Você está na página 1de 25

Supremo Tribunal Federal

Decisão sobre Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 25

08/09/2022 PLENÁRIO

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.366.243 SANTA


CATARINA

RELATOR : MINISTRO PRESIDENTE


RECTE.(S) : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
RECDO.(A/S) : ROGER HENRIQUE TESTA
ADV.(A/S) : MIGUEL KERBES

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E


ADMINISTRATIVO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS
REGISTRADOS NA AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA - ANVISA, MAS NÃO PADRONIZADOS NO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE - SUS. INTERESSE PROCESSUAL DA UNIÃO.
SOLIDARIEDADE DOS ENTES FEDERADOS. COMPETÊNCIA
PARA PROCESSAMENTO DA CAUSA. MULTIPLICIDADE DE
RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS. PAPEL UNIFORMIZADOR DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RELEVÂNCIA DA QUESTÃO
CONSTITUCIONAL. MANIFESTAÇÃO PELA EXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, reputou constitucional a


questão. O Tribunal, por unanimidade, reconheceu a existência de
repercussão geral da questão constitucional suscitada.

Ministro LUIZ FUX


Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EE0C-7ECF-3DAA-661C e senha 0882-2C70-E079-3EE7
Supremo Tribunal Federal
Decisão sobre Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 25

RE 1366243 RG / SC

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EE0C-7ECF-3DAA-661C e senha 0882-2C70-E079-3EE7
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 25

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.366.243 SANTA


CATARINA

RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. FORNECIMENTO
DE MEDICAMENTOS REGISTRADOS
NA AGÊNCIA NACIONAL DE
VIGILÂNCIA SANITÁRIA - ANVISA,
MAS NÃO PADRONIZADOS NO
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS.
INTERESSE PROCESSUAL DA UNIÃO.
SOLIDARIEDADE DOS ENTES
FEDERADOS. COMPETÊNCIA PARA
PROCESSAMENTO DA CAUSA.
MULTIPLICIDADE DE RECURSOS
EXTRAORDINÁRIOS. PAPEL
UNIFORMIZADOR DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. RELEVÂNCIA DA
QUESTÃO CONSTITUCIONAL.
MANIFESTAÇÃO PELA EXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.

MANIFESTAÇÃO: Trata-se de recurso extraordinário interposto


pelo ESTADO DE SANTA CATARINA, com arrimo na alínea a do
permissivo constitucional, contra acórdão proferido pela 1ª Turma
Recursal de Florianópolis, que assentou:

“SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO NÃO


PADRONIZADO. INSURGÊNCIA RECURSAL LIMITADA À
INCLUSÃO DA UNIÃO NO POLO PASSIVO DA DEMANDA.
PROVIDÊNCIA ADOTADA NA ORIGEM. REMESSA DOS
AUTOS À JUSTIÇA FEDERAL. RECONHECIMENTO DE
INEXISTÊNCIA DE INTERESSE DO ENTE FEDERAL, COM
SUA EXCLUSÃO DO POLO PASSIVO E DETERMINAÇÃO DE
RETORNO À JUSTIÇA ESTADUAL. DECISÃO QUE NÃO

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 25

RE 1366243 RG / SC

COMPORTA REANÁLISE PELA JUSTIÇA ESTADUAL.


SÚMULA 254 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
PRECEDENTES DAS TURMAS DE RECURSOS E DO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RECURSO INOMINADO
CONHECIDO E DESPROVIDO.” (Doc. 11, p. 3)

Não foram opostos embargos de declaração.


Nas razões do apelo extremo, a parte recorrente sustenta preliminar
de repercussão geral e, no mérito, aponta violação aos artigos 23, II, 109, I,
196, 197 e 198, I, da Constituição Federal (Doc. 13). Em relação à
repercussão geral, alega que “a questão de fundo já foi decidida no Recurso
Extraordinário RE n. 855.178/SE, tema 793”.
Quanto ao mérito, argumenta que, “ao observar-se as regras de
organização da Lei de Diretrizes do SUS - Lei 8080/90, quando verificada a
necessidade de a União figurar no polo passivo da demanda e, sendo apontada e
levada a efeito pelo Juiz Estadual ao se deparar com referida situação jurídica,
tem-se que, no caso concreto, está-se diante de questão de direito material
representativo de relação jurídica que diz respeito à União. Nesse sentido, a
competência para julgar o feito está expressa no artigo 109, I, da CF/88”.
Sustenta que “a decisão do egrégio Supremo Tribunal Federal deixou claro
que a inclusão do ente federativo responsável pelo financiamento do fármaco
deverá ser feita pelo próprio órgão judicial; ou no momento que diz que a União
necessariamente comporá o polo passivo, não há que se falar em litisconsórcio
facultativo, e sim em litisconsórcio necessário”.
Assevera que “o Tema 793 pelo Supremo Tribunal Federal não poderia se
referir somente ao cumprimento da sentença e às regras de ressarcimento
aplicáveis ao ente público que suportou o ônus financeiro decorrente do
provimento jurisdicional, por que é impossível ao ente jurídico condenado
sozinho ao pagamento de determinado medicamento pedir o cumprimento de uma
sentença contra o ente responsável pelo pagamento se este não fez parte da lide,
ou seja, se a ação foi proposta na Justiça Estadual, e a União não foi ré, não há
como direcionar o cumprimento da sentença contra a União”.
Defende que, “quando a decisão ora recorrida devolveu o processo à
Justiça Estadual, ela feriu gravemente o Tema 793 do STF, já que este tema

