à superfície ou próximo dela, formam-se andesitos.

116
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Figura 2: Vulcões andesíticos (Adaptado de Silva, A. ,et al.,2004).

A maioria dos vulcões que emitem lavas andesíticas localiza-se junto das fossas, regiões
onde mergulham e são destruídas as placas litosféricas.

Quando uma placa litosférica se move e mergulha na astenosfera transporta porções


húmidas da crosta continental. A crusta oceânica é basáltica e gabróide. A uma profundidade
de cerca de 80 km começa a fusão parcial do basalto provocada pelo aumento de temperatura.
A presença de água retida nos sedimentos transportados pela placa facilita também a fusão
dos materiais. O material fundido constitui um magma com a composição média dos andesitos.

Grande parte dos vulcões activos com lavas andesíticas Iocaliza-se à volta do Pacífico,
definindo uma linha em arco que coincide com as fossas, onde se verifica o mergulho e a
destruição de placas oceânicas.

 Magma riolítico

Alguns conhecimentos sobre a formação dos magmas riolíticos são resultantes de


observações feitas relativamente à localização de vulcões modernos que expelem magma
riolítico e que se situam, geralmente, em regiões continentais. De modo semelhante, a distri-
buição de riólitos antigos e dos seus equivalentes intrusivos, os granitos, está também
confinada à crusta continental.

Outra observação feita põe em destaque a abundância de água existente no magma


riolítico.

117 de
Algumas experiências laboratoriais sugerem que os magmas não poderão conter mais
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10% de água. No entanto, observações de certas erupções vulcânicas levam a admitir que a
composição dos magmas se pode alterar pela incorporação de água durante o seu percurso
até à superfície.

Admite-se que os magmas riolíticos resultam de uma fusão parcial das rochas da crosta
continental em que a água tem uma interferência fundamental.

Esta ideia foi apoiada por experiências feitas em laboratório com materiais de composição
igual à composição média da crosta continental (estes materiais contêm água) e nas condições
de pressão e temperatura existentes em zonas do interior da crusta terrestre. Verificou-se que
a fusão parcial desses materiais produzia um magma de natureza riolítica.

A presença da água faz baixar o ponto de fusão dos minerais. No entanto, este efeito deixa
de se verificar a baixas pressões, isto é, em zonas próximas da superfície.

As zonas da Terra onde parecem existir as condições de pressão, de temperatura e de


humidade adequadas à génese de magmas riolíticos situam-se na crosta terrestre e em locais
onde se verifica o choque entre placas continentais, dando lugar à formação de cadeias de
montanhas. Nessas regiões, a crosta terrestre deforma-se devido ao aumento de pressão e de
temperatura, criando as condições necessárias ao metamorfismo e, muitas vezes, também, à
fusão parcial das rochas da crosta. Parece ser esta a origem de grande parte dos magmas
riolíticos. Se estes magmas consolidam em profundidade, vão constituir granitos que formam
as raízes das cadeias montanhosas que mais tarde podem ser postas a descoberto pela
erosão. Os granitos formados nestas condições são chamados granitos de anatexia. Se o
magma riolítico consolida à superfície origina riólitos.

Admite-se que a maior parte dos granitos constituintes da crosta continental são granitos de
anatexia. Contudo, parece ser ainda possível a génese de pequena percentagem de granitos a
partir de magmas basálticos, como veremos quando abordarmos os processos envolvidos na
diferenciação magmática.

1.2. Factores que condicionam a consolidação de um magma

Os factores que mais interferem com a consolidação de um magma são:

 - a pressão;
 - a temperatura;
 - a presença ou ausência de água;
 - a composição dos minerais presentes.

118
Biologia e Geologia - 2º ano
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1.3. Evolução dos magmas - cristalização fraccionada

A partir de um mesmo magma podem formar-se produtos diferentes, resultantes de


fenómenos como a cristalização fraccionada, a diferenciação granítica, a assimilação
magmática e a mistura de magmas.

1.4. Diferenciação magmática

A cristalização fraccionada é um dos principais processos de diferenciação magmática. À


medida que o magma ascende, vai ocorrendo a cristalização de minerais em consequência da
diminuição da temperatura, o que provoca a alteração da composição do magma residual. Este
irá dar origem a rochas diferentes das do magma original.

Durante o arrefecimento do magma, os minerais, que são essencialmente silicatos, não


cristalizam todos ao mesmo tempo. Formam-se primeiro os minerais de ponto de fusão mais
elevado e com baixa percentagem de sílica e depois os restantes - cristalização fraccionada.

1.5. Cristalização fraccionada

Bowen estabeleceu teoricamente uma ordem segundo a qual se processa a formação dos
principais minerais que constituem as rochas magmáticas. Definiu duas sequências de
cristalização durante a diferenciação:

 - a série descontínua;
 - a série contínua.

A série descontínua refere-se aos minerais ferromagnesianos: primeiramente, formam-se


as olivinas, cujo ponto de fusão é mais elevado, segue-se a piroxena, depois a anfíbola e, por
último, a biotite.

A série contínua, a das plagióclases, tem início nas plagióclases cálcicas (anortite),
passando pelas calco-sódicas até às plagióclases sódicas (albite). No final, a temperaturas
mais baixas, ocorre a cristalização dos feldspatos potássicos (ortóclase), da moscovite e do
quartzo, que não pertencem a nenhuma daquelas séries. Na série contínua os minerais
apresentam o mesmo tipo de estrutura cristalina. A série descontínua é assim chamada porque
cada mineral tem estruturas cristalinas e composições químicas diferentes.

Nas séries reaccionais de Bowen, os minerais que se situam na mesma linha horizontal têm
pontos de cristalização semelhantes.

A olivina e a anortite, por exemplo, formam-se quase simultaneamente (fig.3). 119


Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 3: Série Reaccional de Bowen.

1.6. Diferenciação gravítica

Os primeiros cristais a formarem-se, por serem mais densos, separam-se do banho mag-
mático por acção da gravidade e acumulam-se no fundo da câmara magmática.

Este mecanismo designa-se por diferenciação gravítica e explica o aparecimento de massas


rochosas constituídas por um mineral cuja composição global é acentuadamente diferente da
do magma parental. Deste modo, as rochas com menor teor de sílica originam-se em níveis
mais profundos, enquanto que as que têm maior teor de sílica formam-se a menor
profundidade.

1.7. Assimilação magmática

Geralmente um magma reage com as rochas encaixantes, resultando daí a fusão destas
rochas e a sua consequente assimilação pelo magma. Assim, a composição do magma inicial
altera-se, o que irá reflectir-se nas rochas resultantes (fig. 4).

A assimilação magmática é o fenómeno que resulta da mistura no magma de materiais ex-


ternos provenientes dos materiais circundantes.

120
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 4: O magma, ao atravessar as rochas encaixantes, incorpora alguns dos seus fragmentos xenólitos.

1.8. Mistura de magmas

É um processo que ocorre frequentemente nas cinturas orogénicas e resulta da possi-


bilidade de contaminação entre magmas diferentes. Quando os magmas basálticos ascendem,
encontram magmas graníticos, misturam-se e originam magmas de composição intermédia
(tipo andesítico) responsáveis pela formação de rochas como os dioritos, andesitos, dacitos,
etc.

Figura 5: Principais tipos de magma.

Em síntese, os principais mecanismos relacionados com a evolução do magma podem


sintetizar-se no esquema ao lado.

121
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Figura 6: Esquema dos mecanismos relacionados com a evolução do magma.

2. Minerais e matéria cristalina

Nas rochas magmáticas, a formação dos minerais resulta do arrefecimento e da solidificação


do magma. Se este arrefecimento for lento, existem condições para que os cristais, que se irão
desenvolver a partir daquela massa em fusão, sejam, observáveis “à vista desarmada”. Se,
pelo contrário, as condições nas quais o magma solidifica conduzirem a um arrefecimento
rápido, não existem condições para se formarem cristais bem desenvolvidos.

Os minerais caracterizam-se por uma composição química definida e por uma estrutura
interna ordenada, regular e repetitiva, a que se chama estrutura cristalina. Essa organização
interna reflecte-se, em condições favoráveis, na forma exterior dos cristais, que são delimitados
por superfícies planas e lisas. Quando os cristais se desenvolvem em condições em que não
há espaço para crescerem, essas faces planas não aparecem.

Existem três tipos de cristais:

 cristal euédrico, se o mineral é totalmente limitado por faces bem


desenvolvidos;
 cristal subédrico, se o mineral apresenta parcialmente faces bem
desenvolvidas;
 cristal anédrico, se o mineral não apresenta qualquer tipo de faces.

Um cristal pode, então, ser definido como um sólido homogéneo de matéria mineral que,
sob condições favoráveis de formação, pode apresentar superfícies planas e lisas, assumindo
formas geométricas regulares.

122
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Por sua vez, a matéria amorfa ou vítrea caracteriza-se pela ausência de ordenação interna,
isto é, as unidades básicas (átomos, iões ou moléculas) que a constituem estão dispostas de
uma forma totalmente aleatória.

A composição química e a estrutura interna caracterizam a estrutura cristalina; no entanto,


em certos minerais, podem ocorrer variações nestas características.

O isomorfismo verifica-se quando ocorrem variações ao nível da composição química dos


minerais sem, contudo, se verificarem alterações na estrutura cristalina. É um exemplo de
isomorfismo a série contínua das plagioclases.

O polimorfismo verifica-se quando os minerais têm a mesma composição química, mas


estruturas cristalinas diferentes. O diamante e a grafite constituem exemplos de minerais
polimorfos.

3. Classificação macroscópica das rochas magmáticas

Há grande diversidade de rochas magmáticas. Os principais critérios adoptados na


classificação das rochas magmáticas são:

 - índice da cor;
 - composição mineralógica;
 - textura;
 - modo de jazida;
 - composição química;
 - acidez ou saturação.

Índice da cor

Os minerais constituintes das rochas magmáticas agrupam-se segundo as tonalidades que


apresentam em:

 - minerais félsicos (com cor clara) - quartzo, moscovite, por exemplo;


 - minerais máficos (com cor escura) - biotite, olivina, por exemplo.

As rochas em que predominam os minerais félsicos designam-se por leucocratas, e aquelas


em que abundam os minerais máficos dizem-se melanocratas.

No caso de as rochas apresentarem uma cor intermédia com uma percentagem equivalente de
minerais máficos e félsicos denominam-se mesocratas.

As rochas em que todos os constituintes são de cor escura designam-se por


holomelanocratas ou ultramáficas.

As rochas hololeucocratas, rochas muito claras, que apenas possuem minerais félsicos. 123
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Composição mineralógica

Na constituição das rochas magmáticas distinguem-se os minerais essenciais (aqueles que


maioritariamente as constituem e permitem definir o grupo a que pertencem) e os acessórios,
que estão presentes em menor quantidade, não afectando as características fundamentais da
rocha.

Figura 7: Classificação de algumas rochas magmáticas em função da textura, da percentagem de sílica, da cor e da
composição mineralógica (Adaptado de Dias, A. et al., 2004).

Textura

A textura é o aspecto geral da rocha resultante das dimensões, forma e arranjo dos minerais
constituintes. A textura das rochas depende fundamentalmente do modo como se dá o
arrefecimento do magma que está na sua origem. A textura refere-se ao tamanho e
características dos cristais presentes nas rochas.

124
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 8: Quadro resumo sobre a textura mais frequentes nas rochas magmáticas (Adaptado de Santos, A., et al.,
2001).

Modo de jazida

As rochas magmáticas podem assumir aspectos variados no terreno, a que chamamos


modos de jazida (fig. 9).

Figura 9: Modo de jazida.

Se o magma consolida no interior da Terra origina rochas magmáticas intrusivas ou


plutónicas. Quando os magmas chegam à superfície com temperaturas compreendidas entre
600°C e 1200°C arrefecem bruscamente e originam rochas extrusivas ou vulcânicas ou
vulcanitos. Os plutonitos podem desenvolver-se em grandes massas, que se prolongam para o
interior da Terra, os batólitos. Por vezes, os plutonitos introduzem-se entre as rochas
sedimentares encurvando-as e adquirindo forma de estruturas plano-convexas chamadas
lacólitos.
125
Biologia e Geologia - 2º ano
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Tanto dos batólitos como dos lacólitos podem irradiar apófises que atravessam as rochas
que os envolvem. É o que sucede com o granito que, por vezes, ocorre encaixado nas fendas
ou fissuras das rochas vizinhas ou entre as camadas, originando estruturas como as que a
seguir se discriminam e que correspondem a apófises que se tornaram muito extensas e
produziram filões:

 - filões-camadas, soleira - filão que acompanha a disposição geral das camadas;


 - filão ou dique - tipo de filão que, podendo ou não apresentar a posição vertical,
não acompanha a disposição geral das camadas, antes as atravessa.