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 25

RE 1366243 RG / SC

definiu que nos casos de medicamentos não padronizados, os pertencentes ao


grupo 1A e 1B da RENAME e os oncológicos, a União deve necessariamente ser
parte passiva na demanda e o processo deve tramitar na Justiça Federal”.
Entende que “o direito à saúde e o dever do Poder Público em garanti-lo
estão condicionados à elaboração de políticas sociais e econômicas, o que faz crer
que, muito embora a saúde seja direito de todos e dever do Estado, esse direito não
é absoluto e nem tampouco irrestrito. (...) Nessa linha, o acórdão recorrido acabou
por violar o art. 196 e 197, na medida que impôs ao Estado a obrigação de
fornecer medicamento não incorporado ao Sistema Único de Saúde”.
Ressalta que, “como o(s) medicamento(s) pleiteado(s) no presente feito
é/são não padronizado(s)/pertencente(s) ao grupo 1A e 1B da
RENAME/Oncológicos(s) a decisão que retirou a União da lide feriu o art. 23,
inciso II, e 198, inciso I, da Constituição Federal, pois, em razão do princípio da
descentralização do SUS, a esta cabe o financiamento e fornecimento de tais
fármacos”.
Em contrarrazões, a parte recorrida postula o não conhecimento do
recurso extraordinário em razão da ausência de repercussão geral da
matéria e de prequestionamento dos dispositivos constitucionais tidos
por afrontados e pela conformidade do julgado impugnado com a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Caso conhecido, pede a
manutenção do acórdão recorrido (Doc. 14, p. 18-27).
O Presidente da Turma Recursal de origem proferiu juízo positivo de
admissibilidade do recurso, selecionando-o como representativo da
controvérsia, nos termos seguintes:

“Da análise dos autos, verifico que o RE interposto


preenche os requisitos de admissibilidade. Isso porque é
tempestivo, ocorreu o exaurimento da instância ordinária, foi
prequestionada a matéria constitucional e houve a
demonstração da repercussão geral, vez que a matéria
transcende a defesa puramente de interesses subjetivos e
particulares. Explico.
Em decisão do Supremo Tribunal Federal, exarado no
Tema 793 da Repercussão Geral, no julgamento do RE n.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 25

RE 1366243 RG / SC

855.178, reconheceu-se a solidariedade dos entes da federação


nas demandas prestacionais da área de saúde.
Após decisão nos autos do referido recurso extraordinário,
advieram embargos de declaração opostos pela União, tendo o
Ministro Relator, Luiz Fux, votado em 05.8.2015 pela rejeição
dos aclaratórios; pediu vista, contudo, o Ministro Edson Fachin.
Sucedeu-se, então, que em 22.5.2019, por maioria dos votos, o
Pretório Excelso rejeitou o recurso de integração, passando o
Ministro Fachin a redator da decisão, eis que vencido o
Ministro Fux.
E é do acórdão dos aclaratórios, publicado em 16.4.2020,
que se extrai a necessidade de inclusão da União no polo
passivo da demanda. Isso porque, conforme lá apontado, nos
termos do art. 19-Q da Lei n. 12.401/2011, a incorporação, a
exclusão ou a alteração pelo SUS de novos medicamentos,
produtos e procedimentos, bem como a constituição ou a
alteração de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, são
atribuições do Ministério da Saúde, assessorado pela Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS.
(...)
Assim, com vistas a racionalizar a questão da
solidariedade na prestação jurisdicional do direito à saúde,
garantir o acesso aos grupos mais necessitados, bem como para
restaurar a sintonia entre o direito subjetivo nas ações que
envolvam acesso à saúde e a estrutura administrativa existente,
tem-se que reconhecer, no caso de tratamento ou fármaco não
padronizado, que a União deve compor, necessariamente, o
polo passivo, de modo que a competência para processamento e
julgamento do feito é da Justiça Federal.
O STF, em recentíssimas decisões, tem reafirmado a
necessidade da integração da União nas demandas que
pleiteiam o fornecimento de medicamentos não padronizados,
citando-se, por amostragem: ARE n. 1301670/PR, rel. Min.
Alexandre de Moraes, de 17.12.2020; ARE 1298325/PR, rel. Min.
Edson Fachin, de 12.02.2021; RE 1.307.921/PR, rel. Min. Cármen
Lúcia, de 19.03.2021; RE 1.299.773-AgR, rel. Min. Alexandre de

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 25

RE 1366243 RG / SC

Moraes, de 16.03.2021; e ARE 1.285.333/PR, rel. Min. Gilmar


Mendes, de 17.03.2021.
No caso dos autos, há pedido de fornecimento de
medicamento que não integra o programa de políticas públicas,
ou seja, não está padronizado no SUS. Em que pese tal
realidade, o acórdão combatido ratificou a decisão que
condenou o Estado de Santa Catarina ao fornecimento do
medicamento/tratamento não padronizado,
independentemente da inclusão da União no feito o que, a
princípio, destoa do Tema 793/STF.
Nesse sentido vale citar recente decisão proferida no AgInt
no RE no AgInt no CC 174675, Relator Ministro JORGE MUSSI,
Publicado em 18/10/2021.” (Doc. 15, p. 2-3)

É o relatório. Passo a me manifestar.

Ab initio, cumpre delimitar a questão controvertida nos autos, qual


seja: legitimidade passiva da União e a consectária competência da
Justiça Federal, nas demandas que versem sobre fornecimento de
medicamentos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária
- ANVISA, mas não padronizados no Sistema Único de Saúde - SUS.
A matéria aqui suscitada possui densidade constitucional suficiente
para o reconhecimento da existência de repercussão geral, competindo a
esta Suprema Corte conferir segurança jurídica no que respeita à
aplicação de seus próprios precedentes (Tema 793, RE 855.178-ED, Rel.
Min. Luiz Fux, Red. p/ acórdão Min. Edson Fachin), notadamente quanto
à obrigatoriedade de a União constar do polo passivo de lide que verse
sobre a obtenção de medicamento ou tratamento registrado pela Anvisa,
mas ainda não incorporado nas políticas públicas do SUS.
Ademais, a temática em análise revela potencial impacto em outros
casos. Com efeito, conforme levantamento realizado a partir do Acordo
de Cooperação Técnica nº 5/2021, firmado entre o Superior Tribunal de
Justiça e o Supremo Tribunal Federal, foi possível identificar pelo menos
454 recursos extraordinários ou recursos extraordinários com agravo,
atualmente em tramitação no Superior Tribunal de Justiça, com

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 25

RE 1366243 RG / SC

controvérsia similar à destes autos, que aguardam o julgamento do


recurso especial, simultaneamente interposto, a fim de serem enviados a
este Supremo Tribunal.
Ressalte-se que demandas que visem à concretização do direito
fundamental à saúde, previsto no artigo 196 da Constituição da
República, há muito permeiam os debates nos tribunais do País. Apenas
nesta Suprema Corte, tem-se centenas de julgados, seja no campo
unipessoal ou por suas Turmas, sobre a temática.
Dentre os inúmeros casos analisados no Supremo Tribunal Federal a
respeito da matéria, destaque-se o Agravo Regimental na Suspensão de
Tutela Antecipada 175, Relator o Ministro Gilmar Mendes, em que o
Plenário da Corte concluiu pela responsabilidade solidária dos entes da
Federação em matéria de saúde, como se verifica da ementa do respectivo
acórdão:

“Suspensão de Segurança. Agravo Regimental. Saúde


pública. Direitos fundamentais sociais. Art. 196 da Constituição.
Audiência Pública. Sistema Único de Saúde - SUS. Políticas
públicas. Judicialização do direito à saúde. Separação de
poderes. Parâmetros para solução judicial dos casos concretos
que envolvem direito à saúde. Responsabilidade solidária dos
entes da Federação em matéria de saúde. Fornecimento de
medicamento: Zavesca (miglustat). Fármaco registrado na
ANVISA. Não comprovação de grave lesão à ordem, à
economia, à saúde e à segurança públicas. Possibilidade de
ocorrência de dano inverso. Agravo regimental a que se nega
provimento.” (DJe de 29/4/2010)

Note-se, ainda, que este Supremo Tribunal historicamente reconhece


a repercussão geral de questões que envolvem a responsabilidade dos
entes federativos pelo fornecimento de fármacos ou de tratamentos, a
exemplo do que ocorreu no Recurso Extraordinário 657.718, Redator para
o acórdão o Ministro Roberto Barroso (Tema 500 da Repercussão Geral),
no qual a Corte, ao analisar o dever do Estado de prover medicamento

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 25

RE 1366243 RG / SC

não registrado pela Anvisa, concluiu que:

“DIREITO CONSTITUCIONAL. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL.
MEDICAMENTOS NÃO REGISTRADOS NA ANVISA.
IMPOSSIBILIDADE DE DISPENSAÇÃO POR DECISÃO
JUDICIAL, SALVO MORA IRRAZOÁVEL NA APRECIAÇÃO
DO PEDIDO DE REGISTRO.
1. Como regra geral, o Estado não pode ser obrigado a
fornecer medicamentos não registrados na Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) por decisão judicial. O registro
na Anvisa constitui proteção à saúde pública, atestando a
eficácia, segurança e qualidade dos fármacos comercializados
no país, além de garantir o devido controle de preços.
2. No caso de medicamentos experimentais, i.e., sem
comprovação científica de eficácia e segurança, e ainda em fase
de pesquisas e testes, não há nenhuma hipótese em que o Poder
Judiciário possa obrigar o Estado a fornecê-los. Isso, é claro, não
interfere com a dispensação desses fármacos no âmbito de
programas de testes clínicos, acesso expandido ou de uso
compassivo, sempre nos termos da regulamentação aplicável.
3. No caso de medicamentos com eficácia e segurança
comprovadas e testes concluídos, mas ainda sem registro na
ANVISA, o seu fornecimento por decisão judicial assume
caráter absolutamente excepcional e somente poderá ocorrer
em uma hipótese: a de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o
pedido (prazo superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016).
Ainda nesse caso, porém, será preciso que haja prova do
preenchimento cumulativo de três requisitos. São eles: (i) a
existência de pedido de registro do medicamento no Brasil
(salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e
ultrarraras); (ii) a existência de registro do medicamento
pleiteado em renomadas agências de regulação no exterior (e.g.,
EUA, União Europeia e Japão); e (iii) a inexistência de
substituto terapêutico registrado na ANVISA. Ademais, tendo
em vista que o pressuposto básico da obrigação estatal é a

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 25

RE 1366243 RG / SC

mora da agência, as ações que demandem fornecimento de


medicamentos sem registro na ANVISA deverão
necessariamente ser propostas em face da União.
4. Provimento parcial do recurso extraordinário, apenas
para a afirmação, em repercussão geral, da seguinte tese: ‘1. O
Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
2. A ausência de registro na ANVISA impede, como regra geral, o
fornecimento de medicamento por decisão judicial. 3. É possível,
excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da ANVISA em apreciar o
pedido de registro (prazo superior ao previsto na Lei nº 13.411/2016),
quando preenchidos três requisitos: (i) a existência de pedido de
registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos
órfãos para doenças raras e ultrarraras); (ii) a existência de registro do
medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e (iii) a
inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 4. As
ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na
Anvisa deverão necessariamente ser propostas em face da União’.”
(DJe de 9/11/2020, grifei)

Por seu turno, no Recurso Extraordinário 1.165.959, Redator para o


acórdão o Ministro Alexandre de Moraes (Tema 1.161 da Repercussão
Geral), o Plenário desta Corte mais uma vez debruçou-se sobre
controvérsia semelhante à destes autos, e decidiu sobre a
responsabilidade do Estado no fornecimento de fármaco que, embora não
possua registro na Anvisa, tem sua importação autorizada pela mesma
agência. Leia-se a ementa do acórdão in verbis:

“CONSTITUCIONAL. DIREITO À SAÚDE.