Composição química

Relativamente à percentagem de sílica, as rochas magmáticas podem classificar-se em:

 - rochas ácidas (com uma percentagem superior a 65% de sílica): granito


(intrusiva), riólito (extrusiva);
 - rochas intermédias (se têm entre 65 e 52% de sílica): sienito (intrusiva),
traquito (extrusiva), diorito (intrusiva), andesito (extrusiva); .

 - rochas básicas (com um teor de sílica entre 52 e 45%): gabro (intrusiva),


basalto (extrusiva);

 - rochas ultrabásicas (com uma percentagem de sílica menor ou igual a 45%):


peridotito (intrusiva), kimberlito (extrusiva).

Acidez ou saturação

Este critério baseia-se no tipo de minerais presentes, ricos ou deficientes em sílica. A rocha
diz-se sobressaturada se apresenta uma percentagem de quartzo superior a 10%. A rocha
que tem 0% a 10% de quartzo denomina-se saturada e aquela que não apresenta quartzo
designa-se por subsaturada.

Utilizando alguns dos critérios referidos anteriormente, podemos ilustrar de forma


simplificada as características de alguns plutonitos e dos seus equivalentes vulcânicos (fig. 10).

126
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Figura 10: Principais famílias das rochas magmáticas.

4. Principais famílias das rochas magmáticas

As principais famílias de rochas magmáticas são:

- família do gabro-basalto - as rochas plutónicas desta família são os gabros. São rochas
básicas de textura holocristalina, de cor escura, cinzenta ou esverdeada, constituídas
fundamentalmente por plagióclases e piroxenas, podendo apresentar também olivina e por
vezes anfíbolas. As rochas vulcânicas desta família são os basaltos que são rochas
holocristalinas ou hemicristalinas, raramente vítreas, de cor preta, em que os minerais, à vista
desarmada, não se distinguem uns dos outros. Os minerais essenciais destas rochas são as
plagióclases básicas e as piroxenas;

- família do granito-riólito - as rochas plutónicas desta família são os granitos que são
formados essencialmente por feldspatos alcalinos, quartzo e biotite. A presença do quartzo
como componente fundamental é a característica principal e indica a cristalização do granito a
partir de um magma muito rico em sílica. A ortóclase é o feldspato potássico mais frequente
destas rochas. O granito pode apresentar também micas: moscovite (mica branca) e biotite
(mica preta). As rochas vulcânicas desta família são os riólitos, com composição idêntica à dos
granitos. Nos riólitos há a predominância de feldspatos potássico e sódico. Os fenocristais de
um riólito são provavelmente de quartzo ou feldspato e num basalto são de olivina, piroxena ou
plagióclase;

127
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- família do peridotito - inclui todas as rochas ultrabásicas, isto é, as rochas que apresentam
uma percentagem de sílica inferior a 45%. As rochas mais típicas desta família são os
peridotitos, formados por partes iguais de piroxenas e olivinas. Também nesta família são
incluídos os kimberlitos, que normalmente preenchem chaminés vulcânicas e podem
apresentar diamantes, além de porções de outras rochas ultrabásicas.

5. Tipos de rochas magmáticas

Rocha Textura Local de Composição Locais/condições de


Consolidação mineralógica formação

Granito Fanerítica ou Em Colisão entre placas


granular profundidade continentais. Magma
Quartzo, resultante da fusão de
ortóclase e rochas constituintes da
plagioclase crosta.
Riolito Afanítica ou À superfície
agranular

Diorito Fanerítica ou Em Colisão entre placa


granular profundidade continental e uma placa
oceânica. Magma
resultante da fusão do
Plagioclase,
manto e da crosta em
biotite e anfíbola
Andesito Afanítica ou À superfície condições particulares de
agranular pressão e temperatura e
na pressão de água.

Gabro Fanerítica ou Em Limites divergentes das


granular profundidade placas e pontos quentes.
Magma resultante da
ascenção e fusão de
Plagioclase,
peridotitos do manto
piroxenas e
Basalto Afanítica ou À superfície superior.
olivina
agranular

Figura 11 : Quadro resumo das principais rochas magmáticas.

128
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Figura 12: Composição das rochas magmáticas.

129
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6- Exercícios de Aplicação:

1- A figura seguinte traduz o processo de arrefecimento de um magma instalado, em


profundidade, numa determinada região no interior da Terra. Na intrusão magmática, foram
assinaladas duas zonas, A e B.

1.1- Faça corresponder a cada zona da figura uma das


seguintes afirmações:

1. Zona de elevada temperatura.

2. Rocha de grão fino.

3. Rocha de grão mais grosseiro.

4. Textura essencialmente fanerítica.


Figura 1
5. Arrefecimento rápido do magma.
1.2- Por que razão não ocorre esta
diferenciação em rochas magmáticas que se
formam na superfície da Terra?

1.3- Em estudos desenvolvidos em laboratório, Bowen conseguiu definir a sequência de


cristalização dos minerais a partir de um magma. O esquema seguinte representa essa
sequência.

1.3.1- Identifique os termos A, B e C.

1.3.2- Qual o primeiro mineral ferromagnesiano a formar-se?

1.3.3- Indique o mineral com ponto de fusão mais baixo. 130


Biologia e Geologia - 2º ano
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1.3.4- Os ramos I e II possuem designações diferentes.

A. Indique essas designações.

B. Explique cada uma das designações atribuídas na questão anterior.

1.3.5- Alguns termos da série das plagioclases solidificam ao mesmo tempo que alguns termos
do ramo I. Como explica este facto?

2- A figura 2 representa o processo de colisão de duas placas continentais.

Figura 2

2.1- Indique uma região geográfica na qual é possível observar um processo de colisão entre
placas continentais.

2.2 - Indique o tipo de magma resultante deste processo.

2.3- Quais as rochas magmáticas que predominam no local.

3- O gráfico seguinte representa a composição química de três rochas magmáticas, expressa


em percentagem, dos seus principais óxidos.

3.1- Faça corresponder os gráficos x, y e z a cada uma das rochas plutónicas seguintes:
andesito, basalto, granito, diorito, gabro e riolito.

3.2- Justifique as suas opções em relação à resposta anterior.

3.3- Mencione o gráfico correspondente à rocha que poderá apresentar uma cor mais escura.
Justifique a sua escolha.
131
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4- O estudo de magmas artificiais permitiu a Bowen estabelecer duas séries de reacções


sequenciais. Uma delas está representada no seguinte diagrama.

4.1- Indique o sentido correcto da formação dos minerais.

4.2- Quais os elementos químicos que constituem este ramo?

4.3- A série representada no diagrama é contínua. Justifique esta afirmação.

4.4- Indique o mineral da série contínua de mais elevada temperatura.

4.5- Indique, por ordem correcta de formação, os minerais que fazem parte da outra série de
reacção.

5- Analise, com atenção, os dados do quadro, respeitantes a dois tipos de magmas.

Composição química em óxidos (%)

Si02 AI2O3 Fe203 MgO CaO Na20 Outros

Magma A 42 15 12 10 10 3,0 8,0

Magma B 73 14 4,5 1,3 2,5 2,0 2,7

5.1- Qual dos magmas A e B se aproxima à constituição química de um:

5.1.1- peridotito;

5.1.2- granito.

5.2- Justifique as suas opções para a questão anterior.

5.3- Identifique o magma que possui uma composição química semelhante à do material que
constitui o manto superior. Justifique.

5.4- Qual dos magmas poderá dar origem a um magma basáltico?

132
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Proposta de correcção:

1.1- 1 -Zona A; 2 - Zona B; 3 -Zona A; 4 -Zona A; 5 - Zona B.

1.2- Porque como o arrefecimento do magma é rápido, não há tempo suficiente para que
ocorra uma diferenciação dos minerais. A rocha que se forma nestas condições irá
apresentar uma textura vítrea.

1.3.1- A - piroxena, B - anfíbola e C - moscovite.

1.3.2- A olivina.

1.3.3- O quartzo.

1.3.4- A) I - Série descontínua dos minerais ferromagnesianos; II - Série contínua das


plagioclases.

B) I - Nesta série, enquanto a temperatura diminui, o mineral, anteriormente formado,


reage com o líquido residual, formando um mineral com composição química e
estruturas diferentes.

II - A passagem de um mineral para o outro é gradual, na qual a substituição dos iões de


Ca por Na não altera a estrutura interna.

1.3.5- Porque esses minerais possuem a mesma temperatura de solidificação.

2.1- Por exemplo, na região dos Himalaias, em consequência da colisão da placa Indiana
com a placa Asiática.

2.2- O magma será muito rico em sílica.

2.3- O granito e o riolito.

3.1- X - Granito; Y- Diorito; Z - Gabro.

3.2- Porque em X a quantidade de SiO2 é elevada quando comparada com Z; pelo


contrário, a quantidade de ferro e de magnésio é reduzida para X e elevada para Z.

3.3- A letra Z, porque são rochas que apresentam uma elevada percentagem de minerais
máficos.

4.1- Da esquerda para a direita.

4.2- Si, AI, Ca e Na.

4.3- A passagem de um mineral para o outro é gradual, onde a substituição dos iões de
Ca por Na não altera a sua estrutura interna.

133
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4.4- A plagioclase cálcica.

4.5- Olivina, piroxena, anfíbola e biotite.

5.1.1- O magma A.

5.1.2- O magma B.

5.2- Porque o magma A é rico em ferro e magnésio, que lhe conferem uma cor escura; o
magma B é pobre nesses elementos, mas rico em sílica e alumínio.

5.3- O magma B, porque é o magma que é constituído por uma maior percentagem de
ferro e magnésio, elementos químicos que ocorrem em grande quantidade no manto
superior.

5.4- O magma A.

134
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C- DEFORMAÇÕES: FALHAS E
DOBRAS

135
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ÍNDÍCE:
1.1. Deformação das rochas
1.2. Mecanismos de deformação
1.3. Deformações mais frequentes
1.3.1. Falhas
1.3.2. Dobras
1.4. Exercícios de Aplicação

COMPETÊNCIAS

 Compreender a ideia de que as dobras e falhas resultam de tensões sofridas pelas rochas.

136
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1.1. Deformações das rochas

Na Terra, as rochas estão sujeitas a tensões provocadas pela mobilidade das placas
litosféricas e pela pressão exercida pelas camadas de rochas suprajacentes. A tensão é a
força exercida por unidade de área. Submetidas a estados de tensão, as rochas sofrem
deformações, originando falhas ou dobras.

1.2. Mecanismos de deformação

As tensões que actuam sobre as rochas podem ser


compressivas, distensivas ou de cisalhamento.

As tensões compressivas conduzem à redução do volume


da rocha na direcção paralela à actuação das forças e ao seu
alongamento na direcção perpendicular. Podem, também,
provocar a fractura da rocha.
As tensões distensivas conduzem ao alongamento da
rocha, na direcção paralela à actuação das forças, ou à sua
fractura. Figura 1: Tensões.

As tensões de cisalhamento causam a deformação da rocha por movimentos paralelos


em sentidos opostos.

A deformação provocada pelas tensões de cisalhamento é semelhante à resultante do


movimento que se verifica entre as diferentes cartas de um baralho quando se deslocam as
cartas superiores relativamente às da base

O limite de elasticidade de
uma rocha é geralmente baixo.
Esse limite de elasticidade é
ultrapassado quando a deformação
provocada por uma força se torna
irreversível, mesmo que cesse a
actuação da força. A rocha sofre,
então, ruptura ou fica deformada de
um modo permanente.
Figura 2: Tipos de deformação

O gráfico da figura 2 representa os tipos de deformação que um material pode sofrer.

Qualquer material pode-se deformar de três maneiras:


137
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 Deformação elástica: o material deforma, mas, quando cessa a tensão, a deformação


desaparece (ex: borracha dobrada). É, portanto, uma deformação reversível.

 Deformação plástica: a deformação mantém-se mesmo que a tensão desapareça (ex:


plasticina moldada). É, portanto, uma deformação irreversível.

 Deformação frágil: o material fractura como resposta à tensão exercida (ex: garrafa de
vidro partida). É, também, uma deformação irreversível.

O comportamento das rochas em relação à tensão que lhes é aplicada é variável, e


depende do tipo de rocha, das condições de pressão e temperatura a que a rocha está sujeita,
aquando da actuação da tensão, e da intensidade da tensão.

 Comportamento frágil - As rochas fracturam facilmente, quando são sujeitas a


tensões, em condições de baixa pressão e de baixa temperatura. Este comportamento
relaciona-se com a formação de falhas.

 Comportamento dúctil - As rochas sofrem alterações permanentes de forma e/ou


volume, sem fracturarem, em condições de elevada pressão e elevada temperatura.
Este comportamento relaciona-se com a formação de dobras.

1.3. Deformações mais frequentes

As rochas deformam-se de acordo com o tipo de forças actuantes. As deformações


podem apresentar vários aspectos, dos quais se destacam as falhas e as dobras.

1.3.1. Falhas

Qualquer tipo de força, compressiva, distensiva ou cisalhamento, pode induzir a


formação de falhas, num regime de deformação
frágil.

Uma falha é uma superfície de fractura


ao longo da qual ocorreu o movimento relativo
dos blocos fracturados. Ocorrem quando é
ultrapassado o limite de plasticidade dos
materiais rochosos. As falhas podem resultar da
actuação de qualquer tipo de tensão em rochas
com comportamento frágil. Figura 3: Falha.

Os elementos que caracterizam uma falha são:

 Plano de falha - superfície de fractura .


 Tecto - bloco que se sobrepõe ao plano de falha . 138
Biologia e Geologia - 2º ano
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 Muro - bloco que se situa abaixo do plano de falha.


 Rejecto ou rejeito - movimento relativo entre os
dois blocos da falha.
 Escarpa de falha – ressalto topográfico produzido
pela falha.
 Inclinação - ângulo formado entre o plano de falha e
um plano horizontal que o intercepta.
 Direcção – ângulo formado por uma linha horizontal
do plano de falha com a linha N-S geográfica.
Figura 4: Elementos de uma falha: A- plano de falha, B-
direcção, C- inclinação, D-rejecto, E-tecto e F-muro

O movimento relativo dos dois blocos da falha está na base da classificação das falhas. Na
tabela seguinte, estão reunidos os três tipos de falhas e os principais elementos que
caracterizam uma falha.

Figura 5: Quadro resumo dos principais tipos de falhas segundo Anderson (Adaptado de Dias A., et al., 2004).

As falhas de desligamento são frequentes em certas zonas oceânicas das placas


litosféricas, como é o caso das falhas transformantes, podem ser responsáveis pelos
desligamentos dos vários troços dos riftes.

As falhas podem surgir associadas e com configurações geográficas designadas por


fossas tectónicas ou grabens e maciços tectónicos ou horsts.

139
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

Os grabens são blocos rebaixados, geralmente com comprimento maior do que a


largura, e delimitados por sistemas de falhas convergentes para o interior. Os horsts são blocos
também de forma linear, delimitados por falhas divergentes para o interior, e que exibem, com
frequência, uma altitude maior do que as áreas contíguas, que são muitas vezes constituídas
por grabens.

Figura 5: Associação de falhas formando horsts e grabens.

1.3.2. Dobras

Uma dobra é uma deformação em que se


verifica o encurvamento de superfícies
originalmente planas. As dobras resultam
da actuação de tensões de compressão
em rochas com comportamento dúctil.

Os elementos que caracterizam uma


dobra são os seguintes:

 Charneira - linha que une os


pontos de máxima curvatura da
dobra. Figura 6: Dobra.
 Flancos da dobra - vertentes da dobra; situam-se de um e de outro lado da
charneira.
 Superfície axial ou plano axial - plano de simetria da dobra, que a divide em dois
flancos aproximadamente iguais.
 Eixo da dobra -linha de intersecção da charneira com a superfície axial.

140
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 7: Elementos de uma dobra.

As dobras são classificadas em relação à sua disposição espacial. Antiforma, apresenta


a concavidade para baixo, sinforma, a concavidade está voltada para cima e dobra neutra, a
concavidade está disposta lateralmente.

Uma outra classificação tem em conta a idade relativa das rochas da dobra, da seguinte forma:

 Anticlinal - dobra em que o núcleo da antiforma é ocupado pelas rochas mais antigas.

 Sinclinal - dobra em que o núcleo da sinforma é ocupado pelas rochas mais recentes.

O quadro seguinte sintetiza estes dois tipos de classificação de dobras.

Figura 8: Quadro resumo sobre classificação de dobras (Adaptado de Dias, A., et al., 2004).

141
Biologia e Geologia - 2º ano
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O quadro seguinte relaciona a deformação das rochas com diferentes estados de tensão
e com o comportamento (frágil ou dúctil).

Estado de Comportamento Comportamento Locais de


tensão frágil dúctil ocorrência

Limites destrutivos
das placas
Compressivo Falha inversa Dobra
litosféricas

Limites construtivos
das placas
Distensivo Falha normal Estiramento
litosféricas

Limites
conservativos das
Cisalhante Falha de Cisalhamento
placas litosféricas
desligamento

Figura 9: Quadro resumo da deformação das rochas com os diferentes tipos de tensão

142
Biologia e Geologia - 2º ano
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1.4- Exercícios Tipo:

1. Os esquemas seguintes representam dois tipos de falhas.

Figura 1 Figura 2

1.1. Defina os seguintes conceitos:

1. 1.1. falha;

1.1.2. plano de falha;

1.1.3. rejecto

1.2. Legende as figuras 1 e 2.

1.3. Classifique a falha da:

1.3.1. figura 1;

1.3.2. figura 2.

1.4. Identifique o regime de deformação associado à formação da falha da:

1.4.1. figura 1;

1.4.2. figura 2.

2. Uma sequência normal de estratos, isto é, uma sequência em que os estratos da base são
mais antigos do que os do topo, sofreu dobramento de acordo com o esquema da figura.

143
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 3

2.1. Defina os seguintes conceitos:

2.1.1. dobra;

2.1.2. plano axial;

2.1.3. charneira.

2.2. Legende a figura 3.

2.3. Identifique o regime de deformação associado a este dobramento.

2.4. Discuta a viabilidade geológica deste dobramento sofrer:

2.4.1. um falhamento normal;

2.4.2. um falhamento inverso.

3. Observe atentamente a formação geológica representada na figura 4. Relativamente às


questões que se seguem, indique a opção que melhor completa cada uma delas.

Figura 4

144
Biologia e Geologia - 2º ano
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3.1. Os elementos de dobra representados por A e B correspondem, respectivamente:

a) à superfície axial de um anticlinal e à superfície axial de um sinclinal.

b) à superfície axial de um sinclinal e à superfície axial de um anticlinal.

c) ao flanco de um anticlinal e ao flanco de um sinclinal.

d) ao flanco de um sinclinal e ao flanco de um anticlinal.

3.2. As dobras representadas apresentam uma inclinação de:

a) 180°.

b) 45°.

c) 90°.

d) 0°.

3.3. A dobra a que corresponde o elemento B pode ser classificada como:

a) uma sinforma.

b) uma antiforma.

c) uma dobra neutra.

d) uma dobra vertical.

3.4. As forças que mais provavelmente geraram as dobras representadas foram de natureza:

a) distensiva e orientação este-oeste.

b) compressiva e orientação norte-sul.

c) distensiva e orientação norte-sul.

d) compressiva e orientação este-oeste.

3.5. A charneira e o eixo da dobra representada correspondem, respectivamente, aos


elementos representados por:

a) D e C.

b) C e D.

c) C e E.
145
Biologia e Geologia - 2º ano
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d) D e E.

3.6. Refira o critério subjacente à classificação que fez em 3.3.

3.7. Os estratos rochosos representados manifestaram um comportamento dúctil face às forças


a que foram sujeitos. Explique o significado desta afirmação.

4. As falhas representadas na figura 5 resultam de diferentes tipos de esforços a que as


formações rochosas da litosfera estão sujeitas.

4.1. Classifique as falhas correspondentes a A, B e C.

4.2. Indique qual das falhas, A ou B, apresenta uma maior inclinação.

4.3. Classifique em verdadeiras(V) ou falsas (F) as afirmações seguintes:

a) Relativamente à falha C, os blocos que a limitam deslocam-se ao longo da


inclinação do plano de falha.

b) A falha B resultou de um esforço compressivo sobre os blocos representados.

c) Na falha A, as estruturas designadas por tecto deslocam-se para baixo relativamente às Figura 5
estruturas designadas por muro.

d) Na falha B, o ângulo formado entre o plano da falha e o plano horizontal é obtuso.

e) Os limites tectónicos de natureza conservativa correspondem, geralmente, a falhas do


mesmo tipo que a falha C.

4.4. As falhas resultam de um comportamento frágil face às forças a que as rochas estão
sujeitas. Esse comportamento é favorecido por:

a) baixas pressões e temperaturas altas.

b) baixas pressões e temperaturas baixas.

c) altas pressões e temperaturas baixas.

d) altas pressões e temperaturas altas. (Indique a opção correcta.)

146
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Proposta de soluções

1.1.1. Falha é uma superfície de fractura, ao longo da qual ocorreu um movimento


relativo entre os dois blocos que a falha separa.

1.1.2. Plano de falha é a superfície de fractura.

1.1.3. Rejeito é o movimento relativo entre os dois blocos da falha.

1.2. A - Muro.

B - Plano de falha.

C - Tecto.

DD' - Rejeito.

E - Tecto.

F - Muro.

1.3.1. Falha normal, porque o tecto desceu.

1.3.2. Falha inversa, porque o tecto subiu.

1.4.1. Regime frágil distensivo.

1.4.2. Regime frágil compressivo.

2.1.1. Uma dobra consiste no encurvamento de uma superfície originalmente plana.

2.1.2. Plano axial é a superfície de simetria da dobra que a divide em duas partes
(flancos) aproximadamente iguais.

2.1.3. Charneira é a linha que une os pontos de máxima curvatura de uma dobra.

2.2. A - Plano axial.

B - Sinclinal.

C - Charneira/Eixo da dobra.

D - Anticlinal.

2.3. Regime dúctil compressivo.

2.4.1. Não é viável este tipo de falhamento, dado ser típico de regimes distensivos.

2.4.2. Dado que o falhamento inverso é típico de regimes compressivos, é viável, desde
que a deformação passe de dúctil a frágil.
147
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3.1. b

3.2. c

3.3. b

3.4. d

3.5. a

3.6. Forma da dobra

3.7. Esse comportamento indica que as forças envolvidas na deformação não


ultrapassaram o limite de plasticidade das rochas.

4.1. A- falha inversa; B- falha normal; C- desligamento.

4.2. A

4.3. a-F; b-F, c-F; d-F; e-V.

4.4. b

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149
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ÍNDICE:

1.1. Ambiente metamórfico.


1.2. Factores de metamorfismo.
1.3. Tipos de metamorfismo.
1.3.1. Metamorfismo de contacto.
1.3.2. Tipos de metamorfismo de âmbito regional.
1.4. Sequências metamórficas.
1.5. Minerais indicadores de metamorfismo.
1.6. Fácies de metamorfismo.
1.7. Características das rochas metamórficas.
1.8. Exercícios de aplicação.

Ambiente Metamórfico

COMPETÊNCIAS:

 Compreender que as mudanças mineralógicas e texturais (foliação)


provocadas pelos factores de metamorfismo intervêm durante a génese das
rochas metamórficas

 Integrar o metamorfismo num processo interno de formação de rochas a


partir de rochas preexistentes.

 Compreender os condicionalismos dos diferentes ambientes metamórficos

150
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1. AMBIENTE METAMÓRFICO

As condições que definem o ambiente metamórfico, o qual tem lugar no âmbito dos
processos internos do ciclo litológico, situam-se, entre as condições que caracterizam o
ambiente sedimentar e aquelas que definem o domínio magmático. O ambiente metamórfico
situa-se além da diagénese, ou seja, ocorre em condições de pressão e de temperatura mais
elevadas, num contexto de geodinâmica interna. O ambiente metamórfico possibilita a
alteração das rochas preexistentes por desaparecimento de minerais não compatíveis com as
novas condições.