FORNECIMENTO EXCEPCIONAL DE MEDICAMENTO SEM
REGISTRO NA ANVISA, MAS COM IMPORTAÇÃO
AUTORIZADA PELA AGÊNCIA. POSSIBILIDADE DESDE
QUE HAJA COMPROVAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA
ECONÔMICA. DESPROVIMENTO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO.
1. Em regra, o Poder Público não pode ser obrigado, por

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 25

RE 1366243 RG / SC

decisão judicial, a fornecer medicamentos não registrados na


Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), tendo em
vista que o registro representa medida necessária para
assegurar que o fármaco é seguro, eficaz e de qualidade.
2. Possibilidade, em caráter de excepcionalidade, de
fornecimento gratuito do Medicamento ‘Hemp Oil Paste
RSHO’, à base de canabidiol, sem registro na ANVISA, mas
com importação autorizada por pessoa física, para uso próprio,
mediante prescrição de profissional legalmente habilitado, para
tratamento de saúde, desde que demonstrada a hipossuficiência
econômica do requerente.
3. Excepcionalidade na assistência terapêutica gratuita
pelo Poder Público, presentes os requisitos apontados pelo
Plenário do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, sob a
sistemática da repercussão geral: RE 566.471 (Tema 6) e RE
657.718 (Tema 500).
4. Recurso extraordinário a que se nega provimento, com a
fixação da seguinte tese de repercussão geral para o Tema 1161:
‘Cabe ao Estado fornecer, em termos excepcionais,
medicamento que, embora não possua registro na ANVISA, tem
a sua importação autorizada pela agência de vigilância
sanitária, desde que comprovada a incapacidade econômica do
paciente, a imprescindibilidade clínica do tratamento, e a
impossibilidade de substituição por outro similar constante
das listas oficiais de dispensação de medicamentos e os
protocolos de intervenção terapêutica do SUS’.” (DJe de
22/10/2021, grifei)

Vale salientar que ainda está pendente de julgamento o Recurso


Extraordinário 566.471, de Relatoria do Ministro Marco Aurélio (Tema 6
da Repercussão Geral), em que se discute a obrigação de o Estado
aprovisionar medicamento de alto custo a portador de doença grave que
não possui condições financeiras para comprá-lo.
Evidentes, portanto, a transcendência e a relevância das questões
que envolvem a concretização do direito à saúde por parte do Poder
Público, principalmente no que se refere a cidadãos que não

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 25

RE 1366243 RG / SC

disponibilizam de meios para arcar com tratamentos indispensáveis ao


seu bem-estar e sobrevivência. Saliente-se que as discussões não se
restringem apenas ao direito de receber medicamentos ou tratamentos a
serem assumidos financeiramente pelo Estado, mas também a quem
compete arcar com os custos e, consequentemente, a quem cabe processar
e julgar as demandas em que tais questões se fazem presentes.
No julgamento do Recurso Extraordinário 855.178, Relator o
Ministro Luiz Fux (Tema 793 da Repercussão Geral), o Plenário do
Supremo Tribunal Federal inicialmente reafirmou sua jurisprudência
dominante, decidindo pela responsabilidade solidária dos entes
federados quanto à prestação do direito à saúde, nos termos seguintes:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E


ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. TRATAMENTO
MÉDICO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES
FEDERADOS. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.
O tratamento médico adequado aos necessitados se insere
no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade
solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser
composto por qualquer um deles, isoladamente, ou
conjuntamente.” (DJe de 16/3/2015)

Não obstante, remanesceram questões polêmicas sobre a


competência para o processamento e julgamento dessas lides, o que
acarretava sobremaneira insegurança jurídica no País. Opostos embargos
de declaração pela União Federal, o Plenário do Supremo Tribunal
Federal evoluiu no seu entendimento e assentou:

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. EMBARGOS


DE DECLARAÇÃO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE
OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE.
DESENVOLVIMENTO DO PRECEDENTE. POSSIBILIDADE.
RESPONSABILIDADE DE SOLIDÁRIA NAS DEMANDAS

10

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 25

RE 1366243 RG / SC

PRESTACIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE. DESPROVIMENTO


DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
1. É da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que o
tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol
dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária
dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por
qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente.
2. A fim de otimizar a compensação entre os entes
federados, compete à autoridade judicial, diante dos critérios
constitucionais de descentralização e hierarquização, direcionar,
caso a caso, o cumprimento conforme as regras de repartição de
competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o
ônus financeiro.
3. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na ANVISA deverão
necessariamente ser propostas em face da União. Precedente
específico: RE 657.718, Rel. Min. Alexandre de Moraes.
4. Embargos de declaração desprovidos.” (RE 855.178,
Redator para o acórdão o Ministro Edson Fachin, DJe de
16/4/2020).