O metamorfismo é um dos processos geológicos com maior expressão ao nível da crusta


continental, além de que participa também na evolução da crusta oceânica.

Conceito de metamorfismo

O metamorfismo consite no conjunto de processos que operam no interior da crosta


terrestre, conduzindo a modificações mineralógicas, químicas, estruturais e texturais das
rochas preexistentes (sedimentares, magmáticas ou metamórficas). Salienta-se, no entanto,
que as transformações metamórficas ocorrem essencialmente em meio sólido. Estas
transformações ocorrem geralmente em profundidade, logo não são susceptíveis de
observação directa e exigem dos geólogos técnicas especiais de estudo.

1.2- Factores de metamorfismo

As transformações mineralógicas, químicas e texturais, ocorridas no âmbito do


metamorfismo, são função do tipo e intensidade de certos factores físicos, que determinam
uma maior ou menor instabilidade da rocha primitiva, proporcionando o aparecimento de novos
minerais e/ou novos arranjos texturais.

Os processos que provocam o fenómeno do metamorfismo podem ser agrupados em


deformações mecânicas, em que o principal factor é a pressão, e recristalizações.

Os principais factores responsáveis pelo metamorfismo são:

 - temperatura;

 - pressão;

 - fluidos de circulação;

 - tempo geológico (os fenómenos metamórficos são muito lentos e, em muitos casos,
os seus efeitos só são atingidos ao fim de dezenas de milhões de anos).

151
Biologia e Geologia - 2º ano
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 Temperatura/Calor

O calor é, sem dúvida, um dos principais factores responsáveis pelos reajustamentos


mineralógicos e, não menos significativos, pelos reajustamentos químico-estruturais. Com
efeito, o calor proveniente, por exemplo, de uma intrusão magmática, o resultante da
desintegração de elementos radioactivos ou ainda o proveniente do próprio calor interno da
terra, face ao gradiente geotérmico, provoca um enfraquecimento nas ligações atómicas dos
minerais e facilita as reacções químicas, permitindo deste modo a recristalização dos minerais
preexistentes ou então a formação de novos minerais – minerais de neoformação.

 Pressão/Tensão

Este factor inclui três tipos de pressão: pressão litostática ou confinante, pressão de
voláteis e pressão dirigida ou orientada.

A pressão litostática ou confinante é uma pressão não orientada que se faz sentir a partir
de profundidades relativamente pequenas e exerce-se em todas as direcções tal como a
pressão atmosférica. O chamado gradiente geobárico (variação da pressão litostática com a
profundidade) é da ordem de 250 a 300 atmosferas por km (1 atmosfera equivale a 1 bar) o
que dá, para uma profundidade de 30 km, valores de pressão situados, aproximadamente,
entre as 7500 e 9000 atmosferas. O comportamento mecânico das rochas é grandemente
influenciado pela pressão litostática; com o aumento desta, a resistência à ruptura e o limite de
elasticidade das rochas também aumentam.

Figura 1: Orientação de minerais tabulares em rochas metamórficas.

A pressão de voláteis surge porque, uma vez que no metamorfismo intervêm componentes
voláteis, que circulam ou estão retidos nos poros ou fissuras das rochas, as pressões de vapor
destes componentes representam valores que se integram no factor comum, pressão.

A pressão dirigida/tensão não litostática ou stress está especialmente relacionada com


movimentos tangenciais da litosfera. Corresponde a pressões orientadas, resultantes, em
geral, da deformação por compressão, como são as que ocorrem nos domínios orogénicos -
cadeias de montanhas, sistemas de arcos insulares e fossas marinhas a eles associados - ou
seja, nas áreas geossinclinais, no sentido mais amplo. Deste tipo de pressão resultam os
152
Biologia e Geologia - 2º ano
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aspectos orientados de muitas rochas metamórficas, tais como foliação, xistosidade ou


lineações e outras características reveladoras dos mesmos fenómenos de deformação.

Figura 2: Diferentes estados de tensão não litostática

Podem ser definidos diferentes tipos de foliação, em função do grau de metamorfismo, dos
quais destacamos três - a clivagem ardosífera, a xistosidade e o bandado gnáissico.

Figura 3: Quadro resumo dos diferentes tipos de foliação (Adaptado de Silva, A., et al., 2004).

 Fluidos de circulação

A intervenção destes factores é particularmente importante nos processos metassomáticos.


As alterações metamórficas que ocorrem, quando as temperaturas e pressões sobem, são
muito facilitadas se estiverem presentes os fluidos de circulação. Estes, reagindo com os
minerais que formam a rocha, podem dar origem a minerais de composição diferente.

Aparentemente, a água, sob altas pressões, circula através dos grãos, dissolvendo iões de
um mineral e transportando-os para outro local da rocha, onde podem reagir com iões de um
outro mineral.

A água, no estado gasoso, é um dos factores mais importantes nos processos de


metamorfismo, embora o dióxido de carbono e outros gases também sejam importantes.

 Tempo geológico

Este factor é muito importante em Geologia e outras ciências, não sendo, portanto,
exclusivo do metamorfismo. Atendendo a que os processos metamórficos são muito lentos, a
duração de tais processos possibilita a reorganização mineralógica e os reajustamentos
textural e estrutural das rochas.

Há uma relação directa entre o tempo decorrido e o grau de metamorfismo, isto é, a maior
ou menor grandeza das transformações operadas.

153
Biologia e Geologia - 2º ano
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1.3- Tipos de metamorfismo

Nos diferentes ambientes metamórficos existem factores de metamorfismo que podem


predominar relativamente a outros, originando diferentes rochas metamórficas.

As rochas metamórficas ocorrem geralmente em três tipos de ambientes: ao longo de


planos de falha, em contacto com maciços de rochas magmáticas e associados à
construção de cadeias de montanhas.

O predomínio e a intensidade de um ou mais factores de metamorfismo sobre os restantes


permite a definição de vários tipos de metamorfismo, uns de carácter bastante localizado (em
termos de extensão) e outros de âmbito regional, afectando extensas porções da crusta. Os
tipos de metamorfismo mais importantes são: metamorfismo térmico ou de contacto e
metamorfismo regional (afundamento e termodinâmico).

1.3.1- Metamorfismo de contacto ou térmico

Este tipo de metamorfismo, resulta sempre que um magma penetra e se instala no seio de
outras rochas preexistentes, geralmente sedimentares. O metamorfismo de contacto verifica-se
em rochas adjacentes a uma intrusão magmática (fig.4).

Figura 4: Metamorfismo de contacto

Neste tipo de metamorfismo os factores dominantes são o calor libertado nas intrusões de
rochas magmáticas e a presença de
baixas pressões. A temperatura é
muito elevada junto à intrusão e
diminui progressivamente com o
afastamento relativamente ao corpo
magmático. A região de alteração
metamórfica chama-se auréola ou
orla de metamorfismo e pode ir de 154
Figura 5: Auréola de metamorfismo
Biologia e Geologia - 2º ano
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escassos centímetros a centenas de metros, em função da dimensão, temperatura e natureza


da massa magmática e do tipo de rocha encaixante. As rochas resultantes do metamorfismo
térmico são muito duras, geralmente não se apresentam foliadas e são designadas por
corneanas (apresentam uma textura granuloblástica).

1.3.2- Tipos de metamorfismo de âmbito regional

Os tipos de metamorfismo de âmbito geral ou regional resumem-se a dois fundamentais: o


metamorfismo regional (em sentido restrito) e o metamorfismo de afundamento.

Figura 6: Metamorfismo regional (Adaptado de Silva, A. et al., 2003).

Eis algumas características destes tipos de metamorfismo:

Metamorfismo regional Metamorfismo de afundamento


- Ocorre, conforme o grau atingido, em - Tem lugar sob a acção do calor e de
ambientes com temperatura e pressões pressões litostáticas.
diferentes - metamorfismo de grau baixo; de grau - Resulta do aprofundamento ou
médio e grau elevado. subsídência de rochas progressivamente
sobrecarregadas por sucessivas
- Afecta grandes extensões da crusta. deposições sedimentares.
- Não tem grande relação com fenómenos
- As temperaturas, pressões confinantes e orogénicos.
dirigidas prevalecem relativamente altas. - Não há intervenção de pressões
orientadas.
- Está associado a fenómenos de orogénese (à
formação de grandes cadeias montanhosas).

- Resulta da acção simultânea e combinada do


calor interno da Terra, da pressão litostática e
das pressões dirigidas, inerentes à constante
movimentação das placas.

- Processa-se em intervalos de tempo muito mais


longos do que os outros tipos de metamorfismo.

- No metamorfismo regional, as reacções


aloquímicas caracterizam o processo de
metassomatose (que consiste na alteração da
composição química das rochas, consequência
da chegada de iões e perda por parte da rocha 155
Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

de outros).

- Neste tipo de metamorfismo ocorrem processos


isoquímicos, ou seja, não há permuta ou
migração de iões presentes nos minerais.

Pode ocorrer a fusão de rochas, formando-se


magma que ao solidificar pode originar uma
rocha ígnea - anatexia (domínio correspondente
à fusão dos materiais que constituem as rochas
metamórficas devido às condições de pressão e
temperatura, formando um magma de anatexia).

Este tipo faz fronteira com a diagénese e


metamorfismo de contacto, ou seja, exige
condições de pressão e temperatura mais
baixas.

Nota: A curva de fusão dos granitos, isto é, o conjunto de condições de pressão e temperatura a partir
das quais os feldspatos e o quartzo começam a fundir, constitui o ultrametamorfismo e, à sua direita,
situa-se o domínio da anatexia, que corresponde ao início da fusão parcial dos materiais da crusta. Neste
domínio ocorre a formação de magmas de natureza granítica.

O metamorfismo regional afecta um grande volume de rocha, ao contrário do metamorfismo


de contacto que origina auréolas metamórficas na proximidade do corpo magmático
responsável pelo fenómeno. O metamorfismo regional é consequência da subsidiência das
rochas e invariavelmente implica altas pressões e temperaturas e a acção de fluidos de
circulação que, reagindo com o material em subsidiência, provoca alteração química e,
consequentemente, o aparecimento de novos minerais.

156
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 7: Localização tectónica do metamorfismo regional (Adaptado de Silva, A., et al., 2004).

1.4- Sequências metamórficas

Considera-se como sequência metamórfica o conjunto de rochas, derivada de um mesmo


tipo de rocha original, correspondente a sucessivos graus crescentes de metamorfismo. Se o
metamorfismo é esencialmente isoquímico, é possível reconhecer, mais ou menos facilmente,
determinadas sequências metamórficas.

1.5- Minerais indicadores de metamorfismo

Os minerais ou espécies minerais que permitem caracterizar as condições de pressão e


temperatura em que decorreram as transformações chamam-se minerais indicadores ou
tipomorfos de metamorfismo (por exemplo: clorite, andaluzite, distena, silimanite e granada).

157
Biologia e Geologia - 2º ano
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O aparecimento de cada mineral indicador pode assinalar-se num mapa mediante uma linha
que se designa por isógrada. As isógradas são linhas imaginárias que ligam pontos onde
minerais indicadores aparecem pela primeira vez. Duas isógradas consecutivas definem uma
zona em que as condições de metamorfismo foram aproximadamente as mesmas (fig. 8).

Figura 8: Minerais indicadores e zonas metamórficas. A- sequência de minerais indicadores na metamorfização de um


xisto argiloso; B- Isógradas delimitando zonas metamórficas.

1.6- Fácies de metamorfismo

Uma fácies corresponde ao conjunto de rochas metamórficas, independentemente da sua


natureza (origem), que se formam sob condições semelhantes de pressão e temperatura.

A fácies correspondente a uma dada rocha é definida pela associação de minerais


tipomorfos presentes nessa rocha.

Duas ou mais rochas metamórficas, de origem diferentes, e, portanto, com associações


minerais diferentes, podem corresponder à mesma fácies, se os respectivos minerais
tipomorfos indicarem, para todas, as mesmas condições de pressão e temperatura.

1.7- Classificação das rochas metamórficas

Quanto à estrutura das rochas metamórficas podem dividir-se em foliadas e não foliadas. As
foliadas apresentam os minerais orientados perpendicularmente à direcção da força
compressiva, dando-lhe um aspecto laminado ou bandeado. As não foliadas não evidenciam
orientações dos seus constituintes. As rochas metamórficas não foliadas apresentam as
seguintes características:

158
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Tipo de rochas Características

Corneanas Ocorrem nas auréolas mais internas do metamorfismo de contacto.