Assim, o objeto do presente recurso extraordinário, ao discutir a


obrigatoriedade de a União Federal integrar o polo passivo de demanda
que trate do fornecimento de medicamento não padronizado no SUS,
embora registrado na Anvisa, tem clara relação com o decidido e fixado
no Tema 793 do Supremo Tribunal Federal.
Necessário atinar para o fato de que esta Corte concluiu pela
solidariedade dos entes federados no fornecimento de medicamentos
como forma de não obstar o acesso à Justiça, principalmente no que se
refere a habitantes de municípios longínquos. Por outro lado, não se pode
desconsiderar que o processamento de ações contra entes que não sejam
os responsáveis primeiiros pelo cumprimento da obrigação leva a
demandas de ressarcimento desnecessárias, que apenas contribuem para
o abarrotamento do Poder Judiciário.
Em pesquisa realizada na jurisprudência do Supremo Tribunal

11

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 25

RE 1366243 RG / SC

Federal, verifica-se que tem prevalecido o entendimento de que é


imprescindível o ingresso da União nas demandas que versem
especificamente sobre o fornecimento de medicamentos registrados na
ANVISA, mas não padronizados no SUS. A esse respeito, os julgados a
seguir:

“AGRAVO INTERNO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS
QUANTO AO DEVER DE PRESTAR ASSISTÊNCIA À SAÚDE.
TEMA 793. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO NÃO
INCLUÍDO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE.
INCLUSÃO DA UNIÃO NO POLO PASSIVO. ACÓRDÃO
RECORRIDO EM CONFORMIDADE COM A
JURISPRUDÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE.
1. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no julgamento do
RE 855.178- RG (Rel. Min. LUIZ FUX, Tema 793), examinou a
repercussão geral da questão constitucional debatida nestes
autos e reafirmou a jurisprudência desta CORTE no sentido de
que ‘Os entes da federação, em decorrência da competência
comum, são solidariamente responsáveis nas demandas
prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios
constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à
autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as
regras de repartição de competências e determinar o
ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.’
2. A União necessariamente comporá o polo passivo da
ação que visa ao fornecimento de medicamento não
disponibilizado pelo Poder Público, considerando que o
Ministério da Saúde detém competência para a incorporação,
exclusão ou alteração de novos medicamentos, produtos,
procedimentos, bem como constituição ou a alteração de
protocolo clínico ou de diretriz terapêutica. 3. Agravo Interno
a que se nega provimento.” (RE 1.360.507-AgR, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, Primeira Turma, DJe de 8/3/2022, grifei)

“Agravo regimental na reclamação. 2. Direito

12

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 25

RE 1366243 RG / SC

Constitucional. 3. Direito à saúde. Responsabilidade solidária.


4. Fornecimento de medicamento não incluído nas políticas
públicas. A União necessariamente comporá o polo passivo,
considerando que o Ministério da Saúde detém competência
para a incorporação, exclusão ou alteração de novos
medicamentos, produtos, procedimentos, bem como
constituição ou a alteração de protocolo clínico ou de diretriz
terapêutica. Aplicação correta do tema 793. Precedente. 5.
Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão
agravada. 6. Negado provimento ao agravo regimental.” (Rcl
48.760-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de
11/10/2021, grifei)

E ainda: Rcl 52.862-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma,


DJe de 1º/6/2022; Rcl 50.412-AgR-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira
Turma, DJe de 18/5/2022; Rcl 51.375-AgR-terceiro, Rel. Min. Cármen
Lúcia, Primeira Turma, DJe de 18/5/2022; Rcl 49.918-AgR-ED, Rel. Min.
Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe de 28/4/2022; Rcl 49.890, Rel. Min.
Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe de 23/3/2022; Rcl 50.414, Rel. Min. Dias
Toffoli, Primeira Turma, DJe de 23/3/2022; Rcl 50.715-AgR, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, Primeira Turma, DJe de 23/5/2022; Rcl 50.866-AgR,
Rel. Min. Alexandre de Moraes, Primeira Turma, DJe de 8/4/2022; Rcl
50.649, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Primeira Turma, DJe de 23/5/2022;
Rcl 50.481-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Primeira Turma, DJe de
23/5/2022; Rcl 50.458-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Primeira
Turma, DJe de 23/5/2022.
Nesse mesmo sentido, também, as seguintes decisões monocráticas:
Rcl 53.732, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 3/6/2022; Rcl 51.698, Rel. Min.
Gilmar Mendes, DJe de 31/5/2022; RE 1.384.325, Rel. Min. Alexandre de
Moraes, DJe de 30/5/2022; RE 1.360.949, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
DJe de 20/1/2022; RE 1.332.756, Rel. Min. Edson Fachin, DJe de 7/1/2022;
RE 1.326.082, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 10/1/2022; RE 1.357.468, Rel.
Min. Roberto Barroso, DJe de 7/1/2022; Rcl 50.941, Rel. Min. Gilmar
Mendes, DJe de 10/12/2021; RE 1.349.838, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de

13

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 25

RE 1366243 RG / SC

7/12/2021; Rcl 50.597-MC, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 1º/12/2021.


De modo contrário, ressalto decisão na Rcl 53.632, Rel. Min. André
Mendonça, DJe de 30/5/2022, no sentido de que a inclusão da União no
polo passivo é exigida apenas no caso de fornecimento de medicamentos
não registrados na Anvisa.
Destarte, a vexata quaestio transcende os limites subjetivos da causa,
porquanto o tema em apreço sobressai do ponto de vista constitucional
(artigo 109, I, da Constituição Federal), notadamente quanto à
necessidade de se conferir balizas adequadas acerca da responsabilização
por demandas que envolvam a prestação do direito à saúde, em especial
quando versarem sobre o fornecimento de medicamentos pelo Poder
Público.
Ressalto que a definição sobre a quem cabe arcar com os custos de
medicamento ou tratamento requeridos judicialmente, além da
competência para o processamento e julgamento dessas demandas,
alinha-se com a meta de assegurar uma vida saudável e promover o bem-
estar para todas e todos, em todas as idades (ODS 3 da Agenda 2030 das
Nações Unidas).
Configura-se, assim, a relevância da matéria sob as perspectivas
econômica, política, social e jurídica (artigo 1.035, § 1º, do Código de
Processo Civil), bem como a transcendência da questão cuja repercussão
geral ora se submete ao escrutínio desta Suprema Corte. Nesse sentido,
tenho que a controvérsia constitucional em apreço ultrapassa os
interesses das partes, avultando-se relevante do ponto de vista
econômico, político, social e jurídico.
Ex positis, nos termos do artigo 1.035 do Código de Processo Civil de
2015 e artigo 323 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal,
manifesto-me pela EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL DA
QUESTÃO SUSCITADA e submeto o tema à apreciação dos demais
Ministros da Corte.
Brasília, 19 de agosto de 2022.
Ministro LUIZ FUX
Presidente
Documento assinado digitalmente