Possuem fractura concoidal. Apresentam várias cores em função da
composição química e mineralógica. São constituídas por cristais
sem orientação definida e, sensívelmente, de idênticas dimensões.
Podem ocorrer grandes cristais (porfiroblastos) de estaurolite ou
outros minerais característicos do metamorfismo de contacto.

Mármores Essencialmente compostas por calcite ou dolomite, que ocorrem em


cristais bem individualizados. Originam-se do calcário. Os maiores,
que contêm minerais micáceos ou anfíbolas, podem exibir alguma
xistosidade. São rochas geralmente calcíticas, de textura
granoblástica.

Quartzitos Formadas essencialmente por grãos de quartzo fortemente unidos


por recristalização. São muitos duros. Possuem fractura concoidal.
Rocha granoblástica, predominantemente quártzica, recristalizada.

Serpentinito Constituída essencialmente por serpentinas às quais se associam


anfíbolas, piroxenas e sobretudo olivina. Apresenta cor variável entre
o verde-escuro e o preto e estrutura variada: compacta, granulosa,
etc. Assim como os anfibolitos, resultam de rochas ricas em cálcio
como o piroxenito, por metamorfismo regional. É uma rocha macia ao
tacto e tem brilho ceroso, muito magnesiana e derivada de peridotitos
e de outras rochas ultrabásicas. É fibrosa e de textura
nematoblástica.

Granulito Rocha de elevado grau de metamorfismo, de textura granoblástica,


pobre de micas e caracterizada pela presença de silimanite ou
distena, granadas e piroxenas, entre outros.

Por sua vez, as características da foliada são:

159
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Tipo de rochas Características

De cor negra ou cinzento-escura, não sendo possível, de um modo


geral, distinguir à vista desarmada os seus minerais constituintes.
Ardósia
Apresenta aspecto homogéneo de grão muito fino, dividindo-se
facilmente em lâminas. Origina-se a partir da metamorfização de
argilitos e de outros sedimentos de granulação fina ou muito fina.
Representam um grau de metamorfismo muito baixo. Apresentam
xistosidade.

Filádios ou xistos De brilho lustroso, em consequêcia da presença de minerais


luzentes micáceos. Representam um grau de metamorfismo baixo, mas mais
elevado que o das ardósias. Rochas com xistosidade e grão fino.
Podem apresentar cristais de andaluzite, estaurolite ou de granadas
(xistos mosqueados). Provêm de rochas argilosas por metamorfismo
de contacto ou regional.

Micaxistos ou xisto De foliação bem marcada, formadas por minerais micáceos, algum
quartzo e feldspato. Apresentam cristais de estaurolite, granada e
andaluzite de grão médio.A presença destes cristais indica
metamorfismo elevado.

Gnaisse Predominantemente constituídas por quartzo, feldspato em


associação com micas, anfibolas, granadas, turmalinas e silamanite.
Apresentam foliação com aspecto bandado, marcada pela
alternância de minerais de cor escura (micas e anfíbolas) com
minerais de cor clara (quartzo e feldspato). Correspondem a
metamorfismo de alto grau.

O gnaisse pode ser confundido com granitos de anatexia não


orientados. Há gnaísses não metamórficos de origem magmática.
Podem ser originados por um granito.

Anfibolito Constituídos essencialmente por anfíbolas (por exemplo,


horneblenda) em associação com granadas e quartzo, de grão fino a
médio, com foliação bem marcada. Apresentam cor verde. Provêm
de rochas ricas em cálcio, como o gabro, por metamorfismo regional
ou de contacto.

160
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As rochas metamórficas, por observação macroscópica, podem ser classificadas segundo a


textura e a composição mineralógica.

Todas as rochas metamórficas apresentam textura cristalina como consequência dos


fenómenos de recristalização verificados durante as acções metamórficas. Entre as texturas
mais frequentes e características das rochas metamórficas distinguem-se:

 textura granoblástica - quando os grãos são mais ou menos do mesmo tamanho e


sem orientação preferencial;

 textura lepidoblástica - quando há predomínio de minerais lamelares ou em escamas,


como por exemplo, as micas;

 textura porfiroblástica - quando se evidenciam fenoblastos no seio de uma massa


constituída por cristais de pequenas dimensões (por exemplo, xisto com granada);

 textura fibroblástica - quando os neoblastos se apresentam fibrosos (por exemplo,


serpentinito);

 textura nematoblástica - predomínio de minerais aciculares e fibrosos, como as


anfíbolas;

 textura cataclástica ou milonítica - em que os minerais não revelam uma orientação


bem definida, mas são tipicamente fracturados, "vítimas" de esmagamento.

As rochas metamórficas formam-se no ambiente metamórfico onde ocorrem processos que


modificam a associação mineralógica e a estrutura de rochas preexistentes.

161
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1.8. Exercícios de aplicação:

1. Nas auréolas metamórficas encontram-se _______, geralmente, formados(as) graças a


fenómenos de ______, que permitem caracterizar as condições de temperatura em que
decorreram as transformações que lhes deram origem.

a) rochas corneanas [...] recristalização c) minerais-índice [...] cristalização

b) minerais-índice [...] recristalização d) rochas metamórficas [...] recristalização

(Indique a opção correcta.)

2. O ambiente metamórfico é aquele cujas condições termodinâmicas são superiores às do


ambiente sedimentar e inferiores às do ambiente magmático.

2.1. Justifique por que razão o metamorfismo é um processo de transformação que ocorre no
estado sólido.

2.2. Indique a alteração metamórfica predominante provocada nas rochas por acção:

2.2.1. da temperatura;

2.2.2. da tensão;

2.2.3. da circulação de fluidos.

2.3. Os minerais metamórficos constituem importantes geotermómetros e geobarómetros.


Comente esta afirmação.

3. Os esquemas seguintes representam o aspecto microscópico de duas rochas metamórficas


distintas.

3.1. Descreva a organização dos minerais nas amostras A e B.

3.2. Indique, fundamentando, o factor de metamorfismo responsável pela diferente organização


mineralógica das duas amostras.
162
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3.3. Refira o nome de uma rocha metamórfica que possa ser representada:

3.3.1. pela amostra A;

3.3.2. pela amostra B.

4. Suponha que um enorme meteorito atinge a Terra, numa zona onde aflora um maciço calcá-
rio.

4.1. Identifique, justificando, o tipo de metamorfismo a que eventualmente seria sujeito o


maciço calcário.

4.2. Refira os factores de metamorfismo actuantes no maciço calcário.

4.3. Indique, justificando, duas rochas metamórficas formadas na sequência deste hipotético
impacto.

5. A figura seguinte ilustra uma represa e a geologia dos terrenos circundantes.

5.1. Represente, na figura, a direcção:

5.1.1. dos planos de xistosidade;

5.1.2. da tensão dominante aquando da formação dos xistos.

163
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5.2. Distinga, metamorficamente, xistosidade de clivagem ardosífera.

5.3. Discuta:

5.3.1. a viabilidade deste projecto;

5.3.2. o papel da Geologia na construção civil.

Proposta de correcção:

1.1. b

2.1. Porque são alterações que ocorrem sem que se verifique uma fusão da rocha.
Quando ocorre fusão, termina o metamorfismo e inicia-se o magmatismo.

2.2.1. A composição mineralógica, por recristalização de minerais.

2.2.2. No caso da tensão dirigida, a textura da rocha; no caso da tensão litostática, a


estrutura cristalina nos minerais.

2.2.3. A composição química e mineralógica.

2.3. Os minerais metamórficos que cristalizam sob condições de pressão e de


temperatura bem definidas permitem inferir as condições termodinâmicas do meio
ambiente em que se formaram as rochas que os possuem.

3.1. A - Os minerais orientam-se paralelamente, em bandas de composição mineralógica


distinta.

B - Os minerais estão compactados, mas sem nenhuma orientação preferencial.

3.2. A tensão. No caso da amostra A, a tensão era dirigida de tal modo que a rocha
adquiriu foliação, neste caso, uma estrutura bandada. No caso da amostra B, a tensão
era litostática, tendo determinado, de modo igual em todas as direcções, uma
aproximação dos constituintesmineralógicos, não originando foliação.

3.3.1. Gnaisse.

3.3.2. Quartzito ou mármore.

4.1. O metamorfismo desencadeado seria de carácter local.

4.2. Essencialmente, a temperatura e a pressão, que dependem do tamanho do meteorito


e da força do impacto.

164
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4.3. Corneanas, nas zonas onde a temperatura foi muito alta, isto é, no contacto com o
meteorito; mármore, nas zonas onde o aumento de temperatura apenas determinou a
recristalização do calcário.

5.2. A xistosidade é uma foliação de grau de metamorfismo superior ao da clivagem


ardosífera.

5.3.1. Esse projecto não é viável porque parte da represa assenta em xisto (rocha
metamórfica que se parte, com relativa facilidade, segundo superfícies lisas a
ligeiramente onduladas).

5.3.2. O conhecimento da geologia dos terrenos permite minimizar os riscos geológicos.


Uma represa americana, construída em terreno de geologia semelhante ao da figura, ruiu
em 1928, provocando a morte de 420 pessoas.

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ÍNDICE:

1- Exploração sustentada de recursos geológicos


1.1. Recursos minerais
1.1.1- Recursos minerais metálicos
1.1.2- Recursos minerais não metálicos
1.2- Recursos energéticos

1.2.1- Energia Fóssil - Combustíveis fósseis

1.2.2- Energia nuclear

1.2.3- Energia geotérmica

1.3- Recursos hidrogeológicos

1.4- Exercícios de Aplicação

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EXPLORAÇÃO SUSTENTADA DE RECURSOS GEOLÓGICOS

COMPETÊNCIAS

 Conhece o conceito de recurso renovável e de recurso não renovável.


 Reconhece a importância da necessidade de uma exploração equilibrada
dos recursos geológicos, dado o seu carácter limitado e finito.
 Compreende a relação entre a excessiva utilização de alguns recursos e
as alterações dos ecossistemas e provavelmente do clima.
 Explica a importância de alguns recursos geológicos como matérias primas
(construção e indústria) e como fontes de energia.
 Compreende os problemas associados às disponibilidades e necessidades
de água e, em particular, a sobreexploração de águas subterrâneas.

168
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1- Exploração sustentada de recursos geológicos

Os recursos geológicos são materiais (sólidos, líquidos e até gasosos) que podem ser
extraídos da Terra e que são utilizados em benefício do Homem. Por vezes, não são os
materiais da Terra que são um recurso, mas sim as suas propriedades, por exemplo, o calor ou
a radioactividade, que certas rochas e minerais libertam. Os recursos podem ser renováveis ou
não renováveis.

 Os recursos renováveis são gerados na Natureza a uma taxa igual ou


superior àquela a que são consumidos.
 Os recursos não renováveis são gerados na Natureza a um ritmo muito mais
lento do que aquele a que são consumidos pelo Homem. São, por isso,
recursos limitados que acabarão por se esgotar.

Os recursos geológicos não são renováveis, com excepção da água e do calor interno
da Terra.

Figura 1: Recursos Geológicos.

Ao contrário dos recursos, as reservas de um determinado material geológico sofrem


flutuações ao longo do tempo. Diminuem devido à sua extracção, uso e à diminuição do preço
de mercado e aumentam com novas descobertas, com o desenvolvimento de tecnologias que
facilitam a sua extracção e com o aumento do preço de mercado.

As fontes de energia, os diferentes tipos de minerais e a água subterrânea são recursos


geológicos amplamente utilizados pelo ser humano.

169
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1.1. Recursos minerais

Os recursos minerais incluem numerosos materiais utilizados pelo Homem e que foram
concentrados, muito lentamente, por uma variedade de processos geológicos. Os recursos
minerais, de acordo com as suas propriedades químicas, podem classificar-se em metálicos e
não metálicos.

1.1.1- Recursos minerais metálicos

Os elementos químicos, como ferro, cobre, prata ou ouro, encontram-se distribuídos na


crosta terrestre, fazendo parte da constituição de vários materiais em associações diversas
com outros elementos.

Designa-se por clarke a concentração média de um determinado elemento químico na


crosta terrestre, exprime-se em partes por milhão (ppm) ou gramas por tonelada (g/ton).

Um jazigo mineral é um local no qual um determinado elemento químico existe numa


concentração muito superior ao seu clarke.

O material que, num jazigo mineral, é aproveitável e que tem interesse económico,
chama-se minério. O material que, no mesmo jazigo mineral é rejeitável, que não têm
qualquer valor económico e está associado ao minério designa-se por ganga ou estéril. A
ganga é, geralmente, acumulada em escombreiras, que são depósitos superficiais junto às
explorações mineiras. Estas causam poluição visual, e podem ter substâncias tóxicas que
poluem o solo e a água.

1.1.2- Recursos minerais não metálicos

Os recursos minerais não metálicos, relativamente muito abundantes na Natureza,


constituem, para as sociedades modernas, substâncias que devem ser consideradas como
bens de primeira necessidade. Assim, consideram-se recursos minerais não metálicos
materiais como cascalhos, areias e rochas. São materiais abundantes, que geralmente não
atingem preços elevados (com excepção das pedras preciosas) e que, por essas razões,
provêm de fontes locais.

O quadro seguinte resume alguns recursos minerais não metálicos e respectivas utilizações.

170
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Figura 2:Quadro resumo sobre os recursos minerais não metálicos e suas aplicações (Adaptado de Osório, Lígia,
2005).

São muitos e variados os problemas relacionados com o meio ambiente que a actividade
mineira pode provocar.

De forma resumida, podemos dividir esta actividade nas seguintes fases:

1. Extracção do minério
2. Tratamento do minério
3. Separação e remoção do material estéril ou ganga.

Destas diferentes fases, a terceira, é aquela que se revela mais problemática. O material
estéril pode originar escombreiras, estas podem originar encostas artificiais, mal consolidadas
e que, em situações extremas, poderão originar desabamentos de terrenos. O material estéril
poderá também por acção das águas da chuva ser lixiviado, contaminando os aquíferos e os
solos.

1.2- Recursos energéticos

Os recursos energéticos são absolutamente


fundamentais, desde sempre, para as diversas actividades
do ser humano. O desenvolvimento das sociedades
industrializadas e tecnológicas fez crescer, de forma
exponencial, o consumo de energia.

Figura 3: Recursos energéticos

171
Biologia e Geologia - 2º ano
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A maior parte da energia consumida pelas sociedades actuais é proveniente dos


combustíveis fósseis. A energia nuclear surgiu como uma alternativa que acabou por não
corresponder às expectativas. A utilização das fontes de energia renováveis tem vindo a
aumentar, apesar de contribuir ainda pouco para os gastos totais de energia e de ser
necessário um esforço de investigação e desenvolvimento no sentido de aumentar a sua
eficácia.

1.2.1- Energia Fóssil - Combustíveis fósseis

O carvão, o petróleo e o gás natural são recursos energéticos não renováveis e que
se aproximam rapidamente do esgotamento. A energia que contêm está armazenada nas
ligações químicas de compostos orgânicos, sujeitos a complexas transformações ao longo de
grandes períodos de tempo.

O carvão é principalmente utilizado em centrais termoeléctricas para produção de


energia eléctrica. O petróleo e o gás natural são utilizados como combustíveis. O petróleo tem,
ainda, numerosas utilizações industriais.

A utilização dos combustíveis fósseis está relacionada com graves problemas


ambientais, que se resumem a seguir:

 A queima de combustíveis fósseis liberta para a atmosfera dióxido de enxofre, que,


ao combinar-se com o vapor de água atmosférico, dá origem a ácido sulfúrico, o qual
precipita como chuva ácida. A chuva ácida baixa o pH do solo e dos cursos de água,
provocando a morte de organismos e o desequilíbrio dos ecossistemas.

 A queima de combustíveis fósseis liberta grandes quantidades de dióxido de carbono


para a atmosfera. O aumento de dióxido de carbono na atmosfera contribui para o aumento do
efeito de estufa e, consequentemente, para o aquecimento global do Planeta.

172
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 A extracção do carvão em minas e a extracção do petróleo em poços podem causar


contaminação do solo e da água.

Figura 4: Problemas Ambientais.

1.2.2- Energia nuclear

A produção de energia nuclear baseia-se na fissão controlada do elemento urânio em


reactores nucleares. Esta reacção liberta grandes quantidades de energia sob a forma de calor;
esse calor é utilizado na vaporização da água que, por sua vez, é usada para a produção de
energia eléctrica.

A energia nuclear apresenta as seguintes desvantagens:

- risco de acidentes com fuga de radiações;

- produção de resíduos radioactivos que levantam sérios problemas de tratamento e


armazenamento;

- poluição térmica da água;

- risco de acções terroristas.

1.2.3- Energia geotérmica

O calor interno da Terra constitui uma fonte de energia que pode ser concentrada
localmente. Quando existe uma fonte de magma relativamente próxima da superfície da Terra,
verifica-se o aquecimento de fluidos, geralmente a água, que se localiza em rochas porosas ou
em fracturas. A água quente pode ser aproveitada na produção de energia. 173
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O quadro seguinte distingue os dois tipos de energia geotérmica.

Energia Geotérmica

Geotermia de alta entalpia Geotermia de baixa entalpia

A temperatura da água é superior a 150°C. A temperatura da água é inferior a 150ºC.


Nesta situação, o calor é usado na produção
O calor é usado, essencialmente, no
de energia eléctrica. A água é bombeada até
aquecimento de habitações e de água para
à superfície onde se converte em vapor que
uso doméstico ou público (piscinas, por
acciona turbinas.
exemplo).

A energia geotérmica não é poluente e é renovável, na medida em que a sua fonte


permanece por longos períodos de tempo (uma câmara magmática pode demorar milhares de
anos a arrefecer). No entanto, é um tipo de energia que apenas pode ser aproveitada em locais
com determinadas características.

Em Portugal, há produção de energia geotérmica de alta entalpia no Arquipélago dos


Açores e de baixa entalpia em centros termais do território continental.

As energias renováveis, que não se esgotam e são pouco poluentes, constituem a


principal alternativa à energia dos combustíveis fósseis. No desenvolvimento de tecnologias
que aumentam a eficácia de aproveitamento destas fontes de energia pode estar a solução
para os problemas energéticos do futuro.

Para além da energia geotérmica, há a considerar as seguintes fontes de energias renováveis:


energia solar, energia eólica, energia hidroeléctrica, energia das ondas, energia da biomassa e
energia do biogás.

1.3- Recursos hidrogeológicos

A água subterrânea é um recurso geológico de extrema importância, que constitui


cerca de 0,6% do total de água que existe na Terra. Integra a etapa mais lenta do ciclo
hidrológico e aquela que não é directamente observável.

A quantidade e a qualidade da água subterrânea têm efeitos na sobrevivência e na


saúde das populações humanas.
174
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Cerca de 15% da água que precipita sobre a superfície da Terra infiltra-se no solo, por
acção da gravidade, e origina a água subterrânea que preenche os aquíferos.

 Aquíferos são formações geológicas subterrâneas capazes de armazenar água e de


permitir a sua circulação e extracção de forma economicamente rentável. As rochas
que constituem os aquíferos apresentam características favoráveis de porosidade e
permeabilidade.

 Porosidade é a percentagem do volume total da rocha ou dos sedimentos que é


ocupado por espaços vazios, ou poros. A porosidade constitui uma medida da
capacidade da rocha em armazenar água. Algumas rochas sedimentares, como
arenitos e conglomerados, têm poros entre os grãos de minerais, pelo que podem
armazenar uma quantidade apreciável de água. As rochas cristalinas não têm poros
entre os grãos de minerais, mas podem armazenar água em fracturas.

 Permeabilidade é a capacidade das rochas transmitirem fluidos através dos poros ou


fracturas. As rochas permeáveis deixam-se atravessar facilmente pela água. A
permeabilidade das rochas está relacionada com as dimensões dos poros e com a
forma como se estabelece a comunicação entre eles.

Um bom aquífero é, simultaneamente, poroso e permeável, o que lhe permite armazenar e


libertar a água. São exemplos de bons aquíferos as areias, os cascalhos, os arenitos, os
conglomerados e os calcários fracturados.

Num aquífero, é possível distinguir as seguintes zonas:

 Nível hidroestático ou freático - é a profundidade a partir da qual aparece a água.


Corresponde ao nível atingido pela água nos poços. Este nível é variável de região
para região, e, na mesma região, varia ao longo do ano.
 Zona de aeração - localiza-se entre a superfície do terreno e o nível hidroestático.
Nesta zona, os poros entre as partículas do solo ou das rochas são ocupados por água
e por ar.
 Zona de saturação - tem como limite superior o nível hidroestático. Nesta zona, todos
os poros da rocha estão completamente preenchidos com água.

175
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A figura seguinte ilustra as diferentes zonas de um aquífero.

Figura 5: Zonas de um aquífero.

Tipos de Aquíferos

Aquífero livre Aquífero confinado

 Limitado no topo por uma camada  Limitado no topo e na base por


permeável e na base por uma camadas impermeáveis
camada impermeável.

 A pressão da água é igual à  A pressão da água é superior à pressão


pressão atmosférica atmosférica

 A recarga é rápida e faz-se ao  A recarga é lenta e é feita lateralmente,


longo de toda a extensão do numa zona limitada exposta à
terreno, pela precipitação. superfície.

 Sofre variações acentuadas com as  Varia pouco com as estações do ano.


estações do ano.

Figura 6: Quadro resumo sobre as características dos diferentes aquíferos.

A água subterrânea, armazenada nos aquíferos, é utilizada para beber e a sua


escassez ou contaminação podem ter efeitos muito graves. As principais causas da diminuição
de reservas e/ou deterioração da qualidade da água subterrânea encontram-se resumidas no
quadro seguinte.

176
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Figura 7: Quadro resumo sobre as principais fontes de poluição dos aquíferos

(Adaptado, Osório, Ligia, 2004).

O progresso tecnológico das sociedades e a manutenção de níveis de vida elevados


estão intimamente dependentes do consumo dos recursos geológicos. A exploração
sustentada dos recursos geológicos torna-se crucial para assegurar o desenvolvimento de
todas as sociedades e permitir a satisfação das necessidades das gerações presentes e das
gerações futuras.

Uma exploração sustentada dos recursos geológicos poderá passar pelas seguintes medidas:

 utilização, numa escala cada vez maior, dos recursos renováveis;


 aumento do tempo de duração dos recursos não renováveis, através da redução do
consumo, reciclagem e utilização de substitutos;
 redução dos impactes ambientais negativos que resultam da exploração de recursos
geológicos. 177
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1.4- Exercícios de Aplicação:

1- A figura 1 seguinte ilustra o ciclo hidrológico.

Figura 1

1.1- Ordene, por ordem crescente, relativamente à quantidade de água que cada um possui,

os diferentes reservatórios que estão ilustrados na figura.

1.2- Identifique os processos naturais que estão ilustrados na figura, com os números 1, 2, 3,

4 e 5.

1.3- Como se designa a ciência que estuda a parte subterrânea do ciclo hidrológico?

1.4- Indique os principais factores de que depende a maior ou menor quantidade de água

subterrânea armazenada.

1.5 - Dos diferentes reservatórios de água apresentados, quais são os mais susceptíveis à
poluição?

1.6- Refira a origem da poluição que mais afecta os reservatórios de água subterrânea.

2- A figura 2 ilustra uma sequência de camadas nas quais é possível identificar diferentes
aquíferos.

Figura 2
178
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2.1- Indique, justificando, qual das camadas, A, B, C ou D, é um aquífero livre.

2.2 - Indique, justificando, qual das camadas, A, B, C ou D, é um aquífero cativo.

2.3 - Explique como se processa a recarga do aquífero cativo.

2.4 – Identifique as camadas que pertencem à zona de aeração.

2.5 - Identifique as camadas que pertencem à zona de saturação.

Proposta de correcção

1.1- Biosfera, atmosfera, lagos e rios, reservatórios subterrâneos e oceanos.

1.2- 1 - evaporação; 2 - precipitação; 3 - evapotranspiração; 4 - infiltração; 5 - escorrência


subterrânea.

1.3- Hidrogeologia.

1.4- A porosidade e a dimensão do reservatório.

1.5- Em primeiro lugar, os lagos e rios, por estarem à superfície, e, em seguida, os


reservatórios subterrâneos.

1.6- A poluição de origem agrícola e industrial.

2.1- A camada B, porque está limitada, superiormente, por uma camada permeável.