14

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 4DD3-2ED0-2446-4655 e senha 0F31-855C-2C7A-5F67
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 25

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.366.243 SANTA


CATARINA

MANIFESTAÇÃO SOBRE REPERCUSSÃO GERAL

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TEMA RG


Nº 1.234. AÇÃO SOBRE FORNECIMENTO
DE MEDICAMENTOS.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS
ENTES DA FEDERAÇÃO.
LITISCONSÓRCIO PASSIVO: SITUAÇÕES
DE INCLUSÃO DA UNIÃO. RELEVÂNCIA
DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL.
EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.

O SENHOR MINISTRO ANDRÉ MENDONÇA:

1. Versa, este recurso extraordinário, sobre a competência


jurisdicional para conhecer e julgar ação que visa ao fornecimento de
medicamentos tidos como necessários para o tratamento da enfermidade
que acomete o autor da demanda – epilepsia refratária (CID G40.9) –, ante
a negativa de disponibilização pela rede pública de saúde.

2. A ação foi proposta perante a Justiça Estadual de Santa Catarina –


2ª Vara da Comarca de Xaxim/SC –, sob o rito do Juizado Especial, que,
em 21/10/2019, deferiu o pedido liminar para determinar ao réu Estado de
Santa Catarina o fornecimento dos medicamentos Keppra 250 mg,
Keppra 750 mg e Revoc 100 mg, na dosagem e quantidade indicadas pela
prescrição médica (e-doc. 2).

3. Suscitada a questão da (in)competência em razão do cogitado


litisconsórcio passivo necessário, a Justiça Estadual determinou fosse
requerida a inclusão da União no polo passivo, com a remessa do feito à
2ª Vara Federal de Chapecó/SC (e-doc. 6). A Justiça Federal, por sua vez,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 25

RE 1366243 RG / SC

com espeque no enunciado nº 150 da Súmula do STJ, afastou o interesse


jurídico da União, remetendo o processo de volta à Justiça Estadual (e-
doc. 8).

4. Sobrevieram sentença (e-doc. 9) e acórdão (e-doc. 11), afastando a


tese do litisconsórcio passivo necessário e a competência da Justiça
Federal, porquanto já assentado, no caso, o entendimento da Justiça
Federal pela exclusão da União ( enunciado nº 254 da Súmula do STJ). O
Estado de Santa Catarina, então, manejou o presente recurso
extraordinário, o qual foi selecionado pelo eminente Ministro Presidente
como representativo de relevante questão constitucional, dotada de
repercussão geral, assim delineada a proposta, verbis:

“(...). Destarte, a vexata quaestio transcende os limites


subjetivos da causa, porquanto o tema em apreço sobressai do
ponto de vista constitucional (artigo 109, I, da Constituição
Federal), notadamente quanto à necessidade de se conferir
balizas adequadas acerca da responsabilização por demandas
que envolvam a prestação do direito à saúde, em especial
quando versarem sobre o fornecimento de medicamentos pelo
Poder Público.
Ressalto que a definição sobre a quem cabe arcar com os
custos de medicamento ou tratamento requeridos
judicialmente, além da competência para o processamento e
julgamento dessas demandas, alinha-se com a meta de
assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para
todas e todos, em todas as idades (ODS 3 da Agenda 2030 das
Nações Unidas).
Configura-se, assim, a relevância da matéria sob as
perspectivas econômica, política, social e jurídica (artigo 1.035, §
1º, do Código de Processo Civil), bem como a transcendência da
questão cuja repercussão geral ora se submete ao escrutínio
desta Suprema Corte. Nesse sentido, tenho que a controvérsia
constitucional em apreço ultrapassa os interesses das partes,
avultando-se relevante do ponto de vista econômico, político,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 19 de 25

RE 1366243 RG / SC

social e jurídico.
Ex positis, nos termos do artigo 1.035 do Código de
Processo Civil de 2015 e artigo 323 do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal, manifesto-me pela EXISTÊNCIA
DE REPERCUSSÃO GERAL DA QUESTÃO SUSCITADA e
submeto o tema à apreciação dos demais Ministros da Corte.
(...).”

5. O tema a ser objeto de apreciação pela sistemática da repercussão


geral recebeu a seguinte delimitação:

Tema RG nº 1.234 – Legitimidade passiva da União e


competência da Justiça Federal, nas demandas que versem
sobre fornecimento de medicamentos registrados na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, mas não
padronizados no Sistema Único de Saúde – SUS.

6. Discute-se, portanto, se a União, nos casos que envolvem o


fornecimento de medicamento registrado na ANVISA, mas não
padronizado no SUS, deve compor necessariamente o polo passivo da
demanda (art. 114 do CPC), a atrair a competência da Justiça Federal (art.
109, inciso I, da CRFB), ou se a formação do polo passivo ficaria a critério
do demandante, na esteira de consolidada jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal quanto à responsabilidade solidária dos entes federados.