2.2- A camada D, porque está limitada, superior e inferiormente, por camadas


impermeáveis.

2.3- Processa-se lateralmente, uma vez que tem por cima uma camada impermeável.

2.4- A camada A.

2.5- As restantes camadas.

179
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Exercícios de preparação para Exame Nacional (módulos 5 e 6):

Grupo I

Embora a maioria dos organismos que habita ambientes pobres em O 2 e ricos em CO2
possua hemoglobina com maior afinidade para transportar O 2, um estudo recente revelou que a
hemoglobina da toupeira-do-leste especializou-se no transporte mais eficiente de CO2.Embora
seja importante o transporte de O2 para as células, a remoção de CO2 também é vital, pois este
gás pode tornar-se tóxico em elevadas concentrações e provocar modificações no pH do meio
celular. Na realidade, a pressão parcial de CO2 é um dos principais indícios do organismo para
regular a taxa de ventilação pulmonar.

A toupeira-do-leste (Scalopus aquaticus) está constantemente exposta a condições de


muito CO2 e pouco O2, necessitando de eliminar elevadas quantidades de CO2 enquanto
escava os túneis subterrâneos. A sua hemoglobina diferencia-se por a glicina que se encontra
na posição 136 da cadeia B ter sido substituída por ácido glutâmico, reduzindo a afinidade
desta para o O2.

1. Identifique o género a que pertence a toupeira-do-leste.

Na resposta a cada um dos itens de 2 a 8, selecione a única opção que permite obter uma
afirmação correta. Escreva na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a
opção correta.

2. As leghemoglobinas vegetais podem ser detetadas nos nódulos das raízes de muitas plantas
leguminosas, em que se estabelece uma relação de simbiose entre a planta e bactérias
fixadoras de azoto.

As leguminosas pertencem ao reino ___, e as bactérias pertencem ao reino___.

(A) Plantae (…) Protista. (C) Monera (…) Plantae.

(B) Plantae (…) Monera. (D) Plantae (…) Fungi.

3. Os animais simples, como a planária, ___, enquanto que os insectos___.


(A) não possuem sistema transporte (…) possuem um sistema circulatório fechado.
(B) possuem sistema transporte simples(…) não possuem um sistema circulatório.
(C) não possuem sistema transporte (…) possuem um sistema circulatório aberto.
(D) possuem sistema transporte simples(…) possuem um sistema circulatório aberto.

4. A toupeira-do-leste, são organismos ___, podendo apresentar hematose ___.

(A) homeotémicos (…) cutânea. (B) homeotérmicos (…) pulmonar.

(C) exotérmicos (…) branquial. (D) exotérmicos (…) cutânea.


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5. Segundo uma perspetiva darwinista, o sapo-gigante atual resultou da evolução de ancestrais


que…

(A) …por terem maior superfície cutânea, se reproduziram mais num meio pobre em oxigénio.

(B) …por usarem pouco os pulmões, na obtenção de oxigénio, ficaram com estes órgãos
reduzidos.

(C) …desenvolveram uma maior superfície cutânea, para obterem maior quantidade de
oxigénio.

(D) …apresentavam conjuntos génicos que determinaram a formação de pulmões mais


reduzidos.

6. O agrupamento de organismos comestíveis e não comestíveis, representa um sistema de


classificação…

(A) …artificial. (C) …prático.

(B) …natural vertical. (D) … natural horizontal.

7. Terra rossa é a designação atribuída aos depósitos ___ de cor vermelha, locais onde a
toupeira faz as suas tocas, são resultantes da acumulação de resíduos ___ presentes nas
rochas carbonatadas.

(A) calcários (…) solúveis (B) argilosos (…) insolúveis

(C) argilosos (…) solúveis (D) calcários (…) insolúveis

8. Faça corresponder a cada uma das letras (de A a F), que identificam afirmações relativas ao
ambiente sedimentar, o número (de I a VII) da chave, que, assinala etapas da génese de uma
rocha sedimentar.

Chave: Afirmações:

I – Meteorização A - Acumulação de sedimentos na foz do Cávado.


B - Precipitação de carbonato de cálcio que agrega os grãos de areia.
II – Erosão C - Perda de água devido ao peso dos sedimentos.
D - Remoção de detritos das margens do Cávado.
III - Transporte E - As águas do rio arrastam os detritos removidos.
F - Fragmentação do substrato granítico do Cávado.
IV – Compactação

V – Cimentação

VI– Sedimentação

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9. Explique porque que razão, as espécies que se reproduzem sexuadamente possuem


vantagem adaptativa nos ambientes que estão em constante mudança.

GRUPO II

Há cerca de 480 M.a., no periodo Ordovicico, ocorreu um recuo da linha de costa.


Nessa altura, a região de Arouca, situada no bordo norte de um supercontinente, sofreu intensa
sedimentação detrítica. A continua subida do nível médio da água do mar levou a deposição de
materiais cada vez mais finos, o que favoreceu a fossilização de muitos seres vivos, tais como
as Trilobites e os Graptólitos. Estes seres viviam em ambientes marinhos, não se conhecendo,
nessa altura, nem plantas nem animais em ambientes terrestres.

Durante o Devónico, ocorreram uma progressiva descida do nível médio da água do


mar – regressão marinha – e a consequente deposição de materiais mais grosseiros. Esta
regressão marinha deveu-se, em parte, ao movimento das placas tectónicas, que provocou
deformações nos materiais, originando uma importante cadeia montanhosa da qual o anticlinal
de Valongo e, hoje, uma reminiscência.

No final do Carbónico, há 300 M.a., a meteorização e a erosão das vertentes da bacia


carbonífera originaram a deposição de materiais que conduziram, posteriormente, a formação
de xistos com fósseis de plantas, intercalados com arenitos, e de um espesso conglomerado. O
dobramento sofrido por estas rochas terão resultado da reunião dos vários continentes então
existentes, que terá dado origem ao supercontinente Pangea, há cerca de 250 M.a. Este
processo terá sido responsável pela instalação dos granitos desta região e pela extinção das
Trilobites a escala global.

Na resposta a cada um dos itens de 1 a 8, selecione a única opção que permite obter uma
afirmação correta. Escreva na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a
opção correta.

1. Os arenitos formaram-se a partir das areias, devido a processos de…

(A) erosão, seguida de transporte. (C) desidratação, seguida de cimentação.

(B) meteorização, seguida de deposição. (D) transporte, seguido de sedimentação.

2. A presença de Graptólitos em estratos sedimentares do Ordovícico permite determinar a


idade ____dessas rochas se esses fósseis apresentarem uma reduzida distribuição _______.

(A) absoluta … estratigráfica (B) relativa … geográfica

(C) relativa … estratigráfica (D) absoluta … geográfica

182
Biologia e Geologia - 2º ano
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3. Na região de Arouca, durante o Devónico, formou-se uma cadeia montanhosa resultante de


uma intensa atividade geológica _______, associada à _______ da dimensão das bacias
sedimentares.

(A) distensiva … uma redução (B) compressiva … uma redução

(C) compressiva … um aumento (D) distensiva … um aumento

4. O carvão não é considerado um mineral porque …


(A) não possui uma composição química definida. (B) não possui estrutura cristalina.
(C) não é uma substância química sólida. (D) todas as afirmações anteriores
estão corretas.

5. O ____constitui uma boa rocha de cobertura para reservatório de petróleo e gás natural.

(A) … conglomerado. (B) … calcário.

(C) …arenito . (D)… argilito.

6. Indique qual das seguintes alterações ocorre durante a meteorização do granito.

(A) aumenta a argila e diminui o feldspato.

(B) o quartzo e a plagióclase diminuem e aumentam os feldspatos.

(C) diminui a argila e aumentam os óxidos de ferro.

(D) aumenta feldspato e diminui a argila.

7.As areias são rochas _______, pois resultaram da não litiogénese dos ________

(A) sedimentares quimiogénicas (…) sedimentos (C) sedimentares biogénicas(…) clastos.

(B) sedimentares móveis (…) clastos. (D) evaporíticas (…) sedimentos.

8. Um fóssil de idade é um fóssil de um ser…

(A) que viveu na Terra durante um intervalo de tempo muito curto.

(B) extinto há, pelo menos, 250 M.a.

(C) que viveu na Terra durante um intervalo de tempo muito longo.

(D) que ainda existe na atualidade.


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Biologia e Geologia - 2º ano
Ensino Secundário Recorrente

9. Faça corresponder a cada uma das letras das afirmações de A a E a designação da


respetiva rocha, indicada na chave.

Afirmações Chave

A – E uma rocha sedimentar detrítica, não consolidada. I – Gesso

B – E uma rocha sedimentar detrítica, consolidada. II – Gneisse

C – E uma rocha sedimentar quimiogénica. III – Basalto

D – E uma rocha magmática extrusiva. IV – Carvão

E – E uma rocha metamórfica, não foliada. V – Areia

VI – Gabro

VII – Mármore

VIII – Siltito

10. O Mosteiro da Batalha é um monumento calcário que tem sofrido uma deterioração
acelerada, sobretudo após a construção do troço da estrada IC2, que liga Lisboa ao Porto e
que passa perto dele.

Relacione a deterioração acelerada que o Mosteiro da Batalha tem sofrido com a sua
localização.

Grupo III

O Maciço Ibérico ocupa cerca de dois terços do território continental português e


corresponde a uma unidade geológica e estrutural constituída por rochas sedimentares
metamorfizadas e rochas magmáticas com idades que vão do Pré-Câmbrico superior até ao
Paleozóico superior. Durante este período decorreram os processos geológicos que
culminaram na formação de cadeias montanhosas e permitiram o aparecimento de diversos
depósitos minerais.

Naquele que é hoje o Alentejo metalogenético integrado na Faixa Piritosa Ibérica (FPI),
uma importante atividade vulcânica submarina deu origem a jazigos de sulfuretos maciços,
devido à libertação de enxofre, que depois se viria a combinar com ferro. A circulação de
fluidos hidrotermais entre as rochas vulcânicas e sedimentares deu lugar a processos físico-
químicos que conduziram à deposição, em ambiente marinho, de massas de sulfuretos ricas
em ferro, cobre, zinco, chumbo, prata e ouro. Estes jazigos vulcanogénicos, notáveis quer
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Biologia e Geologia - 2º ano
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pelas suas dimensões, quer pelos metais neles existentes são, assim, constituídos por massas
de sulfuretos polimetálicos em que predomina a pirite.

A riqueza dos depósitos da FPI conduziu a uma intensa atividade mineira na zona,
onde existem cerca de cem minas, algumas abandonadas, como S. Domingos, outras em
laboração, como Neves-Corvo. Esta constitui o centro mineiro mais importante da Europa
Ocidental, no que se refere a metais como o cobre, o zinco, o chumbo e o estanho, tendo sido
descoberto em 1977 em alvo gravimétrico.

Atualmente, na mina de Neves-Corvo, em resultado do processo de extração do


minério, são produzidas 1800 toneladas de rejeitados por ano. Destes materiais, que não têm
valor económico e são portadores de elementos químicos contaminantes, 500 toneladas são
reutilizadas no processo de enchimento da mina e as restantes 1300 armazenadas, através de
deposição subaquática, em estrutura lagunar especialmente construída para o efeito e
integrada no complexo mineiro. A mina de Neves-Corvo labora atualmente cumprindo regras
de proteção ambiental, nas quais se integra um projeto inovador que prevê a utilização de uma
tecnologia nova, que transforma os rejeitados de minas de sulfuretos numa pasta «altamente
viscosa». A sua deposição vai permitir a completa reabilitação e revegetação da área de
armazenamento, num processo compatível com um plano de fecho da atividade mineira.

1. Selecione a alternativa que permite obter uma afirmação correta.

A aplicação de princípios estratigráficos à unidade geológica que constitui o Maciço Ibérico


possibilitou a...

(A) determinação da sua idade relativa através da aplicação de radioisótopos.

(B) identificação dos tipos de rochas existentes nesta formação.

(C) reconstituição da sequência dos acontecimentos geológicos que o originaram.

(D) determinação da sua idade absoluta através do estudo dos fósseis encontrados.

2. Selecione a alternativa que permite obter uma afirmação correta.


Os depósitos de pirite da FPI foram formados...
(A) por sedimentação de detritos provenientes de rochas pré-existentes.

(B) pela dissolução de sais constituintes de rochas encaixantes.

(C) por processos de meteorização física sobre rochas pré-existentes.

(D) pela precipitação de sais concentrados durante a circulação de fluidos.


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Biologia e Geologia - 2º ano
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3. Selecione a alternativa que contém os termos que preenchem, sequencialmente, os espaços


seguintes, de modo a obter uma afirmação correta.

Os jazigos polimetálicos da FPI, situados em profundidade, foram localizados através de um


método _______, pela deteção de anomalias gravimétricas _______.

(A) indireto (…) negativas. (B) indireto (…) positivas.

(C) direto (…) positivas. (D) direto (…) negativas.

4. Selecione a alternativa que contém os termos que preenchem, sequencialmente, os espaços


seguintes, de modo a obter uma afirmação correta.

A viabilidade económica da mina de Neves-Corvo permite considerá-la _______, e a aposta


em novas zonas de prospeção poderá _______ o seu tempo de vida útil.

(A) reserva geológica (…) aumentar (B) reserva geológica (…) diminuir

(C) recurso geológico (…) diminuir (D) recurso geológico (…) aumentar

5. A exploração mineira suscita hoje grande preocupação ambiental, tendo em conta o estado
de degradação em que se encontram as zonas mineiras abandonadas.

Justifique, em face dos problemas gerados pela exploração mineira, a necessidade da


aplicação de um plano de reabilitação ambiental cada vez mais exigente.

GRUPO IV

Os aquíferos costeiros constituem um recurso importante de água doce cuja qualidade


tem vindo a decair devido ao aumento do consumo de água. A pressão humana que se tem
verificado nas zonas litorais, especialmente nos meses estivais, tem conduzido a uma
exploração intensiva e prolongada das captações de água doce próximas do mar.

A instalação de captações de água doce em zonas costeiras exige estudos que


permitam acautelar a contaminação dos aquíferos com água salgada. A interface água doce –
água salgada, representada na Figura 1, é uma zona de gradiente de concentrações resultante
da mistura entre as águas.

Foi estabelecida, por Ghyben e Herzberg, uma relação empírica constante entre o nível freático
acima do nível do mar (t) e a altura da coluna de água doce abaixo do nível do mar (h). Para
cada metro que o nível freático esteja acima do nível do mar, há 40 metros de coluna de água
doce sobre a água salgada (1:40). A aplicação desta relação permite a captação sustentada de
água doce nas zonas costeiras.

186
Biologia e Geologia - 2º ano
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Figura 1 – Esquema de captação de água doce numa zona costeira

1. Selecione a alternativa que permite obter uma afirmação correta.

Pela aplicação da relação de Ghyben-Herzberg, se a coluna de água doce for de 20 metros


abaixo do nível do mar, a altura de água acima do nível do mar será de...

(A) 2,5 metros. (B) 2,0 metros.

(C) 1,5 metros. (D) 0,5 metros.

2. Selecione a alternativa que permite obter uma afirmação correta.

Segundo os estudos efectuados por Ghyben e Herzberg, se ocorrer uma sobreexploração de


um aquífero costeiro, a interface água doce – água salgada...

(A) desloca-se para a superfície, podendo ocorrer contaminação.

(B) mantém a sua posição, podendo ocorrer contaminação.

(C) desloca-se para níveis mais profundos, prevenindo a contaminação.

(D) mantém a sua posição, prevenindo a contaminação.

3. Selecione a alternativa que contém os termos que preenchem, sequencialmente, os espaços


seguintes, de modo a obter uma afirmação correta.

Na exploração sustentada de um aquífero costeiro, a velocidade de extração de água tem que


ser _______ à velocidade de recarga, de forma a permitir o seu reequilíbrio por entrada de
água _______.

(A) superior (…) salgada. (B) inferior (…) doce.

(C) inferior (…) salgada. (D) superior (…) doce.

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4. Selecione a alternativa que contém os termos que preenchem, sequencialmente, os espaços


seguintes, de modo a obter uma afirmação correta.

Uma zona de aeração mais ______ permite, em tempo de pluviosidade elevada, recarregar o
aquífero e ______ a contaminação.

(A) porosa (…) retardar (B) porosa (…) acelerar

(C) permeável (…) retardar (D) permeável (…) acelerar

5. Faça corresponder a cada uma das afirmações de A a E o respetivo conceito relacionado


com reservas subterrâneas de água, indicado na chave:

Afirmações

A – Determina a capacidade de armazenamento de uma rocha.

B – Quanto maior for a sua superfície mais fácil será a contaminação do aquífero.

C – O seu limite superior coincide com o nível hidrostático do aquífero.

D – O seu limite superior é constituído por rochas impermeáveis.

E – A rocha armazém é delimitada superiormente por rochas permeáveis.

Chave

I – Pressão hidrostática II – Nível hidrostático III – Aquífero livre

IV – Zona de saturação V – Permeabilidade VI – Zona de recarga

VII – Aquífero cativo VIII – Porosidade

Grupo V

A sul dos Açores, associadas à Crista Médio-Atlântica, existem fontes hidrotermais


profundas. No fundo oceânico, existem pequenas mas numerosas fissuras, através das quais a
água fria do oceano entra em contacto com as rochas quentes, formadas recentemente. A
água aquecida sobe e arrasta consigo vários constituintes das rochas circundantes. Quando
emerge do interior da Terra, no fundo oceânico, o fluido é rico em sais, muitas vezes metálicos,
que se vão depositando em torno da abertura, formando uma estrutura a que se dá o nome de
chaminé. Dela emanam, sem cessar, inúmeros gases ricos em metano e compostos de
enxofre, criando à sua volta um ambiente único.

Nesses locais, a água circula a temperaturas que podem atingir os 400 ºC, mantendo-
se no estado líquido, devido às elevadas pressões a que está submetida. No entanto, a três
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centímetros do fluxo principal de água quente, a temperatura é a normal para essas


profundidades, de apenas 2 ºC. Associadas às fontes hidrotermais profundas, desenvolvem-se
bactérias quimioautotróficas, que produzem compostos orgânicos a partir de carbono
inorgânico e da oxidação de compostos de enxofre libertados pelas chaminés. Estes seres
vivem em simbiose com organismos mais desenvolvidos. Neste ecossistema invulgar, crescem
também vermes tubulares (poliquetas tubulares), moluscos bivalves e espécies estranhas de
caranguejos e de camarões.

O esquema da Figura 2 representa o perfil da estrutura de uma fonte hidrotermal, no fundo do


mar.

Figura 2

1. Selecione a alternativa que preenche os espaços na frase seguinte, de modo a obter uma
afirmação correta.

Na Crista Médio-Atlântica, a rocha-mãe do material que ascende é de natureza _______,


originando magma _______.

(A) peridotítica (…) riolítico. (B) peridotítica (…) basáltico.

(C) granítica (…) riolítico. (D) granítica (…) basáltico.


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2. Selecione a alternativa que preenche os espaços na frase seguinte, de modo a obter uma
afirmação correta.

A Crista Médio-Atlântica é um limite _______ de placas, onde estas se movimentam num


regime de tensões, principalmente _______.

(A) divergente (…) distensivas. (B) convergente (…) compressivas.

(C) divergente (…) compressivas. (D) convergente (…) distensivas.

3. As afirmações seguintes dizem respeito à formação e à evolução das fontes hidrotermais


profundas.

Selecione a alternativa que as avalia corretamente.

1. Nas fontes hidrotermais profundas, ocorre elevada meteorização química.

2. A meteorização química que ocorre na região deve-se a fenómenos de descompressão.

3. A deposição dos compostos de enxofre metálicos contribui para o crescimento das


chaminés.

(A) 3 é verdadeira; 1 e 2 são falsas. (B) 1 e 2 são verdadeiras; 3 é falsa.

(C) 1 e 3 são verdadeiras; 2 é falsa. (D) 2 é verdadeira; 1 e 3 são falsas.

4. Selecione a alternativa que completa a frase seguinte, de modo a obter uma afirmação
correta.

Nas fontes hidrotermais profundas, verifica-se...

(A) … um fluxo de calor de elevada entalpia. (B) … uma deposição de lavas encordoadas.

(C) … uma emissão de cinzas e de lapili. (D) … um baixo teor de sais dissolvidos.

4. Relacione o aparecimento das chaminés das fontes hidrotermais profundas


com os fenómenos de vulcanismo associados às cristas oceânicas.

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Biologia e Geologia - 2º ano
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6. Selecione a alternativa que preenche os espaços na frase seguinte, de modo a obter uma
afirmação correta.

Nas cadeias alimentares que se estabelecem nas fontes hidrotermais profundas, a função de
_______ é assumida pelas bactérias quimioautotróficas, que utilizam como fonte de _______
os compostos de enxofre, através de reações de oxidação-redução.

(A) produtor (…) matéria (B) microconsumidor (…) matéria

(C) produtor (…) energia (D) microconsumidor (…) energia

7. No ecossistema que se estabelece em redor do ambiente criado pelas chaminés


hidrotermais, os animais estão especialmente adaptados a...

(A) … temperaturas muito elevadas. (B) … pressões muito elevadas.

(C) … elevadas concentrações de oxigénio. (D) … intensa luminosidade.

Critérios de correção
Grupo I
1. Scalopus
2. Opção (B)
3. Opção (C)
4. Opção (B)
5. Opção (A)
6. Opção (C)
7. Opção (B)
8. A –VI; B-V; C – IV; D – II; E- III; F – I.
9. A resposta deve contemplar os seguintes tópicos:
- Inerente ao processo de reprodução sexuada, estão mecanismos que conferem
variabilidade genética às populações, como recombinação genética.
- Esta variabilidade genética pode ser precursora de caraterísticas que podem ser
vantajosas num ambiente em constante modificação, sendo a chave para a
sobrevivência de determinada população.
Grupo II
1. Opção (C)
2. Opção (C)
3. Opção (B)
4. Opção (D)
5. Opção (D)
6. Opção (A)
7. Opção (B)
8. Opção (A)
9. A – V; B – VIII; C – I; D – III; E – VII.
10. A resposta deve conter os seguintes elementos:
- O dióxido de carbono e o monóxido de carbono libertados pelo tráfego automóvel
reagem com a água da chuva, provocando a diminuição do pH.
Ou
- O dióxido de carbono e o monóxido de carbono libertados pelo tráfego automóvel
reagem com a água da chuva, provocando a formação de um ácido.
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- O ácido carbónico reage com o calcário, provocando a sua dissolução e acelerando


a destruição do monumento.
Ou
- O ácido carbónico reage com o calcário, transformando-o em hidrogenocarbonato,
solúvel em água, e acelerando a destruição do monumento.
Grupo III
1.Opção (C)
2.Opção (D)
3.Opção (B)
4.Opção (A)
5.A resposta deve conter os seguintes elementos:
- A exploração mineira produz resíduos volumosos e prejudiciais (ácidos, elementos
radioativos, metais pesados….) que contaminam a água e os solos, o que degrada o
ambiente.
- Aplicação do plano de recuperação procura evitar a dessiminação dos
contaminantes, minimizando o seu impacto ambiental.
Grupo IV
1. Opção (D)
2. Opção (A)
3. Opção (B)
4. Opção (C)
5. A – VIII; B – VI; C – IV; D – VII; E – III;

Grupo V
1. Opção (B)
1. 2. Opção (A)
3. Opção (C)
4. Opção (A)
5. 1.A resposta deve contemplar os seguintes tópicos:
- As cristas oceânicas são zonas de vulcanismo activo, onde ocorre ascensão de magma
com aquecimento das rochas envolventes.
Ou, em alternativa,
• - -- As cristas oceânicas são zonas de erupções tipo fissural, onde ocorre ascensão de
magma com aquecimento das rochas envolventes.
Ou, em alternativa,
• -• - As cristas oceânicas são zonas de limites construtivos de placas tectónicas, onde
ocorre ascensão de magma com aquecimento das rochas envolventes.
Ou, em alternativa,
- As cristas oceânicas são zonas de rifte, onde ocorre ascensão de magma com
aquecimento das rochas envolventes.

- O contacto da água fria com as rochas aquecidas permite o fluxo de materiais e a sua
deposição formando as chaminés das fontes hidrotermais profundas.
Ou, em alternativa,
• - A infiltração de água, e o seu contacto com as rochas aquecidas, permite o fluxo de
materiais e a sua deposição formando as chaminés das fontes hidrotermais profundas.
6. 1. Opção (C)
7. Opção (B)

192
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