7. A exemplo do eminente Presidente, considero inafastáveis tanto a


relevante questão constitucional quanto a repercussão geral do caso
escolhido, visto que, não obstante o tangenciamento da matéria no
julgamento do Tema RG nº 793, remanescem zonas de incerteza quanto
ao alcance da tese então firmada, o que tem repercutido na sua aplicação
pelos integrantes da Corte, especialmente em sede de reclamações, assim
como pelos demais tribunais do país.

8. Exemplifica o ponto, entre outros, o acórdão proferido pela

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 20 de 25

RE 1366243 RG / SC

Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, no Recurso em Mandado


de Segurança nº 68.602/GO, cuja ementa segue abaixo (destaque nosso):

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.


RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO REGISTRADO NA
ANVISA, MAS NÃO CONSTANTE DOS ATOS
NORMATIVOS DO SUS. TEMA 793 DA REPERCUSSÃO
GERAL. INEXISTÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO
NECESSÁRIO. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DOS ENTES DA
FEDERAÇÃO. IMPETRAÇÃO DIRECIONADA APENAS
CONTRA SECRETÁRIO ESTADUAL DE SAÚDE.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. RECURSO EM
MANDADO DE SEGURANÇA PARCIALMENTE
PROVIDO.
I. Recurso em Mandado de Segurança interposto contra
acórdão publicado na vigência do CPC/2015.
II. No acórdão objeto do Recurso Ordinário, o Tribunal de
origem manteve decisão da Relatora que julgara extinto, sem
resolução de mérito, Mandado de Segurança, impetrado pela
recorrente, contra ato do Secretário de Saúde do Estado de
Goiás, consubstanciado no não fornecimento do medicamento
Linagliptina, registrado na ANVISA, mas não constante dos
atos normativos do SUS. A aludida decisão monocrática,
mantida pelo acórdão recorrido, entendeu necessária, citando o
Tema 793/STF, a inclusão da União no polo passivo de lide,
concluindo, porém, não ser possível determiná-la, no caso, por
se tratar de Mandado de Segurança.
III. O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o Tema 793
da Repercussão Geral, fixou tese no sentido de que "os entes da
federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente
responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e diante
dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização,
compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as
regras de repartição de competências e determinar o ressarcimento a

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 21 de 25

RE 1366243 RG / SC

quem suportou o ônus financeiro" (STF, EDcl no RE 855.178/SE,


Rel. p/ acórdão Ministro EDSON FACHIN, PLENO, DJe de
16/04/2020).
IV. Igual entendimento é adotado pela jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça, que se orienta no sentido de que o
funcionamento do Sistema Único de Saúde é de
responsabilidade solidária da União, dos Estados e dos
Municípios, de modo que qualquer um destes entes possui
legitimidade para figurar no polo passivo da demanda,
cabendo à parte autora escolher contra quem deseja litigar,
conforme se verifica dos seguintes precedentes: STJ, AgInt no
REsp 1.940.176/SE, Rel. Ministro MANOEL ERHARDT
(Desembargador Federal convocado do TRF/5ª Região),
PRIMEIRA TURMA, DJe de 09/12/2021; AREsp 1.841.444/MG
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe
de 16/08/2021; AgInt no RE nos EDcl no AgInt no REsp
1.097.812/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, CORTE ESPECIAL,
DJe de 27/08/2021.
V. A Primeira Seção do STJ, ao examinar questão análoga,
firmou entendimento no sentido de que, "ao julgar o RE 855.178
ED/SE (Tema 793/STF), o Supremo Tribunal Federal foi bastante
claro ao estabelecer na ementa do acórdão que 'É da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal que o tratamento médico adequado aos
necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto
responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser
composto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente.'
(...) é fundamental esclarecer que, ao julgar o RE 855.178/SE (Tema
793), não foram acolhidas pelo Pleno do STF todas as premissas e
conclusões do Voto condutor do Ministro Edson Fachin. Ainda que
tenha sido apresentada proposta pelo Ministro Edson Fachin
que, na prática, poderia implicar litisconsórcio passivo da
União, tal premissa/conclusão - repita-se - não integrou o
julgamento que a Corte Suprema realizou no Tema 793. (...) o
STJ já se manifestou reiteradas vezes sobre a quaestio iuris, estando
pacificado o entendimento de que a ressalva contida na tese firmada no
julgamento do Tema 793 pelo Supremo Tribunal Federal, quando

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 22 de 25

RE 1366243 RG / SC

estabelece a necessidade de se identificar o ente responsável a partir


dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização do
SUS, relaciona-se ao cumprimento de sentença e às regras de
ressarcimento aplicáveis ao ente público que suportou o ônus
financeiro decorrente do provimento jurisdicional que
assegurou o direito à saúde. Entender de maneira diversa seria
afastar o caráter solidário da obrigação, o qual foi ratificado
no precedente qualificado exarado pela Suprema Corte" (STJ,
RE nos EDcl no AgInt no CC 175.234/PR, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 15/03/2022).
VI. Nesse contexto, em se tratando de pretensão de
fornecimento de medicamento registrado na ANVISA, ainda
que não incorporado em atos normativos do SUS, descabida a
necessidade de inclusão da União no polo passivo da
demanda. Competência da Justiça Estadual para processar e
julgar o feito.
VII. Recurso em Mandado de Segurança parcialmente
provido, para, afastando a necessidade de inclusão da União no
polo passivo da demanda, anular o acórdão recorrido e
determinar o retorno dos autos à origem, para que seja dado
regular processamento ao Mandado de Segurança.
(RMS nº 68.602/GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe
29/04/2022)

9. Na linha do entendimento supra, efetivamente tenho dado


aplicação estrita à tese fixada no julgamento do Tema RG nº 793 –
responsabilidade solidária dos entes federados pelo dever de prestar assistência à
saúde –, inclusive em atenção à ementa do julgamento dos embargos de
declaração, que destacou, em item específico (“item 3”), quais seriam as
ações que demandariam a obrigatoriedade de inclusão da União no polo
passivo. Transcrevo-a (destaque nosso):

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 23 de 25

RE 1366243 RG / SC

RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE OMISSÃO,


CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE.
DESENVOLVIMENTO DO PROCEDENTE.
POSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE DE SOLIDÁRIA
NAS DEMANDAS PRESTACIONAIS NA ÁREA DA
SAÚDE. DESPROVIMENTO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO.
1. É da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que o
tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol
dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária
dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por
qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente.
2. A fim de otimizar a compensação entre os entes
federados, compete à autoridade judicial, diante dos critérios
constitucionais de descentralização e hierarquização, direcionar,
caso a caso, o cumprimento conforme as regras de repartição de
competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o
ônus financeiro.
3. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na ANVISA deverão
necessariamente ser propostas em face da União. Precedente
específico: RE 657.718, Rel. Min. Alexandre de Moraes.
4. Embargos de declaração desprovidos.
(Emb. Decl. no RE nº 855.178, Rel. Min. Luiz Fux, Red. do
Ac. Min. Edson Fachin, j. 23/05/2019, p. 16/04/2020)

10. A especificidade da hipótese prevista no item 3, em destaque, tem


me direcionado a aplicar o que decidido pelo Plenário da Corte no Tema
RG nº 793 no sentido de separar (i) o bem da vida deduzido em juízo, isto
é, o fornecimento do medicamento – obrigação de fazer que, somente na
hipótese de não haver registro na ANVISA, obrigará a inclusão da União
no polo passivo (ii) do respectivo ônus financeiro (eventual dever de
ressarcimento), nos termos da legislação infraconstitucional e infralegal,
matéria tratada no “item 2” da ementa supra, e que, a par de não estar

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 24 de 25

RE 1366243 RG / SC

detalhada na Constituição, extrapolaria os limites subjetivos e objetivos


dessas ações.

11. Referida aplicação, sob a nossa óptica, coaduna-se com a maior


proteção do jurisdicionado, o qual, nos exatos termos da tese da
responsabilidade solidária consolidada nesta Suprema Corte, e
ressalvadas as ações que pedem o fornecimento de medicamento não
registrado na ANVISA, pode eleger livremente qual (quais) dos entes da
federação deverá (deverão) figurar no polo passivo da demanda, pouco
lhe importando sobre qual deles, ou em que proporção, recairá eventual
ônus financeiro posterior, consoante critérios de descentralização e
hierarquização do SUS, em sua maior parte, como dito, previstos em
legislação infraconstitucional ou mesmo infralegal.

12. Nesse sentido, não se pode afastar o fato, constatado pelo


eminente Presidente, “de que esta Corte concluiu pela solidariedade dos entes
federados no fornecimento de medicamentos como forma de não obstar o
acesso à Justiça, principalmente no que se refere a habitantes de
municípios longínquos”. De fato, a notória assimetria estrutural entre as
Justiças Federal e Estaduais, aliada ao desenho federativo de
descentralização de tarefas quanto à prestação do direito à saúde pelo
poder público, recomendam a adoção de interpretação que não apenas
facilite o acesso à jurisdição, como também, em risco o direito à saúde,
agilize a própria prestação material do que se pleiteia, notadamente em
sede de tutela de urgência.

13. Por outro lado, a preocupação de que “o processamento de ações


contra entes que não sejam os responsáveis primeiros pelo cumprimento da
obrigação leva a demandas de ressarcimento desnecessárias, que apenas
contribuem para o abarrotamento do Poder Judiciário”, com inteira razão, não
pode ser negligenciada, o que remete, em nosso sentir, à absoluta
imperiosidade, tendo em conta o federalismo cooperativo, de que se
criem/aperfeiçoem protocolos efetivos de compensação/ressarcimento,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109
Supremo Tribunal Federal
Manifestação sobre a Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 25 de 25

RE 1366243 RG / SC

entre os três níveis da Federação, inclusive para gastos decorrentes de


ações judiciais, sem necessidade de intervenção do Poder Judiciário.

14. Daí porque revela-se altamente meritória a presente proposta de


visitar/revisitar a temática que trata do acesso da população, pela via
jurisdicional, a medicamentos que, no mais das vezes, são
imprescindíveis para a efetiva tutela constitucional do direito à saúde
(art. 196 da CRFB), e até mesmo do direito à vida (art. 5º, caput, da CRFB),
abrindo-se nova oportunidade para que o Colegiado maior se debruce
sobre tão relevante tema, o que trará uniformidade e segurança jurídica.

15. A par disso, poderá ser, ainda, excelente ocasião para que, a
critério do eminente Relator, sobrevenham aportes contributivos de
órgãos e entidades, públicas ou privadas, que lidam diariamente com
demandas dessa natureza, sendo exemplo as Defensorias Públicas, o
Ministério Público, as Advocacias pública e privada, entre outros
interessados, além das próprias pessoas de direito público diretamente
afetadas (União/Ministério da Saúde, Estados/Secretarias Estaduais etc.),
que poderão trazer ao exame da Suprema Corte as distintas visões,
possibilidades e desafios dos que estão na linha de frente dessa vital
política pública.

16. Ante o exposto, renovando justos encômios à iniciativa do


eminente Presidente, manifesto-me no sentido de reconhecer presentes a
questão constitucional, bem assim sua repercussão geral, nos termos
propostos por Sua Excelência.

É como me manifesto.

Ministro ANDRÉ MENDONÇA

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 8E0F-3E0D-4E99-29D7 e senha 6166-D9E7-B0B7-5109

Você também pode gostar